Você está na página 1de 21

Copyright © 2023 Bacoachilles

Todos os direitos reservados

REVISÃO: Giulia Matos aka Loray Sun (@httpvante_)


CAPA: Bacoachilles e Ana Jamile Santos (@B4co4chilles e
@woonixxgpchs)
DIAGRAMÇÃO: C.M.P Vargas (@Sia_Munhoz)
Lily
Lily se sentia culpado por muitas coisas, mas a principal delas
era por ter excesso de raiva acumulada.
 
Esse seu pequeno defeito havia sido a maior razão do porquê
saiu de casa com vinte anos: os pais não aceitaram sua decisão de
sair da faculdade e ingressar na vida de escritor, disseram que ele
iria morrer de fome e que, se continuasse com essa ideia, deveria
esquecê-los.
 
Lily apenas descobriu que tinha uma meia-irmã quando a viu
em uma publicação, no Instagram, do pai com uma nova mulher e
um bebê no colo. De fato, ele foi capaz de esquecer que havia
nascido de outros seres humanos e não se criado sozinho desde o
começo na sua vida — embora tenha sido praticamente isso o que
aconteceu —, mas nunca conseguiria apagar a curiosidade e carinho
que sentia pela meia-irmã desde o dia que descobriu sobre ela.
 
No começo, Lily amaldiçoou-se por não ter ouvido os próprios
pais; a primeira novela que publicou independentemente não trouxe
tantos resultados quanto esperava, deixando-o tão frustrado que
pensou em voltar para a sua antiga casa. Mas então, em uma
coincidência do destino, enquanto entregava marca-páginas dos
próprios livros para tentar conseguir mais alguns leitores, um agente
literário o viu e se mostrou interessado em Lily. E, assim, surgiu seu
primeiro romance.
 
O primeiro havia sido sobre um casal divorciado, que
descobrem ainda se amarem. Era engraçado que, mesmo sendo um
homem tão mau-humorado, gostasse tanto de histórias de amor. E
foi essa paixão que o fez continuar escrevendo, e escrevendo cada
vez mais, até chegar a sua novela best-seller intitulada “Um
Cavalheiro para Uma Dama”.
 
Mas, apesar de ser seu maior sucesso, aquela história
também era sua maior frustração. A princípio, seria sua primeira
tentativa de escrever algo fora da sua zona de conforto: um romance
LGBT. Na época, Lily se apaixonou por um rapaz que trabalhava em
uma floricultura; o homem o chamou de Lillian, acreditando que Lily
era apenas um apelido, e isso criou raízes em seu peito, fazendo-o
nomear o personagem com seu próprio nome.
 
Seu agente riu quando viu a primeira versão do arquivo,
chamando-o de egocêntrico. “Lily Warren e Lily Lillian. Duas facetas
da mesma moeda. O problema, meu querido, é que infelizmente não
poderemos publicar seu livro com essa temática. Torne-o mais
instigante, algo que venda! Você sabe muito bem fazer isso, não
sabe?”
 
Lily também sabia muito bem o que ele queria dizer: torne seu
livro em um romance heterossexual e então poderemos publicá-lo.
 
Foi uma dor semelhante à que sentiu quando foi expulso de
casa. Em ambas as ocasiões, uma parte de si mesmo estava sendo
rejeitada, tratada como algo para se envergonhar. Quando ouviu
aquelas palavras, Lily quis entrar em um buraco negro e
desaparecer, mas engoliu em seco e assentiu, porque não tinha mais
vinte anos. Agora ele era um adulto com uma responsabilidade
enorme nas costas, milhares de fãs esperando, uma nova agência o
pressionando para finalizar o livro e sua própria mente confusa sobre
o que diabos estava acontecendo consigo.
 
Talvez tenha sido por isso que Lily simplesmente fingiu um
sorriso e disse: “Claro. Vou fazer o romance com o Lily e a Emma,
como você sugeriu.”
 
Uma semana depois, entregou o arquivo modificado. Foi
aceito na mesma hora, mas, ao invés de sentir felicidade, Lily ficou
tão amargurado, ressentido e triste, que não pôde ver o lançamento
da sua história, muito menos pode vê-la se tornar o maior sucesso
de vendas já visto naquela editora, porque ele havia sumido na
mesma noite.
 

Imagine a surpresa de Lily ao ver Eros novamente, mesmo


depois de ter achado, de novo, que teria que recomeçar tudo.
 
“Eros”, Lily deixou o nome escapar de seus lábios com tanta
delicadeza como alguém falaria uma reza.
 
Depois de seis meses no próprio livro, Lily estava começando
a esquecer de como era a vida real. Era mais confortável estar em
seu próprio romance, sendo rico e, praticamente, casado com uma
bela moça. Isso até, estranhamente, um novo rosto surgir.
 
O primo de Emma era um NPC[1], não tinha destaque nenhum
na história, sendo mostrado apenas em momentos em que a moça
precisava de conselhos. “Esquecível” era seu melhor adjetivo. Mas
então, do dia para a noite, ele mudou de rosto e Lily nunca tinha visto
ninguém tão lindo e angelical quanto aquele homem.
 
Foi difícil esconder a sua surpresa no começo, esconder o
quanto ficava sem ar perto dele, o quanto queria poder se tornar
íntimo de Eros.
 
E, com Eros, muitas coisas foram modificadas. As escolhas a
serem tomadas se tornaram outras e, repentinamente, Lily se viu
apaixonado pelo garoto como nunca esteve por ninguém antes.
Porém, toda vez que pensava sobre isso, era como levar um soco no
estômago. Lily não fazia ideia do que diabos estava acontecendo e
não sabia se Eros era verdadeiro ou se aquilo era algum tipo de
truque de mágica. Porque não fazia sentido.
 
Mas se ele parasse para pensar, nada daquilo fazia sentido
desde o começo.
 
Tudo estava bem. Estranhamente bem. Até chegar o dia da
despedida. Lily sabia o que aquilo significava. Sabia que nunca mais
veria o homem capaz de fazê-lo se sentir livre pela primeira vez na
vida, e a dor que sentiu ao ouvir o “eu te amo” saindo dos lábios de
Eros foi tanta que Lily achou que morreria.
 
Contudo, não morreu. Pelo menos, não para sempre.
 
Ao invés disso, Lily voltou para seu apartamento escuro. Tudo
estava exatamente a mesma coisa, o que significava que ninguém
havia entrado ali. Ninguém havia procurado por ele. Ninguém notou
sua ausência. E ser arrancado do mundo em que estava vivendo os
melhores dos seus dias com o amor da sua vida foi como ter seu
coração retirado do peito.
 
Levou um tempo até sua mente processar o que tinha
acontecido, porém tudo voltou ao normal lentamente. E, depois de
seis meses, embora Lily nunca tenha consigo esquecer Eros
verdadeiramente, continuou com a sua vida pacata e horrível de
sempre.
 
Isso, é claro, até entrar naquela cafeteria e encontrar os olhos
castanhos que faziam seu corpo sentir coisas. Eros estava diferente,
tinha brincos nas orelhas e usava roupas atuais. “Tão lindo”, foi o
que Lily pensou ao vê-lo vestindo uma blusa flanela, um par de All-
stars e um óculos, enquanto escrevia no computador.
 
Ele se aproximou. Lily não tinha vergonha, nunca havia tido.
Às vezes, apenas não gostava de interagir porque simplesmente não
apreciava a ideia de ter que se esforçar para manter uma conversa,
mas ali, naquele momento, andar em direção à Eros pareceu mais
natural do que respirar.
 
“Você…”, Eros falou primeiro, assim que Lily parou na borda
da mesa, olhando-o com tanta expectativa que o outro homem
parecia receoso. O peito de Lily murchou em constrangimento. E se
aquilo fosse apenas uma coincidência?
 
“Lily?”
 
E foi isso.
 
De repente, milhares de cores pareciam ter explodido em seu
coração. Foi como se Eros tivesse pintado seu corpo com seus
pincéis e suas tintas, como se ele tivesse marcado seus dígitos em
sua epiderme, como se tivesse marcado sua alma.
 
“Ele lembra de mim”, Lily pensou, sem fôlego. “Ele lembra de
mim.”
 
Suas mãos estavam tremendo como o inferno. Parecia
prestes a desmaiar a qualquer instante.
 
“Você… Você está pálido. Meu Deus, sente-se”, disse o pintor,
levantando-se de sua própria cadeira para apertar os ombros de Lily.
Foi como se o Sol tivesse inundado seu interior. “Lily?”
 
“Deus”, o escritor sussurrou, querendo fechar os olhos. “Gosto
tanto quando você fala meu nome.”
 
Eros sorriu. Um sorriso daqueles que mostrava um pouquinho
da gengiva. Lily poderia escrever milhares de livros sobre aquele
sorriso. “Você já me disse isso uma vez.”
 
“Deixe-me dizer de novo.”
 
“Diga então, por favor, Lily.”
 
“Adoro isso.”
 
Mais um sorriso. Ah, parecia que Deus, finalmente, estava do
seu lado.
 

Lily o convidou para seu apartamento. Eros certamente não


combinaria com aquele tipo de ambiente; era escuro e sem
personalidade. Lily nunca se deu o trabalho de decorar aquele lugar
porque nunca parava numa mesma residência por muito tempo. E,
no instante em que abriu a porta para o outro homem entrar, se
arrependeu amargamente dessa escolha.
 
“Nós temos muito o que conversar”, Eros puxou assunto,
tentando disfarçar a curiosidade no olhar. Para sua tristeza, nenhuma
de suas reações jamais passou despercebida por Lily.
 
“Temos.”
 
“Por onde você quer começar?”
 
Eros tirou o casaco nos ombros, segurando-o nos braços sem
saber o que fazer. Uma pontada agonizante atingiu o coração de Lily
com o pensamento de que Eros poderia estar desconfortável com
esse reencontro, com a sua casa ou com sua pergunta. Afinal,
tinham se passado seis meses. Muitas coisas podiam ter mudado,
não é?
 
Quanto mais Lily pensava, mais pesado seu coração se
tornava.
 
“O que você andou fazendo esses meses?”, tomou coragem
de perguntar, se aproximando de Eros para pegar o casaco de suas
mãos. Pensou em oferecer chá, mas Lily não queria se distanciar do
homem por agora. Tudo o que ele queria era ficar o mais próximo
possível, sentir seu cheiro e seus toques. Lily mal tinha percebido o
quão agonizante haviam sido os últimos meses. “Eu senti tanto a sua
falta.”
 
Instantaneamente, as bochechas de Eros se tornaram rubras.
Ele queria se aproximar mais, tocar sua pele marrom, beijá-lo até ter
seu gosto marcado em seus lábios.
 
Lily queria tantas coisas, mas sabia que esse não era o
momento.
 
“Bem, eu… nem sei por onde começar.  Estava num hospital,
havia acabado de sair de um coma. Meus pais surtaram quando
acordei, pois acharam que eu havia tido uma morte cerebral”, contou
o pintor com os olhos desfocados, como se a lembrança estivesse
passando logo a sua frente. Lily tomou coragem de tocar as mãos do
rapaz, encostando levemente a ponta de dois dedos na pele de Eros.
Os joelhos de Eros fraquejaram. “Depois disso, as coisas foram
voltando ao normal, mas eu não estava muito bem, não conseguia
esquecer o que tinha acontecido. Eu não conseguia…”, ele se calou
por um instante, engolindo as próprias palavras, parecendo
constrangido com o que diria a seguir. “Não conseguia esquecer
você.”
 
Foi demais para Lily. Não havia como resistir àquilo.
 
Ele deu um passo à frente, um único passo. Parou tão perto
de Eros que pôde sentir seu hálito quente com cheiro de café. Tão
perto que quase podia contar seus cílios. E, mesmo sem tocá-lo, o
simples fato de tê-lo consigo, de poder sentir sua presença, de poder
levantar uma das mãos e acariciar sua pele, era como voltar para
casa depois de uma longa e cansativa viagem.
 
“Me diga para parar e eu paro”, Lily sussurrou, ficando na
ponta dos pés para ficar a altura dos lábios do outro. “Estou pedindo
isso, mas meu coração te implora para que não me rejeite.”
 
“Eu jamais te rejeitaria, meu amor.”
 
Ouvir aquele apelido era como tomar um veneno doce.
Poderia matá-lo, mas seria uma morte maravilhosa.
 
Eros não se aproximou com rapidez. Ele, assim como Lily,
parecia não querer perder um único segundo de tudo aquilo. Mesmo
os segundos em que apenas deixaram os narizes roçarem um no
outro como dois felinos, ou quando o lábio inferior de Lily tocou
suavemente o superior de Eros, tudo foi lentamente aproveitado. Lily
nunca se sentiu tão satisfeito em toda a vida.
 
Ele se permitiu tocar a nuca de Eros, experimentando a
sensação dos fios levemente crescidos do pintor. Massageou sua
pele com tanta ternura que parecia estar com uma obra de arte entre
os dedos. Eros era exatamente isso; a maior obra de arte, a pessoa
mais magnífica que Lily já havia colocado aos olhos.
 
“Eu deveria começar a agradecer a Deus por ter nascido na
mesma época que você.”
 
Eros soltou um riso abafado sobre seus lábios. Lily queria
pegar aquele som entre os dedos e guardá-lo em um pote para ouvi-
lo repetidas vezes mais tarde. “Que exagero.”
 
“Não é exagero.”
 
“Então eu digo a mesma coisa a você”, Eros sussurrou,
serpenteando as mãos pelo corpo de Lily. Sempre tão atrevido.
“Você fala coisas tão românticas às vezes. Parece um escritor.”
 
De repente, o peso do mundo inteiro parou nas costas de Lily.
Ele se afastou, mas não o suficiente para alertar Eros. “Eu sou
escritor.”
 
Agora o outro homem também parecia totalmente acordado
daquele ósculo, “O quê?”
 
“Eu sou escritor, Eros.”
 
“Espera aí”, colocou as mãos nos ombros de Lily, apertando
sua pele. “Você é escritor? Isso é uma coincidência muito grande,
porque-“
 
“Foi eu quem escrevi aquele livro idiota.”
 
Eros pareceu ficar verde por um segundo. Lily começou a se
arrepender de ter contado sobre aquilo. “Meu Deus, foi você quem
eu xinguei por quase um ano inteiro? Isso é algum tipo de
brincadeira?”, seus olhos se arregalaram tanto que o escritor sentiu
vontade de rir. Mas a vontade passou quase instantaneamente
quando um clique estalou por sua mente.
 
“Não me diga que você era aquele pestinha que vivia
importunando a minha vida-“
 
“Meu Deus, eu te odiava! Como que… Seu desgraçado, você
separou o Lily e a Emma-“
 
“Você literalmente roubou o homem dela, Eros”, Lily estreitou
os olhos, sentindo-se repentinamente em alerta. “Eles nem deveriam
ter ficado juntos para começo de conversa. Se aquele merdinha do
meu agente não tivesse me forçado a transformar a história em
hétero, Lily e Emma nunca teriam ficado juntos. Eles nem sequer
teriam se conhecido.”
 
Por um instante, Eros ficou em completo silêncio. Estava
paralisado com a boca aberta em tamanho choque, que Lily colocou
um dedo embaixo de seu nariz para verificar se estava respirando.
 
Então, como um disco riscado voltasse a funcionar, risadas
quentes encheram o apartamento triste de Lily, deixando-o tão
surpreso que franziu as sobrancelhas na direção do amante. “Não
acredito que você colocou o seu próprio nome em seu protagonista.
Quer dizer, qual seu nome de verdade? Lily Lillian é idiota demais
para ser de verdade.”
 
Cruzando os braços, o escritor se afastou para Eros não ver
seu rosto corado. Lily de “Um Cavalheiro para Uma Dama” era
apenas uma versão caricata de si mesmo, a fim de expressar a
confusão de seus sentimentos em relação a outro homem. Mas é
claro que ele tinha que ter deixado o arquivo aberto no notebook, e é
claro que seu agente seria indiscreto o suficiente para ver e pensar
que seria uma ótima ideia modificar toda a história e monetizar seus
sentimentos confusos.
 
“Me apaixonei por você e nem sei seu nome de verdade”, a
voz de Eros veio de trás de sua nuca e, quando sentiu os braços do
pintor ao redor de seus ombros, a irritação que sentiu antes se
desmanchou. “Qual seu nome de verdade, meu amor?”
 
“Warren.”
 
“Lily Warren”, repetiu. Um arrepio eletrizou todas as células do
corpo de Lily ao ouvir seu nome verdadeiro saindo daqueles lábios.
“Eros Hoffner Warren.”
 
“O quê?”, virou-se, sentindo o coração frenético contra as
costelas. “Por que você colocou meu nome no seu?”
 
“Porque nós vamos nos casar um dia. Queria ver se
combinaria.”
 
Casar.
 
Era um verbo que antigamente o assustava. Lily já tinha se
acostumado com a ideia de permanecer eternamente sozinho. Afinal,
se nem sequer seus próprios pais puderam o amar por muito tempo,
como outra pessoa poderia?
 
Mas, agora, o som da palavra era doce. Casamento.
Casamento com Eros. Lily não se assustou com o quanto gostou
daquela ideia. É claro que não se assustou. Quase tudo sobre o
pintor o agradava, principalmente a ideia de casar-se com ele.
 
“Eu colocaria seu nome no meu também. Lily Warren Hoffner.”
 
Um beijo estalado esquentou sua bochecha. O escritor sorriu
pela primeira vez nos últimos seis meses.
 

“Então você quer dizer que Lily e Emma nunca deveriam ter
ficado juntos?”, Eros perguntou a ele, sentando em meio a suas
pernas enquanto comiam pipoca. O pintor havia avisado os pais que
não voltaria para casa naquele dia e, quando Lily ouviu a conversa,
foi como se fogos de artifício explodissem em seu interior. Isso
significava que eles eram, pelo menos, alguma coisa, certo? “Por
algum motivo isso não me incomoda mais. Eles não terem ficado
juntos, quero dizer.”
 
“É claro que não incomoda”, Lily respondeu, tocando
suavemente na cintura do pintor, deixando os dedos serpentearem
para dentro da camiseta que ele usava.
 
“Eu tenho tantas perguntas.”
 
“Me pergunte o que quiser. Respondo tudo o que você pedir.”
 
O brilho perverso nos olhos de Eros atiçou algo no escritor.
Ele temeu se arrepender em responder a qualquer pergunta depois
daquilo.
 
“Por que você nunca explorou os outros personagens além
dos protagonistas? Eles tinham tanto potencial!”
 
“Meu agente não deixou. Ele queria algo que eu focasse 95%
do enredo no romance entre a Emma e o Lily. Não tive permissão
para desenvolver muito bem nenhum personagem da história.”
 
A expressão azeda que tomou conta do rosto do pintor foi
adorável. Lily queria se levantar e beijar a ponta do seu nariz, seus
lábios, bochechas e pálpebras. Beijar tudo. “O que o Lily e o primo
original da Emma eram? Eles não se gostavam? Eu não lembro
muito bem.”
 
“O nome original dele era Ed”, começou Lily. “Eu não faço
ideia de como seu nome foi modificado e nenhum dos personagens
notou. Realmente não sei. Mas acredito que isso não precise fazer
muito sentido, já que essa história, desde o começo, é a maior
loucura do mundo.”, engoliu em seco ao levantar a barra da camiseta
do outro, tocando sua pele com carinho. “De qualquer forma, o único
objetivo dele seria aconselhar Emma quando ela precisasse decidir
entre contar ou não seus sentimentos ao Lily. E era isso. Ed nunca
foi realmente… de grande importância para a história.”
 
“Me sinto decepcionado.”, Eros sorriu na sua direção, se
curvando sobre seu corpo até ambos os peitorais se tocarem. Lily
prendeu a respiração como um maldito adolescente na puberdade.
“Se eu parar para pensar, sua história não teve praticamente nenhum
desenvolvimento. Quero dizer, não por sua culpa, mas pelo seu
agente. Por que você ainda trabalha para ele?”
 
Lily se remexeu no sofá, desconfortável enquanto enfiava
mais uma pipoca nos lábios. Desde que voltou, falou com Ambrose,
o agente, uma única vez por vídeo chamada para conversar sobre
seu desaparecimento. Lily mentiu sobre seu estado de saúde, que
não estava muito bem e que precisou se afastar por um tempo.
Ambrose ficou furioso por ter sumido sem avisá-lo, relembrando-o
sobre o contrato que tinham. E a enorme multa que teria que pagar
caso descumprisse sua parte.
 
“Tenho um contrato de quatro anos com Ambrose, o que
significa que, se eu não renovar no final desse ano, nosso acordo
finalmente acaba”, explicou, observando os olhos de Eros enquanto
o pintor deixava seu queixo apoiado no peitoral de Lily. “E a editora…
ela tem os direitos autorais da edição de ‘Um Cavalheiro para Uma
Dama’ que você conhece. Eu não me importo tanto com a história da
Emma e do Lily, já cansei desse enredo e não aguento mais ouvir
falar deles. O problema maior é que o meu contrato com Ambrose
envolve os direitos autorais de todas as minhas obras por esses
quatro anos.”
 
“Isso significa que tudo o que você publicar nesse meio tempo
é responsabilidade dele?”
 
“Exatamente.”
 
“Meu Deus.”, Eros suspirou. O cheirinho de manteiga do seu
hálito aqueceu o rosto de Lily. Ele tentou não torcer o nariz. “Que
furada. Não tem nada que possamos fazer?”
 
A grande parte do coração de Lily na qual Eros havia se
apossado, vibrou com aquilo. O fato de ele ter dito “que possamos
fazer” ao invés de “o que você pode fazer” fez com que cada fibra de
seu corpo queimasse de amor. Lily sabia que não era a melhor
pessoa do mundo em demonstrar sentimentos, mas a paixão ardente
em seu peito por Eros era verdadeira e o estava queimando de
dentro para fora.
 
Lily ergueu a mão trêmula. Ele sabia que sua alma estaria
eternamente marcada por Eros. Sabia que, se algo no futuro
acontecesse e não pudessem mais ficar juntos, nunca esqueceria.
Não era humanamente possível viver tudo o que haviam vivido juntos
e simplesmente se esquecer das mãos mornas que haviam tocado
seu coração. “Seis meses atrás você disse que me amava. Você
disse e logo em seguida sumiu, me deixou desesperado. Achei que
tinha morrido. Por um tempo, viver nesse lugar, sozinho, sem você,
foi pior do que a morte. Você desapareceu como se fosse areia,
sumiu no ar. Nem sequer esperou minha resposta.”
 
“Lily-“
 
“Eu te amo”, sussurrou ele de uma única vez. O homem em
seu peito levantou o tronco, parecendo totalmente em alerta. Os
olhos escuros de Eros queimavam sua pele pela intensidade. “Os
seis meses que vivi com você, provavelmente, foram os dias mais
felizes da minha vida.”
 
“Lily”, repetiu ele, como uma prece.
 
Eros estava chorando. Uma lágrima caiu de seus olhos e ele
tentou escondê-la, passando o pulso pelos olhos, mas os reflexos de
Lily foram bons o suficiente para perceber. Ele se sentou, puxando
Eros para seu colo. Passou os braços pelos ombros do pintor,
massageando sua nuca. Mas, quando sentiu soluços vindo dele, se
distanciou para beijar suas pálpebras úmidas. “Você vai quebrar meu
coração se continuar chorando.”
 
 

 
“É só que… isso tudo parece bom demais para ser verdade.”,
Eros fungou, escondendo o rosto no ombro direito do escritor. “Quer
dizer, eu nunca tinha me apaixonado antes. Nunca, nunca mesmo. E
achei que nunca me apaixonaria, ou que no mínimo não seria
recíproco. E agora, parece que tem milhares de explosões
acontecendo dentro de mim, embora uma vozinha na minha cabeça
continue me lembrando para não criar muitas expectativas porque
isso, merda, é tudo muito bom para ser verdade.”
 
Lily não sabia como responder àquela confissão. Não sabia
como confortá-lo como ele provavelmente precisava, por isso tentou,
cuidadosamente, achar palavras para fazê-lo perceber o quanto seu
amor nunca acabaria. “Um dia vou escrever um livro sobre nós dois.
Quando eu finalmente me livrar de Ambrose, vou escrever um livro
chamado Anteros, o amor correspondido. Porque foi você quem me
provou que até pessoas miseráveis como eu merecem amor.”
 
Talvez as coisas não estivessem muito boas no momento,
mas isso não significava que não podiam melhorar. No ano seguinte,
seu contrato com o agente maldito acabava e Lily finalmente poderia
voltar a escrever por prazer e não por obrigação. Eles poderiam,
juntos, formar um império de histórias e artes, deixando, para
sempre, uma marca no mundo.
 
Afinal, havia dois tipos de morte: aquelas em que seu corpo
parava de funcionar e seus olhos nunca mais se abriam, e aquela em
que seu nome é dito pela última vez na boca da última pessoa que
se lembra de você. Algumas pessoas, como Shakespeare,
Aristóteles, Homero eram eternas. Porque jamais seriam esquecidas.
 
Lily queria isso. Ele queria ser eternamente lembrado com
Eros, seu amor correspondido.
 
Agradecimentos
Em especial, queria agradecer a todos que leram Eros e me
mandaram mensagens maravilhosas no Instagram e no Twitter, me
pedindo por um extra ou uma explicação sobre o que tinha
acontecido com o Lily e o Eros. Receber essas mensagens foi a
realização de um sonho, porque nunca pensei que alguém poderia
gostar dos meus personagens a esse ponto. Esse extra é todinho
para vocês! Muito obrigada mesmo, sou eternamente grata.
 
Redes sociais
Siga a autora em suas redes sociais e fique por dentro de
todas as novidades!
 
Instagram
Twitter
Wattpad
 

 
[1]Personagens não jogáveis colocados apenas para
ambientação, dos quais não se é possível controlar.

Você também pode gostar