Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
James
Sinto novamente aquela sensação logo que estaciono a minha Harley
junto ao meio fio. É como se alguém estivesse a me observar, olho ao redor...
nada! Acho que estou começando a ficar paranoico com essa sensação, não
tem muitas pessoas na rua onde moro, na verdade, além da casa dos meus
pais, há apenas o Blue Light, um colégio interno para garotas. Olho naquela
direção e também não há ninguém.
Claro que não tem, elas são todas adolescentes, nunca devem ter
conhecido um cara na verdade, nem ficariam o observando de longe. Sorrio
internamente, um pensamento errante, de que eu bem que poderia ensinar um
pouco da anatomia masculina a elas, afinal, tenho bastante conhecimento na
área, como estudante de medicina uso meus próprios métodos.
Embora seja filho do diretor chefe e dono do grupo que comanda vários
laboratórios de pesquisas e os hospitais de grande porte pelo mundo, a minha
convicção de sucesso na carreira como patologista vem do meu esforço e
dedicação aos estudos e não do privilégio familiar.
— Do que você está rindo? — Eloise olha-me curiosa, não percebi que
estava deixando transparecer meu sorriso bobo. Ela me conhece bem, como
prima e melhor amiga, sabe que costumo não sorrir à toa.
—Não estou sorrindo! — Tento me manter firme.
— Ah, estava sim, eu estou perdendo alguma coisa, uma nova
conquista talvez? — Seus olhos ganham o brilho já conhecido de curiosidade.
— Não Eloise, nem estou atrás disso e você sabe bem o porquê! — Não
preciso dizer que é um assunto proibido, ela entende bem a situação e não
força a barra, melhor assim. — Como é, vamos estudar ou não?
—Vamos, senhor birrento, estou faminta e se me lembro, Lauren sabe
fazer o melhor sanduíche do mundo!
Passo um braço ao redor de seus ombros e a trago para perto de mim,
sou grato por sua amizade sem questionamentos, o que não encontro em mais
ninguém, nem mesmo no meu pai que por algum tempo insistiu em querer
controlar minha vida, sem nunca perguntar como me sinto a respeito.
Darla
A festa surpresa foi como esperado, sorrisos, brincadeiras e alguns
presentes. Durante duas horas estive sorrindo feito criança, mas por dentro
estava um fiasco de gente. A incerteza do futuro me atormenta. E se não
conseguir sobreviver ao mundo lá fora? O que conheço do mundo se resume
a quatro quarteirões do internato, salvo as poucas excursões que fizemos ao
longo dos anos, onde sempre estive com medo de me arriscar. Ficava por
perto dos instrutores, sempre pensando que poderia ser esquecida novamente.
Olho para a casa da frente através da janela do meu quarto e vejo a
silhueta dele na varanda do segundo andar, como de costume está sozinho
enquanto olha o céu, em pé, sem camisa, deixando a vista seu belo abdômen
definido, com apenas o jeans pendendo em seus quadris, cabelo bagunçado,
uma verdadeira tentação e bênção para os olhos das garotas com hormônios
enlouquecidos, sinto um calor se formando no meu interior, com as várias
imagens que minha mente evoca só em vê-lo. Tenho desejo de deixá-lo fazer
certas coisas comigo e isso é tão abrasador que saio em disparada para o
banheiro, um bom banho frio se faz necessário essa noite, caso contrário,
incendiaria o internato inteiro.
Tempo corrido
Darla
Três meses...
Esse é todo o tempo que ainda me resta para estar por aqui. Eveline
afirma que me darei bem em qualquer coisa que resolva fazer, que ter
aproveitado o meu tempo livre durante os feriados e me afundado nos
estudos, mesmo que por prazer para mim, iria surtir grandes efeitos na hora
de conseguir um bom emprego ou entrar em uma universidade, quando
decidisse o que quero fazer no futuro. Queria eu ter tanta confiança no meu
potencial. Como poderei ser bem sucedida em algo, se mal saio do internato?
Confiar no meu potencial seria a mesma coisa que agarrar-me a algo que nem
ao menos sei se existe.
— Ei mocinha, volte aqui! — Nial, como tem acontecido nos últimos
dias, estrala os dedos tirando-me dos meus devaneios. — Darla minha flor,
sei que está preocupada, mas se realmente quer ajudar, precisa se concentrar.
Há um ano consegui meu diploma no ensino médio, como ainda não sei
ao certo o que desejo fazer, optei por investir ainda mais no estudo de
línguas, já sou fluente em algumas, felizmente tenho facilidade para aprender.
Mas o primeiro passo é encontrar um lugar para morar, enquanto isso, tenho
ajudado em tudo que posso no internato, desde fazer compras no mercado a
dois quarteirões, até ser uma auxiliar nas aulas.
Começo a perceber que talvez seja ajudar aos outros o que eu quero
para o futuro, desde os pequenos até os adolescentes, como minha melhor
amiga maluca.
Bella, veio parar aqui unicamente por ser a filha ilegítima de um grande
empresário do ramo alimentício. Seu pai constrangido pela descoberta da sua
infidelidade a mandou para longe dos olhos da mídia e da esposa. Sua pobre
mãe, uma jovem que com apenas dezenove anos havia se envolvido com o
chefe sedutor, morreu quando ela tinha apenas sete anos, fazendo assim o
grande segredo vir à tona.
Sua chegada foi uma bênção para mim, me senti nas nuvens por ter
alguém com quem compartilhar tudo, sempre quis uma irmã, já que as várias
garotas chegavam e partiam constantemente, só Bella permanecia além de
mim, o que nos permitiu criar laços reais de amor e companheirismo, mesmo
ela sendo um pouco, digamos, xereta, sempre sabendo de tudo e sobre todos,
até mesmo o vizinho gato que me faz suspirar.
— Hã-hã. — Nial está me olhando com aquela cara de reprovação, hoje
não é meu dia mesmo.
— Desculpe-me!
— Meu bem, por que não vai até a sala de Eve e pergunta se ela precisa
da sua ajuda em algo?
— Tem certeza? — Apesar de não estar sendo de muita ajuda, gosto de
estar em volta das pequenas, me fazem sentir responsável.
—Sim, posso dar conta das ferinhas por mais uma hora!
Bom, não tenho mais o que argumentar, vou em direção à porta quando
sinto sua mão no meu ombro.
— Não fique assim, florzinha, sei que se sairá bem e tem a mim e Eve.
Sabe que pode ficar em nossa casa! — Ah, esqueci de dizer o motivo de tê-
los como pais, eles são casados e sempre fui a sua protegida, desde o início
me fizeram sentir que tenho uma família, mesmo morando em um internato.
Faço que sim com a cabeça e saio da sala o mais rápido possível,
encosto-me na parede antes de entrar na sala de Eveline, sei que ela perceberá
minha apatia e falará o mesmo que Nial, só não quero ser um peso para
ninguém. Quero descobrir como me virar e sobreviver sozinha, ser capaz de
direcionar minha vida sem parecer uma menina assustada e talvez um dia já
segura de mim mesma, alguém olhe para mim, mesmo esse alguém não
sendo meu vizinho.
Mesmo ainda sendo uma interna, tomei para mim algumas obrigações,
minha tarefa preferida é a que faço nesse momento. Após conversar com Eve,
ela acabou me convencendo que estava na hora de fazer compras para o
internato, principalmente as guloseimas das pequenas.
Nada me anima mais do que andar pelo mercado, é em momentos como
esse que enfim saio para além das grades do Blue Light. É bem verdade que
andar cerca de seis quadras de onde moro não é o que possamos chamar de
liberdade, porém, é o que tenho e ainda assim é mais do que qualquer outra
interna tem. Mas pensando bem, trocaria minha pequena liberdade por algo
que sempre almejei, uma família que me amasse e não me largasse, afinal,
saber que se tem um ninho para voltar, vai além da liberdade, é amor. Isso
sim me faria feliz.
Estive tão absorta na minha tarefa de andar pelos diversos corredores
do mercado, seguindo à risca a lista feita por Joana, nossa cozinheira, que só
me dou conta que cai uma torrente do céu quando já estou de saída, é isso que
fazer compras faz comigo, perco a noção do tempo que gasto olhando cada
produto.
Como o mercado trabalha com o sistema de entrega em domicilio,
trago comigo apenas alguns itens de uso pessoal: absorventes, meu shampoo
preferido com fragrância de baunilha, além de outras miudezas. Olho o céu
que resolveu nos agraciar com uma boa chuva de fim de tarde.
“Muito bem Darla! Isso é para você aprender a andar sempre
prevenida!”
Resmungo irritada comigo mesma por não ter dado ouvidos a Eve, que
por mais de uma vez me lembrou do guarda-chuva e eu desligada, não o
trouxe. Só que, não posso mais me demorar aqui, preciso volta ao internato,
resolvo enfrentar a chuva mesmo assim.
É quase impossível andar sem que acabe me enlameando toda, há
muitas poças de lamas, mesmo na calçada, começo um novo esquema de
passadas, duas para frente e quatro para um lado, depois para o outro, na
tentativa de fugir um pouco de todo aguaceiro que escorre pelos dois lados da
rua.
No fim acabo me divertindo com o meu jeito meio louco de andar na
chuva, molhada como estou, minha roupa encharcada. Deixo-me levar pela
sensação da chuva que cai sobre mim, como uma menina de cinco anos, me
divirto na água que escorre, rindo enquanto fujo da lama andando de um lado
ao outro.
Estou no meio da rua sorrindo quando tudo acontece mais rápido do
que eu possa reagir. Entre uma risada e outra, escuto o barulho da moto se
aproximando, se não estivesse tão distraída teria como escapar, mas estou de
cabeça baixa sorrindo sobre alguma lembrança esquecida na minha mente, de
um dia chuvoso na minha infância, com meus pais, — se é que eram eles
mesmo, — não sei se é lembrança real ou apenas de um sonho. Sinto mais do
que vejo o que acontece.
Minha sacola é atirada dez metros de distância à frente com o impacto,
me jogando de volta a realidade enquanto meu corpo flutua no ar sem ter
onde possa me agarrar e evitar a queda. Sei que durou milésimos de
segundos, mas para mim foi uma eternidade, do momento em que fui atingida
até cair no chão enlameado, batendo primeiro meu quadril, logo em seguida a
cabeça.
Tudo ficou turvo ao meu redor, pisco várias vezes atrás de um ponto
para centralizar meu foco, quando encontro um par de olhos cinzas me
olhando assustado. É ele, meu vizinho, minha cobiça silenciosa. Sorrio ao
pensar em como esse momento seria mágico, se não fosse trágico e até
mesmo cômico, devido ao ocorrido.
O ponto de luz se apaga e fecho meus olhos ainda com a imagem do
seu olhar sobre mim.
Angelina
James
“Eu a matei, tenho certeza!”
É o primeiro pensamento que tenho ao vê-la cair metros à frente. Como
não a vi na rua?
“Deus, como pude ter me desligado enquanto pilotava, ainda mais com
uma tempestade assim?”
Foi involuntário, como sempre acontece quando a chuva cai, me perco
em memórias um tanto dolorosas.
Não gosto de sair quando o tempo está assim, no entanto, tinha que
voltar para casa, ficar entre pessoas que nada sabem do que passei, vendo-me
encolher por dentro e ser assolado por ondas e mais ondas de dor causada
pela culpa, não era uma opção viável, a única que poderia me ajudar era
Eloise, que por acaso não foi para faculdade hoje, deixando-me apenas com a
primeira opção: voltar para casa em meio a chuva que cai, no fim de tarde de
abril, sem saber que tudo poderia mudar.
Andar de moto já é um processo que exige atenção de quem a conduz,
com chuva então, você precisa mais do que nunca estar alerta, mas quando
cada gota que cai sobre você o leva de volta ao momento em que perdeu algo
importante, que nem sabia que tinha, sem ter a chance de opinar sobre, é
praticamente impossível não se afogar com as lembranças.
Em um momento eu estava longe, perdido nas minhas lembranças nada
agradáveis, em uma recordação do passado que veio como um flash de
memória, me vi mais uma vez entrando pelas portas da emergência do
hospital e sem distinguir a recordação da realidade, logo em seguida a vi,
rindo como uma criança no meio da rua. Ainda tentei desviar, pelo menos é o
que acho que fiz, mas seu sorriso me distraiu, até que a vi ser lançada ao ar, e
por minha culpa, suas compras espalhadas por toda parte e ela caída no solo
enlameado, ainda assim uma visão dos céus.
Largo minha Harley de qualquer jeito e corro para seu lado, chego a
tempo de ver seus olhos azuis me olharem com uma mistura de confusão e
prazer ao mesmo tempo. Perco-me na profundeza do seu olhar, como se
estivesse achado aquilo que venho procurando há tempos e nem tinha me
dado conta. Então ela sorri levemente e seus olhos se fecham tirando-me do
transe em que me encontro.
— Ei, moça? Por favor, acorde, abra os olhos. Oh Deus, não posso ter
acabado com uma vida, por favor, não! — Sacudo seu ombro de leve,
enquanto faço uma prece, não quero passar por mais uma desgraça assim,
tirar do universo algo tão lindo.
Olho para a garota desfalecida nos meus braços, pela primeira vez me
permitindo uma avaliação do seu estado, parece que não quebrou nada, talvez
ela só tenha se assustado, por isso o desmaio.
Ela é linda! Seus cabelos mesmo molhados parecem ser castanhos, pele
clara, traços angelicais, as roupas são simples, mas não a deixam simplória.
Quantos anos deve ter? Dezesseis? Dezessete? Dezoito anos? Não sei
precisar, só acho que ela não precisaria de nada para se destacar, mesmo
assim, desfalecida e de olhos fechados, é a visão de um Anjo.
— Moça, por favor? —Tento novamente, ela se contorce nos meus
braços, até abrir os olhos desorientada.
— O q-que aconteceu?
Pergunta enquanto tenta levantar, mas pelo visto sua cabeça está um
pouco dolorida, assim que toco na área que assumo ter sido afetada e ela
geme.
—Aí! Não me toque! Seu maluco irresponsável, não olha por onde
anda? — Sai dos meus braços virando de frente para poder me encarar
enquanto fala, sua cara de raiva misturada com outros sentimentos é um
espetáculo à parte.
— Ei, calminha aí, não tenho culpa se você estava no meio da rua,
aliás, o que fazia no meio da rua em uma tempestade como essa?
— Não é da sua conta! — Ahhh Anjo, sua pose de superior está
acabando com meu autocontrole, fazendo surgir um desejo que há muito não
sentia e não seria nada conveniente tomá-la aqui no meio da rua.
Apenas o pensamento de ter essa garota em meus braços faz com que
meu corpo reaja, criando em mim um tipo novo de excitação, deixando-me
confuso por sentir algo por uma estranha, ainda mais assim, tão rápido e em
meio a algo tão confuso e um pouco trágico.
— Vamos, pare de besteira, deixe-me ver esse machucado! — Tento
me aproximar.
— Você é médico por acaso? — Fala recuando um pouco mais.
— Não, mas estou no quinto ano do curso de medicina, então já sei
diagnosticar uma possível concussão! A não ser que queira esperar por uma
ambulância aqui debaixo da chuva.
— Não preciso de atendimento! — Diz tirando o cabelo molhado do
rosto.
Vejo os pingos da chuva baterem em seu rosto transformando-a em
uma visão e tanto, mesmo brava. Que merda, o que está acontecendo
comigo? Nunca fui assim, de me encantar por alguém, pelo menos não depois
de tudo o que eu passei.
— Vamos, deixe de teimosia, se ficar aqui pode pegar um resfriado
daqueles. — Que criaturinha mais encantadoramente difícil.
Ela desiste de bater boca comigo e me deixa avaliar seus machucados.
Tirando alguns arranhões nos cotovelos e um leve corte na lateral da cabeça,
não teve nenhum machucado que requeira uma inspeção mais profunda.
— Você vai ficar bem. E desculpe-me por tê-la atropelado.
— Agora que vem me pedir desculpa? Mas tudo bem, eu também
estava distraída, então, me desculpe?
— Certo! Agora deixe-me ajudá-la a juntar suas compras, faço questão
de te dar uma carona até em casa.
Darla
Olhar nos olhos do meu vizinho deus grego e não suspirar com
tamanha beleza é quase impossível, depois de fazer um exame rápido nos
meus machucados, estou livre para seguir, quero sair daqui o mais rápido
possível, meu sistema nervoso não tem tanto autocontrole assim, toda vez que
ele me olha, sinto meu núcleo se contrair de mil e umas formas diferentes,
todas desconhecidas até agora para mim.
Ele me olha e diz que não abre mão de me dar uma carona, olho dele
para a Harley jogada no meio fio e penso que não vou sobreviver a sensação
de tê-lo tão perto.
“Vamos Darla, seja corajosa ao menos dessa vez!”
Aquela vozinha chata invade meus pensamentos, quando dou por mim,
estou na garupa da sua moto, colada ao seu corpo, minhas compras estão
embrulhadas em sua jaqueta de couro, o que me permitiu ter uma visão de
como deve ser seu abdome, com a camiseta azul escura colada à pele devido
à chuva.
Não sei o que fazer com meus braços, penso em cruzá-los no peito ou
segurar na lateral da moto, antes mesmo de decidir elas são puxadas por ele,
fazendo com que eu abrace seu tronco, permitindo-me ter consciência dos
seus músculos bem definidos.
Tocá-lo assim fez meu desejo em ter um momento mais íntimo com ele
chegar a um nível insuportável. Inconscientemente aperto minhas pernas nas
suas, ele dá a partida e sai, fazendo com que eu cole ainda mais ao seu corpo.
Sei que ele pode sentir minha respiração acelerada, com meus seios tão junto
das suas costas, seria impossível não perceber, tenho a impressão que ele está
sorrindo, porém, não tenho como comprovar nessa posição.
Por sorte faltam apenas cinco quadras para chegarmos ao Blue Light,
em cinco minutos chegamos. Ele estaciona assim que aponto para o portão,
mesmo com o vento e a chuva, me olha e depois seu olhar vai em direção ao
imponente casarão do século XVIII, que foi transformado em internato há
algumas décadas.
— Você mora aqui? — Pergunta um tanto confuso.
— Sim! — Não entendo seu espanto.
No mínimo achava que andávamos todas uniformizadas, bem, as outras
ainda andam assim, não sou mais obrigada, o que traz de volta a lembrança
de que estou com meus dias contados nesse lugar.
— Como? Quero dizer, nunca a vi, não que conheça muitas garotas daí
nem nada do tipo, porém, vejo algumas andando vez ou outra no jardim, já
você... Se bem que de longe não dá para distinguir bem as fisionomias.
— Não gosto de ficar muito no jardim! — A não ser no fim da tarde
para vê-lo chegar, mas esse é um fato que não preciso revelar.
— Gosta de que, então? — Seus olhos brilham como se realmente
quisessem me conhecer melhor.
— Geralmente ajudar, quando tenho mais um pouco de tempo ler! —
Falo já descendo da moto.
Por mim, ficaria muito mais tempo, mas preciso entrar, não posso
deixar que me vejam, mesmo estando parcialmente escondidos pelas árvores
do Jardim.
—Tenho que ir! Obrigada pela carona! — Viro-me para ir, mas sua
mão no meu braço me faz virar em sua direção.
— Nem nos apresentamos. Sou James, seu vizinho da frente! — Ele
estende a mão que aperto de forma tímida.
Enfrento um pequeno dilema, não sei se devo também revelar meu
nome. É quando tenho uma ideia, lembro da trilogia que estou lendo para
praticar a língua portuguesa que aprendi com uma interna que já voltou ao
seu país: Descobrindo os Prazeres de M.G Nunes, uma autora brasileira
muito promissora. Resolvo que por um tempo posso ser Lina a protagonista.
— Prazer James, sou Angelina, mas pode me chamar de Lina se
quiser. — Ele sorri, fazendo-me perder um pouco a linha de raciocínio.
— Angelina, é um prazer conhecê-la. Realmente o nome lhe faz jus! —
Aperta minha mão levemente, depois a leva até os lábios e sinto a maciez, é
como pensava.
Saio dali antes que eu não tenha mais nenhum controle sobre mim.
Ainda sinto formigar onde sua mão e lábios tocaram minha pele, por causa da
corrente elétrica que passou entre nós nesse pequeno contato. Imagino o que
aconteceria se algo mais íntimo chegasse a acontecer? Com certeza eu
entraria em curto-circuito na mesma hora.
Soluções ou Encrenca
Darla
— Como você pôde não ter dito seu nome para ele? Estamos falando
do James, sabe o mesmo James por quem baba todas as tardes. — Bella me
olha como se estivesse diante de um ser de outro mundo.
Era de se esperar que estaria olhando toda movimentação da rua,
mesmo em um dia de chuva. Mal pude colocar os pés no meu quarto para ela
o invadir e começar com a enxurrada de perguntas. Expliquei como aquele
maluco quase me matou com aquela moto preta reluzentemente linda, deixei
de fora fatos como a minha vontade de pular no colo dele e beijá-lo, além de
também aproveitar a carona para sentir seus músculos bem definidos mesmo
por cima da camiseta.
Se ao revelar a minha pequena mentira ela surtou, imagino que com
mais detalhes teria um treco na minha frente e não tenho vocação, ou sei
qualquer coisa de primeiros socorros.
— Darla, minha amiga mais que querida, é do James, lembra, o cara
gostoso e boa pinta que mora na frente? É dele que estamos falando, você...
Argh! Isso é inaceitável, é a única que pode sair dessa prisão disfarçada de
colégio e não sabe como aproveitar a sorte que tem. Tenha santa paciência
Darla Megan. Ai minha nossa senhora das virgens sem grandes
oportunidades, dai-me paciência!
Eu apenas a olho, não acreditando em todo seu desabafo, aqui não é
uma prisão — não como faz parecer — fala isso porque quando chegar a hora
terá para onde ir, mesmo tendo um cretino como pai, sabe que ele existe e
ainda liga as vezes para saber como ela está, diferente de mim. Acho muito
injusto chamar o Blue Light de prisão, bem que gostaria de ficar presa aqui
para sempre.
— Bella, o que queria que eu fizesse, não me senti segura, e não faça
essa cara, não é como se fôssemos nos encontrar novamente no futuro
próximo e sair para um passeio. Se não viu, outro dia ele pareceu ter uma
namorada, que é tudo que pode se esperar de uma, principalmente para um
cara gostoso e boa pinta como é. A garota era linda, loira, bem abastecida na
frente, atrás e pelo jeito como se olhavam, o amor ali é recíproco!
— Como você pode saber se não é apenas uma amiga?
Olho para ela com cara de 'jura que perguntou isso?'
— Tudo bem Darla, que seja como quiser, só não reclame se essa sua
pequena mentira se voltar contra você. Porque é isso que sempre acontece,
até mesmo as pequenas mentiras, aquelas que achamos sem nenhuma
importância, podem fazer o nosso mundo virar de ponta cabeça, sem que se
dê conta disso!
— Eu sei, Bella. Obrigada pela preocupação, entretanto, não acho que
irei vê-lo novamente, então não tenho que conviver com a culpa! — Sorrio
tentando amenizar o clima entre nós, somos o mais próximo de uma irmã,
uma para outra, o que torna aceitável deixarmos que uma recrimine e brigue
quando acha necessário.
— Ok! Mas eu acho que ainda teremos mais capítulos dessa história,
agora me diz, ele não deve ler muito, caso contrário, Lina, minha cara, você
estaria enrascada!
Suspiro aliviada em perceber que a parte difícil da conversa passou,
agora somos apenas duas garotas que adoram passar o tempo livre
conversando sobre sonhos, planos e garotos, rindo e deixando o peso das
cobranças de lado, enquanto estamos deitadas, dividindo uma cama
consideravelmente pequena e olhando o teto do mesmo quarto onde por
várias vezes consolamos uma a outra.
“É exatamente disto que preciso nesse momento!” Penso agradecida
por tê-la na minha vida.
Um mês...
Já se passou um mês inteiro desde a tempestade e não voltei a ver meu
belo vizinho. Tenho mantido a minha rotina padrão de sempre, no entanto, ele
parece ter mudado os seus hábitos, nada mais de chegar no fim da tarde ou
ficar observando o céu da varanda do quarto pouco depois das dez. O que
mais posso fazer? Nada! Só estou deixando a vida seguir seu curso
naturalmente, já que isso não é algo que eu possa mudar.
Eve tem me ajudando como pode, enviando currículos e boas
recomendações para algumas empresas. Para minha sorte, descobri que
quando aqui me deixaram, também disponibilizaram uma boa quantia para
cursos complementares para minha educação, que nem cheguei a usar, pois
ganhei boa parte dos cursos que fiz. Não ter para onde ir nos feriados era a
desculpa perfeita para estudar cada vez mais, como consequência, tenho uma
boa formação.
Nial acha que tenho grandes chances e agora sabendo da existência
dessa reserva, alivia um pouco o peso da incerteza do futuro. Poderei me
manter por um tempo, com sorte até consigo um bom trabalho que permita
ainda voltar ao Blue Light sempre que possível, esse foi meu primeiro lar, não
posso simplesmente sumir depois de tudo.
— Darla? Ei! Sério Darla Megan Johnson! Se você não se concentrar
em como responder todas as perguntas que lhe farão, esse emprego nunca
será seu! — Eve esbraveja, visivelmente irritada com minha falta de atenção.
— Desculpe-me, prometo prestar atenção. Sobre o que mesmo você
falava? — Faço minha melhor cara de arrependimento, que sei que desde
criança é capaz de fazê-la me perdoar.
— Ok! Veja bem, o Grupo Duran Medical Center é conhecido por ter
entre eles apenas os melhores, não toleram nenhum tipo de incompetência
entre seus funcionários. O que você precisa é deixar claro que tem total e
perfeita capacidade de assumir o cargo de assistente da secretária do
presidente, que é o Sr. Marlon Duran, ele leva muito a sério o que faz, não é à
toa que seus hospitais são referências. O que acha?
— Eu tenho capacidade para isso, não se preocupe! — Digo com toda
firmeza e convicção que consigo reunir, ganhando dela um sorriso de
aprovação.
— Ótimo, sua entrevista está marcada para a próxima segunda-feira, o
que lhe dará mais quatro dias para se preparar melhor, não que não esteja
pronta, tenho certeza que irá se sair muito bem, minha menina!
Com apenas um leve aceno de cabeça ela me dispensa, saio da sua sala
com a esperança renovada, sigo para o jardim como toda tarde, já com meu
livro em mãos, só quero o sossego do meu esconderijo secreto para ler e
quem sabe com sorte, hoje eu encontre um certo vizinho.
Estou totalmente envolvida por toda a trama da vida de Angelina e
Charles, a cada cena de seus beijos apaixonados sinto o meu coração palpitar,
imaginando que seja James e eu vivenciando tudo. Entre suspiros, pensar em
uma história tipo conto de fadas e fantasiar que ela pode acontecer de verdade
me faz sorrir.
Pena que é só nos livros, nem se eu quisesse seria ela de verdade. Para
começar estamos em cidades diferentes, ela na grande Nova Iorque, enquanto
eu, em Chicago. A diferença maior é que ela sempre teve a certeza do amor
daqueles que a cercam, teve pais amorosos e uma família sempre unida, já
eu...
Estou tão perdida dentro dos meus pensamentos que não percebo um
par de olhos de cor cinza me observando, sinto um leve formigamento que
me desce da nuca à base da coluna, fazendo com que olhe por cima do ombro
para a grade às minhas costas.
— Veja só quem finalmente encontrei, Angelina, que prazer voltar a
vê-la! — Meu corpo reage instantaneamente a sua voz e minha capacidade de
raciocinar fica perdida em algum lugar, que não é o tempo presente.
O bom Vizinho
James
Meus olhos veem mas decidem não acreditar que estou frente a frente
com meu Anjo novamente, ela é ainda mais bonita do que lembrava.
Há um mês venho tentando encontrá-la, voltei por diversas vezes aos
arredores do mercado onde a encontrei naquele fim de tarde, esperei,
perguntei aos funcionários por ela e nada, nenhum sinal da bela Angelina.
Fiquei me perguntando como poderia alguém com tamanha beleza quanto a
dela, passar despercebida aos olhares dos outros, ou apenas eu consegui
enxergá-la de verdade?
Tudo bem que aquele é um supermercado onde várias pessoas devem
passar por lá ao longo do dia, mas ela é única, aqueles olhos azuis não podem
entrar e sair sem que ninguém os note.
Para o meu total desespero é a mais pura verdade. Como consegue? É
um mistério, ou ela entrou naquele portão e lá ficou, nunca estando no jardim
com as demais, mas essa parte eu já sabia, afinal, ela mesma havia me dito,
na nossa breve conversa, que preferia ficar dentro do internato lendo.
Estive ao longo dos últimos dias, observando as várias garotas que por
ali passavam, de longe, sem chamar atenção, elas riam e se divertiam como
todas as adolescentes costumam fazer, não sei há quanto tempo estive parado
olhando, até que vejo meu Anjo de olhos azuis sair pela porta da frente e
seguir para a parte mais vazia do jardim. Espero por mais ou menos uns dez
minutos pensando em como devo abordá-la, nada me vem à cabeça, só a
insistente vontade de ouvir sua voz doce novamente e ver seus olhos se
arregalarem como se tivesse um grande segredo escondido, como fez depois
que acordou, após o acidente.
Caminho em sua direção e paro junto a grade. Ela está bem ali, quase
escondida do mundo, está lendo, parece bem concentrada na história do livro
que tem nas mãos, por alguns minutos a observo sem que ela perceba, então
como se sentisse a minha presença, olha por cima do ombro e novamente sou
atingido pela profundeza do seu olhar.
— Veja só quem finalmente encontrei, Angelina, que prazer voltar a
vê-la! — Tento ser o mais natural possível. Como esperado, seus olhos se
arregalam e o prazer que sinto ao perceber que a afeto é indescritível.
—Ja ... James? — Ela gagueja meu nome, o que a deixa ainda mais
linda, sinto uma vontade terrível de acabar com seu nervosismo.
“James, James, ela é só uma menina, está maluco?”
Repreendo-me por ter tais pensamentos.
— Desculpe-me por interromper sua leitura. — Ela rapidamente fecha
o livro, levanta e se coloca de frente para mim e sou atingindo pelo seu aroma
floral.
Sei que se não fossem as grades que nos separam, a tocaria para sentir a
maciez da sua pele novamente.
— Tudo bem! Como vai?
— Bem, nunca mais a vi, não tem saído muito para além desses muros,
não é mesmo? — Sorrio tentando parecer desinteressado.
— Só quando preciso, mas geralmente não saio mesmo.
Ficamos apenas nos olhando por alguns instantes, eu com um debate
interno comigo mesmo sem saber se devo tomar uma atitude ou se me
despeço dela, deixando com que siga seu caminho sem a minha interferência.
Não quero ser o motivo de mais dor ou tristeza.
Seu jeito ingênuo me faz inferir que ela não tem nenhuma experiência
no quesito romance ou outras coisas, o certo seria guardar minhas vontades e
deixar para lá, porém, antes de tomar a decisão certa, meus lábios estão em
movimento fazendo a proposta.
— Você quer sair comigo, podemos andar de moto novamente, fiquei
com a impressão de que se divertiu no outro dia. Ou podemos apenas tomar
um sorvete. — Que conversa mais sem graça essa minha, pareço um
adolescente bobo que nunca convidou uma garota bonita para sair.
— Não acho que seja uma boa ideia. — Ela retorce o nariz de uma
forma adorável. — Nem é permitido, na verdade! — Morde o lábio indecisa e
meu desejo por ter os meus dentes ali só aumenta.
— Não me diga que você sempre segue as regras? — Provoco-a um
pouco e logo me repreendo por ser um cretino impulsionado pelos hormônios
enlouquecidos, quando ela abaixa a cabeça e cora levemente.
— Eu tento segui-las, mas nem sempre! — Seu sorriso sapeca me faz
chegar à conclusão que, se ela tenta, quer dizer que ainda assim quebra
algumas.
— Não mereço que quebre uma delas pelo menos uma vez? —
Pergunto e a vejo engolir em seco e umedecer os lábios, isso faz meu desejo
por senti-los nos meus aumentar ainda mais.
“Vamos Angelina, jogue comigo Anjo.”
Darla
Não consigo acreditar que essa pessoa, a mesma que tem estado cada
vez mais presente nos meus sonhos e fantasias acaba de me pedir para
quebrar as regras do internato e sair com ele. Se bem que eu poderia
conseguir uma autorização facilmente, mas quero fazê-lo acreditar que sou a
super correta, de alguma forma a conversa com Eve me deu uma nova
perspectiva de futuro, com isso também a coragem que até então
desconhecida.
— Vamos Angelina, só um passeio, Anjo. — Adoro quando me chama
de Anjo, durante todo o mês que passou fiquei fantasiando como seus lábios
apetitosos se movimentariam para pronunciar essa palavra.
— Só um passeio e apenas uma vez, nada mais que isso, ok? —Digo
para tentar disfarçar o quanto estou ansiosa para sair com ele.
— Apenas o que você quiser, palavra de escoteiro! — Ele levanta a
mão e sorri, minhas pernas ficam bambas só de imaginar ter a oportunidade
de sentir seus músculos bem definidos novamente ao toque das minhas mãos.
— Você alguma vez já foi escoteiro? — Estreito os olhos.
— Eu... bem... não! — Coça a cabeça e finge estar constrangido o
descarado.
Penso por alguns segundos, dando a entender que estou em dúvida, sei
que ele deve ter a sua disposição a mulher que quiser, é bonito e sabe
conversar sem aqueles papos cretinos que sei que a maioria dos caras tem.
Sei disso pelas centenas de livros que já li, não por ter vivido.
— Tudo bem, James, uma vez e ponto. Esteja me esperando as nove
em frente à lanchonete que fica dois quarteirões daqui.
— Certo, Anjo!
Ele estica a mão atravessando as grades e toca no meu rosto, fazendo
um carinho na minha bochecha, inclino a cabeça um pouco para sentir mais o
toque de sua mão suave em mim.
— Coloque um agasalho, a noite o vento pode dar uma sensação de
friozinho se você está em uma moto.
Faço que sim com a cabeça, ele sorri antes de se afastar das grades, eu
continuo ali ainda o vendo seguir caminhando, até que ele desaparece do meu
campo de visão. Não acredito que acabei de concordar em sair com ele à
noite.
Suspiro e vou me preparar para enfrentar Eveline pela segunda vez em
um dia, rezo para que Daia não decida voltar de viagem logo hoje, ela é mais
difícil de convencer a me deixar sair, ainda mais se eu contar que é para um
encontro.
Como previsto não foi fácil convencer Eve, mas no fim, ela acabou
cedendo, eu entendo o seu lado, enquanto estiver morando no internato, sou
responsabilidade deles, mas o fato de estar nos meus últimos dias como
interna ajudou bastante, pediu apenas para que eu saísse pelos fundos, assim
não chamaria a atenção das demais.
Fiz exatamente como me pediu, após o jantar esperei que todas se
dispersassem para fazer algo, fui para à cozinha e saí pelo portão por onde os
funcionários entram e saem, o mesmo que dá acesso ao beco ao lado.
Nove em ponto chego em frente à lanchonete do Barney, o irmão de
Joana, nossa cozinheira. Antes mesmo de atravessar a rua o vejo encostado
na sua Harley preta, meu coração dá uma guinada, apego-me a todos os
santos para que essa noite não acabe onde minha mente nada santa imagina.
O beijo
Darla
Sei que não deveria estar tendo nenhum desses pensamentos
libidinosos, principalmente se quero manter minha condição de virgem
intocada. Mas sejamos honestos, até a mais pura das mentes reagiria de forma
nada santa ao ver parado ao lado de uma moto linda e reluzente, alguém
como o meu belo e bastante atraente vizinho. James está lindo com sua
jaqueta preta de couro, camiseta azul marinho de mangas compridas que
acentuam a cor dos seus olhos e jeans apertados, tão terrivelmente ... Argh!
Deixe pra lá.
Ele não percebeu minha presença ainda, o que me dá a chance de
admirá-lo por alguns minutos, até que olha o relógio, em seguida ergue a
cabeça e me vê. Seu sorriso é tão contagiante que meu corpo inteiro vibra de
antecipação por não saber onde estamos indo, mas convenhamos, não me
importo nem um pouco com isso.
— Angelina, uau! — Olho para minha calça jeans favorita, não vejo
motivos para esse 'uau', blusa que ganhei de Eve na cor creme, jaqueta jeans
azul e para fechar o look uma sapatilha, como ele bem disse, à noite, a
velocidade da moto pode deixar o clima mais frio.
Confesso que ainda não entendi a sua empolgação com minha chegada,
seus olhos me fitam como se tivesse ganhado o dia. Tento entender o que se
passa por seus pensamentos, mas James ainda é uma incógnita para mim.
— James, bela jaqueta. — Faço um gesto abrangente, ainda admirada
como ele está terrivelmente sexy nesse estilo Badboy. — Então, para onde
vamos? — Minha ansiedade está a mil, não sei onde coloco as mãos, mexo
no cabelo, aliso minha blusa, até colocá-las nos bolsos de trás.
Pronto assim elas permanecem quietas, quando na verdade minha
vontade é sentir a textura de seu cabelo, tirar a mecha que cai sobre a sua
testa e depois percorrer por todo o seu corpo!
“Senhorrrrr, de onde vem esses pensamentos, é o livro que estive
lendo, tenho certeza, estou realmente incorporando Angelina Mendes.”
— Vamos, não direi para onde, mas creio que irá gostar! — Estende-
me a mão que rapidamente aceito. Sinto uma eletricidade fluir nesse nosso
simples contato, suspiro tentando achar o ar que me fugiu completamente.
Subo na moto e novamente não sei o que fazer com minhas mãos,
como da última vez, ele as coloca envolvendo seu corpo fazendo com que o
meu cole ao seu por trás. Espero até que dê a partida para, enfim, sentir um
pouco do seu abdômen bem definido, mesmo com a camiseta, posso sentir
seus músculos, que fazem um belo complemento para seus braços fortes e
pernas grossas.
Por falar em pernas, as minhas viram gelatina no momento em que ele
as tocam enquanto esperamos o sinal abrir, acho que vou entrar em uma
combustão espontânea em cima da sua Harley e Deus me ajude. O que mais
pode acontecer?
Depois de muito torturar meu psicológico, que a cada toque da sua
mão, fazia minha mente virar água, conjurando pensamentos de por onde as
queria em mim, chegamos ao Navy Pier, que está localizado no Near North
Side. Aqui há muitas atrações: lojas, restaurantes e a famosa roda gigante que
tem uma vista incrível da cidade.
James estaciona, desce, me ajuda com o capacete, pega minha mão e
me leva direto para a roda gigante. Quase não acredito que ele me convenceu
a subir nela e perco o fôlego quando ela para no alto. A vista é espetacular, os
pontos luminosos das embarcações no lago Michigan e a arquitetura dos
prédios da cidade são de tirar o fôlego, mas Jamais havia estado em uma roda
gigante e a altura, me distraio a ver as luzes de Old Town, distrito em que
moramos.
Quando o passeio acaba e saímos de mãos dadas, respiro aliviada. A
vista é linda, mas é ótimo voltar a colocar os pés no chão.
Caminhamos por entre a multidão empolgada com as atrações do local,
mas nem mesmo a multidão me aborrece pois estar com ele é uma
experiência nova para mim. Chegamos a um restaurante de frutos do mar
enquanto James me convida para jantar.
— Veja os meus trajes. — Digo preocupada. — Não estou
propriamente vestida para um local refinado como este.
— Você está perfeita, seus trajes combinam com os meus. — Ele ri da
minha insegurança sobre o local.
Somos acomodados em uma das mesas que nos dá vista para a
belíssima arquitetura das construções da cidade. Uma selva não só de pedras,
mas de luzes e vidro, é linda! É estranho sair sem as outras garotas ou um dos
responsáveis do internato, porém, devo começar a me acostumar. Logo serei
apenas mais uma na multidão e por esse motivo, resolvo que tentarei
aproveitar ao máximo a oportunidade e me adaptar à ideia de que será apenas
eu a partir de agora.
— Diga-me, Lina, há quanto tempo estuda no Blue Light? Sempre
morei em frente ao internato e não lembro de tê-la visto antes daquele dia.
— Desde os cinco anos! — Respondo no automático, não sei se acabo
de dar informações demais.
—E nunca saiu de lá? Desculpa, sou um pouco curioso, principalmente
quando estou com uma garota tão bonita por perto. — Tenho certeza que meu
rosto está em brasas, ele acaba de me dizer que sou bonita, sou uma boba isso
sim, deve dizer isso para todas.
— Claro que saio, todas saímos! — Não do jeito que ele está pensando,
mas não vem ao caso falar. — E quanto a você, vizinho, o que faz além de
atropelar garotas indefesas durante um temporal? —Sorrio da cara que ele
faz, sei que o surpreendi.
— Para começar, não atropelo garotas indefesas em temporais, a não
ser a senhorita... Qual seu sobrenome mesmo? — Ai minha nossa senhora das
meninas que mentem sem pensar, o que faço? Não há outra alternativa, se
entrei no personagem, tenho que ter o nome e sobrenome!
— Mendes, Angelina mendes!
— Sem nome do meio? — Nego com a cabeça, acho que o convenci.
— Então, como estava dizendo, Angelina Mendes, não é do meu feitio
machucar pessoas porque eu estudo medicina, minha missão é salvá-las.
Sonho em ser um patologista tão bom quanto a minha mãe. — Agora é minha
vez de ficar de boca aberta, poxa patologista, uauuuu! — E você, já sabe o
que pretende fazer?
Essa é a pergunta que vale um milhão, querido, pois não sei respondê-
la. A única coisa concreta que tenho no momento é a entrevista de emprego
na segunda-feira, que poderá contribuir para que um dia eu saiba a resposta
para a sua pergunta. Decido deixar passar essa informação, dou de ombros
sem querer me aprofundar muito no assunto, se o fizesse teria que começar a
contar coisas que não estou disposta no momento.
Por duas horas falamos de tudo e nada ao mesmo tempo, filmes
favoritos, comidas, tipo de música, nada muito pessoal, o que é um alívio
para minha mente com síndrome de culpa constante.
A viagem de volta é mais fácil, já preparada para suas mãos que
passeiam despreocupadamente por minha coxa a cada sinal, estou leve como
nunca me senti, ser capaz de esquecer um pouco de tudo que tenho medo e as
preocupações, é um alívio, estava precisando de um momento assim.
Chegamos na entrada lateral, a mesma pela qual saí, tudo está calmo
dentro do internato, a essa hora todos devem estar dormindo, o que é muito
bom, sinal de que não corro o risco de topar com ninguém no caminho até o
meu quarto.
James agora me olha de uma forma diferente da que olhou durante toda
noite. Está com um olhar carnal que percorre meu corpo de cima a baixo,
como se nada no mundo fosse mais interessante do que eu, minhas pernas
fraquejam levemente e quase vou de encontro ao chão, isso não acontece
graças ao um par de braços fortes que me seguram no momento exato.
— Cuidado, linda, não quer se machucar toda vez que nos
encontramos, não é?
Ele ri divertido, mas só consigo registrar a proximidade de sua boca da
minha orelha e o formigamento que me percorre por todo o meu corpo,
fazendo meu núcleo apertar de desejo por essa boca.
— Sabe, linda, desde aquele dia quero fazer algo, tenho debatido sobre
o que é certo e o que estou desejando tão desesperadamente, no fim, decidi
dizer: foda-se o certo!
Sem que eu tenha tempo de processar suas palavras sou girada e
imprensada contra a parede do beco, sua boca exigente toma a minha
enquanto suas mãos sobem e descem pelos lados do meu corpo. Ele acaricia
minha coxa direita, em seguida sua mão desce um pouco mais pela minha
perna, sem tirar seus lábios do meus.
Sinto quando me puxa contra o seu quadril, chegando cada vez mais
perto de mim, percebo sua excitação me tocar a barriga, vou a loucura
imediatamente. Estava, até agora, tímida por esse ser o meu primeiro beijo e
não ter muita ideia do que fazer, mas logo esqueço tudo. Com todas as
sensações que percorrem o meu corpo com sua proximidade seria impossível
me ater a este detalhe. Entrego-me com a mesma intensidade, eu o quero é
fato, mas quero para já, não há poréns nem porquês, só o quero, meu corpo
inteiro vibra com suas carícias combinadas com os movimentos de posse que
sua língua faz em minha boca.
Oh céus! Como é bom, seus movimentos de quadris me levam para um
estado onde meu corpo já não é controlado por mim e sim por ele. Isso tudo
me deixa tão fora de mim que me arranca um gemido manhoso do fundo da
garganta, eu o quero, eu preciso que continue, mas ele para, encosta sua testa
na minha ainda ofegante, beija-me uma, duas, três vezes mais.
— Lina, Lina, o que você fez comigo, sua levada?
Sua voz rouca me traz de volta à realidade, é quando percebo a posição
dos nossos corpos, que se tornam quase um de tão próximos. Fico rígida de
imediato. Meu Deus, onde estava com a cabeça, sei que meu rosto mostra
meu constrangimento.
— Ei, nada de ficar com vergonha linda, não de mim, seus lábios são
uma droga viciante, baby e eu acho vou precisar senti-los muito mais vezes,
ah, se vou!
Suas palavras carinhosas e excitantes me fazem relaxar, abaixo minha
perna e fico o mais reta possível.
— Hoje não, mas logo, linda, eu prometo, espere por mim, por favor
espere, logo darei um jeito de vê-la novamente. Agora vá, já se arriscou
demais, não quero que entre em apuros, darei um jeito de vê-la em breve, eu
prometo!
Com mais um beijo — dessa vez mais suave e delicioso — nos
despedimos com a promessa de em breve repetirmos a dose. Entro no
internato ainda flutuando por seus beijos, seu sabor único ainda na minha
boca, sorrio como uma garotinha que acaba de ganhar de natal o que mais
desejou durante toda a vida, entro no meu quarto e me atiro na cama de roupa
e tudo, quero manter essa bolha de felicidade o máximo que puder, até
amanhã pelo menos.
Infringindo regras
James
Há muito tempo não me sentia assim e isso me causa uma sensação
estranha.
Eu amava Alana. Era jovem, mas tinha dimensão da força dos meus
sentimentos e quando tudo aquilo aconteceu, que abri meus olhos para
entender que o amor entre nós era unilateral, aquilo me corroeu por dentro.
Aquele James tinha morrido dentro de mim. Desde então eu não era capaz de
sentir essa emoção e ansiedade me preenchendo por dentro.
Como se sabe que está apaixonado? Talvez pela forma como nosso
coração dispara ao lembrar da pessoa cujo sorriso faz o mundo explodir em
cores a nossa volta, ou talvez a ânsia que sentimos de estar com ela, mesmo
fazendo poucos minutos que nos separamos?
São perguntas sem respostas, a única coisa que posso responder com
toda certeza é que não consigo esquecer o gosto dos beijos que Lina me deu,
ou que eu tomei tão despudoradamente.
Não pude vê-la nos últimos dias, o ritmo da escola de medicina é
puxado, não me deixara muito tempo livre, mas não a tirei dos meus
pensamentos, muito menos consigo evitar a emoção que me toma por dentro
quando penso nela. É uma invasão de sentimentos tão gostosa que eu já havia
me esquecido como isso faz bem. Sempre que me recordo de seu beijo sinto
minha pulsação acelerar, uma palpitação no peito e um enorme desejo por vê-
la novamente. É quase que incontrolável e excitante. O que essa garota está
fazendo comigo?
Durante as últimas noites tenho observado da minha varanda a luz que
permanece acessa por mais tempo no internato, por coincidência é no quarto
que fica exatamente em frente ao meu, posso vê-la se movimentar, mesmo
sendo apenas uma sombra através da cortina. Pela minha visão periférica,
uma cena me chama atenção, desvio o olhar para a entrada do beco onde me
despedi dela noites atrás e não acredito que tenha tamanha sorte.
Sem pensar duas vezes desço a escada correndo, logo estou no jardim
atravessando o gramado, sei que essa é uma das internas do Blue Light, a vi
outro dia no jardim conversando com outras garotas, fico escondido enquanto
a vejo se despedindo de um rapaz com um beijo acalorado, espero até que ele
tenha sumido de vista para que eu possa me aproximar dela, que ainda o
observa sonhadora.
— Acho que alguém infringiu as regras! — Digo ao chegar bem perto
dela, tapando sua boca quando vejo seu grito se formar. — Não grite, não lhe
farei mal algum.
Seus olhos se arregalam como se me reconhecesse, balança a cabeça e
sei que não gritará, bom, eu acho. Libero sua boca com cuidado, caso ela
comece a gritar poderei agir rapidamente, porém, não é o que acontece.
— Ja-James, o que faz aqui? — Ela sabe o meu nome, vejam só!
— Então me conhece? Ótimo, facilita minha vida, quero chegar ao
quarto de Angelina sem ser notado, sei que sabe ser um fantasma dentro
dessas paredes, então me guie até ela! — Devo estar parecendo um louco,
mas não ligo.
— Quem? — Agora sim, a vejo confusa, mas logo muda de expressão.
— Lina, é claro, aquela danadinha! E eu pensando que era eu quem infringia
as regras! Venha, o levarei, mas devo avisá-lo que os funcionários começam
a chegar por volta das cinco da manhã, precisará sair antes disso. — Essa
garota deve saber muito de mim, ou é mesmo muito maluca, aceitou de bom
grado levar alguém para dentro do internato, espero que seja a primeira
opção, não gosto de pensar que qualquer um pode ter acesso a Angelina.
— Tudo bem, até porque, me dará sua chave reserva secreta, devolvo-a
pela tarde deixando próxima a essa entrada, sei que tem um jeito de recuperá-
la.
— Certo, venha comigo!
Sigo-a pela mesma porta que Lina entrou cerca de uma hora antes,
passando por uma enorme cozinha, depois um salão grandiosamente
espaçoso, o que me dá uma dimensão da quantidade de internas que devem
morar por aqui. Subimos três lances de escadas, por sorte o piso é acarpetado
abafando os nossos passos, agora sei como essa danadinha conseguiu fugir.
— Chegamos, espero que tenha decorado o caminho a seguir, pois a
volta é com você! — Sussurra baixinho. — Veja, ela ainda está acordada, vão
com calma, não façam tanto barulho, há crianças por perto! — Com uma
risadinha, ela sai me deixando feito um adolescente bobo e apaixonado diante
da porta do quarto do meu Anjo lindo.
Dou uma batidinha de leve para não chamar atenção, escuto passos
vindo até a porta, a maçaneta gira e meu coração dispara.
Darla
Tem sido quase impossível dormir com tudo que meu corpo sente,
desde o beijo que James me deu dias atrás, só de pensar nele sinto meu corpo
inteiro alerta, sentada em minha cama volto a minha leitura e agora sim,
posso imaginar que Charles é James e eu sou, de verdade, Lina, em Field
Goal, a continuação de Safety, livro brasileiro que me conquistou.
Fico grata por ter me dedicado a este idioma por tantos anos. Helen,
que tinha vindo do Brasil estudava aqui conosco porque sua família queria
dar a ela a oportunidade de uma educação internacional e eu tive a sorte dela
ser paciente comigo, me ensinando sua língua nativa por quase cinco anos.
Aprendemos Espanhol no internato, por isso, apesar de ser uma língua
complexa, aprendi Português por assimilação. Já o Alemão, não foi assim tão
fácil.
Volto a sonhar com o personagem Charles, para mim, agora ele tem a
aparência de James. No livro, o amor desse lindo casal me toca. Na vida real,
por mais impossível que possa soar, penso que meu Charles possa ser o meu
vizinho.
Uma batidinha suave na porta me tira do transe em que entrei, na
minha mente fantasio que seja James e irá invadir o meu quarto me beijando
com tudo. Doce ilusão a minha, claro que deve ser Bella, que mais uma vez
esteve aprontando das suas.
— Não devia perder seu tempo comigo, se está procurando um
namorado...
“Minha nossa senhora dos malucos que sonham acordados, o que ele
está fazendo aqui?”
Parado a minha porta, está aquele que não me saiu um segundo sequer
da cabeça, desde nosso beijo no beco ao lado.
— Desculpe, mas não pude mais esperar, estava louco de saudade!
Diz ao entrar no meu quarto, fecha a porta com cuidado e volta para
mim, logo estou nos seus braços, sua boca desce sobre a minha em um beijo
de tirar o fôlego, transformando minhas pernas de sólidas a líquidas. Seus
braços me apertam junto dele, dando ênfase as suas palavras.
O beijo ganha um novo ritmo, cada vez mais urgente, meu corpo
pegando fogo, refletindo o calor do dele. Ficamos assim por alguns minutos
nos beijando desesperados, ele para e encosta sua cabeça na minha ofegante.
— O que você está fazendo comigo, anjo? — Pergunta sem fôlego.
— O mesmo que faz comigo! — Digo num sussurro.
— Isso pode parecer loucura e um tanto precoce, mas eu não aguento
mais ficar longe de você, foram dias infinitos. — Meu coração acelera com
suas palavras. — Eu não sabia o que fazer para entrar em contato contigo, até
que vi uma das internas que sempre consegue escapar daqui a noite. Imaginei
que ela poderia me ajudar a encontrá-la.
— Você é louco! — Tento ser sensata, mas é impossível resistir a
essa loucura que está acontecendo.
— Não sou! É você que me deixa louco sua diabinha! — Sua boca
volta a tomar a minha, é a minha vez de puxa-lo para mim, minhas pernas
movendo-se automaticamente.
Com três passos sou deitada sobre a minha pequena cama, mas o seu
tamanho não importa, já que ele está sobre mim, seu corpo encontrando o
meu nos lugares mais que certos, fazendo o fogo que senti no beco voltar
com força total.
Sem receberem um comando direto minhas mãos começam a tirar sua
camiseta, tenho uma necessidade infinita de sentir sua pele. Ele ergue o
tronco para facilitar meu trabalho e logo estou com as unhas arranhados suas
costas, seus dentes tomam meu lábio inferior e os puxa, mordendo de leve,
causando um frenesi no meu ponto mais sensível.
— Quero sentir sua pele, posso? — Pede desolado, como se estivesse
com dor e o fato de me tocar fosse sua cura.
Faço que sim com a cabeça, uma vez que não consigo falar nada de
tão ofegante que estou. Com cuidado suas mãos tocam na barra da minha
camisola. Por sorte hoje não trajava um de meus tradicionais moletons para
dormir e sim a camisola da Victória Secret marfim que ganhei de Bella no
meu último aniversário. Lentamente vai puxando-a para cima começando a
expor minha roupa intima, é uma noite de mais descobertas, pelo que vejo,
mas não sei se estou preparada para tantas.
Acho que meu medo transparece no meu corpo, James para o
movimento e me olha nos olhos sério. Transmitindo-me a segurança que está
me faltando.
— Não vou passar dos limites, vou até onde você quiser, basta dizer e
eu paro!
Mais uma vez apenas balanço a cabeça e então estou completamente
livre da minha camisola, suas mãos sobem e descem pela lateral do meu
corpo, parando logo em seguida na curvatura dos meus seios. Sinto um
arrepio gostoso quando seus polegares os acariciam, de forma suave, meu
núcleo se contraindo de desejo, minha boca se abre soltando um gemido
rouco, logo abafado por sua boca.
Sua língua me invade, pronta para duelar com a minha, enquanto sua
carícia continua sobre mim, sua boca vai descendo, enchendo minha pele
com beijos, indo em direção ao sul do meu corpo, estou me segurando a uma
linha finíssima, que se romperá a qualquer segundo. Olhando-me nos olhos se
livra da minha calcinha, volta a beijar minha barriga antes que sua boca desça
ainda mais.
Meu Deus, o que estou fazendo? O que o estou deixando fazer? Mas
não consigo parar, suas carícias são maravilhosas, sua língua trilhando um
caminho em minha pele me deixa em um estado de excitação que eu ainda
não tinha experimentado e então acontece, sua boca chega em meu centro,
causando um frenesi inimaginável. O misto da sua língua brincando no meu
ponto mais sensível com suas duas mãos provocando meu corpo já sedento
faz romper por completo a barreira da minha sanidade e perco o controle
sobre as minhas reações, deixando um terremoto de sensações invadir o meu
corpo me fazendo contorcer e convulsionar sob o seu toque, subindo,
subindo, subindo até o limite e então caio no limbo sem fim, ofegando e
gemendo o seu nome.
Quando começo a voltar da viagem alucinante que acabo de fazer,
abro os olhos envergonhada, a tempo de vê-lo levar seus dedos à boca e
chupá-los fechando os olhos como se fosse a coisa mais saborosa do mundo
inteiro. Deus, o que deu em mim para ir tão longe? Mal o conheço. Não
consigo olhá-lo nos olhos, temo que verei sua reprovação por ser tão fácil e
libertina. Sempre fui a mais ajuizada de todas, me mantendo dentro das
regras, eu não cometo deslizes.
— Lina, meu Anjo, olhe para mim! — Pede já segurando no meu
queixo e fazendo-me olhá-lo nos olhos. — Nada de vergonha, lembra? Diga-
me já havia beijado alguém antes? — Nego envergonhada agora por minha
falta de experiência. — Fui o primeiro a quem beijou! Minha menina, não
sabe como isso me deixa feliz, de uma forma que nem eu mesmo sei explicar.
Sorrio largamente para ele, pois no meu íntimo quero que seja o
único, principalmente se me fizer sentir o que acabo de sentir com o seu
toque.
— Venha, deve estar cansada, fico feliz em ser aquele que também te
deu o primeiro orgasmo e quero ter diversas primeiras vezes com você, mas
por hoje basta, quero só deitar e sentir seu corpo junto ao meu, antes da hora
de ir embora.
Com mais um beijo, dessa vez doce e suave, me aninha em seu peito e
fica acariciando minhas costas, até que o sono me vence e entro no mundo
dos sonhos onde moram os apaixonados.
Conclusões Erradas
James
— E quando vou conhecer essa garota que roubou o coração do meu
priminho, depois de dois anos sem se envolver com ninguém? — Eloise
minha prima mala, mas que amo, me enche de perguntas novamente, sabia
que devia ter mantido a minha boca fechada, ter guardado Angelina só para
mim.
Mas não sei o que fazer com o turbilhão de sensações e emoções que
tenho dentro de mim, há um júbilo no meu peito por ter estado com ela na
noite passada que se mistura ao meu medo e me deixa confuso.
É possível que esteja entrando em um relacionamento depois de tanto
tempo? É realmente possível que esteja voltando a me abrir?
Também há a culpa por ter sido impudente e ter me deixado guiar pelo
desejo abrasador que sinto por Lina, aquela pequena conseguiu quebrar a
barreira no peito até então muito sólida.
Cheguei em casa por volta das quatro da manhã, tive que sair antes que
os funcionários começassem a chegar, não se passou um minuto sequer e já
estou olhando o internato pela janela enquanto falo com Eloise, que é mais do
que prima, é minha melhor amiga, sabe de tudo sobre mim e esteve ao meu
lado durante toda minha vida.
— Eloise, por favor, não começa, saí com uma garota outra noite e a
beijei! — Não vou deixá-la saber do meu pequeno delito.
Os beijos que trocamos na noite passada valeram por milhares que já
troquei com outras garotas, a forma como ela aceitou que eu a tocasse, como
seu corpo se derreteu junto do meu, ela estava completamente entregue,
minha e eu a quero, isso assusta o inferno dentro de mim, mas santo Deus
como desejo demais aquele Anjo de olhos azuis.
— James, se não gostou do beijo dela, mais do que quer me dizer, então
por que ligou como um menininho apaixonado pela coleguinha, a essa hora
da madrugada para contar tudo isso? Essa empolgação de quem deu um
beijinho no rosto na saída da escola não me engana.
Porrrrrrrrra! Devo estar mesmo parecendo um adolescente bobão que
está caidinho pela primeira garota bonita que apareceu na frente. Talvez seja
isso mesmo que esteja acontecendo comigo, mas não sei se devo me deixar ir
por esse caminho, sei onde posso parar se me apaixonar e não posso passar
por tudo outra vez. No entanto já fomos tão longe que talvez a paixão não
seja só uma possibilidade, sim um fato concreto, só não sei se consigo admitir
isso para outra pessoa além de mim mesmo, não ainda.
— Não é nada disso, se você for por esse caminho, desligarei o
telefone, não vou passar por nada parecido, Eloise! — Já não sei de mais
nada, uma grande decepção e perda na vida, já são suficientes para uma
pessoa voltar a se permitir correr o risco de passar por tudo novamente. Isso é
ser muito masoquista e eu não sou!
Porém, mesmo enquanto penso nisso, os olhos azuis e brilhantes de
Angelina se entregando ao prazer, enchem minha mente, deixando claro que
sou um masoquista sim e foda-se tudo!
— James Duran, pare agora mesmo com essa besteira, você mais do
que ninguém merece conhecer uma pessoa bacana, que o ame e vice versa.
Esqueça o que aconteceu com Alana, deixe os fantasmas onde eles devem
ficar, em seus túmulos presos pela eternidade, certo?
Como minha amiga, Eloise viveu e presenciou cada dia do meu
calvário pessoal, desde tudo que aconteceu com minha ex namorada, tem se
mantido sempre por perto, evitando que eu venha a ficar depressivo
novamente.
— Ok, agora preciso desligar, loirinha, amanhã nos vemos para
conversar melhor, com sorte eu te apresente a bela Angelina!
— Certo, chatinho, durma bem!
— E sonhe com pernilongos também! — Rimos ao desligar, recitando
as falas do filme do Rei Leão. Por algum motivo o nosso filme preferido da
infância me vem à mente, talvez porque Simba também precisou se livrar do
medo e decidiu amar novamente. Amar? Será que estou mesmo pronto para
isso? Tão súbito, precoce, confuso.
Deito na minha cama ainda com Angelina presente na minha mente, a
lembrança do gosto dos seus beijos, das suas mãos pequenas segurando firme
em mim, enquanto estávamos na moto outro dia, suas coxas que apertavam as
minhas toda vez que as tocava. Como também a forma que me deixou
conduzi-la durante o nosso momento íntimo e proibido, se entregando,
colando ainda mais em mim, seu corpo lindo indo a ponto de ruptura com os
meus toques e o seu sabor único, ela é perfeita.
Apenas lembrar de tudo isso faz meu corpo despertar com um desejo
maluco de invadir novamente a porcaria do colégio e tomá-la ali mesmo sem
pensar em mais nada, só no quanto será magnifico tê-la nos meus braços
enquanto a possuo e a faço minha.
Levanto novamente, preciso tirar isso da minha cabeça, porra, nem a
tive realmente e já estou viciado, foram beijos e toques, mas foram os mais
marcantes da minha vida, vê-la se contorcer ao chegar ao primeiro orgasmo
me levou à loucura. Foi preciso muito do meu autocontrole para não ir mais
além.
Meu corpo agora está totalmente desperto, não tendo outro jeito, entro
no chuveiro com a calça e tudo, preciso de um banho frio, ou então não
ficarei só na vontade, vou parar novamente no quarto do outro lado da rua
sem pensar duas vezes.
Darla
A noite passada, sem dúvida nenhuma, foi apenas fruto da minha
imaginação, não é possível que alguém como James esteja a fim de uma
garota como eu, claro que não. Entretanto meu corpo continua a me lembrar
que foi bom demais para ser apenas um sonho. Ele esteve comigo aqui, no
Blue Light! Meu Deus estive em seus braços e imprensada contra a porta do
meu quarto, bem aqui, nas dependências do internato.
— Darla, você está prestando atenção no que falo? — Daia estrala os
dedos a minha frente, tirando-me dos meus devaneios.
— Desculpe, me distraí! — Fico constrangida, como sempre acontece
quando me perco em pensamentos, coisa que desde que coloquei os olhos em
um certo vizinho, tem acontecido com muita frequência.
— Se quiser posso pedir a outra pessoa que faça isso, só a chamei
porque sei que gosta de dar voltas e voltas no supermercado, desde criança
que é assim.
— Tudo bem Daia, vou adorar respirar um pouco de ar além dos
muros. — Sorrio para ela, que me sorri de volta.
— Soube da entrevista na Duran Medical Center, sei que vai se sair
muito bem, nunca conheci alguém mais centrada e organizada que você, além
da simpatia que faz todos a sua volta gostarem de cara. Só não esqueça de
nós do Blue, ok? Temos você como da nossa própria família, em pouco mais
de um mês, ou antes disso, não a teremos mais conosco todo o dia, o que não
quer dizer que não possa ou deva nos procurar caso precise de algo, certo?
Fico emocionada com suas palavras, mesmo sendo mais fechada do que
Eve e Nial, ela sempre soube me dar ótimos conselhos, como também
broncas nas horas certas, por isso a amo e sentirei saudades dela, sem pensar
me atiro sobre ela e a abraço apertado, que me devolve o gesto, afagando
meu cabelo de uma forma carinhosa.
— Ah, minha anjinha de olhos azuis. — Ela me chama de anjinha
desde que era criança. — Vou sentir falta dos seus abraços de urso, agora vá,
aproveite seu sábado. Está liberada para sair e dar um passeio depois que
tiver terminado o mercado e não diga que não, explore um pouco, nunca se
sabe o que podemos encontrar!
— Uma placa de aluga-se o porão, talvez? — Pergunto de forma
brincalhona.
— Nunca se sabe! Mas adianto que Nial e eu iriamos visitar antes de
tudo, mas também estamos vendo com alguns conhecidos um lugar para
você, não queremos que saia daqui e more com alguém que não é da nossa
inteira confiança.
Emociono-me com sua revelação, eles são melhores do que eu poderia
querer, minha linda família que a vida me deu.
— Vá, mas volte cedo, abri uma exceção mas mantenho minhas
meninas na linha! — Dou-lhe um beijo no rosto e saio para fazer algo de que
realmente gosto, depois posso até mesmo ficar um pouco no Barney, adoro os
sanduíches de lá, então nada melhor que curtir meu fim de tarde de sábado
assim.
Estar em volta de tantas prateleiras e produtos me diverte, não sei
porque, talvez por ser a única lembrança de quando saía quando pequena e
sempre me divertia, ainda tenho isso como algo prazeroso de se fazer.
Saio do supermercado ainda sorrindo das brincadeiras de Sofia, a caixa
dali, ao longo dos anos desenvolvemos uma boa amizade, mesmo ela tendo
idade para ser minha mãe, o que talvez seja o motivo de gostar tanto dela,
quando se vive cercada de pessoas da sua idade ou mais jovens, você acaba
ansiando por amizades mais experientes.
Antes mesmo de chegar a esquina que dá acesso ao Barney, escuto o
som único da Harley, meu coração para e acelera ao mesmo tempo, minhas
pernas ficam trêmulas, viro-me para vê-lo na expectativa de poder curtir um
fim de tarde ao seu lado.
Não é uma grande surpresa em ver que ele já tem companhia. A mesma
loira bonitona do outro dia está colada a ele na moto e o cretino é todo
sorrisos, enquanto o meu morre no meu rosto, minha vontade é de sair
correndo e me esconder. Que besteira, eu sabia que ele era bom demais para
ser verdade, só não esperava que tão logo ele me descartasse.
Olho em sua direção de queixo erguido, engolindo a dor e a tristeza,
não preciso que me veja fraquejar, não agora, não darei esse gostinho a ele.
Logo a moto passa por mim e parece não me notar, também pudera, sem
dúvidas não quer que sua namorada saiba o que se passou ontem à noite entre
nós.
Dou meia volta e caminho em direção ao Barney, com uma nova
determinação dentro de mim, me divertir como prometi à Daia, talvez até
encontre alguém interessante por lá, que me faça esquecer o cretino do meu
vizinho.
Saio pisando duro pela calçada, quando escuto novamente o ronco da
moto, mas dessa vez muito próximo a mim, paro e respiro fundo, só o que me
faltava era esse cretino, imbecil, ainda querer esfregar sua bela namorada na
minha cara, ah, mas não vai mesmo! Com uma fúria homicida correndo solta
dentro de mim, viro-me e o encaro com cara de pouquíssimos amigos.
Consequências
James
Como sempre, acabo cedendo aos caprichos de Eloise, que criatura
mais geniosa é minha prima e melhor amiga, sempre que coloca na cabeça
que quer algo, não sossega até que o tenha conseguido.
Agora estamos indo para minha casa, com a esperança de que
possamos ver uma certa garota, que sei que gosta de ler em um lugar quase
escondido entre uma árvore e as grades do internato.
Como sei do pavor que Eloise tem de cair de moto, acelero e dou uma
leve empinada, arrancando dela gritinhos assustados e alguns tapas no meu
braço, além de sentir seus braços se apertarem ainda mais ao meu redor, o
que me dá uma grande ideia para quando conseguir que Lina suba novamente
na minha garupa, quero sentir suas mãos me apertando, sei que será
maravilhoso.
Passado o susto Eloise cai na gargalhada, eu rio junto com ela, estou
nervoso, como um maldito adolescente, meu corpo responde aos meus
pensamentos sobre ela só de lembrar daqueles lábios macios e deliciosos.
Então olho para o lado e a vejo me olhando.
Seu olhar me perfura como se eu tivesse a magoado profundamente,
por conta da velocidade, passo por ela, pelo retrovisor a vejo virar e seguir
em direção contrária do internato. Para onde está indo?
Não penso duas vezes e retorno, ela virou a esquina, está indo em
direção ao Barney, lanchonete na qual a esperei na noite passada, isso está
cada vez mais interessante, me pergunto se veio encontrar alguém.
Ela para e espera até que estaciono ao seu lado, quando se vira, Jesus
amado, está com uma expressão furiosa. Que porra é essa? Mal desligo a
moto, desço e fico de frente para ela, se vai me matar, que eu pelo menos
morra em pé!
Darla
Fico ali olhando para ele enquanto para a moto e desce, ficando de
frente para mim. “Minha nossa senhora das esquentadas, me ajude, senão
dou na cara desse cretino!”
— Olá? — Diz com uma cara confusa.
— James! — Respondo de forma seca, não quero mostrar intimidade
na frente de sua... seja lá o que ela for.
— Lina, aconteceu alguma coisa?
“Claro que aconteceu babaca, você me beijou, apalpou, alisou, tocou,
encouchou e agora está com essa loira peituda e linda!” Tenho vontade de
gritar tudo isso na cara dele, mas estou no meio da rua, não seria muito bom
para mim.
— Nada, como vai? — Sorrio da forma mais doce possível, se quer
jogar, vou junto.
— Bem, melhor agora que a encontrei! — Sorri tão lindo que quase
acredito que não o faz para outras.
— Com licença, mas acho que estou sobrando aqui! — A loira chega e
fica ao seu lado e sorri para mim. — Ah, sou Eloise, prima do James, pelo
que entendi você é a Lina, certo?
Primaaaaaaa? Aí que coisa maluca essa minha cabeça ciumenta
inventou, ela é prima. Estendo a mão e confirmo com a cabeça, olho para
James envergonhada, ele pisca para mim e sorri, meu mundo para de girar,
não posso estar vendo chifres em cabeça de cavalo com apenas alguns beijos.
— Desculpe, querida, sei seu nome, porque meu priminho falou muito
de você, então é como se a conhecesse! — Não mesmo, lindinha, para
começar meu nome não é esse.
— Eloise, pare de conversa fiada! — James repreende a prima de forma
carinhosa, por um segundo fico imaginando como seria crescer cercada de
pessoas da família, que sentem amor uns pelos outros. — Onde você estava
indo com tanta pressa? — Diz se voltando para mim.
— Er... Ao Barney, me deram o fim de tarde livre, pois é milagres
existem! — Vejo sua expressão mudar de intensa para travessa, olha para
prima que assente em sua conversa silenciosa.
— Bem meninos, vou deixá-los conversar, sei que Loren deve ter feito
aquela torta de morangos com chocolate que tanto amo. Lina, foi um prazer
conhecê-la, espero encontrá-la mais vezes! — Surpreendentemente me
abraça. — Não ligue para cara de mau do garoto, sei que gosta de você, só
não o magoe! — Sussurra.
Aceno levemente com a cabeça, quando me solta, segue seu caminho a
pé e viro para seu belo primo que me olha de cima a baixo. Não nego que seu
olhar me deixa totalmente acesa por dentro, não há gentileza nele, sim uma
ferocidade que transforma minha respiração de calma para ofegante em
segundos.
— Vai me dizer por que estava com a cara emburrada?
— Não te interessa! — Rebato na defensiva.
— Lina, minha paciência não é muito grande e não minta para mim,
odeio mentirosos! — Ferrou, ele irá me odiar quando souber da verdade,
droga! Eu e minhas ideias fascinantes, sabia que daria errado.
— Desculpe-me, será que podemos conversar um pouco? — Se tenho
que falar, que seja de uma vez, quanto mais me envolver nesse rolo que criei,
pior será.
— Claro, venha. Tem um lugar onde podemos conversar
tranquilamente.
Estende o capacete para mim e logo em seguida estamos em meio ao
trânsito, razoavelmente tranquilo para um sábado à tarde, meu coração está
disparado com a possibilidade dele não querer nem me olhar novamente.
(1) Basement – Porão das casas norte-americanas que normalmente possui entrada também pelo
lado de fora da casa e é mobiliado e decorado para alugar a outros moradores.
Toda despedida é triste, ainda mais se você passou a vida rodeada por
pessoas maravilhosas, até mesmo as novatas do Blue Light já são muito
queridas para mim.
Com a ajuda de Bella consegui fazer as minhas malas em um tempo
recorde depois que cheguei do trabalho, também já avisei a no RH da
empresa sobre a mudança de endereço, agora já não sou mais uma interna,
sim inquilina de um charmoso basement, que será meu lar por um tempo.
Não digo que seja fácil, mas essa é uma fase inevitável da minha vida, um dia
a mais um dia a menos aqui não mudaria, então que seja hoje, quando minha
determinação me levou a ligar para Nial e pedir que avisasse aos seus amigos
que o dia da mudança seria hoje mesmo.
Eveline me presenteou com um celular moderno, disse que já tem meu
número, como também já anotou o seu na minha agenda, sorri agradecida,
sentirei falta dela todos os dias, mas é chegada a hora de abrir as asas e voar
rumo à minha nova vida.
Estou deixando para trás aquela menina assustada com tudo, a partir
daqui só tem lugar para mulher que não tem nada em que se agarrar ou por
que lamentar, nem a perda do seu conto de fadas. Entro no taxi de cabeça
erguida, aceno a todos, dou uma última olhada no Blue, mas não dirijo meu
olhar para casa em frente, não, ele está definitivamente excluído do meu
futuro. Seco as lágrimas insistentes, é agora que digo adeus a quem fui e
assumo minha nova personalidade.
A ela pertence um futuro promissor, farei por onde ser assim!
James
Acordei com os primeiros raios da manhã entrando pela fresta da
cortina atingindo em cheio no meu rosto. Toda a noite passada invadindo
minha mente, meu corpo reagindo instantaneamente, olhei para o lado
esperando ver meu Anjo de olhos azuis, mas ela não estava, uma sensação
ruim tomou meu peito, não sou de acreditar em maus presságios, mas este foi
diferente.
Levantei, vesti a roupa e então segui para o banheiro e nada! Andei por
todo apartamento a procura dela, ela não estava. Fiquei a me perguntar onde
será que ela se meteu? Para piorar minha situação não tinha um número
sequer para o qual pudesse ligar, não queria simplesmente chegar no
internato e perguntar por ela, isso poderia colocá-la em apuros. Resolvi então
esperar até o fim da tarde quando sabia que ela estaria lendo no seu
esconderijo, poderia obter uma explicação para seu sumiço repentino.
Durante o dia todo fiquei com Darla na minha mente, não consegui tirar
o nosso momento nem um segundo da minha cabeça, sentindo seu cheiro,
vendo seu sorriso por detrás das minhas pálpebras, um dia e tanto que passei,
tentando me concentrar no conteúdo ali abordado e meu corpo reagindo a
lembranças prazerosas. Não via a hora de revê-la.
Já passa das seis da tarde quando chego em casa da faculdade depois de
finalizado meu turno da residência no laboratório, só espero que ela ainda
esteja lá, deixo a Harley em frente à garagem e sigo em busca da minha
garota, meu coração batendo descompassado com a ansiedade por vê-la.
Ela não está lá também, isso está me incomodando cada vez mais, onde
ela está?
— Ela foi embora! — Viro-me para a voz que respondeu minha
pergunta silenciosa.
É a mesma garota que facilitou minha entrada dias atrás, seu olhar
poderia me fuzilar, se fosse de raio laser.
— Como? — Pergunto um tanto atordoado.
— Está procurando pela Darla, não é? — Balanço a cabeça
confirmando. — Foi embora hoje pela manhã. — Fico olhando para a garota
sem compreender realmente.
— Como foi embora, sem um motivo ou....
— Já era previsto, ela só poderia ficar por mais um mês, mas a decisão
de partir agora foi repentina, não esperávamos ou sabemos o porquê! —
Levanta uma sobrancelha me questionando.
Algo me diz que posso estar envolvido na causa dessa partida
repentina, mas não sei o que fiz, não posso tê-la encontrado e perdido logo
em seguida, como pôde se entregar a mim, dizer que me ama e do nada
sumir? Não entendo, talvez eu estivesse enganado e essa coisa de amor não
seja para mim no fim das contas, volto para minha casa sem a mínima
vontade.
— James? — A garota grita atrás de mim. — Se aconteceu algo a mais
entre vocês, deve saber que nunca a vi tão triste como estava hoje, não tenho
o endereço dela mas posso tentar descobrir. — Dá um sorriso compreensivo,
noto que também sofre com a partida repentina da amiga.
— Eu ficaria grato! — Digo me afastando, talvez o queira só para
receber uma explicação plausível, ou apenas goste de me torturar.
Vou seguir
Darla
— Darla? Oiiiii? — Miriam estrala os dedos na minha frente, nem sei
há quanto tempo ela está tentando me tirar desse estado meio inanimado.
— Desculpe, estive um pouco distraída, você precisa de alguma coisa?
— Pergunto sem muita emoção na voz.
— Na verdade, preciso que você se levante dessa mesa e aceite nosso
convite para sair! Quero te mostrar a noitada da Cidade dos Ventos²!
Miriam tenta a todo custo me levar para conhecer a noite de Chicago,
eu até estaria animada, se ainda sentisse algum tipo de emoção dentro de
mim.
— Vamos Darla, na outra semana não insisti por saber que você tinha
todo um apartamento para desbravar e se adaptar, mas hoje não aceito!
É o décimo primeiro dia pós J — não me permito nem mencionar seu
nome — e não tenho feito um bom trabalho na tentativa de superá-lo. Ao
menos tenho meu trabalho para ocupar a mente durante o dia, complica
mesmo é quando estou sozinha no meu novo lar. Existe uma sensação tão fria
dentro de mim, tristeza? Provavelmente.
— Eiiii, vamos, não vai mais precisar responder, você vai, só esse olhar
vago e perdido é o sinal de alerta para diversão, urgente! — Miriam sai
praticamente me arrastando em direção ao elevador, as portas demoram um
tanto para abrirem, enquanto isso tento desesperadamente achar uma desculpa
aceitável que a faça desistir, nada me vem, é frustrante!
“O que posso dizer para ela? Que estive em um semi-relacionamento
com um cara muito gostoso, deixei-me levar pela adrenalina do primeiro
orgasmo e no dia seguinte ele me chamou por um outro nome, então prefiro
ficar toda a noite de sexta em casa comendo chocolate e chorando minha
grande desilusão. Sem chance! Informação desnecessária.”
As portas se abrem me tirando do meu devaneio e a vejo congelar no
lugar. Olho para onde seu olhar permanece fixo e descubro o motivo, um
sujeito alto de cabelos loiros, pele clara e olhos acinzentados está saindo do
elevador enquanto conversa com uma mulher lindíssima, seu porte seguro
exala sofisticação. Presumo que ele deve estar na casa dos cinquenta anos, já
ela, parece um pouco mais jovem. Pela expressão de ambos, é possível
deduzir que a conversa não está tão agradável assim.
— Sr. e Sra. Duran, posso ajudá-los em alguma coisa? — Meu Deus,
são os donos do DMC.
Miriam já está totalmente no modo profissional, sua postura muda,
cada poro dela emana profissionalismo e confiança.
— Não, querida, estamos aqui só para pegar alguns documentos, não
estenda mais seu expediente, que aliás acabou há uns quarenta e cinco
minutos, não?
A Sra. Duran parece ser muito doce, não frágil, sua postura firme e o
tom suave nos faz perceber que ela pode vergar, mas não quebra fácil.
— E quem é essa jovem tão bonita? Marlon, não havia me dito que
substituíram Carlie? — Vira-se para mim.
— Eu... Er, sou Darla Johnson, senhora! — Minha voz quase não sai de
tão nervosa.
— Muito prazer em conhecê-la, Darla, sou Márcia. Não ligue para a
falta de modos de Marlon, o gato comeu a língua dele há muito tempo. — Ela
faz uma pausa pensativa. — Seu sobrenome não me é estranho... Bem, vou
deixá-las, já está tarde.
Ela diz rindo da cara de bravo que seu ex-marido está fazendo, que ao
contrário dela, não falou uma palavra, apenas continuou ali nos olhando.
Assim que as portas do elevador se fecham respiramos aliviadas e rindo ao
mesmo tempo.
— Ele é sempre tão fechado e carrancudo? — Pergunto em meio aos
risos.
— Sim, acho que foram poucas as vezes que o vi sorrir nos quatro anos
em que sou sua assistente. — Não preciso dizer o nome para ela saber que
estou me referindo ao Sr. Duran. — Mas, seguindo o conselho da nossa
chefe, vamos nos divertir!
— Miriam, não tenho nem roupa adequada para sair, sequer tive tempo
de ir às compras!
O pior é que nem pensei em nada disso ainda, mesmo estando com o
cartão da conta que existe há algum tempo no meu nome, que segundo Eve
vai me proporcionar alguma estabilidade agora neste começo, sei que deveria
ter providenciado algumas peças novas para o meu guarda-roupas, inclusive
para trabalhar, mas não tive cabeça e ânimo para isso.
— Não se preocupe, não iremos em nenhum lugar sofisticado, Victor e
eu gostamos de lugares normais, nada de muita frescura.
Ela mexe as mãos para dar ênfase às suas palavras, não tenho como
discutir e no fundo pode ser exatamente isso que esteja precisando para
esquecer tudo que vivi com ele.
“Isso continue se iludindo!”
Minha mente nada santa decidiu agora se meter nas minhas decisões,
mas a ignoro, essa noite vai ser ótima! Repito para mim, várias e várias
vezes, tentando me convencer que é realmente isso que acontecerá!
James
Onze dias, onze malditos dias desde que ela sumiu, em todos eles voltei
ao mesmo lugar que a vi lendo, nenhuma resposta ainda da outra garota,
Bella, eu acho.
Também tenho voltado ao apartamento sempre, tento saber do porteiro
se alguém com a aparência dela voltou por lá, bem, isso é apenas parte do
motivo, volto porque sou um puto de um masoquista, não mudei nada ali
desde que acordei, pedi a senhora que cuida de tudo para não tocar no quarto,
permanece igual: cama ainda bagunçada e o cheiro doce dela nos lençóis.
Estou ficando cada vez mais impaciente com toda essa situação, ainda
mais agora que meu pai quer que o represente em uma série de congressos na
Europa e demais continentes. Serão cerca de quatro meses viajando.
Tentei convencê-lo a mandar outra pessoa no meu lugar, mas a única
outra pessoa em quem ele confia está impossibilitada no momento, Nicolas
não pode largar sua mulher grávida para socorrer o DMC, já tem feito mais
do que deveria, meu grande amigo tem tido sua cota de sofrimentos também.
A pior parte dessa viagem é que dessa vez até minha mãe está de
acordo. Ela acha que posso expandir meus horizontes e fazer grandes
aquisições para o nosso projeto de transformar uma área de alguns hospitais
do DMC em laboratórios de pesquisas.
Essa foi a condição imposta por papai para que nos dê seu aval e ajuda
financeira, acho que dessa vez terei que acatar sua proposta, só queria
encontrá-la antes de viajar, tenho a sensação de que se não o fizer, algo de
significativo terá mudado quando eu enfim a achar.
— Filho, já decidiu se vai aceitar a proposta do seu pai? — Mamãe me
pergunta do outro lado da mesa de jantar, seu olhar preocupado me
incomoda, mas finjo não reparar, assim não preciso dar explicações.
— Sabe que só tem dois dias para decidir, deve estar em Barcelona na
segunda-feira à noite, então sugiro que decida logo. — Minha mãe nunca
tenta me forçar a fazer nada.
Esse papel cabe apenas ao meu pai, mas sei o quanto minha briga com
ele a machuca, mesmo depois de mais de dois anos separados, ainda existe
um amor recíproco entre os dois e ficar entre nós, cobra um grande preço a
ela. Mas ele sempre decidiu o seu lado de acordo com os seus princípios.
— Eu vou, acho que tem razão quando diz que, se quero seguir com
meus próprios pés preciso aprender a andar primeiro. E mesmo que o fundo
de investimento para os laboratórios venha do grupo, será um grande passo
para a minha carreira, que ainda nem começou.
Suspiro derrotado, seu rosto se enche de brilho e compreensão, é isso
que mais amo nela, não precisamos de palavras para reconfortar um ao outro.
Termino o jantar e subo ao quarto para fazer as malas, antes mesmo de
me dar conta estou olhando para as janelas do internato a frente, desejando ter
tido um pouco mais de tempo perto do meu Anjo de olhos azuis e sorriso
doce.
— Ah, Anjo, cadê você, minha menina? — Pergunto ao vento antes de
me jogar na cama e ficar ali olhando o teto até que o sono me invade e me
leva a estar, por poucas horas, ao lado dela.
²- Apelido dado à cidade de Chicago, Illinois. EUA.
Ganhando espaço
Darla
Você acha que sua vida está ruim, que tudo dará errado, que nada pode
começar a mudar, então em um dia tudo parece entrar em uma espiral sempre
caindo. Por mais que tente me agarrar com forças no primeiro ponto de
equilíbrio, no meu caso esse ponto não existe.
A luz que indica uma chamada direta da sala do Sr. Duran pisca na
mesa em frente, Miriam saiu há dois minutos para o setor financeiro. Não sei
o que devo fazer, a incerteza é o sentimento mais forte que tenho no
momento. Reúno toda minha coragem para atendê-lo, mesmo sob a ordem
dela de nunca atender o ramal do chefe, que ele é pragmático nessas coisas,
respiro fundo para acalmar o meu nervosismo.
“Vamos Darla, se ele sair e a ver aí sentada será pior!” Minha mente
dessa vez tem razão, levanto e atendo ainda segurando o fôlego.
— Miriam, por que tanta demora? — Esbraveja, seu tom traz gelo a
minha espinha, tremo involuntariamente.
— Desculpe-me Sr. Duran, Miriam foi até o financeiro! — Escuto-o
resmungar algo sobre ser cercado de incompetentes.
— Venha a minha sala, então. Agora! — Uau, estou ferrada!
— Sim senhor! — Minha voz sai em um filete, quase nada.
“E agora, entro de uma vez ou bato? Por via das dúvidas três batidas
não fazem mal!”
Bom é o que acho, mas há uma grande diferença entre o que acho e o
que será melhor. Arrasto-me lentamente até estar diante da mesa de mogno
escura.
— Sente-se ... — Gesticula como se tentando lembrar do meu nome.
— Darla, senhor! — Ele apenas confirma sem olhar para mim.
— Bem, não importa seu nome, apenas preciso que siga corretamente
minhas instruções, certo?
— Sim senhor. — Respondo sem hesitar, o que o faz erguer os olhos
pela primeira vez desde que entrei na sua sala.
Perco o fôlego com a sua aparência, de uma certa forma ele me lembra
alguém, mas devo estar enganada, não conheço ninguém com seus trejeitos.
O Sr. Duran é um sujeito bem-apessoado, mas seus olhos claros trazem uma
dureza sem igual.
— Preciso que entre em contato com minha ex-mulher, certifique-se de
que ela tenha confirmado o jantar de hoje à noite, ligue para Alana em
Londres e informe-a que preciso de relatórios sobre o andamento de tudo.
Ele continua sua lista de afazeres que juro ser para toda a semana, não
só para esse único dia de trabalho.
— E por fim marque um almoço para mim, no Invict's, devo chegar lá
por volta das quatorze horas e não quero nenhuma mesa próximo demais da
cozinha ou da porta, mas que seja um pouco reservada, isso é tudo!
Mesmo estando ainda atordoada com tantas instruções juntas, por sorte
escrevi rapidamente tudo, sei que ele não se repetiria, na certa me mandaria
embora.
— Pode se retirar! — Viro-me e saio ainda tremendo, não sei como
Miriam consegue, por sorte a vejo de volta a sua mesa.
— Graças à Deus que você chegou, tem que fazer algumas ligações.
— Teve o prazer de ficar frente a frente com o senhor simpatia? — Ela
ri da minha cara de espanto,
— Nem fale! — Reviro os olhos para dar ênfase. — Então, deve ligar
para Sra. Duran e... — Paro assim que vejo sua cabeça fazer que não.
— Darla, aprenda algo muito importante: se o Sr. Duran lhe diz para
fazer algo, ele quer que seja você mesma que o faça, se fosse para eu fazer,
teria esperado que eu voltasse do financeiro, que aliás foi o próprio Sr. Duran
quem me mandou ir até lá, quando era mais simples fazer Victor vir aqui e
esclarecer a suas dúvidas.
Ela para um pouco e fica olhando para a porta, agora fechada, penso
que acabei de entrar em uma grande encrenca isso sim.
— Isso me leva a crer que ele está te testando, o que vem a ser algo
muito bom, está aqui há apenas um mês e meio, é possível que queira colocá-
la como mais que assistente da assistente! — Ela bate Palmas sem emitir som
e quase pula no lugar de feliz.
— Não exagere, com certeza não deve ser isso! E se não fizer tudo
corretamente estarei na rua pela tarde.
Sento-me diante da tela do computador e começo minha nova tarefa,
que não é mais arquivar, imprimir ou atender chamadas e encaminhar à
Miriam, agora devo fazer eu mesma algumas ligações, inclusive
internacionais, há ligações para o Brasil na lista, que sorte ter tido paciência
para aprender Português no internato. Ele não é tão perfeito quanto o meu
Espanhol, mas eu sei me comunicar.
A primeira que faço é para o restaurante, por sorte, assim que informei
de quem se tratava eles já sabiam o que deveriam providenciar, ligo para os
clientes antes de ligar para a Sra. Duran, com ela felizmente foi bastante
tranquilo. Ela foi agradável e me garantiu que cuidaria do pedido do seu ex
marido, então, veio a terceira ligação.
— Alô? — Uma voz doce mas enjoativa me atende.
— Stra. Mors? — Pergunto insegura
— Sim, quem deseja?
— Sou Darla, assistente do Sr. Duran, ele pediu para avisá-la que
precisa de relatórios de todo o andamento das conversões e parcerias
formadas, como também dos novos clientes! — Ela suspira, obviamente
frustrada com a imposição.
— Por favor, avise ao seu chefe que não posso enviar relatórios, não
quando seu filho se recusa a falar comigo, nem sequer para um bom dia
educado, fica difícil para mim, diga-lhe que ponha a Sra. Duran na jogada,
somente ela fará James me ouvir, nem que seja para assuntos de cunho
profissional!
Meu coração para ao ouvir esse nome, minha mente trava tentando
assimilar as chances desse ser o mesmo James. Não, não é ele, o que conheço
está aqui em Chicago, não em Londres.
— Garota, está me ouvindo? — Ela chama do outro lado da linha me
trazendo à realidade.
— Desculpe-me, estava anotando seu recado! — Minto, não tenho uma
palavra sequer anotada!
— Tudo bem, apenas repasse esse recado, tenho tanto interesse em
resolver essa situação quanto ele! — Ela desliga, continuo olhando para o
telefone na minha mão, é quando Miriam aparece na minha frente e estrala os
dedos impacientes.
— Darla, vamos menina, o Sr. Duran espera por respostas das
atividades que lhe foram atribuídas.
Levanto meio sem jeito, olho o relógio, são treze e trinta da tarde, o que
significa que ele logo sairá para o almoço, assim poderei respirar e rir por
duas horas enquanto almoço com Miriam e Victor no Florence, restaurante
italiano que me tem feito ganhar uns quilinhos no último mês, mas a comida
é excelente, vale a pena no fim das contas.
— Tudo resolvido? — Pergunta assim que entro.
— Sim senhor! — Estou feliz em não ter feito asneira na primeira
função que me atribui diretamente.
— O que Alana respondeu? — Transmitido com perfeição a resposta
dada por ela, ele não parece muito satisfeito, mas nada posso fazer quanto a
isso.
— Isso é tudo, senhor? — Confirma com a cabeça, levanto meu olhar
para vista que tem atrás da sua mesa antes de dar meia volta e começar a sair.
— Darla? — Viro-me de imediato.
— Pois não?
— Vou precisar que me acompanhe nesse almoço. Li em seu currículo
que fala alemão, francês, espanhol e português fluente, certo?
— Está correto, senhor. — Pela primeira vez minha obsessão em
aprender línguas novas me faz sentir orgulho de mim mesma!
— Excelente, você é justamente o que preciso, Miriam fala espanhol e
francês, mas dessa vez estarei também com executivos alemães, então não
será tão eficiente assim!
Engulo em seco e só consigo balançar pateticamente minha cabeça.
— Temos que estar no Invict's em vinte e cinco minutos! — Esbraveja
e apresso o passo para minha mesa, pego minha bolsa enquanto informo a
Miriam sobre a minha nova tarefa.
— Eu sabia! Estou tão feliz por você!!!
Sei que está sendo sincera, mas antes que me abrace vejo sua
fisionomia endurecer, essa é a dica que preciso ficar tão séria quanto possível,
sigo em direção aos elevadores e espero pelo meu chefe, torcendo por fazer
jus ao seu voto de confiança.
“Esse é o momento da virada Darla Johnson, te proíbo de falhar!”
Sorrio internamente sabendo que quando me proíbo de algo, é tarefa
cumprida.
— Conta logo, o que o Marlon fez? Porque sei que fez alguma coisa
sobre isso!
Miriam pergunta assim que termino o meu relato sobre o cliente alemão
nada simpático que me chamou de nosey hündin² chocando a todos que
entenderam, até mesmo seus sócios, em seguida veio com versnobt Kuh³.
— Quando me viu sair em disparada de dentro da sala reservada no
restaurante, veio atrás de mim e com muito custo me convenceu a traduzir,
essas foram suas palavras: Foi algo sério Srtª Johnson, notei não só o seu
desconforto como também dos sócios dele, então, diga-me o que aquele
sujeito falou?
Confesso ao pegar mais um pouco de pipoca do nosso pacote extra
grande de micro-ondas, nosso jantar da vez, sempre que possível estamos
juntas no fim do expediente comendo algo e assistindo um filme.
— Você contou, não contou? E o que isso quer dizer?
— Sim, contei e procure no google, me recuso a falar tais palavras
espontaneamente! — Não falo mesmo.
— Termine logo essa história, criatura, estou mais que ansiosa para
saber o desfecho.
— Bom, você conhece Marlon. Ele partiu com tudo para a sala onde
estava sendo o almoço-reunião, mandou todos saírem menos o sujeito
alterado, ficou lá com ele alguns instantes, que logo em seguida veio até mim
e se desculpou, no fim, ganhei o resto da tarde de folga.
— Eu não quero nem saber o que Marlon disse ao sujeito, mas foi bem
feito, ele pode ser tudo, menos injusto, queria que James visse isso no pai
também!
Seu suspiro sai cheio de pesar, não pergunto mais sobre o assunto,
afinal não tenho conhecimento de quem seja o James filho do meu chefe, só
que ouvir esse nome ainda faz meu coração entrar em desespero, saudade e
pesar, ao mesmo tempo.
“Não se lamente, se ele não deu certo, agora é focar no trabalho,
garota!”
Minha mente nada santa, está bastante caridosa esses dias, com certeza
se apiedou do meu sofrimento e resolveu me dá um desconto, assim espero.
²- cadela intrometida
³- vaca esnobe
Londres
James
Não sei direito como, mas tenho mantido o controle sobre as minhas
emoções, ainda não descobri o que meu pai pretende mantendo Alana como
minha sombra em cada uma das palestras ou parceria que tenho feito.
Essa viagem seria menos estressante e até mesmo agradável, sem ela no
meu encalce, como se eu já não tivesse que lidar com a saudade louca do meu
Anjo de olhos azuis, sem saber por onde anda. Tenho feito a pobre Eloise
procurá-la por todos os lugares, sempre que tem oportunidade está
interrogando Bella por notícias, mas ela afirma não ter um contato sequer
com sua amiga.
— James, tem certeza que vai aguentar por mais tempo essa situação,
Alana praticamente te seguindo por todos os lados? Não sei se tio Marlon
está em seu juízo perfeito.
Eloise expõe sua sincera opinião, ela sempre foi a sobrinha favorita do
meu pai até tudo acontecer, como sempre, tomou partido nas minhas dores,
mesmo que isso significasse manter uma certa distância do tio, eu a amo
ainda mais por isso!
— Vou continuar na mesma Eloise, estar ao lado dela não muda em
nada o que aconteceu, ou meus sentimentos em relação a tudo. O que ainda
me entristece é a falta de notícias de Darla, se ao menos soubesse que está
tudo bem com ela, poderia dormir um pouco melhor. Mas não sei onde está,
se tem um emprego ou se passa dificuldades, nem sei ao certo o que fiz de
errado, se soubesse poderia pedir desculpas pelo meu erro.
Solto um pouco da angústia que me aflige. Suspiro derrotado, não sei
como, de uma hora para outra, depois de tudo que passamos naquela única
noite, ela pôde sumir junto com o raiar do dia.
— Jem, quem garante que você fez algo errado, pode ser que ela tenha
percebido não ter os mesmos sentimentos que você. — Como sempre, Eloise
tenta me defender, até de mim mesmo.
— Não, ela me ama! — Corto-a meio brusco. — Eu vi, Eloise, estava
escrito nos seus olhos, nunca pude sentir tamanha certeza como senti ao ouvir
aquelas palavras saírem da boca dela!
— Não vou discutir, também senti que ela não era uma megera sem
alma como Alana!
— Não é mesmo, só preciso encontrá-la para esclarecermos o que a fez
fugir!
— Nós vamos, eu lhe prometo! — Sorrio com sua afirmação, nunca
teve uma promessa quebrada ou deixada de lado, então sei que vai fazer o
impossível se preciso for para cumprir essa também.
— Tenho que ir agora, bruxinha, mexa seu caldeirão e faça um bom
trabalho! — Adoro sua risada única ao ouvir seu apelido de infância.
— Vai lá, Merlin, encante a todos com seus feitiços únicos. Ra-ra-ra!
Desligo e começo a me preparar para mais uma conferência
extremamente chata e tediosa, se não tivesse tão empenhado em conseguir
que o laboratório de análise de doenças raras e vírus seja parte das principais
unidades do DMC espalhadas por diversos países, já teria voltado para
Chicago e estaria eu mesmo a procura do meu Anjo.
Amsterdã
Mais um dia longo entre palestras e reuniões se passou, não reclamo da
quantidade extra de trabalho que tenho feito, isso tem mantido minha mente
ocupada, o que é uma coisa boa, caso contrário não tenho certeza se ainda
estaria por aqui, provavelmente não.
Sem contar que tenho conseguido muito mais do que o esperado,
conhecer muitos médicos especialistas em Patologia me trouxe um
conhecimento único, no fim, meu pai acabou reforçando minhas escolhas.
Três batidas na porta me tiram dos meus devaneios, levanto-me para
atender, mesmo estando apenas de toalha, o rapaz do serviço de quarto não
deverá se importar tanto.
Só que não é ele e sim o meu tormento pessoal, mais uma das
imposições do meu pai, que não mede esforços para me manter debaixo de
sua asa, mas dessa vez fico feliz de dizer que seu tiro saiu pela culatra.
— O que faz aqui, Alana? — Pergunto deixando a porta entreaberta,
não a quero muito perto, sempre que o faz sinto meu corpo reagir de uma
forma nada agradável.
— James, precisamos conversar! — Ela desce seu olhar por todo meu
corpo, isso faz com que instantaneamente a deixe ali e vou à procura da
primeira peça de roupas que encontro.
— Não temos nada para falar! — Respondo quando volto para sala da
suíte. — Fez sua escolha, eu respeitei, mesmo não tendo tempo de opinar e
aquilo acabar comigo, então não podemos voltar o que se foi!
— Mas eu amo você! — Ouvir essas palavras fazem meu coração se
contrair, minha mente traz de volta a imagem de um Anjo que as pronunciou
com uma sinceridade absoluta.
— Cale a boca, Alana, você não sabe nem o que essas palavras
significam, quem ama não aceita dinheiro para se afastar, muito menos faz
um... — Pensar na sua ganancia me causa um mal-estar imediato.
— Você acha que não me dói a cada maldito dia? As escolhas que fiz
também acabaram comigo, acha que consigo dormir em paz? Era meu bebê
também James, não tive a coragem que deveria para lutar por ele, é eu sei, Sr.
Perfeito, que posso parecer fraca e egoísta por ter optado por um aborto.
Ainda dói pra caralho ouvir sobre o dia, quando tudo à minha volta
perdeu o significado, não cheguei a tempo de impedir tamanha agressão a
vida, ali meu mundo perdeu a cor.
— Eu era imatura, imagine estar na faculdade como bolsista, aos
dezoito anos, ainda por cima ser a assistente da assistente do seu pai, minha
família dependendo de cada centavo que meu pai ganhava, o que recebia mal
dava para me manter.
Ela para como se estivesse revivendo cada momento, mesmo sabendo
da sua situação financeira na época, não me sinto apto para perdoá-la.
— Tudo que eu ganhava, a maior parte ia para eles, seu pai veio com a
proposta assim que descobriu, infelizmente foi antes de você, se eu soubesse
que o queria também, não teria desistido assim tão facilmente, mas só
consegui pensar que me viraria as costas, deixando toda responsabilidade
para mim. Foi o que ele me disse, além do que, foi claro em afirmar que não
deixaria que você acabasse com sua vida por um erro, o que queria que eu
fizesse?
Ela soluça, eu não me movo, estou atordoado, nenhuma coisa que ela
diga irá diminuir sua culpa.
— Porra! Você poderia ter me esperado, ter confiado em mim, foram
tantas as vezes que disse que não era uma aventura para mim!
Minha mente retorna aquele dia, para o momento em que Miriam me
ligou avisando do seu desmaio, como corri desesperado para o hospital, para
descobrir que optou por um aborto, assim sem mais nem menos, sem pensar
em me perguntar o que achava a respeito, aquilo me derrubou de joelhos no
piso de concreto da sala de espera, me dei o trabalho de voltar a vê-la apenas
para deixar claro que, naquele momento ela tinha morrido para mim junto
com meu filho.
— Nada pode justificar o seu ato Alana, estávamos juntos há quase um
ano, você deveria saber que eu não desistiria, que droga, Alana, estávamos
praticamente morando juntos!
“Santo Deus, foi isso!”
Agora me veio o que realmente aconteceu depois de dormir com Darla
no meu apartamento.
Na manhã seguinte a minha noite com ela, sonhei com a época que
namorava Alana e dormia quase todas as noites comigo, pensei que fosse um
sonho alguém me chamando logo cedo, não era sonho, era Darla, era o meu
Anjo.
— James? — Seu olhar suplicante faz o mesmo efeito que teve há três
anos atrás, nada!
— Saia do meu quarto, Alana, nada pode ser mudado, nada pode trazer
meu filho de volta ou o amor que eu tinha por você!
— Você tem alguém? É isso, não é?
— Isso não é da sua conta, porra! Você não tem o direito de perguntar
nada sobre a minha vida, agora saia antes que eu ligue para o meu pai e peça
a sua demissão, aí nem seu precioso emprego lhe restará!
Passam-se alguns minutos antes que ela enfim desista de tentar me
fazer ter pena dela, sai batendo a porta com força, não me importo, afundo no
chão novamente, com a cabeça a mil por hora, apesar de toda a confusão e
dor, tenho agora um motivo e ainda mais determinação para encontrar o meu
Anjo.
Às vezes você se engana
Marlon
Não sei como, mas sempre tive uma espécie de radar para detectar
talentos ocultos, foi assim com Alana, quando era apenas uma estudante de
administração, recém-admitida na North western, tinha o talento nato de lidar
com número e avaliação de risco. Além disso tinha também uma gana por
crescer, mas esse seu lado era um grande problema, ela sempre pensaria nela
primeiro.
Quando James se envolveu com ela não me importei de início, meu
filho sempre foi meu maior orgulho, nem todo o prestígio que o grupo DMC
ganhou desde que assumi sua direção me trouxe mais satisfação do que ouvir
meu filho decidir seguir meus passos como médico, a diferença é que ele
quer descobrir curas para doenças raras, enquanto eu tive que largar a
pediatria e me dedicar ao grupo, mas ainda tenho o CRTCC (Centro de
Referência no Tratamento de Crianças com Câncer) debaixo do meu olhar
severo, é a menina dos meus olhos.
Não vou lhes dizer que foi fácil ver meu filho sofrer com as
consequências dos meus atos, mas era preciso na época, nunca imaginei que
ela iria aceitar minha oferta absurda, eles pareciam perdidamente
apaixonados, não como eu sou por minha Márcia, mas havia um sentimento
ali. Só que, eu precisava testar seus sentimentos, saber se eram suficientes
para fazer meu filho feliz.
Então quando Alana caiu desfalecida aos meus pés, logo após insistir
em uma negociação na qual eu estava relutante em aceitar, pensei de imediato
que ela havia jogado fora um futuro brilhante, em seguida veio o pânico por
achar que talvez meu filho esquecesse de todos os seus sonhos para estar
presente ao máximo na vida do filho, não sabia bem como iria reagir, mas
então pensei que sendo meu filho, ele faria o certo.
Ainda assim fiz a proposta quando minhas suspeitas foram
confirmadas, ela não me pareceu tão indignada com isso, com muito pouca
conversa cedeu e não tive como voltar atrás, meu grande erro.
Mas tive meu castigo mais que justo, vi o ódio nos olhos de James e a
desolação no rosto de Márcia, sem contar o brilho de admiração que sempre
vi vindo do meu filho e Eloise que se apagaram.
Cumpri minha promessa a Alana, dei-lhe um bom cargo na filial de
Nova York, assim pude mantê-la longe de James também.
Fico divagando sobre as consequências dos meus atos, enquanto meu
novo achado profissional está dando mais uma amostra de seu grande
potencial, não sei o que essa garota tem, mas ela desperta o meu lado
protetor.
Sinto uma grande necessidade de protegê-la, sua simplicidade e doçura
pode ser uma porta aberta para aproveitadores, isso eu não permitirei, é como
se ela já fosse uma filha querida para mim, talvez o fato de ser órfã — bem
provavelmente — e ter vindo de um internato, onde sei que não é o mesmo
que um lar de verdade.
Darla toma seu lugar atraindo a atenção de todos em volta, como tem
feito no último mês, me olha antes de prosseguir com suas explicações em
Português, fiquei impressionado ao vê-la com tamanha desenvoltura,
principalmente por essa ser uma língua de difícil pronuncia, sorrio de leve
incentivando-a a continuar, recosto-me na minha cadeira e a vejo dar seu belo
show de explicação.
“Boa Marlon, talvez você tenha encontrado um talento e tanto para o
DMC!” Penso satisfeito, com o incentivo correto ela irá alcançar grandes
feitos.
Gostaria de ter o meu filho aqui hoje, ela talvez o fizesse esquecer
Alana.
Já Alana, inevitavelmente James teria que lidar com ela nesta viagem.
Faz parte de suas atribuições estar a par de qualquer negociação que
tenhamos que fazer agora ou para o futuro e se bem conheço meu filho, sei
que ele deve estar suportando sua presença apenas por amor aos seus sonhos,
eu o amo e admiro sua tenacidade.
Darla
Ter tempo livre sempre pareceu a gloria para as outras meninas do Blue
Light, já para mim, era a chance de estudar cada vez mais, o que era apenas
um passatempo no passado se tornou em algo maravilhoso na minha vida e
decisivo para meu bom desempenho no trabalho.
Graças a essas muitas e muitas horas aprendendo idiomas novos estou
cada dia mais crescendo no conceito do Sr. Duran, durante todo mês passado
estive quase que diariamente exercendo minha nova função como sua
intérprete oficial, foram almoços e jantares de negócios nos quais tive de
comparecer, por sorte tenho sempre a presença encorajadora de Miriam, na
maioria das vezes.
Trabalhar diretamente com o Sr. Duran estava me abrindo horizontes
para entender sobre sua empresa, sua postura profissional e compreender seus
projetos. Isso também me fez mudar um pouco a opinião sobre ele, não é que
seja sempre sério e reservado, é a necessidade de ser sempre firme e
determinado diante de tantos negócios que o faz manter essa postura de um
ser intocável, mas já o vi quase que normal, olhando com carinho e amor para
Márcia, sua ex-mulher. É um mistério o porquê dos dois estarem separados, é
evidente que existe amor recíproco entre ele.
Já o vejo olhando para mim com um olhar diferente enquanto falo
perante a um grupo de empresários brasileiros, não é o mesmo olhar que
lança a sua ex-mulher, nada do tipo romântico, é algo mais paternalista, como
se estivesse orgulhoso de mim e me sinto grata por isso.
— Menina você está cada vez mais desinibida, quem é você e o que fez
com a pequena Darla, aquela menina assustada que chegou para uma
entrevista há quase três meses na DMC? Você tremia toda.
Miriam ri ao me abraçar, por sorte estamos longe de toda a
movimentação de executivos que circulam pelo principal hospital do grupo, o
Centro de referência no tratamento de crianças com câncer. Também estou
encantada que o grupo mantenha um centro especializado no tratamento
dessas crianças, e em saber que mais da metade dos atendimentos são feitos
sem que os custos sejam cobrados daqueles com poucas condições, é nessas
pequenas coisas que percebo que sim, o Sr. Duran tem um coração batendo
no peito.
Olhar para todas essas crianças em tratamento traz um nó a minha
garganta, não que eu seja uma boba chorona, mas é uma coisa que me impede
de segurar as lágrimas, a última vez que elas caíram foi quando acordei no
dia seguinte há...
“Esqueça Darla, não se permita ir por esse caminho!”
Minha mente me alerta, só que não consigo parar o pensamento, ele
está agora presente na minha mente, consigo até mesmo sentir tudo
novamente, os toques, os beijos, sua voz rouca de desejo por mim, a forma
como me fez sua, tudo isso vem em uma enxurrada de imagens tão rápidas e
angustiantes que me deixam tontas e com uma forte ânsia no estômago.
Mas, me mantenho firme, preciso aguentar até que termine a visita dos
brasileiros, meu profissionalismo tem que levar a melhor nesse momento,
tento de toda forma tirar as imagens da minha mente, mas é inútil, elas
tomam conta de tudo e com esse turbilhão de emoções correndo o meu corpo,
minhas pernas ficam moles e não vejo mais nada, só uma grata paz, sem
imagens, mas sem ele também.
Nunca mais estarei só
Miriam
Acho que nunca me senti orgulhosa pelo desempenho no trabalho de
outra pessoa, como me sinto em relação a Darla, acho que já a tenho como
uma irmã, é um instinto protetor que nunca havia sentido em relação a
ninguém apenas para com Joyce minha irmã.
Darla traz uma fragilidade externa, que nos enche com vontade de
protegê-la, mas sei que é forte como uma rocha por dentro, vê-la garimpar
seu lugar na empresa, por mérito próprio, me enche de um enorme orgulho,
até mesmo Victor já percebeu nossa ligação.
Após a reunião com o grupo de executivos brasileiros, onde meu peito
inflou de alegria com a sua bela explicação de tudo que estava sendo dito
entre eles para o Sr. Duran, que olhava para ela com um olhar de orgulho.
Ele pode ser firme nas suas decisões, mas ainda assim é um excelente
patrão, sempre dando àqueles em que vê potencial, a chance de crescer, foi
assim comigo, Victor e até mesmo Alana, essa sim soube aproveitar a
oportunidade, agora é chefe do departamento de novas transações do grupo
DMC. Não posso negar que ela seja competente no que faz.
Olho para o lado e vejo Darla com um olhar vago, busco chamar sua
atenção mas ela não parece me ouvir, então é muito rápido que acontece, vejo
suas pernas ficarem trôpegas, tento segurá-la, mas é inútil, seu corpo frágil
vai ao chão com um baque surdo.
— Darla! — Meu grito sai estrangulado, o que faz com que a atenção
de todos se volte para mim, para em seguida verem o corpo frágil caído no
chão.
— Meu Deus, o que ela tem? O que aconteceu? — Marlon é o
primeiro a chegar onde estou de joelhos, próximo ao rosto dela.
— Eu não sei, ela estava aqui e do nada caiu. Eu não sei, meu Deus,
Darla acorda, por favor?
Meu rosto começa a ser banhado por lágrimas, mas elas não me
impedem de ver o Sr. Duran, pegá-la nos braços para encaminhá-la para a
emergência. Mesmo com os primeiros socorros, ela não acorda, então são
solicitados vários exames.
Após o que parece uma eternidade, Darla enfim acorda, olha para todos
os lados desorientada. Tadinha, me dói ver tamanha confusão em seu rosto.
— Ei, está tudo bem, você desmaiou, deve ser por que não se alimenta
direito, tem que se cuidar melhor, mocinha! — Digo aliviada.
— Miriam... Estou tão constrangida! — Seu rosto cora, só ela para se
sentir assim por desmaiar.
— Não deveria, foi um desmaio, só isso! — Sr. Duran responde ao
entrar no quarto acompanhado de um jovem médico.
— Senhor Duran, peço desculpas pelo ocorrido. — Diz toda
envergonhada.
— Não me peça desculpas! — Apesar do tom neutro, seus olhos estão
nada amigáveis. — Miriam, querida, poderia nos dar licença enquanto Luke
conversa com Darla? — Agora que paro para ver quem o acompanha, é o Dr.
Luke Gerard.
Ele é o namorado de Eloise, sobrinha Sr. Duran, trabalha no Centro de
atendimento à mulheres e é ginecologista e obstetra.
“Não, não, não, não, meu Deus, eu devo estar enganada, se for
verdade. Acho que minha amiga estará em maus lençóis!”
Balanço a cabeça e saio, antes dou uma última olhada para Darla, que
tem um olhar assustado no rosto, choro internamente por ela.
Darla
Acordei depois de não sei quanto tempo e pela decoração nas paredes,
sei que estou em um dos leitos do hospital infantil do Sr. Duran.
Mesmo desorientada, sinto-me feliz em abrir os olhos e me deparar
com Miriam, seu sorriso de alívio me faz sentir bem, temos criado
verdadeiros laços de amizade, tão fortes que chegam a ser como se fôssemos
irmãs. Ela até me ajudou a decorar meu novo lar, que por coincidência fica
próximo ao prédio que ela mora.
Sinto-me aliviada também, é bom saber que estou viva, o que me
lembra que devo uma visita ao Blue Light, há quase três meses saí de lá e não
voltei, sei que foi egoísmo da minha parte, mas não estou preparada
psicologicamente para vê-lo, ainda não, mas vou deixar o medo de lado e
correr o risco.
Volto ao presente em meio ao constrangimento, logo em seguida o Sr.
Duran entra no quarto acompanhado de um médico loiro, muito bonito, mas
não como James.
“Que droga, Darla, quer parar de pensar nele, já imaginou que você
pode estar com uma doença grave? E se precisar que alguém da sua família
faça alguma transfusão?”
Desespero-me com todas as possibilidades, olho para frente e vejo
Miriam sair do quarto com um olhar triste, então realmente deve ser algo
sério.
— Darla, esse é o Dr. Luke Gerard, ele tem algumas perguntas para te
fazer.
O olhar do Sr. Duran não perdeu a doçura que transmitia antes, mas
algo o incomoda, percebo pela forma como olha para todos os lados, menos
para mim.
— Olá, Darla, sou ginecologista e obstetra, preciso que me informe
quando foi sua última menstruação? — Bem direto ele.
Engulo em seco com sua pergunta, quero que o chão se abra para que
eu possa entrar, mas espera, por que ele fez logo essa pergunta?
“Meu Deus, meu Deus, não pode estar acontecendo, não agora quando
tudo se acertou!”
Conto mentalmente uma, duas, três vezes seguidas, querendo estar
errada. Não tem jeito, está feito, não há nada que eu possa fazer se for
verdade, só me resta respirar fundo e encarar de uma vez.
— Foi há três meses na verdade.
“Como pude ser tão desleixada e não reparei que durante os últimos
dois meses e meio não tive as incômodas cólicas?”
Calma preciso pensar, estive tão centrada no trabalho, mudança e em
esquecer o inesquecível, que não me passou pela cabeça.
— Eu estou grávida? — Não preciso de confirmação, já sei a resposta,
o Dr. Gerard confirma com um leve balançar de cabeça, é aí que as
comportas se abrem.
O choro desesperado irrompe pelo meu peito, choro por não saber o
que fazer, por não ter a quem recorrer nesse momento, logo quando eu estava
começando a garimpar meu lugar na empresa.
Deve ser esse o motivo do Sr. Duran não me olhar nos olhos, deve estar
decidindo como irá me dizer sobre a demissão. E simples assim tudo acabou
para mim. Quando começo a tentar me recuperar de um tombo, vem uma
queda maior. O que será da minha vida agora? Grávida? Sem emprego? Um
filho sem pai. Tudo isso soa como o fim da linha para mim. Como é que eu
pude ser tão inconsequente?
Como vou criar uma criança desempregada? Quem vai querer contratar
uma garota ainda sem experiência profissional e grávida? E depois, quando o
bebê nascer? Como vai ser? Como vou conseguir trabalhar para sustentá-lo?
Quem vai cuidar dele?
Sinto o desespero tomar conta de mim, transpiro frio, meu coração está
acelerado. Preciso respirar um pouco. O que eu fui fazer? Mas, espera, esta é
uma gravidez recente... talvez ainda haja tempo para interrompê-la.
“Mas que diabos eu estou pensando? Nunca abriria mão do meu
bebê!”
Estou horrorizada comigo mesma por cogitar essa possibilidade, levo
as mãos ao meu ventre para tranquilizar meu bebezinho, tentando mostrar
que não desistirei dele, nunca, mesmo que chegue a passar fome e
necessidade. Lutarei por ele, apesar de tudo, mesmo sendo de James, é um
presente lindo que ganhei nesta vida.
— Darla, precisamos conversar sobre isso. — O Sr. Duran diz de forma
suave.
— Não se preocupe senhor, eu compreendo. Assim que possível
retirarei minhas coisas da sala. — Digo cortando-o antes que venha com uma
frase de desculpa, mesmo que seja de forma grosseira, o faço antes que
qualquer pensamento ou sugestão sobre meu filho saia da sua boca.
— Como assim? Vai pedir demissão? Bem, eu não aceito! — Olho
atordoada para ele, realmente ele me surpreendeu.
— Mas, eu pensei...! — Começo a chorar novamente, pelo menos
agora eu tenho um motivo justo.
— Ei! Não, Darla, não vou colocá-la na rua, só quero saber de algumas
coisas. — Diz sentando ao meu lado da cama e pegando minha mão nas suas.
— Sim Senhor! — Respondo de imediato.
— Pela sua reação, percebi que a notícia foi uma grande surpresa para
você, mocinha. — A sua forma paternalista de falar traz ainda mais lágrimas
aos meus olhos. — Você acha que o pai desta criança não aceitará bem a
notícia? Você está em apuros, é isso?
— Desculpe-me Sr. Duran. Isso ainda é tudo muito confuso para mim.
— Respondi ainda incapaz de controlar o choro. — Eu não pretendo que o
pai do meu bebê saiba de sua existência. Nós não estamos juntos. Achei que
me amava e fui tola o suficiente para...
— Ele lhe abandonou, foi isso?
— Não, apenas não demos certos! — Digo sem entrar em detalhes.
— Você não é mais apenas uma menina órfã presa em um internato
Darla. Lembre-se que agora não está mais sozinha. Nem desempregada! —
Sorrio de leve e por instinto o abraço, ele retribui de forma carinhosa, quando
percebo meu deslize o solto rapidamente.
— Muito obrigada pelo seu apoio, Sr. Duran.
Mesmo depois desses meses afastados, sinto um gosto amargo ao falar
sobre o que aconteceu, ele me deu meu filho naquela noite, mas destruiu meu
coração com o amanhecer.
— Respeito sua decisão, Darla. Mas não esqueça que poderá contar
comigo e com Márcia também, sei que assim como eu, ela nutre um carinho
muito especial por você! Agora vou deixá-la com Luke. Ele é de minha
inteira confiança e vai orientá-la daqui para frente. — Diz ao beijar minha
testa antes de sair.
Fico olhando para a porta ainda emocionada e chocada com tudo que
acaba de acontecer, mas algo agora me é certo, mesmo se o Sr. Duran não
estivesse do meu lado, eu nunca mais estaria só, agora tenho alguém comigo.
“Vivi por tanto tempo sozinha, agora tenho você, nunca mais estarei
só, meu pequeno!”
Fico pensando ao alisar suavemente meu ventre.
Voltando para casa
Fortaleza/Chicago
James
Chego ao aeroporto internacional de Fortaleza, Pinto Martins, aliviado.
É o último destino da minha longa viagem, que graças ao bom Deus, durou
menos do que o esperado.
Os quatro meses acabaram se resumindo em apenas três e meio, por
algum motivo meu pai tem estado com uma enorme pressa para me ter de
volta à Chicago. Isso também é conveniente para mim, pois já perdi as férias
de verão e antecipar o retorno faz com que eu perca menos aulas neste início
de período.
Também existe a possibilidade de meu pai ter percebido que colocar
Alana na minha cola, mesmo após eu ter garantido que daria conta do recado
não surtiu efeito. Ainda sinto desprezo pelos dois, agora mais ainda, com
todo esse tempo fora, não pude continuar a procura por meu Anjo de olhos
azuis.
Agora tudo que quero é o conforto e a esperança que a grande Chicago
tem a me oferecer, pelo pouco que Eloise pode descobrir, Darla nunca mais
apareceu no Blue Light, deve estar evitando o máximo possível voltar ali, não
a culpo, também teria. Se bem que, diferente dela, eu não teria fugido na
calada da noite.
“E se ela encontrou alguém nesse tempo que estive fora?”
Não, me recuso a acreditar nessa possibilidade, ela me ama, sei que
sim. Não creio que seria tão fácil esquecer tudo o que vivemos.
— Seu passaporte e bilhete de embarque, senhor? — Solicita o
conferente no portão de embarque.
Após a conferência sigo pele corredor até entrar no avião. Sou recebido
pela sorridente comissária e temo ter sido indelicado com ela pois sou
incapaz de retribuir o sorriso de boas-vindas. Salvo na intimidade do meu
quarto, a noite, quando sorrio ao me lembrar de Darla, há meses não sei o que
é sorrir.
Sento-me na poltrona, a viagem é longa, haverá parada pra troca de
aeronave em São Paulo para só em seguida seguir para O’Hare em Chicago,
mas minha mente está a mil com toda a ansiedade. Não vou passar toda a
viagem nessa aflição, alcanço minha maleta e um comprido de calmante, não
sou a favor desse tipo de comportamento, mas hoje abrirei uma exceção, com
sorte dormirei daqui até a conexão e de lá para casa, tenho outro comprimido.
Chamo a comissária e peço-lhe água, engulo o comprimido ansioso
para que faça logo o efeito.
Eloise
Deixo meu primo no apartamento com o coração apertado. Essa
situação que tem vivido desde que Darla saiu da sua vida, sem deixar pista de
onde poderia estar, o está consumindo, ele não ri mais, mal fala sobre
qualquer coisa, me dói vê-lo assim.
Deixei-o acreditar que engoli seu emagrecimento por falta de tempo
para comer, não tem o porquê de enchê-lo com minhas preocupações. Ele
está tentando se manter firme e perceber olhares de pena por ele não o
ajudará muito.
Chego ao shopping onde combinei de encontrar com a minha tia e sua
nova protegida, não nego que fico com um pouco de ciúmes, mas se minha
tia gosta dela, deve ser, com certeza, uma boa pessoa. Só o fato de estar
mantendo meus tios cada vez mais próximos, me faz gostar dela de cara.
— Tia, já cheguei onde vocês estão? — Ligo assim que saio do carro.
— Suba a escada rolante, estamos no primeiro andar, em uma loja
chamada World of baby, vamos esperá-la, sei que você tem um ótimo gosto
para roupas, mesmo que essas sejam de bebês!
É evidente que ela está se divertindo, com certeza tem lembrado que
deveria ter feito tudo isso com Alana, se aquela megera não fosse tão egoísta.
Hoje vejo a situação de um novo ângulo, meu tio não é um cara tão
ruim assim, se fosse, ao invés de estar ajudando essa moça, a teria
remanejado para uma posição qualquer na empresa de baixa relevância e
traria uma assistente nova para o seu lugar. Espero que James possa ver esse
lado do pai também, no fim, todos sofremos.
Ando distraída, olho para as lojas procurando pela que minha tia falou,
assim que chego na entrada paro imediatamente. Darla está aqui, depois de
tanto tempo procurando por essa garota e a encontro logo aqui, na mesma
loja que a minha tia.
Minha surpresa é dupla quando tia Márcia se aproxima dela mostrando
uma roupa de bebê, ela sorri e acaricia a barriga que pouco se nota.
“Eloise, como você não a viu antes?” Pergunto-me irritada.
Volto antes que elas me vejam aqui, ela com certeza fugirá assim que
me ver. Mas como ela foi parar na DMG? Será que não sabe que eles são os
pais de James?
James! Meu primo pode ser o pai desaparecido do bebê, lembro da
minha tia se queixar por não existirem homens como antes e como uma
garota tão boa como aquela se deixou levar por um cretino. Meu Deus, o
cretino pode ser o próprio filho dela.
Entro no carro decidida a arrastar meu primo para esse shopping se for
preciso, ele precisa ver com seus próprios olhos. Entre pensamentos, minha
cabeça virou uma zona, meu telefone toca, estico o braço para pegá-lo na
bolsa, é minha tia, droga!
Estou distraída e não vejo o carro que avança o sinal vermelho, meu
carro gira e gira sem que eu consiga controlá-lo, meu corpo mesmo com o
cinto de segurança é sacolejado de um lado a outro. O carro para apenas ao
atingir um hidrante que começa a jorrar água por todo lado. Então, caio no
presente, sofri um acidente, não poderia ser, não agora.
— James precisa saber... — Balbucio antes da escuridão tomar conta da
minha consciência.
Surpresa dupla
Darla
Sorrio diante da enorme quantidade de roupas infantis colocadas diante
de mim, Márcia e Marlon tomaram para si a responsabilidade de cuidar para
que nada me falte, dois dias depois de descobrir a gravidez, acabei contando
tudo para ela e Sr. Duran, não detalhadamente, apenas um resumo, Eveline e
Nial já sabem da minha gravidez, pedi a eles que não contem para mais
ninguém, nem mesmo Bella, com quem falo as vezes, sabe sobre o bebê.
Tenho medo que deixe escapar algo e acabe chegando até ele.
— Darla, você vai adorar Eloise, ela é animada assim como Miriam,
tenho certeza que se darão muito bem. Mas por que ela está demorando tanto
é um mistério, isso não é típico dela, não mesmo!
Márcia está visivelmente preocupada com a demora da sua sobrinha,
ela vive dizendo o quanto acha que nos daremos bem, infelizmente até agora
não tivemos a oportunidade de nos encontrarmos.
— A senhora deveria ligar, vai ver, ela está a nossa procura! — Digo
enquanto olho os vestidos cor de rosa, mesmo não tendo a confirmação creio
seja menina.
— Primeiro, não me chame mais de senhora, a menos que estejamos no
meio daqueles esnobes do mundo de negócios do qual meu marido, ..., digo,
meu ex-marido faz parte. E segundo, sim ligarei agora mesmo, ela não deve
estar muito longe, a não ser que tenha encontrado uma Prada por aí, daí já
viu!
Ela pega o celular sorrindo o tempo todo, sinto como se fosse realmente
a avó do meu bebê, tem acompanhado cada consulta, exame, assim como
Marlon, eles têm sido ótimos, só o fato de não terem me posto para fora
depois que descobrimos minha gravidez, já é motivo de terem meu carinho e
respeito para sempre.
De repente Márcia fica pálida e começa a chorar, pego o telefone da
sua mão, há barulhos por todo lado, grito para ver se sou ouvida, mas nada.
— Alô? Alguém por favor?
— Alô, você é parente dessa moça? — Alguém diz do outro lado da
linha. Bem, essa moça deve ser a sobrinha de Márcia. — Alô?
— Sim, eu sou, o que aconteceu?
— Ela acaba de sofrer um acidente, o socorro está a caminho, mas seria
bom alguém da família por perto.
— Só um instante, por favor! — Viro-me para Márcia que tem os olhos
vermelhos das lágrimas. — Márcia eles querem alguém da família lá com ela,
devo pedir que a levem para um dos hospitais do grupo, o mais próximo que
tiver?
— Sim, por favor, querida! — Aceno com a cabeça e me afasto um
pouco.
— Com quem eu falo?
— Mathew, senhora!
— Certo, Mathew, como está a situação, ela está muito ferida? —
Invoco meu lado calmo para fazer o certo. — E onde exatamente vocês
estão?
— Estamos na Michigan Avenue, sentido Sul, ela está desacordada,
então, não temos como saber, a equipe de resgate a está removendo do
veículo para que os paramédicos possam fazer a primeira avaliação. Tem um
hospital a quatro quarteirões, deve ser para lá que a levarão.
— Mathew, obrigada pelas informações. Nós fazemos parte do grupo
DMC, por favor peça aos paramédicos para a levarem até lá, avisem que ela é
da família Duran. Estamos indo para lá agora mesmo!
— Certo!
Desligo e me viro para Márcia que ainda parece desolada olhando a
esmo.
— Márcia, precisamos ir. Ela será levada para a unidade da DMC
próxima à Michigan.
Ao chegarmos no carro, Márcia parece pensativa, como se algo tivesse
despertado dentro dela, mas em uma situação delicada como essa, evito fazer
perguntas desnecessárias. Rapidamente estamos no meio do trânsito louco de
Chicago.
— Por que ela estava indo rumo ao Sul pela Michigan? — Márcia
divaga enquanto ligo ao Sr. Duran e o informo sobre o acidente, pedindo para
que nos encontre lá.
— James! É lógico, ela estava indo encontrá-lo, meu Deus, preciso
avisá-lo. — Esse nome me faz suspirar, mesmo sendo um nome comum é
como se fosse o meu.
“Nada disso, ele não é seu!”
Ela mexe nos botões do volante e logo podemos ouvir o som de
discagem.
— Não poderia esperar até a noite para me ver? — Uma voz com tom
divertido e cansado atente.
— James, você precisa nos encontrar no Pronto Socorro da Michigan!
— Olho espantada pela forma como ela toma a frente da situação de forma a
não ter tempo para rodeios.
— O que aconteceu? Mãe, você está bem, é algo com papai? — Toda a
diversão saiu da voz do outro lado da linha.
— Não é conosco, filho, foi Eloise, ela sofreu um acidente.
Silêncio reina... Até que vejo que chegamos na entrada da emergência.
— Estou indo para lá! — Ele enfim responde, é a nossa deixa para
sairmos do carro.
— Vamos lá, Darla!
Partimos em direção a ala de atendimento a acidentados, passamos
direto pela recepção, todos conhecem Márcia, nossa passagem é rapidamente
liberada.
Assim que chegamos na área que recepcionam as ambulâncias, uma
equipe médica já está fazendo exames preliminares, logo avisto o Sr. Duran,
que estava aqui em uma das suas visitas habituais, ele está atento a tudo que
os médicos falam, me aproximo aos poucos, não querendo atrapalhar, no
entanto, Márcia mantém seu braço ligado ao meu.
Quando olho para a cama onde uma garota loira está desacordada, meu
coração para de bater por alguns segundos. Agora sei o porquê o do nome me
ser tão familiar.
É a mesma Eloise que me foi apresentada há quatro meses, a prima de
James. O mesmo James que é o pai do meu bebê. Essa confirmação me faz
perceber que Márcia e Marlon são seus pais e os avós da criança que trago no
meu ventre.
De repente não consigo respirar, me afasto o mais rápido possível
deles, vou em direção à porta, mas assim que a abro meus pés vacilam e vou
de encontro ao chão, perdendo minha consciência já tão caótica no momento.
James
Nada pode ser tão triste do que você não conseguir se sentir em casa
em lugar algum, faz duas horas que ando a esmo nesse apartamento, ele me
parece estranhamente sem vida.
Sento em frente a grande TV que tenho na sala, mas nada me anima a
ponto de ligá-la, o apartamento todo continua intacto. Meu telefone toca e já
até imagino quem seja, com certeza Eloise falou para minha mãe sobre minha
perda de peso e Dona Márcia deve estar dando um de seus ataques de mãe-
leoa habituais.
— Não poderia esperar até a noite para me ver? — Brinco com ela
como de costume, mas sua resposta não é a esperada, principalmente quando
me informa que minha prima sofreu um acidente.
Como pôde acontecer, ela sempre foi tão precavida, algo está errado e
me incomoda, depois de garantir a minha mãe que vou encontrá-la no
hospital, saio como um louco para a garagem subterrânea do prédio. Não
posso ir na Harley, seria imprudente da minha parte ainda mais no meu
estado, então decido pelo Q7, é igualmente rápido e mais seguro.
Saio cortando o trânsito de Chicago.
“Deus que nada de mais tenha acontecido com ela!” Peço em
oração....
Então lembro de Luke.
Seu namorado desde... Sempre, eu acho, me coloco no seu lugar e sei
que não suportaria ficar por fora de algo tão grave, ligo para ele de imediato.
— James já está de volta, cara? Podemos tomar aquele chopp depois do
trabalho. — Somos amigos há anos também.
— Sim, mas não é por isso que liguei, é sobre a Eloise.
— O que tem ela? — Ele entra no modo médico e namorado ao mesmo
tempo.
— Ela sofreu um acidente, está no pronto Socorro da Michigan, estou
indo para lá agora!
— Estou perto, nos encontramos lá!
Desliga e eu acelero, quero chegar até minha prima e me certificar que
ela está bem.
Desço do carro e corro para dentro do hospital, após ser informado
onde ela se encontra corro para a ala de emergência, encontro Luke assim que
chego ao corredor dos quartos.
Estamos nos aproximamos do seu quando a porta abre de uma vez e
uma moça sai de dentro, mas não é uma moça qualquer... Fico parado no
meio de um turbilhão de emoções, medo, saudade, reencontro, alívio...
É ela, meu Anjo de olhos azuis, então a vejo bambear das penas caindo
ao desfalecer, Luke corre em sua direção e evita que seu corpo vá de encontro
ao chão.
— Darla? Darla, está me ouvindo? — Meu cérebro está vendo mas não
entende o que está acontecendo, como ele a conhece, como sabe seu nome?
— Você a conhece de onde? — Enfim consigo me mover e me
aproximo deles.
— Ela é minha paciente, se caísse e batesse a região dos quadris no
chão poderia perder o bebê! Preciso que me ajude aqui!
Meu mundo para mais uma vez, vou até eles a pego nos braços no
automático.
“Ela está grávida e esse bebê deve ser meu.”
— Leve-a para o setor da maternidade, vou avisar a minha equipe para
que procedam com o atendimento. Assim que souber de Eloise vou até lá
para acompanhar a avaliação. — Assinto com a cabeça e saio rumo à
maternidade.
Ando com ela pelo corredor do hospital, mantendo-a junto do meu
peito, para assim sentir seu cheiro doce de menina, a coloco na maca que me
indicam, mas tudo que quero é levá-la para casa e me enterrar nela até que
mate toda a saudade que sinto.
Ele é nosso
Darla
Estou tonta e desorientada, abro os olhos ainda confusa, a claridade do
ambiente onde estou me faz fechá-los novamente.
O que aconteceu? Por que estou nessa maca de hospital? Tudo está
desconectado... então, me lembro!
A loja de roupas infantis, o acidente de Eloise ... Eloise, prima de
James, que vem a ser filho de Márcia e Marlon, oh meu Deus!
Os fiz ter raiva do próprio filho, sou uma megera, tenho certeza que
ficarão do lado dele. Agora estou realmente ferrada, tenho que sair daqui
antes que eles me vejam, assim será mais fácil sumir da vida das únicas
pessoas que me estenderam a mão quando mais precisei, só de pensar em me
afastar deles me dói.
O pior de tudo é que terei que manter distância até de Miriam e Victor.
Mesmo assim, é o melhor, James está a caminho e se voltar a me ver com
certeza saberá que o filho é dele, eu não teria como negar ou inventar um pai
fictício, seria muito humilhante e prometi que não mentiria para ele, nunca
mais. Tenho palavra.
Suspiro derrotada, essa é a história da minha vida, as pessoas entram e
saem dela assim. Parece que estou destinada a viver só. Um soluço escapa
dos meus lábios, acho que isso nunca vai mudar, pelo menos agora terei meu
bebê.
— Ei... Não chore, Anjo. — Eu conheço essa voz, ninguém mais me
chama de Anjo.
Abro os olhos imediatamente e lá está ele, lindo de viver. Parece mais
magro, cansado, meu coração dispara.
“Ele está aqui, o que vamos fazer?”
Essa era uma boa hora para minha mente nada santa dar o ar da graça,
mas resolveu sumir mais uma vez.
— Está sentindo alguma coisa? Vou chamar Luke! — Ele olha para
mim e volta o olhar para a porta, como se não quisesse sair de perto de mim.
— Não precisa, estou bem. — Sento-me e seco minhas lágrimas. —
Estou de saída, não se preocupe! — Começo a me levantar, mas ele me
detém.
— Não vai a lugar algum, Luke está vindo, preciso me certificar que
está tudo bem com você e... Ele é nosso não é? — Põe sua mão sobre o meu
ventre, que com quase quatro meses já está visível por eu ter um corpo
esguio.
Engulo em seco, mesmo depois de tanto tempo meu corpo ainda tem a
mesma reação de sempre ao sentir seu toque, mesmo que por cima da roupa.
Um formigamento que começa onde sua mão está e se espalha por todo o
meu corpo. É uma corrente elétrica poderosíssima.
Tento virar o rosto para que não tenha que responder, mas é em vão, ele
o pega entre suas mãos e me olha com um brilho intenso no olhar.
— Diga-me Darla, esse bebê que está esperando é fruto da nossa noite
juntos, não me negue essa resposta, por favor?
Como poderia dizer que não, tento articular a negativa nos meus lábios,
mas as palavras não saem, ficam presas na minha garganta, quero expulsá-
las, mas elas se recusam a sair.
— SIM ele, ou ela, é seu filho! — Pronto, liberei o nó que estava se
formando na minha garganta e choro.
Choro por toda a aflição que tenho passado, a incerteza que vivi e ele
me fez esquecer e depois me jogou no limbo novamente, por ainda o amar
desesperadamente e saber que se ele me oferecesse migalhas do seu amor
estaria tentada a aceitar, mas agora não posso me contentar com nada além de
todo amor do mundo para meu filho.
— Não chore meu Anjo, estou aqui com você! — Ele me abraça e eu
deixo, estou precisando disso, pelo menos dessa vez vou trapacear com meu
coração.
— Não faz bem a ele, ou ela, essa tensão toda. Pense nisso e se acalme,
sim? — Alisa meu cabelo de forma suave e carinhosa, quero ficar aqui para
sempre, no entanto, não devo.
— Preciso ir embora, por favor, tenho que ir, não posso continuar com
isso, me deixe ir, vou para longe, não terá que se incomodar com a minha
presença e do meu filho, eu prometo, só me deixe ir, James. — Peço
desesperada.
Olho para ele, está em choque, olha-me como se não tivesse me vendo
de verdade, me sinto pequena e insignificante, agora que sei de quem ele é
filho pareço ainda menor.
Com certeza Marlon não ficará nada feliz com isso, uma coisa é saber
que fui deixada, ou deixei um cara que me decepcionou depois de uma noite
juntos, outra bem diferente é ele ficar sabendo que o cara em questão é seu
filho, não vai querê-lo com uma garota que não tem raízes ou família, que
não sabe das suas origens.
— Como sumir, bateu a cabeça em algum lugar e não vi? Não vai a
lugar nenhum, Darla, não vou permitir que saia da minha vida novamente.
Tenho vivido um inferno desde que acordei e não a vi do meu lado.
— PARE! Não me fale de inferno James, eu sei bem o que é estar em
um, foi você mesmo que me colocou lá e não vou voltar para ele.
Livro meu rosto de suas mãos e levanto da cama, começo a procurar
minha bolsa, está na mesa ao lado da cama, a pego e sigo em direção a porta,
mas não dou mais que dois passos, ele me agarra pela cintura e me prende
colada ao seu peitoral, tenho a sensação de lar doce lar! Permito-me desfrutar
só um pouquinho desse corpo.
— Precisamos conversar, minha menina impaciente e precipitada, não
vai a lugar algum, nem que eu tenha que prendê-la a mim para sempre! —
Diz ao beijar o topo da minha cabeça, seu hálito quente mexendo comigo.
— Tenho que lhe contar algumas coisas, Darla, sei que me entenderá,
por favor? Se depois que me ouvir decidir que não me quer mais, a deixarei
ir, mas não para longe, já amo o que fizemos naquela noite. — Leva sua mão
ao meu ventre e o alisa suavemente. — Ele é nosso, vai ser lindo e amado,
assim como você, meu Anjo, linda e muito amada!
Fecho meus olhos e deixo-me levar pelo som da sua voz doce, não
quero ir, mas preciso. Somente pelo meu filho o deixarei explicar o que quer
que seja, ao menos não terei a culpa de não ter tentado.
— O que está acontecendo aqui, posso saber? — Abro os olhos e dou
de cara com Marlon, todo sério nos olhando com uma cara nada boa.
“Irrrr, agora filha, você se ferrou!”
Minha mente nada santa resolveu aparecer, mas adivinhe só, foi para
zombar de mim.
— Sr. Duran, eu ... — Tento me livrar dos braços fortes de James, mas
esse me aperta ainda mais, a ponto que virarmos praticamente um ser só.
Meu Deus, o cristão está bem alegre nos países baixos, é melhor ficar
por aqui mesmo e evitar um constrangimento pior, encosto ainda mais meu
corpo no seu para proteger sua região afetada e o sinto estremecer e soltar um
leve gemido, não sei se de dor ou prazer.
“Continue assim e o ser vai virar adolescente na puberdade!” Minha
mente me dá o alerta.
— E então, vão me dizer o que se passa? — Devo estar mais vermelha
que um tomate, sinto meu rosto pegar fogo diante do olhar do meu chefe.
— Isso não é da sua conta Marlon! — James fala de uma forma ríspida
com o pai, o que me faz erguer o rosto e olhá-lo com desagrado, mas não
nota por estar ainda olhando feio para seu pai.
— É da minha conta sim, James, uma vez que está colado ao corpo da
minha assistente que está gestante, diga-se de passagem, não acha? —
Marlon arqueia uma sobrancelha e espera por mais uma resposta do filho.
— Sua assistente, essa não era Miriam? — Meu Deus estou no meio de
uma verdadeira batalha de gigantes, onde a formiguinha aqui com certeza
será esmagada no fim.
— James me deixe ir, você precisa conversar com seu pai. — Tento
falar, mas ele me faz parar ao me virar para ficar de frente para ele.
— Sabia que ele era meu pai esse tempo todo e não disse nada a ele? —
Seus olhos parecem que saltam das orbitas.
— Não, claro que não, fiquei sabendo há... Quanto tempo fiquei
apagada mesmo? Bem, não importa, só liguei os pontos quando vi Eloise
deitada naquela cama. Oh meu Deus! Sr. Duran como ela está? — Tinha até
me esquecido do motivo pelo qual vim parar aqui.
— Ela sofreu alguns ferimentos, mas ficará bem, agora está passando
por exames mais detalhados, vim assim que Luke me informou que você
tinha desmaiado. Agora querem me explicar o que diabos está acontecendo
aqui?
Olho para o meu chefe, respiro fundo e vou direto ao ponto, não tenho
por que ficar dando voltas, é dizer que o cara de uma noite só era seu filho e
acabou, seja o que Deus quiser.
— Sabe o cara ... Que... Ah meu Deus, que vergonha. Ele era o James!
— Pronto falei, assisto o rosto do meu chefe passar de irritado a incrédulo e
depois para alguma coisa não identificado.
— James, você seduziu uma menina doce como Darla, depois disso
sumiu? Não consigo acreditar nisso, não, você é meu filho, porra! Não
esperava uma coisa assim de você!
— Senhor, não foi ele que me abandonou, lembra? Expliquei a situação
para você e Márcia, falei o que aconteceu e porque não o queria na minha
vida. — Ele me olha com um misto de dor e revolta no olhar.
— O que não diminui a culpa dele, ainda mais por tê-la confundido
com aquele ser desprezível de Alana, como pôde James?
— Já acabou o julgamento, tem mais algum insulto solto para mim?
Não a confundi porra nenhuma, Anjo, por favor, venha comigo, precisamos
conversar, você precisa ouvir o que tenho para contar, se tem alguém aqui
que não presta é meu pai, por favor, venha comigo.
Olho de James para Sr. Duran, os dois trazem expressões de dor no
rosto, preciso fazer algo, se por um acaso não for embora depois da
“conversa” com James, não quero criar meu filho no meio desse fogo
cruzado.
— James, peça desculpas ao seu pai e irei com você! — Estabeleço
minha condição.
— O que? Não, de jeito nenhum!
— Pois bem, nada feito, Sr. Duran, pode me dar uma carona? Preciso
fazer as malas.
— NÃOOO! — Gritam os dois ao mesmo tempo, seria cômico se não
fosse uma tragédia grega.
— Você não vai embora Darla, já não permiti isso antes, agora que
sei... Vou ser avô do seu filho! — O rosto dele se ilumina de imediato, um de
seus raros sorrisos aparece e sei que ainda posso contar com ele.
— Sim senhor., ele ou ela é seu neto.
— Márcia ficará no céu com isso, não tenho dúvidas, ah, menina, já
tínhamos você como filha agora ainda mais. Vá com James, depois
conversaremos, vocês precisam decidir o que é melhor para o bebê, mas nada
de ir embora, agora você está oficialmente na família Duran. E pare com a
formalidade, sou Marlon para você.
Sorrio para ele emocionada, acabo de ser incluída em uma família de
verdade, o abraço já com as lágrimas rolando pelo meu rosto.
— Obrigada, não sabe o bem que me faz. Você e Márcia são meus
Anjos da guarda. — Viro-me para um James um pouco em choque com o que
vê. — E então James... O pedido de desculpas? — O vejo voltar a si, percebe
que não estou brincando, então solta.
— Desculpe-me, Marlon!
— Nada disso, o que acharia se seu filho falasse com você assim?
Tenha mais respeito, é esse o homem que tem cuidado dele e de mim esse
tempo todo! — Ele suspira, passa a mão no rosto exasperado e então põe um
olhar mais respeitoso.
— Desculpe-me, pai, por minha insolência? O que não faço por você
diabinha.
Agora passei de Anjo a diabinha? Sorrio para ele, olho para Marlon que
tem um sorriso que não cabe no rosto.
— Está desculpado, filho, agora vão, quanto mais cedo conversarem,
mais rápido poderemos contar a novidade à Márcia, ela vai me torturar para
saber de vocês, mas deixarei isso para os dois.
Assentimos e saímos do quarto em direção aos elevadores, descemos ao
estacionamento com um James sempre muito perto, se certificando que estou
bem, sempre me tocando, deixo-o fazer isso, parece que precisa para manter
sua sanidade, confesso que a minha também. Então não reclamo, apenas o
deixo me levar para onde quer, se vou voltar? Isso já é um assunto do destino.
Esclarecimentos
James
Não nego que saber que ela está grávida foi um choque de início,
porém, era como se eu soubesse que algo tinha acontecido naquela noite, a
forma como nossos corpos se conectaram foi especial, única. Talvez por isso
eu estava com tanta ânsia de encontrá-la. Como poderia imaginar que ela
estivesse tão perto? Se tivesse ido à DMC como meu pai insistia, logo a teria
encontrado.
E em torno disso, surge mais uma surpresa, talvez não tão agradável
como saber que serei pai, que é o fato de Marlon nutrir um grande carinho
por Darla.
Minha prima havia comentado sobre como meus pais se referiam a essa
garota grávida com carinho e cuidado e parece que é um sentimento mútuo,
ela também gosta muito deles. Só resta saber se ela ainda será minha garota
depois que eu contar minha história, tomara que sim, não sei bem como viver
sem ela ou nosso filho.
Agora vendo a forma como meu pai partiu para defesa dela me fez
repensar um pouco. E talvez não seja tão ruim quanto imagino, ele errou ao
interferir na minha vida com Alana, porém, ela era minha namorada, sua
posição nessa história deveria ser a de me esperar e ver como resolveríamos,
não foi o que aconteceu.
Talvez ele não a tenha forçado a nada, talvez fosse realmente apenas
um teste, não sei, terei que conversar com ele depois, pois agora só o que me
importa é a garota sentada diante de mim. Não pensei bem antes de trazê-la
novamente aqui, só que ela não me disse onde está morando, a casa da minha
mãe não era próxima o suficiente, mas esse lugar é nosso, e permanecerá
sendo, ela me querendo de volta ou não. Jamais mancharia a memória da
noite que passamos juntos, mesmo tendo estragado tudo no nascer do sol.
Olho para ela sentada no sofá branco da sala do meu apartamento, há
três horas ele parecia triste e sem graça, agora está como deve ser, com meu
lindo Anjo.
— Quer comer alguma coisa, você tem se alimentado direito? — Estou
nervoso, não resta dúvida.
— Não, estou bem, por favor, fale de uma vez! — Ela pede e não tenho
mais o que fazer, respiro fundo e começo.
— Há quatro anos eu conheci Alana, estava começando meu curso de
Medicina e ela estudava administração, nos apaixonamos e começamos a
namorar, ela foi contratada pela DMC como estagiária, trabalhava no setor de
novos negócios e logo estava crescendo dentro da empresa com suas ideias
ousadas e empreendedoras para o grupo.
Minha mente viaja para os acontecimentos do passado.
— Já estávamos namorando há um ano quando decidimos morar juntos,
estávamos na fase de começo de mudança ainda, mas sempre que podia
dormia no apartamento dela, meus pais não eram contra o relacionamento,
mas sempre vi que meu pai mantinha um pé atrás com ela.
— Vai ver ele tinha um motivo! — Diz um tanto raivosa. — Desculpe,
continue.
Sorrio internamente ao perceber que está com ciúmes, talvez eu tenha
uma chance.
— Um dia estava trabalhando em um projeto para a faculdade no
laboratório que temos no centro de doenças raras, quando Miriam me ligou
informando que Alana havia passado mal e estava na emergência de uma das
nossas unidades, larguei tudo que estava fazendo e fui ao seu encontro.
Mesmo agora depois de tanto tempo, começar a lembrar como tudo se
desenvolveu faz meu peito comprimir de dor.
— Chegando lá, fui informado que ela estava em um procedimento
delicado, mas que em breve estaria no quarto. Esperei aflito para que
terminasse, então, uma enfermeira amiga de minha mãe passou e a fiz
conseguir informações, meu mundo ruiu quando ela disse que o aborto estava
feito e logo ela estaria no quarto para se recuperar.
— Um aborto? Ela teve a coragem de abortar? Meu Deus! — Os olhos
de Darla estão rasos d'água, ela leva a mão de forma protetora ao ventre e
afaga, fico encantado com seu amor por nosso filho.
Vê-la nessa posição defensiva me faz ter ideia do que era esperado de
Alana na época, hoje penso que eu estou recebendo uma segunda chance.
— Sim, meu pai lhe fez uma proposta, ela aceitou.
— Seu pai? Tem certeza? Porque essa imagem não condiz com a
mesma pessoa que conheço.
— Sim, ele fez. Cuidou bem do problema, era neto dele e ele tratou
como uma negociação a vida do meu filho. Isso acabou comigo, me senti um
inútil, não pude salvar meu bebê.
— Eu não acredito, desculpe, quem lhe contou tudo isso?
— A própria alana e quando o questionei sobre a proposta não negou.
— Você voltou a vê-la?
— Sim, queria olhar nos olhos dela e mostrar como se equivocou.
— O que ela fez?
— Ela tentou argumentar, mas a deixei sozinha lá, não suportava olhar
para ela. Voltei para casa e não voltei mais ao apartamento em que iriamos
morar. Até você aparecer.
— Espera, esteve com ela aqui e me trouxe justamente para cá?
— Não, como falei estávamos no início da mudança, parei todo o
processo de decoração, meses depois Eloise tomou a frente de tudo.
— E Márcia, como ficou nessa história toda?
— Ah, essa foi uma das piores partes, minha mãe ao saber se separou
do meu pai, não oficialmente, eles ainda continuam sendo legalmente
casados, mas ele saiu de casa porque minha mãe ficou do meu lado, uma vez
que eu me recusava a dividir o mesmo teto que ele.
Lembro-me da expressão de desalento e decepção da minha mãe, nunca
poderei esquecer, ficou gravada na minha mente.
— Pobre Márcia. Sinto muito por vocês. — Lamenta meu Anjo.
— Sei o quanto isso lhe custou, eles ainda se amam e me sinto ainda
pior por fazer isso com ela, só que não consigo perdoá-lo, ainda não. Mesmo
ele dizendo que não acreditava que ela fosse aceitar tão facilmente, era para
ser como um teste, no qual ela foi reprovada.
— Eu sabia! — Diz com brilho nos olhos.
— Sabia?
— O Sr. Duran, ele não teria essa coragem.
— ELE TEVE! — Explodo com o seu excesso de defesa para com meu
pai.
— Não grite comigo! Eu conheço seu pai, ele não é um monstro!
Passo as mãos no cabelo exasperado, preciso me acalmar para finalizar
essa conversa.
— Não importa, apenas saiba que não me envolvi, profundamente, com
mais ninguém desde então. Três anos praticamente sem sair com garotas,
foquei na minha graduação. Então você surgiu no meio daquela chuva e fez
meu mundo sem cor virar um caleidoscópio colorido na hora.
Vejo um sorriso se alastrar pelo seu rosto com a lembrança, assim
como o meu está estampado.
— Não sabia o que fazer quando acordei na manhã seguinte e você não
estava aqui, fui ao Blue Light e ninguém sabia dizer nada de você, desde
então, tenho te procurado, não perdi a esperança um dia.
— Bom, eu sei bem! Acha que foi fácil? — Seu sorriso sumiu.
— Não, sei que não foi. Mas agora sei o que aconteceu naquela manhã,
não vou me perdoar nunca por tê-la feito sofrer, mas Anjo, não foi por querer,
não dormi propriamente dizendo, com ninguém depois dela, não que isso
justifique o que fiz, só me dê a chance de consertar o meu erro?
Peço quase implorando, não quero perdê-la, cometi um erro, nada fácil
de se reparar, no entanto eu a amo.
— Uma chance é tudo que te peço, se por algum motivo vier a falhar
contigo novamente, serei o pior ser humano e viverei na miséria para sempre,
mas a deixarei ir, só não me tire a oportunidade de ter uma segunda chance
para ser feliz com você e nosso milagre que carrega consigo.
— James...
Vejo o conflito estampado no seu olhar, ela quer me perdoar, sei que
sim, porém não confia em mim.
“Como poderia seu tapado, a chamou pelo nome de outra, imbecil!”
Esse é um dos momentos que minha consciência deveria me apoiar.
— Eu estou confusa, muito confusa, como disse, o que passou não
justifica o fato de ter estragado a melhor noite da minha vida e talvez a mais
importante, pois me deu ela! — Afaga novamente a barriga e sorri.
— Como sabe se é menina? — Pergunto feito um imbecil que sou.
— Não sei, só sinto que é uma menina, então já me refiro como uma
menina. — Dá de ombros, não vou questioná-la. — Sei que espera uma
resposta, mas não sei o que dizer. Mesmo te amando, não nego, ainda o amo
mais que quase tudo. Mas como ter certeza do seu amor, aquela noite me
disse que achava, achar não é amar de verdade!
Atiro-me aos seus pés, segurando suas mãos pequenas nas minhas.
— Eu sei, Anjo, eu sei, mas a amo, eu te amo como nunca fui capaz de
imaginar.
Olho nos olhos, cito uma frase de Shakespeare que muito me encanta,
pois sempre quis um dia ser capaz de falar assim a alguém que amasse de
verdade e aqui está meu verdadeiro amor.
— Duvide que as estrelas sejam fogo. Duvide que o sol se mova.
Duvide que a verdade seja mentira. Mas nunca duvides do meu amor!
Quero que ela sinta toda a verdade nas minhas palavras, por isso
continuo olhando-a fundo nos olhos.
— Não vou obrigá-la a me querer, mas seria infinitamente feliz se
tentasse. Sinto falta de ter você nos meus braços, do sabor da sua boca.
Toco suavemente seus lábios e ela suspira, fazendo partes do meu
corpo acordarem instantaneamente.
— Deixe-me sentir ao menos o sabor que esses lábios têm, uma única
vez ao menos, só uma vez...
Estou implorando, mas não me importo, serei seu escravo para toda
vida se assim ela quiser.
— Sim! — Sussurra e sei que está tão sedenta como eu, nesse momento
tenho seus hormônios a meu favor.
Toco bem de leve os seus lábios com os meus, mordisco de leve o
inferior puxando um pouco, ela geme sussurrado e joga os braços ao redor do
meu pescoço impaciente.
Perco qualquer controle que tenho no meu corpo e a puxo para mim,
levantando-a do sofá, colando seu corpo no meu.
O beijo se torna intenso, quase descontrolado, em questão de instantes
estamos ambos ofegantes, minha camisa jogada em algum lugar enquanto ela
acaricia meu peito com suas mãos suaves, não vou resistir por muito tempo, a
quero como quero minha próxima respiração.
— Por favor, me deixe fazer amor com você, Anjo? — Peço em meio
aos nossos beijos acalorados.
— Sim, por favor!
Sua aceitação é a minha graça divina, ergo-a em meus braços e sigo
com ela para meu quarto, nosso quarto, pois só estive aqui com ela, coloco-a
sobre seus pés e a viro de frente para cama, beijo seu pescoço devagar
enquanto abro o zíper do seu vestido, fazendo-o cair aos seus pés.
Viro-a para mim novamente, assim posso apreciá-la, ela está
perfeitamente linda com sua barriga visivelmente grávida de quatro meses,
ajoelho-me diante dela e beijo toda a extensão do seu ventre.
— Eu já te amo muito, Anjinho! — Ela treme e ofega, meu Anjo está
ansioso, levanto e termino de despi-la.
E o meu limite vai para longe de mim, beijo seus lábios e deito-a na
cama, onde aguarda que eu termine de me despir, cubro seu corpo com o
meu, com cuidado para não machucá-la com meu peso, com um beijo suave e
profundo começo a fazer amor com ela lentamente.
Apesar de toda a fome que o meu corpo sente pelo dela, controlo-me ao
máximo, o que não diminui em nada o prazer de tê-la ofegante e agarrando-se
as minhas costas, arranhando-me enquanto juntos vamos saboreando cada
toque, cada investida do meu corpo contra o seu, cada suspiro.
Seu gemido é o céu na terra para mim, estamos juntos absorvendo tudo
que esse momento está nos dando, sinto seu corpo vibrar sob o meu quando
meu nome sai de seus lábios em forma de prece, sei que chegou ao seu limite,
afundo-me mais nela e com uma última investida também chego ao meu
limbo.
— Eu te amo! — Sussurro enquanto os tremores ainda sobem e descem
pelo meu corpo. Quando diminuem, deito-me ao seu lado e vejo suas
pálpebras pesadas e sonolentas, um dos efeitos da gravidez, penso eu. Então a
envolvo em meus braços e adormeço sentido seu cheiro doce e agradável.
Uma família
Darla
Estou em um jardim desconhecido, há muitas flores por todos os lados,
olho em volta encantada, os pássaros voam no alto e alguns cachorros
brincam com algumas crianças, sinto braços fortes me envolverem, sorrio
deliciada com a segurança que eles me trazem, me sinto muito querida e
amada. Olho para meu corpo que já não é mais crescido, assim como os das
crianças a frente.
— Vá brincar com seus amigos, Bellie, não se preocupe estaremos aqui
quando voltar!
Olho para atrás e vejo um homem jovem, seus cabelos são castanhos
escuros, são iguais aos meus.
“Papai!” A palavra enche minha mente.
Esse é meu pai, não sei como, mas tenho essa consciência, ao seu lado
está uma jovem linda, ela me sorri, devolvo o sorriso e me jogo nos seus
braços.
— Ei, o que foi anjinha? Também sentimos sua falta, meu amor, não
vamos mais viajar sem você, foi a última vez, nós prometemos!
Ela me beija a testa e me incentiva a ir brincar com as demais
crianças, eu vou, mas sempre estou olhando para onde meus pais estão
sentados abraçados, eles acenam para mim com frequência, olho novamente
onde estou, é o Hyde Parks de Londres, sei pelas diversas fotos que vi na
internet, esse é um lugar que sempre me chamou atenção. Mas, o que
estamos fazendo em Londres? Meu lar é em Chicago!
— Isabelle? Você não lembra mais de mim? Esqueceu a tia Maggie?
Venha, sua mãe me mandou buscá-la para um sorvete! — Uma jovem com os
mesmos cabelos loiros de mamãe me aborda.
Eu não me chamo Isabelle, chamo? Não sei mais de nada.
Ela aponta um carrinho de sorvete logo à frente, olho para meus pais,
minha mãe acena e sorri, faço o mesmo e sigo minha tia Maggie, mamãe não
me deixaria sair com estranhos, não é mesmo?
Estou feliz com tudo que tem me acontecido nesse dia, meus pais estão
de volta, tudo está perfeito e no seu devido lugar, não poderia estar mais
contente.
Tomo meu sorvete sob o olhar vigilante de tia Maggie, adoro o de
sabor limão, mas esse tem um gosto diferente, um pouco mais doce e meio
enjoativo, mas o tomo assim mesmo, papai sempre diz para evitar o
desperdício. Estranhamente, nem cheguei ainda na metade do sorvete e meu
corpo fica mole, um sono sem tamanho toma conta de mim, então adormeço,
mas não antes de ouvir uma voz ao fundo que diz:
“Aí está ela, minha doce menina, tratarei de garantir que desapareça,
para sempre!”
E o sono me pega, acordo em um quarto escuro, chamo por meus pais,
mas é inútil, eles não me escutam, se foram novamente.
James
Acordo antes de Darla, essa noite foi muito tumultuada para ela, seu
sonho que pode ser uma lembrança me deixou intrigado.
Levanto da cama com cuidado para não acordá-la, ela se remexe mas
não acorda, fico um tempo ainda olhando para ela, seu rosto de Anjo, seu
corpo agora com curvas mais acentuadas pela gravidez.
Meu Deus, eu vou ser pai, agora que a ficha começa a cair de verdade,
um filho, ou filha como Darla diz, que deve nascer em cinco meses mais ou
menos. É o momento que preciso crescer de verdade, assumir a situação e
resolver os problemas como adulto que sou. Há muitas coisas que preciso
providenciar, começando por falar com meu pai.
Saio do quarto já com o telefone na mão, espero que ele esteja
acordado, deve ter passado a noite próximo de Eloise, minha prima que nem
cheguei a visitar, mas hoje a verei, teremos um dia cheio.
— James, o que houve? — Sua voz está preocupada. — Darla está
bem, o bebê... Não me diga que brigaram e ela foi embora?
É possível perceber uma apontada de desespero na sua voz, ele
realmente gosta dela. Sorrio por dentro.
— Não pai, estamos todos bem, Darla ainda está dormindo, ela teve
uma noite agitada, com pesadelos e tudo, então não vou incomodá-la, mas me
diga, como está Eloise?
— Está bem, por sorte só teve algumas costelas machucadas e bateu a
cabeça, mas não tem nenhum inchaço, então deve sair ainda hoje do hospital.
Perguntou por você, mas contei que tinha saído com Darla, ela não fez mais
perguntas.
— Ela não vai ficar naquele apartamento sozinha, vai?
Desde que os pais se mudaram para Viena, Eloise tem morado só,
mesmo minha mãe insistindo para que ela ficasse em casa conosco, só que
minha prima tem um gênio forte e quando decide, está decidido.
— Não, Márcia a convenceu a ficar em sua casa por duas semanas, foi
difícil mas deu certo, pediu que você também esteja lá. E então vai voltar
para casa, ou ficará no apartamento com Darla?
Há uma curiosidade sincera na sua voz, aqui está o meu pai, o que foi
meu herói na infância, que lutava comigo contra monstros imaginários.
— Eu não me importo, mas sei que precisará falar com sua mãe, está
muito preocupada desde ontem, sem ter notícias suas, ainda tive que dizer
que tínhamos brigado e você havia saído chateado, assim ela não ficaria te
ligando a cada dez minutos.
Estou grato por ele ter levado uma culpa por uma coisa que não existe,
mas como bem colocou, minha mãe não teria parado de ligar se soubesse que
eu estava com Darla.
— E o que disse sobre Darla?
— Basicamente a verdade. Que ela teve uma queda de pressão, isso é
normal para gestantes e eu a tinha mandado para casa com o motorista.
— Obrigado, pai, por pensar em tudo! — Sorrio em pensar como
graças a Darla, já começo ter outra visão do meu pai.
— Não fiz nada de mais filho, e vale muito a pena se o faz me chamar
de pai novamente! — Vou responder quando sinto um formigamento na
minha nuca, sei que é ela que se aproxima.
— Tudo bem, nos vemos mais tarde então, temos algumas coisas para
conversar.
— Certo, te vejo em casa!
Desligo e me viro, ela está junto da parede usando uma das minhas
camisetas, fica enorme nela, mas ainda assim perfeita, me aproximo e beijo
sua testa, aproveitando para inalar seu cheiro de rosas do campo.
— Bom dia, Anjo! — Digo olhando para o par de olhos azuis mais
brilhantes que já vi.
— Bom dia James. Preciso ir para casa.
E é como um balde de água fria nos meus nervos, ela quer ir. Devo
estar com uma cara péssima, pois ela logo complementa o que disse.
— Não tenho roupas aqui e tem as vitaminas que preciso tomar, além
de Miriam que deve estar louca sem notícias minhas. — Uffa!
— Tudo bem, vamos buscar suas coisas assim que tomarmos café, você
precisa se alimentar direito, eu mesmo preciso ver o que levaremos para casa
da minha mãe.
— Sua mãe? Eu não vou, quando falei de roupas, estava me referindo a
uma só para hoje, quando eu for pro trabalho, por que iria trazer minhas
coisas para cá, não decidimos nada.
Afasto-me dela, ela não decidiu nada, meu peito aperta, como não
decidimos nada? Preciso respirar fundo para não falar ou fazer nada que piore
a situação.
— Anjo... Pensei que tínhamos resolvido tudo ontem, que você tinha
me aceitado de volta na sua vida, eu me iludi, foi isso? — Seus olhos se
arregalam.
— Não, quer dizer sim, aceitei você na minha vida, se não nada do que
aconteceu ontem teria acontecido. Você sabe disso, mas não posso morar
com você assim, é meio que... Não somos nem namorados na verdade James,
não posso vir assim, sem mais nem menos!
Ela está constrangida, então resolvo tudo por ela, simples assim.
— Vamos nos casar! — Ela me olha com os olhos ainda mais
arregalados. — Casamos ainda hoje se você quiser, ou só quando o bebê
nascer, não sei, daremos a maior festa da história dos casamentos, da forma
que quiser eu aceito, só não aceitarei passar mais um dia sequer longe de
você, isso não está em discussão!
Ela me abre seu lindo sorriso que me tira o fôlego, não resisto a
tentação que ela é, a agarro de uma vez, arrancando um gritinho de surpresa
seu, ataco sua boca com tudo, a encostando na parede e nos livrando dos
tecidos que nos separam. O que mais quero agora é me perder nela até que
não consigamos achar o caminho de volta.
Voltando ao começo
Darla
Por mais que eu tente, não consigo controlar minha ansiedade, mesmo
que conheça todas as pessoas que encontraremos, ainda sinto o pânico de
estreia se esgueirar pelo meu estômago.
Estamos indo para a casa de Márcia, onde ficaremos por duas semanas
enquanto Eloise se recupera. James acabou por me convencer a ficar esses
dias com ele, disse que não se afastaria de mim e não era justo fazê-lo
escolher entre sua prima e eu, acabei cedendo. Agora estou mais que ansiosa,
não é como se eu não conhecesse os pais dele, mas serei apresentada como
sua namorada.
Acho que namorada se encaixa, mesmo ele tendo falado em casamento.
Mexo-me inquieta no assento, não consigo controlar esse meu lado ansioso.
— Quer ficar quieta, daqui a pouco estará do lado de fora do carro! —
James sorri, pega minha mão e a leva a sua boca, beija meus dedos e mantém
nossas mãos juntas.
— Não sei por que não viemos de moto, já teríamos chegado? — Falo
emburrada, não sei por que estou sendo tão infantil? Não é como se eu
andasse de moto todos os dias.
Paramos no sinal e ele vira-se para mim incrédulo, olha diretamente
nos meus olhos, o que me faz encolher por dentro.
— Sério que está me perguntando isso? Não vamos mais andar na
Harley, Darla, é perigoso, ainda mais no seu estado!
— Até onde sei, gravidez não é doença, então não me venha com esse
papo todo macho protetor da cria para cima de mim.
Voltamos a nos mover junto ao tráfego e ele ri, se não tivesse irritada
sem um motivo aparente, com certeza estaria me desmanchando com seu
sorriso lindo.
— Agora sério Darla, o que a está incomodando? É perceptível que há
algo a incomodando.
— Mal me conhece, então não pode saber como sou pela manhã! —
Estou terrível hoje, essa é a verdade.
— Pelo que vi mais cedo, você pela manhã é muito linda e
extremamente atraente, ainda mais quando está chamando meu nome entre
suspiros. Mas voltando ao assunto, conheço meu pai, não é fácil cair nas
graças dele, no entanto, você conseguiu, isso me faz pensar que você não é
tão mal-humorada assim.
Fico sem argumentos diante disso. Como ele bem colocou, nunca fui
rabugenta pela manhã e não sei o que me deu hoje, é como se algo quisesse
vir à tona na minha mente, mas estivesse trancafiado lá, não conseguindo sair
mesmo que eu tente.
— Anjo, chegamos! — Olho para o lado e vejo o Blue Light, minha
casa por tantos anos.
Sinto uma dor profunda de saudade de todos ali, assim que me instalar
farei uma visita. Agora não tenho que evitar o vizinho.
— Darla, sei que está receosa e com medo da não aceitação da minha
mãe, mas isso não é tudo. Sei que seu sonho ainda está a incomodando, dá
para ver nos seus olhos, vamos investigar, vou conversar com meu pai ele
poderá nos ajudar, não se preocupe!
Sinto meus olhos lacrimejarem, ele acaba de acertar em cheio o centro
de toda essa minha tensão e irritação, é essa incerteza sobre o que pode ter
acontecido no passado.
“E se meu pai não me abandonou, se aquele que aqui me deixou não
era meu pai de verdade?”
São muitas perguntas para as quais ainda não tenho respostas.
Preciso guardar tudo dentro do armário “coisas para reavaliar” que
tenho na mente, mais tarde volto a essas questões.
— Vamos meu Anjo, aqui será nosso lar pelas próximas duas semanas,
sei que minha mãe ficará no céu com a novidade.
Ele dá a volta e me ajuda a sair do carro, beija-me os lábios de forma
doce e apaixonada, pega na minha mão e seguimos para grande casa
imponente, que por muito tempo admirei as escondidas do colégio do lado
oposto da rua.
Assim que tocamos a campainha, a porta é aberta e somos recebidos
por uma Márcia que nos lança um olhar intrigado, solto a mão de James
assim que percebo seu olhar fixo nelas, mas ele rapidamente a recupera e me
puxa para ainda mais perto do seu corpo, indo de encontro a mãe.
Estou para ter um troço diante dos olhos arregalados dela, por sorte
vejo Marlon se aproximar para me dar apoio. Vejo Luke acompanhado de
Eloise se aproximando da sala.
“Que maravilha, a vergonha só aumenta!”
Minha mente traiçoeira ao invés de incentivar me põe mais nervosa
ainda.
Márcia se aproxima e abraça o filho antes de virar e me dar um abraço
apertado.
— Seja bem-vinda, querida!
Olho nos seus olhos carinhosos e sei que sou mesmo bem-vinda, se à
sua casa ou à família, ainda não sei.
— Meu bebê, você emagreceu! Como isso é possível, Marlon veja o
que você o fez! — O pobre Marlon se encolhe sob o olhar acusador da ex
mulher.
— Não poderia prever que ele não iria comer Márcia, por Deus! —
Olha-me em busca de ajuda, mas estou sem muita munição no momento.
— Mãe, não sou uma criança, estive ocupado, nada de mais, não brigue
com o papai por minha causa, sim?
Vejo como todos olham para ele espantado, assim que chama Marlon
de pai, é como se tivessem presenciando um fenômeno raro da natureza.
— Por que esses olhares de espanto? — Sinto pena do meu menino
rebelde que está começando a ver a vida de outra forma.
— Nada, meu filho, nada. Vamos, conte para sua mãe sobre a
novidade, ela quase me matou para falar, mas cumpri minha promessa de
deixar isso para você.
Todos os olhos estão voltados para James, quero ver ele se sair tão
confortável como quis parecer até agora. O que faz é me puxar para junto do
seu corpo pondo uma mão na minha cintura e a outra sobre minha barriga.
Os olhos de Márcia se arregalam e enchem de lágrimas assim que
assimila o que esse gesto representa, Luke demostra o mesmo espanto,
enquanto Eloise sorri como se fosse algo que já soubesse.
— Mãe, pai, mesmo vocês já a conhecendo, apresento a minha
namorada, Darla Megan Johnson. Como podem ver, ela está esperando um
filho meu e pretendemos nos casar em breve! — Declara beijando o lado da
minha cabeça.
Um gesto carinhoso e simples, mas que nesse momento significa muito,
não sei se rio ou choro, minhas emoções estão a flor da pele, começo a chorar
mesmo sem querer.
— Espere um pouco, o cara de uma noite era meu filho? James, como
pode? — Mais uma vez James se encolhe diante da acusação de ter me usado,
eu agora sei da verdade, mas sua mãe não.
— Eu falei horrores de você, meu Deus! Mas você falou casamento?
Então vocês se resolveram, é isso?
— Tia, está mais do que obvio que eles se acertaram, se tivesse visto a
cara que Jem estava ontem... E primo, está perdoado por não me visitar,
mesmo eu tendo sofrido esse acidente tecnicamente por sua causa! — Eloise
fala e todos viram em sua direção sem compreender do que ela está falando.
— Como assim, Eloise? — Luke pergunta ao abraçá-la, que estremece
com o contato, deve estar dolorida, tadinha.
— Depois que deixei James no apartamento, fui encontrar com a tia
Márcia, que queria me apresentar a assistente grávida do tio Marlon, só que
eu não sabia que ela seria Darla, quando cheguei a loja em que elas estavam a
vi da entrada, imagina só a surpresa Jem? Nós a procurando todos esses
meses e ela bem debaixo do nosso nariz!
Viro-me para James, essa é uma notícia surpreendente, saber que ele e
sua prima estavam a minha procura. Ele me sorri e beija meus lábios de leve.
— Poderia ter me ligado! — James diz a prima de forma carinhosa.
— Sim, mas não pensei nisso na hora, nem ao menos pensei em
detalhes.
— Logico que não pensou! — Luke ri e ganha um revirar de olhos
dela.
— Então, assim que a vi voltei para o estacionamento, estava indo ao
seu apartamento quando recebi o telefonema de tia Márcia e tudo aconteceu.
Ela dá de ombros como se não tivesse sido nada demais, James me
solta e vai ao encontro da prima, a envolvendo em um abraço cuidadoso.
— Eloise, desculpa! Eu deveria ter ido com você, assim nada disso
teria acontecido.
— Sem drama Jem, estou bem, o que são algumas costelas fraturadas,
nada demais!
Faz pouco caso do seu estado e olha na minha direção.
— Espero que você não suma novamente Darla, esse cara ficou um
bebê chorão na sua ausência! — Ri do primo.
— Ela não sumirá, não estando esperando meu neto ou neta. Já
tínhamos grande apreço por ela antes, agora, vejo que ela é um Anjo
mandado por Deus para unir novamente minha família, obrigada minha
menina! — Márcia me abraça e acabo chorando ainda mais.
— Não mesmo, mãe, nem que eu tenha que amarrá-la a mim, ela não
sairá mais de nossa família! — James volta para junto de mim, sua mãe
parece satisfeita com a forma que tudo se resolveu.
— Mas, você não sabia que ele era nosso filho? Como isso é possível?
Se me contassem eu não acreditaria que aconteceu de verdade.
— Bem, já chega de tanta conversa, estou faminto e eles precisam se
acomodar no quarto. James fiz exatamente como me pediu, espero que tenha
ficado do seu gosto, filho! — Marlon sorri calorosamente, fico muito feliz em
saber que a antiga inimizade entre eles parece estar se resolvendo.
— Se me dão licença, preciso guardar nossas malas! — James fala e
começamos a subir as escadas para o seu quarto.
Assim que abre a porta vejo a janela de frente ao meu antigo quarto.
Lembro quantas vezes imaginei que o teria para mim, enquanto o admirava
de longe e de quando invadiu o internato no meio da noite, como tudo parecia
um sonho bom.
Agora, isto aqui é real, mas ainda assim parece um sonho, em tão
pouco tempo minha vida mudou drasticamente, não que eu ache ruim, essas
mudanças me trouxeram meu milagrinho, que cresce dentro de mim. Coloco
a mão sobre meu ventre e a sinto tremer, é a segunda vez que acontece, a
primeira ontem pela manhã, mas agora é mais forte como se ela soubesse que
seus pais estão juntos novamente e permanecerão assim por mais um bom
tempo.
— Você ficou quieta de repente, está sentindo alguma coisa? — James
pergunta assim que volta do closet onde colocou nossas malas.
— Não, estou bem, só olhando o Blue ali do outro lado da rua.
Ele me abraça e caminhamos até a sacada onde ficamos olhando-nos
nos olhos, depois de um tempo decido revelar algo.
— Sabia que eu o via quase todas as noites da janela do meu quarto,
você ficava aqui olhando para o céu estrelado, como esse que temos agora, e
sempre que fazia acabava resfriada.
— Ah é? E por que? — Sorrio lembrando daquelas noites.
— Porque eu imaginava como você deveria ser muito bom no que
fazemos na cama e pensava que a garota que tivesse a chance de te ter seria
uma sortuda, mas nunca imaginei que seria eu!
— Pois saiba que a única que me tem de todas as formas possíveis é
você. E o que fazemos na cama, podemos começar a fazer agora mesmo,
estou louco para estrear meu quarto. — Vem para mais perto e me puxa até
estarmos com os corpos colados, agarra-me os cabelos e me encosta na grade
da sacada.
— Nunca trouxe uma garota para cá, por que?
— Porque sempre quis trazer para a casa dos meus pais apenas aquela
que seria minha esposa, no caso você! — Suspiro com sua declaração, o beijo
com ardor, uma necessidade desenfreada dele se apodera de mim.
Como da outra vez no beco lateral do internato, ele pega minha perna e
a coloca na sua cintura, colando nossos corpos ainda mais, gemo com os
meus movimentos enlouquecedores, que mesmo com camadas de tecidos
entre nós causa o atrito magico. Então, meu estômago ronca, fazendo-o
recuar com seu olhar safado, outro detalhe da gravidez, estou constantemente
com fome.
— Vamos, vou alimentar vocês dois, teremos muito tempo para
estrearmos o quarto! — Diz deixando-me com a promessa e hormônios
enlouquecidos.
Descemos as escadas de mãos dadas, mas ainda estou indecisa do que
eu quero mais no momento, porém minha barriga ronca novamente e sei qual
a prioridade.
Sim!
James
Se a felicidade tivesse um corpo humano, com certeza teria o meu
rosto. Olho ao redor da mesa de jantar da minha mãe, onde estão as pessoas
que mais amo no mundo, minha mãe, meu pai — mesmo com tudo que
aconteceu no passado, nunca deixei de amá-lo, — Eloise e Luke, amigos que
sempre estiveram ao meu lado.
E agora, tenho meu lindo Anjo de olhos azuis, que sem dúvida já tem o
carinho e respeito de toda a família, a forma carinhosa como meus pais a
olham, se certificando de que esteja se alimentando bem, o que não tem
acontecido. Darla ficou abalada com as lembranças do sonho ou memória
guardada, está um pouco distraída, volta e meia vejo um lampejo cruzar seus
olhos ela paralisa como se lembranças perdidas surgissem, depois volta ao
normal. Jurei a mim mesmo que vou descobrir o que aconteceu com ela, sei
que no Blue Light deve haver registros e eles não podem se recusar a dar tais
informações a ela.
Estou com a percepção aguçada hoje, tanto que não perco o fato de que
Eloise me olha a cada cinco minutos e sorri. Devo estar com a maior cara de
bobo, e quer saber? Não me importo, estou feliz como nunca pensei ser
possível.
Involuntariamente minhas mãos tocam no bolso da minha calça e sinto
os contornos do anel, não brinquei quando falei para ela sobre casamento
mais cedo. Estava em Mônaco quando o vi em uma vitrine, era como se
estivesse me chamando, entrei na joalheria e o comprei na esperança de
reencontrar aquela que eu queria como esposa. E é chegada a hora de fazer
algo que deveria ter feito há meses se ela não tivesse sumido.
Levanto da mesa e peço a atenção de todos, minha mãe me olha de
forma encorajadora, respiro fundo e começo a fazer o monólogo mais
importante da minha vida toda.
— Muitas vezes você passa a vida atrás de algo que nem se dá conta ou
desconfia sobre o que seja, mas mesmo assim busca, no meio tempo podem
aparecer alguns enganos e erros, mas você não deixa de seguir, não deixa
porque se está numa jornada rumo a felicidade, não volta atrás, nem para no
meio do caminho, você continua e continua. — Olho em volta da mesa até
que meus olhos pousam nela, meu ponto de chegada. — Eu quis parar, quis
me esconder do mundo por um tempo, mas existia uma força que me
impulsionava sempre para frente, além da minha prima e super amiga Eloise,
que sempre me fazia um belo discurso sobre como eu tinha que viver.
Olho para Eloise, que agora tem os olhos marejados e me manda um
beijo silencioso com um sorriso de incentivo.
— Mas essa força invisível me levou a você, Darla, era como se tudo
que passei fosse para me fazer crescer e amadurecer, para quando você
aparecesse eu saber valorizar o que a vida tão gentilmente estava me dando.
Estendo-lhe a mão, que logo é agraciada com o contato da sua,
fazendo-a ficar em pé.
— Hoje perante a minha família, que agora também é sua, não só por
que trazes uma criança no ventre, mas porque conquistou seu lugar nela antes
mesmo que soubesse que seus Anjos, como se refere a eles, serão os avós
dele. Eles já a amavam como filha, e eu? Eu preciso de você para conseguir
respirar. Eu te amo mais do que posso descrever e não me imagino mais nem
um minuto longe de você, Anjo.
Retiro o anel do meu bolso e o seguro diante dela.
— Case comigo Darla, dá-me a honra de tê-la como esposa, perante
Deus e os homens, que jurarei que nada me manterá afastado de ti, mesmo o
dia depois de partir deste mundo, estarei ao seu lado, casa comigo?
Seus olhos brilham de lágrimas que transbordam, surpreende-se com o
anel que lhe estendo com gesto terno e cheio de amor, estou parado e nervoso
esperando sua resposta. Parece que se passam anos, não segundos, até que ela
me encara de frente para depois se atirar nos meus braços enquanto responde.
— Simmmm, eu caso!
Então hesita, afasta-se um pouco e me olha com cautela, como se
receasse por algo.
— Oh meu Deus, James, tem certeza? Não precisa fazer por
obrigação... — Não penso em nada além de silenciá-la com um beijo, sei que
do contrário as engrenagens do seu cérebro trabalhariam contra mim.
— Darla, mesmo que não estivesse grávida, ainda sim eu a quereria
como esposa. Comprei o anel em Mônaco, como poderia imaginar que você
estivesse grávida?
Ela relaxa visivelmente nos meus braços, aproveito para colocar o anel
no seu dedo, todos aplaudem. Estou mais do que feliz em estar na presença
deles, mas não me importaria de subir agora mesmo e me perder na minha
linda noiva, de forma alguma.
Darla
Todos se levantam para nos cumprimentar, acho que estou no céu antes
mesmo de morrer, ou naquele dia que James me acertou com sua moto, entrei
em coma profundo e desde então estou dormindo e vivendo um sonho lindo,
tudo bem que está preenchido de altos e baixos, mas ainda assim lindo.
— Bem vinda a família, Darla! — O Sr. Duran me cumprimenta com
um abraço.
— Obrigada, Senhor! — Respondo.
— Oh, por favor, me chame de Marlon, já somos da mesma família e
logo será oficial.
Enquanto estamos presos na nossa bolha de felicidade, sinto um leve
tremor no meu ventre, algo parecido com aquela sensação de ansiedade, mas
não é isso, esse pequeno movimento traz lágrimas aos meus olhos, não tenho
experiência quanto a isso mas sei que é minha menina dando sinal que está
crescendo.
E sim ainda acho que é uma menina, olho em volta e todos me olham
enquanto estava no meu momento mãe de primeira viagem, sendo encantada
com a gravidez!
— O que foi, está sentindo algo? Luke? — James ao ver meus olhos
lacrimejarem se assusta.
— Nada de ruim na verdade, o bebê acaba de mexer só isso! — Seus
olhos se arregalam, ele então segura os dois lados da minha barriga e espera,
mas nada acontece.
— Seu bebê mexeu? Oh meu Deus, que felicidade! — Eloise bate
palmas empolgada.
— Por que não mexe mais? — James me olha com ar de decepção, seu
beicinho se projetando um pouco.
— Cara, não é assim que acontece, provavelmente só mexerá depois de
algum tempo! — Luke ri e ganha um tapa no braço de Eloise.
— Não estrague o momento deles! — Eloise pisca o olho e se levanta.
— Não sei vocês, mas eu estou no limite de cansaço, então, tenham uma boa
noite!
Ela lança um sorriso cúmplice a James antes de acompanhar Luke até a
porta depois que se despedem, em seguida vai para seu quarto.
— Bem, também preciso ir! — Anuncia Marlon, vejo um olhar triste
que se passa entre ele e Márcia, gesticulo para que James fale algo, não é
justo esses dois permanecerem longe.
— Por que não fica, pai? Não é como se não fosse sua casa também. E
precisamos conversar. — Sorrio orgulhosa do meu noivo.
— Isso mesmo, querido, fique! — Márcia diz toda sorridente, eles
continuam se olhando enquanto nos despedimos e subimos para o quarto.
Sei que é bobagem, mas me sinto nervosa, é como se fosse a nossa
primeira vez novamente, olho para a cama, em seguida para a varanda, tem
algo que me atrai nela, caminho até lá, sinto a brisa suave da noite, vejo as
luzes ao longe, já que essa área é pouco habitada.
— Você está muito quieta, não sei se gosto de vê-la assim, está
preocupada? — James me abraça, deixo meu corpo relaxar junto ao seu.
Suas mãos repousam na minha barriga, como mais cedo sinto o mesmo
tremor no meu ventre é como ter milhares de borboletas a baterem suas asas
dentro de mim.
— Eu senti, meu Deus, é o nosso pequeno milagre dizendo oi!
Vira-me, então ajoelha-se e conversa com minha barriga.
— Sei que você está aí todo...
— Toda, já disse que é uma menina! — Afirmo e ele ri.
— Certo! Está toda protegida e não vai entender nada do que esse
bobo está falando, mas você já é muito amada. Se tem tanta certeza deve ter
um nome em mente não?
— E tenho mesmo! Isabelle. Ela se chamará Isabelle! — Não sei, mas
desde que descobri a gravidez, esse nome não me sai da cabeça.
— Lindo, assim como ela será! Bem, Bellie, espero que esteja
dormindo, porque seus pais tem um certo ambiente para inaugurar! — Diz já
levantando trazendo meu vestido no processo.
Em segundos estou ao seu dispor, suas mãos sobem por todo o meu
corpo. Suspiro quando sua boca desce pelo meu pescoço, onde suas mãos
passam, seus lábios as seguem, assim que me levanta, enlaço minhas pernas
na sua cintura.
Seus movimentos provocativos ao me encostar na grade da sacada me
tiram o fôlego, não ligo mais para nada!
— Não vamos fazer o que fazemos na cama aqui, não quero audiência
para a minha linda noiva. Temos que nos contentar com a cama.
Não consigo responder, então só gemo desejosa. Volta a me beijar,
enquanto vamos para a cama, ele me coloca com cuidado, em seguida o vejo
se despir e não há nada mais lindo do que o corpo tão bem esculpido de
James, mesmo que tenha perdido alguns quilos, seus músculos continuam
lindos.
Volta para onde estou, beija meus lábios e vai descendo, desce...
Então estou surpresa com a grandiosa explosão que meu corpo sofre
quando chega ao seu destino final, ofego e chamo seu nome, não enxergo
nada mais, ele volta a me beijar e está em mim completamente.
Movimentos ritmados, sempre que investe sinto uma nova onda de
prazer se apoderar de mim. Estou vendo estrelas, as mais brilhantes estrelas
que existem, no céu que apenas nós podemos ver.
— Darla! — Clama e sei que também está comigo sobre nosso céu
estrelado e assim será para sempre, nós dois vivendo sobre o mesmo céu por
dias e noites sem fim.
Nossos erros
Darla
Acordo antes de James, os resquícios de mais um sonho estranho ainda
vindo ao centro da minha mente, diferente da noite passada, não lembro bem
o teor deste. Viro-me e olho em volta, vejo como meu amor é lindo, tenho
sorte de ser a sua escolhida, já não imagino mais como seria minha vida sem
ele, mesmo quando estávamos distantes um do outro, ele era uma parte
importante da minha vida.
— Pare de me observar enquanto durmo, Darla! — Ele resmunga,
abrindo apenas um olho.
— Se estivesse dormindo, não estaria falando, não acha? — Retruco
entrando o seu jogo.
— Estava dormindo, mas sempre que me olha meu corpo reage, foi
assim que acordei! — Vira-se e me prende embaixo do seu corpo, deixando-
me sem fôlego com a velocidade dos seus movimentos.
— E se acordo eu quero um bom dia adequado!
Começa a me beijar, estou entregue no instante que nossas línguas se
encontram. Mas hoje não estou com tempo disponível para fazer tudo que ele
pretende e vejo claramente o que quer fazer, tenho consulta às nove, antes
quero ir ao Blue Light, rever Eve, Nial, e Daia, e pela primeira vez em anos
consultar meus registros, pode ser que lá encontre um endereço ou número de
telefone. Ontem vendo a família de James senti que preciso resolver a lacuna
da minha também.
— James, preciso de sua ajuda! — Falo e ganho sua total atenção.
— Com o quê? — Puxa-me até que esteja sentada de frente para ele.
— Quero descobrir o que realmente aconteceu comigo, começarei indo
ao internato assim que levantarmos, não sei, mas algo me diz que aquele
sonho é na verdade uma lembrança que mantive escondida por todo esse
tempo, quero saber porque fui deixada no Blue aos cinco anos. O sonho da
outra noite me deixou intrigada, agora quero saber minhas origens, para no
dia que nossa filha perguntar, eu ter uma resposta.
— Claro que ajudo, já pensei sobre isso, estarei ao seu lado, seja qual a
resposta que tiver. Mas, antes, precisamos tomar café da manhã, além de que,
temos consulta com Luke, estou louco para ter certeza quanto ao sexo do
bebê. Apesar de que, comecei a me acostumar com a ideia que é Isabelle,
acho que devemos pensar em um nome do meio também!
— Sim pensaremos em um nome do meio para ela, mas antes da
consulta quero ver Eve e todos do Blue Light, estou com saudades, na minha
ânsia de me manter longe de você, acabei me afastando de todos. —
Confesso envergonhada.
— Quando não podia estar mais perto! — Ele ri, me beija e me ajuda a
levantar, para que juntos tomemos um banho reconfortante de banheira, logo
estarei tão enorme e cansada que não vou mais querer sair de dentro dela.
James
— Ainda não acredito que serei avó! — Diz minha mãe, pelo que deve
ser a milésima vez. — E olhe para minha família reunida novamente! Ahhh
Darla, nunca serei grata o suficiente, depois que você chegou nas nossas
vidas só nos trouxe alegrias, obrigada minha linda!
— Nisto eu concordo mãe, achei que nunca mais íamos estar assim,
todos reunidos, agora com mais dois integrantes na família! — Pego a mão
da minha noiva e a beijo.
— Eu sei que a grávida aqui é Darla, mas eu acho que vou chorar. Ai,
odeio chorar logo pela manhã. Para resolver isso só uma festa! — Os olhos
de Eloise estão lacrimejando mesmo com seu sorriso.
— Isso mesmo! — Meu pai se pronuncia pela primeira vez, — Uma
festa de noivado, assim apresentaremos Darla aos amigos da família, sei que
ela será bem acolhida por eles. E se não for arranco as tripas de quem a olhar
estranho!
— Menos, meu bem! — Como sempre dona Márcia permanece a mais
calma de todos os Duran.
— Mas concordo com a ideia da festa, vou falar com Miriam, saber se
sua mãe já voltou de Nova Iorque para poder organizar a festa para nós.
— Miriam, minha colega de trabalho? Não sabia que a mãe dela era
organizadora de eventos. — Darla pergunta curiosa.
— Sim, ela é uma das organizadoras de festa e eventos mais
conceituadas do país. E também é minha amiga. Sinto muito orgulho de tê-la
como amiga, nos conhecemos desde criança, depois ela viveu um tempo em
Londres e hoje é essa mulher super ocupada.
— É surpreendente o quanto você descobre em menos de uma semana
sobre as pessoas a sua volta. — Diz minha menina impressionada
— Está vendo, cedo ou tarde eu a encontraria! — Digo ao beijar o lado
da sua cabeça.
Como o assunto se tornou festa e provavelmente incluirá decoração
comidas e essas coisas, descido que é o momento de por uns pingos nos i’s
com meu pai.
— Agora se nos dão licença, pai, podemos ter aquela conversa? Amor
volto logo.
—Tudo bem! — Sorri para me encorajar.
Levanto e vou para o escritório do meu pai, seguido por ele, entro e
sento na cadeira em frente à sua mesa, esperando que ele sente-se naquela
que sempre foi sua, no entanto, senta-se na cadeira ao lado da minha. Sinto
que está nervoso, o que é inédito para mim, nunca vi meu pai agir que não
fosse com a segurança de quem tem a verdade absoluta. Um dos grandes
motivos de nossas desavenças.
— Eu começo ou o senhor fala primeiro? — Pergunto com suavidade,
não quero discussão, pelo contrário.
— Você primeiro, por favor! — Acho que não reconheço mais o meu
pai, ou deixei que só os seus defeitos ficassem gravados.
Respiro fundo, reunindo tudo que desejo falar, que são algumas coisas,
no entanto, há algo que tenho que fazer primeiro. Levanto nervoso, ando de
um lado ao outro no cômodo espaçoso, antes de parar de frente para ele
novamente.
— Antes de tudo, devo-lhe um muito obrigado por tudo que tem feito
por Darla e meu filho, antes que fale que é seu neto, devo lembrá-lo que não
sabia desse detalhe, então sou mais grato ainda.
— Eu fiz isso por ela, não tenha dúvidas! — Realmente não tenho.
Dito isso, preciso ir para a parte difícil, voltar para o momento em que
o meu super herói virou vilão.
— Mas não posso esquecer o que aconteceu, então tudo está confuso na
minha cabeça agora, o homem que apoiou uma garota grávida sozinha é o
mesmo que foi meu super herói por muito tempo, no entanto, contrasta com o
implacável que fez uma proposta suja e nojenta para outra garota anos atrás.
Garota essa que esperava um neto seu e dessa vez você sabia.
Na minha mente começo a fazer uma lista de pros e contras para o meu
pai, como se assim pudesse resolver a grande confusão que está entre ela e o
meu coração, onde um quer ter mais poder do que o outro na decisão de
perdoá-lo ou não.
— Eu até agora não entendo por que fez aquilo, poxa vida, era seu neto,
você sabia disso e com Darla, você nem tinha como saber ainda. — Respiro
fundo, preciso me controlar. — No entanto prometi que o ouviria, para tentar
entender seus motivos.
Sento-me e aguardo que comece, espero que seus motivos sejam
convincentes, pois realmente quero voltar a ficar bem com ele, meu filho
merece nascer em uma família unida, como Darla também.
— Não há desculpas que possa dar que me faça sentir menos culpado,
eu realmente sinto muito. Quando fiz aquela proposta à Alana, não esperava
que ela aceitasse, por que aceitaria se dizia te amar? Vocês estavam
planejando se casar e tudo, caso não lembre, eu nunca fui contra o
relacionamento.
Isso é verdade, quando comuniquei aos meus pais que tinha o interesse
em pedir a mão de Alana em casamento, ele me presenteou com o
apartamento, disse que um homem merece ter para onde levar sua esposa
após o casamento.
— Alguma coisa me dizia para manter um pé atrás com ela, tinha uma
ambição em crescer profissionalmente mesmo louvável para uma jovem, mas
havia fatores que no meu ver poderia ser um grande problema para você no
futuro. Alana nunca se esforçou para esconder o fato que algumas coisas
viriam em primeiro lugar, você não era uma delas. Foi meu lado pai
preocupado que decidiu arriscar, infelizmente, estava certo quanto ao caráter
dela. Não pensou muito antes de aceitar.
— Então não insistiu para que ela aceitasse? — Pergunto sem entender.
— Não, ela aceitou logo que fiz a proposta, por que a pergunta? — Ele
parece confuso.
— Acreditei quando ela disse que você insistiu muito no assunto, que
não permitiria que eu cometesse o erro de assumir um filho tão jovem, que a
convenceu com o argumento que meu filho seria um estorvo indesejável para
a família, e que o seu amor por mim a fez escolher o aborto.
— Que absurdo, eu jamais disse algo assim, ela que me pareceu
bastante aliviada em não ter que seguir adiante com a gravidez, como disse
aceitou sem pensar duas vezes. — Vejo que está falando a verdade pela sua
fisionomia que muda drasticamente de cor.
É a vez dele levantar e andar de um lado ao outro irritado.
— Não acredito que tenha sido tão idiota! Quando fiz a proposta a ela,
imaginei que me mandaria ao inferno, deixei-a sozinha para pensar por
alguns minutos, quando retornei ao quarto ela já havia assinado toda a
papelada e tinha sido encaminhada para fazer os exames necessários para o
procedimento. Tomou a decisão dela e já não cabia a mim o futuro da
gestação, por isso não tive como desfazer o que disse, cheguei a pensar que
ela pudesse desistir de tudo, não foi o que aconteceu. Já não era apenas uma
jogada, ela havia decidido e fez.
Estou atordoado agora, eu sempre achei que o grande vilão dessa
história havia sido o meu pai, acreditei em todas as mentiras de Alana, confiei
no seu choro arrependido, mesmo não querendo vê-la nunca mais.
— James, foi isso o que Alana te contou, ela me pintou como o grande
mostro da história, certo? — Coloca uma mão no meu ombro e aperta para
me consolar.
— Sim. Eu acreditei, fui uma marionete nas mãos dela nessa história.
— Percebo.
— Todos fomos, filho! Quando ela saiu do hospital chorosa e
arrependida, jurando amá-lo e lamentando ter perdido o seu amor, me senti
mal. Mandá-la para Nova Iorque foi a forma como achei que iria solucionar
as dores de ambos, senti que havia destruído a vida dos dois por ter feito a
pergunta na hora errada ou de uma forma que não tivesse como recusar, todo
esse tempo isso me atormentou. Mas agora, vejo que estar na posição que tem
hoje, era tudo o que ela almejava. E para ser sincero filho, já não sinto tanta
culpa, não mais.
— O que mudou?
— Darla!
— Como assim? — Não sei o que tem uma coisa a ver com a outra.
— Voce me acusou de ter acolhido e protegido uma desconhecida
grávida e não ter feito isso a mãe do seu filho. Pois bem, Darla estava
sozinha, recém contratada, sem o pai da criança por perto e sem entender
muito de leis pelo visto. E assim que descobriu da gravidez a primeira coisa
que assumiu foi que seria demitida. Alana não pestanejou, o que me leva a
crer que a ideia de aborto já estava implantada na sua cabeça, esperou apenas
um empurrão final para concretizar.
Agora com os fatos colocados assim, tenho uma visão mais completa
de tudo, posso sentir a diferença nas atitudes e me sinto ainda pior por ter
cometido o erro e chamar Darla pelo nome de Alana. Ela passou por tanta
coisa sem que eu estivesse ao seu lado. Por sorte teve a ajuda dos meus pais.
— Desculpe-me papai, julguei-o tão duramente, quando deveria ter
parado para ouvi-lo no início de tudo, sou seu filho, deveria acreditar no seu
amor por mim. — Peço, agora sou eu o envergonhado.
— Não, eu que peço perdão, eu errei, tive a minha pena justa, no
entanto, parece que ela foi cumprida. — Sorri.
Olho para o meu pai com novos e antigos olhos, vendo-o como vi por
quase toda a minha vida, por mais que ele tenha errado, errei também em ser
tão cabeça dura, foi preciso que Darla entrasse na minha vida para que
pudesse enxergar a situação com outros olhos.
— Será que mereço um abraço? — Diz levantando, logo estou em pé
também.
— Sem dúvidas!
Abraço o meu pai como há muito não fazia, sentindo a segurança dos
laços de família. Mesmo hoje homem feito, ainda me sinto no lugar mais
seguro do mundo ao estar envolto pelos braços do meu super-herói.
Sempre acerto!
Darla
Estou nervosa, faz quase uma hora que James saiu para conversar com
Marlon, espero que estejam se entendendo, quero muito que isso aconteça,
essa família, que agora é minha também, merece estar unida.
— Não acha que estão demorando muito? — Pergunto olhando para
Márcia.
— Não tivemos indício de nada se espatifando na parede, acho que
estão bem. — Diz Eloise sorrindo.
Olho ansiosa na direção por onde seguiram, queria estar lá com ele
dando força.
— Veja estão vindo! — Márcia diz baixinho.
Voltamos para posição de quem conversa algo banal, como se desde
que saímos da mesa e viemos para sala, não tivéssemos feito o mínimo de
barulho possível.
— Já está pronta, Anjo? — James pergunta ao se aproximar.
— Mas falta ainda mais de uma hora filho, deixe que Darla coma mais
um pouco! — Márcia diz de forma carinhosa.
Olho para meu noivo, buscando alguma pista da conversa, sua
fisionomia está calma e sorridente, assim como Marlon que dá a volta na
mesa até parar junto a Márcia e beija seus lábios de forma delicada.
— Estou satisfeita e ainda vamos passar no Blue Light para que eu
possa rever a todos. Vamos? — Levanto-me e recebo meu beijo carinhoso.
Nos despedimos de todos e saímos, assim que estamos longe dos olhos
de todos, sou envolvida por seus braços que me mantém bem junto de si,
como se me ter assim fosse o antídoto para uma dor profunda.
— Ei, o que foi? — Aliso seu cabelo.
— Ela me enganou todo esse tempo Darla, me fez brigar com meu pai,
achei que ele tivesse sido o mais errado na história toda, quando na verdade,
teve participação mínima. Fui tão burro, acreditei nela mesmo depois do que
fez. — Sussurra com a cabeça junto ao meu pescoço.
— Nunca pensou em conversar com sua mãe, ela certamente sabia a
verdade. — Digo sem acusá-lo.
— Sinceramente, não. Quando questionei o meu pai sobre ter feito a
proposta e ele ter confirmado me recusei, a partir dali, falar sobre isso com
alguém, até mesmo minha mãe.
— Sinto muito, Jem, de verdade! — Realmente sinto. Não sei o que
leva uma pessoa a ter atitudes tão baixas.
— É como se tivesse tirado um grande peso das minhas costas, acho
que agora posso realmente ser feliz. — Levanta o olhar para mim.
— É?
— Sim, tudo isso graças a você. Agora vamos tentar descobrir sobre
sua família, para nossa felicidade ser completa! — Beija-me os lábios antes
de voltarmos a andar em direção ao grande portão do internato.
Sinto um frio na barriga quando olho para a enorme construção da
virada do século passado, reformada para se adaptar à modernidade
contemporânea. Enfim estou voltando ao lugar que foi meu lar e dessa vez
tenho uma boa perspectiva para o meu futuro.
Somos recebidos por Eve ainda na frente do internato, ela me abraça
forte, está emocionada ao ver minha barriga protuberante, a acaricia e olha de
soslaio para James.
— Espero que saiba cuidar do presente que os céus lhe estão dando,
essa menina vale mais que ouro e prata juntos. — Diz séria.
— Cuidarei, não tenha dúvidas! — James estende um braço e envolve
minha cintura. Ela sorri, percebe que estou feliz, para ela é o que importa.
— Ele está cuidando, Eve, infelizmente não temos muito tempo, mas
gostaria de saber se podemos voltar aqui depois e ver meu arquivo, se for
possível? — Peço a ela, assim quando voltar estará por dentro de tudo.
— Claro, mas posso saber o motivo? Foi você quem nunca quis saber
nada sobre seu passado. — Ela olha de mim para James.
— Acho que chegou a hora de saber mais sobre mim, preciso ter uma
história para contar a esse serzinho daqui alguns anos, mesmo ela não sendo
feliz. — Digo acariciando minha barriga.
— Certo, pode contar comigo! — Sempre soube que teria a ajuda dela
para qualquer coisa, nesse momento só confirmo que nunca me engano.
Entramos no internato e assim revejo as minhas lindinhas, desde as
muito pequenas até a mais amiga de todas, Bella, que não para de pular ao me
ver acompanhada de James, sua expressão de surpresa com minha gravidez é
impagável.
Depois de todas as falações e risos no Blue, seguimos para a
maternidade onde Luke costuma me atender, que na verdade é mais um dos
hospitais gerenciados pelo DMC. Chegamos na recepção e somos logo
encaminhados para o consultório onde ele nos aguarda, as mãos de James
transpiram, me divirto com a sua ansiedade, Luke percebe e pede que eu me
troque no banheiro adjacente.
Enquanto me troco escuto a conversa dos dois, assim percebo o quanto
esse filho — é filha, me corrijo — é importante para ele.
— Eu sei que para você ainda é difícil acreditar que tudo está
acontecendo, mas vou pedir que tente controlar sua ansiedade, Darla é
saudável, o bebê está bem, mas se tiver alguém ansioso ao lado, ela pode vir
a desenvolver um caso de ansiedade também! — A voz de Luke é a de um
amigo que sabe o que diz.
— Eu sei Luke, é só que... ainda tenho aquele sentimento de culpa. E se
ela não tivesse encontrado os meus pais? Poderia estar sozinha até agora, por
uma burrada minha.
Há raiva e arrependimento na sua voz, começo então a ver como deve
ter sido acordar e não me ver ao seu lado.
— Minha maior ansiedade é imaginar que não sou bom o suficiente
para ela, é bem verdade que me perdoou e até aceitou meu pedido de
casamento. Mas penso em tudo que ela deve ter passado, logo no início,
assim que descobriu a gravidez, mesmo com meus pais ao seu lado. Eu não a
mereço, nem mereço ser tão feliz como estou agora Luke!
— Pare de se martirizar, ela deve estar vindo já, vamos logo descobrir
como está o bebê e ver se podemos ver o sexo!
—Certo! — Talvez eu precise ser mais incisiva quanto a precisar dele
também.
Espero mais alguns segundos antes de sair, assim eles não percebem
que ouvi a conversa toda. Luke pede para que me deite na cama próxima ao
aparelho de ultrassonografia, assim o faço com James ao meu lado,
segurando a minha mão enquanto ouvimos as explicações do procedimento.
— Essa será uma ultra comum, mas no próximo mês faremos a
morfológica, com ela poderemos ver melhor o desenvolvimento do bebê,
além de que poderemos saber sobre possíveis problemas de saúde, não que eu
ache que ele tenha algum, é simplesmente um procedimento padrão para
todas as gestantes.
Acenamos com a cabeça, nenhum de nós com vontade de pensar sobre
problemas de saúde do nosso milagrinho, sei que estará tudo bem.
“Que tudo esteja bem!” Peço em silêncio. Luke passa o gel na minha
barriga e começamos a ver a imagem no monitor a frente, é a coisa mais linda
do meu mundo, ele faz algumas medições, circunferência da cabeça, fêmur ...
As lágrimas vêm assim que escuto o som acelerado de um coração
saudável, é um som muito bem-vindo aos nossos ouvidos, olho para James
que também tem os olhos lacrimejados.
— Então vocês têm preferência de sexo? — Pergunta Luke de forma
brincalhona.
— Na verdade não! —Respondemos juntos.
— Darla está preparada para o assédio das mulheres?
Meu semblante murcha na hora, não é uma menina, mas se parecer com
o pai será lindo e bem assediado, mas estava errada dessa vez.
— Por que quando James sair com sua princesinha sozinho, ele ficará
irresistível! Parabéns vocês serão pais de uma menina!
O mundo para de girar, estou olhando para o amor da minha vida e pai
da minha filha. Eu sempre soube, nunca erro, as lágrimas descem ainda mais
agora.
— Você estava certa! Obrigado, Anjo, nossa Isabelle será muito
amada! — Há lagrimas querendo transbordar dos seus olhos.
Ele me beija carinhosamente, então o vejo desmoronar, seus joelhos
cedem fazendo o cair. Então ele chora e eu sei que esse é o momento em que
a realidade o atinge, assim como aconteceu comigo dois dias depois que
descobri que estava grávida.
Luke me avisa que vai se retirar para nos dar um pouco de privacidade.
— Ficaremos com você para sempre, James, eu te amo, nossa menina
também amará!
Seguro sua mão enquanto ele soluça, apenas o confortando, assim ele
saberá que estou aqui e permanecerei por um bom tempo, a vida inteira eu
espero!
Cyntia?
James
A emoção de ouvir pela primeira vez o coração da minha filha, não tem
preço, saber que realmente será uma menina, uma graça sem tamanho, chorei
como um menino, mas não fiquei só, meu lindo Anjo estava lá comigo,
manteve sua mão protetora sobre mim, foi o que me fez despertar do meu
estado inerte, ajoelhado ao pé da maca onde ela esteve deitada durante o
exame de ultrassonografia.
Agora estamos em um shopping, mais precisamente em uma loja de
artigos infantis, quero desde agora comprar tudo que nossa menina precisará.
Estou com os braços cheios de vestidos, sapatos, mamadeiras e muitas outras
coisas, nunca estive em uma loja assim, não tenho como saber o que é
preciso, por via das dúvidas vou levar de tudo, assim nada faltará.
— A senhorita bem que podia dar uma forcinha aqui, não acha? —
Pisco para minha linda futura esposa, que permaneceu sentada no mesmo
lugar desde que chegamos, apenas sentou e ficou me observando.
— E acabar com a sua diversão? Acho que não, se bem que... —Vem
até onde estou e começa a selecionar o que levaremos, fico assustado ao ver
que ela tirou praticamente tudo que escolhi.
— Mas assim nossa filha não terá o que vestir e sabe que não me
agrada que ela esteja sem roupa nem mesmo ainda dentro do seu ventre. —
Brinco, mas no fim é bem verdade.
— Ela não ficará sem roupas, apenas essas que escolheu são para
meninas de no mínimo seis meses e os sapatos, deixe essa parte comigo,
certo? Preocupe-se em ser o papai bobo que irá se derreter ao vê-la vestida!
— Mas, eu gostaria de poder ser aquele tipo de pai que passa em um
determinado lugar e acha algo bonito e o compra para sua filha, não me tire
esse prazer Anjo? — Tento o meu charmoso beicinho que sempre funcionou
com minha mãe, vejo-a ficar indecisa e enfim ganho.
— Não vou tirar isso de você, prometo, mas por enquanto, seguiremos
por minha intuição. Você pode escolher o berço, o que me diz?
Essa oferta está melhor que a anterior e lembrando das palavras de
Luke sobre como ansiedade demais em torno de uma grávida pode afetá-la
aceito. Mas, pensar em berço me lembra sobre onde iremos morar, não sei se
o apartamento é muito adequado para um bebê, cresci em uma casa espaçosa
onde podia brincar a vontade, não quero minha menina privada disso.
— Já pensou onde você quer morar? — Pergunto enquanto acaricio seu
rosto lindo. Não consigo manter minhas mãos longe por muito tempo.
— No apartamento, para mim está ótimo. — Ela me olha de lado. —
Mas, irei para qualquer lugar com você!
Fico satisfeito com sua resposta, faço uma nota mental para discutir o
assunto com meu pai mais tarde.
— Só quero que seja perto da empresa, não quero ter que me
locomover muito quando essa barriga estiver enorme.
— Como assim, você vai ficar em casa até ela ter uns dois anos! Não
precisa trabalhar eu cuido disso! — Pensar em Darla andado por aí com uma
barriga enorme muito me assusta.
— Nada disso, vou trabalhar até quando der, depois que ela nascer
veremos, mas até lá não abro mão disso, eu gosto do que faço, gosto da
sensação de me sentir útil, então, não venha querer tirar isso de mim, estamos
entendidos?
Na verdade não estamos. Mas evito discussão com ela, a sombra do
medo que tenho que ela vá embora me impede de impor minha vontade, pelo
menos fora do nosso quarto, lá ela se entrega a mim e me torno dono e senhor
do seu corpo.
Mas meu coração, este fica nas suas mãos durante vinte e quatro horas
por dia, sete dias por semana.
Darla
— Ora, vejam só, estamos interrompendo esse momento íntimo dos
pombinhos, acho que devemos chamar um médico, papai faltou a um dia de
trabalho!
James brinca com seus pais, fico feliz ao perceber que a inimizade entre
eles está acabada.
— Não ia conseguir trabalhar, hoje foi um dia de grandes descobertas,
decisões a serem tomadas e queria está qui para saber a grande resposta. —
Marlon pergunta, me sinto muito feliz.
— James, por favor acabe logo com nossa ansiedade? — Pede Márcia,
ao aproximar-se.
— Mãe, espero que não tenha jogado fora o rifle de tiro ao alvo do
papai, pois desconfio que poderemos precisar, se quisermos manter a
macharada longe da nossa menina! — Ele anuncia satisfeito
— Não acredito, vou ser avó de uma menina, alguém para quem
poderei mostrar batons e saltos e que não vai virar a cara enojado! — Assim
como os de Márcia os olhos de Marlon brilham, mas ele nada diz, apenas
vem até mim e me abraça forte.
— Que criança linda que será uma menina de vocês dois, não acha
Marlon?
— Sim, claro, será uma linda princesa nossa netinha!
A campainha toca nos interrompendo, viro para ir até a porta, mas
Eloise vem da cozinha e passa por todos nós.
— Tia, Darla, tenho uma surpresa para vocês, adivinhem quem veio de
Nova Iorque assim que soube que precisamos organizar uma festa?
Uma mulher que aparenta ter a mesma idade de Márcia caminha até
nós, ela tem um porte elegante, de quem convive no meio das grandes festas
e sabe onde ir
— Não acredito, Sol, você veio para me ajudar, que maravilha!
Márcia a abraça, então ela se vira para mim e congela no lugar, como
se tivesse visto um fantasma ou algo do tipo.
— Cyntia, é você? — Pergunta e me olha espantada
Sol
Foi com grande alegria que recebi a notícia que o filho da minha amiga
de infância vai se casar e como todo noivo precisa de uma festa de noivado.
Eloise já me adiantou que, como sempre, ficarei encarregada de todos os
detalhes, estou muito animada com isso, darei o meu melhor para ser perfeito,
não é por menos, graças a Márcia e Marlon minha empresa cresceu bastante
nos últimos anos, nada mais justo que contribuir para que essa noite seja
memorável.
Sei o quanto eles amam o filho e por tudo que passaram nos últimos
anos com o afastamento entre James e o pai. Farei tudo que estiver ao meu
alcance, sem hesitar, assim eles não precisarão se preocupar com nada na sua
noite especial, a não ser receber os cumprimentos dos convidados. Imagino
quantas pessoas estarão na lista de Márcia dessa vez, suas festas sempre
fazem o maior sucesso.
Pouso em O'Hare — Aeroporto Internacional de Chicago — às treze
horas e trinta minutos. Ótimo, assim poderei discutir todos os detalhes com
Márcia e sua futura nora, que segundo Eloise é um amor de pessoa.
Minha sorte com horários termina assim que entro no taxi, o trânsito
está caótico. Quando você está com pressa parece que tudo conspira contra,
quarenta minutos presa no trânsito, e só agora que enfim chego a casa dos
meus amigos de longa data. Cumprimento a todos os presentes e sigo para a
futura esposa de James.
Quando a vejo, meus olhos se arregalam. É a imagem perfeita da minha
amiga Cyntia há vinte anos atrás. Há anos que a vi, então não pode ser a
mesma pessoa.
— Cyntia? — A pergunta sai antes que controle minha lingua. A garota
parada diante de mim, me olha e sorri. Seus olhos incrivelmente azuis,
brilham.
— Desculpe-me mas deve estar enganada, meu nome é Darla, sou a
noiva de James! — Responde sorrindo de forma delicada e estende a mão,
exatamente como minha amiga faria.
— Mas não pode ser mesmo. Você, digo Cyntia tem cabelos loiros
claros, não castanhos, mas os olhos, o rosto tudo me faz crê que você é uma
cópia dela quando jovem. Qual o seu sobrenome mesmo? — Digo ainda
abismada enquanto retribuo ao aperto.
— Johnson, senhora! — Se é possível que coincidência exista, estou
diante de uma.
— Sol, minha querida, quem é Cyntia? — Márcia me pergunta
enquanto me acompanha até o sofá, deve ter percebido como minhas pernas
estão trêmulas.
— Te falei sobre ela alguns anos Márcia. A amiga que fiz em Londres,
durante o tempo que fiquei lá estudando, aquela que passou por aquela
terrível situação.
— Oh meu Deus, a que teve a filha sequestrada? — Sua expressão se
torna um tanto enigmática.
Confirmo com um aceno, mas ela não vê pois olha do filho para a
futura nora e em seguida para Marlon, esse permanece parado no mesmo
lugar.
— Pobre Cyntia, nunca se recuperou da perda da sua pequena Isabelle,
ela parecia um Anjo de tão linda.
Olho para a jovem a minha frente, seu rosto está pálido, James a
ampara carinhosamente, eles se olham em uma conversa silenciosa, não falo
mais nada, a garota está grávida e parece abalada com o que falei.
Não pode ser, seria possível que diante de mim, esteja a filha que
minha amiga procurou durante anos e ainda tem esperanças que um dia volte
para ela? Se isso for verdade tenho um trabalho muito mais importante do
que imaginei pela frente.
James
Minha linda está paralisada com as revelações que Sol acaba de fazer,
uma amiga que parece com minha Darla e mora em Londres, não viria a ser
coincidência de mais? Não sei, algo me diz que tem muito mais nisso, só que
preciso primeiro acalmar minha noiva, essa tensão toda não lhe faz bem.
— Se nos dão licença, Darla está um pouco cansada, vou levá-la para o
quarto! — Digo já indo em direção as escadas.
Ela permanece em silêncio todo tempo, mas assim que chegamos ao
nosso quarto desaba em choro, sei que seus hormônios estão enlouquecidos,
mas não me acostumo com seu pranto, acho que nunca me acostumarei.
— Ei, não fique assim, sei que está assustada ou preocupada com o que
tia Sol acaba de falar, mas não deve passar de uma coincidência! — Falo
mesmo não acreditando nisso.
— Não é, eu sei que não... como o nome Isabelle veio parar nos meus
pensamentos, e essa tal Cyntia que se parece comigo e mora em Londres? Eu
estou com medo, Jem. — Ela soluça e eu perco o chão, minha menina forte e
determinada com medo? Não posso permitir.
— Medo, de que meu Anjo? — Pergunto confuso, pensei que fosse seu
desejo descobrir sobre seus pais.
— De me deixar ter esperança. Sabe quantas vezes eu esperei ele
voltar, bem o sujeito que me deixou lá na verdade, e não aconteceu. Com o
passar dos anos até mesmo os presentes sumiram. Foi então que decidi não
querer saber de nada que envolvesse minha família. E se eu me der a
esperança de que talvez minha história seja diferente do que a venho
pensando todos esses anos e no final acabar descobrindo que tudo é como
sempre pensei que seria, e fui realmente deixada para trás, sem nenhum
valor? Eu não suportaria saber que fui rejeitada realmente.
Abraço-a forte, ela parece muito frágil nesse momento, pego-a em
meus braços e a deito na cama, deixo que coloque para fora tudo que está
sentindo, quero protegê-la de tudo, mas não se pode proteger alguém de algo
que você não sabe se existe ou é apenas um devaneio.
Então, só a mantenho juntinho do meu corpo, reconfortado o máximo
que puder. Essa será minha missão da vida, proteger e cuidar da minha
menina, não posso esquecer que apesar de ter uma personalidade forte e
decidida ela tem apenas dezoito anos e já tem passado por tantas coisas nos
últimos meses.
Ficamos assim até que sinto seu corpo relaxar e ela adormece, fico a
olhando dormir por algum tempo, então desço para tentar esclarecer algumas
questões, começando com o que a minha tia Sol —a chamo assim desde
criança — tem a dizer sobre sua amiga Cyntia de Londres, assim quando ela
acordar terei algo para reconfortá-la.
Desço para a sala e encontro Sol abalada com algo, minha mãe também
parece visivelmente igual, meu pai e Eloise não estão presentes, apenas as
duas, é minha oportunidade de fazer algumas perguntas para a amiga de
infância da minha mãe.
— Tia Sol. Acho que sua chegada foi como sempre de abalar, querida!
— Beijo-a no rosto, ela retribui o carinho como sempre fez, bagunçando meu
cabelo, parece que tenho cinco anos ainda.
— James querido, como está sua noiva, ela é muito bonita, filho! —
Sorri, mas seus olhos vermelhos me dizem que esteve chorando.
— Tia, vamos ser honestos agora. Você confundiu minha noiva com
uma amiga sua, que se chama Cyntia, mora em Londres, tinha uma filha que
se chamava Isabelle e foi raptada, qual a idade que essa menina teria hoje? —
Espero por sua resposta.
— Em torno de dezoito anos mais ou menos, sua noiva deve ter isso
não é verdade? — Aceno com a cabeça, então ela continua. — Sente-se
querido, vou contar como as coisas aconteceram para minha amiga quatorze
anos atrás.
Minha mãe acena para que eu sente, assim que o faço pega minha mão
e aperta para me reconfortar, mas não sou eu que estou realmente precisando
de conforto agora, e sim meu Anjo lindo que dorme lá em cima.
— Cyntia sempre foi apaixonada por sua família, mas seu trabalho
como como modelo, as vezes exigia que ela se afastasse de todos. Porém,
desde que sua menina nasceu ela parou de viajar, ficando apenas com
campanhas e comerciais que não exigissem muito dela. Antes que sua filha
completasse quatro anos ela teve que voltar a viajar, dessa vez para promover
a fundação que seu marido e ela estavam criando para o apoio de crianças em
situações de risco nas ruas.
Ela olha para minha mãe que tem os olhos marejados e tristes.
— Nessa viagem não poderiam levar a menina, depois de dois meses
longe, enfim, estavam de volta a Londres, lembro que ela me ligou eufórica
me convidando para comemorarmos os quatro anos da sua Anjinha, como ela
a chamava, mas não pude ir, estava em um estágio importante em uma
agência de eventos.
Começo a ver todo o cenário na minha cabeça se formando, a mãe
viajando, a menina só com alguém de confiança.
— Eles foram, no entanto, era uma surpresa para a menina, ela não
sabia que seus pais estavam de volta, eles a encontraram no Hyde Park, e foi
lá que eles a viram pela última vez, depois de sair para comprar sorvete com a
irmã de Cyntia, Maggie, ela sumiu. Encontraram Maggie amarrada em uma
casinha nos arredores da cidade cerca de uma semana depois, ela estava meio
fora de si, dizendo que ele não foi justo, eles tinham levado sua menininha.
Era ela quem cuidava de Isabelle desde que ela nasceu.
Meu deus, a tia Maggie do sonho de Darla!
— Eles a procuraram por anos, mas hoje acreditam que ela esteja
morta, infelizmente, bem Harry pensa assim as vezes, Cyntia não consegue
perder a esperança.
Eu a entendo, também não sei se desistira de procurar por minha filha.
— Dois anos depois Maggie se suicidou, ela nunca foi a mesma depois
daquilo, o pior foi que deixou uma carta onde contava que tinha participado
do plano de sequestro com um amigo da família, Gregory. Segundo a mesma,
era para ser apenas uma forma de chamar a atenção dos pais da menina, por
ter passado tanto tempo longe, mas sabíamos que na verdade ela sempre foi
apaixonada por ele, o cretino sabia desse detalhe e a envolveu direitinho, mas
no fim mudou de planos e decidiu agir sozinho, a espancou e largou em um
casebre para ser encontrada e fugiu com a menina. Nunca mais tivemos
notícias da pequena Isabelle Marie Johnson.
Estou paralisado com tanta coisa que ouvi, Darla pode ser essa criança
realmente, mas as coisas não fazem sentidos. Por que esse cara iria raptar
uma criança e depois abandoná-la e garantir seus estudos, é tudo muito
confuso?
— Meu Deus tia! Essa história é horrível, como puderam fazer isso
com uma criança, o pior que acho que essa menina pode ser sim minha noiva,
precisamos entrar em contato com os Johnson o quanto antes. — Quero
resolver isso para ontem.
— Podemos tentar, filho, eles estão na Amazônia brasileira. Pedirei ao
time de assessoria deles em Londres para que os localizem e peçam que
entrem em contato comigo, mas não acho que esse seja um assunto para se
tratar por telefone. Trabalhar pelo bem de crianças pelo mundo é a missão da
vida deles desde que perderam sua filha, a Johnson Foundation For Children,
tem feito um trabalho excelente nas periferias e regiões remotas do mundo
todo.
— Espere, eu conheço o trabalho dessa fundação, o DMC tem feito
parecerias com eles há muito tempo, vou pedir para o papai também entrar
em contato.
— Ele já está fazendo isso com Eloise, querido, por isso tiveram que
sair, como Sol bem colocou, é um assunto delicado, então é bom que seja
tratado pessoalmente. Seu pai saberá o que fazer. Já você, acho que deve ir
até sua noiva agora, ela vai querer sua presença quando acordar. — Mamãe
como sempre sensata.
Concordo com minha mãe, beijo as duas e subo. Quando entro no
quarto, não a vejo na cama mas escuto o barulho do chuveiro, vou até lá já
me despindo, quero tudo com ela, aceito até mesmo um simples banho de
chuveiro.
Mas nada é tão simples entre nós, assim que seus olhos me veem
assumem um brilho libidinoso, entro no box e a tomo nos meus braços, a
beijo como se a minha sanidade dependesse disso e talvez dependa mesmo,
ela é o ar que respiro, meu sol, meu céu.
Com cuidado, mesmo estando os dois molhados a pego nos braços e a
levo para nossa cama, é lá que quero me perder nela, esquecer todas as coisas
horríveis que possivelmente acabei de descobrir sobre seu passado. Agora
somos só eu, ela e nossos corpos se movimentando de encontro um ao outro,
até estarmos os dois perdido naquele lugar só nosso.
Sou eu
Darla
Como tem sido de costume acordo antes de James, a gravidez não tem
mudado tanto assim os meus hábitos, é bem verdade que meu apetite sexual
cresceu. Mas quem não iria ter uma libido descontrolada se dormisse todos os
dias ao lado de um deus grego como é meu noivo?
Faz dois dias que recebemos a visita de Sol, James não me disse muito
sobre o que conversou com ela, também não insisti, não quero me encher de
falsas esperanças. No dia seguinte fomos ao Blue atrás de alguma pista que
nos levassem a quem me deixou lá, mas não tinha muita coisa na minha
ficha, apenas os recibos dos pagamentos com o nome do meu suposto pai:
Gregory Johnson. James tentará rastrear a origem do dinheiro, além da conta
bancária no meu nome que está datada da mesma época que por lá me
deixaram.
Não sei se é possível fazer um rastreamento a partir daí, mas iremos até
o fim nessa história, tem que haver algo que explique tudo isso, mas no
momento tenho algo a mais para me preocupar, a super proteção do meu
futuro marido.
Estou tentando o convencer a me deixar voltar ao trabalho, mas está
difícil, porém de hoje não passa. Marlon tem uma reunião com os
empresários alemães novamente, eles são muito importantes para que a ala de
pesquisas no laboratório da DMC seja uma realidade e como sei que é um
projeto de James, tenho que me esforçar ao máximo para que tudo saia
perfeito.
Levanto sem fazer barulho e vou para o banheiro, faço minha higiene
pessoal matinal, depois de um banho rápido me dirijo ao closet, escolho algo
simples e discreto, uma vez que estou grávida, discrição é ainda mais
necessária, já irão olhar para mim de qualquer forma, agora que sou a noiva
do filho do chefe, até mesmo podem questionar uma coisa ou outra, mas se
me manter o mais profissional possível eles não poderão alegar nada, Marlon
tem me ensinado muito sobre o mundo dos negócios, nele precisamos ser
tubarões, nunca o peixinho indefeso.
Saio do quarto com um James ainda adormecido, eu sei, estou sendo
infantil, mas não quero discutir no começo do dia, não mesmo.
— Irá trabalhar hoje, querida? — Márcia pergunta bem atrás de mim,
paro no lugar e antes de virar coloco meu melhor sorriso no rosto.
— Sim, Marlon tem uma reunião importante, não vejo sentido ficar em
casa se estou bem, James quem acha que uma gravidez é doença! — Reviro
os olhos e ela sorri ao me abraçar.
— Bem-vinda ao mundo dos machões Duran, Marlon era igualzinho,
mas não me permiti ser impedida de nada, se quer trabalhar ótimo, isso é
maravilhoso. Vamos, dou uma carona a você, aproveitamos e tomamos café
da manhã enquanto discutimos sobre a festa de noivado daqui a duas
semanas.
Sorrio agradecida por ela me entender tão bem, nossa amizade só tem
aumentado, é como ter uma mãe depois de tanto tempo sem saber o que é
isso. Ela se desmancha em sorrisos sempre que vê o sorriso no rosto do filho,
também me desmancho com o sorriso dele é fato, mas ela me supera sem
dúvidas.
— Infelizmente Darla, tenho que concordar com James, você terá que
manter repouso a partir de agora, seu emocional está muito abalado. — Luke
diz após examiná-la.
Ela faz beicinho e vejo que nem mesmo Luke está inume a ela.
— Mas pode trabalhar de casa e quando tiver alguma reunião em que
Marlon precise do seu auxilio poderá ir, é o máximo que posso aceitar. —
Ergue as mãos rendido, tenho vontade de gargalhar da sua cara de culpado.
“É camarada, ela sabe nos fazer questionar as coisas.”
— Mas, Luke... — Ela tenta argumentar mas sou mais rápido dessa
vez.
— Mas nada, Anjo, por acaso o seu trabalho é mais importante que o
bem-estar da nossa filha?
Ela se encolhe com minha pergunta, seu lábio inferior treme e seus
olhos lacrimejam, me arrependo de ter sido tão seco na pergunta, pego suas
mãos nas minhas e as beijo.
— Darla, entenda, é pelo bem dela, e seu, você está passando por muita
coisa, a gravidez já mexe com suas emoções, junte com tudo que temos
descoberto sobre seu passado, logo vai se tornar uma bomba relógio se não
tomarmos cuidado e a mais prejudicada com isso é nossa menininha, que
precisa da mãe dela forte até a hora do seu nascimento.
— T-tudo bem, vou ficar em casa e me cuidar, mas ainda quero ficar a
par de toda a investigação sobre meus pais, certo, me prometa Jem? — Pede
com olhos suplicantes, mas determinada a não ser contrariada.
— Prometo, linda, vamos ainda hoje conversar com Nicolas, ele é meu
amigo e advogado do meu pai, mora no Brasil o que facilita toda a logística
para nós. Entrarei em contato com ele assim que você tiver descansado um
pouco e não adianta argumentar!
Ela me sorri fraquinho, mas já é alguma coisa, saímos do consultório e
vamos para casa, vou passar o resto do dia mimando minha menina linda e
corajosa, é do que ela precisa agora mais que nunca, sentir que é amada por
todos a sua volta, farei de tudo para que perceba isso.
Amazonas - Brasil
Cyntia
Olho mais uma vez para as crianças a minha volta, elas têm entre dois e
dezesseis anos, minha menina estaria com dezoito anos a essa altura, não há
um dia que não pense nela, desde que ela foi covardemente arrancada de
nossas vidas. Foi nessa época que decidimos que não iriamos adotar, uma vez
que eu não poderia mais ter outros filhos por causa de complicações no parto,
seria arriscado tentar novamente, então concluímos que ajudar a melhorar a
vida de diversas crianças pelo mundo através de nossa instituição a
Foundation For Children, é uma maneira de ter minha Anjinha perto, ainda a
vejo em diversas ocasiões, como essa que uma linda menininha com lindos
olhos castanhos me olha sorrindo.
— Venha aqui, pequena!
A chamo sorrindo para ela, me olha receosa, volta seu olhar para a mãe
mais à frente, então chega uma pouco mais perto.
—Qual seu nome, lindinha? — Ela sorri pelo elogio.
— Catarina!
— Belo nome!
Ela balança sua cabecinha e seus olhos brilham, meu peito se aperta ao
lembrar de um outro par de olhos que costumavam brilhar para mim.
— Você é linda, querida, vá brincar com seus amiguinhos! — Ela sai
toda sorridente.
Aqui não é um orfanato, mas uma casa de acolhimento para crianças de
baixa renda cujas mães solteiras trabalham e não têm com quem deixá-las.
Algumas chegam a passar toda a semana aos cuidados das monitoras do lar.
— Cyntia, tem um alguém querendo falar com você!
Anne minha assistente de anos me tira dos meus devaneios nostálgicos.
— Ele diz que é importante, algo relacionado com um parceiro de
Chicago!
Isso atrai minha atenção, a única pessoa que conheço em Chicago é Sol
e faz anos que não a vejo, é claro, temos uma parceria com um grupo que
gerencia alguns hospitais pelo mundo que muito gentilmente nos ajuda na
instalação de ambulatórios nas regiões mais remotas.
— Ele falou o que quer? Se for algo sem muita importância...
— Eu garanto que a senhora e seu marido gostarão de saber sobre o que
vim falar! — Um homem alto e jovem, de cabelos castanhos, pele clara e
olhos verdes, aparentando estar entre vinte e sete a trinta anos responde por
Anne. — Desculpe, sei que não marquei horário, mas é importante.
— Por aqui, por favor!
O conduzo até uma das salas onde as crianças recebem reforço escolar
aqui no lar.
— Anne, peça a Harry que venha até aqui por favor... Eu sei que ele irá
dizer que é seu jogo de despedida... Mas, quem é o senhor?
— Soares, Nicolas Soares!
— Isso, diga que o Sr. Soares precisa falar conosco.
Ela sai sem dizer mais nada, fico lá olhando para o sujeito à minha
frente, esperando que ele diga algo, como não acontece, resolvo eu mesma
iniciar um diálogo.
— Então, Sr. Soares, como posso ajudá-lo? — Vou direto ao ponto.
— Sou advogado de um dos seus parceiros de negócio, o Sr. Marlon
Duran, vim até aqui a pedido do filho dele, que também é muito caro para
mim! — Diz nos olhando sério, apesar de aparentar pouca idade.
Olho-o intrigada, por que um advogado de Marlon Duran estaria a
nossa procura?
— Sei que poderia ter ligado ou feito uma vídeo conferência, mas é um
assunto um tanto delicado e em consideração ao meu amigo vim até aqui
pessoalmente.
— O senhor veio dos Estados Unidos para nos ver?
Antes que possa responder a pergunta Harry adentra a sala e vem se
posicionar ao meu lado, sua expressão um pouco carregada, ele ainda
continua o mesmo possessivo de sempre.
— Não, moro em Fortaleza atualmente, foi mais conveniente
mandarem a mim do que alguém de lá.
— Então Sr. Soares, certo? — O homem acena com a cabeça. — O que
deseja conosco? — Harry pergunta sem rodeios.
— Preciso que olhem essa fotografia e me digam o que acham? — Nos
entrega uma fotografia de uma linda jovem com cabelos castanhos, um
sorriso doce e os olhos mais azuis que já vi.
— Esses olhos... Não pode ser, Harry eu conheço esses olhos!
Meu coração dispara no peito, é ela minha doce menininha, está
crescida, mas seus olhos da mesma cor que os meus, o cabelo como os de
Harry, sem falar que é muito parecida comigo quando eu era alguns anos
mais jovem.
— Eu a conheço querida, me casei com ela há vinte anos, ela é você
com a cor do meu cabelo, ou seja, pode ser nossa Isabelle.
Volta no tempo
Londres
Quatorze anos atrás....
Cyntia
— Harry, não gosto nada de ficar longe da nossa filha, mesmo por uma
causa tão importante, foram quase dois meses, é capaz de Isabelle sequer nos
reconhecer!
Suspiro resignada, chegamos há duas horas e ainda não vi minha
Anjinha de olhos azuis. Maggie insistiu que fizéssemos uma surpresa para
ela, já que amanhã estará fazendo quatro anos. É, minha bebezinha está
crescendo, é difícil de acreditar, porém é o tempo passando com uma
velocidade descontrolada, ainda assim, foram longos dias sem ela.
Como mãe coruja que sou, prometi a Isabelle antes de viajar que seria a
última vez que partiria sem ela, foi a condição para fazer o trabalho, mesmo
que esse tenha sido em prol da nossa instituição de caridade, não deixo mais
minha pequena por nada.
— Eu sei amor, para mim também é difícil ficar longe daquela
diabinha, que é bem arteira quando quer! — Harry tenta me tranquilizar.
Ele me abraça e beija o lado da minha cabeça, gesto esse que sempre
me faz derreter em seus braços.
— Venha, vamos descansar, está tarde e amanhã nosso dia será bem
agitado!
— Sim, mas antes irei vê-la mesmo que esteja dormindo! — Ele não
protesta, me acompanha até o quarto onde está meu anjinho dormindo
tranquilamente.
Vou até ela e beijo sua cabecinha sentindo seu cheiro doce de morango.
Henry também a beija em seguida saímos sem fazer barulho para não acordá-
la.
Dessa vez não protesto, o deixo me guiar para nossa cama, o cansaço
de tantas horas de voo me atinge, em questão de minutos estou dormindo
Harry
Acordo com um som sufocado, tento ver onde estou e percebo que
estou em casa, na cama com minha linda, o som vem dela que se encolhe em
posição fetal e soluça.
— Amor, está tudo bem, estou aqui, você está segura! — A acalento
até que seus olhos abrem e volta a realidade.
— Meu Deus, foi tão real! Venha Harry quero meu Anjinho, não
importa se vou estragar a surpresa, preciso dela! — Diz já sentando na cama
e alisando o cabelo de forma ritmada, como que para se livrar de
pensamentos desagradáveis.
Pego a sua mão e a sigo até o quarto de Isabelle, mas ela já não está
mais lá, a babá nos informa que Maggie já saiu para o Hyde Park e já estão a
nossa espera.
Não perdemos tempo, após uma ducha rápida saímos em busca da
nossa princesinha, Cyntia continua aflita, seus olhos a todo tempo perdem o
foco, sei como fica impressionada com pesadelos, apenas seguro sua mão
dando-lhe conforto.
Assim que chegamos aonde será o piquenique meus olhos procuram
nossa menina, ela está sentada vendo os coleguinhas brincarem, suspiramos
juntos de alívio. Sento de um lado e Cyntia do outro, olhamos um para o
outro é falamos juntos.
— Feliz aniversário, Anjinha! — Sua cabecinha vira de sua mãe para
mim, seu rostinho bonito ganhando um enorme sorriso, levanta e se joga nos
nossos braços, ficamos os três abraçados sem falar mais nada, apenas
curtindo nosso reencontro.
— Ei princesinha, como está? — Falo assim que nos olha. — Mamãe e
eu estávamos morrendo de saudades da nossa anjinha, nossos corações
ficaram assim ó! — Junto meu dedo polegar e o indicador para demonstrar,
ela sorri encantada, meu peito infla com seu sorriso, amo minha menina.
— Morri de saudade também, um montão assim! — Abre os bracinhos
e caímos na risada.
Ficamos os três um bom tempo ali envoltos da nossa bolha particular,
ela sempre nos olhando e sorrindo, Cyntia parece ter se convencido que está
tudo bem, mas de vez enquanto puxa Isabelle para seu colo e a beija na
cabeça, que a pequena logo responde, como se também estivesse precisando
disso.
— Seus amiguinhos a estão chamando para brincar princesa. — Digo
assim que vejo muitos olhinhos ansiosos por um tempo com a dona da festa.
— Pode ir, meu Anjo, não vamos mais a lugar algum sem você! — As
palavras da mãe parecem fazê-la decidir, levanta nos abraça e sai correndo
para os colegas, ficamos só observando como ela está feliz, e vê-la assim nos
faz mais felizes ainda.
Pouco depois Maggie se aproxima de Isabelle e aponta o carrinho de
sorvete, sorrio vendo seus olhinhos se iluminarem, nossa pequena assim
como mãe não resiste a um sorvete ou doce.
Deito na manta xadrez onde estamos, há várias espalhadas pelo parque,
afinal é um piquenique coletivo, puxo minha linda para os meus braços,
ficamos assim esperando nossa pequena voltar, como sempre faz ao comprar
um sorvete, ela sempre traz um para a mãe, ficamos sem olhar na sua direção,
assim não estragamos o seu momento de dizer:
“Surpresa mamãe!” Como de costume.
Mas esse momento não vem, algo está errado, já se passaram alguns
minutos e nada dela voltar, levanto e a procuro, mas não a vejo em lugar
algum, nada da nossa menina, nem do carrinho de sorvete.
O que é que está acontecendo? Levanto de uma vez e saio a sua procura
por todo o parque. Cyntia chora ao meu lado enquanto procuramos.
Depois de duas horas e com a segurança do parque nos auxiliando
voltamos para o estacionamento para pegarmos o carro e irmos a uma
delegacia em busca de ajuda especializada em raptos. A ficha cai assim que lá
chegamos, junto ao para-brisa do carro há um bilhete direcionado a minha
mulher, seus olhos passam rápido pelas palavras e seu corpo desmorona
chorando sem controle, me agacho com ela, meu peito para assim que o leio.
Te falei que me pagaria,
Espero que tenha se divertido
Brincando de casinha...
Porque a brincadeira acabou,
Seu Happy end chegou ao fim,
Mas o meu está apenas começando.
G.
E ali meu mundo parou e tudo que era belo e colorido, perdeu a cor e o
sentido
As coisas que esqueci
Darla
— Então, deixa ver se entendi direito. O cara que veio deixá-la aqui, se
passando por seu pai, dizendo que havia recentemente perdido a esposa e não
queria você sozinha em casa com as empregadas enquanto ele viajava, era na
verdade seu sequestrador, é isso? — Nial nos olha sem entender.
— Como você sabe dessa parte da história, querido? Eu mesma não
tinha conhecimento disso! — Eveline também nos olha intrigada.
— Aquele dia chovia muito, caso não lembre, mas você logo subiu com
Darla para o quarto, lembra-se de como ela era introspectiva, não falava nada,
nem atendia pelo nome, era preciso que o disséssemos várias vezes para
sermos atendidos. Aquele sujeito me contou que ela estava traumatizada com
a forma violenta com que a mãe morreu, uma tentativa de assalto que acabou
saindo do controle e a garota estava ao lado, parecia bem sincero, fiquei um
bom tempo conversando com ele e digo nada nele parecia com alguém que
estava mentindo.
— Ele disse o seu nome ou o nome da esposa falecida? — James
pergunta, eu não consigo articular nada, minha mente está tentando juntar os
pedaços perdidos.
— Ele era disse algo com G... Espere, acho que se chamava Gregory!
Isso mesmo Gregory Johnson, o mesmo sobrenome de Darla, a esposa se
chamava Cindy eu acho! — Assim como Nial, tenta juntar fatos.
— Cyntia! — Digo a primeira palavra desde que chegamos ao
apartamento de Eve e Nial.
Assim que saímos do consultório de Luke, convenci James a ligar para
eles. Com as novas informações que tínhamos poderia ser que
conseguíssemos juntar mais algumas pistas, o que está acontecendo de fato.
— Isso mesmo, Cyntia! Ele me mostrou uma foto dela, era muito
bonita. Mas como foi ardiloso aquele sujeito! — Nial se perde em
pensamentos.
Assim como eu mesma, agora eu mais do que nunca quero descobrir
onde está esse bastardo e arrancar seus olhos com minhas próprias mãos, o
infeliz ainda usou a foto da minha verdadeira mãe para fazer da sua história
autêntica.
— Não consigo entender por que não lembro muito dessas coisas,
agora alguns fragmentos me surgiram, mas nada de concreto ou que explique
muito!
Na verdade, é como se as memórias estivessem aqui dentro, loucas para
sair, porém houvesse uma manta envolvendo-as, para assim as mantém lá,
guardadas.
— Por dois anos você fez tratamento com um psiquiatra mandado pelo
seu pai. Desculpe querida, pelo sujeito que dizia ser seu pai. Ele vinha duas
vezes por semana, passava horas com você no jardim. Com o tempo você até
sorria para ele, achamos que era o fato do tratamento estar fazendo efeito. —
Eve se desculpa.
— O Sr. Velac, era esse o nome dele, não era? — Tenho uma
lembrança dele falando que por ter perdido muito, era normal não saber
direito quem era na verdade, mas que eu estava segura agora, nada de ruim
me aconteceria.
— Espera um pouco, o bastardo que sequestrou minha noiva quando
criança, além de ter a abandonado no internato, contratou um profissional
para fazer uma lavagem cerebral nela? — James está tão espantado com tudo
isso quanto o resto de nós.
— A desculpa dele, do psiquiatra, era que fazê-la esquecer até certo
ponto iria ajudá-la a se livrar do trauma da mãe ter morrido a chamando, que
sua mente havia associado seu nome a algo ruim, por isso não atendia a ele
quando chamada.
Eveline explica, percebendo como Gregory usou a todos no seu plano
ardiloso, se duvidar até mesmo o psiquiatra foi uma peça sua nesse jogo,
agora só não consigo entender o porquê de tamanha maldade, como alguém
faz isso com uma criança?
— Eu acho que devo levar Darla para casa, ela já passou por muita
coisa, precisa descansar, obrigado por nos contar o pouco que sabem. —
Levanto junto com James.
— Não tem o que agradecer, Darla faz parte da nossa família, se
precisarem de algo não hesitem em nos chamar! — Nial como sempre um
amor de pessoa.
Abraço os dois antes de sair, ainda com muitas pontas soltas na minha
história, mas como James bem colocou, preciso realmente de descanso, assim
poderei colocá-las em ordem na minha cabeça.
Apenas por esse motivo não me oponho quando entramos em casa e
James me leva nos braços para o quarto, deita-me na cama e começa uma
mensagem relaxante por todo meu corpo, começando por meus pés e subindo
devagar, minutos depois já não estou mais no presente, sou transportada para
a terra dos sonhos.
— Então Darla, como se sente hoje? — Olho para o homem loiro com
olhos escuros, eu não gosto dele, nunca chama meu nome certo.
— Meu nome não é Darla! — Digo baixinho.
— Certo, seu nome não é Darla, então como devo chamá-la? Hum?
Ele me sorri mas eu não, não sei como me chamo, é tudo tão confuso
não minha cabeça.
— Não sabe como se chama, não é mesmo, é normal essa confusão
toda querida, foi traumático eu entendo, mas estou aqui para ajudá-la. Sabia
que se você começar a aceitar seu nome, isso ajudará muito? — Eu não sei
mais de nada.
Não o quero perto de mim, foi aquele homem que o trouxe para me ver,
queria que minha mãe estivesse aqui. Onde está a mamãe?
O ambiente está de tirar o fôlego, como me foi dito, Sol sabe organizar
uma festa, mesmo essa sendo apenas para poucas pessoas. Para acomodar os
convidados, uma tenda foi montada no meio do gramado espaçoso, a
decoração em tons de marfim suave e algumas lanternas japonesas
espalhadas estrategicamente transformaram o jardim da casa dos pais de
James em um cenário quase de contos de fadas e o príncipe encantado está ao
meu lado, me conduzindo em meio aos convidados.
Todos aplaudem ao passarmos, meu rosto ganhando um rubor por ter
tantas pessoas me olhando, na minha cabeça estão comentando que estamos
casando por causa da gravidez, dispenso tais pensamentos, odiaria que a
chegada da minha menina fosse motivo de falatório.
— Veja que linda que você está, amiga, esse sorriso bobo muito me
agrada! E você, rapaz, tenha um pouquinho mais de cuidado com ela, essa
garota costuma nos presentear com alguns sustos. — Miriam me abraça
assim que nos aproximamos da mesa onde deveremos ficar.
— Nem me fale, já estou sabendo disso, desde que voltei de viagem é
um susto atrás do outro! — James me aperta mais ao seu lado. Para contrariá-
lo afasto-me um pouco.
— Vocês podem parar de falar de mim, estou bem aqui, certo? Onde
está Victor? — Fico curiosa por não o ver ao seu lado.
— Eu estou bem aqui magrinha, ou melhor gorducha! — Ele me ergue
em um abraço arrancando gargalhadas minhas, esse é o efeito Victor, me põe
no chão e então o abraço com mais calma.
— Ei, tenha um pouco mais de respeito com as senhoras gravidas! —
Eloise se aproxima junto com Luke, Joyce e um rapaz muito bonito que não
conheço.
— Boa noite a todos vocês, mas tenho que levar Darla por toda a tenda,
prometemos voltar assim que possível.
Seguimos por entre os convidados, ele fazendo questão de me
apresentar a todos, pouco tempo depois encontramos a mesa onde estão seus
pais, Sol e seu marido Heitor e os meus pais, nos aproximamos e somos
abraçados por todos.
— Filha, você está tão linda! — Minha mãe me abraça com lágrimas
nos olhos, devo ter puxado dela o lado chorão.
— Você também mãe. Todos estão muito bonitos hoje, mais do que o
normal.
— É bondade sua, querida! Você está linda, acho que é a grávida mais
linda que já vi e olha que como médica, já vi várias. — Márcia afirma, sorrio
para todos, a felicidade parece transbordar nessa noite.
— Então meu rapaz, já sabem quando vai ser o grande dia? — Meu pai
pergunta sério, mas pelo que vi, não é de manter essa fachada de: “eu não
estou contente com isso”. Basta olhar para mim que sua expressão suaviza
completamente.
— Estamos planejando para daqui há seis meses, assim temos um
pouco mais de tempo depois do parto, mas se Darla preferir antecipar, pois
por mim, casaríamos amanhã mesmo! — Rimos da sua empolgação, mas
acho que a data que escolhemos, quatro de abril uma data ótima. Dois meses
após o nascimento da minha menina mais ou menos, não poderia ser melhor.
— Muito bem, filho, aproveite, pois quando o bebê nascer os pais
passam a viver pelos próximos quarenta dias em favor dele e você agora que
começou a residência, então terá que conciliar seus últimos anos e suas novas
funções como pai e marido, mas sei que vai se sair bem, estive na mesma
situação vinte e nove anos atrás! — Marlon sorri orgulhoso do filho.
Todos dão suas opiniões sobre como e onde deveria ser o casamento,
pelos meus pais casaríamos em Londres, mas eu já estaria com uma criança
recém nascida, então descartamos e decidimos discutir esses detalhes depois.
Em um determinado momento entre decisões de como e onde casar,
James larga minha mão e vai até o palco ali montado, chama a atenção de
todos e meu coração para quando ele começa a falar.
Que ousadia a sua
Darla
Minhas mãos suam e meu coração dispara enquanto James se posiciona
no palco, ele sabe como atrair a atenção do público, talvez devesse ter
escolhido outra profissão ao invés de médico patologista, assim não ficaria o
dia todo escondido dentro de um laboratório, mas é o seu sonho, como sua
futura esposa devo apenas apoiá-lo em seus sonhos.
— Obrigado a todos por estarem presentes nessa noite mais que
especial para nós, minha linda noiva e eu estamos muito felizes em poder
dividir nosso momento com vocês, mas vou logo ao que interessa.
Diz arrancando risadas de todos presentes, inclusive a minha, de
nervosa.
— Eu conheci Darla de uma forma inusitada, nunca vi um ser mais
lindo em meio a uma chuva, e quando olhei dentro dos seus impressionantes
olhos azuis, vi que tinha achado a minha metade e por sorte ela sente o
mesmo por mim, quero pedir uma salva de palmas para minha futura esposa,
Anjo, venha até aqui!
Com as pernas um pouco trôpegas sigo até onde ele está, no meio do
percurso escuto sua linda voz invadir todo o ambiente cantando I'll Try do
Allan Jackson, não sabia que o motoqueiro dono de uma Harley reluzente
gostava de músicas Country.
Paro onde estou, lembro de ter, por vezes, dançado essa música no meu
quarto no Blue Light na companhia de Bella e dizer que meu futuro marido
teria que me conquistar com promessas parecidas com essas.
As lágrimas rolam pelo meu rosto, é maldade ele fazer isso sabendo
como estou sensível, mas por sorte meus pés decidem voltar a funcionar e
continuo o meu caminho até ele.
Assim que me aproximo ele pega minha mão e me puxa para junto de
si, olho nos seus olhos que brilham de emoção, sei que meu sorriso deve ser
quase idêntico ao seu.
James
Depois de ganhar o que posso descrever como o melhor beijo da minha
vida, sinto que estamos mais do que preparados para começar nossa vida a
dois, ou melhor a três, já que nossa princesinha logo estará conosco.
Seguimos para a mesa onde estão nossos amigos, minha mãe disse que
deveríamos nos divertir o máximo possível antes que Isabelle nasça. Eu
pretendo ouvi-la, com toda a certeza.
— Amor se não se importa eu preciso ir ao banheiro, bexiga de grávida
enche rápido. — Darla me diz baixinho sorrindo.
— Importar? Eu não me importo, até porque vou com você mocinha,
tenho um certo sonho erótico onde damos uns amassos no banheiro com toda
a festa rolando aqui fora, provavelmente vamos ficar muitos excitados e
acabaremos fugindo para o apartamento logo em seguida. — Respondo junto
ao seu ouvido, vendo-a tremer em antecipação.
Seu olhar viaja pelo meu rosto e segue por todo meu corpo, então seu
rosto cora lindamente e sorrio por saber que mesmo depois de tudo que já
fizemos juntos ainda consigo trazer uma certa timidez a minha garota.
— Certo, mas caso aconteça, deveremos sair discretamente, não quero
que me achem uma devassa sem o menor pudor!
— Arrancaria a cabeça de quem ousar lhe comparar com algo menos
do que angelical, Anjo!
A ajudo a levantar e a sigo até dentro da casa, antes de chegarmos no
corredor, que leva ao lavabo, escuto alguém bater palmas de uma forma
irônica, viro-me e não acredito no que estou vendo.
— Não sabia que você tinha se tornado um exibicionista James, talvez
esse fosse o segredo para mantê-lo comigo, uma pena que só descobri agora.
— Alana solta o seu veneno, seu olhar fulminante direcionado para Darla me
faz automaticamente me colocar entre ela e minha noiva.
— O que faz aqui, Alana, e o que quer dizer com exibicionista, onde já
me viu fazendo algo que pudesse manchar minha honra ou a da minha noiva?
Darla olha através do meu braço, uma expressão estranha de
reconhecimento toma seu rosto, ela dá um passo à frente e se posiciona de
forma que seu corpo fica quase à minha frente, como uma leoa pronta para
defender seu território, se não estivesse tão irritado estaria rindo do seu jeito
possessivo.
— Eu me lembro de você! Era você no outro dia no hotel, ficou
olhando para meu noivo de uma forma cobiçosa e para mim com esse mesmo
olhar de agora, então fiz questão de me agarrar ainda mais a ele para você
saber que ele já tem dona. — Olho para Darla que sorri, espantado.
Agora entendendo por que ela não me deixou no corredor do lado de
fora do quarto em que seus pais estavam, depois de me pedir que ficasse ali
esperando-a.
— Você, sua fedelha, não sabe o que está fazendo, brincar de casinha é
divertido, mas ele não vai ficar com você. Olhe só que maravilha, já até
garantiu uma bela pensão para quando essa palhaçada chegar ao fim.
— Como se atreve Alana, quem é você para vir aqui e insultar minha
noiva, a mulher que me mostrou o que realmente significa amar de verdade,
não apenas uma atração física? Saia daqui antes que eu chame os seguranças!
— Digo irritado, puxo Darla para mais perto, seu corpo treme de raiva.
— Realmente James, acha mesmo que você será feliz com uma garota
assim? Olhe para ela, meu querido, aposto que engravidou logo de cara, isso
deve ter sido antes da nossa viagem não é mesmo, contou para ela sobre a
viagem que fizemos juntos, querido?
O que essa cretina quer insinuar com isso? Até onde sei, passei a
viagem toda a evitando ao máximo, até que bati o pé e fiz meu pai substitui-
la pouco depois de um mês.
— Rá-rá-rá! — Darla explode em risos.
Acho que o nervosismo a está afetando de forma diferente, ou eu que
estou deixando algo passar aqui.
— Eu que pergunto se é sério, perdeu a noção do ridículo e agora virá
com insinuações desse tipo? Deixe-me esclarecer algumas coisas, minha cara,
eu trabalho como assistente do Sr. Duran, mesmo não sabendo que se tratava
do mesmo James, eu fiquei responsável por tudo que se relacionava com a
viagem do filho do meu chefe, coisas do tipo: reservas de quartos e tudo
mais. Então foi comigo que você, por diversas vezes, conversou, acho que me
disse algo como...?
Minha menina faz cara de pensativa, porém sei que seu discurso está
afiado, pronto para falar de forma brilhante. Tamanho o seu sorriso
convencido.
— Espere, algo como: “Diga a Marlon, que não existe nada no mundo
que possa fazer o cabeça dura do filho dele falar comigo, nem durante as
apresentações ou nos coquetéis, acho até que chega a me odiar por ter
continuado na DMC depois de tudo!” Então não venha com insinuações
sobre a viagem que fizeram, que aliás você ficou na metade do caminho
quando Victor teve que ir substitui-la.
Olho com admiração para minha noiva, se eu já a amava, esse
sentimento acaba de se multiplicar por mil, saber que sou digno da sua
confiança me faz ainda mais feliz, isso me mostra que ela realmente me
perdoou depois da merda que fiz, o que nos levou a ficar separados por mais
de três meses.
— E mais, não estamos brincando de casinha, estamos construindo um
futuro para nós e nossa filha, pois eu ao contrário de você, não desistiria de
um filho nem por todo dinheiro do mundo, não abriria mão na primeira
oportunidade que tivesse e nem na última. Então é muita ousadia sua vir até
aqui, na nossa festa de noivado, dizer esse monte de baboseiras, mas eu
deveria saber que alguém tão baixa e sem escrúpulos seria capaz disso. —
Darla termina com um olhar vitorioso.
Os olhos de Alana fervem de raiva, enquanto os meus estão repletos de
orgulho da minha menina, ela cresceu tanto desde aquele dia em que a vi no
meio da rua brincando com a chuva, eu a amo ainda mais por defender a nós
e nosso futuro juntos.
— Você não tem o que fazer aqui, Alana, então saia ou juro que não
respondo por mim!
— Está certo, vou deixar que continuem com a brincadeira de crianças,
mas não vai durar para sempre, acho até que pode durar bem pouco. — Darla
se lança na sua direção e a esbofeteia o rosto.
— Suma daqui sua vaca maldita ou eu juro que acabo com você sua
cretina!
Puxo minha noiva para longe, seu corpo treme ainda mais, então
assistimos Alana sair com um último olhar na nossa direção cheia de ódio,
amanhã mesmo darei um jeito dela sumir das nossas vidas, além de contratar
seguranças para acompanhar Darla a partir de agora, não posso nem pensar
que essa criatura possa fazer algo contra ela.
— James, me tire daqui, não consigo respirar direito! — Pede baixinho.
— O que você está sentindo, não quer que eu chame o Luke? — Corro
minhas mãos por seus braços preocupado.
— Não precisa, só quero estar apenas nós três novamente, como
fizemos no meu antigo apartamento, só a gente, a festa vai continuar sem nós,
tenho certeza disso.
Faço o que ela me pede, a levo de volta ao apartamento, suas coisas
ainda estão em caixas empilhadas por toda a sala, ela não sabe ainda, mas
logo nos mudaremos para a casa que estou prestes a comprar, amanhã a
levarei para conhecer e se for do seu agrado fecho negócio na hora, meu pai
insistiu em nos presentear com ela, disse que seu pai fez o mesmo por ele e
minha mãe, então aceitarei.
Assim que entramos a puxo comigo para o sofá, então ela se joga nos
meus braços e me beija, sentando no meu colo me levando ao limite, tento
manter o controle do beijo, tomo sua boca com suavidade, não querendo
pressioná-la, mas fica difícil com suas mãos abrindo os botões da minha
camisa, puxo seu lábio inferior e ela geme me levando a loucura.
— Você tem certeza? Estava tremendo até há pouco. — Pergunto
enquanto beijo seu pescoço.
— Tenho, eu preciso de você, agora! Teremos no máximo mais três
meses para isso, pelo que minha mãe e a sua disseram, depois uns bons dias
de abstinência, então não percamos tempo!
Seu argumento é bastante válido, então faço o que ela quer, a ergo nos
meus braços, suas pernas envolvem minha cintura e sigo para o quarto ainda
a beijando, para podermos aproveitar os próximos três meses da melhor
maneira possível.
* Aqui estamos nós, conversando sobre eternidade/ nós dois sabemos muito bem, que juntos não é fácil/ nós dois
sentimos amor/ nós dois sentimos dor/ eu vou escolher o sol ao invés da chuva.
* Eu não sou perfeito/ sou só um homem qualquer/ mas vou te dar tudo o que eu sou.
Você é incrível
James
Olho para meu lindo Anjo que dorme tranquilamente, minha vontade é
acordá-la com muitos beijos, mas tenho um pouco de dó de fazer isso, ontem
à noite ela passou por um mal bocado e tudo culpa minha, novamente.
Nunca pensei que Alana teria a ousadia de aparecer na casa dos meus
pais, ainda mais na noite da minha festa de noivado. Porra! Preciso falar com
o meu pai sobre ela, não a quero trabalhando mais para o DMC, está fora de
cogitação e foda-se meu coração mole que há quatro anos ainda permitiu que
ela continuasse fazendo parte da empresa da minha família.
Darla se remexe e suas pálpebras tremem, isso antes que eu me sinta
ser inundado pelo mais intenso azul dos seus olhos, seu sorriso de menina me
saúda, nada poderia ser mais lindo do que ela acordando ao meu lado. A puxo
para mais perto e planto um beijo nos seus lábios sorridentes, ela dá
passagem para minha língua em sua boca.
— Ainda não escovei os dentes, Sr. Duran, e preciso fazer xixi o mais
rápido possível. — Agita-se nos meus braços, levanta e sai em disparada para
o banheiro.
Fico aqui a sua espera, então escuto o som do chuveiro sendo ligado,
quero ir até lá, mas sei que se o fizer não sairemos de casa tão cedo e temos
alguns compromissos ainda pela manhã, à tarde levaremos seus pais ao
aeroporto, eles precisam voltar à Londres para resolverem algo relacionado a
sua instituição de caridade, para então estarem livres para ficar com a gente
até depois do casamento. Fico aliviado em saber que Darla terá seus pais
presentes durante os momentos mais importantes das nossas vidas.
Deixando de lado meu lado predador, visto a calça do pijama vou até a
cozinha preparar o nosso café, não que eu seja um mestre cuca ou algo do
tipo, mas consigo fazer um bom e velho ovo mexido e levando-se em conta o
súbito interesse que minha linda adquiriu por ovos no café da manhã, eu
tenho feito bastante nos últimos dias.
Miriam me contou como foi complicado nos primeiros três meses, com
os constantes enjoos, ela mal segurava o pouco de comida no estômago e
geralmente alimentava-se em forma líquida, senti-me um miserável por não
ser eu quem segurava seu lindo cabelo durante todo o processo, desde então
venho tentando me redimir de todas as formas possíveis, se isso significa
preparar ovos e mais ovos pelo resto da minha vida, não me importo nem um
pouco.
Sinto seu cheiro de flores do campo invadindo o ambiente antes mesmo
que ela chegue à cozinha, por sorte estava tudo pronto e esperando por ela,
caso contrário nada mais sairia nesse café da manhã, esqueci de tudo assim
que a vi com um vestido na altura dos joelhos soltinho. Faltando apenas uma
semana para seus cinco meses de gestação, a barriga está cada vez mais
visível e eu me derreto só em pensar que um pedacinho meu está crescendo
dentro da mulher que eu amo.
— Hummmm, o cheiro está delicioso, acho que daqui a pouco nascerá
penas em mim, tenho comido uma grande quantidade de ovos, e olha que não
era muito fã. — Diz enquanto senta em um dos dois bancos do balcão, coloco
seu café da manhã à sua frente e logo ele começa a ser devorado.
— Você fica linda comendo assim com tanta vontade! — Digo
sentando ao seu lado, ela me olha como se eu estivesse ficando louco.
— Você me acha linda sempre, mas eu finjo que acredito, sei que a
tendência é minha aparência ficar ainda mais arredondada. — Ela ri de forma
debochada, fazendo piada de si mesma.
Não querendo entrar em discordância, já que sempre que acontece ela
parece ficar ainda mais enfurecida devido ao acúmulo de hormônios, apenas
sorrio com ela.
— Certo, minha futura bolinha, assim que terminar sairemos! — Olha-
me com uma expressão interrogativa, mas não direi nada. — Nem me olhe
assim, é uma surpresa!
Darla
Por vezes, ao longo desse último ano, me peguei pensando no futuro,
como seria, o que eu faria depois que o meu tempo no Blue Light tivesse
chegado ao fim. Nunca imaginei que estaria onde estou agora.
Na imensa sala da nossa casa nova. Ela é imensamente linda, toda a sua
decoração em tons claros, um espaço amplo sem muitos móveis espalhados.
A sala me deixou sem fôlego, mas a cozinha me fez sorrir imaginando
meu lindo noivo preparando meus tão preciosos ovos mexidos ali, sem que
tenha paredes a separando da imensa sala, tornado o espaço ainda maior do
que eu poderia imaginar. Estou sem palavras diante de tudo, acho que pode
ser até um pouco exagerado, afinal, seremos apenas nós três por um tempo.
— Você gostou dessa área? Se não estiver do seu agrado podemos
refazer tudo, minha mãe e Sol tomaram conta dessa parte, elas com a ajuda de
Eloise e Miriam acharam que iria preferir esse tipo de móveis e decoração,
em tons suaves, mas como falei, você decide!
— Shiiii! Estou admirando a beleza que é nossa nova casa. Mesmo eu
achando um pouco grande para três pessoas! — Dou de ombros, não
querendo tirar o sorriso lindo dos seus lábios.
— Mas logo haverá mais, não vamos parar só em Isabelle, vamos? —
Ai meu Deus, ele com esse olhar pidão fica quase impossível dizer não, mas,
calma!
— Vamos nos concentrar nessa primeira, depois pensamos se virão
mais, ok? Até por que, depois que ela tiver seis meses quero fazer alguma
coisa pela instituição dos meus pais, acho que poderia ajudá-los nisso, seria
uma maneira de ter ainda mais contato com os dois, o que você acha?
— Acho que, se é isso que quer fazer, deve ir em frente, meu pai, no
entanto, sentirá sua falta na DMC! — Sorri aquele seu sorriso de: vou te
apoiar em tudo, que me derrete por inteira.
— Não, posso continuar o ajudando sempre que for preciso, sua mãe
me disse que poderia ficar com Bellie quando precisar, caso eu decidisse
estudar novamente, estou pensando, mas sei que quero sim, fazer algo pelos
outros. — Falo com um dar de ombros.
— Se é o que quer, você o fará, e será brilhante nisso! Agora venha,
temos o andar de cima ainda para explorarmos!
Subimos a escada e me encanto novamente, há quatro quartos de cada
lado, passamos por todos sem nem nos vermos, indo diretamente para os dois
últimos, no fim do corredor entramos em um e meu coração dá uma leve
parada. É o que pode se chamar de um quarto de boneca um pouco maior,
não, bem maior na verdade.
— Esse será o quarto da nossa princesinha, você gostou? Minha mãe
disse que foi de acordo com algumas coisas que ela percebeu em você
enquanto estavam naquela loja de artigos infantis, mas como já disse,
podemos mudar tudo, ainda temos tempo!
Meus olhos transbordam de lágrimas, é lindo, a decoração suave, nas
cores rosa chá e branco, traz uma sensação de tranquilidade. O berço de
madeira branca com um estilo retrô, como os que se usavam anos atrás, muito
lindo, já me vejo a amamentando na poltrona ali ao lado.
James me puxa para o banheiro e fico sem palavras com todos os
detalhes, acho que eu não teria pensado em algo melhor, nem imaginei que
seriam tantos. Há uma bancada preparada com uma banheira pequenina para
banho, logo ao lado está o trocador de fraldas. Do lado oposto está um box
espaçoso e ao lado uma banheira, tamanho padrão, assim esse poderá ser
sempre seu quarto, no futuro mudaremos apenas a decoração, se ela assim
desejar.
— Está tudo tão bonito! — Digo antes que um soluço escape dos meus
lábios.
É a vida de uma grávida, comer, ficar muito apertada para ir ao
banheiro, sentir sono e chorar entre tudo isso.
— Ei, não chore, venha ver o nosso quarto!
James me abraça e seguimos para a próxima porta do corredor. Só
posso dizer que o quarto que é ainda maior que o quarto dele na casa dos pais
e tudo me faz lembrar dos dormitórios da realeza, como vemos em filmes
A cama com uma cabeceira com adornos em dourado, a penteadeira, a
luminária na parede ao lado da cama. Tudo que você sonha quando passa a
vida toda em um internato, mesmo que ele tenha ótimas acomodações, você
se imagina em um quarto assim.
Ele me leva logo para conhecer o imenso closet, com espelhos enormes
por todos os lados e me diz que quando tiver a oportunidade me fará ver o
que ele vê nos meus olhos quando estamos fazendo amor, coro na hora.
Ainda fico momentaneamente muda quando ele fala coisas assim, sem querer
pensar demais nisso, volto para o quarto e continuo a admirar a linda cama
que atraiu meus olhos logo que entramos no quarto.
— Parece até que vocês invadiram meus sonhos quando criança para
reproduzi-lo aqui neste quarto! — Digo enquanto vou até a cama, passo a
mão nos lençóis de linho, sinto a maciez e meu corpo vibra por saber que
logo estaremos dormindo aqui, ainda mais quando suas mãos me apertam
delicadamente me fazendo virar de frente para ele.
— Será aqui que faremos nossos próximos filhos, quero mais uns três
ou quatro, quantos Deus quiser nos mandar. — Beija-me com suavidade e me
deita delicadamente na cama me fazendo carinhos gostosos na barriga.
Ficamos assim desfrutando o momento, apenas nossos lábios se
tocando e nossas mãos apreciando um ao outro por um bom tempo, até que
somos interrompidos pelo seu telefone, só então me lembro que devemos
almoçar com meus pais e depois os acompanhar até o aeroporto.
— Vamos amor, seus pais estão na casa dos meus a nossa espera, a
inauguração fica para a semana que vem, quando nos mudarmos!
— Ainda bem que ainda não desembalei nada, está tudo espalhado pela
sala do apartamento, aliás, o que fará com ele? — Pergunto verdadeiramente
curiosa.
— Ah, ele ficará lá a nossa disposição, quando quisermos um tempo só
nosso, poderá ser o nosso refúgio! — Sorri malicioso e me abraça colando os
nossos corpos.
— Você é incrível, sabia? — Digo antes da minha boca ser tomada pela
sua em um beijo de arrepiar até o ultimo fio de cabelo.
As primeiras preocupações
Darla
O tempo é uma coisa meio bizarra, quando estamos em uma contagem
regressiva ele simplesmente decide que quer ser traiçoeiro e nos atropela de
uma vez. Mas se você está ansiando por algo, ele se recusa a passar, fazendo
com que os dias sejam mais longos e as horas se arrastem como se não
tivessem o menor interesse em seguir.
É essa a impressão que tenho aqui sentada na sala de espera do
consultório de Luke para minha consulta do sexto mês. James já deveria ter
chegado, mas hoje ele tinha uma avaliação na faculdade, sabe que tem que se
dedicar muito a residência, por isso combinamos de nos encontrarmos aqui.
Logo será a minha vez, se ele não chegar em cinco minutos terei que
entrar sozinha, não que isso me incomode tanto assim, já ele ficará bastante
chateado, tenho certeza.
Olho para o relógio na parede acima do balcão da recepcionista, dois
minutos, pego meu celular e mando mais uma mensagem, essa deve ser a
milésima nos últimos quinze minutos.
“Kd vc? Não fique aborrecido, mas tenho que entrar com ou sem você,
te amo!”
— Espero que vocês tenham certeza quanto a tudo, não podemos deixar
nada para a última hora, além é claro, do seu vestido querida. Mas esse será
um detalhe mínimo, uma vez que você já escolheu o modelo. Tudo tem que
estar mais do que encaminhado antes do nascimento da sua bebê, nos
primeiros vinte dias, pelo menos, você só terá cabeça e tempo para ela, tenha
certeza disso!
Sol nos diz assim que saímos do Dell's Buffet, onde por quase três
horas estivemos ela, minha mãe, Márcia e eu. Miriam e Elo queriam estar
conosco, mas ambas têm compromisso com o trabalho, coisa que meu bom
futuro marido, não me permite há um bom tempo.
— Quanto ao Buffet, estamos certas queridas, mas não tire a doce
ilusão da minha nora sobre a maravilha de ser uma mãe de primeira viagem
nos seus primeiros dias! — Márcia pisca para minha mãe cúmplice.
Elas sorriem mas não me deixo levar por qualquer tipo provocação,
estou ansiosa para viver cada uma das noites em claro que estão por vir.
— Não sei que tipo de filhos vocês tiveram, mas minha filha não será
nada menos que uma princesinha, educadíssima, não é filha? — Acaricio
minha barriga através do vestido e ganho as risadas das três mulheres a minha
volta.
— Venha filha, James já deve estar nos esperando no consultório de
Luke!
Nos despedimos de Márcia e Sol e vamos para o estacionamento onde
está o carro da minha mãe, já que James até me deixa sair com outras
pessoas, mas com um carro com quatros armários em forma de homens nos
seguindo alguns metros atrás.
E não se engane, Marlon, aquele poço de segurança e altivez também
ficou paranoico com a mensagem que recebi semanas atrás, então ofereceu o
veículo para minha equipe de segurança particular.
— Mãe, acha que poderíamos passar em uma sorveteria... — Paro no
meio da frase ao sentir uma fisgada no centro das minhas costas, uma dor que
parece prestes a me dividir ao meio.
— Darla, o que você tem, está sentindo algo diferente? — Olho para
minha mãe tentando articular alguma coisa, mas apenas um gemido sai dos
meus lábios.
Seguro minha barriga enquanto me curvo para frente, tentando
conseguir respirar, mas até isso se torna difícil.
— Darla? Venha a ajudarei a entrar no carro, você não pode estar
entrando em trabalho de parto, não fez nem oito meses ainda!
É então que a realidade me bate, mês passado Luke falou algo sobre
amadurecimento antecipado da placenta, não muito comum de acontecer mas
que faz na maioria das vezes adiantar em algumas semanas o nascimento do
bebê.
— Mamãe, desconfio que eu seja um caso atípico de amadurecimento
antecipado da placenta!
Digo quando a dor diminui significativamente. Para comprovar o que
acabo de falar, um líquido quente me escorre pelas pernas, olho para minha
mãe agora com a certeza.
— Sim mãe, eu estou em trabalho de parto!
— Ah, meu Deus, Darla, precisamos ir imediatamente para o hospital!
— Diz alarmada.
— Façamos isso!
Apesar da dor incômoda e a antecipação de tudo que vínhamos
preparando, sorrio com o pensamento que logo, logo, estarei com minha
menininha em meus braços.
Uma menina ansiosa
Darla
Minha mãe dirige como um às do volante, mesmo eu tendo dito que
estou bem e que a dor diminuiu um pouco. Mas é minha mãe e não se
convenceu, pisa no acelerador com vontade. Se não estivesse ansiosa e
preocupada porque ainda não está nem perto da data prevista para o
nascimento, estaria rindo de tudo. Desde seu olhar concentrado no trânsito,
até seus resmungos praguejantes.
Quando chegamos em algum sinal vermelho, tentei dizer para ligar para
Luke, mas não foi preciso, ela fez isso sem que eu abrisse a boca e agora ele e
James estão indo também para o Weiss Memorial Hospital and Maternity,
com provavelmente todo o resto da família.
Pouco mais de trinta minutos depois estacionamos na entrada e logo
vejo meu lindo ali com olhos assustado e uma expressão preocupada no rosto,
ele logo se aproxima da porta e me tira de dentro do carro. Tento descer dos
seus braços, estou com as pernas e vestido molhados pelo líquido amniótico.
Mas ele me mantém ainda mais apertado enquanto me põe na cadeira de
rodas que a enfermeira ao seu lado segura, em seguida entra no hospital
comigo.
Durante todo o percurso até o quarto ele não diz uma palavra, apenas
segue Luke em direção ao quarto onde dou de cara com todo mundo e
quando digo todo mundo, me refiro a Eloise, Miriam, Sol, meu pai, Marlon e
Márcia ali me esperando. Todos com um sorriso bobo no rosto.
E ter meus amigos e família por perto me dá ainda mais forças, até que
outra contração me tira de mim, encolho-me ainda mais apertando forte a
mão de James que me olha com seus olhos arregalados e emite a primeira
frase desde que cheguei.
— Darla, auuuuu! Luke amigão uma luz, por favor? — Pede e todos
em volta riem.
Eu sei que se não tivesse sentindo uma dor excruciante que ameaça me
dividir ao meio, também estaria rindo da sua cara atormentada, até parece que
quem está sentindo a dor da contração é ele, se bem que aperto a mão dele
com vontade.
— Joyce, leve-a para trocar de roupa no banheiro, preciso fazer alguns
exames, aos demais peço que se retirem, ela precisa de privacidade! — Luke
diz à enfermeira ao meu lado tentando manter o ar de profissional, mas
falhando miseravelmente.
— Eu não saio daqui! — Protesta meu herói sem armadura.
— Tudo bem, você fica, mas nada de atrapalhar está me ouvindo? —
Acena com a cabeça concordando, sem desviar o olhar do meu rosto.
James fica me olhando enquanto a enfermeira me leva ao banheiro.
Uma vez na privacidade sou ajudada pela enfermeira Joyce, que me ajuda a
colocar a roupa hospitalar e me conduz de volta ao quarto na cadeira de
rodas.
Ao me ver saindo do banheiro, James me pega no colo abraça apertado,
passando-me força e segurança, então relutantemente me coloca na cama mas
permanece ao lado, deixando que eu esmague sua mão enquanto ainda sinto
as ondas da dor subirem e descerem através da minha espinha dorsal na
vertical e horizontal ao mesmo tempo.
— Como imaginei Darla, precisaremos fazer uma cesariana.
Comunica Luke, depois de terminada a ultra sonografia e exame de
toque, que por sinal não é nada agradável, deixando-me apreensiva e
desgostosa, queria eu mesma trazer minha menina ao mundo.
— É o melhor, mesmo sua bolsa tendo rompido e o intervalo entre as
contrações estarem diminuindo, não estamos com uma dilatação para um
parto normal e esperar seria arriscado, seu caso é de placenta previamente
amadurecida e já estourou a bolsa, ela pode ficar sem líquido amniótico
suficiente. Infelizmente não o detectamos no exame feito aos cinco meses,
então como a evolução de sua filha estava normal, o amadurecimento passou
despercebido.
— Vai ficar tudo bem, Anjo! — James tenta me tranquilizar.
— Isso, não se preocupe, os últimos exames mostraram que nossa
pequena e ansiosa Isabelle está com um bom peso e provavelmente não
precisará de maiores cuidados além dos de rotina, mas para que tudo saia
conforme pensamos, a cesariana nesse momento é o mais indicado, sem
dilatação e com o rompimento da bolsa, não podemos ariscar!
Olho os olhos apesar de jovens mas bastante experientes de Luke e
concordo com suas palavras, não iria querer nada que viesse a pôr minha
pequena em perigo.
— Não perca tempo, Luke, devemos começar com isso já! — Digo
depois de engolir todo meu medo e pensar apenas no meu maior prêmio,
minha filha nos meus braços, linda e saudável.
— Vou sair para comunicar a equipe que se preparem, em meia hora
estarei de volta para pegá-la, James, me acompanhe, se quer assistir ao parto
precisa se preparar também.
Meu lindo me olha, curva um pouco e beija levemente os meus lábios
de forma reverente, olho para ele tentando passar segurança, o que chega a
ser cômico uma vez que eu deveria ser aquela que estaria sendo tranquilizada.
— Logo estaremos juntos, nós três, finalmente! — Beija minha testa e
sai acompanhando Luke. Os que haviam saído há pouco do quarto voltam
com as diversas expressões nos rostos.
É quando o festival de abrace a Darla e a faça chorar e sorrir ao mesmo
tempo começa, a primeira de todos os presentes a se aproximar é Eloise, ela
beija meu rosto, fala com a minha barriga um instante, dizendo se Bellie for
boazinha sua dinda ficará feliz em levá-la para comprar seu primeiro estojo
de maquiagem.
E assim pronunciam-se um por um, quando meus amigos saem do
quarto, Marlon se aproxima.
— Darla, minha filha do coração, na hora que vi você na DMC, soube
ali que faria grandes feitos, nunca erro quanto ao caráter das pessoas e se
estou vivendo a emoção de presenciar esse momento ao lado do meu filho,
devo a você, nunca serei grato o suficiente!
Márcia se aproxima e pega a mão do marido, vê-los juntos me diz que
não poderia ter pessoas melhores para avós da minha filha, eles que a
amaram e acolheram a nós duas antes mesmo de saber que se tratava da sua
neta.
— Curta seu momento querida e volte logo com nossa princesa no
colo! — Eles me beijam e saem também, deixando-me apenas com os meus
pais de companhia.
— Meu anjinho, sabe que eu ainda não estou bem com o fato de ter
reencontrado minha bonequinha de porcelana com seus olhinhos azuis e já a
estar perdendo para aquele garoto, mas ele a ama, vejo nos olhos dele o
mesmo tipo de amor com que tenho quando olho para sua mãe. — Papai diz
ao se aproximar.
Seguro sua mão e engulo as lágrimas que ameaçam voltarem com tudo.
— É o que me conforta e aqui está você, linda, forte e prestes a dar à
luz, agora poderemos ter a nossa segunda chance, não será a mesma coisa,
mas poderemos mimar nossa neta duas vezes mais, uma vez que não tivemos
como fazer isso com você por muito tempo. Eu te amo, Darla, minha
menininha linda que quando pequena queria ser uma fada e me fazia levantá-
la no ar, assim podia bater suas asinhas azuis. Sempre será minha pequena
fada do campo.
As lágrimas transbordam dos olhos do meu pai, ele me abraça apertado
e eu choro por pensar em tudo que nos foi tirado ao longo dos anos, mas
também sei que se não tivesse sido assim eu não estaria vivendo esse
momento, não teria a minha linda família, um noivo amoroso, amigos gentis,
ou minha princesinha. Acho que no fim, o destino acabou por fazer um bom
trabalho, hoje sou grata por tudo e valorizo até mesmo os pequenos
momentos com aqueles que amo, como agora.
— Você está tão bem, nem parece que está prestes a entrar na sala de
cirurgia, eu no dia do seu nascimento, tremia mais do que uma vara verde! —
Minha mãe ri. — Mas isto é bom, nervosismo nessa hora mais atrapalha do
que ajuda!
— Estou feliz, mãe, só isso. Minha tranquilidade vem por saber que, se
por um acaso algo não sair como previsto, minha filha terá uma linda família,
ficará cercada de pessoas que a amam e a protegerão de tudo e todos que
possam ameaçar seu bem estar. Este é o motivo da minha serenidade! — Seu
abraço me reconforta ainda mais que os das outras pessoas, mas seu corpo
fica tenso com as minhas últimas palavras.
Ela me olha com uma expressão de reprovação no rosto, mas essa é
aquela hora que toda mãe sabe que deve fazer o pedido para que cuidem do
seu filho se algo der errado, então devo aproveitar para fazer o meu.
Mas antes que minha boca solte a primeira palavra, a porta se abre e
uma equipe de enfermagem entra para me levar até a sala de cirurgia, recebo
mais um beijo dos meus pais e sigo para o que vai ser o momento mais
importante da minha vida.
Seja bem-vinda ao mundo
Darla
As luzes fortes que iluminam a sala de cirurgia são, de alguma forma,
reconfortante, olho para James que está ao meu lado e observa com extrema
atenção tudo que acontece além da cortina de tecido colocada a minha frente,
eu mesma pedi para que ele não perdesse nada, já que eu não posso ver.
Sinto algo gelado atingir minha barriga, mas é uma sensação distante,
apenas a lembrança de gelo, pois desde que me foi aplicada a anestesia sinto
apenas do meu pescoço para cima, o resto apenas membros esquecidos do
meu corpo.
— Você está bem, meu Anjo? — James pergunta desviando os olhos
do seu dever imposto por mim.
— Sim, está tudo bem, volte a olhar o que estão fazendo por favor,
assim me dirá se algo estiver errado! — Eu peço novamente.
— Você está uma coisinha mandona nessa mesa de cirurgia, nem
parece estar a ponto de se tornar oficialmente mãe, está calma como não
pensei que ficaria.
— O que há com todos vocês? Não acredito que me queriam gritando e
reclamando. Não sei o que é, mas apenas sinto que nesse momento a
tranquilidade é parte de mim!
Sorrio e olho novamente para as luzes no teto, elas têm um brilho
distinto, se você olhar por um bom tempo, consegue ver as pequenas
partículas se moverem através dela, isso é um calmante. Então levo minha
atenção para lá e fico observando, deixando meus pensamentos vagarem
entre o agora, o passado e o que espero do futuro. Então sinto algo
novamente, é como um passar se unha suave logo abaixo da minha barriga, o
que faz meu estômago revirar como acontece se alguém te faz cócegas, dou
uma risadinha, James me olha com olhos arregalados por instantes antes de
voltar sua atenção novamente à frente.
O tempo passou a se tonar indistinto para mim, horas, minutos ou
apenas segundos, mas desde que os olhos dele voltaram para lá, um turbilhão
de coisas se passaram na minha cabeça,
A primeira vez que o vi através das grades do Blue Light, lembro de
pensar que nunca tinha visto alguém mais lindo em toda Terra; as diversas
vezes que furtivamente o observei até que Bella me disse seu nome e como
ele pareceu certo saindo pelos meus lábios; nosso primeiro encontro na
chuva; quando saímos e pude ver as luzes da cidade como uma adolescente
normal pela primeira vez; nosso primeiro beijo abrasador no beco ao lado do
internato; como para um primeiro beijo aquele me acendeu por inteira; sua
invasão furtiva ao meu quarto no meio da noite.
Sorrio ao lembrar do meu ciúme sem precedentes de Eloise, quem
agora já amo tanto, lembro a nossa primeira vez, que acabou por nos dar
nossa menina tão amada.
Meus pensamentos se perdem totalmente, assim que eu escuto o som
mais lindo que pode existir no mundo, pelo menos para mim, o choro dela, da
minha menina, minha pequena Isabelle Marie Duran. Que enfim veio ao
mundo.
É como se um grande raio me atingisse e eu, pela primeira vez na vida,
pudesse ver a magnitude da luz solar sobre a terra e os demais planetas, esse
pequeno som ininterrupto faz minha perspectiva de vida mudar em questão
de segundos.
Agora não vivo apenas por mim, ela comandará os meus passos a
seguir, sou totalmente refém, meu peito infla com um amor tão imenso que
penso eu, que minhas pobres costelas não o suportarão por muito mais tempo,
dos meus olhos transbordam as lágrimas que nem me dei conta que estavam
ali, a mão de James aperta a minha e eu o olho, seus olhos espelham os meus
provavelmente em emoção.
— Obrigada por me dar esse momento único Anjo, por tudo! —
Lágrimas também rolam por seu rosto, ele se inclina e beija minha testa por
uma fração de segundos antes de se afastar de mim.
Fecho meus olhos agradecida por esse momento único. Agradeço
silenciosamente a Deus por me presentear com o dom da maternidade e
prometo ser a melhor mãe, para minha menina, que esse mundo já viu. Minha
ansiedade está a mil, mas tento permanecer tranquila esperando o momento
em que a verei.
Ele surge quando James paira ao meu lado segurando um pequeno ser
envolto em tecido cor de rosa, trazendo para perto de mim e eu a vejo, minha
menina, tão quieta nos seus braços, mas seus olhos estão abertos como se não
quisesse perder um segundo do que se passa a sua volta.
Não consigo distinguir a cor deles ainda, mas tenho a leve impressão
que serão cinzentos como os do seu pai. Ela se remexe e olha para mim e
então o mundo para, tudo se torna segundo plano na minha visão, tudo menos
ela, quero estender meus braços e mantê-la junto a mim, mas ainda sob o
efeito da anestesia eles não se mexem.
James a coloca em cima do meu peito perto o bastante para que eu
possa beijar sua testinha com cabelos ralos, mas que parecem ser castanho
claros como os meus, então logo é preciso levá-la novamente para
finalizarem os procedimentos, eu nada posso fazer a não ser esperar que tudo
termine e eu possa estar no quarto com minha família, finalmente completa.
James
Aos físicos que dizem saber o tamanho do universo e insistem em dizer
que ele mede uma quilometragem incalculável, eu sinto muito em discordar,
ele mede exatamente 47,5 cm pesa 2.970 kg e se encaixa perfeitamente em
apenas um dos meus braços!
Bem, pelo menos o meu universo se resume agora a essa medida e
peso. Durante todo procedimento da cesariana estive uma pilha de nervos,
querendo desesperadamente estar sendo quem tranquilizava Darla, mas
estranhamente ela é quem estava no controle da situação, me fazendo ficar de
olho em tudo que estava acontecendo, mas sem explicar os procedimentos.
Segundo ela, não precisava saber que alguém estava abrindo suas entranhas e
a vendo literalmente de dentro para fora.
O pensamento dela até me fez sorrir no começo, mas depois que a vi
sendo aberta abaixo do abdome, meu primeiro instinto foi mandar pararem,
não suportando a ideia de alguém a machucando, mas foi só ver seu olhar
contemplando as luzes acima para me acalmar, ela não estava sentindo dor
alguma graças a Deus, seu olhar era o de quem parecia imersa em
pensamentos, tão linda daquele jeito, que não percebeu nada que se passava a
sua volta, eu estava quase indo pelo mesmo caminho quando escuto Luke
falar com sua auxiliar.
— Pediatra a postos, já vejo o bebê! — Viro para frente novamente.
Não querendo perder um detalhe sequer, eu vejo seu corpinho ser tirado
do ventre da mãe, primeiro pela sua cabeça, em seguida todo o resto, e seu
choro por ter sido incomodada romper o silêncio monótono da equipe médica
enquanto trabalham.
— Parabéns, amigão, é uma bela menina! — Luke me parabeniza, mas
mal escuto, meus ouvidos estão preenchidos pelo som do choro da minha
filha. Da. Minha. Filha. Porra!
Meu peito vibra com um novo sentimento que venho experimentando
desde que descobri da sua existência, mas agora ele é maior, mais concreto,
real!
Olho para Darla, que já não está mais longe nos pensamentos, mas aqui
comigo, suas lágrimas descendo pelos cantos dos olhos, as minhas descem
por todas as partes e eu não me importo, viro para onde está minha filha. A
pediatra acena me permitindo aproximar dela para cortar o cordão umbilical,
eu dou um beijo em Darla e a agradeço pelo maravilhoso presente antes de ir
até meu anjinho.
Minhas pernas ficam bambas no meio do caminho, mas as forço a
seguir em frente, não é hora de ser covarde, vou conhecer a pessoa mais
importante do meu mundo.
Chego até a mesa na outra extremidade da sala onde ela está sendo
pesada e medida, a Dr. Cristina me sorri, com seus olhos experientes de anos
na profissão, ela me entrega a tesoura e me diz onde devo cortar, assim o
faço.
Minhas mãos já não tremem, eu espero que terminem tudo e a
envolvam em uma manta cor de rosa do hospital, então me vem à lembrança
de que não trouxemos nada dela, minha pobre filhinha não tem nada para
vestir no momento, faço uma nota mental para providenciar assim que
sairmos, afinal a bolsa estava pronta há alguns dias, coisa de avós surtadas, só
não houve tempo para trazê-la conosco.
Pego minha menina no colo e levo para sua mãe conhecê-la, meu Anjo
está ainda chorando e suas lágrimas descem ainda mais ao ver nossa princesa,
o fruto do nosso amor.
A médica me diz que precisa fazer os restantes dos exames e testes, eu
a devolvo e fico lá ao seu lado, vendo-a ser virada e revirada pela equipe
neonatal, mas eu sei que tudo é necessário. Meu coração dividido entre ficar
com minha filha e a mulher da minha vida, mas como minha linda pediu
assim que entrou nessa sala fico com nossa filha.
O grande coração de Darla não se manteria em paz se fosse diferente.
Olho para o outro lado da sala e vejo que Luke está terminando de fazer o
curativo sobre o local da incisão na minha mulher, ela logo é limpa e
preparada para ir de volta para o quarto.
Por sorte, no mesmo instante a pediatra afirma que nossa menina está
bem, que não há necessidade de um cuidado mais especifico na neonatal, eu
suspiro aliviado. Acho que nunca mais vou querer tirar os olhos do meu
anjinho, que pelo que o oftalmologista aqui presente diz, terá uma tendência a
ter os olhos da mesma cor que os meus, será um lindo Anjo de olhos
cinzentos e cabelos castanhos claros.
Assim que Darla é levada, novamente colocam minha menina nos meus
braços, eu a seguro junto do meu peito com muito cuidado, como se ela fosse
de cristal, bem para mim ela é.
A olho mais uma vez antes de sair para que tenha alguma noção de com
quem ela parece mais: seu rostinho pequeno sem dúvidas não tem uma
aparência definida ainda. Ela é única uma obra prima esculpida pelas mãos
do criador, sem ter como nada no mundo chegar nem perto de parecer, seus
olhinhos abrem e eu me perco neles. Pela primeira vez em anos a força da
gravidade começa a fazer sentido para mim, pois a minha gravidade está
agora nos meus braços. E é essa pequena criaturinha que me mantém firme a
partir de agora.
Ainda embriagado com tantas emoções saio atrás da equipe que vai
logo à frente guiando minha mulher, em instantes estamos no quarto onde
somos recebidos por nossos amigos e familiares que logo que eu entro
empurrando o berço onde minha pequena está dormindo lindamente, se
aproximam dela e ficam babando enquanto velam seu sono.
Somos informados que Miriam fez Victor passar em nossa casa quando
ele vinha para o hospital, para pegar as coisas da nossa menina e também
algumas coisas para Darla, isso me deixa aliviado, não conseguiria sair daqui
tão cedo, não sem elas.
Aproveito que todos estão atentos a Isabelle que acaba por acordar e
está manipulando a atenção da família, para ir até minha linda que mesmo
sonolenta devido aos efeitos da anestesia sorri o sorriso mais radiante do
planeta. Eu a abraço com cuidado e beijo de leve seus lábios, em seguida ela
deita a cabeça no meu peito e fico com ela assim, eu acariciando seus cabelos
suavemente, logo ela adormece, eu a deito corretamente e vou me juntar ao fã
clube da minha filha, como seu fã mais fanático de todos.
Pai coruja
James
Olho mais uma vez para o berço ao lado da cama onde meu anjinho
lindo dorme, estamos na nossa segunda noite como pais, ontem foi mais
tranquilo do que esperávamos, nossa princesinha dormiu por um bom tempo,
acordando apenas para sua amamentação.
Darla por sua vez, tem sido maravilhosa nisso, é lindo ver como ela
estoicamente enfrenta o que minha mãe descreveu como sentir uma dor que
está no limite entre doloroso e o prazeroso, ela aperta os olhos sempre que a
boca da nossa filha abocanha seu mamilo, mas vejo sua fisionomia suavizar
com o decorrer do tempo, seus olhares trocados durante o ato me dizem que
fico em segundo plano nesse momento, mas não me importo, saber que elas
estão bem é o suficiente para mim.
Já passa das onze da noite e ainda estou acordado, qualquer ruído da
minha menina eu corro para o lado do berço, sei bem que isso é um pouco
paranoico da minha parte, mas depois de passar a euforia do seu nascimento,
a realidade se abateu na minha consciência, ela nasceu bem antes do previsto,
mesmo a pediatra tendo dito que ela não se encaixa na categoria de
prematuros, temo que tenha deixado de receber algum nutriente importante
para seu bom desenvolvimento.
Mas agora a olhando em seu sono de anjo, todas as minhas
preocupações vão embora, tudo que consigo pensar é nas palavras de Luke
mais cedo, quando passou para ver como estava Darla e nos informar que
poderemos ir para casa na manhã seguinte.
— Espero que seu treinamento ante gavião esteja em dia amigão, pois
se ela é linda assim bebezinha, imagine quando estiver com dezenove anos
como a mãe dela?
Luke atira a bomba nas minhas mãos quando eu estou olhando as duas
pessoas mais importantes da minha vida interagindo entre si, isso faz minha
respiração prender na garganta, minhas mãos gelarem e o pânico subir pelo
meu corpo.
— Que foi? Não sabia que elas crescem e se tornam mulheres lindas?
— Ele ri da minha cara desesperada.
Não sei como responder as suas provocações, não tinha parado para
pensar nisso... Minha mente fervilha com as possibilidades, minha filha
encontrando um bastardo arrogante e se apaixonando. ELE A LEVANDO
PARA LONGE DE MIM!
Esse fato me acende um medo infernal, então começo a pensar no que
fazer, decido que ao longo dos anos a manterei debaixo das minhas vistas o
máximo de tempo possível. Mas, que pensamentos mais toscos esses meus,
minha filha mal nasceu, é seu segundo dia de vida, olho para Luke e sei que
ele sabe que conseguiu me atingir e está agora rindo da minha cara de pânico.
— Você tinha que ver a sua cara, foi impagável, não acredito que já
estava imaginando o futuro da menina!
Ele ri alto, o que faz a cabeça de Darla levantar da posição que está e
me encarar com uma sobrancelha levantada, me questionando, apenas
balanço a cabeça e faço sinal de maluco enquanto aponto para Luke, ela ri e
volta seu olhar para nossa filha.
— Vá se foder babaca! Deixe quando for a sua filha, eu vou te zoar
tanto, esteja preparado, agora dê licença porque minha princesinha precisa
dormir! — Praticamente o expulso do quarto a ponta pés. Ele sai rindo como
o imbecil que é!
Agora estou aqui pensando na morte da bezerra antes que ela tenha de
fato morrido, vou matar aquele babaca.
Fico ainda um bom tempo pensando no futuro, então decido que
voltarei a pensar nisso daqui uns bons dezoito ou vinte cinco anos para frente,
recosto minha cabeça na minha cama improvisada no sofá e fico olhando
para o teto enquanto o sono não vem.
Penso que é bom termos mais um tempo até o casamento, de certa
forma a minha filha ansiosa nascendo deixou um pouco menos complicada
nossa vida, seria um tempo apertado de apenas dois meses do seu nascimento
previsto anteriormente para o casamento, agora ganhamos mais um mês. É
pensando no nosso grande dia que adormeço, imaginando como será tudo,
minhas emoções, a festa e a lua de mel.
Acordo com a voz suave de Darla ao acalentar nossa menininha, a
forma como fala me faz sorrir, ela sussurra para não me acordar, então finjo
ainda estar dormindo assim posso desfrutar melhor desse momento.
— Você é a coisa mais preciosa da vida da mamãe, sabia? É sim,
bonequinha, desde que descobri você aqui na barriga que senti um amor
imenso, eu te amo tanto filha, tanto, tanto.
Sua voz fica embargada no fim, levanto a cabeça e vejo suas lágrimas
rolando pelo seu rosto, em uma fração de segundos estou do seu lado.
— O que foi, Anjo? — Pergunto enquanto acaricio seu rosto, secando
as lágrimas.
— Só... Só estou tão feliz, que tenho medo que isso seja passageiro,
que alguma coisa venha acontecer e algo tire nossa menina ou você de mim,
eu não poderia viver sem nenhum dos dois na minha vida. Se não fosse pelo
casamento diria para irmos para o Brasil o mais rápido possível, não me sinto
mais segura nessa cidade Jem, é como se o perigo estivesse à espreita
esperando o momento certo para nos atacar!
Ela desabafa e eu sei bem o que ela está sentindo, tenho pensado nisso
há alguns dias, já está certo que iremos morar em Fortaleza no estado do
Ceará, ficando mais próximo de Ethan e Helida que moram no estado vizinho
do Piauí, cerca de oito horas de viagem de carro, mas durante um tempo
ficaremos transitando pelas cidades escolhidas para abrigarem os centros
laboratoriais.
Entre elas estão São Paulo, João Pessoa, Manaus, Rio de Janeiro,
Salvador e Caicó no Rio Grande do Norte. Não consegui que sentisse
segurança desde que recebemos aquela mensagem, se bem que foi apenas
uma, mas ela ainda traz um medo absurdo em mim quando penso que algo
pode acontecer com minhas lindas.
— Tudo ficará bem, meu Anjo, eu prometo!
Engulo meu medo e tento tranquilizar minha menina, sei como esse
nervosismo pode afetar sua amamentação, ela deita a cabeça no meu peito e
ficamos ali apenas olhando para a coisa mais preciosa do mundo para nós
dois, nossa filha alheia a tudo à sua volta que apenas suga o seu alimento
enquanto fecha os olhinhos e cai novamente em um soninho de Anjo.
Luke coloca a cabeça para dentro do quarto e nos sorri, mesmo ainda
querendo esmurrá-lo pela aflição de ontem com seu comentário
engraçadinho, eu sorrio de volta, não tem como ficar com raiva desse babaca,
somos assim desde a infância.
— Então tem alguém com vontade de ir para casa aqui? — Ele
pergunta e Darla e eu respondemos juntos.
— Sim! — O que nos faz sorrir e eu esqueço as minhas preocupações
momentaneamente, pois levarei minhas meninas para casa, onde é o lugar
delas.
Estamos saindo do estacionamento interno do hospital e eu não consigo
parar de sorrir, a imagem que vem do meu espelho retrovisor, faz meu peito
se apertar e expandir ao mesmo tempo, minha filha dorme no seu bebê
conforto enquanto sua mãe, a mais linda mãe da história, está ao seu lado
com sorriso de partir o rosto ao meio.
— Jem, você sabe porque ninguém veio hoje? Acho estranho nem
meus pais ou os seus estarem aqui no dia que vamos levar Isabelle para casa!
— Darla pergunta com uma certa tristeza no olhar, eu confesso que também
os esperava aqui hoje cedo, já que não informamos a ninguém da sua alta
médica.
— Também estranhei, vai ver eles ainda estão se preparando para vir,
imagine o tamanho da surpresa se chegarem antes que tenhamos tempo de
ligar informando que estamos em casa? — Ela sorri e aquela dor gostosa se
infiltra no meu peito novamente.
Seguimos em silêncio confortável depois disso, ela com os olhos
voltados para nossa filha, eu na estrada, mas em poucos instantes roubo um
olhar na direção delas, e a viagem de uma hora até em casa passa em um
piscar de olhos.
Desço do carro em frente a nossa porta de entrada e vou para o seu lado
ajudá-la a descer, em seguida pego o meu maior tesouro no colo, sem fazer
grandes movimentos, assim ela não acorda.
E dormirá por mais uma hora, dando um tempo para sua mãe
descansar, mas esse pensamento morre no momento que Darla abre a porta.
Lá está toda nossa família, a que temos por laços de sangue, como também
aquela que a vida nos deu em forma de amigos. Por sorte eles comemoram a
nossa chegada sem emitir grandes ruídos. A sala está toda decorada com
balões cor de rosa e flores, meus pais e sogros são os primeiros a chegar até
nós.
— Bem-vindos de volta queridos, e você princesinha, seja bem vinda a
sua casa! — Minha mãe tem lágrimas nos olhos, ela nos abraça e pega
Isabelle, mesmo dormindo no colo, meu pai assim que nos cumprimenta vai
ficar ao lado dela que já tem uma pequena multidão a sua volta, para nossa
surpresa há mais de cinquenta pessoas na nossa sala.
— Como você está filha? Venha, deixe que eu cuide um pouco mais de
você! — Cyntia nos abraça e mesmo sem que eu queira manter distância de
Darla, estou feliz que sua mãe está aqui para ajudá-la, ela merece ser mimada
um pouco também.
— Bom trabalho, filho, estou cada vez mais certo que a minha menina
fez uma boa escolha para o futuro! — Harry aperta minha mão, para depois
me abraçar forte, aqueles abraços de caras que duram cerca de dois segundos
mas que muito diz.
E mesmo que não me preocupasse com a sua aprovação ou não, ter o
sinal positivo me deixa mais feliz do que julguei ser possível. Vou até onde
todos estão e sou parabenizado e abraçado. Assim começa o nosso almoço de
boas-vindas, com as pessoas que amamos ao nosso redor, e penso comigo
que a vida não poderia ser menos perfeita, por isso sou grato pelo que me foi
dado e lutarei com unhas e dentes para manter.
Quando todos se vão no início da noite, estou ainda com o sorriso bobo
que virou marca permanente no meu rosto, subo com Darla para
acomodarmos nossa pequena no seu quarto, mas assim que a porta fecha
sinto-me culpado por deixar minha filha sozinha, de modo que rapidamente
arrasto de dentro do armário o cercado-berço que compramos para a
acomodarmos nos outros cômodos da casa e levo pra o nosso quarto, o monto
ao lado da nossa cama e vou buscar minha Anjinha, a coloco lá e enfim deito
na cama.
— Acho que você vai estragá-la mais do que deve! — Ela ri ainda mais
e seu sorriso faz meu peito expandir de alegria.
— Não vou, baby, ela aqui é a garantia para que eu não esqueça que
você está impossibilitada de fazer certas coisas, porque sei que esses serão os
sessenta dias mais longos da minha vida. Não acho seguro apenas o
resguardo convencional, eu vi o que foi cortado em você, não correrei
nenhum risco! — Lembro de tudo ainda nitidamente, então vou seguir o
conselho de Luke e ser paciente.
— É por essa e muitas outras razões que eu te amo, sabia? — Ela se
aconchega sobre o meu peito, meus braços a envolvem de imediato a
puxando ainda mais perto.
— Saber, eu até sei, mas é sempre um prazer poder ouvir novamente!
Eu também te amo muito, Anjo!
Beijo seu cabelo, depois suavemente seus lábios, em pouco tempo
caímos no sono dos esgotados, recuperando as energias para que possamos
estar dispostos quando a nossa anjinha ficar com fome e exigir nossa atenção.
Primeiro mês
Darla
Se eu estava acostumada a dizer que minha vida depois que conheci
James começou a se tornar perfeita, certamente ainda não fazia ideia do que
era ter uma família. Uma em que eu tenha sido corresponsável para que ela
fosse possível, agora sim, eu posso dizer que minha vida está cada vez mais
na direção da perfeição.
Apesar das noites de horas de sono contadas e ainda assim
interrompidas, eu sou de verdade uma menina/mulher feliz, acho que no
fundo nunca fui só uma menina. O mundo sempre teve um contexto diferente
para mim, o que é bom, me fez crescer cedo, mas também me possibilitou
perceber as coisas a minha volta com mais clareza.
Bem, nem tanto, no que diz respeito a James, ainda sou apenas uma
adolescente insegura e perdidamente apaixonada pelo noivo.
Parando para analisar o meu ano, posso dizer que a vida tem sido bem
generosa comigo, me devolvendo meus pais, encontrado o amor da minha
vida e minha maior preciosidade, que agora se remexe inquieta enquanto a
Dra. Emily, a mesma que me acompanhou durante o parto, faz todos os
exames na sua consulta de um mês de nascida.
— Veja só como essa princesa cresceu, está com exatamente cinquenta
e oito centímetros e três quilos e oitocentos gramas. Darla, minha querida,
está de parabéns, seu leite materno tem feito muito bem para sua filha e que
maravilha, nenhuma incidência de cólicas, isso é maravilhoso, ainda mais se
tratando de um nascimento precoce.
Ouço tudo que a médica me diz e me sinto orgulhosa de ser o tipo de
mãe que sou, é gratificante saber que estou mais do que apenas alimentando
minha menininha, estou a mantendo saudável, seu desenvolvimento está
perfeito, para me deixar ainda mais nas nuvens. Vejo na fisionomia de James
que se sente meu cúmplice, nenhum dos dois é capaz de desviar a atenção de
nossa menina. — Você é maravilhosa, Anjo!
Derreto por dentro com suas palavras, as guardando para análise
posterior, já que tenho que vestir minha princesa, seus olhinhos, como
imaginei, da cor exata da de seu pai me olham enquanto visto seu macacão
cor de rosa com pequenos detalhes florais.
Depois de pronta com todos os acessórios, luvas, sapatinhos e gorro
com orelhas de ursinho, vira minha perfeita bonequinha de porcelana chinesa,
só que bem mais preciosa.
“A festa está boa não é mesmo? Pena que ela não durará muito tempo,
falta pouco, espero que aproveite bem seu Anjo!”
O número que a mandou é desconhecido e não é o mesmo da
mensagem anterior. Minha cabeça gira mil voltas em questão de segundos e
tudo que posso pensar é que estava tudo perfeito demais para ser verdade,
parece que o destino decidiu cobrar sua cota depois de tantos momentos
felizes no último mês.
James
Uma montanha russa!!!
Sinto como se estivesse em uma nesse momento, falta-me chão debaixo
dos pés, por um momento pensei que essa brincadeira de mau gosto tinha
acabado, mas pelo jeito, quem quer que esteja por trás dessas mensagens,
esperou até abaixarmos a guarda para votar a cena, provavelmente pelo
simples fato de nos ver sofrendo, isso chega a ser doentio.
— Pai, precisamos fazer algo, essa situação está ficando muito
insuportável, quero encontrar esse bastardo para ficar cara a cara com ele, só
assim vou conseguir trazer a paz de volta para a minha família.
Estamos em seu escritório há uma hora, tentando a todo custo descobrir
de onde vem essas malditas mensagens. Segundo o detetive de polícia esse é
mais um número de um telefone descartável, comprado apenas para isso, pois
logo depois passa a ser não rastreavel. Isso não tem me agradado em nada.
Com a proximidade do casamento, Darla tem saído cada vez mais. Há
coisas que ela não pode resolver de casa e onde ela está Bellie vai junto,
minha cabeça começa a entrar em parafuso com as possibilidades que isso
dará para quem quer que seja e deseja fazer mal a minha família. Chegamos a
cogitar a possibilidade de adiar o casamento, mas desistimos, iremos reforçar
a segurança em nossa casa.
— Nós iremos descobrir filho, não deixarei ninguém fazer mal algum a
nossa princesinha ou minha nora, iremos descobrir quem é esse desgraçado e
cuidarei dele eu mesmo! — Vejo a ferocidade nas palavras do meu pai.
De alguma forma suas palavras me acalmam um pouco, saio do
escritório e vou atrás das minhas meninas, com uma saudade louca delas,
procuro na sala e não as encontro, subo as escadas e vou para o meu antigo
quarto, agora totalmente reformado para nossa menina. Minha mãe diz que é
de praxe os netos terem seus quartos na casa dos avós, não discuti, uma vez
que espero não mais precisar utilizá-lo como meu novamente.
Abro a porta do quarto e meu coração inquieto logo se acalma no meu
peito, lá estão as duas razões do viver, dormindo pacificamente, Darla
mantém uma mão protetora sobre nossa filha.
Olho para o criado mudo ao lado da cama e vejo um frasco do calmante
que Luke receitou para ela durante a gravidez, quando as malditas mensagens
começaram a chegar. Isso explica seu sono tranquilo, quando sei que
geralmente ela estaria uma pilha de nervos, andando por todos os lados sem
parar. Não querendo perturbar seu sono, deito do outro lado da nossa menina,
fico lá em silêncio, prometendo protegê-las com a minha vida.
Fico imerso em meus pensamentos, não sei por quanto tempo. Em
algum momento o cansaço de um mês como pai de primeira viagem, um
homem sexualmente frustrado e todas as coisas que tenho feito para deixar
tudo certo para nossa viagem de lua de mel, bem como partida para o Brasil,
pesam sobre mim e caio no sono, acompanhando meu Anjo lindo na terra dos
justos.
Treze dias ...
Darla
— Mãe, tem certeza que está tudo certo? — Pergunto pelo que deve ser
a milésima vez desde que minha mãe chegou essa manhã.
Dessa vez a decisão é sobre a decoração para a festa, tudo relacionado
com a cerimônia está preparado, daqui menos de duas semanas estarei
fazendo o caminho muito aguardado por nós, que é de encontro ao meu noivo
no altar.
Mas ainda faltam alguns detalhes da festa, como a prova final do
vestido. E sempre é possível surgir uma emergência de última hora. Mas o
que mais quero é que tudo acabe e possa enfim desfrutar do meu “até que a
morte nos separe”.
“Ou não separe, talvez. Esse amor pode ser do tipo infinito.” Minha
mente nada santa aparece para dar aquele apoio moral, dessa vem muito bem-
vindo.
— Sim filha, tenho certeza que Sol fará um trabalho excelente com
suas escolhas, os tons claros que escolheu para a decoração e as flores
também, principalmente as que ela conseguiu, será um feito tantas orquídeas
azuis espalhadas por todos os lados, de forma harmoniosa com as demais!
Minha mãe parece estar em um parque de diversões, seus olhos brilham
animada, eu não nego que me divirto também, mas estou com muita coisa na
mente para que possa aproveitar completamente o meu momento.
— Sim, ela fará, por falar nisso, ela já deveria estar aqui com Márcia e
as garotas, Dothy deve chegar a qualquer momento com os vestidos para a
prova, quero muito ver o meu pronto! — Digo animada.
Pensar nas rendas e cetim escolhidos para a confecção do meu vestido
de casamento faz meu coração disparar, até mesmo o que Dothy Mackenzie,
estilista e amiga da minha mãe, me preparou para usar por baixo dele, só
espero que James goste de me ver em roupa de baixo feita especialmente para
a ocasião.
Ela se divertiu muito quando contei como James e eu nos conhecemos,
a moto e tudo, então teve a ideia de desenhar uma lingerie em couro branco
que fosse ao mesmo tempo sexy e que se encaixasse bem por baixo do meu
vestido, sua amiga Lucy que trabalha há anos com esse tipo de vestimenta é
quem está cuidando dessa parte, mas apenas sei que tudo isso está criando
uma expectativa ainda maior dentro de mim.
Levando-se em conta que estou há um bom tempo sem ter meu lindo
noivo da forma que desejo, faz minha libido entrar em ebulição só de
imaginar.
Antes das três da tarde Dothy chega com o meu vestido, que mais uma
vez teve que ser ajustado de última hora, meu peso deu uma leve melhorada
uma vez que a angustia de dias atrás foi embora.
Assim que tudo está terminado com a parte estética da minha
preparação, vou até o closet para fazer a coleta do leite que Bellie irá
consumir durante a noite, não queria me afastar dela, mas minha mãe me
prometeu cuidar dela essa noite, para que James e eu posamos aproveitar o
máximo possível.
É chegada a hora do vestido, fecho os olhos e deixo que o tecido suave
escorregue pelo meu corpo, sinto minhas pernas fraquejarem quando me vejo
vestida diante do espelho.
Só então percebo que em menos de uma hora começará o meu para
sempre com James, fico aqui ainda olhando para meu reflexo por um tempo,
acalmando a respiração que parece a ponto de faltar, até que minha mãe surge
ao meu lado segurando uma caixa de veludo quadrada da Cartier, quando
abre a tampa posso ver uma tiara estilo princesa, toda cravejada de diamantes
ali sobre o veludo, meus olhos se enchem de lágrimas, por sorte me foi
aplicada maquiagem a prova d'água.
— Achei que iria querer usá-la hoje, essa tiara pertenceu a minha
bisavó que foi parte da realeza britânica, ela tem estado na nossa família por
gerações, agora é sua vez de cuidar dela, até que sua filha chegue na idade de
herdá-la!
— Mamãe! Ela é simplesmente, linda! — As lágrimas rolam pela
minha face, lembro de ter achado que nunca iria ter a emoção de ter meus
pais comigo nesse dia especial, quando James me pediu meses atrás para
casar com ele.
— É o seu algo antigo querida, eu te amo, minha Anjinho! — Ela me
beija e com a ajuda de Dothy a coloca sobre o meu véu, em seguida sai do
quarto para chamar meu pai.
Acho que nem nos meus sonhos de menina eu poderia me imaginar
casando com uma tiara tão linda, esse pensamento me faz rir, até que Márcia
de aproxima e abre também uma caixa menor, lá estão um colar de ouro
branco com um pingente delicado contendo vários pequenos brilhantes em
volta dele e um par de brincos também de ouro com os mesmos brilhantes do
pingente, fico sem fala com tantos presentes, um mais lindo e especial do que
o outro.
— Esse é meu e de Marlon, nunca vamos conseguir agradecer a você o
suficiente por ter-nos feito uma família unida e feliz, além de nos presentear
com nosso tesourinho, muito obrigada Darla, seja mais que bem-vinda a
família, minha querida, esse é seu algo novo!
Abraço minha sogra, que mesmo sem saber do laço sanguíneo que ela
tinha com minha menina já a amava antes dela nascer. Que também me amou
e cuidou para que nada de ruim viesse a me acontecer.
Ela me ajuda a colocar as joias e sai assim como minha mãe, para em
seguida ser a vez de Bella me abordar, seus olhos brilham das lágrimas que
ela tenta segurar.
— Deixe-me ver você, uau, está muito linda Darla. Acho que vou sentir
muitas saudades de você, queria que estivesse aqui quando meu pai viesse me
buscar para morar com ele daqui dois meses, mas enfim, vá lá ser feliz,
minha amiga!
— Obrigada Bella, estou tão feliz de tê-la aqui!
A abraço apertado, lembrando das nossas conversas no meio da noite
quando uma tinha pesadelo e a outra corria para se certificar que tudo estava
bem e nenhum monstro teria saído do armário para devorá-la.
— Eu nunca perderia seu casamento, aqui ou no Japão, você foi minha
primeira e melhor amiga, nunca vou esquecer tudo que fez por mim, como
uma pequena forma de agradecimento, gostaria que usasse isso hoje, por
favor, foi da minha mãe, ela me deixou com ele antes de morrer, pode ser o
seu algo azul e emprestado?
Olho para o pequeno broche em forma de lírio com uma pedra azul no
centro, sei o quanto ela é apegada a ele, sempre o manteve por perto, a única
coisa que sobrou como recordação da mãe.
Aceno com a cabeça e ela logo o coloca no meu vestido, nos
abraçamos, em seguida vou ver como está minha princesinha, está
aparecendo uma boneca com seu vestido cor de rosa, dou-lhe um beijo antes
que Adele desça com ela para tomar seu lugar logo a frente, quero minha
filha na minha linha de visão durante toda a cerimônia.
A porta abre e meu pai entra, segurando o um buque de lírios brancos.
Ele o entrega para mim e aponta para o cartão ali no canto, com as mãos
trêmulas o pego e leio as palavras que meu amor escreveu para mim, antes do
grande momento.
Nossa festa começa com tudo que temos direito, minha mente ansiosa
não registra muito, é como se o relógio tivesse acelerado de repente, os
discursos dos nossos padrinhos e damas de honra, foram simples, porém
levaram-me às lágrimas em cada um deles, minha fala foi apenas de
agradecimento a todos que torceram pela nossa felicidade. James, no entanto,
decidiu que queria dizer algumas palavras para me fazer chorar ainda mais.
— Muitas vezes andamos pelo mundo em busca de algo que não
fazemos ideia do que seja, totalmente perdidos, estive assim por um tempo,
em busca desse algo, até que o encontrei em forma de mulher, a mais bela
dentre todas elas, minha linda menina. Você me fez ter fé novamente, fez
perceber que por mais difíceis que as coisas estejam, uma hora elas irão
melhorar, nunca desaminando, então senhoras e senhores, peço que levantem
suas taças em um brinde à mulher que nunca se deixou abater mesmo em
meio a todas as adversidades que a vida impôs, um brinde para minha linda e
doce esposa, nem mesmo todo tempo do mundo será o suficiente para amá-la
o suficiente!
Levanto-me enquanto ele vem de volta para a mesa, assim que está ao
meu alcance, lanço-me em seus braços, sem me importar com mais nada, há
apenas nós nesse momento. Os risos e assovios vindo da nossa plateia me
trazem de volta para o presente.
— Acho que está na hora da nossa dança! — James diz mordiscando o
lóbulo da minha orelha e estremeço.
— Sim, mas primeiro quero ver nossa menina, faz cerca de três horas
que ela não come, vamos passar a noite longe dela, não a quero se sentindo
deixada de lado.
— Certo! Quer que eu a acompanhe? — Seus olhos trazem aquele
brilho selvagem que me dizem que não se trata apenas de uma oferta simples.
— Não, certamente deixaríamos os convidados esperando mais do que
o necessário! Guarde a primeira dança para mim!
Dou-lhe um beijo casto no canto da boca e saio em busca da minha
princesinha, que há muito se retirou com Adele para seu quarto, nenhuma
festa é capaz de mudar a rotina dela, o que muito me agrada, assim fico
tranquila quanto a deixá-la, mesmo que por uma noite.
Após estar com minha pequena por quase uma hora, estou pronta para
darmos continuidade às festividades, James está lá me esperando para a nossa
primeira dança, meu coração dispara no momento que ele me estende a mão,
sem medo ou receio a seguro e vamos em direção à pista de dança, a melodia
de I Choose You da Sara Bareilles, começa a ser tocada pela banda de uma
forma suave a nosso pedido, ela significa muito para nós.
Por algum tempo eu vivia imaginando que era como uma princesa
trancafiada na grande torre pela bruxa malvada, mas diferente dos contos de
fada, fui eu quem buscou minha fuga, depois de ficar esperando pelo resgate
que parecia nunca vir.
E nessa fuga, encontrei o meu valente cavalheiro. Estava lá a minha
espera para fugirmos junto, ele não merecia alguém fraca, ele precisava de
uma guerreira disposta a ir com ele sempre na linha de frente das batalhas.
Não fugimos no seu cavalo, mas na sua Harley tunada.
I choose You
I choose You *
James
Estar com meu Anjo em meus braços enquanto dançávamos, foi
maravilhoso, mas logo depois ela se foi, havia alguns marmanjos na fila de
espera para ter um pouco da sua atenção, a deixei ir, não muito contente, mas
deixei. Assim que todos tiveram seu tempo na pista de dança com ela, e eu fiz
o bom moço dançando com as senhoras e senhoritas ali pré-determinadas.
Agora estamos em frente à mesa com o bolo. O momento de darmos
um pedaço na boca do outro nos fez rir, acabamos por desfrutar do sabor do
chocolate através do beijo que vem em seguida,
Quando por fim terminamos as tradições, já passa das dez, é quando
resolvo que já demos muito da nossa atenção a todos, é hora de ter minha
mulher, só para mim.
— Acho que já podemos sair! — Digo assim que a tenho nos meus
braços novamente.
— Falta jogar o buquê! — Seu sorriso divertido não apaga o fato que
sinto seus batimentos acelerados como também seu olhar que me queima por
dentro.
— Então o jogue, não sei se poderei esperar por mais tempo, preciso ter
você só para mim, será uma longa noite, Sra. Duran! — Com alegria vejo
quando ela prende a respiração com minha promessa, como também sei que
ela pode sentir como estou sedento por ela.
Soltando-se dos meus braços, ela segue até onde está Sol, que logo
avisa que chegou a hora das senhoritas terem uma chance de ser a próxima a
casar, Darla sorrir para a pequena multidão de mulheres ali perto, vira-se e
lança o buquê.
Vejo-o girar no ar até cair nos braços de Eloise, todos aplaudem, eu
tomo minha mulher nos meus braços e a beijo antes de ir me abaixando aos
poucos até estar de joelhos na sua frente, um garçom chega com uma cadeira
e coloca atrás dela, assim facilita meu trabalho, a empurro levemente para
que sente, com uma pequena cena levo minhas mãos até seus tornozelos,
acaricio e começo meu caminho para um pouco mais acima.
Olho para ela, que tem o rosto corado e um olhar ainda mais faminto,
sorrio e continuo, faço pequenos círculos na sua pele até chegar à sua coxa,
bendito seja esses vestidos com muitas saias, caso contrário essa tradição
estaria banida do meu casamento. Assim que encontro o que procuro sorrio
de orelha a orelha, vejo como isso afeta minha menina, ela está quase
implorando para que minha mão suba um pouco mais.
“Ahhh baby, também quero, só não aqui!”
Puxo a delicada liga até a altura do seu joelho, ela levanta a saia do
vestido dando um belo espetáculo aos convidados.
Minha garota está se divertindo também, ela saberá mais tarde que não
deve ter essas belas pernas tão expostas. Ainda segurando sua perna em
minhas mãos a levanto e começo a beijar delicadamente todo o comprimento,
até minha boca alcançar seu objetivo.
Arranco a liga com meus dentes, para a euforia da plateia que grita e
assobia me incentivando a continuar, levanto minha mulher e a beijo
apaixonadamente enquanto lanço para trás a liga de renda delicada, não me
importando com quem foi o sortudo que a pegou.
Darla
O trajeto para o Waldorf-Astoria Hotel na God Cost, foi feito em um
silencio confortável, pelos olhares que me foram lançados pelo meu belo
marido, sei que se ele falasse o pobre motorista iria saber exatamente o
estaríamos prestes a fazer, não que ele fosse bobo para não ter noção de que
estávamos indo para nossa noite de núpcias, mas ter consciência dos detalhes
é uma história totalmente diferente.
Assim que as portas do elevador privativo abem no Sexagésimo andar,
James está ao meu lado, seus lábios tomando posse dos meus, todo seu
autocontrole diante do motorista e do ascensorista some assim que estamos
finalmente a sós.
Minhas mãos ávidas logo estão trabalhando nos botões do seu colete e
da camisa branca de linho, por mais sexy que ele seja no seu smoking, o quero
fora dele, eu preciso desesperadamente na verdade.
— Calma meu amor!
Sua voz sai rouca devido ao desejo que vejo queimar em seus olhos,
minha pele quente, parece entrar em combustão espontânea quando ele me
vira e começa a desfazer os botões do meu vestido, seus dedos fazendo
pequenos círculos na minha pele, meu gemido satisfatório chega a ser
vergonhoso, de tão dolorosa é minha necessidade dele.
— Minha doce menina está precisando de algo?
Pergunta junto ao meu ouvido, enquanto vai fazendo o vestido descer
pelo meu corpo, sinto quando sua respiração trava ao ver o que tenho por
baixo do vestido, digo um obrigado silencioso a Dothy por ter projetado um
vestido que me permitisse usar uma mini camisola sexy por baixo, fazendo a
renda dela se confundir com a do próprio vestido.
E ele ainda não viu que ela é aberta na frente. Quando me viro para
encará-lo, o vejo engolir em seco, seus olhos queimando em brasa.
— Você tem ideia de como está sendo um mau bocado, a minha
tentativa de ser doce e suave? — Sorrio satisfeita.
— Não. Também não me disse se gostou da minha lingerie, querido. —
Faço cara de inocente.
— Você não precisa se preocupar quanto a isso, Anjo! Você em couro
branco, é o Anjo da tentação em carne e osso e só minha, não vou me segurar
por muito tempo. — Vejo seu duelo interno.
— Não precisa, eu quero você Jem, agora, por favor! — Não tenho
qualquer vergonha.
— Deus, Anjo, eu quero lento e devagar, venha vire-se! — Faço o que
ele manda.
Ele me ajuda a sair da onda de tecido aos meus pés e me coloca sentada
na cama enquanto vai se despindo, é a coisa mais difícil que eu poderia fazer,
ficar aqui olhando.
— Por favor, Jem? — Choramingo.
— Shhhh, minha menina! Vou atendê-la, não vou parar até estar
totalmente satisfeito e minha fome está tremenda. — Diz largando a camisa
de qualquer jeito.
Logo que ele está apenas na sua box, volta para onde estou, seus lábios
tocam os meus enquanto suas mãos fazem minha vestimenta de renda
deslizar pelos meus ombros, logo seus dedos estão trabalhando na abotoadura
do sutiã, suas mãos descem aos meus seios quando me empurra para deitar na
cama.
Ele paira por cima por uma fração de segundos antes dos seus beijos
começarem a percorrer o meu corpo, com beijos suaves, carinhosos e
adoradores, sinto-me amada e preciosa nesse momento, ele migra em direção
ao sul do meu corpo. Quando sua boca atinge o meu ponto sensível por cima
da calcinha eu grito extasiada pelo tremor que percorre todo o meu corpo,
quero mais, muito mais, o fogo que queima por dentro só faz crescer a cada
caricia que sua boca me faz, perco o controle e o puxo para mim.
Preciso dele como preciso da minha próxima respiração, ele sorri, mas
seus olhos também queimam, assim que obtenho sua boca na minha
novamente, ele começa a dar cabo do restante das nossas roupas, não
podemos mais esperar, é uma necessidade que se não for saciada
imediatamente ameaça nos queimar por completo.
— Por favor? — Peço desesperada.
Seu gruindo me envia para a beira do precipício, ele olha nos meus
olhos enquanto toma posse do que é seu, fazendo-me sentir que sou
irrevogavelmente dele ao me penetrar com uma fome desesperada. Seus
olhos aumentam significativamente, suas pupilas dilatadas, transformando o
cinza em um tom tão escuro que chega a ser sombrio, mas não me importo,
quero ser tragada para dentro dessa escuridão, seus movimentos ritmados
com os meus fazem a dor no meu núcleo e a queimação só crescer e crescer,
até que quebro completamente, chamando seu nome enquanto vou caindo do
precipício sem fim.
— Minha, só minha para sempre! — Ele grita segundos depois
enquanto me acompanha durante toda a queda, sorrio feliz por saber que
mesmo caindo estou segura em seus braços.
*Eu não posso que sequer percebi que estava ausente/ porque eu poderia viver peal luz nos seus olhos
* Nós não somos perfeitos/ nós iremos aprender por nossos erros/ e leve o tempo que for/ eu irei provar meu
amor por você.
*Eu escolho você, escolho você.
Viver com você
Darla
Aqui tudo é calmo e pacífico, não acho que eu queira voltar a realidade
tão cedo, olho para o mar em sua imensidão, respiro a brisa suave que vem
trazida pelo vento, amo a sensação da maresia tocando minha pele.
Quando James decidiu me fazer uma surpresa quanto ao nosso destino
para lua de mel, não pensei que nos traria exatamente ao país que será nosso
lar pelos próximos anos, segundo ele, uma maneira para que possamos nos
adaptar de forma mais calma, assim quando mudarmos de uma Chicago com
seu clima frio, para um clima tropical como o do Brasil, não sentiremos tanto
a mudança. De início achei que era mera preocupação e exagero dele, mas no
nosso primeiro dia aqui pude constatar sua teoria.
Viajamos assim que as férias de verão começaram e James tinha por
fim finalizado seu primeiro período da residência. E o tempo certo para que
chegasse aqui para fazer a prova de admissão de patologista residente no
brasil. Isso é dois meses após nosso casamento. Se me importei? Nem um
pouco, foi como ter duas luas de mel distintas.
E cá estamos nós, na nossa segunda semana visitando o litoral
Nordestino, já passamos por tantos lugares bonitos, começamos por Salvador
com sua infinidade de cores e povo sorridente, bem como meus pais falaram
que seria, em seguida rumamos para Jequiá da Praia no estado de Alagoas
onde desfrutamos da beleza que são as Dunas de Marapé. E a cada nova
cidade visitada meu encanto pelo meu novo país só aumenta.
James me disse que se for da minha vontade poderemos morar em
qualquer um desses lugares. Devo confessar que foi com muito esforço que
não cai completamente de amores por Conde, a exuberância do lugar é de
tirar o fôlego, aquela água de um azul sem igual parecia conversar comigo,
dizendo-me que era ali que eu pertencia.
Mas não poderia decidir sem conhecer o restante, então seguimos nosso
tour, indo para Mossoró, uma cidade que apesar da modernidade e seus
grandes prédios, conserva aquele ar interiorano típico, suas águas termais, tão
relaxantes, quase me fazem cair novamente de amores.
Depois de passarmos dois dias em Fortaleza, que é sem dúvidas onde
quero viver. Me encantei por tudo em si, as pessoas alegres, as praias, o clima
que mesmo sendo quente, tem aquela brisa gostosa, sem falar que lá terei a
companhia da minha nova amiga, Calye. Logo partimos para Bom Sossego,
onde pude finalmente conhecer Ethan e Lim pessoalmente, como era
esperado, nossa amizade se fortaleceu ao nos vermos pessoalmente, eles
moram no estado vizinho ao que moraremos, mas não tão longe, nos
permitindo visitas frequentes no futuro.
Pude também conhecer Gabriele a nova filhinha deles e afilhada dos
meus pais, que é apenas um mês mais nova que Bellie, já que nossa princesa
resolveu nascer um pouco antes do tempo, seus olhos idênticos aos de sua
mãe me fizeram ter um pouco de inveja, já que foi Jem quem transmitiu isso
a nossa filha.
Mas então teve Caio, que encanto de menino, com seus grandes olhos
cinzas de tirar o fôlego e tão parecido com Ethan que fez meu queijo cair com
tanta semelhança. E ali a inveja passou, vi que Lim acabou por ter um
consolo na pequena Gaby.
Passamos quatro dias maravilhosos por lá, onde pude fazer mais uma
amiga, Gianna, melhor amiga de Lim que também será mãe em poucos
meses, se o pequeno Felipe vier com um par de olhos verdes tão
impressionantes quanto os do seu pai, não restará dúvidas que terá inúmeras
fãs, que segundo James e Ethan, não serão as nossas filhas, o comentário nos
fez rir um bocado.
Sair de lá foi difícil, mas partimos com a promessa de voltar em dois
meses para o casamento religioso de Gia e Álvaro, que segundo Lim foi um
grande feito para o pobre homem convencê-la a receberem as bênçãos pouco
depois do nascimento do bebê. E vejam só, não somos apenas James e eu que
acabamos antecipando o cronograma das coisas, assim como Ethan e Lim há
quatro anos atrás, o conhecimento desse fato me faz rir e ter visto em
primeira mão como eles estão incrivelmente felizes e apaixonados. Isso me
dá uma boa perspectiva para o futuro.
— Você ficará muito vermelha se continuar no sol, Sra. Duran! — A
voz do meu lindo marido me tira das minhas lembranças agradáveis.
Olho para o mar de Jericoacoara, entendendo porque a consideram uma
das mais belas praias do mundo, suas falésias que levam você a pensar em
filmes de romance sem fim, o azul profundo da água não te deixa com muita
vontade de e mover, com medo de que o que está a sua frente possa ser
apenas um sonho, o tipo de sonho do qual você não quer acordar.
— Não acho que uma corzinha a mais será um problema! — Pisco para
ele fazendo um charme.
— Não, mas então não poderemos aproveitar nossa última noite por
aqui, com você toda ardida do sol! — Seu argumento me convence, então
volto para a posição sentada, assim fico sob a proteção do guarda-sol.
— Bom argumento, Sr. Duran. Onde está nossa pequena princesa?
Meus olhos varrendo à frente da casa que alugamos para ficar esses
dias, pois a comodidade é dez vezes melhor que de um hotel, ainda mais se
você tem um bebê.
— Tendo seu soninho da beleza do meio da tarde, com Adele sempre
ao seu lado! — Sorrio satisfeita com o cuidado que ela tem para com a minha
Anjinha, não sei o que seriamos sem ela.
— Hmmmm, bom, muito bom! — Dou-lhe um sorriso malicioso.
Vejo seus olhos faiscarem segundos antes dele me ter sobre seu ombro
e correr em direção a água. Grito em protesto, o que torna isto ainda mais
divertido para ele.
Quando está com água acima da cintura, desce-me devagar, me
permitindo catalogar seus músculos tão bem definidos com meu corpo,
envolvo minhas pernas ao redor do seu tronco e o beijo com uma fome
incontrolável, agradecendo silenciosamente à privacidade que essa
propriedade nos dá, nos permitindo conectar ali com o sol brilhando e a água
ao nosso redor, nos servindo de testemunhas do nosso amor.
James
Paro o carro em frente à casa, uma senhora de uns quarenta e cinco
anos aparentemente, está parada junto a porta para nos receber, seu sorriso é
do tipo suave, olho um pouco mais para ela e logo sei de quem se trata.
É a mãe do meu amigo Nicolas, o conheci cerca de dois anos atrás, ele
é cunhado de um dos melhores cardiologistas do Reino Unido, o Dr. George
Lee Segundo, foi uma surpresa quando aquele advogado recém formado
adentrou a cafeteria em frente ao DMC furioso por ter sido praticamente
expulso do escritório do meu pai, onde foi tratar da parceria que nosso grupo
faria com o seu cunhado e a equipe médica que ele lidera e que oferece
cirurgias e tratamentos cardíacos para aqueles menos afortunados de Londres
e seus arredores.
Podem imaginar que o aconteceu. Meu pai se recusou tratar de
negócios com um garoto, segundo ele, mas depois que consegui que parasse
para ouvi-lo falar por dois minutos, Nicolas o fez ver que mesmo aos vinte e
quatro anos ele sabia lidar com os tubarões como gente grande.
Então quando não pode ir ao meu casamento juntamente com sua
esposa, por algum motivo muito importante, ofereceu sua casa de praia para
passarmos nossa última semana de lua de mel, não tive como recusar, nem
ele aceitaria a recusa, mesmo que já tenhamos passado por Fortaleza,
voltamos para desfrutar da gentileza do meu amigo.
— Vocês devem ser James e Darla!
Veronica diz assim que saímos do carro, estendo-lhe a mão que logo é
ignorada, seus braços nos envolvem em um abraço carinhoso.
— Se são amigos do meu filho, então são meus também e amigos aqui
no Ceará acolhemos com abraços! Sejam bem-vindos! Calye e Nicolas não
poderão estar aqui hoje, mas prometeram que aparecerão para uma visita,
estão um tanto atarefados com a mudança das empresas.
Retribuímos a sua demonstração de afeto, mesmo que isso não seja
típico da nossa cultura, já estamos razoavelmente familiarizados com os
costumes daqui. Alguns dias com nossos novos amigos em Bom Sossego e
abraços se tornaram uma marca registrada nossa também.
— Obrigado, Sra. Medeiros! — Darla, como sempre, um poço de
educação e gentileza.
— Mas que bobagem, me chame de Veronica. Ahhh! Essa linda
bonequinha, Isabelle, certo? — Seus olhos brilham assim que pousam em
Bellie que dorme no colo de Adele.
— Essa é nossa princesa Isabelle Marie! — Meu peito infla de orgulho
sempre que falo seu nome as pessoas. Minha filha! Ainda é um pouco difícil
de acreditar que ela está tão linda com seus quatro meses de vida.
— Ela é perfeita! Não vejo a hora de ter meus netos correndo por aqui!
— Diz sorridente.
Ela segue na direção da casa nos guiando para dentro e você não
acredita que possa ser tão bonita quando a vê por fora, é impressionante, sua
parede toda em vidro que permite que se veja o deque, a piscina e logo mais à
frente o mar, com suas ondas beijando a praia, é uma visão de tirar o fôlego,
sem dúvidas.
— Bem, vou deixar que se acomodem, a dispensa está abastecida, as
chaves estão na mesa ao lado da porta, deixei também uma lista com números
de telefones que vocês podem vir a precisar, além do meu próprio,
aproveitem a estadia, estão em um dos lugares mais lindo do nosso litoral,
tenham uma boa tarde!
Veronica se despede logo após nos ajudar a encontrar os quartos no
segundo andar, por sorte há um que faz interligação com um quarto vizinho,
que foi preparado para nossa menina, a gentileza dos nossos amigos não tem
limites, se preocupando com detalhes simples como esse, faço uma nota
mental para agradecer por isso também.
Saio do quarto onde minha pequena dorme tranquilamente, com sua fiel
companheira ao lado do seu berço tecendo alguma coisa com sua linha de
tricô, não que aqui seja preciso, mas ela diz que ajuda sua mente a se manter
entretida enquanto Bellie dorme. Não discuto.
Assim que entro na suíte que ocuparemos, vejo Darla de pé na varanda,
seu cabelo longo sendo balançado suavemente pela brisa que vem do oceano.
A imagem dela ali com o mar como fundo é impressionante.
Meu coração palpita e em uma batida estou com os braços envolvendo
sua cintura, ela é a melhor coisa que me aconteceu e a cada dia agradeço aos
céus por ter resolvido lançar uma tempestade para fazê-la brincar no meio da
rua como uma criança travessa.
Levo meus lábios ao seu ponto sensível logo abaixo da orelha e beijo
suavemente, fazendo-a tremer pelo calafrio que percorre seu corpo.
— Nunca vou cansar de olhar para tanta beleza! — Digo junto ao seu
ouvido.
— Nem eu! — Ela suspira satisfeita, ainda com os olhos no horizonte.
— Refiro-me à beleza a qual tenho meus braços em volta!
Ela vira e olhar para mim, seus olhos de um azul semelhante a água a
nossa frente. Perco-me neles e no toque dos seus lábios nos meus, começando
a nossa dança única que acaba a maioria das vezes com nós dois perdidos no
corpo um do outro.
As preciosidades da vida
Darla
Um minuto de felicidade completa, vale muito mais do que uma vida inteira
sem emoção...
Lembro de ter ouvido essa frase em algum lugar e por algum tempo eu
trocaria uma vida inteira pela felicidade completa, agora que eu a tenho, não
abro mão dela, por nada.
Quando achei que James não poderia ficar mais bonito do ele é, abro os
olhos e me deparo com ele todo paternal sentado com nossa princesa no colo,
depois de tanto trabalho embalando as coisas nas últimas duas semanas,
enfim estamos prontos para a mudança definitiva, um país novo, vida nova,
planos novos, com a mesma felicidade de sempre.
— Veja Bellie, quem acaba de acordar. É sim, sua mamãe, agora você
poderá tomar seu café da manhã, enquanto o papai desce e arruma algo para
comer com a garota dele, não é uma boa ideia? Hum?
Essa forma única que ele tem de conversar com ela traz um enorme
sorriso ao meu rosto, principalmente por vê-la se contorcer nos seus braços
como se estivesse entendendo tudo, o que pode ser bem possível segundo
minha amiga Helida, que também é pediatra e para minha felicidade se
disponibilizou a ser quem atenderá minha princesa a partir de agora, segundo
ela uma forma de mantermos contato, sempre visitando uma a outra.
— Essa mamãe faminta, acha essa ideia fantástica, ainda mais com o
pouco tempo que teremos a sós na nossa casa, daqui a pouco todos estarão
aqui para se despedirem.
Estou feliz com nossa partida, porém, foi tão pouco tempo na nossa
casa, sinto um aperto por deixá-la, mesmo sabendo que ela será mantida para
nossas férias.
— Dê-me ela aqui. — Estendo os braços e uma Isabelle sorridente logo
se joga, as vezes a acho muito ativa para seus cinco meses de idade, ainda
mais por ter nascido algumas semanas antes do previsto, mas segundo
Márcia, deve ser da genética dos Duran serem ativos desde cedo.
— Você dormiu bem, hum? Será que acabaram-se as noites de poucas
horas dormidas? — Brinco com ela como sempre faço antes de começar a
amamentá-la.
Com a brincadeira, arranco dela seus sons infantis já tão familiares, a
noite passada ela dormiu como uma pedra, não acordando nenhuma vez, um
grande feito, eu não conseguia dormir tão bem assim há um bom tempo.
Sento-me com ela alojada em meus braços e novamente entramos no
mundo só nosso, onde só há espaço para nós duas, mãe e filha estabelecendo
novamente essa conexão que existe e nada poderá mudar.
James
— Não posso acreditar que meu bebezinho está indo embora, vocês
têm certeza que não querem pensar melhor sobre isso? — Minha mãe
pergunta pelo que deve ter sido a décima vez nas últimas duas horas.
— Não mãe, é definitivo, em quatro horas estaremos indo para o Brasil,
mas não faça essa cara, sabia que essa hora chegaria em algum momento,
preciso correr atrás dos meus sonhos e não estarei sozinho nessa! — Puxo
Darla para o meu lado, minha mão na base da sua cintura, faço pequenos
círculos onde meus dedos encontram sua pele.
— Darla, sentirei tanto sua falta, querida, e da minha princesinha, a
tivemos aqui por tão pouco tempo! — Seu olhar migra para onde Eloise está
com Bellie em seus braços, com um Luke com cara de bobo ao lado.
— Você sempre poderá nos visitar, sabe disso, nossa casa em Fortaleza
é linda, imagine poder tomar café da manhã na varanda com o mar de pano
de fundo, fiquei encantada, assim que Nicolas nos mandou o contato do
corretor, compramos, o melhor é que estaremos no mesmo condomínio deles,
poderei ter Calye como vizinha, nossos filhos crescerão juntos e serão
amigos. — Diz minha menina animada.
— Oh sim, Marlon me falou dos seus amigos, acho muito corajoso tudo
que eles têm feito, não é todo dia que você vê a sua família ser tão devastada
e continuar de pé e com a cabeça erguida, aquele garoto é um excelente
rapaz, fico feliz que encontrou alguém a altura do seu valor!
— Ih, mãe, ele a encontrou há muito tempo, é coisa de paixão de
infância, quando forem me visitar no Brasil, pedirei a Calye para te contar a
história deles nos mínimos detalhes, pois se eu o fizer, não sairia tão
verdadeira.
Nessa hora, agradeço a Deus por não me ter feito esperar tanto tempo
para viver o meu amor, ele trouxe minha Darla para o meu lado pouco tempo
depois de conhecê-la, não sei se teria tanta paciência, com certeza teria
passado por cima de tudo e a reclamado como minha de uma vez, admiro
Nicolas por toda sua força de vontade.
— Desculpe atrapalhar a conversa de vocês, mas esses dois ingratos
precisam ir para o aeroporto agora ou perderão o voo! — Luke fala tentando
disfarçar a emoção na voz.
— Não precisa chorar, seu bobão, pense que agora terá uma opção de
férias a mais e desde já aviso, só voltaremos para sua festa de noivado, não
enrole minha prima por muito mais tempo! — Dou-lhe um abraço apertado,
transmitindo a ele toda minha gratidão por anos de amizade e
companheirismo.
— Não vou chorar, nem tampouco estou enrolando sua prima, caso não
tenha notado ela está com um anel no dedo! — Viro a cabeça para Eloise que
sorri docemente para o namorado, ou noivo agora.
— Como não fiquei sabendo disso? — Estou feliz por eles, mas me
sentindo excluído.
— Ora, porque ele pediu antes de chegarmos aqui! — Eloise anuncia
enquanto se aproxima, Darla a envolve em um abraço apertado, seus olhos
estão lacrimejados.
— Não acredito! Vocês ficaram noivos logo agora que vamos embora,
não poderemos estar aqui para a festa! — Como sempre Darla faz todos se
sentirem bem, no momento que estamos com a emoção no auge faz
brincadeiras para amenizar.
— Quem disse que não estarão? — Eloise seca as lágrimas e nos olha
sorrindo. — Vamos fazê-la no Brasil junto com vocês, um lindo luau é mais a
minha cara do que as festas exageradas, esse é o estilo da minha mãe, não
meu!
— Que sua mãe não te escute dizer isso mocinha!
Meu pai a envolve em um abraço, sabe bem que tia Marta adora uma
festa e com certeza será contra a decisão da filha.
— Mas se é seu desejo, farei com que aconteça, marque a data e todos
estaremos lá, não tenha dúvidas!
— Eu te amo, tio Marlon!
Ela fica nas pontas dos pés e o beija na bochecha, igual como fazia
quando ainda éramos crianças, meu peito aperta por ver que minha priminha,
a quem prometi proteger, logo será uma mulher casada.
— Então, o lance do aeroporto é verdade, mesmo que eles estejam indo
no jato da empresa, ainda precisam estar lá no horário previsto, são muitas
horas de viagem, se tirá-las dormindo, isso no caso da pequenina aqui, será
mais fácil, não estarão tão cansados quando chegarem lá no início da manhã
do dia, por isso optaram por um voo noturno, lembram?
— Estão vendo, por isso o escolhi, ele é eficiente! — Eloise abraça
Luke, que sorri orgulhoso.
— Sendo assim, vamos!
Meu pai lidera o caminho até a garagem, Loren e Adele já estão no
Brasil, foram há dois dias, por opção delas, assim estariam mais descansadas
e um pouco familiarizadas com a casa nova, podendo nos ajudar, então só
restamos nós três, mas ainda assim vamos em dois carros para o aeroporto,
nossa família não quis perder nem um segundo do tempo restante conosco.
Paro junto à entrada da sala e fico olhando Darla ler para nossa menina,
que a olha de forma encantada em seus braços.
Seus olhinhos observando a mãe a recitar o soneto, sua voz tão suave e
melodiosa, que até mesmo eu, sinto a paz que o som dela traz. Não consigo
mais pensar em uma vida em que ela não esteja, preciso dela como preciso da
minha próxima respiração, ela é meu sol, meu tudo.
— Há quanto tempo você está aí nos olhando? — Sua voz me desperta
do transe que ela mesma me levou.
— O suficiente para ver como você é boa em tudo que faz!
Pego Bellie no colo e puxo minha mulher para junto do meu corpo e
beijo seus lábios macios.
— Ler um poema não é tão difícil assim! — Ela ri assim que libero
meu domínio de sua boca. Nossa menina se remexe sonolenta nos meus
braços.
— Não ler somente, a forma como você faz é que hipnotiza, não é à toa
que ela está tão sonolenta! — Beijo a cabeça da minha princesinha que já
começa a adormecer nos meus braços.
Adoro o fato da minha filha só dormir depois que chego do trabalho,
por mais que tenha uma forte ligação com a mãe, é nos meus braços que
prefere adormecer a cada noite. Caminho até a cama onde coloco nossa bela
adormecida.
— Agora venha, preciso de alguns poemas de Vinicius de Morais
sendo sussurrados ao meu ouvido, para que possa ter uma boa noite de sono!
Beijo-a novamente, em seguida ela volta e liga a babá eletrônica,
porque hoje é a noite de folga de Adele, assim estaremos ainda mais atentos a
nossa princesa, não que não façamos isso sempre, mas Adele é como um
grande cão de guarda junto à cama de Bellie, sou muito grato e feliz da minha
pequena a ter em sua vida, assim como eu tive.
— Vamos lá, Sr. Duran, vou te recitar alguns poemas, mas posso
querer algum pagamento em troca! — Sorri maliciosamente para mim. Quem
diria que meu Anjo tímido se transformaria nessa mulher sedutora?
— Sabe que sou seu escravo para qualquer coisa que queira querida,
basta continuar piscando assim que me tem aos seus pés!
Puxo-a para mim a levantando, ela coloca suas pernas em volta da
minha cintura e com nossos lábios colados, dançamos a dança de tantos
passos conhecidos, porém ainda emocionantes a cada vez que se tocam, é o
meu céu na Terra, encontrei a felicidade completa na vida.
— Acho que você acaba de ganhar mais um aluno para suas aulas de
literatura brasileira para estrangeiros!
Brinco usando a sua especialização na faculdade, ela por fim, acabou
por se apaixonar pela literatura local, estará formada em dois anos, por causa
da licença maternidade, mas não para um segundo de fazer suas pesquisas.
— Está mais do que admitido, agora vamos para o pagamento da sua
taxa de inscrição! — Entro no quarto e a deito na cama com cuidado.
Não deixando meu peso a machucar ou causar desconforto ao nosso
menino, continuo meus beijos por todo seu corpo, começando mais uma vez
a nossa ida para o universo que habitamos quando nossos corpos se
conectam.
Não digo que é uma vida perfeita, nada nesse mundo é, mas posso
afirmar que é a vida que merecemos, se um dia esse sentimento entre nós irá
mudar eu não sei dizer, mas como bem colocou o seu amado poeta, Vinicius
de Morais: Que seja infinito enquanto dure.
“E que dure para sempre!”
Fim
A Autora
Cearense apaixonada por livros.
Escreveu seu primeiro livro em 2015, Voltando a amar.
Casada há nove anos, mãe de uma linda menina que é a luz dos seus
olhos. Aprendeu desde cedo que a melhor forma de viajar sem tirar os pés do
chão é através da leitura. Por isso antes de ser escritora é uma leitora voraz,
assim conseguir vivenciar mil e umas emoções ao mesmo tempo.
Rede Sociais
Danda de Alencar
@dandaalencar_romances
www.facebook.com/dandadealencarromances
@edanyzia
Outras obras da autora
Voltando a Amar
Helida
“Oh não, não quero acordar!”
Não após dormir como uma pedra depois que os dois comprimidos calmantes que
ingeri fizeram efeito.
Estendo o braço e desligo o despertador do rádio relógio que fica no criado mudo. Já
amanheceu e graças aos céus aquela música perturbadora não voltou, desde a manhã da
última sexta-feira que venho acordando com um verdadeiro repertorio da Música Popular
Brasileira, desde de Cassia Ellen com Segundo Sol, até Proibida pra mim, na voz de Zeca
Baleiro, músicas que um dia considerei agradáveis de ouvir.
Me incomoda ainda mais lembrar que eu mesma, por diversas vezes me peguei nos
últimos dias lembrando as letras de cada uma delas, seja quem for o novo vizinho, tenho
que admitir, tem bom gosto para música. Eu que não tenho mais coração, ou nervos, para
ouvi-las sem me partir em mil pedaços.
Sento na cama e vejo que o sol já está alto no céu, “Que horas são?”
Esfrego os olhos ainda um pouco sonolenta, ontem foi incrivelmente doloroso para
mim, demorou algum tempo para os comprimidos fazerem efeito. Sei que é errado recorrer
continuamente a esse tipo de medicamento, mas quando fica difícil fechar os olhos, mesmo
tarde da noite, busco esse pequeno truque.
Na noite anterior, já passava das três da manhã quando, enfim, consegui entrar na
minha bolha de torpor e adormeci.
— Mãe? Você está aí?
Chamo enquanto desço as escadas, não recebo resposta alguma, que estranho, meus
pais nunca saem sem me avisar.
— Mãe, pai? — Oh! Que cabeça a minha, hoje é domingo, eles devem estar na
igreja!
O programa deles de sempre, o mesmo que fiz por anos, porém, digamos que posso
ter perdido a minha fé, não em Deus, sei que ele existe, mas deixei de acreditar que eu
pudesse ser uma filha amada aos seus olhos.
Ser responsável por uma morte, não é bem o que manda a santa e amada igreja!
Bem, nada posso fazer além de sentar à mesa e tomar café da manhã sozinha, como tem
sido todos os domingos.
Depois de pensar um pouco vejo que só sentar e comer não é o suficiente para parar
essa estranha agitação dentro de mim, talvez eu esteja desenvolvendo um novo vicio por
aquelas malditas músicas matinais, então vou correr, como sempre, talvez assim a mente
acalme um pouco, eu espero.
*****
Está decretado no meu livro de coisas detestáveis que odeio, odeio os domingos, é o
pior dia da semana para mim, sem sombra de dúvida. Nunca há nada interessante ou
complicado o suficiente para preencher meu dia, daí já viu, fico cada vez mais deprimida,
tudo que eu não preciso é de tempo livre, isso significa que não estarei com minha bolha
tão fundamental para me livrar da dor do momento.
Mas sei que não poderei me socializar apenas com a mobília da casa dos meus pais e
meu consultório para sempre. Então, tenho que ao menos uma vez por semana encarar
outras pessoas, que não sejam os pais dos meus pequenos pacientes
Olho a minha volta, com uma sensação estranha, algo não está igual. É impressão
minha, ou todas as mulheres da cidade decidiram começar a correr também?
— Oi, Helida, como você está, faz algum tempo que não nos vemos, não é, querida?
— Clara, uma das criaturas mais fofoqueiras de Bom Sossego, cumprimenta-me com um
sorriso triste e falso, fazendo meu estômago embrulhar.
Não suporto esse olhar de pena que recebo quando resolvo sair de casa, sempre
acontece a mesma coisa, por esse motivo prefiro me manter no meu casulo. Minha vontade
é de ser grossa com todos por me olharem assim e perguntar se nunca me viram, mas a boa
educação me vence, mesmo quando quero ignorar a todos.
— Olá, Clara, estou na mesma. Vou levando, você sabe, um dia bem, outros nem
tanto.
— Espero que logo as coisas melhorem para você, querida, mas me diz, já viu seu
novo vizinho? — Ela tem um sorrisinho nos lábios nada santo para uma mulher casada.
Agora está explicado porque ela veio toda simpática para o meu lado, reviro os olhos
por ser questionada novamente sobre aquela arara gasguita.
— Não, não o vi e tenho certeza que todos os três mil setecentos e noventa e sete,
Ops! E oito habitantes da cidade sabem que, apesar daquela casa ser bem ao lado da minha,
nunca mais pisei lá, nem mesmo no jardim. — Ela parece constrangida pela pergunta,
menos mal.
— Desculpe-me! Eu deveria segurar mais a minha língua. — “Deveria mesmo!”
Meu lado bruxa grita para ela.
— Deixa pra lá, sei que não teve a intenção.
Tento soar menos irritada, principalmente por saber como ela gosta de um bom
assunto.
— Mas, diga-me uma coisa, o que deu em todo mundo para decidirem entrar em
forma? Algum daqueles concursos sobre que cidade perde mais peso junto? — Ironizo por
saber que não existe isso, pelo menos, não que eu saiba.
— É, querida...
Odeio essa forma dela de falar querida em todas as frases, balança a cabeça como se
lamentasse algo, maluca!
— Está claro que não conheceu mesmo o seu vizinho, meu bem, ele é muito... Uau!
Por falar nisso, olha lá ele correndo!
Sigo seu olhar admirado e cobiçoso, perguntando-me onde anda o imbecil do
Douglas Vilar, seu marido, que tanto me infernizou no ensino fundamental, que não está
aqui aquietando o facho da mulher.
Neste momento, que finalmente o vejo, alto, magro, mas nem tanto, olhos azuis
cinzentos e enigmáticos, pele clara, cabelos cor de mel, que vejo apenas de relance, por
estarem cobertos por um boné, um belo sorriso e um olhar, vazio?
“Ei, espera um pouco, por que estou registrado tantos detalhes na primeira olhadela
dessa pessoa que nunca vi?”
Distraio-me com a forma fluida que ele corre, com fones de ouvidos, parecendo
concentrado no que está ouvindo e não dando a mínima para a baba que escorre das bocas
do bando de mulheres que o cercam, ainda o olhando seguir em nossa direção, quando
acontece o inevitável, eu caio estatelada no chão.
— Aí, mas que droga! — Isso sempre acontece quando esqueço de olhar onde meus
pés estão pisando, descoordenada como sou, nunca deveria esquecer de prestar atenção
neles, nem por um segundo. Meu problema de coordenação motora não é de hoje.
— Helida, você está bem!? — Clara grita estridente, atraindo a atenção de todos em
um raio de meio quilometro pelo menos, que param para olhar em minha direção. Quero
um buraco para me enterrar depois desse alarde desnecessário.
— Sim, estou! Não precisava de tanto!
“Se tivesse gritado com um alto-falante, teria poupado a voz”
— Apenas me ajude a levantar, acho que torci o pé.
Tento movimentá-lo, mas paro imediatamente quando uma dor insuportável me sobe
pela perna.
— Agora tenho certeza que o torci, será que você pode me ajudar?
— Deixa que eu a ajudo!
Uma voz grave fala bem acima da minha cabeça, meus pelos se arrepiam com seu
timbre impressionante, olho para cima e lá está ele, o meu novo vizinho que, caramba, já
não bastava ter um rosto de tirar o fôlego, também tem que ter com uma voz sexy para
caralho?
‘Que tipo de pensamento é esse Helida?” Minha parte lucida me repreende, com toda
razão.
— Não! Oh! Estou bem, não se preocupe. — Digo puxando o meu pé para junto do
corpo, que treme só de pensar nele me tocando, devo estar enlouquecendo.
— Deixe-me pelo menos dá uma olhada? Não seja teimosa! — Automaticamente
protejo ainda mais meu pé, como se ele pudesse puxá-lo a força, claro que não deixarei um
estranho me tocar, ainda mais esse estranho em questão.
— Não precisa. Estou bem, já falei, mas obrigada assim mesmo! —Viro-me para
Clara, que não sabe para quem olhar.
— Sou ortopedista, deixe-me avaliar o dano. Por sua expressão diria que está
sentindo um grande desconforto. — Ele é mesmo ortopedista, ou está apenas me
distraindo?
— Deixe-o olhar, Helida, não custa nada!
“Custa sim, sua idiota! Não é em você, que ele vai pôr a mão, se bem que, pelo seu
olhar derretido na direção dele, sei que ela adoraria.
“
— Viu? Até sua amiga concorda e está certa. Agora, vai me deixar olhar esse pé?
“Ela não é minha amiga!”
É o que quero dizer, mas gritar com alguém que está tentando me ajudar só me
taxaria de ainda mais louca.
— Tudo bem!
Fecho os olhos e repito continuamente: “É só um toque, só um toque...”
Ele tem mãos tão suaves que quero olhar nos seus olhos e tentar desvendar mais da
cor deles.
“Não vou olhar, não vou olhar! Mas suas mãos são tão delicadas.”
— Foi apenas uma entorse, dois dias de molho e ficará tudo bem, aliás, sou Ethan
Scott, prazer em conhece-la, Helida! — Mas que droga! Meu nome não deveria soar tão
bonito saindo dos seus lábios. “Esqueça Helida, esqueça!” Balanço a cabeça rapidamente,
talvez assim esses pensamentos nada comuns saiam dela.
— Eh! Hmm, bem, você já sabe quem eu sou, prazer em conhecê-lo também, Sr.
Scott! — Meu inconsciente me diz que não devo mencionar que acho que a carreira de
cantor está vetada para ele.
— Por favor, me chame de Ethan! — Ele sorri e tudo perde um pouco mais do brilho
diante de um conjunto de dentes perfeitamente brancos.
— Prefiro apenas Sr. Scott ou Doutor! — Digo, colocando a devida distância entre
nós.
— Certo, como quiser! Posso ajudá-la a chegar em casa? — Minha cabeça gira para
olhá-lo.
— Não, não precisa, obrigada! Não estou muito longe, posso ir sozinha. — Como se
eu fosse permitir que ele continue me tocando.
— Não seja teimosa! — Diz já me puxando para seus braços, aninhando-me em seu
colo. Por Deus!
Uma verdadeira descarga elétrica desce por todo meu corpo em correntes, pergunto-
me se ele também sente como se estivesse segurando um fio desencapado e mil borboletas
voando soltas no seu estômago. Acho que não, deve ser normal me sentir ansiosa, afinal,
faz muito tempo que não me aproximo assim de um homem, além do meu pai.
— Agora que estamos de acordo que a levarei para casa, pode me explicar onde ela
fica? — Tento não olhá-lo nos olhos, pois não quero me denunciar.
— Ao lado da sua, Sr. Scott! — É a única frase que me limito a dizer.
— É filha de Jorge e Laura? — Não entendo a surpresa, ou entendo, sei lá, faz algum
tempo que não sou vista na companhia deles, e meus pais são uns queridos.
Confirmo com um aceno de cabeça, remexendo-me em seus braços. Mas, será que ele
precisa realmente me segurar assim tão perto? Tão apertado e firme, como se eu fosse
frágil como um cristal delicado?
“Depois de te ver tropeçar e torcer o pé sozinha, deve mesmo achar que você é um
pouco quebradiça, sua imbecil!” Digo a mim mesma. Ainda bem que não estou tão longe
de casa, assim ele logo me deixará em paz.
— Pode me pôr no chão, por favor? — Peço assim que paramos em frente a porta, no
entanto, apenas faz um gesto indicando que devo abri-la para entrarmos.
— Não, decidi ser um cavalheiro hoje, então vou fazer o trabalho completo, a
colocarei no sofá com esse pé para cima e prepararei uma compressa de gelo.
Juro que essa situação inusitada está cobrando toda a minha paciência, que já não é lá
muito grande, ele, no entanto, mantém um sorrisinho besta no rosto.
— Pronto, agora diga-me, você tem uma bolsa de gelo? — Finalmente me livro dos
seus braços fortes. Argh!
— Sim, está na cozinha. — Reviro os olhos, detesto essa atenção exagerada. Ele vai
em direção à cozinha como se já conhecesse a minha casa e logo está de volta.
— Aqui, segure firme, assim não ficará muito inchado. — Entrega-me a bolsa para
compressa e coloca algumas almofadas embaixo do meu pé.
De repente, ele para, fica lá me olhando de um jeito, sei lá, sinto-me como uma obra
de Da Vinci ou Botticelli, perdida há muitos anos e que enfim foi descoberta. Isso me
desconcerta.
Eu não sou lá muita coisa, um e setenta de altura, mais ou menos, pálida, cabelos
louro escuro, olhos, como a Gia fala, verde-melados, ou seja, bem normal, por isso não
entendo esse tipo olhar.
Até porque, nunca me olharam assim, nem mesmo o Caio, ele me olhava de uma
forma especial, Ethan é diferente! Sua forma de olhar é completamente nova, como se ele
fosse capaz de enxergar além de mim, arisco a dizer que ele enxergaria minha alma, caso
desejasse.
— Hmm, obrigado, agora eu me viro sozinha, Sr. Scott! — Digo dispensando seus
cuidados e tentando me ver livre do seu olhar intrigante.
— Ok! Qualquer coisa estou na casa ao lado, não esqueça de ficar com ele pra cima
por pelo menos dois dias.
— Tchau! — Falo acabando logo com o papo. E a culpa ocasional pelo meu mau
humor vem.
“Droga será que fui muito grossa?” Pergunto-me enquanto o vejo sair, fechando a
porta. Isso deve ser culpa da minha falta de convívio.
“Não, eu vivo muito bem como estou e não preciso ser simpática sempre, ponto!”
*****
A noite não está muito diferente das demais. Como de costume rolo por horas na
cama, mas não pelos motivos de antes, além do desconforto no meu pé, que mesmo
tomando um comprimido para dor a cada quatro horas, está me fazendo lembrar dele,
sempre que fecho os olhos sinto o olhar de derreter os ossos de Ethan novamente sobre
mim. Isso definitivamente é algo novo, espero que ele não se torne um constante nos meus
pensamentos, não preciso de mais um motivo para passar noites em claro.
Ethan
De zero a cem, qual a chance que eu tinha de topar com a criaturinha mais irritadiça
e mal-humorada, em uma cidade onde sorrir parece uma constante entre os moradores?
Se sua resposta for entre 1 em 10, lamento dizer, mas estou nas estatísticas de 100
para 100. Não sei bem qual emoção é a mais forte nesse momento, se raiva por ter tentado
ajudá-la ou a surpresa por não ter o hábito de ser destratado, principalmente quando tudo
que fiz foi ajudá-la.
Porém, uma coisa é certa, a filha dos meus gentis vizinhos Laura e Jorge, tem alguma
coisa só dela, talvez seus olhos incríveis que se misturam entre o verde e caramelo, ou seus
lábios levemente cheios, não do tipo cirurgicamente modificados, ainda sim perfeitos para
seu rosto pequeno, ela toda grita FRÁGIL.
Quando a ergui do chão, imaginei que seu peso seria razoável, mas superou as
minhas expectativas, ela é incrivelmente leve, mantê-la perto do meu peito foi inevitável,
morri de medo durante os centos e cinquenta metros que com ela andei.
Algo em mim dizia para ter cuidado, que ela é mais como um animalzinho ferido,
esse foi o motivo de não ter ensinado a ela, como é ser grato ante uma gentileza.
Olho o relógio sobre a cômoda, o deixo lá pois assim, mesmo que esteja deitado,
como estou agora, consigo vê-lo. Mais um motivo para agradecer a minha tão talentosa
mãe, que redecorou a casa inteira a perfeição. Ele marca uma e quarenta e cinco da manhã,
mas que droga! Não costumo virar a noite acordado, na verdade criei o hábito de dormir
sempre cedo, quando não estou de plantão, assim acordo disposto e pronto para mais vinte
e quatro horas de mais trabalho.
“O que aquela mulher tem que não deixa minha mente sossegar um instante
sequer?”
Toda vez que fecho os olhos, os dela estão lá, assim como o timbre doce da sua voz,
mesmo que tenha tentado se manter séria e mal-humorada, todo o tempo que estive por
perto.
Será que ela tem alguém e sua reação foi para evitar falatório? Laura e Jorge não me
falaram sobre ter uma filha morando com eles, nas duas vezes em que os vi, estavam
sozinhos, até tiveram a gentileza de me convidar para entrar, que na minha correria de
adaptação tive que recusar, porém, conversamos e ela nunca foi mencionada, será que tem
alguém?
“Mas que droga Ethan, esqueça-a, já teve sua cota de coração partido e pisoteado,
quer mais uma vez ser um cachorrinho pidão implorando carinho, porra?”
Meu lado consciente me alerta, com certeza aquela garota é um problema, não parece
ser do tipo que aceita fácil um desconhecido na sua vida, e Deus ela é linda! E, sim, para
mim ela é apenas uma garota, não sei sua idade, mas seu corpo pequeno e frágil me diz que
não passa dos 25 anos.
Viro de bruços e coloco o travesseiro sobre a cabeça, não posso pensar nisso,
preciso dormir, tenho mais vinte e quatro horas de plantão no HCA, estar com a cabeça
pesada por falta de sono não é algo bom, não mesmo!
Por fim, desisto e pego meu celular, na playlist seleciono a pasta onde estão as
músicas instrumentais para relaxamento, não preciso delas para dormir há muito tempo.
Hoje, no entanto, terei que recorrer a Bach, Chopin, Weber ou Tsjaikoviski e que Deus me
ajude, se não conseguir tirá-la da minha cabeça depois deles!.
Doce paixão
Giuliano
Trabalhar diretamente com o público te proporciona um conhecimento
único, com o tempo você começa a identificar pequenos detalhes de cada um:
seus trejeitos, gostos e manias. Sejam eles quem forem, basta observar um
pouco e lá estão todos os dias repetindo as mesmas coisas.
Não eu!
Espera, não sou psicólogo nem nada disso, sou apenas um mestre da
panificação, popularmente conhecido como padeiro. Todos os dias vejo
diversas pessoas entrarem e saírem pela porta do Nonna Fiorella, padaria e
lanchonete que pertence a minha família há gerações.
Foi aqui que vi tudo à minha volta mudar de perspectiva. Onde refiz
meus conceitos e vi que minha vida de pegar todas e não me apegar estava
com os dias contados.
Vou te contar de uma forma resumida como era minha vida até aquele
momento, isto é, se você tiver interesse. Mas contarei mesmo assim. Afinal
hoje sou um homem totalmente diferente.
Não vou dizer que me arrependo das coisas que fiz, mas também não é
para sentir orgulho, não depois de quase perder aquela que mudou minha
vida, transformando o bicho solto em labrador domesticado.
Semmm mais enrolação. Prazer, sou Giuliano Borella, e aqui está
minha história com Ariana, aquela que fez o meu estabelecimento fechar para
balanço indeterminado.
Equívocos – Trilogia Por Você
Nícolas
“Nunca a vi beber assim, se bem que nunca bebemos na vida. Não é de
estranhar que esteja tão animada, só espero ainda ser bem recebido na sua
casa depois dessa noite, mas ela está tão feliz!” Penso ao ver seu sorriso
despreocupado.
Faz dois anos que não a vejo sorrir assim, desde a morte de Helena, sua
mãe, uma criatura incrível, que sempre me tratou como se realmente
pertencesse a família, já que a minha é um exemplo a ser seguido. Mas
deixemos essa história para outra hora.
Hoje é seu aniversário de quinze anos, ela não quis festa, todos
respeitamos sua decisão, se bem que, Gizane sua irmã mais velha tentou de
todas as formas convencê-la do contrário. Coisa de irmã superprotetora,
sempre tentando evitar que ela se arrependa de algo. Então ficou comigo a
tarefa de fazer da sua noite memorável.
Após assaltar a adega da minha mãe, pois é, não poderíamos
comemorar a não ser com um bom vinho, o escolhido foi um Château Puy
Lacoste, ela merece muito mais que isso, mas foi o que deu para conseguir
antes de Verônica chegar em casa. Caso contrário me mataria.
Sento-me em frente ao mar, sempre amei o fato de que mesmo
morando numa cidade grande, ser capaz de recorrer ao nosso lugar secreto na
praia de Iracema, mesmo que a cidade de Fortaleza esteja crescendo cada vez
mais, se você souber onde ir, encontra lugares como esse, próximo ao Centro
Dragão do Mar, sossegado e praticamente isolado.
Olho o relógio, já passa das oito, Calye está mais que alegre, temos que
nos apressar, caso contrário não pegaremos o planetário aberto, e quero muito
dar seu presente lá dentro, no nosso lugar especial.
— Venha aniversariante, hora do presente. — Falo enquanto a ajudo
ficar de pé.
— Pensei ele que fosse me embriagar. — Diz com uma voz arrastada.
Assim que fica em pé ela começa a dançar pela areia, suspiro culpado
por ter cedido aos seus desejos mais uma vez. Como sempre!
— Calye, não podemos demorar muito, se não o acesso ao planetário já
era, sabe que fecha as nove.
Ela me lança o seu sorriso endiabrado, logo sei que está maquinando
algo, só espero não entrar em apuros, não hoje.
Assim que compro as entradas sou informado que só teremos trinta
minutos antes que seja hora de fechar, tudo bem é tempo suficiente. Ela está
realmente bêbada, pois não fez o discurso onde pergunta: como poderemos
ter cultura se não nos deixam usufruir do que é nosso por direito? Discurso
esse que sempre faz nessas ocasiões.
Por algum motivo está estranhamente quieta, só a vi assim uma vez,
que foi durante o velório da sua mãe. Até aquele dia não tinha a visto tão
triste, fiquei ao seu lado todo tempo segurando sua mão, assim como sua
irmã.
Vi as lágrimas descerem pelo seu rosto e isso partiu meu coração. Foi
ali que percebi que a amava, com apenas doze anos, precoce eu sei. Mas não
tive dúvidas que não gostaria, nem tão pouco permitiria que ela passasse por
essa dor novamente.
Percebi também que mesmo com o coração aos pedaços seus olhos
brilhavam para mim sempre que levantava o olhar e nossos olhares se
encontravam.
Desvio minha atenção da representação da Via Lacta e encontro os
mesmos olhos brilhantes me encarando com intensidade, levo minha mão
para o bolso de trás e tiro a pulseira que comprei para ela. Estendo a mão e
mostro-lhe com um sorriso tímido.
Quando ver a citação que tem gravado por dentro, lágrimas enchem
seus lindos olhos enquanto ela ler a frase que para mim representa ela na
minha vida.
—Muito mais que a mim? O que é isso no final? — Sei que está se
referindo as nossas iniciais juntas no fim da frase.
— Ora é um N e um C, juntos, como nós dois para sempre!
— Promete Nick? Não suportaria te perder! — Sei bem como ela se
sente, sofro do mesmo mal.
Ela se aproxima e me olha nos olhos, como acontece sempre, mergulho
na profundeza daqueles olhos cor de café.
— Nícolas, se eu te pedisse uma coisa você me daria? — Não penso
duas vezes.
— Você sabe que sim! — Faço tudo por você Calye! Penso comigo
mesmo.
— Me daria um beijo? — Ela pede e eu congelo.
—Um... um beijo? — Gaguejo, que ótimo.
— Sim! — Ela cora, então é sério. — Eu não quero que aconteça por
acontecer, pensei que poderia ser com a pessoa que mais confio, você não
sairia falando depois não é? — Nunca!
— Você tem certeza? — Por favor diga que sim! Eu rezo
silenciosamente.
— Sim, se você quiser é claro! — Oh! e como eu quero.
Não posso deixar essa oportunidade passar, já esperei muito.
Gentilmente pego seu rosto nas minhas mãos e aos poucos vou tocando seus
lábios com os meus, é seu primeiro beijo, não quero assustá-la com a fome
abrasadora que sinto por sua boca.
Porém sou surpreendido por suas mãos pequenas, mas fortes que
agarram meus cabelos e me puxam para si. Surpreso, desço minha mão
esquerda até suas costas, enquanto a outa posiciona melhor sua cabeça,
sentindo a maciez do seu cabelo longo.
Congelo novamente quando ela gruda em mim, seu corpo aderindo ao
meu como se fossemos duas peças de um quebre cabeça. Nosso beijo se torna
urgente, em segundos estamos os dois ofegante, mas mantemos os lábios
juntos.
Como quero ficar assim para sempre, nunca sentir uma conexão tão
forte durante um beijo. Sinto-me como se tivesse achado o complemento para
o meu ser que nem fazia ideia que estava ausente.
— Ei pombinhos, já vamos fechar, façam o favor de se retirar. — O
guarda nos interrompe quebrando o encanto do momento.
Apressadamente pego sua mão e a guio para fora. Seus passos um tanto
cambaleantes, olho para ela e vejo como seus olhos estão pesados, as
pálpebras se mantendo abertas com algum esforço.
Assim que saímos vejo minha mãe no estacionamento, graças a Deus!
Não sei se Calye aguenta esperar por muito tempo.
Como previsto assim que ela entra no banco traseiro do carro fecha os
olhos e adormece.
— Obrigado Veronica, pela pontualidade! — Falo enquanto sento ao
seu lado e coloco sua cabeça no meu colo.
Por incrível que pareça minha mãe parece não se importar muito que eu
a chame pelo nome.
— De nada meu amor, como foi a noite? — Ela me olha pelo retrovisor
e sorri para mim, apesar das nossas diferenças sorrio de volta.
— Boa, só que Calye está exausta, espero que durma bastante, fazia
tempo que não a via tão feliz.
Os olhos da minha mãe vão para o rosto adormecido da garota que amo
e ela sorrir docemente, também tem bastante carinho por ela, sabe que por
causa dela minha vida se tornou muito melhor e minha personalidade teve
uma guinada de cem por cento para melhor.
Sabe também que se estou ainda morando aqui nessa cidade é por ela,
por não conseguir nem pensar em não a ter por perto, caso contrário já teria
voltado a morar no Rio a essa altura.
Ficar com minha mãe sabendo que foi por causa do seu egoísmo que
minha família se despedaçou, seria impossível. Por sua culpa sinto uma
saudade terrível das minhas irmãs Jamylle e Sarah, além de Priscila minha
sobrinha que tanto amo. Ela não tinha o direito de trair meu pai e em seguida
me fazer ficar longe de todos as pessoas que amo.
Mas agora já não me sinto tão ressentido com ela, se não tivesse me
forçado a vir, não teria conhecido a garota da minha vida, — mesmo eu tendo
só dezessete anos sei que é, — Carine Gabrielly Salvatore, penso em quando
ela usará também o Soares no seu nome e me sinto flutuando enquanto penso
no nosso beijo de há pouco.
Fico aqui só olhando para ela, durante todo o percurso até sua casa,
lembrando de cada pequeno detalhe e da sensação maravilhosa que foi beijá-
la e rogo para que ela se lembre desse beijo amanhã, assim poderei ter a
oportunidade de beijá-la novamente.