Você está na página 1de 11

• Nesse capítulo, temos a descrição da terra árida e do sofrimento da família.

• As personagens não se comunicam; apenas duas vezes o pai, irritado com


o menino mais velho, xinga-o. Essa falta de diálogos permanece por todo
o livro, como também a intenção de não dar nome às crianças, para
caracterizar a vida mesquinha e sem sentido em que vivem os
retirantes, que não têm consciência de sua situação, embora, ainda nesse
capítulo, Fabiano e Vitória sonham com uma vida melhor.
Sinhá Vitória, queimando o assento no chão, as mãos cruzadas
segurando os joelhos ossudos, pensava em acontecimentos antigos que
não se relacionavam: festas de casamento, vaquejadas, novenas, tudo
numa confusão.
• Mais adiante é Fabiano quem sonha:

Sinha Vitória vestiria uma saia larga de ramagens. A cara murcha de sinha
Vitória remoçaria, as nádegas bambas de sinha Vitória engrossariam, a roupa
encarnada de sinha Vitória provocaria a inveja das outras caboclas...- e ele, Fabiano,
seria o vaqueiro, para bem dizer seria o dono daquele mundo... Os meninos se
espojariam na terra fofa do chiqueiro das cabras. Chocalhos tilintariam pelos
arredores. A caatinga ficaria verde.
2. Fabiano
• O segundo capítulo mostra o homem embrutecido, mas ainda capaz de analisar
a si próprio. Tem a consciência de que mal sabe falar, embora admire os que
sabem se expressar:

Na verdade falava pouco. Admirava as palavras compridas e difíceis da


gente da cidade, tentava reproduzir algumas em vão, mas sabia que
elas eram inúteis e perigosas.

• Com o retorno das chuvas, do dono da fazenda volta e Fabiano se emprega como
vaqueiro, submetendo-se ás ordens do patrão. Agora o passado ficara só na
lembrança do retirante. E ele pareceu sentir-se gente, fazendo algo digno.
Chegou mesmo a se julgar um homem, mas ele logo se corrigiu: era mesmo um
bicho.
– Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta. Conteve-se, notou
que os meninos estavam perto com certeza iam admirar-se ouvindo-o
falar só. E, pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra
ocupado em guardar coisas dos outros. Vermelho, queimado, tinha os
olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia,
cuidava de animais alheios, descobrira-se, encolhia-se na presença dos
brancos e julgava-se cabra. Olhou em torno, coam receio de que, fora os
meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiu-a,
murmurando:
– Você é um bicho, Fabiano. (RAMOS, 2002, p.18)
• Fabiano vivia longe dos homens, só se dando bem como os animais. Falava
pouco, e sempre evocava o seu compadre Tomás da Bolandeira
(descaroçadeira de algodão), que era tido como muito culto.
• Fabiano não sabia se colocar bem diante da instrução. Para ele, todo o
conhecimento do seu Tomás não impediu de cair na miséria extrema. Daí o
preconceito que Fabiano alimenta contra pessoas letradas.
• Como não aprende nada, o sertanejo desconfia das pessoas que sabem
alguma coisa. Seu Tomás da Bolandeira, se é desprezado, em certo
sentido, por Fabiano, é, no entanto, um ícone para sinhá Vitória, cujo
desejo – nunca realizado – é o de possuir uma cama igual a dele.
• Esse capítulo mostra o homem embrutecido, mas ainda capaz de analisar a
si próprio. Tem a consciência de que mal sabe falar, embora admire os que
sabem se expressar. E chega à conclusão de que não passa de um bicho.
3. Cadeia
• Certo dia, Fabiano vai à cidade comprar um corte de tecido, querosene e
rapadura e encontra um soldado, o soldado amarelo, que o convida para
jogar.
• Fabiano bebe, fica tonto e perde no jogo. Sai sem dizer nada, emudecido.
Não comprara as coisas. O que diria à sua esposa?
• O soldado o persegue e o espanca, porque ele deixou a “bodega sem se
despedir”. A autoridade ficara enfurecida com aquele desatino do
sertanejo. Fabiano xinga o soldado e é preso.
• Aqui, pela primeira vez, aparece a figura do soldado amarelo, que mais
tarde voltará simbolizando a autoridade do governo.
• Igualmente, pela primeira vez, insinua-se a ideia de que não é apenas a
seca que faz de Fabiano e sua família pessoas animalizadas.
• Ele é preso sem qualquer motivo e torna a analisar sua situação de
homem-bicho. Só que, desta vez, não tem mais coragem de sonhar com
um futuro melhor.
• Ao fim do capítulo, temo-lo ciente de sua condição de homem vencido e,
pior ainda, sem ilusões com relação à vida de seus filhos:

Sinhá Vitória dormia mal na cama de varas. Os meninos eram brutos, como
o pai. Quando crescessem, guardariam as reses dum patrão invisível, seriam
pisados, maltratados, machucados por um soldado amarelo.
4. Sinha Vitória
• Se as aspirações do marido resumem-se em saber usar as palavras
adequadas a uma situação, a de Sinhá Vitória é uma cama de couro.
• Também essa cama será motivo diversas vezes repetido no decorrer da
obra, como veremos adiante.
• Além de ser a personagem que melhor articula palavras e expressões,
consequência de ser talvez a que mais tem tempo para pensar, uma vez
que Fabiano trabalha o dia todo e à noite dorme, sem ter coragem para
devaneios ou para falsear sua dura realidade, ela é caracterizada como
esperta e descobre que o patrão rouba nas contas do marido.
5. O Menino Mais Novo
• O menino mais novo imagina montar o bode velho para imitar o pai, que
monta um cavalo. Fabiano é seu modelo e seu herói.
• E ele, quando crescer, quer ser vaqueiro, como o pai . Sem habilidade, cai
do bode, e o irmão mais velho põe-se a rir dele. Sente-se humilhando,
lamenta a falta de solidariedade da família. Mas um dia seria grande, como
o pai:

A humilhação atenuou-se pouco a pouco e morreu. Precisava entrar em casa,


jantar, dormir. E precisava crescer, ficar tão grande como Fabiano, matar
cabras a mão de pilão, trazer uma faca de ponta à cintura. Ia crescer, espichar-
se numa cama de varas, fumar cigarros de palha, calçar sapatos de couro cru.
(RAMOS< 2002, p.52)
• O ideal de vida do menino mais novo é o de se identificar com o pai.
Naquele momento Fabiano lhe causava grande admiração.
Adiante:
Evidentemente ele não era Fabiano. Mas se fosse? Precisava mostrar que podia ser
Fabiano.

Em seguida:
E precisava crescer, ficar tão grande como Fabiano, matar cobras à mão de pilão,
trazer uma faca de ponta na cintura. Ia crescer, espichar-se numa cama de varas,
fumar cigarros de palha, calçar sapatos de couro cru.
E finalmente:
Ao regressar, apear-se-ia num pulo e andaria no pátio assim, torto, de perneiras,
gibão, guarda-peito e chapéu de couro com barbicacho. O menino mais velho e
Baleia ficariam admirados.

Você também pode gostar