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O RENASCIMENTO E O SÉCVLO XVI

A moda e as formas de arte, em geral, da Europa do Norte


_gfuiça_ouoca haviam sido totalmente · ~ · , em mea-
dos do século , os hábitos italianos já divergiam consideravel-
mente daqueles _do restánte da Europa medieval. ·Nos pent~­
dos.rpor exemplo, as damas dos Países Baixos retratadas por Van
tler Weyden (fig. 70), e as da Itália, 'por Ghirlandaio (fig. 71),
çram muito diferentes. Bourrelets (penteados cheios) elaborados
eram -envoltos em véus no norte, enquanto na Itália os pentea-
os eram mUlto mais naturais e menos 'formais; entretanto. a mo-
~-PJ.lxar os cabelos- ara trás ara evidenciar a testa era uni-
~- Também era iferente ó corte das mangas, ajustadas no
norte e bufantes na Itália, com aberturas através das quais a .fiM:.
~ranca era vista. Com freqüência as mangas eram destacá-
~eis e muito ornamentadas, um reflexo do grande aumento no
luxo produzido pela prosperidade mercantil das cidades italianas.
A invasão da Itália elo rei francA Carlos I sem dúvida
trouxe a moda francesa para os italianos, mas em geral a influência 70. Retrato de uma dama,
era oposta. O Renascimento foi, pode:se dizer, transplantado atra- de Rogier van der Weyden,
vés dos Alpes, e, se Carlos VIII ainda era um fei medieval, Fran- c. 1455.
cisco I era um ,monarca do Renascimento (6g. 80). 71. Giovanna Tornabuoni,
de Domenico Ghirlandaio,
.--- Na Inglaterra, tal papel coube a Henrique VIII . É verdade 1488.
que no reinado de seu pai, Henrique vn, já haviam ocorrido DonadecasadeNuremberi
7 2.
muitas modificações nos trajes medievais. A linha, em vez de ver- e dama veneziana. Desenho de
tiêal, tornara-se horizontal; qs sapatos,~m "'Vez de exageradamente Dürer, 1495.
pontudos, adquiriram bicos 1~, c~mo para fazer eco a..Q novo Vemos aqui a variação nos penteados
e nas roupas do norte da Europa e da
~ilq arquit_eNnico com arcos achatados. Os enteados das mu-
\
Itália. A influência italiana é ev1dente
lheres eixaram de ser réplicas dos pináculos góticos...e-eomeça- no véu muito fino e no colar preto da
dama nonista de Rogiervan deKWeyden.
74
75. Os guardas suíços,
Detalhe da Missa de Bolsenr,1
de Rafael, 1511-4. '

73. Jacob Fugger, o Rico, o


banqueiro do imperador, com
Matthiius Schwarz, seu conta-
dor-chefe, 1519. '
·v.:·

74. Landsknecht alemão, ~ ' ~<: ><.\J!


c. 1530. Um exemplo, em sua ram a se assemelhar às janelas Tudor. E,_com o advento ao n2!-
forma extrema, dos recones
usados pelos mercenários alemães
s<;cu.!s4 um germanismo curioso\começou a~@! as rÔupr=
que influenciaram as roupas masculinas aà.s essoas elegantes tanto na Fran a uanto na ln
em toda a Europa. Escreveu-se muito sobre esse estranho desdobramento,· mas
os cronistas da época são quase unânimes na explicação de tal
76
77
~o . oS
.". h J -~)
f:ato pe1a v1to~1a os dos o Temerário, duque de
Borgonha, na atalha de Grandson (1476). Grande quantidade
de seda e outros tecidos cat9S-C.í!_iu na~ os vitoriosos~
QS usaram. para remendar sua:s pOOprias ou as r a as. Os tra-
jes das tropas suíças foram copiados pelos mercenários alem~
e, através deles, a moda se difundiu pela corte , prova-
velmente introduzida pela família u1se, ela própria meio.. -ale-
mã. O casamento da irmã de Henrique vn Maria
da França fez com · ' '
do landsknecht.
Os recortes (isto é, a prática de recortar aberturas no tecido
das roupas e puxar o forro atra~és delas) acabaram se tornando
~as~ univers_ais or volta de 1500, mas 1oi na Alemanha que
atmguam mawr extravagância. Pois não só o gibão, mas também
os calções eram recortados; na verdade, literalmente ''cortados
em tiras''. Os calções consistiam em tiras largas de tecido caindo
até .os joelhos e, às vezes, até os tornozelos. Cuidava-se de que
as tuas em cada perna formassem desenhos diferentes, e elas po- 78-9. Dois estágios no desenvolvimento do rufo: à esquerda, Kathen·na Knob/auchin,
de Conrad Faber, 15 32; à direita, Retrato de um homem desconhecido, de Bartolommeo ·
Veneto, a. .11terior
. a 1540.

-
76 -7 . Duque Henrique
da Saxônia e sua esposa, de
Lucas Cranach, 1514. Os re-
cortes nas roupas rnasculina5
são igualadas pelos ricos ornatos
das roupas femininas.

' I

79 I
!
~
81-2 . Helena da Bavária, de Hans Schopfer, c. 1563-66, e Jane Seymour, c. 1536-37, de
Holbein. Estas duas ilustrações mostram o decote quadrado e o contraste entre os pen- ~ . . I\
teados alemão e inglês. ( ~D...
uso de '"'eles: lince, lobo e zibelina eram as preferidas. O decote f "'J.:vv•}-~__,
e!a cortado ~adr~0o e ~ixo.,_e,_acim_a....cL ; . art~ su_ e- C~
no d mts (figs. 81-2). Os homens tambem, nos pnmeuos
anos do sécu o, usavam decotes, com a parte superior da camisa
aparecendo (figs. 79-80). J:>assava-se um cordão na extremidade,
e este, quando apertado, nos dá uma idéia do que seria o rufo
~a segunda metade do século .
..â..peça mas.c..u lina principal era o giba~, que podia che ar
até os joelhos. Po!~ ertura na rente através da qual
se via a codpiece (fig. 83 ). ~angas foram ficando mais largas,
sendo freqüentemeote a@ofadadas...ou recortadas. Usavam-se
também mangas duplas.._ sendo que um par eiá solto e de cor
diferente. Os tecidos preferidos eram o veludo, o cetim e o pano-
de-ouro. Sabemos,, pela ''Descrição de guarda-roupa'', que Hen-
rique VIII possuía um gibão de cetim roxo, bordado com fios de
ouro e prata e todo adornado com pérolas. Sobre o gibão, uma
jaqueta com abotoamento tiPo jaquetão ou fechada na frente
~ ()..\)' _9.-')- (Q,)J"N\
t·'
·'
80. Francisco I da França. Atribuído a François Clouet. Início do século XVI. \l-rn ~ ~o0t ~(/
mada "bico-de-pato" (fig. 83 ). Os saltos eram baixos; as solas,
de couro ou c.ort.i.ç;a; a parte superior, de couro, veludo ou seda.
Os sapatos freqüentemente possuíam recortes e eram adornados
com jóias.
Os chapéus eram usados tanto em ambientes fechados quan-
to ao ar livre, e em sua maioria, tomavam a forma de uma boi-
na macia e baixa. Às vezes trazia uma aba que podia ser virada
para cima na frente e mantida assim por uma jóia; ou a aba po-
dia ser cortada na frente, com os lados dobrados sobre as ore-
lhas. A aba costumava ser recortada em várias formas. Viajantes'
e camponeses usavam um chapéu de abas largas. Um detalhe cu-
rioso que sobreviveu ao período medieval foi a touca de linho
I· amarrada sob o queixo. No século xvr seu uso era limitado aos
idosos ou aos advogados e outros profissionais. Os homens usa-
vam cabelos compridos e, sob o reinado de Henrique VII e nos
primeiros anos do reinado de Henrique VIII, tinham a barba ras~

83. Hennque VIII, da escola


de Holbein. O ápice da masculi-
nidade com roupas de ombros
largos e codpiece. -

com cordões ou botões· por cima d d


I os ombros e caindo e~ pregas am e/u o,; a bec~, folgada sobre
com as bordas adornadas lp as ate os pes e geralmente
84. Costume plate,. de
Jost Amman mostrando
. . com pe e. traje bougeoiralemão, c. 1560.
AS'roupas de baiXo consistiam 1- .
1 dos juntos. A parte superior era p em c~bç~es e metas costura-
. ; resa ao gt ao por · d -...
j tos., tsto e, cordões passados por 'f: . d mew e pon-
rados em pe uen 1 on tcws nas uas peças e amar-
I linho ou sed~ co;~oa~~:ir!s~; ~~~t~s eram ~eitos de lin~a de
I Os sapatos, no início, eram extrema~e~otnh.elridas co~o atglets.
e argos, na 10rma cha-
82 .
pada. Mas em 1535 , de acordo com os An~ú de Stow " .
:h:,'~oe~:;l:d:a:';J::~~~~ ~~:~:e; ;:~:bJ!~~ e, p~a~~~
que sua barba [... ] não fosse mais raspada,'' A d . em tante,
ponto, ele estivesse seguindo a mod . . . d. rle It~-se que, nesse
cisco r. a illlcta a pe o ret francês Fran-

tados~~~~~u~~s~~~ores re~r~tos todo~ ~empos


de os foram pin-
Holbein, Bronzino.e T~~;:~~ar~ apenas ~enctonar os nomes de
pintaram indivíduos emi . as, na maiOr parte, .esses artistas
nentes em suas roupas mats pomposas.

85. Os embaixadores,
de Holbein, 1533.

86. Thomas Cranmer,


de Gerhardt Fiicke, í546.

Para conhecermos a aparência física dos menos elevados devemos


recorrer aos Kleinm.<Jister alemães como Aldegrever, os irmãos Be- -
ham, Jost Amman e Virgil Solis (fig. 84). Os Bebam nos mos~
tram os camponeses; Aldegrever, os patrícios; enquanto Jost Am-
man nos revela a vida cotidiana das classes intermediárias.
Naturalmente., esses trajes camponeses e os das 'êlasses in-
termediárias não exibiam a extravagância daqueles usados nos
círculos da corte. Mas todo cidadão próspero possuía o que os
alemães chamavam de Schaube, um sobretudo com o formato
de uma batina, geralmente sem mangas. Quando possuía man-
gas, os homens simplesmente jogavam o sobretudo sobre os om-
brps. A Schaube, üeqüentemente forrada com pele, tornou-se
o traje típico do acadêmico. Lutero usava uma e, desse modo,
estabeleceu o traje do clero luterano até os dias de hoje. Na In-
glaterra, Thomas Cranmer usava uma peça se.m elhante (fig. 86),

~c~~'Jtà~pe~~)~al1~_fo._ ~
~~~- ~.:\)~ 0'-IZ i· ~
~ I{"'{ S<J'f'<"'~ ~ W::, ,Q_ ' ~~ (yr\A._ -
O)~~ ) ct-}-_,\c&_ ~~ 0 ~~ '{ ' Q)\J\~Q
dos prefeitos. Os vestígios das mangas ainda podem ser vistos nos
trajes cerimoniais dos acadêmicos. .
. As roupas das classes altas durante a rimeira metade do
século XVI eram e cor uito vivas. Sabemos, atraves a
cnçao o guarda-roupa de Henrique VIII, que ele tinha, entre ou-
tros, gibões de veludo azul e vermelho forrados com pano-de-
ouro. E~ 1535, Thomas Cromwell deu de presente ao rei um
. gibão de veludo púrpura bordado em ouro, e algumas roupas
reais possuíam taritas incrustações de diamantes, rubis e pérolas
que o tecido ficava invisível.
O vermelho era uma das cores prediletas. No conhecido re-
trato do conde de Surrey, anteriormente atribuído a Holbein,
o jovem nobre aparece totalmente vestido em vários tons de es-
carlate. Nos retratos de príncipes alemães, feitos por Cranach,
quase todos estão usando vermelho e, apesar das leis suntuárias,
as classes intermediárias os imitavam tanto qu;mto possível. É um
comentário curioso sobre as aspirações humanas que, durante a
Revolta dos Camponeses na Alemanha, uma das reivindicações

87. Imperador Carlos V com


seu cão, de Ticiano, 1532. ·

88. Ana da Austria, rainha


da Espanha, de Sanchez Coello,
15 71. Mais um passo no desen·
volvimento do rufo. P\ ·
89. Um alfaiate, d e Giovanni Battista Moroni, c. 1571. Um exemplo das roupas das clas-
ses Intermediárias.
90 . Retrato de . ~tm jovem, de .l\ngelo Bronzino, c. 1540. As roupas àas ciasses altas mos-
tram forte influência espanhola (ver também fig. 91).

dos revoltosos era a permissão para usar roupas vermelhas como


seus supenores.
Então, em meados d.o_sécule,tu.do..m.udo:u-.-0 domínio al e-
mão da moda e .éia-wm-suas-eores-vibmnt~ form antás-
. , icas eu lugar à moda espanhola, a·ustada e sombria, de refe..
rênc·a E!:_ se-se atribum, em pane, ao gosto pessoal do im-
pera or Carlos v, famoso pela sobriedade de suas roupas e, em
pane, ao crescente poder da Espanha (fig. 87). Quat;l.do, em 1556,
Filipe n sucedeu a Carlos v como rei da Espanha, a corte espa-
nhola se transformou no exemplo admirado por toda a Europa.
" Até o rei francês Henrique vm seguiu a moda espanhola e qua-
se sempre usava preto.
Na Inglaterra, a tendência de usar cores mais sombrias po- ~ ·
de ser notada nos anos finais do reinado de Henrique m. O rei
menino Eduardo VI, que lhe sucedeu, difi~ilmente teria muita
88 . ...
91. Pierre Quthe, de François Clouet, 1562.
..
influência sobre a moda e, quando ele morreu e Maria Tudor
subiu ao trono, a tendência foi enfatizada. Seu casamento em
15 54 com o rei espanhol completou a revolução porque, apesar
de as roupas dos cortesãos espanhóis que foram à Inglaterra em
sua comitiva parecerem estranhas aos olhos ingleses, estes logo
adotaram trajes semelhantes. Mesmo quando a Maria sucedeu
Elizabeth (fig. 93 ), e mesmo quando Inglaterra e Espanha esta-
vam em guerra, a influência espanhola persistiu e pode ser nota-
da, com pequenas modificações, até o final do século.
Não era apenas na cor, ou ausência dela, que a nova moda
era diferente daquela da geração anterior. Havia uma diferença
real no corte. Cunnington resume os aspectos principais da nova
moda como "acolchoado, cinturas finas e a introdução_do tri-
cô" (Handbook of English costume in the sixteenth century).
O acolchoado era o enchimento usado nos gibões e nas meias
a fim de encorpá-los, eliminando todas as dobras. Era feito de
trapos, resíduos de lã, crina de cavalo, algodão e até farelo, ape-
92. Maria I, rainha da Inglaterra, de Antonis Mor, _l:Q4.
sar de este último às vezes provocar desastres, uma vez que todo
/ o farelo se perdia caso as roupas se rasgassem. O enchimento do ,, v~;~'"' r<fi.,.ahPth
;/J• J.\.Utldi-IJi/11
~,_.,_ ..,..,r,,
I' "retrato do arco-íris'~ c. l600 .
~

gibão no peito e também dos calções fazia a cintura parecer mais


fina, e o efeito era acentuado pelo uso de espartilhos apertados. . Já menci~namos u~r~!~i!~e :::~~~a~t~~~r:;:~~~~~~
o
Os calções curtos, com enchimento, principalmente os presos às penod_da ~(ipiente passava a existir. Quando, a parur
meias, deixavam exposta boa parte das pernas, e a introdução o cor ao e '-----'~. a da ola-al-ta-do i - antmfia a ca-
do tricô tornou possíveis meias mais ajustadas do que ante- de 1570, e e surg~u.!dc~ (~ _ ) énecessáno dizer
b utuG.e de es em r1gs. 94 5 · ., . -- _
normente.
O efeito de tudo isso era uma nova rigidez e hauteur, refle-
~ça em l
um sinal de ptivilé io aristoc~auco. E um exem-
que o ru o e~a ·. dência de as roupas masculinas mostrarem que
tindo a etiqueta rigorosa e altiva·da corte espanhola. Acabàram-se
as linhas fluidas das roupas do início do século, quando pare- ;lou::e;~ a~ ~~~vam não ~r~cisavam trabal~ar, e~:aes:o:~~~
ciam expressar a personalidade do homem e até sua própria fan- lizar qualquer tare~ ~~a:I~~:~JJ~:d~,v~~ ~ores, ~al
a pont?
tasia. Ao contrário, agora as pessoas pareciam estar demonstran- mlo avanÇa\'a, os fUlOS 0 - · levar os ah-
do ser membros de uma casta aristocrática. Ficavam empertiga- que é d~ícil imaginar como as pessoas .consegui~~ "1.
das em roupas acolchoadas e duras que formavam uma verdadeira mentos a bo__ca. 1 d 1 mento "hierárquico nas rou-
cuirasse. Os historiadores da arte notam que a pintura de retra= 0 rufo e um exemp o o ~e á . ..
tos de pessoas da corte em toda a Europa mostra-as de pé, com · 'pas. As mulheres também o usavam, ma~~~:;~da sedução',
um pé à frente, em atitude de reserva altiva, hierãtica e fígida. s~m.entO--a-5@-f-flG · os e-
como foi' chamado, é uma tentauva de e,xP orar os enca
E tal efeito foi realçado pelo aparec_imento do rufo.
90
f()2)1 ~ c:Ç _
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-{QA; l (í)_/~)V\_\ C\ ; {]:) -

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94. Madalena, duquesa de
Neuburo
. .
" ' retrato antenormente
atnbuído a Peter Candid (de Wit-
te), . c._1613
do . • O eIaborad o rufo tnplo
.
tntcto do século XVII.

95. Rainha Elizab~th em


Blackfriars, de Marcus Gheeraerts
c. 1600. '

92
. O efeito da linha vertical, agora dominante nas roupas, era gar e viajar. Eram semelhantes aos ~as<:?linos,, por.ém m~ore~
a~entu~do pelo abandono dos chapéus baixos (apesar de os apren-
e freqüentemente ~:alocados sobre uma .touca de lmho. Mas, a
dizes amda serem obrigados a usá-los por um Ato do Parlamen- medida que os penteados se tornaram mrus elaborados, essa tou<~a
to de 15 71) em favor de chapéus de vários tipos. Alguns, na ver- oi sen o gradualm.ente abandonada. O adorno da cabeça geral-
d.ade, eram gorros com uma copa alta que, às vezes, era endure- mente escondia a parte dk..t.rás_d_~cabelos, que eram tran. ados,
Cida com .t~la engQmada; outros eram chapéus verdadeiros feitos mas a part;_e~da frent~ era visível, e pod~-se ver u~na vanedade
,de matenais duros ou engomados. Um deles era o cliaiiiãdo co- considerável de arranJOS em retratos da epoca. Ate por v?lta de _
potain, que possuía uma copa alta cônica (fig. 98); ÕUtra varia- 15 70, erã afofado m~ têmporas ~ repartido ao meio. Depois, pe -
ção lembrava um chapéu-coco moderno. Eram feitos de pele de teado para trás sobre um enchimento e, ?nalmente,. levant~do
sobre um suporte de arame c amado palzsadoe. A ramha Eh.za-
castor, de fe.l~o u couro e, se desejado, enfeitados com uma plu-
beth lançou a moda de tingir os cabelos de vermelho, e multas
ma e ~a JOia ~resas à fita. Havia também chapéus com abas
mulheres, -como eraprói)ria, de~essitado de cabelos
largas e copas ba.tXas, usados por magistrados e profissionais. Eram
usados retos sobre a cabeça: o homem elegante elisabetano quã: postiços. Na velhice, a rainha usava uma ~eruca.
se sempre usava o chapéu de lado ou para trás,_ ~ A igidez que marcou as rou as masc':llmas na se . .da me-~
As mulheres também passaram .a adotar chapéus em lugar tade do século xvr J · · m4is pronuncia a nas f~mmmas O
dos capuzes e g<:>rr~s ~om os quais se sentiram satisfeitas por tan- .fQ!p_et_e, qu~foll.Il~Vª" a frent~ ~a__Esa, en uree1do com tela
engomada ou papelão e !!!anudo no lugar por ~_?.ta~s fre-
to tempo. A pnncipw, eram usados principalmente para caval-
-- - -

96· 7. Três netas e o filho de


Mildred, !ady Burghley, de
sua sepultura em
Westminster Abbey, 1589.
Os cabelos das meninas estãio
\ presos em uma espécie de
chinó. A vantagem da
escultura é que ela nos
permite ver o rufo por trás.

98. Roupas das classes


intermediárias e uma criada
em Description ofEng!and,
final do século XVI.
..

100. Sigmund Feierabendt,


o bibliófilo, de]. Sadeler, 1537.
lfaje do intelectual de classe média.

or me10
99. Rubens e sua esp~sa Isabel/a Brant, de Rubens 1610 O . . ,
gola caída, e sua esposa o rufo. A cintura desta é a~ertada p~;:t: ::;:~:::-od~;i~~-va 97
101. Baile na cone do rei Henrique III da França, final do século XVI. 102. Sir Christopher Hatton, anônimo, I. 103. Sir Uíálter Raleigh, anônimo, c. 1588.

casaco, uma espécie de jaqueta solta usada como agasalho; a


túnica, que parece ter sido um vestido solto, e a cassock, de forma
semelhante, por(:m com mangas abertas e soltas. N_as viagens,
usavam-se a ca a e também uma rou _a_çhamada ''salvaguarçla' ',
.__que parece ter sido uma so re-saia de tecido liso usada tanto como
agasalho quanto a ro o vesu o.
,- Os trajes masculinos também passaram a apresentar maior
variedade (figs. 102-3). O gibão ainda era a peça principal no
guar~de um cavalheiro, mas sobre ele podia ser .usa-
da ~~fre9üentem~_?te s~:t~f:a hav1a se
tornado md1spensavel, mas Ja não e da geração
anterior, sendo agora curta, às vezes dependurada_no ombro.
Apesar de ser originariamente uma capa para montar, durante
a segunda metade do século XVI era usada tan ambientes
fechados qu4nto ao ar livre. ~ra feita de ciclos caro , e o~
~m realmente_~~legante pree1sava de tr s , ra a manhã,
98 G.MoSl ~ rp_; \A.N ç: . f-~ ~Cf" 99 ~
SlJ-\ <?
~V\ ~)d~Ov . (il) c-97 \~v-Yf\Y..
: 02)- 3--Q \ f\C) ),_~ - \) l 7
a tarde e a noite. As capas às vezes possuíam golas altas, sendo
guarnecidas com uma palatina, em geral de do.
Vestiam também uma peça chamada 'batina'', que era uma
jaqueta larga até a altura dos quadri_:5, e o gabão, um casaco
comprido, amplo, com mangas largas. Contudo, a peça mais curiosa
do guarda-roupa masculino elisabetano ga o mandtlion ou
mandevzlle. Nada melhor do que citar a descrição de Cunnington:
"originariamente um tr~je militar, era uma jaqueta folgada, até
a altura dos quadris, .com gola alta e mangas 'de casaw' (mais
tarde, falsas). As costuras laterais eram abertas, formando um painel
r na frente e outro atrás. o abotoamento ia da gola até o peito
apenas, sendo vestido pela cabeça. Era freqüentemente usado torto,
ou de forma 'Collie-Weston', sendo este um termo de Cheshire
para qualquer coisa que dê errado. Era, portanto, usado de lado
[fig. 103], com os painéis frontal e traseiro por cima dos ombros,
enquanto uma das ma_ngas pendia na frente e a outra atrás.''
(Handbook of English costume in the sixteenth century) .
j As roupas de baixo masculinas apresentavam variações
peculiares ~a segunda n:etade do século. As m~ias costuradas aos

I calções (me1a-calça) podiam ser usadas com camons (fig. 95 ). Estes


eram calções usados por baixo (e freqüentemente de tecido
diferente), chegando até os joelhos. As meias podiam ser puxadas
sobre eles, e poderíamos dizer que a ''meia'' da era medieval se
dividiu em três peças distintas.
· Os verdadeiros q.lções, se assim os podemos chamar,
dispensavam totalmente a meia-calça. Eles adquiriam várias formas.
Os' ' 'venezianos'' eram calções bem fofos presos sob os joelhos com
botões ou cordões. Surgiram por volta de 1570, mas tornaram-se
mais populares nos últimos vinte ános do século. Quando eram
muito fofos, chamavam-se galligaskins,.gascoynes ou slops.
Com essas peças as meias adquirirârn nova importância. _Eram
.. cortadas enviesadas em tecido até 1590, sendo então cada vez mais
substituídas por meias tricotadas, às vezes de seda. Costumavam
ser de cores vibrantes, sendo a amarela uma das preferidas, e
eramadornadas com desenhos de seda colorida ou até mesmo fio de
100

104. Richard Sackvzlle, conde de Dorset, de Isaac Oliver, 1616. Ele está usando a forma de
transição entre o rufo e a gola caída. . '

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