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OS NOVOS IDEAIS

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Contexto histórico
A Europa or ienta l emergiu das dificuldades da I dade Média em um florescimento cultura l
extra ordinário: o Renas cimento. Esse movimento t eve suas raízes no início do século XIV e
alcançou o apogeu no f i nal do século xv, continuando até o século xvr. O Renascimento
começou como o inte resse pelas formas da escul t ura e da arquitetu ra clássicas, especial-
'11ente, na Itália, desenvolveu-se, convertendo-se um amplo movimento cultural e intelec-
:ual, conforme a sociedade se tornava cada vez mais moderna e próspera. A economia
monetária substituiu o si stema feuda l e bens de consumo - com níveis e valo res fixad os -
se t ornaram disponíveis em um mercado aberto.
Os human istas - os novos pensado res cosmopol itas i tal i anos - redescobri ram os antigos
escritos greco- romanos sobre ciênci a, política, fi losof ia, matemática e arte e uni ram-nos às
deias do cristianismo contempo râneo. Eles promoveram a premissa de Cícero de que o
"'lomem era um ser racional nobre e, como resultado, durante o Renascimento, os indiví-
duos tornaram -se mais conscientes e extrovertidos. Do ponto de vista artístico, os escritos
'Tlais influentes f oram os de V itrúvio, arquiteto romano do sécu l o I, que ti nha em grande
:onsideração as discip linas de proporção e simetria. Suas desc rições dos tipo s de edifícios
'"Omanos levaram as pessoas a estudarem as constru ções ai nda ex istentes e a um i mediato
!"!:florescimento no uso de suas fo rmas. Vitrúvio t ambém escreveu que o corpo huma[lo
--epresentava a beleza das proporções na natureza e isso teve uma grande repercussão na
'Drma das roupas, que agora buscavam adequar-se às suas proporções.
O Renascimento f oi difundido pela Europa oriental, mas os principa is centros encont ra-
.am-se nos estados ricos da I tália central e set ent r ional, em particu lar, Florença, Roma e
:leneza, e em Flandres, que se t ornou um importante cent ro para o comércio e as artes. à esquerda: 0 ho m ~m

A.ntuérpia, Bruxelas e Gent eram as cidades portuárias mai s movimentadas e prósperos cen - vttruv1ano (estudo cla~
pr-opor§ões humanas), de
:ros têxtei s. Usando lã importada da Ing later ra como matér ia-prima, os tece lões f lamengos Leonarcdo da, Vinci
('lA S ;I.~l S lS) .
: r iaram os tecidos mais luxuosos do conti nente. O Renascimento f lamengo não se refe ri a a
~rmas arquitetônicas, mas a realizações intel ectuais, como a fil osofia e a pi ntura.
Na Itália, famí li as i mportantes - como os Gonzaga, de Mântua, e os Este, de Ferrara
-viviam em casas imponentes, usavam r oupas magnífi cas e empenhavam suas mentes em
at ividades intelectuais com pessoas de ideias semelhant es, além de investirem sua ri queza
::essoal em obras de art e para coleções púb l icas e privadas.
Além da co rte papal em Roma, os patronos mais influentes fo ram os Médici que, embo-
-a não possuíssem nenhum título oficial, domi naram a política em Florença. Como banquei-
ros de todas as f amílias reais eu ropeias, eles mantinham escritórios em todo o continente
- em Lyon, na Antuérpia e em Londres - e usavam sua imensa riqueza para patrocinar a
cu lt ura e as artes no norte da Itáli a. Grandes arti stas como Le onardo da V inci, Andrea dei
:lerrocchio, Antonio e Piero Pol laiuo lo, Miche lange lo, Sandro Botticel l i e Fil ippino Lippi,
:ujas obras dom inam os mel hores museus do mundo, eram beneficiári os da f il antropia dos
'M dic i. Sob a li derança e o mecenato de L orenzo de Médici, que se tornou conhecic:lo como
J M agnífico, Fl orença tornou-se o centro artístico da Europa. Ele supervisionou a ampl ia-
;ão da biblioteca co m o nome da f amí lia, inaugurou a Bibl ioteca Pl atônica de Fi losofia e
nvestiu recursos públi cos e privados em con struções, f estivais e art e para se rem desfruta-
:ms po r todo s os ci dadãos de Florença.
CO N TEXTO
HI ST ÓRICO

à direita: Durante o
Renascimento, as roupas
eram confeccionadas em
materiai s novos e pesados.
O veludo era mais popular
no norte da Europa. Estas
mulheres e crianças estão
usando rufos no pescoço
e punh os e a lgumas têm
detalhes golpeados nas
mangas.

As gu il das criadas na Idade Média também patrocinavam as artes, especialmente em


cidades como Florença e as cidades têxtei s de Flandres, onde pagavam por retábu los, está-
tuas e edifícios. As guildas mais poderosas e ricas estavam associadas ao comércio de
tecidos. Os membros das gui ldas estavam submetidos a regras estritas. Qualquer membro
que t raísse a confian ça da associação - tornando conhec idos os segredos da guilda - pode-
ria ser perseguido e assassinado. Aos membros da gui lda era prescrito um unifor me para
a função e, algumas vezes, também usavam un iformes nas horas de lazer. As guil das tam-
bém perpet uavam padrões de qualidade e estabeleciam preços f ixos para as mercadorias.
A literatura floresceu em toda a Europa durante o Renascimento. A Itália fo i o berço
de Petrarca (1304- 1374), Maquiavel (1469- 1527), Ariosto (1474-1533), Bandello
(1485- 156 1) e Areti no (1492- 1556). Na França, o poeta Pierre Ronsard (1524- 1585)
fundou a Plêiade, um grupo de poetas que produziu hinos e elegias com o tema predomi-
nante do amor, e, na Espanha, Cervantes (1547-1616) satirizou o antigo conceito de cava-
laria romântica em sua obra Don Quixote.
A mais importante inovação da época foi a imprensa. Inventada em 1452 por Jbhann
Gutenbe rg, a imprensa aumentou a difusão do conhecimento e expandiu o pensamento
dominado pelos teólogos católicos romanos para uma variedade mais progre ssista de ideias
eclét icas. A imprensa aumentou a velocidade da comuni cação . Anteriormente, os livros
eram impressos à mão e escritos em latim - a lín gua dos eruditos. No entanto, a nova clas-
se média instru ída - a burguesia, que podia comprar l ivros- desejava que fossem escritos
em seu próprio idioma. Portanto, começou a f lorescer o comércio de todo t ipo de livros:
almanaques, livros de viagem, roma nces frívolos, poesia e fi losofi a greco- romana, assim
como livros de etiqu et a e vestuár io.
HIST óR:
No Renascimento floresceram os comércios, as invenções, as comunicações e as desco-
bertas. Os cartógrafos (portugueses que elaboravam os mapas) ampliaram o conhecimento
do mundo. Navios impelidos po r velas enviavam exploradores aos lugares mais distantes.
O comércio com a Ásia - patrocinado por investidores privados- continuou a abastecer a
Europa com mercadorias de luxo, como especiarias, seda e perfumes, para atender a deman-
da cada vez maior.
Em 1492, Cristóvão Colombo - f ilho de um cardador genovês - descobriu o Novo
Mundo, desembarcando em San Salvador, Cuba, Haiti, Guadalupe, Po rto Rico, Jamaica,
Trini dad e na América do Sul, entre outros lugares. Em sua segunda viagem, Colombo fun-
dou a primeira cidade europeia no Novo Mundo: La Isabela. O nome era uma homenagem
à rainha Isabel de Castilha que, com seu marido, Fernão de Aragão, patrocinara a primei-
ra viagem. Essas grandes viagens introduziram diversos produtos exóticos na Europa:
milho, batatas, tabaco, goma, ouro, prata, papagaios e penas de cores vivas, que foram
usadas para enfeitar os chapéus masculinos.
A partir do final do século xv, exploradores portugueses, como Vasco da Gama e
Fernão de Magalhães, viajaram cada vez mais para o leste, chegando, primeiro, à China
e, depois, ao Japão, em 1517. Eles retornaram para a Europa com diversos objetos luxuo -
sos, como leques dobráveis que rapidamente fizeram sucesso nos círculos cortesãos. acima: O Renascimento
O período entre 1484 e 1520 é conhecido como Alto Renascimento. Foi durante esse foi uma época de
grandes descobertas.
período que os grandes avanços culturais, artísticos e científicos do primeiro Renasc imen-
As expedições rumo ao
to foram compreendidos e aceitos. As ideias médicas modernas começaram a obter maior Oriente incrementaram
o comércio e tornaram
aceitação: no hospital de Paris - o Hotel Dieu- Ambroise Paré, um ex-barbeiro que setor-
mais acessíveis para os
nou cirurgião de quatro reis franceses, de Henrique I! a Henrique III, fez grandes avanços europeus luxos como
leques dobráveis, seda
'la prát ica da ci rurgia.
e penas.
Com o passar do tempo, Roma substituiu Florença como o centro artístico da Itá lia.
O papa Júlio II Cpont. 1503- 1513) começou a atrair os melhores artistas para a cidade.
\tl ichelangelo pintou o teto da Capela Sistina, onde o compositor e cantor f lamengo Jos-
qui n des Prés residia como maestro de coro. Da Úmbria, através de Florença, Rafael che-
gara para pintar aft'escos em todo o palácio do Vaticano. Na época em que Leão X, fi lho
de Lorenzo, o Magnífico, reivindicou seu lugar no trono papal, Roma era a sede cultural e
artí stica dominante da Europa.
Toda a Europa observava a Itália. A Inglaterra e a França abraçavam os ideai s ital ia-
-.os de arte, arquitetura e moda. O rei da França, Francisco I, tornou-se o último patrono
do pintor e pensador Leonardo da Vinci. Ele lhe ofereceu um auxílio anual e, em 1516,
'lstalou-o no Château Cloux, próximo à Amboise, onde viveu até sua morte, em 1519.
J a Vi nci é considerado o gênio mais versáti l do Renascimento; seus cadernos de anotações
-efletem um enorme conhecimento e antecipação de uma variedade de temas, como bio lo-
, a, anatomia, mecânica e aeronáuti ca. Sua crença de que o círculo era a forma mais pura
: perfeita intensificou a noção predominante de simetria e proporção que dominou a esté-
ca renascentista.
Em 1517, dois anos antes da mot'te de Leonardo, um frade agostiniano alemão chamado
'arti nho Lutero atacou a corrupção prevalecente no seio da Igreja Cat ólica, publicando uma
sta de queixas, chamada As noventa e cinco teses. A imprensa ajudou a divul gar as ide ias
CON TEXTO
H IS TÓR I C O

acima: A cor era uma


característica importante reformistas de Lutero e a Reforma resultante espalhou-se pela Europa, terminando, f inal-
no vestuário de homens e
mulheres, como ilustrado
mente, na divisão ent re o norte e o sul. De forma geral, os países setent rio nais tornaram-se
nesta pintura de um baile protestantes e os do sul, pe rmaneceram católicos. I nicialmente, na Inglaterra, Henr ique VII
da corte. A silhueta
defendeu a Igrej a Católica, mas, quando o papa recusou -se a lhe conceder o divórci o de sua
fem inina com o tronco
estreito e o efeito primei ra mu lher, o soberano rompeu com Roma, declarando-se Chefe Supremo da Igreja da
volumoso das anquinhas
Inglaterra. Novamente, a Europa estava prestes a se lançar em conflitos políticos.
é característica da época
renascentista.
A mulher
Embora ainda faltassem muitos séculos para a verdadeira ig ualdade ent re os sexos,
o Renascimento anunc iou uma época em que as mulheres desfrutavam de uma liberdade sem
precedentes. Mu lheres como Elizabet h I da Inglaterra (1533- 1603), segunda f ilha de
Henrique VIII, eram tão instruídas quanto os homens em diversos assuntos. Outras mulhe-
res de destaque, como Al exandra Mancini Strozzi e Isabel! a d' Este Gonzaga, marquesa de
Mântua, eram conh ecidas por seu intelecto. I sabe l de Casti lha, patrona de Cristóvão
Colombo, que governava a Espanha ao lado de seu marido, Fernão de A ragão, acompanhou
a guerra contra Portugal e foi bem-sucedida ao expulsar os mouros do país.
Em 7 de novembro de 1558, El izabeth I assumiu o trono inglês com apenas 25 anos de
acima: O célebre Retrato
idade. Durante seu reinado de 45 anos, ela demonstrou ser uma monarca ext remamente da Armada representa
El izabeth I com a armada
inteli gente. Seu país prosperou e f loresceu do ponto de vista cu ltural. Dois anos ant es de
espanhola ao fundo, em
sua morte, Hamlet, de Shakespeare foi encenada, pela primeira vez, no pal co. Sua maio r seu lado esquerdo. Ela
usa uma gol a de renda
vitória foi salvar a Inglaterra protestante da dominação da Espanha catól ica. Em 1558, os
engomada e um vestido
navios de guerra da marinha inglesa imped iram a tentativa de invasão da armada espa- escuro com mangas de
cetim, decorado com
nhola. "Sei que tenho apenas o corpo frágil e delicad o de uma mulher", declarou às t ro-
fi tas, pedras preciosas
pas reunidas em Til bury antes da batalha, "mas tenho o coração e o estômago de um rei." e pérolas.
Apesar dos exemp los inspiradores de mulheres poderosas, o ideal femin ino durante o
Renascimento tinha pouco a ver com capacidade int electual, perspi cácia política ou poder.
Como V ictoria Griffin observou em The Mistress <B ioomsbury, 1999), a cortesã tornou-se
a imagem da mulher ideal. A mais famosa foi Diana de Poi t iers, amante de Henrique
d'Orl éans, f ut uro rei da França e filho de Francisco I, o grande rei renascentista do pa ís e
criador de Fontainebleau. Seus t alentos são lendários. A pós Catarina de Méd ici, mulher de
Henrique, queixar-se sobre sua incapacidade de engravi dar, Diana pôs-se a trabalhar para
resolver a situação. Segundo Griffin, o empenho de Diana nesse assunto f oi motivado pelo
f ato de que, sendo a rainha infértil, o casamento rea l se ria anulado e, portanto, ameaçari a
sua própria posição na corte.
A INDUME NTA

Aconselhado por Diana, Henriq ue operou-se (provavelmente, uma circuncisão) e Cata-


rina passou a praticar novas posições sexuais. Uma nova rotina também foi introduzida na
vida sexual da realeza: Henrique passava a pr imeira parte da noite com Diana, antes de ir
para a cama de Catarina. Como resultado, após dez anos de casamento, Catarina gerou o
primeiro filho. A partir de então, a rainha engravi dou diversas vezes, durante mais de uma
década, fazendo com que fosse, segundo Griffin, uma das mais férteis esposas reais da hi s-
tória. Após a morte de Henrique e de seu filho Francisco li, Catarina to rn ou-se a força por
trás do trono de Carlos IX e Henrique III.

A indumentária
À medida que as pessoas ficavam mais conscientes, a indumentária e, em particular, os tra-
jes elegantes adquiriram uma importância cada vez maior durante o Renascimento. A moda,
antes um mero passatempo dos ricos, também se tornou uma preocupação da próspera clas-
se burguesa. Durante a Idade Média, as roupas se diferenciaram de um país a outro, mas o
Renascimento teve um efeito unificador sobre a moda. À medida que as comunicações e os
transportes se tornavam mais rápidos e sofisti cados, a difusão de artigos de luxo se tornou
regular e as pessoas começaram a desejar as mesmas mercadorias. Na Inglaterra, como
observou Jack Cassin Scott, uma variedade de trajes ideais fo i aceita - elementos extraídos
dos diferentes estilos nacionais e misturados, com frequência, em um único traje.
Confeccionados por alfaiates- cujos padrões eram determinados pelas poderosas guil-
das de alfaiates-, os trajes combinavam com as exigências do cliente e era comum um
cliente visitar o alfaiate várias vezes por causa de uma única peça. Esses profissionais
começaram a formar redes de negócios de ofícios estreitamente relacionados em regiões
específicas das vilas e cidades. Em Londres, a área da London Bridge abrigou os primei-
ros armarinhos. A loja do alfaiate, os ateliês e sua casa se localizavam em um só lugar.
A lfaiates ambulantes atendiam os habitantes do interior, que não tinham acesso aos cen-
tros urbanos.
As roupas eram consideradas um investimento e gastava-se muito tempo com sua con-
servação e conserto. Os cortesãos necessitavam de um extenso guarda-roupa e frequente-
mente vendiam suas roupas para lojas de segunda mão para recupe rar parte (!os gastos.
à esquerda: Diana de
Em t ermos de influência no vestuário e inovação, dois dos principais centros eram Poitiers, amante do rei
Fl orença e a corte de Carlos, o Temerário, duque de Borgonha, em Fland res. Um dos esti- Henrique 11 da França,
foi uma das cortesãs ma1s
l os mais influentes e duradouros a surgir em Flandres foi resultado da derrota de Carlos, famosas de sua época.
o Temerário, em 1477. Quando os su íços atacaram suas tropas, em Nancy, celebraram Seus cabelos eram
enfeitados e arrumados
a: ~;itfrt?cz.n!i?/Yb.,t.-'}'m:)dj .e9..?P..d..arJ.e.s .exa_oerados e roupas luxuosas que pertenciam ao com simplicidade, fazendo
exérci t o de Borgonha e atando esses trapos rasgados às próprias roupas. A parti r desse
momento, tornou-se popular um estilo conhecido como talhado ou golpeado, no qual ascos-
turas são deixadas abertas ou fendas são criadas del iberadamente em uma peça de roupa
para deixar o forro visível. Esse tipo de acabamento era usado por ambos os sexos, mas
era mais popular no vestuário mascul ino e, certamente, foi um dos motivos mais caracte-
rísticos do f inal do Renascimento.
O rufo fo i outro elemento da indumentária que se desenvolveu no Renascimento. Ele-
mento dominante nas roupas masculinas e fem ininas, era ori ginalmente um efeito obti do
::\ DUMENTÁR IA

ao puxar a b-orda da chemise para perto do pescoço com um cordão, de modo a fazer apa-
recer um babado, mas se tornou uma peça independente do vestuário. O rufo era confeccio-
nado a parti r de uma faixa ou ti ra de I inho, com, no máximo, 5,8 m de comprimento. E Ie
podia aumentar até proporções tão elaboradas, graças à introdução do am ido - original-
mente produzido em Fl andres, mas que chegou à Inglaterra em 1560. O amido coloria o rufo
branco, acrescentando uma tonalidade azul ou amarela. Suportes como um apoio ou supor-
tasse, estruturas de arame cobertas com seda pregadas com alfinete por baixo do rufo, eram
usadas para mantê-lo no lugar. Os babados de um rufo transformaram-se em pregas, que
eram abertas e pressionadas na forma de oito. Mais tarde, os rufas passaram a ser confec-
cionados em gaze e, em alguns casos, tinham bordas de renda dou rada ou prateada e podiam
ser alinhavados à gola alta do corpete de um vestido ou usados para decorar a chemise mas-
culina. Os rufas podem parecer desconfortáveis, mas os historiadores da arte afirmam que,
se a pessoa que o usasse mantivesse a cabeça erguida, ele não incomodava.
Homens e mulheres da classe média usavam roupas com mangas removíveis ou duplas.
Primeiro, havia uma manga justa que era presa ao vestido e então uma manga mais ampla
era fixada ao corpete do vestido ou ao gibão masculino. Essas mangas eram um método
econômico de mudar o esti lo de uma peça de vestuário. A prática foi favorecida, sobretu-
do, pelas mulhe res italianas, que, com dois vestidos e dez pares de mangas obtinham um
vestuário mais versátil. Os historiadores observam que o hábito de retirar as mangas ante-
cipou o costume moderno de comprar saias e blusas que pudessem ser misturadas e com-
binadas.
A costura era uma outra característi ca dom inante da indumentária renascentista. Os
pontos pareciam laços e eram usados para prender os calções à cintura do gibão ou uma
manga à cava do gibão ou do vestido. Esse processo era conhecido como amarração ou
trança. Embora os pontos tivessem uma final idade merament e funcional , os r icos os usa-
vam com motivos decorat ivos nas pontas. Os pontos também permitiam à roupa ser ainda
mais enfeitada e extravagante, além de incentivar uma atitude mais casual e Iivre em rela-
ção ao vestuário.
Leques e lenços eram acessórios fundamentais no Renascimento. As viagens de desco-
berta - para a Chi na e o Novo Mundo - levaram os leq ues de volta à Europa. Cristóvão
Colombo presenteou Isabel de Castilha com um leque de pl umas, quando retornou de sua
segunda viagem, em 1496. Mais tarde, a rainha Elizabeth, que aparece em muitos retra-
tos segurando um leque, foi a responsável por sua popularização na Inglaterra. Ela prefe-
acima: As mangas deste
ria leques feitos de plumas com cabos adornados com joias e eram feitos para combinar
corpete de corte baixo
eram removíveis. Elas com seus r icos trajes. O número de leques de Elizabeth chegava a 31, alguns dos quais
são presas às cavas por
eram exemplares muito val iosos. Fora dos círculos cortesãos, os leques se t ornaram popu-
pontos em um processo
conhecido como lares, formando parte do enxoval das noivas ricas. No cl ima quent e de Veneza, Mi lão,
amarração.
Gênova e Siena, o leque pessoal tornou-se um cômodo mata-moscas no verão, mas era mais
estético que funcional. Alguns traziam um espelho no centro e outros eram guarnecidos
com pérolas. As mulheres dos ricos mercadores venezianos levavam consigo leques confec-
cionados em formato de bandeiras. Catarina de Médici introduziu o leque dobrável na
Inglaterra. Ela t inha sua própria comitiva de perfumi stas, que t ambém eram hábe is fabri-
cant es de leques. Um retrato que a representa brandindo um leque con struído delicada-
o

mente encontra-se no B riti sh Museum. Os leques dobráveis podiam ser presos com uma cor-
rente ou f ita ao cinturão pa ra deixar as mãos livres.
Lenços eram usados por homens e mulheres para diferentes fi nali dades, desde assoar o
nari z até como adorno. Também eram usados como lenços de cabeça e ao redor do pesco-
ço, mas algumas pessoas simplesmente os levavam na palma da mão ou os apertavam no
meio para que reve lassem suas bordas deli cadas. O lenço de bolso se popu larizou em Vene-
za em meados do século XVI e se tornou o ornamento favorito da realeza europeia, parti-
cularmente de Catarina de Médici. O lenço era conside rado uma peça de l uxo que os pobres
estavam proibidos de usar por lei. Henrique VI I I instituiu leis que estabeleciam como eles
seriam decorados. A maiori a dos lenços era feita de linho ou seda e, com o passar do tempo,
se tornaram cada vez mais ornamentados. O lenço do século XV I é famoso por ser mais
enfeitado que o do século xv. Com bordas de renda, também era bordado em ponto cruz,
ornado com borlas ou com outros tipos de bordado.
Os estilos do vestuário permaneceram mais ou menos const antes durant e o século xv.
No início do século XVI, surgiram diversas mudanças e os novos estilos foram representa-
dos em pinturas de dife re ntes artistas, como Michelangel o e Rafael . De aco rdo com a teo-
ria de Leonardo de que o círculo é a f orma perfeita, a aparência dos homens e, em espe-
cial, das mulheres se tornou mais arredondada e as roupas ganharam uma estética mais
sensual. Mangas e saias se tornaram mais amplas e os t raj es eram feitos de teci dos gros-
sos, luxuosos e macios, como veludo, brocado e adamascado. Bo rdados e ornamentos cos-
tumavam ser usados para enriquecer as peças de roupa e a beleza do corp o humano come-
çou a ser aceita e ressaltada.

O vestuário f eminino
No início do sécu lo xv, as mulheres usavam uma versão macia e ampla da houppe/ande,
traje longo e amplo com mangas compridas e gola alta. Em meados do século, as roupas
se tornaram mais amplas e a base do vestuário feminino era um conjunto de roupas de
baixo em l inho branco com mangas longas sobre as quais era usado um vestido de cintura
alta em co r contrastante.
No f im do século, os vestidos ap resentavam uma linha de cintura em V, um corpete, que
ocupava o espaço na frente do vestido e mangas com fendas nos ombros e cotovel os e nas
costas até o punho para que as mangas da roupa de baixo fossem reve ladas. No século XVI,
as roupas de baixo eram a peça mais impo rt ante do vestuário feminino.
acima: Este traje
A invenção fem inina mai s comentada no Renascimento foi a armação denominada
suntuoso traz veludo e
{arthingale ou verdugado, que sustentava a saia e foi usada pela primei ra vez na corte espa- brocado. O decote
retangular é decorado
nhola em 1468. No entanto, à medida que as diferentes nacional idades adotavam essa
com pérolas, estilo que é
moda, esse t ipo de armação começou a ter maior largura. Em 1530, um tipo mais largo reproduzido no acessório
de anquinha surgiu na França, onde era conhecido como bourrelet. de cabeça. A mulher,
Eleonora de Toledo,
Essa armação t razia movimento para a saia da mu lher, que era ainda mais acentuado segura um lenço,
se ela usasse sapatos de salto alto. A crino lina era feita de ramos de sal guei ro, caniço ou acessório da moda do
Renascimento.
barbatanas de baleia costurados ao t ecido . Havia três formatos principais: a anquinha
estreita, a armação em forma de barril, popular ent re as mulheres francesas, e a a rmação
acampanada.
O V ESTUÂRIO
F E!\1\. lNINO
Elas aumentavam a largura da mulher que as usava e as saias, que, consequentemente,
passaram a necessitar de muito tecido . Leis e éditos foram publicados restringindo seu uso,
mas em vão. Segundo Jack Cassin Scott, nenhum édito real conseguiu, de fato, controlar
a moda.
Embora as roupas fem ininas fossem pesadas no final do Renascimento, a silhueta dese-
jada era bem definida. O vestuário enfatizava ombros largos, uma cint ura longa e fin a e
quadris largos. O torso da mulher era modelado aj ustado pela basquine. Feita de tecido
rígido, essa roupa de baixo parecida com um corpete, se aj ustava ao corpo e gradualmen-
te o modelava como um funi l, suprimindo as formas naturais arredondadas do busto e fo r-
çando-o para cima. Essa silhueta complementava o efeito volumoso da anqu inha na parte
de baixo. A armação de barbatana de baleia era uma alternativa que também dava à
mulher a aparência de um busto reto e o efeito era ref orçado pelo corpet e triangular engo-
mado que descia abaixo da linha da cintura e fazia uma curva sobre a saia.
Na Florença renascentista, as saias inicialmente arrastavam no chão, mas, pouco tempo
depois, as pernas começaram a aparecer por bai xo da saia, sobretudo, quando as mulheres
cavalgavam, caçavam, praticavam esportes e dançavam. Esse desejo de mostrar as pernas
levou a um interesse por meias e calções que vestissem perfeitament e.
Catarina de Médici foi uma das primeiras mulheres a usar calções. Essa peça propor-
cionava maior Iiberdade à mulher, permitindo cavalgar em uma sela de amazona, costume
que se orig inou no Renascimento, mas ainda cobria os joelhos, caso a saia saísse do lugar.
No início, esses calções eram feitos de algodão ou fustão, mas, aos poucos, à medida que
foi aceito, passou a ser confeccionado em t ecidos mais finos como brocado e tecidos dou-
rados e prateados. Mas nem todas as mulheres adotaram essa moda, que não se populari-
zou na I nglaterra e na Alemanha.
A s mulheres do período renascentista também usavam capas longas e preg ueadas como
sobretudos. Algumas tinham um decote arredondado e estreito e o toque frívolo de uma
acima: Família de fenda sob os braços para revela r o vestido da mulher.
Filipe IV, da Espanha. Elizabeth I tornou-se célebre por apreciar roupas ext ravagantes. Embora não seja lem-
Margarida Maria
encontra-se no cent ro, brada por sua grande beleza, era considerada uma mulher de grande esti lo. A estética el i-
usando uma anquinha zabetana característica era formal. Ela usava um rufo Tudor, dragonas, pe ru ca adornada
em estil o espanhol, mai s
estreita que os outros com joias, corpete justo e anquinhas. Tanto a fronte quanto as sobrance lhas costumavam
estilos. ser depiladas. Elizabeth gostava muito de moda e, quando morreu, seu guarda-roupa pes-
soal incluía três mi l vestidos e acessórios de cabeça. Em 1998, sua vi da foi levada às t elas
em Elizabeth, rep resentada pela atriz australiana Cate Blanchett. Alexand ra Byrne,· a figu-
rinista desse filme, foi indicada ao Oscar por seu t rabalho.

O vestuário mascul ino


O uso de cores- uma característica do vestuári o masculino durante a Idade Média- con-
tinuou em alta durante o Renascimento . O hábito de usar ro upas com remendos de teci-
do de co res vivas, assim como listras, quadrados e triângulos acrescentava um elemento
de exibicionismo aos traj es mascu linos. Os chef es de certas famí lias da elite mostravam
predileção pelo uso de certas cores: Amadeu VI e A madeu VII, de Saboia, eram conhe-
cidos como o conde verde e o conde vermelho, respectivamente, por causa de sua prefe-
MAS C Ui.l

à esquerda: Os
embaixadores (1533),
de Hans Holbein.
O embaixador à esquerda
usa um calçado bico de
pato, mais largo e
arred ondado que os
est ilos anteriores. Barbas
eram populares na época,
pois considerava-se que
t raziam dignidade à
aparência de um homem.
Ambos os homens têm
roupas guarnecidas com
peles, o que suger e que
eram ricos.

rência por essas cores. As pessoas costumavam vesti r os servos com uniformes da mesma
cor e determinadas cores eram próprias de atividades específicas. A cor de ferrugem
costumava ser usada para as atividades rura is, por exemplo, e os jovens usavam cores
mais vivas.
A si l hueta das roupas mascul inas dessa época acentuava o físico. Para tornar ombros
e tórax mais largos, os homens enchiam os casacos com feno e apertavam um cinto na cin-
tura. As meias substituíram as calças justas e a área do gancho se tornou uma região
importante do corpo com a introdução da codpiece e de outras ornamentações como fitas.
Sapatos de ponta f ina foram substituídos por calçados em bico de pato, que eram largos
e arredondad os na frente.
Os modelos da moda mascu lina na Europa do século xvr foram Henrique VIII, da lngla-
terra, Francisco I, da França, e Carlos V, da Espanha e Holanda. Tod os eram homens liga-
dos à instrução e à cultura, que patrocinaram Holbein, Leonardo e Ticiano, respecti va-
mente. Os três riva lizavam em relação à suntuosidade do vestuário: Carl os, por exemplo,
usava um gibão de brocado prateado e uma veste dourada forrada com pele de zibel ina.
Mas, dos três, foi Henrique VIII que se considerou o líder da Europa da época. Cruel, belo
e que também eram fo rrados e engomados. Calções bufantes (s/ops, gascoynes ou
galligaskins) t ambém eram muito popu la res na Ing laterra.
• Meias: Quando f oi inventada a máquina de tricotar meias, as meias longas pas-
saram de roupas frouxas e cortad as de peças de teci do para uma peça de vest uá-
r io confo rtável, que se aj ustava melhor às fo rmas do corp o. As meias de malha
t raziam uma baguete ou nesga ornamental, característ ica das meias femini nas até
a Segunda Guerra Mu ndial. As ligas- tiras fi nas de t ecido que eram presas ao
redor da perna, acima do j oelho - mant inham as meias no lugar. A meia podia ser
enrolada sobre a li ga que, inicialmente era funcional, mas, no século xvll, tornou-
se mais decorativa.
Havia var iações locai s nas peças bási cas do vestuário . Os venez ianos ricos usavam um
par de meias longas em malha mu ito j usta preso ao gibão por meio de ganchos ou alfine-
t es duplos. O zipone - t única abotoada que ia até o j oelho- era vestido por cima do gibão
e o t raje era fi nalizado c,om uma sobret única - uma capa chamada zornea, com mangas
amp las, que era presa ao redor da ci ntura com um cinto.

T ecidos
A indúst r ia têxtil cont r ibuiu de forma intensa para o desenvolvimento do Renasciment o
europeu. Na Itália, os lucros obtidos com o comérc io de t ecidos fi nanciaram grandes pro-
jet os de art e e arquitetura. Segundo Harold Ni colson, na I ng later ra, a lã cont r ibuiu para
dar li berdade aos homens. Os comerciant es de t ecido eram cidadãos import antes. No fi nal
da Idade Média, o duque Filipe, o Bom, de Borgonha, nomeou Giovanni Arnolfini, que f ize-
ra f ortuna no comércio de seda, como seu conse lheiro f inanceiro pessoal .
Durante t odo o Renasciment o, os t eci dos se t ornaram cada vez mais elaborados e
extravagantes, pois os artesãos - t ecelões e fabricantes de t ecido - se t or naram mais
habilidosos. A s sedas preciosas que, an ter io rment e, eram importadas do Orient e, passa-
ram a se r fabr icadas em Flandres- em Yp res, B ru xelas e Gent - , on de alguns dos bro-
cados mai s ri camente decorados f oram produz idos, assi m como a samite (seda pesada
bizantin a), o t afetá e o veludo. A Europa set entrional t inha um gosto particular por tra-
j es de veludo e a pel e - de arm inho, esqui lo, cordeiro, raposa, rat o almiscarado e coelho -
à esquerda: Cores vivas
cont inuou a ser usada como ornament o. Nesse período, apenas a cidade de Par is conta- eram uma marca do
va com 400 peleiros. vest uário renascent ista,
como demonst rado nest a
Cachecóis, lenços e véus eram confeccionados em seda fina, chiffon e crepe. Traj es pa ra cena veneziana.
o ar livre eram f eitos em couro . Os viajantes eram encoraj ados a usar gibões f orrados com Os homem vest idos em
traj es cerimoniais
t afetá porq ue esse teci do era mais resist ente às pulgas. verm elhos com gorro
Muito se discute sobre a origem da renda e alguns hist oriadores da moda remetem sua e faixas pretas são
membr os da fraternidade
invenção ao Egit o Ant igo. O livro de Ch r istopher Frosc hauer sobre a moda, impresso em leiga da Scuol a di San
1536, af ir ma que a renda era it aliana e havia sido levada por mercadores venezianos para Giovanni Evangelista.

a Suíça. No livro Lace, H istory and Fashion , Annie Kraat z afirma que os venezianos e f la-
mengos (da regi ão da Antuérp ia) podiam levar o crédit o por aperfeiçoarem a t écni ca de
fa bri car a renda no f inal do primeiro quart o do século XVI. O uso da renda na elabo ração
de t rajes sof isti cados foi difundido durante to do o Renascimento. Na Itália, a renda era
conhecida como merletlo, na A lemanha era chamada Spilze (pontas) e, na França, dentelle.
ECI DOS

Dois tipos de confecção de renda eram populares: a renda de bilro e a renda de agulha.
Em alguns casos, as duas técnicas eram combinadas. A guipura, por exemplo, era confec-
cionada com tiras de renda de bilro e pontos finos de agulha. A renda era produz ida por
ateliês familiares, conventos e orfanatos e vendida em armarinhos. Normalmente, era
usada por homens e mulheres e sua popularidade era resultado, em parte, do fato de serem
muito usadas nos rufos. A renda mais delicada era produzida na Itália.
Durante o Renascimento, a beleza dos tecidos era muito valorizada. Ao longo do tempo,
os tecidos sofisticados deixaram de receber adornos e as contas, galões e bordados tão esti-
mados pelos bizantinos foram abandonados. Quando eram usados motivos, revelavam uma
influência oriental: frutas asiáticas, folhas de lótus e de palmeira eram muito comuns.
Lã, l inho e algodão eram os principais tecidos usados para as roupas cotidianas.
A I ng laterra se tornou o principal fornecedor de lã europeu. A região oeste do interior, East
Anglia, e o oeste de Yorkshi re produziam lã de diferentes pesos, tipos e cores. Por volta de
1560, Eli zabeth I apoiou um grupo de refugiados, que haviam abandonado os Países Bai-
xos por causa da perseguição relig iosa. Esse grupo se insta lou em East Anglia, onde pro-
duziram alguns dos fios mais del icados: lã leve e macia, que passou a ser conhecida como
new drapery.
Alemanha, Irlanda e Escócia produziam o linho mais f i no e a Espanha e a Itália fabri-
cavam veludo, damasco e brocado de alta qualidade, além de cetim.
Uma variedade de cores vivas tornou -se popular no vestuário e vermelho, azul-escuro,
vinho, dourado e preto eram cores muito utilizadas. Depoi s de 1550, tons sofist icados
semelhantes aos das pedras preciosas passaram a se destacar, como escarlate, amarelo,
laranja e esmeralda. Elizabet h I apreciava as combinações de cores, sobretudo, a formada
por branco e prata.

Calçados
Durante o Renascimento, os calçados eram confeccionados com diversos materiais, como
cou ro, tecido e seda. As mulheres ricas cortesãs e prostitutas usavam um cal çado denomi-
nado chapim ou chopine. Colin McDowell observa que esse tipo de sapat o foi uma das pri-
meiras modas. Semelhantes a um par de pernas de pau, esses sapatos deixavam as mulhe-

à direita: Acredita-se res mais altas, mas afetavam a forma de andar. Esse problema fo i sol ucionado com a
que estas cotas de couro redução da sola do sapato, surgindo, assim, o sapato de salto alto. Os sapatos eram itens
tenham pertencido à
-- Je:o ,ada com Elizabeth I. Eram caros e as pantufas- plataformas de made i ra presas à sola do sapato por meio de pedaços
a~:>es os materiais amarradas na lat eral de tecido- eram usadas para protegê-los do tempo ruim, elevando-os acima do chão.
e afi veladas no dorso
do pé.
A altura do salto, o formato do cabedal e da biqueira mudaram com o passar do t empo,
de acordo com a moda da época. Nos anos de 1580, as tiras dos calçados evoluíram e eles
passaram a ser amarrados ao pé com a ajuda de uma fita ou um laço.
=-:a::

Joias
Nas mãos dos artesãos f lorentinos, as joias deixaram de ser meros adornos e fora m eleva-
das a uma forma de arte na Renascença. No século xv, dois jovens ourives, Ghiberti e
Brunelleschi, criaram uma reputação como artesãos originais em Florença. Mas eles
enfrentavam uma dura competição. Florença era o centro da produção de joias e diversos
artesãos importantes - entre eles, Antonio Pollaiuolo, Fra ncesco Fran ci a, Maso Finiguer-
ra, Caradosso, M ichelozzo, Ver rocchio e Lo renzo di Credi -estavam ocupados atendendo
as demandas insaciáveis das famílias nobres, assim como as da realeza europeia. Artistas
famosos também foram incumb idos em desenhar joias para serem produzidas po r ourives .
As cortes de Borgonha e de Berry, na França, buscavam joalheiros f lorent inos para produ-
zir peças preciosas e luxuosas.
Para adornos extravag antes, Francisco I da França recorria a Benvenuto Ce ll ini. O es-
cultor, ourives e gravador flo rentino é, provavelmente, o mais famoso joalheiro da Renas-
cença t anto por seu trabalho - embora ex ista apenas uma peça para comprovar o seu talen-
to: um col ar na coleção Desmoni, em Nova York - quanto por sua reputação. Após um
duelo, Cellini foi banido para Roma, onde iniciou seu ofício, estabelecendo-se como
um artista na fab ricação de objetos de metal. Na autobiografia que escreveu em 1558 pa ra
se promover, Cel lini afirma que, na Batalha de Roma, em 1527, foi ele o responsável pela
morte do condestável de Bourbon e por atirar em Guilherme, o Silencioso, príncipe de
Orange. Em 1537, ele foi saudado na corte de Francisco I, mas, pouco tempo depois, reto r-
nou à Florença, onde Cosimo I de Médici tornou -se seu mecenas. Foi na Itál ia que ele ter-
minou sua obra mais famosa, Perseu com a cabeça de Medusa, um molde em bronze.
As joias florentinas eram extremamente detalhadas. Por exemplo, a enseigne, acessó-
rio em forma de disco para os chapéus masculinos, podia conter uma cena inteira de bata-
lha, mesmo medindo apenas 3 em de diâmetro.
Os diamantes, de corte piramidal ou em ponto, se popularizaram no século xv através
dos Médici e, posteriormente, foram assimi lados pela realeza francesa por Henrique II e
famílias nobres e ricas. O anel de diamante se tornou um símbo lo de poder e era usado em
cerimônias de coroação. Uma nova maneira de cortar o diamante fo i descoberta, perm i-
t indo que a reflexão da luz no cort e e as superfícies polidas do crista l aumentassem o br i-
lho da gema, perm itindo o aperfeiçoamento dessa arte.
As pinturas revelam certas peças usadas no período. No retábulo de Van Eyck em São
Bavo, em Gent , na Bélgica, uma Nossa Senhora usa uma túnica branca com um broche
preso ao busto. Um ret rato de uma mulher, de Dürer, mostra um elegant e colar feito de à esquerda: Ft·anci sco I
da França rivalizava
contas de âmbar, separadas por quatro pares de pequenas pérolas de cada lado. Em uma com Henrique VIII na
pintura dos de Sacrati, atribuída a Baldassare Estense (1 443-1504), a mãe usa um col ar suntuosidade dos t rajes.
Nesta imagem, ele foi
com pequenas contas presas em finos cordões. retratado com uma
Homens e mulheres renascentistas usavam cordões de ouro, estil o particula rmente armadura ricamente
ornamentada com j oias.
popular na Alemanha. Como os fi lósofos buscavam inspiração na Grécia e na Roma anti-
gas, a nobreza popu larizou outra forma de art e clássica: o camafeu. Os melhores camafeus,
que rep resentavam cenas e figuras inspiradas na mitologia grega, eram fabricados em
Milão. Lorenzo de Médici era um conhe cido colecionador de camafeus feitos pelos princi -
pa is gravadores.
Os anéis fo ram, possivelmente, a peça mais importante das joias renascentist as. Segun-
do Sylvie Lambert, as principais inovações da ourivesaria do sécu lo XVI foram os novos
desenhos de anéis. Novamente, Gutenberg merece o crédito. O desenvo lvimento da impren-
sa, assim com o das técnicas de gravação envolvendo madeira e cobre, fi ze ram com que
lâminas e modelos fossem t rocados entre ourives e j oalheiros.
OI A

Brincos e pulseiras não eram usados com tanta frequência no século XVI na maior parte
da Europa. Quando usados, os brincos eram formados por péro las ou pedras preciosas em
forma de gotas. Na Espanha, porém, os brincos eram mais elaborados. Graças à descoberta
das Américas e ao florescente comércio com o Oriente, a Espanha se tornara o país mais
rico do mundo e o gosto por joias era uma demonstração de sua posição de inigualável
potência econômica.
Os ourives espanhóis preferiam a filigrana e o esmalte. Eles também faziam bom uso
da eno rme quantidade de esmeraldas extraídas das novas colôn ias da América do Sul e do
Peru, em particular. Os artigos que datam dessa época incluíam brincos compridos, em
forma de pingente- esmaltados, com pérolas e pedras preci osas - e a insígnia de latão ou
ouro usada pelo clero. As joias preferi das na corte t inham um estilo rel i gioso, como cruci-
fixos e pingentes, que eram ostentados nos pescoços do rei, da rainha e das camadas supe-
riores do círculo cortesão.
O conceito da arte de confeccionar joias f loresceu durante os sécu l os xv e XVI na
França, Inglaterra e Alemanha. Henrique VII I era conhecido por usar um conjunto de
joias combinadas, que incluía botões para o gibão e fivelas para prender as mangas remo-
víveis. Nessa época, nobres europeus usavam jo ias com o acessó rios em suas ricas roupas
de veludo - botões e pingentes de ouro -, assim como medalhões nos gorros e barretes.
Elizabeth I seguiu a tradição de Henrique VII I , segundo alguns historiadores, ao extre-
mo. Aparentemente, as pérolas eram suas joias preferidas e centenas fo ram costuradas
em seus vestidos, mantos, véus e rufos. Ela as usava nos cabe los e no pescoço. O broche
com monograma foi um estilo popu larizado po r sua corte e usar um relógio, introduzido
na Europa ocident al no sécu lo XV I, tornou-se uma marca de elegância durante o seu
reinado.
Na Alemanha, Augsburgo, Nuremberg e Munique eram centros de destaque na confec-
ção de joias. Em Paris, Jean Duvet, ourives de Francisco I e Henrique l i, e Etienne Delau-
ne, célebre por suas gravuras ornamentadas, produziu algumas das peças mais procuradas.

Máscaras
Durante o Renascimento, as máscaras eram cons ideradas parte integral do costume usado
ao ar livre e eram usadas por homens e mulheres. Elizabeth I usava máscaras durante as
caçadas e ao andar de carruagem. Mulheres ricas usavam máscaras ao caminhar e em oca-
• " elra:o de Ana à direita: Elizabeth I siões especiais como idas ao teatro. As francesas usavam máscaras para estarem elegan-
tinha gostos muito
extravagantes. Seu tes e também porque acreditavam que preservariam sua pele. Frequentemente, os homens
vestido é incrustado com usavam máscaras para ocultar sua identidade.
joias e o cabelo, decorado
com centenas de pérolas,
a::l:·nam o gorro, suas joias preferidas. Maquiagem e cuidados com a aparência
As mulheres não mediam esforços para parece rem mais be las. Embora as sobrancelhas e
a fronte depiladas sejam consideradas hoje a marca registrada da época, as mulheres tam-
bém aplicavam maquiagem. Ao lado de outras mulheres ricas, Catarina de Médici era
membro de uma sociedade de beleza que experimentava novos produtos e fórmulas. Diver-
sos livros sobre beleza começaram a ser publicados, destacando-se a obra L'Embelissement
et Ornement du Corps Humain, de Jean Li ebaut, médico parisiense, pub l icado em 1582.
MAQ!JIAGE J\ \ E
COM A
Esse livro incluía receitas de fórmu las cosméticas, loções corporais, métodos de cuidados
com os cabelos e produtos para tratá-los, que foram copiados durante todo o século XVII.
Acredita-se que Catarina de Médici popularizou a maquiagem entre as europeias. Ruge,
t intas e lavagens co l oridas eram popu lares entre mulheres de todas as classes. Sombras
para os olhos não eram tão comuns. O efeito desejado da maquiagem era um incremento
sutil da beleza natural. Entretanto, o hábito de aplicar pó branco à base de chumbo à face
para obt er uma tez pálida continuou durante o Renascimento.
Algumas vezes, as mulheres aplicavam um certo número de camadas na face e, como
o banho não era uma prática comum, a tinta permanecia na pele, apesar de sua fórmu la
tóxica. As mulheres ignoravam as advertências dos médicos e experimentavam outras fór-
mulas nocivas, como sublimado de mercúrio, que era aplicado na pele para deixá-la macia,
esconder manchas e disfarçar outras imperfeições faciais.
Elizabeth I era uma ávida consumidora de cosméticos. Richard Corso afirma que ela
usava, sobretudo, tinta, pó e as pintas postiças, também chamadas de moscas. Ela aplica-
va tinta vermelha e branca na pele. As moscas eram pequenos sinais de nascença pretos,
que eram usados por influência de tecidos negros adornados como o tafetá e o veludo.
A ideia era que a pinta ou sinal escu ro destacaria ainda mais a tez pálida, o ideal femini-
no da época. Corson ressalta que os cuidados com a aparência das mulheres renascentistas
buscava favo recer a perfeição de um sinal em detrimento do cuidado com os dentes.
Como os banhos não eram uma prática comum, a produção e o uso de perfumes se
difundiu durante esse período. Seu uso era muito comum e eles não eram aplicados apenas
na pele de homens e mulheres, mas aromatizavam o ar e frequentemente os animais eram
encharcados de perfume. Em 1508, os monges dominicanos do mosteiro de Santa Maria
N ovella, em Florença, criaram o que hoje é conhecida como a mais antiga perfumaria. Os
papas e os Médici eram seus cl ientes e, durante sécul os, cada novo diretor da farmácia
criou uma receita para uma "cura".
Paralelamente, a pequena vila de Grasse, no sul da França, começou a se estabe lecer
como cent ro perfum ista. A motivação inicial para a produção de perfumes em Grasse ocor-
reu porque a vila era um centro de curtumes. Normalmente, se usava urina durante o pro-
cesso de curtimento e as luvas de couro eram perfumadas para disfarçar o odor. De acor-
do com Susan I rvine em Perfume: lhe Creation and Allure o{ Classic Fragrances, os luveiros
também produziam e importavam perfumes para vender. Quando os curtumes faliram no
século XVIII, continuaram a vender perfumes.
Assim como no período medieval, era costume que as mulheres, antes do casamento,
usassem os cabelos soltos, compridos e repartidos ao meio, a partir do qual desciam casca-
à esquerda: As cortes~s,
tas de cachos. Após o casamento, as mulheres cobriam os cabelos e continuavam a depilar de Vittore Carpacc1o,
representa duas mulheres
o contorno do couro cabeludo e as sobrancelhas. No entanto, elas começaram a usar tran-
usando mechas de cabelos
ças, torcendo-as sobre a cabeça e incorporando grossas mechas de cabelo não trançado no falsos com o cabelo
alto da cabeça: um estilo em voga no fim do século xv, em Flandres. As mulheres faziam cacheado escovado para a
frente, na d1reção do
penteados com o auxílio de utensílios para cachear os cabelos, embora, normalmente, os rosto. Os vestidos têm
penteados fossem simples, deixando o toque decorativo para os acessóri os de cabeça. decotes baixos e mangas
recortadas, revelando as
As perucas e mechas de cabelos falsos também eram usadas. As melhores perucas eram roupas de baixo.
fabricadas na I tália e na França, f eitas de seda ou de cabelo ve rdadeiro, fornecido por
IAG EM E CUIDADOS
A PA RÊNC I A
camponeses e freiras. O cabelo era comprado e vendido em lei l ões públicos especializados.
O louro ainda era considerado o tom de cabelo ideal e as mulheres aplicavam alvej ante e
tinta nos cabelos para obter esta cor. Aparentemente, as fórmulas para t ing i r os cabelos se
tornaram mais sofisticadas, pois era possível obter diferentes tons de louro, como - acin-
zentado, dourado, tostado, mel ou uma combinação de tons. O banho de lua também era
considerado um método de embelezamento dos cabelos.
No i nício do século xv, homens idosos usavam barbas, mas os jovens elegantes costu-
mavam raspá-la. Um século depois, as barbas voltaram à moda. Passava-se muito t empo
cu idando delas, que eram aparadas e untadas com cera para que pudessem manter o for-
mato e ficassem cacheadas. Algumas vezes, barbas postiças eram usadas: no funeral do
duque da Borgonha, o duque da Lorena usou uma barba post iça dourada até a cintura.
Cortes de cabel o curtos foram os preferidos entre os homens durante boa parte do
Renascimento. Um corte de cuia era usado, sobretudo, por Henrique V. Seu retrato na
Nati onal Portrait Gallery, em Londres, exemplifi cao esti lo. Cabelos na altura dos ombros
e longas franjas se tornaram popula res no século xv. Luís XI da França usava o cabelo
comprido e solto. Mas os cabelos curtos se tornaram novamente populares graças ao duque
Filipe, da Borgonha: em 1641, ele adoeceu e foi forçado a raspar todo o cabelo e cerca de
500 nobres seguiram seu exemplo. Um estilo vistoso florentino, conhecido como zazzera,
um corte reto, na altura dos ombros, f risado nas laterais, se populari zou ent re os homens
elegantes de todo o continente. Em Londres e Paris, esse estilo f icou conhecido como corte
florentino.

Chapéus e acessór ios de cabeça


O retrato ati ngiu seu auge durante o Renascimento. A realeza e os membros de famílias
importantes posavam para grandes artistas e foi a pa rtir dessas obras que os historiadores
obtiveram informações sobre chapéus e penteados. O retrato de van Eyck do casal Arnolfini
mostra o homem usando um chapéu de palha que era popular entre os homens. Era con-
feccionado em palha tecida e provavelmente fora fei t o à mão por camponeses. O chaperon,
uma espécie de turbante, evoluiu a parti r do capuz. Os retratos de Henrique VIII e Eduar-
Era: =: s:e retrat o à direita: Este gorro
~ _;:_;:; de Francisco I de linho do final do
do VI mostram outros estilos luxuosos usados por homens ricos, que tinham formato de
-_,..:> .estuári o da século xvi apresenta um barrete com abas estreitas viradas para cima.
=~.a e:::oca. Ele usa complexo bordado de
; .::.ã: ::e brocado frutas e flores, usando
Os chapéus também eram adornados com joias e penas. Du rante os séculos xv e XVI,
~zJ:>, uma jaleca cores vi vas e fio dourado. as italianas costumavam usar turbantes. Capuzes também eram comuns nos Países Bai xos,
...,-.....::a e -m gorro
enquanto, na França, as mulheres usavam gorros de veludo. Faixas eram usadas amarra-
~lo com pele.
das na testa e os acessórios de cabeça também apresentavam bordados exuberantes
e pedras preciosas.

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