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Duas noites depois, meu telefone toca quando estou deitada na cama
lendo. Me envolvi tanto na história que nem me dou ao trabalho de verificar
a tela, pensando ser uma notificação das redes sociais, mas então, segundos
depois... toca de novo.
Desta vez, olho para o meu telefone e vejo o nome de Reed piscar na
tela.
Colocando o livro de lado, me sento rapidamente. Reed nunca me liga
desde... sempre.
— Reed? — Eu sussurro com cuidado para não acordar meu pai, que
está do outro lado da finíssima parede.
— Hum, Holland, ei... — Ele interrompe a fala e eu ouço uma batida
forte do outro lado da linha. — Então, você poderia vir até a minha casa?
Tipo... agora?
— Já passa da meia-noite, está tudo bem? — Eu pergunto
hesitantemente. Mesmo que eu já esteja saindo da cama, enfiando meus pés
em meus Vans gastos e pegando meu cardigã do cabide atrás da minha
porta.
— Te explico quando você chegar aqui. Okay? — Soa como se ele
estivesse correndo uma maratona.
— Tudo bem, estarei aí em breve.
Encerramos a ligação e ando pela casa na ponta dos pés, em silêncio
como se voltasse a ser uma adolescente saindo escondido. Tranco tudo e
confiro se papai está em sono profundo. Ele deve ficar bem por alguns
minutos enquanto corro para encontrar Reed. Ele mora a poucos minutos da
casa que divido com meu pai. Porém, na parte chique da cidade. Eu pego o
meu telefone e verifico se todas as câmeras internas e externas funcionam
corretamente, tranco a fechadura da porta da frente e saio.
Minha lata velha em forma de carro está parada na porta da garagem.
Eu a apelidei carinhosamente de Betty. Ela não é muito bonita por fora,
pensando bem, nem por dentro. Mas, pelo menos tem quatro rodas e me
leva onde eu preciso. Aprendi a apreciar as pequenas coisas da vida.
Minha mente corre à mil por hora, durante todo o percurso até a casa de
Reed. Quando estaciono na entrada, percebo que todas as luzes da casa
parecem estar acesas.
Por que ele me ligou depois da meia-noite? Depois do nosso... momento
estranho na casa dele outro dia, eu não esperava vê-lo novamente tão cedo.
Estou, no mínimo, surpresa.
E… ansiosa. Esta é a primeira vez que venho à casa dele, sozinha.
Antes de sair do carro, respiro fundo algumas vezes para me acalmar,
depois faço o caminho até a porta da frente. Eu levanto minha mão para
bater, mas antes disso, a porta se abre e Reed está do outro lado.
Rapidamente subo o meu olhar dos seus pés descalços.
Ele está ali na minha frente... sem camisa. Shorts pretos de ginástica
pendem em seus quadris, revelando o V profundo de onde não consigo
desviar o olhar. Seus cachos escuros estão desalinhados, como se tivesse
passado os dedos por eles um milhão de vezes. Provavelmente em
frustração ou ansiedade, como sempre fez. Mas o que me interrompe, é a
expressão preocupada em seus olhos escuros salpicados de âmbar. Ele não
está feliz e brincalhão como sempre.
— Hum, oi? — Eu pergunto, ainda com a mão suspensa.
— Entre. — Afasta a porta para eu entrar. Quando passo por ele, sinto o
cheiro suave do seu sabonete e quase gemo.
Meu Deus, Holland, quão patética você é?
— Então... O que vou dizer é estritamente confidencial. — Ele começa
logo que fecha a porta atrás de mim.
Caminho até o banco do bar ao lado da ilha da cozinha, coloco a bolsa
na minha frente e deslizo no luxuoso assento de madeira.
— Ceeeerto...
— Sério, Holl, não pode sair desta sala. É importante.
Reviro os olhos. — Você é tão dramático quanto Briggs, o que está
acontecendo?
Antes que ele possa me responder, uma criança, de dois ou três anos de
idade vem caminhando pelo corredor, apertando um polvo velho contra o
seu corpinho.
— Papai?
— Oh meu Deus! — Eu sussurro e agarro o balcão, como se minha vida
dependesse disso. Eu olho para frente e para trás entre o garotinho, que tem
o mesmo cabelo e olhos escuros do homem parado na minha frente, que
parece tão assustado quanto eu.
O lábio inferior do garotinho começa a tremer.
Olho para Reed. — Você tem um filho? — Eu reclamo.
Puta. Merda.
Acho que este é um segredo que nem eu conseguiria guardar.
Cap 05
Reed
Porra, isso não está saindo como planejado.
Passo a mão nervosamente pelo cabelo e começo a andar pela cozinha.
— Espere, não, quero dizer... mais ou menos? Eu não sei, Holl. — Minhas
palavras saem apressadas. — Eu sou seu … tutor. Ele é meu agora. Este é
Evan.
Parece a coisa mais estranha do mundo para se dizer. Apenas três dias
atrás, eu estava em um bar com uma Maria Patins no colo, falando sobre a
doçura da vida, e agora meu mundo inteiro virou de cabeça para baixo.
Mas eu sei que não é nada comparado ao que esse carinha deve estar
sentindo.
Holland tira seu olhar arregalado de mim e olha de volta para Evan, que
parece estar a dois segundos de cair em prantos. Não posso culpá-lo, foram
os dois dias mais exaustivos da minha vida.
E acho que vai ser assim de agora em diante. Troquei as noites no bar
por noites no sofá, assistindo desenhos animados.
No fim das contas, a decisão foi fácil. Eu não podia deixar o filho da
minha irmã acabar em um orfanato e ser mais uma criança perdida no
sistema. Eu não podia abandoná-lo. Eu não faria isso. Ele precisa de mim.
Depois que conversei com mamãe e Em, reservei o próximo voo para
Nova York, liguei para o dono do time, Mark, e meu treinador, Rick, e
avisei que faltaria ao treino por alguns dias devido a tudo que estava
acontecendo. Felizmente, eles entenderam e não se importaram.
Quando o avião pousou em Nova York, eu estava mais nervoso do que
já estive em toda a minha vida. Mais ainda do que no meu primeiro jogo
como um Avalanche. Aquilo era diferente. Assim que encontrei com Evan,
soube que a vida nunca mais seria a mesma. Como poderia? Como voltaria
à minha vida antiga, sabendo que lá fora havia um garotinho precisando de
mim?
Foi mais do que apenas encontrar o meu sobrinho, pela primeira vez, na
pior das circunstâncias. De repente, senti o peso do mundo em meus
ombros. Muitas coisas dependiam do fato de eu ter sua tutela.
Minhas palmas umedeceram e meu coração acelerou. Eu estava tão
ansioso que parecia que minha garganta ia fechar. Quando entrei no táxi
para o DCSF, quase me convenci a desistir pelo menos doze vezes. Ao
passar pela entrada daquele prédio, senti como se jogassem um balde de
água fria na minha cara.
A realidade da situação me atingiu. Era isso. Eu encontraria o meu
sobrinho pela primeira vez e o levaria de volta para casa comigo. Tudo isso
dentro de vinte e quatro horas.
Vê-lo pela primeira vez não foi nada como eu pensei.
Deus, eu não estava preparado para ele ser tão... pequeno.
Mesmo tendo encontrado minha meia-irmã apenas algumas vezes, eu
poderia dizer o quanto ele se parecia com ela. O que mais me chocou foi o
quanto ele parecia comigo. Cabelos escuros, olhos verdes, covinhas nas
bochechas. Não que ele tenha, pelo menos, fingido um sorriso quando o
conheci.
Ele me fitou com os olhos cheios de lágrimas, abraçando um polvo
velho esfarrapado com um olho só. Pude ver sua tristeza e, porra, foi um
soco no estômago. Esse pobre garoto. Não consigo nem imaginar passar
pelo que ele passou sendo tão pequeno.
Provavelmente, ele estava apavorado. Eu senti os tremores em sua mão
quando segurou na minha.
Naquele momento, soube que tinha acertado na decisão. Não hesitei
nem arrependi. Vendo o meu sobrinho inexpressivo daquela forma, não
tinha como duvidar. Sem trocarmos uma palavra, eu senti uma necessidade
inexplicável de protegê-lo. Talvez tenha me enxergado nele, e não queira
que ele passe pelas mesmas coisas que eu.
Connie, a assistente social, assumiu logo depois, organizando tudo para
Evan vir comigo, o que foi um monte de papel. Assinei tanta merda que
minha mão quase caiu, enquanto Evan estava em silêncio, sentado ao meu
lado em uma velha cadeira de metal. Todo o processo parecia apenas uma
transação e, de repente, senti ainda mais pelas crianças que não tiveram
escolha a não ser irem para o sistema de adoção. Tipo, assine aqui na linha
pontilhada e, de repente, você passa a ter um filho para cuidar. Basta uma
assinatura e um carimbo.
Verificamos antecedentes criminais, impressões digitais e ela disse que,
nas próximas vinte e quatro horas, alguma pessoa do meu estado faria uma
inspeção residencial de emergência e pronto.
Eu era oficialmente o tutor de um menino de três anos cujos pais
haviam acabado de ser assassinados.
Apenas. Simples. Assim.
Nos hospedamos em um resort cinco estrelas perto da Times Square, e
assim que entramos no quarto ele se deitou na cama e desmaiou.
Eu não. Tenho certeza de que não preguei o olho a noite toda. Em vez
disso, o observei dormir para me assegurar de que ele estivesse... você sabe,
respirando. Porra, eu não sabia de nada. Eu era novo nisso e temia estragar
tudo.
Ele não me falou muitas palavras além de suco, comida...e baboseiras
assim. E, felizmente, eu aprendi a trocar as fraldas de Ari e Ken, ou estaria
realmente fodido. Voamos a curta distância para casa com sua palma
pegajosa apertando a minha.
Tudo era muito surreal.
Passaram-se vinte e quatro horas e sobrevivemos. Ele fica tímido perto
de mim, o que era de se esperar, e eu faço o melhor que posso. Com
exceção desta noite, que ele acordou com o que eu imagino serem
pesadelos, porque acordou gritando logo depois de adormecer. Nós dois
estamos exaustos e eu não sei o que fazer. Mamãe e Em não atenderam
nenhuma das dezessete vezes que liguei, mas vai entender, nesse momento
eu realmente preciso de ajuda. Depois Liam não atendeu e eu já estava
enlouquecendo. Então... liguei para Holland. A única outra pessoa de minha
confiança, que pode realmente ter uma ideia do que fazer.
— Reed…— Holland diz com cautela. Ela pula do banco e se aproxima
de Evan lentamente. A julgar pelo aperto mortal no polvo, ele está passando
por um momento difícil.
— Minha irmã… Amelia. Minha meia-irmã. Ela e o marido foram
assassinados em um latrocínio em Nova Iorque. Robert está com câncer e
não pode cuidar dele, então… Eu sou a próximo na fila para a tutela. Ou eu
o acolho ou ele vai para um orfanato. Holland, eu não poderia deixar o
garoto ficar sob a guarda do estado. — Eu abaixo minha voz e praguejo. —
Merda, eu não sei o que estou fazendo. As poucas coisas que eu sei não são
suficientes para ser um... pai solteiro.
As palavras soam estranhas na minha língua.
Os olhos desconfiados de Holland suavizam, transformando em algo
diferente. Uma centelha de piedade. Ela se senta na frente de Evan,
balançando seu longo cabelo loiro no processo.
— Oi Evan. Meu nome é Holland. Esse é o seu polvo? — Ela acena na
direção do animal de pelúcia em seus braços.
Evan olha para baixo, volta a olhar para Holland e depois balança
levemente a cabeça.
— Eu adorei. — Ela sorri largamente. — Qual é o nome dele?
— Pickles.
Solto uma risada baixa, e Evan me lança um olhar mortal, que me faz
parar imediatamente.
Merda. Essa criança é uma plateia difícil.
— Sabe, quando eu era da sua idade, eu tinha um macaco de pelúcia
chamado Arthur que carregava para todo lugar. Ele fazia com que eu me
sentisse corajosa. Eu nunca tinha medo de nada quando ele estava por
perto.
Evan levanta o olhar para o dela e funga. Seus pezinhos mexem de um
lado para o outro enquanto ele esfrega os olhos já avermelhados e cheios de
lágrimas com a outra mão.
— Acho que ele está tendo pesadelos.... Tentei acalmá-lo, mas ele
apenas … Ele não conseguiu. Eu não soube o que fazer. — Eu digo
calmamente. Holland balança a cabeça.
— Evan, que tal assistirmos um pouco de desenhos animados com
Pickles? O que você acha?
Ela estende a mão e ele olha para ela, obviamente tentando decidir se é
uma aposta segura ou não, depois finalmente desliza sua mãozinha na dela.
Respiro aliviado.
Os dois caminham até o sofá e eu entrego o controle remoto a Holland.
Ela coloca algo sobre um bebê tubarão que, na minha opinião, tem muita
música, e Evan finalmente relaxa no sofá. Pela primeira vez depois que ele
chegou, parece que ele está… bem.
Não deve ser fácil para ele; não consigo imaginar a falta que sente dos
seus pais, embora provavelmente não entenda totalmente o que está
acontecendo.
Eu ando até o bar e verifico meu e-mail. Respondo a algumas
aprovações pendentes e envio ao meu treinador e ao proprietário uma
mensagem com atualização. Preciso voltar aos treinos, mas não posso
deixá-lo.
Não depois de tudo que ele passou nos últimos dias.
Volto a olhar para Holland enquanto ela puxa um cobertor sobre o peito
de Evan e, vagarosamente, levanta-se do sofá. Ele ainda segura a mão dela
e isso causa uma sensação estranha no meu peito.
Merda, estou tão perdido.
Soltando cuidadosamente do forte aperto, ela devolve a mãozinha ao
seu peito e caminha para perto da ilha, em minha direção.
— Uau! — Ela suspira enquanto retoma o seu lugar no banquinho do
bar. — Honestamente, posso dizer que esta era a última coisa que eu
imaginava quando você ligou.
— Sim, aconteceu tão rápido que eu quase não tive tempo para
processar. Inferno, eu ainda estou em choque. Depois ele estava chorando
ao dormir e eu apenas… tentei ligar para Em e minha mãe, mas,
aparentemente, elas dormem como se estivessem mortas.
Holland acena.
— Acho que Em tomou alguma pílula para dormir mais cedo. Com tudo
o que está acontecendo, ela disse que não dormiria tarde esta noite para
tentar recuperar o sono. Acabaram as provas.
— Estou com medo de foder com tudo. — Eu sussurro.
— Crianças são resilientes, Reed. Você vai se surpreender. Tenho
certeza de que ele sente falta dos pais e a mudança não vai ser fácil, mas
você vai ser incrível. Sei disso. Entendo que, estar no seu lugar agora, seja
assustador e sufocante, mas sem dúvida vai dar tudo certo.
Eu não estou muito confiante. Nem um pouco na verdade, mas tenho
uma certeza do caralho que vou tentar ser tudo o que puder para ele. O fato
de Holland ter tanta fé em mim... é como se fosse o melhor elogio do
mundo.
— Acho que só precisamos nos conhecer. Neste momento, somos
estranhos. Ele nunca tinha me visto e eu o tirei do único lugar que ele tinha
como lar.
Suas sobrancelhas franzem e ela fica pensando em silêncio por um
momento.
— Sabe o que poderia ajudar? Montar um espaço para ele. Tipo, criar
um lugar onde ele se sinta confortável e à vontade em seu novo ambiente.
Talvez conversar com a assistente social e descobrir como era o quarto dele
em casa? E tentar fazer uma versão similar aqui.
Merda, é uma boa ideia.
— Você é um presente de Deus, Holland.
Suas bochechas enrubescem e ela revira os olhos.
— Fiz uma matéria sobre desenvolvimento infantil como eletiva e, pelo
menos, aprendi um pouco para aplicar na vida real.
— Bem, dá para notar. Você é ótima com ele.
Comentários como esse e sua confiança inabalável em mim tornam
ainda mais difícil parar de pensar nela. Honestamente, desde a outra noite,
que a busquei junto com Em na casa da fraternidade, não consigo parar de
pensar nela.
Assim como agora, mexendo timidamente nos botões do seu cardigã
parada na minha frente, ela está linda. Sem nenhum esforço.
Minhas mãos coçam para percorrer as amplas curvas de seus quadris.
Holland não é magra de forma alguma, e, por tê-la em minha casa vinte e
quatro horas por dia, sete dias por semana, desde que éramos crianças, eu
sei que ela sempre se preocupou com seu peso.
Quando ela era caloura, quebrei o nariz de um garoto porque ele a
chamou de vaca. Não havia nada repulsivo em seu corpo. De jeito nenhum.
Ela é um nocaute do caralho, e acho que nunca me permiti um segundo
olhar para ela porque é a melhor amiga de Emery, mas agora, não consigo
parar de olhar.
Ela está usando calças de ioga que abrem em seus quadris e abraçam
suas amplas curvas. Estou cativado e preciso colocar minha cabeça no
lugar.
— Reed?
Meu olhar arrasta até o dela, e ela me olha com curiosidade.
Pego no flagra.
— Sim?
— Eu perguntei se você já se programou. Sabe onde Evan vai estudar?
Todos os meus pensamentos impróprios desaparecem depois desta
pergunta.
— Porra! — Interrompo, arrastando minhas mãos pelo cabelo e
descendo pelo rosto e pela barba. — Eu não sei o que vou fazer Holland.
Hóquei é o meu trabalho. Preciso voltar para o gelo, mas não posso deixá-lo
aqui enquanto estiver na estrada durante seis meses do ano. Essa criança
passou pelo inferno e voltou. À essa altura, ele provavelmente já está
traumatizado. Imagine alguém novo e diferente bagunçando o seu mundo
mais uma vez. Eu preciso construir um relacionamento, criar um vínculo
com ele. Isso é o mais importante. Vou até a geladeira, pego duas garrafas
de água e coloco uma na frente dela. — Eu gostaria que houvesse um
manual para essa merda. Um guia simples que me dissesse exatamente o
que fazer.
— Tenho certeza de que isso é o que todos os pais desejam. Eu acho que
você tem um sistema de apoio incrível e sabe lidar com crianças. Mesmo
que não tenha cuidado delas em tempo integral e sozinho, você tem muita
prática com Ari e Kennedy.
Eu assinto. Foda-se, ela tem razão. Só que não parece assim agora.
Parece excessivo e exaustivo, e sinto que cada movimento que eu fizer
estará errado.
Holland estende a mão e a coloca sobre a minha no balcão.
— Não seja tão duro. Se dê algum crédito.
Seu telefone vibra, ela o tira da bolsa e murmura um palavrão.
— Me desculpe, Reed, eu tenho que ir. Acho que meu pai acordou. A
câmera está desligando.
— Pode ir, você já fez mais do que o suficiente aqui. Obrigado. Por esta
noite.
— Não precisa agradecer, Reed. Ele apenas... ele precisa de alguém que
o ame agora. Ele pode não entender totalmente o que está acontecendo, mas
sabe que teve que sair de casa e que não tem visto os seus pais. Será um
período de muito aprendizado e muita cura. Para vocês dois. — Ela salta do
banco e pega sua bolsa, jogando-a sobre o ombro.
— Tome cuidado. Amanhã vou ver a caldeira. Falei com Em e ela
mencionou que você estava tendo problemas. Ela e mamãe querem levar
Evan para comprar roupas e ficar um tempo com ele, então terei algumas
horas livres para passar por lá.
— Não, Reed, você tem muito o que fazer. Está tudo bem. Posso
chamar um profissional.
— Eu vou passar lá. É o mínimo que posso fazer. Te vejo amanhã, ok?
Eu a acompanho até a porta e, assim que a abro, ela sai.
— Tchau Reed.
Seus olhos cor de oceano brilham na iluminação da noite, e ela sorri
timidamente, acena e entra no seu carro.
Quando trouxe Evan para casa esta noite, não sabia o que esperar.
Inferno, eu ainda não sei. Mas depois de conversar com Holland e sentir a
sua confiança em mim, acho que posso lidar com isso. Não vai ser fácil,
mas eu nunca fui de desistir quando as coisas complicaram.
Foi a única coisa que aprendi com o homem que não me criou.
Cap 06
Holland
Não passaram nem vinte e quatro horas desde que vi Reed e ainda
assim, sinto borboletas no estômago ao ouvir a campainha tocar.
Toda vez que me pego pensando nele, um nó de culpa se forma na boca
do meu estômago. Não apenas porque acho que seja traição com Emery,
mas porque me sinto egoísta por permitir o sentimento, mesmo que em
segredo.
Eu não quero comprometer meu relacionamento com Em, portanto,
continuará sendo a paixão oculta que venho nutrindo por Reed. Um
segredo.
Papai levanta os olhos de sua poltrona quando passo na sala de estar
para abrir a porta. Ele me dá um sorrisinho, e eu me lembro porque trabalho
tanto. Por ele.
Abro a porta e vejo um sorridente, charmoso e radiante Reed. Hoje ele
está casual. Usa jeans, uma camiseta branca surrada e tênis que parecem ter
uma década. Me lembrei de quando éramos mais jovens e ele ficava no gelo
jogando hóquei com os amigos o tempo todo.
— Dia. — Ele diz.
— Bom dia. Abro mais a porta, gesticulando para ele entrar.
Quando entra no saguão, ele observa ao redor.
— Nossa, este lugar não mudou nada desde que éramos crianças.
— Sim, eu tento manter as coisas familiares para o papai.
Ele acena com a cabeça, entendendo sem que eu precise dizer. A
demência de papai mudou nos últimos dois anos, e cada dia que eu o tenho
de verdade, é um dia muito feliz.
Mesmo que Reed esteja na estrada durante seis meses do ano, ele e meu
pai sempre tiveram um relacionamento amigável. Moramos na casa ao lado
dos Davidsons por mais da metade da minha vida. Sempre que o cortador
de grama quebrava e Reed chutava e xingava depois de tentar fazê-lo
funcionar novamente, meu pai se aproximava e ajudava. Quando papai
precisava de ajuda para pintar a garagem, Reed passava o dia inteiro
pintando com ele, sem reclamar ou esperar algo em troca. A qualquer
momento que papai precisasse de ajuda com o barco que ele tanto amava,
quando éramos mais novos, Reed vinha e passava o dia na oficina
trabalhando com ele.
Reed entra na sala e seu rosto suaviza quando avista papai na poltrona.
— Ei, meu velho.
Papai olha para cima e seus olhos iluminam no segundo em que vê
Reed. Ele está tendo um bom dia; deve reconhecê-lo.
— Ah, você é um grande jogador de hóquei agora. Acha que é bom
demais para visitar esse velho?
Ele tenta se levantar da poltrona, com dificuldade porque as suas pernas
estão trêmulas. Reed imediatamente intervém e lhe oferece o braço. Ele o
levanta da cadeira sem esforço, e assim papai consegue ficar cara a cara
com ele, e apertar sua mão.
Tudo isso me causa lágrimas, que eu seco rapidamente. Não quero que
Reed perceba. É que... faz bem para o meu coração vê-lo tratar meu pai
com tanto respeito e amor. Da mesma forma que me dói na alma, porque
meu pai está se perdendo mais e mais a cada dia e não há nada que eu possa
fazer para impedir. Nada que eu possa fazer para diminuir a dor do
desvanecimento de sua vida. Para ajudá-lo a ser a pessoa que sempre foi e
não se sentir incapaz. Eu mal suporto a dor no peito nos seus dias ruins.
Os dias que ele não se lembra de mim ou que ele me chama pelo nome
da minha mãe. É difícil, e fica ainda pior porque sou impotente, e tenho que
me sentar e assistir acontecer sem fazer nada a respeito.
— Não, nunca. Você sabe o quanto gosto de dividir uma cerveja. Eu
vim consertar a caldeira que está causando problemas para Holland.
— Essa coisa maldita é tão velha quanto ela. Eu queria substitui-la, mas
ando muito ocupado na fábrica.
Eu congelo. Oh papai.
Reed não perde o ritmo e apenas dá um tapinha nas costas dele.
— Cuide-se, viu? Venha até a casa da mamãe se precisar de ajuda com o
barco, tudo bem?
Papai sorri e aperta sua mão de novo.
— Não seja um estranho, viu? Sinto sua falta, garoto.
Só então deixo as lágrimas quentes e pesadas caírem pelo meu rosto;
saio do saguão e entro na cozinha precisando de um momento para me
recompor. Não imaginei essa situação quando Reed disse que vinha
consertar a caldeira, e não estou emocionalmente preparada.
— Holland? — Ouço a voz de Reed, profunda e rouca, vindo da entrada
da cozinha. Enxugo algumas lágrimas perdidas e viro para ele, dando-lhe
um sorriso molhado.
— Desculpe, eu estou apenas… — Ele me interrompe e se aproxima,
me puxando para seus braços.
Ele me pega desprevenida. O conforto, a proximidade, tudo isso. Eu
cresci com Reed, mas não passamos muito tempo nos tocando. É
exatamente o que eu precisava neste momento, mas nunca teria pedido.
Aperto os olhos e mordo o lábio até sentir o gosto metálico do sangue
enquanto tento segurar um mar de lágrimas. A mão de Reed acaricia minha
nuca e eu solto um pequeno gemido.
— Não se desculpe por sentir, Holland. Eu sei que é difícil, e você passa
por tudo sozinha.
Em seu abraço, aceno com a cabeça.
— Obrigada. — Eu me afasto e olho para ele.
Seus lábios se curvam em um pequeno sorriso quando ele me solta.
— Você está certa, mas está frio pra caralho aqui. Por que diabos você
ainda não chamou ninguém?
Eu dou de ombros e começo a caminhar em direção ao porão. Reed
segue logo atrás, tão perto que posso sentir o calor que irradia do seu corpo.
Será que me acostumei com o frio sem perceber?
— Não está tão frio.
Apesar disso, a cada passo que damos em direção ao porão, fica mais
gelado. No momento em que chegamos ao último, posso ver minha
respiração na minha frente.
Talvez esteja um pouco mais frio do que eu imaginei.
— Holland. — Reed diz severamente, balançando a cabeça.
— O que? Tenho usado aquecedores dentro de casa.
Ele passa por mim em direção à caldeira, pegando a bolsa de
ferramentas de papai que está em cima da mesa. Balança a cabeça mais uma
vez antes de se abaixar sob a caldeira e começar a trabalhar. Aproveito a
oportunidade para subir na mesa e observar.
Cada vez que ele ergue a chave inglesa, sua camisa branca levanta
levemente revelando uns poucos pelos acima do cós de seu jeans.
Argh. De todas as pessoas, por que tenho que ser obcecada pelo irmão
da minha melhor amiga? A única pessoa no mundo que eu não posso ter.
Após alguns minutos de ruídos e xingamentos, Reed se senta. A caldeira
agora está ligada, mas faz barulhos horríveis. A cada som que sai da
máquina, a prateleira de madeira que está acima de Reed vibra.
— Essa coisa está fodida. E mesmo que não fizesse tanto barulho, acho
que não passaria na inspeção. — Assim que termina de falar, a caldeira chia
e estala, ficando cada vez mais alta a cada segundo.
— Uh, acho que precisamos desligar isso, Reed.
Antes que ele consiga se levantar, a estante acima da caldeira, cheia até
a borda com livros que não cabiam nos livreiros lá de cima, racha, e quase
em câmera lenta, cai em cima de Reed.
— Oh meu Deus! — Eu grito, pulando de cima da mesa.
— Ai! — Reed geme tirando os livros do seu rosto. — Droga.
Eu chego até ele e começo a tirar os livros velhos e estragados até
conseguir ver seu rosto, e me certificar de que não esteja realmente ferido.
— Puta merda, você está bem? — Eu grito, em pânico.
Minhas mãos o apalpam para certificar de que nada esteja quebrado e
que não tenha sinal visível de trauma. Elas deslizam pelo seu peitoral liso e
rígido, por seu abdômen duro como pedra e também por suas coxas.
Ótimo, isso é tudo que eu preciso. Machucar o melhor central de toda a
NHL e fazer mundo dos esportes me odiar por ser a responsável. E, é
impossível não surtar com minhas mãos nele; quero dizer, ele pode estar
machucado e estou aqui pensando em como seus músculos são tonificados.
— Holland. — Ele geme de novo, só que desta vez, soa mais profundo,
mais rouco. Seus olhos estão fechados e sua respiração está ofegante.
— Você quebrou a perna, ou as mãos? Oh Deus, você ainda consegue
andar? — Eu grito. Minhas mãos sobem e descem pelo seu corpo
novamente, procurando por qualquer tipo de lesão. Não encontro nada além
de duros e inabaláveis músculos.
— Pare.
Congelo, imediatamente.
Reed apoia nos cotovelos e olha para mim.
— Eu não vou ficar bem se você continuar me tocando.
Puta merda. Meus olhos disparam para onde ele está se ajustando e
depois voltam para seu rosto. Oh deus, Reed estava se excitando com as
minhas mãos no seu corpo. Jesus, Holland, suas mãos estão praticamente
no pau dele.
Eu afasto rapidamente e murmuro:
— Sinto muito.
Exceto que eu não sinto, nem um pouco. Bem, talvez um pouco, porque
agora estou envergonhada. Minhas bochechas queimam.
— Tenho certeza de que o seu precioso Orgulho e Preconceito errou
meu pau por meio centímetro. — Ele levanta o livro que estava sobre sua
barriga.
Com isso, jogo minha cabeça para trás e solto uma risada alta e
completamente deselegante que inclui bufos e lágrimas. Eu caio de joelhos
para o lado, agarrando meu estômago, pensando em Reed Davidson sendo
ferido por um romance clássico.
— Oh Deus, isso é a coisa mais engraçada que eu já ouvi. — Sorrio.
— É mesmo? Você acha engraçado que eu quase perdi meu pau por
causa de um livro, Holland? — O seu tom é de brincadeira, mas suas
palavras têm o efeito oposto. E é aí que percebo o quanto estamos
próximos. Em algum ponto da confusão, chegamos tão perto um do outro
que posso sentir sua dificuldade para respirar. Só não sei se é por causa da
queda da prateleira ou por ter o mesmo sentimento que eu.
Seus profundos olhos castanhos me encaram, e de repente me sinto
visível. Aberta. Crua.
Exposta para Reed Davidson.
— Holland. — Ele sussurra meu nome asperamente e, pela primeira
vez, acho que ele pode sentir o mesmo que eu. Ouço o tom torturado de sua
voz. A mesma hesitação que sinto e desejo não sentir, a mesma vontade de
me beijar, sabendo que ele não pode.
Que nós não podemos.
Eu coloco uma mecha solta de cabelo atrás da minha orelha e desvio os
olhos, a intensidade de seu olhar queimando diretamente no meu núcleo.
— Porra, você é linda.
Meu coração dispara no peito, sem saber o que está acontecendo, mas
egoísta demais para impedir. Suas palavras me fazem tremer, e um fogo
delicioso que parece começar no meu estômago queima até o ponto sensível
entre minhas coxas.
Ele se inclina para mais perto e eu não me afasto. Eu simplesmente
engulo um suspiro.
Ring, Ring, Ring
Seu telefone toca, nos faz pular e quebra o feitiço que estava sobre nós.
— Merda. — Ele limpa a garganta e pragueja antes de tirá-lo do bolso,
deslizar o dedo na tela e atender. Enquanto ele fala, eu me ocupo pegando
os livros ao seu redor.
— Ei mãe. Sim, estou terminando aqui e vou embora. Eu sei. Sim. Sim.
Mãe... sim.
Ele encerra a chamada e o coloca no bolso outra vez. Tão rápido quanto
inicia, a conversa acaba e nos deixa em um silêncio tenso e incomum.
O que acontece agora?
— Você precisa de uma caldeira nova, Holl. Essa merda não é segura e
você não consegue lidar com ela. Alguém precisaria inspecionar as linhas
de gás, certificar de que tudo está funcionando bem, sem falar na troca da
maldita fornalha.
— Eu, nós… não é possível agora, Reed, — sussurro, sentindo minhas
bochechas queimarem de embaraço.
Odeio o quanto me sinto vulnerável ao expor a nossa deplorável
situação financeira. É vergonhoso. Mas é a verdade. A resposta simples é
que não podemos pagar milhares de dólares em uma caldeira, e o seguro
não cobrirá desgaste manual. Já faz um tempo que precisamos substitui-la, e
nunca tivemos condições.
— Qual é o problema? Está tudo bem?
Eu olho para longe, incapaz de encontrar seu olhar.
— Não podemos pagar. Eu tenho economias, mas não o suficiente.
Teremos que nos virar.
— Eu pago tudo.
Viro minha cabeça para ele e meu queixo cai. O que?
Obviamente foi atingido na cabeça quando a prateleira caiu. Essa é a
única razão para ele dizer algo tão ridículo.
— Absolutamente não. Eu vou cuidar disso. Os aquecedores vão
resolver por enquanto.
— Holland, eu tenho dinheiro. Bastante. Não vou conseguir dormir à
noite sabendo que você está sozinha nesta casa gelada. — Ele balança a
cabeça. — Por favor, me deixe fazer apenas isso.
— Não. — Balanço a cabeça violentamente e me levanto do chão frio.
— Eu te disse que posso lidar com isso e eu vou. Vou pegar mais alguns
turnos na biblioteca quando não estiver em minhas aulas online.
Reed se levanta abruptamente e me olha. Ele passa a mão pela barba
antes de começar a andar de um lado para o outro do porão.
— Ouça.... Eu tive uma ideia. Pode ser uma loucura do caralho, mas
acho... acho que poderia dar certo.
— Okay.
— E se… e se você viesse para a estrada comigo? Apenas me escute. —
Ele pausa levantando as mãos. — Apenas para cuidar de Evan enquanto eu
estiver no treino e quando houver jogo. Vou conseguir ingressos para todos
os jogos, então você só precisa levá-lo.
— Isso é loucura, Reed. Não invente uma insanidade só par comprar
uma nova caldeira para mim. Eu posso resol...
Ele me interrompe.
— Só escute. Não estou inventando e isso também me beneficia. Eu
proponho com egoísmo. Vou te pagar um salário. Ridiculamente alto. E
antes de dizer qualquer coisa, saiba que vai me ajudar mais do que imagina,
Holland. Não posso simplesmente deixá-lo com um estrangeiro que não
conheço, eu nem mesmo penso em deixá-lo para trás. Suas aulas são
online... então não atrapalharia, certo?
Não atrapalharia..., mas... Eu não poderia simplesmente sair com Reed.
Para a estrada. Por uma temporada de hóquei inteira.
Ou poderia?
— Basta pensar sobre isso. Dessa forma, você pode ganhar uma quantia
decente de dinheiro, economizar e salvar a minha pele dez vezes mais. É
apenas durante os treinos e jogos, e vou reservar um quarto para você. Sei
que seu pai já tem Mona, mas vou contratar uma enfermeira noturna
também. A melhor cuidadora que o dinheiro puder pagar.
A enfermeira de papai, Mona, provavelmente concordaria em ficar com
ele nos dias que eu estivesse fora.
— E deixe tudo isso de lado, okay? Veja, Evan acabou de te conhecer e
já gosta de você, inferno, provavelmente mais do que de mim. Ele
obviamente tem confiança e se sente confortável com você e... nesse
momento? Isso é tudo para ele. E para mim. Não sou só eu que preciso de
você... Evan também.
Oh Deus, estou pensando seriamente nisso? Ele puxa diretamente as
cordas do meu coração ao mencionar Evan e o fato de ele precisar de mim.
No entanto, Reed está certo sobre tudo. Preciso ser capaz de consertar
essa caldeira estúpida e tudo mais que está desmoronando por aqui, e sem
mencionar, tenho que economizar para a próxima emergência, para não ter
que me estressar.
— É uma ideia terrível. — Eu murmuro.
Ele se aproxima, quase me tocando.
— Por favor, Holland. Aqui estou eu, Reed Davidson, o jogador de
hóquei mais gostoso que já conheceu, te implorando. Eu preciso de você.
Prometo que vai valer a pena. Isso resolve meus problemas e os seus. O que
poderia dar errado? Apenas… me dê a temporada de hóquei. É tudo que eu
preciso, e então eu vou encontrar outra pessoa. Seis meses.
Quando coloca dessa forma... Ele está certo.
O que eu tenho a perder?
— Fechado.
As palavras saem da minha boca antes que eu possa me convencer do
contrário.
Cap 07
Reed
— Essa jogada foi ordinária, idiota. Eu reclamo, enxugando o suor da
minha testa com a parte de trás da minha luva.
— Passe a porcaria do disco então. — Ledger sorri.
Porra, é bom voltar para o gelo. O único lugar onde eu tenho a
impressão de não foder nada. Quando minha lâmina atinge o gelo, é como
se tudo desaparecesse. Eu me sinto no topo da porra do mundo, e é uma
sensação que eu nunca vou parar de buscar. A euforia que o hóquei me dá.
Os últimos dias foram um turbilhão, e ainda não consigo acreditar que
Holland vai viajar comigo. Ou que quase nos beijamos. Seria uma pequena
loucura? Sim. Provavelmente seria uma péssima ideia conviver com uma
garota que, repentinamente, passou a deixar o meu pau duro apenas por
abrir a boca... com toda certeza do caralho, mas está feito.
Eu não deixaria Evan em casa com uma pessoa desconhecida, eu nem
mesmo pensaria nisso. Não depois de Holland concordar em me ajudar.
Talvez no próximo ano, principalmente quando ele estiver mais confortável
comigo.
A merda é complicada. Ele fica desconfiado quando está perto de mim e
ainda tenta entender o que está acontecendo, mas faço o melhor que posso.
Nenhum de nós sabe o que está fazendo, mas de alguma forma... estamos
fazendo juntos.
— Davidson, você vai jogar a porra do hóquei ou vai ficar sonhando
acordado? — O treinador grita, me tirando dos meus pensamentos.
Merda. Tenho que tirar minha cabeça do meu rabo. Patino de volta para
o centro e empurro o disco com a ponta do meu taco.
O resto do treino passa voando. Ser o central do melhor time de hóquei
do país significa que essa é a porra do meu show. Não há espaço para
merdas ou erros. É meu trabalho pontuar e garantir que levemos a taça para
casa este ano. O hóquei é minha vida e, embora meu mundo esteja virado
de cabeça para baixo, é minha constância. Como sempre foi.
Eu saio do gelo e arranco minhas luvas, jogando-as na caixa em cima do
banco.
Partimos amanhã e isso significa que nos próximos três dias estarei com
Evan e Holland. Eu reservei um quarto separado para Holland e uma suíte,
de forma que Evan tenha seu próprio espaço, mas foda-se, estou nervoso
por estar sozinho... com Holland. Porque quero ficar a sós com ela, e o que
quero fazer são coisas que nunca poderiam acontecer.
— O que há com você esta noite? — Hudson pergunta. Ele é o nosso
goleiro e um dos meus melhores amigos. A maioria de nós se dá muito
bem, mas Graham, Briggs, Hudson e Asher são meus melhores amigos.
Falta Liam, mas ele está treinando o ensino médio agora, e não consigo vê-
lo tanto quanto antes, quando ele treinava os Avalanches.
Briggs sai do chuveiro com uma toalha na cintura. — Sua cabeça não
estava lá esta noite. Estou surpreso porque o treinador não o obrigou a fazer
exercícios.
— Porra, tem muita merda acontecendo. —Eu digo enquanto tiro uma
camiseta limpa da minha bolsa. — Você conhece Holland? A amiga de
Emery. Aquele que mora ao lado da casa da minha mãe desde que éramos
crianças?
Briggs assente.
— Eu pedi a ela para viajar comigo e me ajudar com Evan durante os
jogos e treinos.
— Sim, e?
Eu paro, passando minhas mãos pelo meu cabelo.
— Até recentemente, eu nunca tinha olhado para ela de verdade. Tipo
uma boa checada. Ela é linda e eu não confio no meu pau quando ele está
perto dela.
Eu me sinto culpado apenas por pensar nisso, e ainda mais por ser
afetado por ela.
— Cara, Emery literalmente quebraria seus membros. Ela é esquisita
assim. Esta é a amiga da sua irmã mais nova, se existe alguém que está fora
dos limites, esta pessoa é ela. Não siga esse caminho. — Graham murmura.
— Eu nem conheço Emery direito, mas sei que ela tem um metro e meio de
pura violência. — Ele estremece.
Fechando meu armário com força, coloco minha bolsa em meu ombro e
pego meu taco.
— Eu não vou. A porra do problema é que eu sei disso, mas meu pau
não recebeu o memorando... — Eu paro.
— Ela é apenas... sei lá, diferente. Eu sei que não deveria, eu sei porra,
mas isso não significa que eu não vá fazer.
— Você sabe que Em vai cortar seu pau.
Ele tem razão. Emery perderia a cabeça se suspeitasse algo entre mim e
Holland. Não que tenha alguma coisa, mas eu vejo como Holland cora
quando a provoco, ou se inclina levemente sempre que estou perto. Depois
daquele dia no porão da casa dela, quando quase me entreguei e a beijei pra
caralho, a última coisa que preciso é criar oportunidade de ficar sozinho
com ela.
Esta é uma má ideia. Eu sei disso, Briggs sabe disso, inferno, qualquer
um que conheça minha irmã e o pequeno terror que ela é... sabe disso.
Não que minha vida já não esteja um show de merda total e tão
complicada quanto poderia ser, ao herdar o filho da minha falecida irmã,
que eu nunca conheci e que não quer absolutamente nada comigo. Vamos
começar a desejar a melhor amiga da minha irmã.
Eu gemo e olho para o teto.
— Estou completamente fodido.
Depois do treino, vou para casa e entro pela porta logo depois das nove.
Esta noite foi particularmente cansativa, visto que tirei alguns dias de folga
para ficar com Evan. Assim que fecho a porta atrás de mim, Emery aparece
na entrada, cheia de energia.
— Puta merda! — Eu rio, agarrando a parede para me manter em pé.
— Eu e Evan fizemos uma guerra de Nerf. Foi incrível. — Ela dá um
gritinho. Sorri de orelha a orelha, e eu mentiria se dissesse que não fico
feliz em vê-la tão alegre. Faz muito tempo que não vejo minha irmã sorrir
assim. E o fato de ser Evan quem a faz sorrir?
A cereja do bolo.
Eu sorrio, jogo minha bolsa no chão e tiro meus sapatos.
— Aposto que ele chutou seu traseiro, hein?
Ela revira os olhos, salta em cima do sofá e cai para trás.
— Eu o deixei ganhar. Foi muito engraçado, Reed. Sério, eu me diverti
tanto. Ele riu demais.
— Ele é um ótimo garoto. Eu odeio que passe por tanta coisa. Não
consigo nem imaginar em perder mamãe.
Emery assente.
— Ouvi dizer que Holl vai viajar com você. É melhor você não ser um
idiota com ela. — A expressão dela é severa, e eu quase rio.
Emery é pequena, cinco anos mais nova e pesa três vezes menos do que
eu, mas, para ser honesto, minha irmãzinha é uma destruidora de bolas e
não hesitará em me bater, especialmente quando se trata da sua melhor
amiga. Ela cruza os braços no peito e estreita os olhos para mim.
Ofendido, aperto os olhos.
— Eu sou o melhor irmão que você tem, Emery.
Uma almofada voa no meu rosto.
— Você é o único irmão que eu tenho, imbecil. Estou falando sério.
Sem esquisitice Reed, seja um cavalheiro.
— Por que tanta recomendação, Em? Estamos nos ajudando. Não faça
disso algo que não é.
Assim que digo, sinto as palavras amargarem a minha língua. A verdade
é que eu quero Holland e gostaria que não houvesse todos os obstáculos do
mundo no meu caminho.
Emery levanta do sofá e se aproxima de mim. — Reed, ela é a pessoa
mais importante da minha vida. Eu só não quero que aconteça alguma coisa
que me faça perdê-la. Só tenho você, mamãe e Holland.
A culpa se estabelece.
— Olha, maninha, está tudo bem. Não precisa se preocupar. Me
comportarei da melhor maneira. Agora, eu tenho que estar de pé no início
da madrugada para sair. Me manda uma mensagem quando você chegar em
casa? E não se esqueça.
Ela parece ter mais a dizer, mas acena com a cabeça e pega sua bolsa na
mesa de canto.
— Amo você, idiota.
— Te amo, pirralha.
A porta da frente se fecha silenciosamente atrás dela e segundos depois,
ouço o som do motor ligar e ela se afastar.
As coisas estão prestes a ficar ainda mais complexas, mas o que é a vida
sem um pouco de complicação?
Ou pelo menos é o que continuo me dizendo.
Cap 08
Reed
— Uau, isso é incrível! — Holland sussurra enquanto observa Boston.
Aqui é lindo à noite, principalmente no centro comercial, mas a beleza que
vejo não tem nada a ver com a cidade. — Eu nunca estive fora de Chicago.
Sua admissão me surpreende. As luzes da cidade parecem reluzir em
seus olhos, e durante todo o passeio ela mal desvia o olhar da paisagem.
— Sério? — Eu pergunto. Acabamos de desembarcar do avião e
estamos no banco de trás de um Uber, indo para no nosso hotel que fica
perto da arena. É a nossa primeira noite juntos na estrada, e Evan não
conseguiu ficar parado em nenhum momento.
— Carro, corre! Corre! — Ele grita. O mais alto que já o ouvi falar
desde que veio morar comigo. É a primeira vez que o vejo sair de sua
concha e, podem me chamar de maricas, mas isso faz meu coração apertar.
— O carro está correndo, carinha. — Eu digo a Evan.
Holland bagunça o cabelo dele antes de falar:
— Nós nunca tivemos dinheiro para viajar. Além disso, trabalho e
estudo de sol a sol desde os dezesseis anos. — Ela ri, tentando ignorar o que
disse, mas me sinto um completo idiota. Eu nunca percebi que Holland e
seu pai tinham uma vida tão difícil. Sem sombra de dúvida, enquanto
crescíamos, ela ficava na minha casa mais do que na dela. Eu pensei que
fosse porque ela e Em eram carne e unha, mas os últimos dias revelaram
muito sobre Holland que eu não sabia... ou, pelo menos, não prestava
atenção.
Eu me sinto totalmente imbecil por não ter percebido.
— Nós não voltaremos para casa até a próxima noite, talvez possamos
passear amanhã?
Ela acena com a cabeça.
— Eu adoraria.
— Nem sempre temos tempo livre antes ou depois de um jogo. Deu
certo desta vez. Podemos ir ao Fenway Park? Ou talvez à Biblioteca
Pública de Boston? Eu sei como você é em relação aos livros.
O rosto dela se ilumina.
— Seria ótimo, mas penso que Evan não iria se divertir.
Verdade. Ele provavelmente não conseguiria ficar quieto, mas... há
muitas coisas para ver em Boston.
— Vamos descobrir algo para fazer.
Alguns minutos depois, o Uber estaciona na calçada em frente ao hotel,
e todos nós saímos.
— Vou pegar a bagagem. Eu só fiz uma mala para mim e Evan.
Holland parece meio culpada antes de dizer:
— Talvez eu tenha exagerado ... um pouquinho.
Levanto minhas sobrancelhas e quando o motorista abre o porta-malas,
vejo sua mala enorme. Ela tem, pelo menos, três vezes o tamanho de Evan,
e eu gemo fingindo aborrecimento.
— Tem certeza de que trouxe coisas suficientes para dois dias?
Ela encolhe os ombros.
— Eu não sabia do que iria precisar, então embalei tudo. Eu sou uma
exagerada.
— Você acha? — Pego a minha mochila e a mala ridiculamente pesada
do porta-malas, e entramos no hotel para fazer o check-in. O porteiro
solícito é rápido em localizar os quartos e logo estamos com as chaves, e
seguimos em direção ao elevador.
— Senhor, sinto muito pelo inconveniente, mas no momento o elevador
está em manutenção. Se vier por aqui, a escada está disponível.
Vocês estão de sacanagem comigo. Tenho que carregar essa mala de
duzentos quilos por três lances de escada?
Eu sorrio para Evan, que segura forte na mão de Holland, e ela me olha
com uma careta.
— Desculpe. — Ela sussurra.
— As damas primeiro. — Eu faço um gesto em direção às escadas.
Os dois primeiros lances vão bem. Eu sou a porra de um jogador de
hóquei, disputo com caras que pesam trezentos quilos. Teria continuado
bem se a roda da porcaria da mala não tivesse prendido no piso do nosso
andar, me fazendo puxar com um pouco mais de força do que necessário,
fazendo a maldita coisa se abrir, derramando roupas, sapatos e artigos de
higiene pelo chão.
— Merda. Sinto muito, Holland.
Holland ri, ignorando o assunto, e se abaixa para me ajudar a colocar
tudo de volta na mala. Evan dá uma risadinha enquanto nos observa.
Pega leve, homenzinho. Você fica parado aí, gracioso, enquanto eu
carrego essa coisa escada acima.
Junto as coisas até pegar um pedaço de renda vermelha transparente. Eu
congelo, meu cérebro fica completamente em branco no segundo em que
percebo o que é.
Holland trouxe... lingerie? Ou é isso que ela sempre usa por baixo de
seus suéteres recatados e jeans rasgados?
Minha boca seca. Engulo um comentário, tentando recuperar o
pensamento racional, mas ele me escapa. Quando Holland percebe o que
está na minha mão, suas bochechas ardem da mesma cor de sua peça íntima
e ela a arranca de minha mão e enfia de volta na mala entreaberta.
Foda-se. Foda-se. Foda-se.
Agora não consigo parar de imaginá-la vestindo nada além daquela
pequena lingerie vermelha, e eu a arrancando e transformando em uma
pilha de rendas esfarrapadas pelo chão. Eu quero isso, porra, eu preciso
disso.
— Weed? — Evan pergunta, interrompendo meu transe. Ele pronuncia
seus r's como w's, então ele começou a me chamar de erva [1].
Honestamente, eu não dou a mínima. Pelo menos ele está se abrindo para
mim.
Limpo minha garganta, empurrando os pensamentos na minha cabeça.
— Desculpe, carinha. Você está com fome?
Evan assente. Para um garoto de três anos que passou pela merda que
passou, ele é ótimo. É tranquilo, observador, para uma criança da idade
dele, e até brinca sozinho.
Holland rapidamente pega suas roupas caídas, e eu entrego a ela o
cartão do seu quarto. Ela obviamente está envergonhada e evita meus olhos,
mas porra, não consigo parar de imaginá-la vestida.
Chegamos em nossos quartos e ela se move nervosamente de um pé
para o outro.
— Então, amanhã?
Assinto.
— Sim, uh, nos encontramos aqui? Às oito?
Ela acena com a cabeça.
— Certo. Boa noite, Evan. — Ela abaixa e o abraça, em seguida, olha
para mim. — Boa noite, Reed.
— Boa noite.
Levo Evan para o nosso quarto e, pelo resto da noite, meus pensamentos
são consumidos por Holland Parker.
***
***
***
***
— Não me mate.
Três palavras que você não quer ouvir quando sua melhor amiga te
arrasta para um bar depois da meia-noite, e tudo que você quer é ficar em
casa de pijama, enchendo a cara.
Eu aperto os olhos.
— Ceeeerto. — Arrasto a primeira sílaba, já desconfiada do que está
prestes a sair de sua boca.
— Uh, então, lembra daquele cara que eu te falei? O legal com quem eu
saí? — Emery diz, apertando o nariz: — E o cara que eu disse que ia
arranjar para você?
Oh, não! Eu não gosto da direção que esse assunto está tomando. De
jeito nenhum.
— Bem, eles estavam por perto e então vão passar aqui.
— Emery. — resmungo. — Não. Por favor, não faça isso comigo esta
noite. Lembra que estamos comemorando?
Eu levanto minha bebida e balanço o gelo, desejando não ter
concordado em sair hoje à noite para começo de conversa. Mas sinto falta
de Em. Sinto falta de poder passar todos os dias com ela, fazer tábuas de
charcutaria e assistir porcarias na tv.
— Vai dar tudo certo. É como se fosse o destino, certo?
— Só que você mandou mensagem para eles dizendo que estávamos
aqui, Em. Não quero que você tente me fazer ficar com esse cara. — Reviro
os olhos. Cruzo os braços sobre o peito e, de repente, fico mais consciente a
respeito da escolha da roupa desta noite. Se eu soubesse que ela me armaria
um encontro às cegas, usaria algo mais conservador. Menos Emery e mais
eu. É isso que ganho por tentar ser aventureira e viver o momento.
Emery toma um gole do seu mojito.
— Querida, você está estressada. Não fique. É bem descontraído, não
tem pressão. Agora beba e coloque seu doce traseiro na pista de dança para
podermos balançá-lo.
Não faz sentido discutir com ela. Ela tem boas intenções, tem sim. Sei
que tem um coração de ouro. Somos completamente opostas e,
honestamente, olhando para nós duas, jamais pensaria que poderíamos ser
amigas. Ela sempre foi a divertida, extrovertida e cativante da nossa
amizade, e eu a mais tímida e reservada. Quando vamos a festas ou
qualquer evento social, Em é aquela que nunca encontra um estranho. O
tipo de pessoa que te atrai. Ela tem essa capacidade de deixar qualquer
pessoa confortável. Um dom que, definitivamente, eu não tenho.
Termino minha bebida e coloco o copo sobre a mesa, antes de me
levantar instável sobre os saltos que ela insistiu que eu usasse.
— Você precisa usar esses, eles deixam as suas pernas ainda mais
gostosas com esse vestido.
Eu: Lembre-me de nunca permitir que Emery me convença a fazer
nada, literalmente, nunca mais.
Antes que eu possa mudar de ideia, envio a mensagem para Reed.
Então, assim que Emery se aproxima, devolvo meu telefone para a minha
bolsa. E ela não está sozinha. Está com um cara alto que parece ter senso de
moda melhor do que eu. Ele veste uma camisa polo para dentro da calça e
uma jaqueta preta esportiva.
Simpatizante de clubes campestres, condutor de Range Rover, jogador
de golfe de fim de semana, garoto ex-integrante de fraternidade.
Totalmente o tipo de Emery.
Morro de amor por ela, mas a garota tem um tipo.
Ele tem olhos escuros e um sorriso gentil. Mesmo sem ter vontade de
conhecer ninguém esta noite, sinto uma boa vibração dele.
— Oi, eu sou Landon. Trabalho com Emery. Holland, eu suponho?
Rapidamente, aperto sua mão estendida e concordo com a cabeça.
— Eu sou. É um prazer conhecer você.
Em seguida desvio meu olhar para o cara ao seu lado. Meu “encontro às
cegas” para a noite. Ele é um pouco mais baixo que Landon, e é o oposto
dele. Quase como Emery e eu. Seu cabelo loiro está bagunçado e espetado
em todas as direções, e ele usa jeans escuros e camiseta branca. Uma
combinação simples.
Ele sorri, e vejo que tem covinhas nas duas bochechas.
— E você deve ser a infame Holland. — Ele brinca. — Eu sou Aaron.
Melhor amigo desse idiota, mas não use isso contra mim.
Eu rio.
— Sim, eu sou Holland.
Emery sorri e envolve seu braço no de Landon.
— Me deve uma dança por preencher cinco montes de formulários para
você na sexta-feira. Vamos.
Quase sinto pena do cara. Sua expressão de dor é evidente antes que ela
o leve para o meio da pista de dança, deixando eu e Aaron sozinhos.
— Não vou mentir. Não tinha ideia de que ele me arrastaria para cá esta
noite. — Aaron ri. Ele sinaliza para o garçom, pede uma cerveja e olha para
mim. — Posso pedir uma bebida para você?
— Claro. Manhattan, por favor.
Ele acena e diz ao garçom. Sinto meu telefone vibrar na minha bolsa,
então rapidamente o tiro e verifico minhas mensagens.
Reed: Será que eu quero saber?
Eu: Sua irmã me encurralou em um encontro às cegas.
Ele responde imediatamente.
Reed: Onde você está?
Eu: Centro da cidade, no SoHo bar. Não se preocupe, estou de olho
nela ;)
O status de digitação aparece, depois desaparece e aparece de novo. Ele
está pensando em como vai responder?
Espero sua resposta, mas ela não vem e eu guardo meu telefone.
Aaron entrega minha bebida com um sorriso.
— Então, Emery disse que você estuda para ser bibliotecária. Isso é
incrível. Onde tem vontade de trabalhar quando se formar?
A escola é um território seguro. Passar uma impressão errada é a última
coisa que eu quero, mas jogar conversa fora não machuca ninguém.
— Gostaria muito de trabalhar em uma universidade. De preferência.
Mas, em qualquer lugar que eu for, se houver livros, vou ficar feliz.
Caminhamos até uma mesa vazia perto da pista de dança, em um lugar
com menos barulho e eu me sento.
— Às vezes acho que tenho tudo planejado e, no minuto seguinte, todas
as coisas mudam. — Eu digo. — Acho que logo que me formar, terei uma
noção melhor das coisas.
Aaron assente. — Entendo o seu raciocínio. Estou no terceiro ano da
faculdade de medicina e prestes a começar minha residência. Uma hora
quero fazer pediatria, na outra obstetrícia e no momento seguinte quero ser
cirurgião.
— As decisões da vida são difíceis.
Passamos os trinta minutos seguintes conversando e percebi que,
embora não esteja romanticamente interessada em Aaron, ele pode ser um
amigo incrível. Temos muita coisa em comum e conversar com ele fica
fácil, como se sempre nos conhecêssemos. Honestamente, tenho a
impressão de que torce para o outro time, mas ele não tocou no assunto e eu
não me intrometeria. Eu estou bem em apenas conversar com ele.
— Quer dançar?
— Tenho dois pés esquerdos. Sério, é terrível. — Eu rio, balançando a
cabeça.
Ele fica em pé e estende a mão. — Honre-me, bibliotecária Holland, e
me permita essa dança.
Uma música lenta sai dos alto-falantes. Reviro os olhos e rio antes de
colocar a mão na dele enquanto nos leva para a pista de dança. Ele me puxa
em sua direção, e eu coloco minhas mãos em volta do seu pescoço.
Embora estejamos agarrados em uma pista de dança, é como dançar
com um primo, estritamente platônico. Eu sorrio para ele, sem jeito.
Meu Deus, Holland, isso é terrível. Era para ser em um encontro às
cegas e você está pensando no cara como seu primo distante.
Por isso, será eternamente soleira.
— Tudo bem, momento de honestidade, eu odeio essa música. — Ele
murmura, e eu jogo minha cabeça para trás e rio.
Pelo canto do olho, noto a aproximação de alguém e, quando olho para
cima, vejo Reed. Ele está parado ao meu lado, ridiculamente lindo sob a
iluminação fraca da boate.
Espere, por que ele está aqui?
— Reed? — Eu pergunto, de queixo caído. — O que você está fazendo
aqui?
Ele contrai o maxilar e força um sorriso. — Enviei uma mensagem para
Em e ela disse que vocês estavam aqui. Como Evan está com minha mãe
esta noite, decidi aparecer.
Confuso, Aaron olha para ele.
— Okay ... uh, estamos dançando, você se importa?
Reed olha para ele, em seguida, vira de volta para mim. — Na verdade
eu me importo. Por que você não pega a porra de uma …
— Ennnnntão, eu já volto. Sinto muito. — Me desculpo com Aaron, e
tiro meus braços do seu pescoço. Agarro Reed e o arrasto para fora da pista
de dança. Ele está duro como aço sob meu toque, muito inquieto, e não faço
ideia do que está acontecendo agora.
Eu o levo pelo corredor escuro, passando pelos banheiros, até
chegarmos à porta dos fundos. Então a abro, e saímos. Logo que ela fecha
às nossas costas, e ficamos apenas nós dois, eu o ataco.
— Que diabos foi isso, Reed Davidson? — Eu reclamo.
Meu coração dispara. Estou envergonhada pela sua atitude, mas também
um pouco excitada por Reed estar com ciúmes. Aaron o deixou tão
enciumado que ele não aguentou.
— Como assim, o que foi isso, Holl? Ele estava com a porra das mãos
em você, quase tocando sua bunda.
Reed joga as mãos para o alto, depois passa pela confusão dos seus
cachos castanhos, estressado. Anda de um lado para o outro na minha
frente.
— Você não pode simplesmente invadir o lugar e exigir que uma pessoa
não me toque. Não é assim que as coisas funcionam, Reed.
Ele para de andar e olha para mim; enquanto ele se aproxima, seus
olhos pegam fogo.
— Você acha que eu não sei disso? Acha que não sei que não tenho o
direito de sentir ciúmes? Nenhum direito de me sentir possessivo pra
caralho, como se você fosse minha.
— Você tem razão. Porque nós definimos regras. Regras para proteger
nossos corações, e isso não está de acordo com elas, Reed.
Chegando mais perto, ele sobe as mãos pelo meu queixo, tocando
ternamente, gentilmente.
— Sinto muito, Holl. Eu só… perdi a porra da minha cabeça lá. Eu sinto
muito.
Eu aceno com a cabeça e envolvo suas mãos que estão no meu queixo.
— Você não pode fazer isso de novo. Ninguém pode saber. Lembra? —
Falo nossa terceira regra em voz alta, e sinto amargura na minha língua.
Reed suspira pesadamente, e encosta a testa na minha. Você pode me
fazer o favor de não o tocar enquanto eu estiver aqui? Isso me consome,
Holland.
— Sim. Foi inofensivo, Reed, ele é um cara legal. Estávamos
conversando, ele me convidou para dançar, e eu concordei.
— Eu só ... perdi a cabeça, Holland. Eu não aguentaria ver as mãos dele
em você e ficar parado. Mesmo sendo inofensivo, faz meu sangue ferver.
— Acho que vou para casa. Estou exausta. Em ficou com Landon a
noite toda e não vai sentir minha falta.
Ele franze as sobrancelhas.
— Isso significa que você vai voltar para casa comigo?
Eu mordo meu lábio inferior, debatendo se devo ir ou não.
— Depois daquele seu ato digno de homem das cavernas? Eu não sei,
Reed. Talvez eu deva ir para casa sozinha.
Fixando meu olhar nele, divertidamente, tiro suas mãos do meu rosto e
dou um passo para trás. Ouço o barulho dos meus saltos contra o chão,
enquanto coloco um espaço muito necessário entre nós.
O olhar de Reed escurece.
— Você está ... bancando a difícil Holland Parker?
Com a minha expressão mais sensual, faço biquinho e encolho os
ombros.
— Vou jogar sua bunda por cima do meu ombro e carregá-la até a
minha casa. Não dê um passo maior do que a sua perna, Baby.
Baby.
Eu nunca percebi o quanto amava essa palavra até que ela saiu dos
lábios de Reed.
— Hmmm…
Antes que eu possa dar mais um passo para trás, Reed avança. Ele me
puxa pela cintura, se inclina e me beija até perdermos o fôlego. Nossas
línguas se emaranham até ficarmos ofegantes. A forma como o meu corpo
responde a Reed, nunca aconteceu com nenhuma outra pessoa. Como se eu
fosse feita sob medida para ele, e ele fosse o único capaz de me fazer sentir
viva.
Senti saudades e, embora não possa admitir em voz alta, estava
morrendo por isso. Por ele.
— Me leve para casa, Reed.
Ele sorri, se agacha e me levanta por cima do ombro, no verdadeiro
estilo de homem das cavernas.
— Oh meu Deus, Reed, me coloque no chão! — Eu reclamo. —
Alguém vai ver minha bunda neste vestido!
Se isso acontecer, vou morrer de vergonha. Morte por embaraço. Isso
acontece de verdade, pode pesquisar. Felizmente estamos sozinhos em um
beco escuro, ou eu teria que matá-lo.
Sinto uma fisgada na bunda que vem de um tapa de Reed. Forte.
Bem ... acho que essa é a minha resposta.
Cap 14
Reed
Perdi minha cabeça esta noite. Ao ouvir Holland me dizer que estava
em um encontro às escuras com aquele idiota, deixei todo o pensamento
racional em casa ao aparecer naquela boate. Porra, eu não sabia o que faria,
ou o conseguiria ao chegar lá, mas esse é o ponto. Eu não pensei.
Fiquei louco por apenas imaginar as mãos dele nela. Acho que nunca
tive esse sentimento por uma mulher. Ficar à beira da insanidade só com o
pensamento de alguém tocar nela. Porra, apenas por olhar para ela.
O pensamento ainda me faz querer bater meu punho em alguma coisa.
O problema é que estou ciumento e possessivo no que diz respeito a
Holland, é isso não é permitido por nossas regras.
— Ainda estou brava com você. — Holland murmura mal-humorada,
mas falta convicção em suas palavras. Ela está deitada na minha cama,
usando uma das minhas camisetas que pende nas suas coxas. Seu rosto não
tem maquiagem, seu cabelo está em um nó bagunçado no topo da cabeça e,
honestamente, nunca a vi mais bonita.
Há algo em vê-la nas minhas roupas que me deixa bêbado de luxúria.
Talvez seja o sentimento de posse que habita em mim esta noite. De agora
em diante, se ela usar apenas a minha camisa, eu ficarei muito feliz. Depois
que chegamos da boate e nos preparamos para dormir, eu lhe dei espaço.
Depois do que aconteceu, não queria pressionar. Tomei um banho rápido,
escovei os dentes e coloquei um moletom velho, enquanto esperava ela
terminar no banheiro de hóspedes.
— Sinto muito, Baby, posso compensar você? — Sorrio. Lamento ter
agido daquela maneira e minha única desculpa é que ela me deixa louca.
— Hmmm. — Ela morde o lábio e finge pensar no assunto.
Em vez de esperar a resposta, caio no chão à sua frente e agarro seus
quadris, puxando-a até o final da cama. Ela grita enquanto eu mordo o
interior de sua coxa.
— Sei exatamente como melhorar as coisas. — Puxo a sua calcinha
pelos quadris e a arrasto pelas coxas. Sua boceta bonita e rosada brilha,
esperando que eu acabe com a sua necessidade. — Que tal isso? — Sigo a
língua lentamente, da sua abertura ao clitóris e depois mordo a pequena
protuberância insaciável.
A pele macia de suas coxas está vermelha e irritada pelo roçar da minha
barba. A ideia de deixá-la marcada, me dá ainda mais tesão.
—Reed. — Ela geme, puxando o meu cabelo enquanto sugo devagar. —
Mais.
— Eu amo quando você fica mandona. —Sorrio contra a sua boceta,
depois me afasto e olho para ela. — Toque-se.
Ela me olha como se eu fosse louco. — O que? Não pare.
— Quero assistir você se tocar. — Coloco os dedos dela na sua boceta,
sobre seu clitóris. — Sabe quantas vezes fantasiei sobre isso desde que te
busquei naquela casa de irmandade? Quantas vezes eu gozei na porra do
meu punho sonhando em ver você regozijar com meu nome em seus lábios?
Holland morde a boca ansiosamente, mas não tira a mão. — Só... Só se
você se fizer gozar também.
Minha menina tímida. Ela é tão doce. Estou viciado nela. Em cada
pedacinho dela.
Tiro meu moletom e liberto meu pau duro das barreiras da minha cueca.
Holland estreita o olhar. Seus olhos observam o meu punho e ela umedece
os lábios com a sua pequena língua rosa.
— Acaricie o seu clitóris. Devagar, em suaves círculos. Como se minha
língua estivesse deslizasse sobre ele.
Seu olhar escurece, mas ela obedece. Lentamente, desliza dois dedos
pelo seu clitóris, sempre me olhando.
— Boa garota. — Eu digo com a voz rouca. — Continue.
Seguro meu pau, bombeando lentamente em sincronia com a mão dela.
Quando o ritmo de Holland aumenta e sua respiração acelera, sei que ela
está perto. Então dou um passo para frente e arrasto meu pau pelas suas
dobras, cobrindo-me com sua maciez.
— Está me encharcando, Baby, você gosta disso? Gosta que eu te
observe? Que eu diga o que quero que você faça?
Ela acena com a cabeça.
— De joelhos.
A princípio, fiquei preocupado de ela não gostar desse tipo de coisa,
mas o corpo dela diz tudo o que preciso saber. Holland ama essa merda
tanto quanto eu. Espero que sua confiança me permita levar seu corpo para
uma nova dimensão. Para que, quando esse “arranjo” acabar, ela ainda
pense em mim, e lembre que ninguém pode dar a ela o mesmo prazer que
eu.
Holland vira, jogando seu longo cabelo loiro sobre o ombro para me
olhar. Eu afasto os seus joelhos e deslizo a mão pela sua bunda. Subo da
coluna até a nuca, onde a empurro ligeiramente para frente na cama. Sua
bochecha está pressionada no colchão, e ela me olha com um pequeno
sorriso.
Com uma mão no seu pescoço e a outra segurando a carne macia de
seus quadris, esfrego meu pau contra seu centro. Ela empurra avidamente
contra mim, tentando criar atrito e aliviar a necessidade.
Não se preocupe, Baby, eu darei o que você quer. Nós dois estamos no
limite. Principalmente depois do show que ela me deu, não posso esperar
para me enterrar dentro dela. Depois desta noite, tenho muitos pensamentos
gritando na minha cabeça. Alguns deles eu não consigo ignorar. O
possessivo, típico homem das cavernas que me diz para reivindicar
Holland, mesmo sabendo que isso não pode acontecer.
Alinho o meu pau com sua entrada e empurro, lentamente, saboreando a
umidade e o aperto ao meu redor, enquanto relaxo dentro do seu corpo.
Estar com a Holland é pura felicidade. Estou convencido de que seu
corpo foi feito unicamente para mim. Meus quadris movem para frente até
que eu esteja enterrado dentro dela. Tão profundo que não sei onde ela
começa e eu termino, e é a porra do paraíso.
Suas mãos minúsculas fecham nos lençóis, e cada vez que eu saio e
entro no seu corpo apertado, elas agarram até que os nós de seus dedos
embranqueçam por causa do esforço.
— Reed, mais, por favor. — Ela implora.
Minhas mãos apertam sua cintura com mais força enquanto penetro,
minhas estocadas são cada vez mais brutais e profundas. Estendo a mão
entre nós para esfregar seu clitóris. Eu preciso levá-la ao êxtase, preciso que
ela se desfaça em meu pau. Toda vez que meus quadris batem contra sua
bunda, um prazer enorme passa pela minha espinha.
— Goze Holland, goze no meu pau. — Eu sussurro com a voz rouca.
Não vou conseguir esperar nem mais um maldito segundo com ela
apertando meu pau desse jeito, mas não posso gozar sem que ela esteja
comigo.
Mais alguns movimentos bruscos do meu polegar e ela geme meu
nome. O som mais doce do mundo, explodindo ao meu redor. Sua boceta
comprime, e isso é tudo o que preciso para atingir o meu limite. Eu me
inclino, entro profundamente e gozo dentro dela, com tanta força que
pontos negros obscurecem minha visão. Chego mais perto, dobro meu
corpo sobre o dela e traço um caminho de beijos até a sua espinha. Porra, eu
sinto nossos fluidos escorrendo dela, e nunca experimentei nada mais
excitante.
Nunca estive com ninguém sem proteção. Outra primeira vez com
Holland.
Ela movimenta devagar, eu retiro gentilmente e sento para admirá-la.
Não consigo evitar. A visão da minha porra deslizando para fora dela quase
me deixa duro de novo.
Essa garota me arruinou pra caralho. Não há dúvida.
Eu me levanto. Vou até o banheiro, umedeço um lenço com água morna,
volto para a cama e a limpo gentilmente. Ela suspira satisfeita e se aninha
nas cobertas. Jogo o lenço no cesto, deito ao seu lado e puxo as cobertas
sobre nós.
Eu a abraço e ela se acomoda na curva do meu pescoço, acariciando a
minha barba.
— Preciso buscar Evan amanhã à tarde, mas quero te levar a um lugar
pela manhã. O que você acha? — Eu pergunto.
Holland me encara com olhos sonolentos e expressivos e acena com a
cabeça.
— Onde?
Eu rio.
— Não seria uma surpresa se eu te dissesse, não é?
— Contanto que eu consiga dormir até depois das oito. Faz muito tempo
que não durmo.
Eu me inclino e a beijo suave e docemente.
— Durma um pouco, Baby. Vou correr de manhã e não vou te acordar.
Ela murmura sonolenta, mas quando vejo já está roncando. Um ronco
leve e fofo pra caralho, que me faz rir. Holland Parker está me destruindo e
não tenho nenhuma intenção de impedir.
***
Não me lembro da última vez que dormi tão pacificamente. Não acordei
nenhuma vez até a luz do sol entrar pelas janelas do meu quarto.
Normalmente acordo antes do sol e corro ou treino depois de um shake de
proteína. Hoje dormi até mais tarde com Holland, e não me arrependo de
um segundo. Ela dorme profundamente em meus braços, com o corpo
colado ao meu.
O sol da manhã reflete um brilho quente e alaranjado em sua pele já
perfeita. Enquanto ela dorme, eu continuo assim, apoiado em meu cotovelo,
observando o constante subir e descer do seu peito. Seus cílios escuros se
espalham nas bochechas, seu lábio carnudo e rosado não tem nenhuma
maquiagem, sua pele é perfeita, ela é linda. Eu poderia observá-la dormir
pelo dia inteiro, mas hoje quero levá-la a um lugar e não tenho muito
tempo.
Meus lábios roçam a pele morna e bronzeada de seu ombro. Pouco
tempo depois ela se mexe, um gemido sonolento sai dos seus lábios
exuberantes.
— Bom dia, linda! — Eu digo, minhas mãos deslizando com mais força
ao redor de seu estômago.
— Mmm, bom dia.
Ela me olha por cima do ombro e dá um sorriso sonolento.
— Dormiu bem?
— Sim. Esta cama é maravilhosa. É como uma nuvem, eu poderia
dormir aqui toda noite.
É o meu desejo também, penso, mas guardo essa intenção só para mim.
Ela pediu que fosse um relacionamento casual, mas acho que cada dia fica
mais difícil de não ser o pacote completo.
— Vou fazer um smoothie e tomar um banho rápido. Quero sair na
próxima hora. Acha que podemos fazer acontecer? — Eu pergunto.
Ela balança a cabeça contra o meu braço, mas não faz nenhum
movimento para se levantar.
Eu rio e beijo atrás da orelha dela. — Tire essa bunda gostosa da cama.
— Me desculpe, é essa cama. Ela é simplesmente o paraíso.
A cama não tem nada a ver com a minha vontade de ficar, a garota que
está nela é que tem tudo a ver.
Depois de um banho rápido, coloco um jeans e uma camiseta e nos faço
smoothies para viagem. Sento-me no bar e envio uma mensagem para
mamãe com a intenção de verificar Evan. Ela manda uma foto dos dois
fazendo panquecas e eu sorrio.
Deus, eu amo aquele garoto.
— Tudo pronto.
Olho para cima e vejo Holland parada à minha frente, usando um suéter,
jeans e botas pretas até o joelho. Boa o suficiente para comer.
— Reed… — Ela avisa, com um sorriso. — Se você continuar me
olhando assim, nunca chegaremos a esse lugar secreto que você vive
falando.
— Tudo bem. Eu não consigo evitar. Quero te levar para a cama de
novo e continuar de onde paramos na noite passada.
Suas bochechas enrubescem e eu sorrio. — Eu amo fazer você corar.
Venha, vamos embora.
Estendo o braço, e ela desliza sua pequena mão na minha. Entramos na
caminhonete. Ela, com a minha ajuda, é claro, já que é pequenininha. Então
eu saio para a rodovia. Holland não tem ideia de onde vou levá-la. Estou
pensando e pesquisando sobre isso há um tempo, e, com alguns dias de
folga é o momento perfeito para levá-la.
Dirigimos por trinta minutos, deixando a cidade e seguindo para o
interior de Illinois. Por fim, estaciono a caminhonete na longa estrada de
cascalho, e Holland me olha confusa.
— Rancho Serenity? O que é isso?
Continuo a dirigir, mas seguro sua mão. — Você vai ver.
Ela parece nervosa, mas quando aperto sua palma para tranquilizá-la,
ela sorri para mim.
Este lugar é lindo. Situado nos arredores de Chicago, por si, é um
pedaço do céu. Acres e acres de terras agrícolas com colinas verdes, muitas
árvores e ar fresco.
Quando estaciono e ajudo Holland a sair, o proprietário, Bert, se
aproxima e nos cumprimenta. Falei com ele algumas vezes por telefone nas
últimas semanas e o reconheço pela foto que vi no site.
— Sr. Davidson? — Ele pergunta. Alto, magro, com um sorriso amável
e um chapéu de cowboy, Bert imediatamente me causa uma boa impressão.
Com base nas conversas que tivemos, ele parece sincero e confiável.
Estendo a mão para ele.
— Oi, sim. Me chame de Reed. Esta é a minha namo… Esta é Holland.
— Merda. Holland me olha com olhos arregalados, depois sorri e aperta a
mão de Bert.
— Então, Holland, bem-vinda ao Rancho Serenity. Venho conversando
sobre o nosso programa com Reed há algumas semanas, e sei que ele queria
te fazer uma surpresa.
Holland olha para mim e depois para Bert. Ele apenas sorri
calorosamente e gesticula para caminharmos com ele.
— Há dez anos, eu e a minha esposa Delores começamos o Rancho
Serenity. Meu sogro foi diagnosticado com Alzheimer, e minha esposa
decidiu comprar este pedacinho do céu. Passamos a dedicar nossas vidas
ajudando outras pessoas que tiveram o mesmo diagnóstico. Passamos os
últimos dez anos transformando-o no que vocês podem ver hoje.
Holland tem lágrimas nos olhos e sei que ela começou a entender o
motivo de eu trazê-la aqui.
Bert continua a caminhar pelo caminho de terra até chegarmos a um
grande estábulo onde pastam vários cavalos.
— Oferecemos um lugar seguro com enfermeiras certificadas e
voluntários, para dar às pessoas com Alzheimer um lugar onde se sintam
necessárias. Aqui na propriedade, temos terapia animal, jardinagem,
dinâmica de grupo, e cães de terapia. Às vezes, as pessoas com Alzheimer
só precisam de um lugar onde se sintam seguras e sem limitações. Esse é o
objetivo aqui no Rancho Serenity.
Ela observa a fazenda, o grande celeiro e os animais.
— Este lugar é incrível, Bert. O que você e sua esposa estão fazendo é
maravilhoso.
Aperto gentilmente a mão de Holland e ela olha para mim. Seus olhos
azuis estão cheios de lágrimas.
— Obrigada. — Ela sussurra.
— Bert, pode nos dar um segundo?
— Claro. Estarei por aqui se vocês precisarem de alguma coisa.
Quando ficamos a sós, eu a aproximo de mim e levanto o seu queixo
para olhar em seus olhos.
— Espero não ter ultrapassado os limites ao procurar este lugar. Eu só…
depois de ver seu pai, eu queria ver como funcionava. A mãe de um amigo
meu tem Alzheimer e frequenta muito aqui. Ele acha que realmente tem
feito ela feliz. E se o seu pai viesse aqui, Baby?
Limpo uma lágrima que escorre do seu olho.
— Reed, este lugar provavelmente custa uma fortuna, mas Deus, é
incrível. Eu quero conhecer melhor, mas apenas o que eu vi, parece
espetacular. Pode mudar a vida dele.
Eu assinto.
— Foi por isso que quis te surpreender. Holland, conheço seu pai
melhor do que o meu. Ele me apoiou sempre que precisei de um pai. Ele é
importante para mim, e se você me permitisse fazer isso por ele, significaria
muito.
Nesse momento Holland chora de verdade. Um soluço escapa de seus
lábios e eu o absorvo em um beijo profundo que sinto até na alma.
— Seria a coisa mais incrível que alguém já fez por nossa família, Reed.
— Ela sussurra.
— Vamos ver o restante do lugar e conhecer alguns dos funcionários e,
se você tiver certeza, pagarei o ano adiantado.
Holland chora baixinho pelo resto do percurso, mas observa todas as
comodidades com admiração. Depois que Bert nos mostra o rancho inteiro,
não tenho dúvidas. Este lugar é perfeito.
— Aqui está um folheto do rancho com meu número no verso. Sinta-se
à vontade para me ligar a qualquer momento para conversarmos a respeito.
Aqui no rancho, também temos um programa de atendimento domiciliar.
Sei que é um grande passo e pode ser que vocês não se interessem, mas nós
temos a opção.
— Obrigado por nos receber, Bert. Gostei muito do passeio. — Aperto
sua mão mais uma vez e sigo Holland de volta à caminhonete. Assim que
entramos, olho para ela. — O que você acha, Baby?
— Acho que ele amaria isso aqui. Lembra o quanto adorava plantar
canteiros de flores?
Eu assinto.
— Quando não estava na fábrica ficava lá fora, faça chuva ou faça sol.
Cortava a grama dia sim, dia não.
— Obrigada, Reed. Isso significa mais para mim do que você poderia
imaginar. Não consigo explicar o quanto... estou grata.
Pego sua mão e beijo seus dedos.
— Eu só quero que você seja feliz. Desejo que seu pai esteja seguro e
contente em um lugar que ele goste.
— Quero pensar sobre isso e conversar com as enfermeiras e médicos
dele, antes de tomarmos uma decisão, talvez depois do ano novo?
— Quando estiver pronta. Eu vou apoiar qualquer coisa que você
decidir.
Digo isso consciente de que faria qualquer coisa para manter o sorriso
desta tarde em seu rosto.
Cap 15
Holland
Os dias se transformam em semanas, o outono desaparece no inverno e,
durante esse tempo, as coisas mudam entre mim e Reed. Não disse em voz
alta, mas depois do rancho ele ficou diferente. Além das mudanças no nosso
relacionamento, esta é a melhor temporada de todos os tempos dos
Avalanches. Rapidamente, eles estão se tornando o time com a melhor
classificação da NHL, prestes a disputar a Copa Stanley pela segunda vez
em dois anos. O sonho de todo jogador de hóquei.
O sonho de Reed.
Participar de frente, estar no centro e ver acontecer, faz desse um dos
melhores momentos da minha vida. Sentir a emoção de Reed ao vencer
jogo após jogo. Seu desempenho está melhor do que nunca, e caso você
pergunte? Ele diz que Evan e eu somos seus amuletos da sorte. Eu sei que é
apenas o jeito encantador habitual de Reed, e que o motivo é ele realmente
estar mais engajado, treinar muito, festejar menos e se esforçar mais.
— Esse vestido me deixa gorda? — Emery pergunta, exibindo seu
microvestido preto justo, novinho em folha no espelho do meu quarto. Faz
uma hora que estamos experimentando roupas para a festa de Natal da
empresa dela, que acontecerá em breve no escritório de advocacia. Ela e
Landon ainda estão firmes e ela só fala em impressionar todos os amigos
dele.
— Uh não, mas se você se curvar, todo mundo vai ver sua Virgínia.
Ela dá uma risadinha e se vira diante do espelho.
— Então, é um sim?
Levanto minhas sobrancelhas, e quando estou prestes a dizer a ela que
absolutamente não, a campainha toca.
— Okay, não tome decisões precipitadas. Eu já volto.
Saio do quarto rindo, atravesso o hall de entrada e abro a porta.
Um cara alto, segurando uma caixa, está parado na soleira da porta e
fico imediatamente confusa.
— Olá, Srta. Parker?
— Sim, sou eu.
Ele me entrega uma prancheta com uma caneta enquanto faz
malabarismos com a caixa.
— Tenho uma entrega para você. Pode assinar aqui, confirmando o
recebimento?
Rapidamente, rabisco uma assinatura malfeita e devolvo a ele. Ele me
entrega a caixa e se despede com pressa, enquanto fecho a porta.
Uma entrega? De quem? Não estou esperando nada.
Volto para o meu quarto com a caixa, coloco em cima da cômoda e
desamarro a grande fita vermelha. Levanto a tampa e cuidadosamente puxo
o papel de seda branco. Debaixo dele há uma camisa com o nome
DAVIDSON nas costas e um bilhete.
Pego a nota e leio os rabiscos confusos escritos com caneta preta.
Linda,
Só uma coisinha para mostrar que eu estava pensando em você.
Saudades. Me envie uma foto vestindo apenas ela, por favor.
;) Reed
— O que é isso? A voz de Emery vem de trás de mim, me assustando
tanto que o bilhete cai atrás da cômoda.
Eu bato a tampa na caixa, viro e grito.
— Ninguém. Nada. — Rio freneticamente, e percebo o quão suspeito
deve parecer. Eu não sou muito boa nesse negócio de mentir para a minha
melhor amiga.
— Ceeeerto. — Ela diz balançando a cabeça, voltando para o espelho.
— E esse?
O mini traje preto foi substituído por um vestido envelope de veludo
marsala.
Meu corpo relaxa completamente quando vejo que ela mudou de
assunto e não vai me forçar a mostrar a ela. O que Reed estava pensando?
Poderia ter acabado muito mal.
— Sim definitivamente. É este. Parece que foi feito para você, Em.
Seu rosto se ilumina.
— Sério? — Ela gira na frente do espelho e passa a mão pelo vestido.
— Sério. Na verdade, estou com inveja. Você vai se divertir muito e
será a garota mais bonita da festa.
Eu não estava mentindo. Emery tem o tipo de beleza que faz todo
mundo olhar quando chega em algum lugar. Toda cabeça vira em sua
direção e ela nem nota. Ela nunca vê a atenção que atrai, e é por isso que é
tão bonita por dentro e por fora.
— Estou nervosa, Holl. Tipo, esta é a primeira vez que eu gosto de
alguém desse jeito. Uma relação que não é apenas superficial e "divertida",
sabe? Ele gosta de mim por quem eu sou e não espera que eu seja diferente.
— Siga seu coração, ele não vai te indicar um caminho ruim. Meu pai
costumava me dizer isso quando eu era pequena. Só depois de ficar mais
velha que percebi o quanto esse conselho é verdadeiro.
Sento-me na beirada da cama e puxo as pernas na direção do peito.
Emery caminha e se senta ao meu lado.
— É assustador. Se expor. Todas as suas falhas, suas manias e sua
celulite. É por isso que não namoro. — Ela suspira e cai de costas na cama.
— Depois do babaca traidor, acabo pensando que todos são iguais.
Eu rio.
— Você está passando o carro na frente dos bois, irmã. Permitir que
outra pessoa tenha poder sobre você é assustador. Mas, antes de planejar a
separação deixe-o mostrar se é digno ou não. Nem todo mundo é desleal, há
muitos caras fiéis por aí.
— Você tem razão. Isso exige margaritas. Ou podemos pular a margarita
e ir direto para a tequila.
— Não posso. Tenho que estudar para o meu último semestre. Acredita
que em cinco meses vou me formar e finalmente conseguir meu diploma?
Ela se apoia nos cotovelos e me olha.
— Sim, eu posso. Duh. Você trabalhou duro, Holland, o mérito é seu.
Nós somos piegas. Rindo, eu a empurro com o pé. — Este é o vestido.
Agora, tenho que voltar a estudar, mas te amo. Posso te ligar amanhã?
— Tudo bem, tudo bem, estou indo. Ligue-me quando terminar e
podemos ir ao Starbucks para falar sobre as últimas novidades de Diários de
um Vampiro.
— Combinado.
Depois que Em sai, deito-me na minha cama com meus livros e tento
terminar a tese. Tirando as tentativas de concentração, meus olhos
continuam voltando para a caixa branca em cima da minha cômoda.
Mordo o lábio, me esforçando a focar nas palavras do papel, mas elas se
misturam. Em vez disso, penso na camisa que Reed enviou e me pergunto
se ele realmente acha que eu vou mandar uma foto com ela.
Provavelmente não.
Mas… imagine a cara dele se eu mandar.
É aí que decido enviar. Ir em frente. Fazer a coisa que Reed Davidson
menos espera.
Empurro meus livros para o lado, saio da cama, tiro a camisa da caixa, e
me troco rapidamente. Vou até o espelho e olho para o meu reflexo. A
camisa azul e branca é muito comprida, cobre a minha bunda, mostrando
apenas a parte de baixo da nádega, como se eu usasse boxers femininas.
Satisfeita, vou até a cama e pego meu telefone. Tiro uma selfie fazendo
biquinho, outra sorrindo e, para provocar, uma de costas no espelho
mostrando o seu nome.
Envio, antes que de me convencer do contrário. Depois, tento esquecer
o que acabei de fazer. Volto a estudar enquanto aguardo sua resposta.
Alguns minutos depois, meu celular vibra.
Reed: Quer me matar? Puta merda, Baby... Estou treinando com os
caras e não é uma boa hora para uma ereção.
Eu sorrio.
Eu: Sinto muito... não sinto. Achou que eu não enviaria, não é?
Reed: Ainda bem que o treino está quase acabando. Posso dar uma
passadinha? Eu levo o jantar.
Eu: Tenho que estudar. Tipo estudar de verdade, Reed. Não é a versão
que você me distrai e eu nunca termino.
Reed: Vou manter minhas mãos para mim. Eu prometo.
Reviro os olhos para a mensagem. Nós dois sabemos que isso nunca vai
acontecer, mas eu concordo porque estou com saudades.
Eu: Tenho minhas dúvidas. Te vejo em breve.
Em vez de vestir a camiseta velha e o moletom, continuo com a camisa
dele, mesmo sabendo que vai ser impossível ele se comportar e manter as
mãos para si. Continuo trabalhando na minha tese até ouvir uma leve
batida. Pego um short na cômoda, visto rapidamente e depois abro a porta.
Reed está parado na soleira, com uma embalagem de comida do meu
restaurante favorito e meu coração para. Nossas regras não especificam
sobre agradar um ao outro, mas mencionam a respeito de não se apaixonar.
Estou falhando irremediavelmente. Cada dia que passa, meus sentimentos
por Reed aumentam, quebrando todas as regras que estabelecemos. Não
vou contar para ele. Não apenas por saber que não é recíproco, mas porque
prometi não ser uma complicação na vida dele e o amor complica tudo.
Ele precisa focar em Evan e na sua carreira no hóquei. Sem falar que
perderei Emery se ela descobrir minha paixão pelo seu irmão. Existem
muitas coisas trabalhando contra nós. Apesar de tudo, ainda gostaria que
fosse diferente.
Esta noite, ele acabou de tomar banho. Seus cachos bagunçados estão
desgrenhados como sempre, e ele usa jeans claros e uma Henley preta.
Como de costume, borboletas aparecem no meu estômago no segundo que
seu olhar encontra o meu. Seus olhos percorrem meu corpo e um sorriso se
forma em seus lábios.
— Ainda melhor pessoalmente.
O tom rouco da sua voz me causa um frio na barriga. — Entre. — Abro
a porta para ele passar.
— Seu pai está dormindo?
Eu assinto.
— Ele teve um dia difícil hoje, então foi para a cama cedo.
Reed coloca a embalagem de comida no aparador próximo ao sofá,
chega mais perto e me puxa.
— Eu não consigo parar de pensar em você.
Ele se inclina e pressiona seus lábios nos meus. Suas mãos fortes e
cheias de calos apertam minhas costas, me pressionando contra ele.
Antes das coisas saírem do controle, puxo meus lábios dos dele e dou
um passo para trás.
— Você prometeu se comportar.
Encolhendo os ombros timidamente, ele ri.
— Eu disse que iria tentar. Eu tentei. Agora me deixe alimentar você.
Com isso eu não vou discutir. Tenho me negligenciado e estou
morrendo de fome. Tirando a visita breve de Em e o preparo do jantar de
papai, passei o dia trancada, tentando avançar em minha tese.
Pego o livro da mesa, seguro a mão de Reed e vou para o meu quarto.
Só agora me lembro que ele ainda é o mesmo da época do colégio e que
provavelmente deveria tê-lo arrumado antes de permitir sua visita. Coloco a
comida na minha mesa de cabeceira e rapidamente começo a pegar roupas e
livros que estão espalhados por toda parte.
— Desculpe a bagunça. Ainda não tive tempo de arrumar. — murmuro.
Enfio as roupas no cesto e coloco os livros na estante. Estou nervosa, mas
quando Reed se aproxima, pega um livro da minha mão e coloca na
prateleira atrás de mim, depois segura o meu queixo, esse sentimento
evapora.
— Não me importo com a aparência do seu quarto, Baby. Estou aqui
por você. — Ele sorri. — E por essa pizza burrito.
Eu dou um soco nas costelas dele. Ele abaixa, pressiona um beijo suave
e surpreendentemente casto em meus lábios, e volta para a comida.
É um momento simples que significa muito. Mostra Reed realmente
como ele é. Meu frágil coração não sobreviverá, mas não quero deixá-lo ir.
Às vezes, o amor pode ser egoísta e, neste momento, sei que quero
conservar o que quer que eu tenha com Reed, ao invés de deixá-lo ir.
Um de frente para o outro, sentamos na minha cama e jantamos. Mas
antes mesmo de terminarmos, Reed empurra a comida para o lado e sobe
em cima de mim, me beijando até perdermos o fôlego.
Ele é uma droga, e eu não consigo me saciar.
Reed Davidson é o tipo de homem que você nunca esquece. Não
importa quanto tempo passe.
Deitamos juntos na minha cama e Reed apaga o abajur. Acima de
nossas cabeças, permanecem coladas no teto as estrelas que brilham no
escuro que Emery me deu no meu aniversário de dezesseis anos, ainda
cintilando tanto quanto no dia que eu ganhei.
Ele apenas segura a minha mão. Seus dedos entrelaçaram firmemente
nos meus.
Este momento entre nós parece... diferente. Mais íntimo. O tipo de
momento sublime, apesar da simplicidade.
— Você acredita em almas gêmeas? — Ele pergunta com a voz
profunda e rouca.
Olho para ele, mas só consigo distinguir o contorno do seu rosto no
brilho da falsa Via Láctea do meu teto.
— Eu acredito. — É fascinante pensar que em algum lugar do mundo
existe alguém feito para você. Projetado especificamente para você.
— Sim. Ultimamente, tenho pensado muito a respeito disso. Você sabe
que meu pai foi embora quando Emery era um bebê.
Concordo com a cabeça e ele continua:
— Desde aquela época, falei com ele pela primeira vez, alguns meses
atrás. Eu não parei de pensar nisso. Nele. E estou irritado comigo por isso.
Por permitir que ele tenha esse poder. Estou furioso e fodido, Holland.
A dor na voz dele parte meu coração. Quebra em pedacinhos. Eu rolo na
sua direção e me deito em cima dele. Minha orelha pressiona no seu peito
enquanto conto as batidas constantes do seu coração. Sua mão encontra
meu cabelo, girando uma mecha entre os dedos distraidamente.
— Acho que conversar com ele me fez encarar as merdas da minha
cabeça que eu escondia e evitava. Eu fingia que não era um problema real, e
agora estou enfrentando. Não é fácil, mas acho que estou pronto para
perdoá-lo e penso que isso tem muito a ver com Evan. No pouco tempo que
está aqui, conseguiu me mudar. Sou incapaz de lembrar de como a minha
vida era antes dele. É como se o cara lá de cima soubesse que eu precisava
dele, mesmo quando eu nem imaginava.
— Acho que nosso futuro já está traçado, mesmo antes de estarmos
prontos para vivê-lo. Às vezes, estamos confortáveis em nossas vidas e não
enxergamos que é necessário mudar. É por isso que as pessoas são pegas de
surpresa pelas mudanças em suas vidas e não querem encarar a verdade. A
sua atitude é corajosa, Reed. É um crescimento pessoal e isso exige bravura.
Ele respira. Seus dedos deslizam no cabelo da minha nuca, enquanto seu
polegar esfrega círculos suaves em meu couro cabeludo.
— Às vezes não parece assim, mas acho que a única forma de superar, é
perdoar e abrir mão dele.
Sento-me levemente no seu tórax e tiro um cacho de cabelo da sua testa.
Estar assim com Reed é muito natural.
— Você não pode controlar as ações dos outros, mas pode controlar se
permite ou não que o afetem. Acho que resolver a sua mágoa dele vai te
fazer seguir em frente.
Reed fica em silêncio por um momento. Sua outra mão corre levemente
pelo meu braço, causando arrepios na pele onde seus dedos roçam. O ar do
quarto está diferente, como se uma mudança tivesse acontecido. Eu sinto, e
posso apostar que Reed também.
— Você é um bom homem, Reed. — Eu sussurro no escuro, sob as
estrelas brilhantes. Meus olhos pesam, exaustão se infiltra lentamente no
meu corpo, até que o constante subir e descer do peito dele me embala para
dormir.
Logo que estou adormecendo, juro que o ouço sussurrar:
— Só se for um homem bom o suficiente para você, Holland Parker.
Cap 16
Reed
— Weed, podemos ter um polvo de vedade? — Evan me pergunta, com
uma expressão séria. Porra, por que as crianças são tão fofas? Isso me faz
pensar sinceramente em comprar uma porcaria de um polvo para ele.
Aposto que o faria sorrir. É por isso que dizem que os pais são
influenciáveis. Se essa criança me pedisse um unicórnio, eu faria qualquer
coisa para conseguir um para ele.
— Carinha, os polvos não foram feitos para morar com as pessoas em
suas casas. Eles vivem no oceano. Lá que é o lar deles.
Ele franze a testa enquanto pensa no que eu disse.
— Mas… e o aquá-rio?
— Bem, essa é a exceção.
— O que é uma eu-seu-ção?
Respiro fundo.
— Sabe, carinha, que tal começarmos com um peixe? Um pequenininho
como você, e podemos chamá-lo de Pickles 2.0, o que acha? Pode ser que
um dia tenhamos um polvo de verdade, mas por enquanto Pickles vai ter
que servir.
— Ele pode ser verde?
Eu assinto.
— Pode ser da cor que você quiser. Podemos buscá-lo em breve, mas
agora temos que ir porque você tem um encontro com Ari e Kennedy, e eu
vou ajudar o tio Liam a montar alguma coisa de bebê.
Evan enruga o nariz.
— Eu quero fazer xixi.
Lá vamos nós. A hora é agora. Aprendi bastante merda lendo livro após
livro com diferentes técnicas de desfralde. Nós vamos conseguir.
As crianças são diferentes, e tudo se resume ao que dá certo para cada
uma. Isso eu entendo.
Pego a caixa de Cheerios na parte superior da despensa e corro para o
banheiro atrás de Evan. Ele sobe no seu banquinho e abaixa as calças, e
antes de começar, jogo uns Cheerios na água do vaso sanitário, e levanto o
meu punho depois.
— Você vai conseguir, carinha! — Eu digo e o pequeno punho dele bate
no meu.
Somos uma equipe, e eu serei amaldiçoado se não enfrentarmos essa
jornada juntos.
Viro de costas para ele ter um pouco de privacidade e, pela graça de
Deus os céus se abrem. Olhe e contemple, eu ouço o som de água caindo e
um grito de alegria.
— Eu fiz, Weed, eu consegui!
Ele pula para cima e para baixo e quase cai do seu banco, mas eu o pego
no último minuto.
— Carinha, eu sabia que você conseguiria. Percebeu que é oficialmente
um rapazinho agora, certo?
O sorriso dele é contagiante, e eu me pego sorrindo junto. É a primeira
vez desde que veio morar comigo que me sinto confiante de que talvez
possa fazer isso. Pode ser que, de alguma forma, consigamos descobrir
juntos.
A vida é muito diferente de antes, mas não sinto falta das coisas como
eram. Ainda encontro com Asher, Hudson, Briggs e Graham nos treinos e
de vez em quando, tomamos uma cervejinha em algum lugar ou fazemos
um churrasco na casa de alguém. Mas foda-se, não sinto falta de
desperdiçar minha vida em um bar. Ou de correr atrás de Marias Patins que
não tenho intenção de ver novamente depois de ter me acabado em uma
noite. Essa é a verdade, antes de Evan… antes de Holland, eu estava
esgotado. Me acabando com mulheres, festejando, bebendo. Agora, a merda
da minha vida é boa, e não quero fazer nada para prejudicá-la.
Hoje a minha vida é diferente e eu não gostaria que fosse de outra
forma.
Depois de arrumar rapidamente uma bolsa e pegar Pickles, vamos para
a casa de Liam e entramos em um completo caos. No segundo em que fecho
a porta às nossas costas, Juliet corre para o foyer.
— Ei Reed. Tchau Reed! — Ela passa por mim tão rápido que suas
meias deslizam pela madeira.
— Uh, o que está acontecendo? — Eu pergunto, mas ela vai embora. Eu
e Evan olhamos um para o outro nos perguntando o que diabos acabou de
acontecer.
Então Ari e Kennedy vêm correndo pelo corredor, gritando, com Liam
atrás delas.
— Guerrinha de Nerf! — Ari grita, passando direto por mim e quase
acertando a parede.
Oh. Merda.
Levamos as guerras de Nerf muito a sério por aqui.
— Tudo bem, Ev, entramos em uma batalha. É hora de se preparar. —
Seguro sua mão e o puxo para o quarto das meninas, onde pego duas armas.
Liam montou uma parede cheia de Nerfs para Ari e Ken. Merda, eu gostaria
de ter uma dessas enquanto crescia.
— Nós não nos separamos. É mais fácil deles nos pegarem se não
estivermos juntos. Me siga.
Evan dá uma risadinha e depois tapa a boca com a mão para não fazer
barulho. Porra, ele é muito fofo.
E é meu, eu penso.
Volto para o corredor na ponta dos pés, segurando a arma de plástico
como se fosse um agente do FBI prestes a fazer uma varredura. Quando
chego no fim da parede, verifico todos os cantos e não encontro nada.
— Eles são sorrateiros. Nunca baixe a guarda.
— O que é gu-arda?
— Não importa. Apenas me siga, carinha.
Precisamos trabalhar na logística da guerra, mas chegaremos lá. Ele me
segue pela casa enquanto procuro pelas meninas e, ao passar pela sala, ouço
uma risadinha. Fraca, mas definitivamente é de Ari.
Eu aponto para a sala de estar, e Evan acena, segurando a arma mais
alto. É quase tão grande quanto ele e por pouco eu começo a rir, mas
consigo ficar sério enquanto invadimos o local. Vejo os saltos altos de
plástico de Ari por trás da casa de brinquedo. Subo em cima dela o mais
silenciosamente possível e grito:
— Boo!
Eles gritam alto o suficiente para quebrar o vidro das janelas e saem de
trás do sofá. Assim que a cabeça de Ari aparece, Evan puxa o gatilho
atirando no meio da testa dela.
Oh caralho.
O rosto de Ari se contorce e ela começa a chorar. O pobre Evan parece
estar prestes a chorar junto com ela. Ele olha apavorado para mim e eu
balanço a cabeça.
— Está tudo bem, não se preocupe.
Eu a levanto e a envolvo em um abraço apertado, do jeito que só o tio
Reed é capaz de fazer, e logo suas lágrimas secam e ela sorri.
— Senti saudades, tio Reed.
— Eu senti mais, minha linda. Trouxe um amigo para brincar com
vocês enquanto ajudo o papai e a Juliet. Este é Evan.
Evan olha para ela com um sorrisinho tímido.
Coloco Ari perto dele. Kennedy pula e puxa Evan para um abraço
estrangulador infinito.
O olhar apavorado retorna, e desta vez eu dou de ombros.
— Garotas, carinha. Garotas.
Ari olha para o polvo esfarrapado em suas mãos e pergunta:
— É o seu xodozinho?
Evan assente.
— O nome dele é Pickles.
— O nome do meu xodozinho é Princesa Sparkles. Quer brincar no
nosso quarto?
Ele olha para mim, e eu aceno com a cabeça, enxotando-os porta afora.
Bem... isso foi mais fácil do que eu esperava. Percebi que as crianças são
resilientes assim.
Agora que a guerra de Nerf oficialmente acabou, coloco as armas no
quarto das meninas de novo, e me certifico de que estão brincando antes de
subir para o quarto de hóspedes que será o berçário do novo bebê.
As paredes ainda são brancas, porque decidiram esperar para saber o
sexo, mas começaram a encher a sala com móveis e decorações neutras.
Juliet está no canto, sentada em uma cadeira de madeira preta e branca
folheando as páginas de um livro de gravidez, enquanto Liam está no chão
desembalando as peças do berço.
— Vocês poderiam ter me avisado que eu estava entrando em um campo
de batalha.
Juliet ri.
— Onde estaria a graça?
— Só para constar, os caras ganharam. Poderia ter ajudado seu melhor
amigo, cara. — Digo a Liam. Ele apenas balança a cabeça e continua a tirar
a madeira.
— Tudo bem, os pais estão de plantão. — Juliet se levanta da poltrona.
Sua barriga de grávida finalmente está aparecendo. Uma pequena
protuberância por baixo da sua blusa que Liam acaricia o tempo todo. —
Mamãe está cansada e dolorida, e quer um banho de espuma em completo e
total silêncio.
— Eu cuido do jantar e das crianças, descanse amor. — Liam murmura.
Nunca vi um cara tão apaixonado pela sua esposa. Ver esses dois juntos
é só o que preciso para acreditar no amor. O tipo natural, verdadeiro e
único. Isso é o que eles compartilham, e cara, ver meu melhor amigo
vivenciar isso depois de tudo o que ele passou é incrível. Ninguém merece
tanto quanto ele.
Juliet dá um beijo rápido nele e depois nos deixa para montarmos os
móveis.
— Ainda não consigo acreditar que vocês só descobrirão o sexo quando
nascer. Eu preciso saber.
Ele ri.
— É a vontade dela, e eu acabo fazendo tudo que ela quer. De qualquer
forma, o que importa para mim é a saúde do bebê. Agora, as meninas? Elas
são outra história. Nos perguntam se vamos contar para elas, pelo menos
duas vezes ao dia. Ari tentou me subornar com abraços, mas eu disse a ela
que sou mais forte que isso.
— Isso não me surpreende.
— Então, como estão as coisas com Evan e Holland?
Merda, direto para a parte boa.
— Evan é uma criança incrível. Adoro passar o tempo com ele. Fez xixi
na priva…— Eu me interrompo. — Hoje pela primeira vez. Parecia uma
vitória de verdade.
Sinto uma merda estranha no peito quando penso em Ev e nas coisas
que ele superou desde que nos conhecemos. Seus pesadelos diminuíram.
Depois que eu comprei um abajur que reflete figuras marinhas no teto e
leio, não apenas uma, mas três histórias antes dele dormir, praticamente
acabaram. Ele ama qualquer coisa sobre a selva ou o mar. Grandes
aventuras e, inferno, adoro criá-las todas as noites para contar a ele. Não
que eu possa levar o crédito pelo abajur. Holland se superou ao montar um
espaço para Evan onde ele se sentisse como ... Ele. Sabendo que é obcecado
pelo oceano e pela maioria das criaturas marinhas, ela transformou o quarto
em uma aventura subaquática para que cada vez que ele entrar, possa
admirar à sua volta.
Eu realmente não tinha notado, o tanto que Holland participa da nossa
vida. Eu me acostumei com a rotina confortável que criamos.
— Por que você está com esse olhar? — Liam pergunta, com a testa
franzida em desentendimento.
— Que olhar? Eu não tenho esse olhar? — murmuro. É um blefe e, a
julgar pela sua expressão, ele sabe disso.
— Nem vem. O que você não está me dizendo?
— Nada.
Liam acerta meu rosto com um saco de parafusos. Depois pega uma
chave de fenda e eu levanto minhas mãos em sinal de rendição.
— Tudo bem, caralho, tudo bem. Este rosto é uma máquina de fazer
dinheiro, preste atenção.
— Você é um idiota. — Liam ri. — Agora me diga que diabos você está
escondendo. Oh merda, é Holland, não é? É por isso que você ficou calado
de repente.
Merda.
— É complicado.
Nesta hora, Liam joga a cabeça para trás e ri. Sua risada profunda ecoa
nas paredes vazias do quarto do bebê.
— E não é sempre assim? Juliet e eu também tivemos uma coisa
complicada e olhe para nós agora. Derrame.
Suspirando, passo a mão pelo meu cabelo bagunçado e indomável e
olho para ele.
— Nós definimos umas regras estúpidas pra caralho que dizem que
devemos pegar leve. Não complicar. No entanto, já fizemos uma bagunça
danada. Ela está perfeitamente bem com as coisas como estão, mas eu não
consigo tirá-la da minha cabeça. Penso nela em cada coisa que faço.
— Você a ama. — Liam diz sinceramente.
— Uau, essa é uma palavra muito forte. Demais. Quer dizer, eu nem sei
como amar alguém.
— Besteira. Você ama sua mãe, Emery, Evan. E Ari e Kennedy? Você
as ama desde o dia em que nasceram. E todas aquelas vezes que esteve
presente, Reed? As festas de aniversário que você ajudou a organizar, os
dias que trabalhei até tarde e você as buscou para mim? — Ele faz uma
pausa, e vejo a sinceridade nos seus olhos. Aperta meu coração e sou
homem o suficiente para admitir. Liam e essas meninas são e sempre foram
tanto minha família quanto mamãe e Emery. Todos eles me dão um
propósito para viver. Ser o tio delas. E agora... Evan e Holland me dão um
propósito. Só que de uma maneira diferente e assustadora.
— Estou apavorado pra cassete, cara. Amor? O amor é a coisa mais
aterrorizante do mundo. Ele te deixa vulnerável.
— Você tem razão. É isso que o amor faz. Ele te expõe, te deixa cru. É
apavorante dar a alguém a capacidade de te machucar. Mas Reed, Juliet é a
melhor coisa que já me aconteceu, e você sabe disso. Ela me transformou
em um homem melhor. Eu a amo tanto que faria qualquer coisa neste
mundo por ela. Sim, foi assustador me expor e dizer por favor me ame
como eu te amo. Mas se não tivesse feito, não teria o amor da minha vida
ou minha família. — Ele para de falar, desvia seu olhar do meu e olha para
o berço à sua frente, depois volta a olhar para mim. — Às vezes você só
precisa deixar esse medo de lado e viver. Você me disse uma vez que se eu
a deixasse ir embora, seria o maior erro da minha vida. Siga seu próprio
conselho.
— Ela é incrível e, Deus, sou louco por ela, mas não quero machucar
Emery. Não quero estragar a amizade delas. Ela nunca me perdoaria. É
parte do porquê criamos as regras idiotas em primeiro lugar.
Ele balança a cabeça.
— Você realmente acha que Em vai se importar porque você se
apaixonou pela melhor amiga dela?
— Conhecendo Em e o fato de ela ter me ameaçado com ferimentos
corporais por sequer olhar para Holland, acho que provavelmente sim. Mas
acho que ela superaria... eventualmente.
— Acho que você precisa falar com Holland. Dizer a ela como se sente.
Ser honesto. Não há nada de errado em ser vulnerável ou se expor.
Eu assinto.
Ele tem razão. Preciso falar com Holland. Ser franco a respeito dessas
malditas regras que não funcionam mais para mim.
Não quando tudo o que quero é reivindicá-la, quero que seja só minha.
Para poder segurá-la em meus braços todas as noites, voltar para ela depois
de dias na estrada. Eu a amo pra caralho.
E tenho o plano perfeito para dizer a ela.
Cap 17
Holland
— Reed. — Eu choramingo. Seus dedos longos e grossos abafam meus
gemidos. Estão na minha boca desde que ele exigiu que eu os chupasse.
Ele me observa através do vão entre minhas pernas. Seus cachos
escuros indisciplinados estão bagunçados por causa dos meus puxões
constantes, enquanto ele me devora como um homem faminto. Seus olhos
ficam vidrados por luxúria ao se encontrarem com os meus, e um sorriso
malicioso lentamente aparece nos seus lábios.
A beleza dele é tão grande que eu não posso suportar. Especialmente em
momentos como este, quando ele está com a boca na minha boceta, me
proporcionando o maior prazer da minha vida.
Eu gemo quando a língua dele me atinge, golpeando ao longo do meu
clitóris. O prazer é muito grande. Exatamente quando sinto que vou
explodir e ver estrelas, ele interrompe.
— Preciso te falar uma coisa.
Suas palavras vibram no meu centro, e eu reclamo em frustração. Esta é
a pior forma de tortura.
Enrolo meus dedos no seu cabelo e o puxo de volta para onde eu quero
sua boca esteja, e ele sorri.
— Aluguei uma cabana para a próxima semana. Tenho sete dias de
folga e vamos para Kettle Moraine. Eu quero que você venha conosco.
— Tem certeza de que vamos falar sobre isso… nesse exato momento?
— reclamo. Estou nua, deitada na frente dele, enquanto sua cabeça está
entre minhas pernas. E ele quer falar sobre os planos para a semana que
vem?
— Podemos discutir com calma, ou você pode simplesmente dizer sim.
— Seu hálito quente sopra a parte interna da minha coxa, me causando
arrepios. Estou tão tensa que sinto que vou explodir a qualquer momento.
— Nós poderíamos encerrar o assunto, e eu te daria exatamente o que você
quer...— Ele para e passa a língua no meu clitóris uma vez, depois duas
vezes.
— Reed Davidson. — Eu me apoio nos cotovelos e olho para ele. —
Você está me chantageando... com um orgasmo?
— Estou ofendido, Holland, eu jamais faria uma coisa dessas.
No entanto, o sorriso envergonhado em seu rosto diz o contrário. Seu
dedo me invade, curvando e acariciando até que minhas costas levantam da
cama, minhas mãos agarram os lençóis e o nome dele sai dos meus lábios.
Sinto que estou muito perto.
Então ele para. De novo.
— Reed! — Eu reclamo. — Pare com isso.
Ele ri. — Diga sim.
— Não.
Um dedo se transforma em dois e seus lábios fecham sobre meu clitóris.
Despreocupado, ele suga e move seus dedos dentro de mim lentamente, até
eu estar perto de novo.
Arqueio em sua direção, desesperada para finalmente ultrapassar os
limites da sua provocação. Ele afasta a boca e volta a olhar para mim.
— Tudo bem. Deus. Tudo bem.
— Sério? —
— Sim, agora você poderia, por favor … — Eu paro. Poucos segundos
depois, ele se levanta, me cobre com o seu corpo tonificado e definido e
desliza para dentro de mim, me preenchendo lentamente. Logo depois,
estamos quentes e pegajosos de suor. Os dedos de Reed esfregam meu
clitóris e gozamos juntos.
Ele me puxa para o seu peito com os braços musculosos e cai de costas
na cama. Encosto meu ouvido no seu peito, escutando a batida do seu
coração e meus olhos ficam pesados.
— Você vai mesmo? — Ele pergunta. Sinto seus lábios na minha
cabeça.
Eu assinto. — Não porque você me coagiu com um orgasmo, mas
porque Emery já me convidou e ameaçou com danos corporais.
Reed zomba. — Então eu fiz tudo isso sendo que você já iria?
— Sim. Mas você estava tão comprometido que eu não quis te impedir.
Ele ri. — Um sacrifício e tanto.
Eu me inclino para trás para poder olhar para ele. — Você sabe... eu
disse não. Várias vezes, na verdade. Eu só... estou preocupada que ela
descubra que algo está acontecendo. Ela me conhece melhor do que
ninguém. Estou ansiosa.
Reed fica quieto. Ele não responde, mas seus lábios tocam meu cabelo
outra vez, e isso me conforta.
— Nós somos amigos, Baby. Sempre fomos e Emery sabe disso. Ela
não vai suspeitar de nada.
Minha aflição não passa. Só espero que tão bem quanto Em me
conheça, ela não consiga ver através de mim.
***
***
A caixa de vidro treme enquanto luto para trocar de uma mão para
outra, e tocar a campainha. Ela é quase do meu tamanho e sofro para
segurá-la, ponto final.
Eu estou falhando. Droga. Vou deixar essa coisa cair.
Assim que me abaixo para colocá-la na varanda, a porta da frente é
aberta e, quando olho para cima, Reed e Evan estão me observando da
porta.
Um pouco de ar deixa meus pulmões, ao ver Reed pela primeira vez
desde a cabana. Meu batimento cardíaco nunca diminui quando o vejo.
Toda vez é como se fosse a primeira. De alguma forma, a beleza dele me
pega de surpresa.
Ele cortou o cabelo depois da última vez que o vi. Além de mais curto,
está mais disciplinado. Eu queria poder passar minhas mãos e bagunçar de
novo aqueles cachos que eu tanto amo.
— Holland? — Reed pergunta franzindo a testa.
Ele está confuso por eu estar aqui, com todo direito. Eu o afastei e pedi
espaço, e aqui estou na sua porta, segurando um aquário maior do que eu.
— Ei. — Eu falo baixinho. — Humm, na verdade não sei como
começar, mas isso está realmente pesado, posso levar para dentro?
Ele sai depressa, toma da minha mão, vira as costas e passa pela porta
da frente. Sigo atrás, de repente ainda mais nervosa do que quando ensaiei
essa conversa cinquenta vezes na minha cabeça.
Minhas palmas umedecem e meu coração acelera no peito.
Evan desliza a mão na minha palma úmida e sorri.
— Isso é para mim, Howwand?
Eu assinto.
— Sim, carinha, é para você.
Soltando a mão dele, tiro uma sacola de dentro do aquário sem água.
— Acho que deveria começar dizendo que sinto muito. Eu não deveria
ter afastado você.
— Holland, você não precisa se desculpar. — Reed diz.
— Não, eu preciso. Você abriu seu coração para mim, o que exigiu
coragem, e eu corri quando pensei ter perdido Emery. Eu tive medo, Reed.
Não apenas de machucar Emery, ou de ela descobrir sobre nós daquela
forma. Eu tive medo de acabar machucada.
Ainda segurando a sacola, eu me aproximo.
— Também tenho uma confissão. Desde quando concordamos com as
regras, com esse acordo, ou qualquer outro nome que você queira dar... eu
já guardava um segredo. Reed, sou apaixonada por você desde criança.
Desde que eu era a tímida e idiota melhor amiga da sua irmã mais nova, que
você não dava a mínima.
— Como? — Reed diz, rouco.
Eu assinto.
— Sinto muito por demorar tanto a te falar. Lamento não ter admitido
como realmente me sentia. E sinto muito que esses sentimentos e a briga
com Emery tenham me afastado de você quando eu realmente deveria tê-lo
puxado para mais perto.
Reed dá um passo em minha direção e, se minha mão não estivesse
ocupada, eu a estenderia para tocá-lo, mas, infelizmente, ainda não cheguei
a essa parte do pedido de desculpas.
— Amo você. E lamento ter demorado a te dizer isso também. Eu te
amo desde a primeira vez que você bateu em Marcus na oitava série porque
alguém me chamou de vaca. Desde aquele dia que eu torci o tornozelo e
você me carregou por todo o caminho do gelo até minha casa. Desde o dia
em que criamos as regras e dissemos para não nos apaixonarmos. Já era
tarde. Eu já era louca por você.
Eu seguro a criatura do mar dentro do saco plástico e os olhos de Evan
se arregalam ao vê-la nadar.
— Então, aqui estou, com completa honestidade, pedindo para me dar
outra chance porque, apesar de o amor às vezes ser difícil e assustador, não
significa que não valha a pena. E eu comprei esse cavalo-marinho-anão
porque fui à loja de animais e me olharam como se eu fosse insana quando
pedi um polvo vivo. Aparentemente, eles são muito agressivos, bem
grandes e…
Antes que eu possa terminar de divagar, o cavalo-marinho é tirado da
minha mão, Reed me puxa e cola seus lábios nos meus. Só agora pude
perceber o quanto meu peito doía de saudades.
Quando ele afasta a sua boca e sorri para mim, pela primeira vez em
uma semana, sinto que tudo vai ficar bem.
— Baby, eu não posso acreditar que passamos a última semana
separados por causa de algo tão estúpido.
Concordo com a cabeça, franzindo o nariz. Tudo poderia ser evitado se
fôssemos honestos com Emery … e conosco.
— Relacionamento é isso. É aprender a se comunicar e solucionar os
problemas quando as coisas dão errado. Eu estou aprendendo. Nós estamos
aprendendo. Prometo que, independentemente do que acontecer, não vou
me afastar de você. Vou dizer como me sinto e resolveremos juntos.
Reed se inclina e me beija de novo. É tão intenso que tira o meu fôlego
e atrapalha a minha linha de pensamento.
Eu me afasto e aceno para o saco plástico que está em cima da mesa.
— Este é Dill. Dill o cavalo-marinho-anão. Você sabe, porque os polvos
são venenosos e meio… — eu me inclino e sussurro. — Idiotas. Mas ele
pode ser amigo de Pickles.
Reed balança a cabeça.
— Eu te amo pra caralho. — Ele olha para Evan que pressiona o nariz
no aquário. — Evan, carinha, Holland trouxe um animal marinho de
verdade especialmente para você.
Evan assente. Seu narizinho deixa manchas no vidro e isso me faz rir.
— Vamos acomodá-lo em sua nova casa. Onde ele deve ficar? — Reed
pergunta.
Tomara que não escolha o quarto dele.
— Meu quarto! — Evan diz e sai correndo na direção de seu quarto.
Assim que ele está fora do alcance da voz, olho para Reed. — Sem
chance. Ele vai acabar com a mão dentro do aquário antes do fim da noite.
Confie em mim. O que você acha do aparador de sofá, na sala?
— Boa ideia.
Ajudo Reed a montar o aquário e, antes que eu perceba, o sol já se pôs e
Evan boceja.
— Está cansado, carinha? — Eu pergunto.
Sonolento, ele balança a cabeça. Senti falta dele tanto quanto de Reed.
Passo a hora seguinte com Evan. Dou banho, o ajudo com os pijamas e
passamos tanto tempo observando Dill, que ele cochila sentado.
Gesticulo para Reed pegar Pickles do balcão, carrego Evan para o
quarto e o coloco na cama. Reed coloca Pickles ao lado dele, acende o
abajur e saímos juntos.
— Sabe, é quase como se fôssemos uma... equipe. — Reed sorri, depois
se agacha e me joga sobre o ombro.
Eu grito bem alto.
— Oh Deus, Reed Aaron, coloque-me no chão! Agora mesmo!
Quando ele bate na minha bunda, não apenas uma, mas duas vezes, eu
guincho. Ele me carrega para o seu quarto e, assim que entramos, me joga
na cama.
— Não tive uma boa noite de sono desde a cabana. Está na hora de você
pagar por isso.
Ele sorri e sobe em cima de mim. Seu corpo sólido se molda ao meu.
Eu também não dormi bem. Na verdade, passei mais tempo desejando
estar com ele.
— Eu também não. Estou feliz por ter falado com Em. Se não fosse
ela... Sabe, é meio engraçado, foi por causa dela que decidimos manter as
coisas em segredo em primeiro lugar. E acabou sendo ela quem nos juntou
de novo. É importante para mim ter a bênção dela.
Ele me olha com seus olhos de chocolate escuro e acena com a cabeça.
— É Em. Nada seria o mesmo se não fosse por sua produção dramática.
Eu a amo, mas essa é a verdade. Sabe, eu pensei muito nesses últimos cinco
dias.
— Em que? — Eu pergunto.
— Em você. Em nós. Em Evan. — Reed me puxa em direção ao seu
corpo e beija o meu queixo. — Eu acho que você deveria morar conosco.
Me surpreendo tanto que me sento abruptamente esbarrando em Reed
no processo.
— Merda. — Ele pragueja, apertando o nariz.
— Sinto muito, sinto muitíssimo. Você não pode jogar isso em cima de
mim de uma vez, Reed, meu Deus.
Seus olhos estão bem fechados, mas ele dá de ombros.
— Parecia um momento tão bom quanto qualquer outro. Concordamos
em sempre mantermos diálogo e honestidade, e eu quero que você venha
morar comigo. Inferno, fomos vizinhos por praticamente toda a nossa vida.
Se aprendi alguma coisa na semana passada foi que sempre devemos seguir
nossos sentimentos, sem enrolação nem fingimento. Quero você aqui,
Holland. Quero você na minha cama, na minha caminhonete, no estádio
quando eu ganhar a porra da Copa Stanley. Eu te amo e quero que você viva
aqui. Comigo. Com Evan. Com Pickles. E Dill. Como uma família. A
minha família.
Deus, esse homem. Sempre me fazendo chorar com suas palavras. Ele é
tão gentil e atencioso, que às vezes é difícil acreditar que ele é meu, e
agora... o mundo inteiro vai poder saber. Depois disso, nunca mais quero
guardar segredo de nada que diga respeito a Reed.
Eu me inclino em sua direção, com mais cuidado desta vez, e o beijo.
Suas mãos seguram meu queixo e seu polegar distraidamente esfrega minha
bochecha.
— Também amo você. E Evan. E Pickles. E Dill. E quero isso, mais do
que tudo. Quero acordar ao seu lado todos os dias, quero te fazer assistir os
filmes de terror que odeia e quero encher sua casa de balas de goma. Mas
preciso pensar no meu pai. Somos só nós dois há muito tempo. Sempre
cuidei dele e não posso deixá-lo lá sozinho.
Reed concorda com a cabeça.
— Eu sei, Baby. E se ele vier também? Há muito espaço para ele nesta
casa e nada me deixaria mais feliz do que ter vocês dois aqui.
— Tenho pensado muito sobre o Rancho Serenity. Quero levá-lo e ver
se ele gosta. É incrível e é uma alternativa para o futuro dele que nunca
tivemos antes. Graças a você. Eu jamais teria descoberto, Reed.
Ele abaixa e me dá um beijo lento e carinhoso.
— Você não precisa decidir agora, Baby. A qualquer hora que estiver
pronta, estarei aqui. Aceito qualquer decisão que você tomar. Sabe outra
coisa em que tenho pensado ultimamente? Nosso amor é muito parecido
com o meu termo de hóquei favorito.
— E qual seria?
— Change on the fly. Você não para, faz a mudança que for necessária e
termina o jogo.
Isso tem muito a ver conosco. Comigo, com Reed e as mudanças pelas
quais passamos. O que começou como uma paixão de infância se tornou
muito mais. E mesmo com os percalços no caminho, foi a minha melhor
decisão. Esse é o diferencial do amor. Ele é confuso. Nem sempre é fácil.
Nem sempre é perfeito. Mas tem que ter capacidade de mudar, de restaurar,
de crescer.
De se tornar maior do que você pensou que seria possível.
Eu o encontrei em Reed Davidson quando menos esperava, e nunca vou
deixar que vá embora.
FIM
Epílogo
Reed
Um Ano Depois