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BRAGA, João. História da moda: uma narrativa. 8. ed. rev.

São
Paulo: Anhembi Morumbi, 2009. CAPÍTULO 4

Idade Mode rna


Renascimento, Barroco, Rococó

Re11asc i m enta

Ü período denominado de Re11a scen ça o u Renascimento


redescobriu os valo res do humanismo g reco-roma no . Artistas e
filósofos tentava m recuperar referências da Grécia e Ro ma Anti-
gas. É lógico que o tcocentrismo da I dade Média não havia sido
abando nado, porém as referênci as antropocêntricas ga nharam
um luga r ele destaque no pensamento renascentista.
Surgiu assim a Idade Moderna em terra s d~t Penínsul a Itálica,
especificamente na cidade de Florença, e l ogo seus conceitos
fo ram sendo difundidos por toda a Europa.
O comérci o e a indústria expandiram-se; a religião católi-
ca fo i abal ada pelo protestantismo; a vida cultural citadina ga-
nho u forças nas mãos do mecenato; a secularidade sobr epôs-se
à relig iosidade; a humanidade e seu ralem o fo ram valori zados,
emre o utras características, assim se sucedeu o Renascimento .
Os tempos agora são o utros e, no que diz respeito às rou-
pas, elas também mudaram. A indústria têxtil deu um grande

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sa lto em desenvolvimento. Ci - de servir também para unir uma pern a da calça à o utra. De
dades italianas como Veneza, efeito visual bem erótico, essa peça foi chamada, em inglês, ele
Florença, Milão, Gênova e Luca codpiece; em francês, de braguetle e, em português, de porta-
foram responsáveis pela elabo- pênis. Era, de fato, um detalhe para evidenciar, ou melho r, exibir
ração de tecidos de primeira toda a masculinidade e v irilidade elo portador. Nas pernas, usa-
qualidade como brocados, ve- vam meias colo ridas, muitas vezes com características diferentes
ludos, cetins e sedas e, obvia- (cores e/ ou listras) para cada pern a, o que simbolizava um códi-
mente , esse requi nte r efl etiu go ele perrencimento ao seu respectivo clã, uma espécie ele herál-
nas roupas propriam ente ditas. dica nas roupas. Essa moda foi toda bem colorida e chamativa,
As cones européias já es- sendo a masculina mais efttsiva que a feminina. ·
tavam muito bem esrabelecicbs Para ambos os sexos, especialmente para a moela femini-
e, sendo assim, houve uma iden- na , era comum o decore acentuado, que, com o passar do tem-
tidade própri a ele cada país nos po, foi sendo vel ado e, como evolução elo efeito ele acaba men-
seus respectivos hábi tos de co- to próximo ao pescoço, surgiu um tipo de gola, denominada ele
brirem o corpo e adornarem-se. rufo, que se assemelhava a uma eno rme roda, em tecido fino e
Em um primeiro momento, a in- toda engomada em efei tos tiotaclos, que cresceu tanto que atin-
fluência maior veio das corres giu pro porções inimagináveis. É lógico que toda essa o pulência
italianas; todavia, com o tempo era sinôn imo ele prestígio social , visto que o uso dessa gola até
A saia armada, 0 aparecimento do cor- surg iram influênci as al e mãs, mesmo limitava movimentos mais v igorosos. Era normalmente
pete e o rufo identific:uam a indumcn- francesas, espanho las e inglesas.
t:íria rena sce nt ista. (A i11ja111a Isabel. . branca e podia, muitas vezes, ser o rnada (ou ser inteiriça) com
Felipe de Uano, 1581. ~luscu do Pra- De uma manetra ge ral , rendas, que, por sua vez, também eram brancas e engomadas.
do, ~ladri. ) apesar das p ecu li arid ades, a O rufo foi usado tanto por homens quanto por mulheres.
moela teve certa similaridade, pois um povo acabava influen-
Para os pés masculinos, surg iram os sapatos de bico acha-
ciando outros.
tado e largo, que era m bem mais confo rtá veis do que os pontia-
Para os homens a ro upa característica desse períod o foi o gudos do período anterio r.
gibão- o que poderia corresponder na contempo raneidacle ao
paletó - , no rmalmente acolchoado, podendo ou não ter man- Esses efeitos de arredondamentos pode-:?e dizer que tam-
gas, abotoado à frente e com uma basque sobre o calção. As bém eram refl exos ela arquitetura , uma vez que os arcos arqui-
mangas eram presas ao corpo da peça por atacadores e, para tetônicos entào já não estavam tào pontiagudos como as ogivas
disfarçar, havia uma espécie de adorno almofadado preso sobre góticas.
essa união. Sobre o gibão, usavam a jackel, ou uma túnica aber- Uma moda curiosa chamada de landsknecht veio da Al e-
ta à frenre e de grande panejamento. manha , que podemos tradu zir como talhadas. Foi o hábito ele
A parte inferior das roupas masculinas era composta pelos cortar o tecido da ro upa em tiras o u em pequenas aberturas nas
cal ções bufantes que, a princípio, eram mais l ongos, po rém , quais apareciam as peças de baixo, fosse a cbemise usada sob o
foram encurtados de uma tal forma que ficaram muito peque- gibão o u mesmo o tecido que unia as tiras elo ca lçào bufante.
nos. Sobre o ó rgão sexual usavam uma espécie de suporte que Esse detalhe foi comum para ambos os sexos; contudo, foi mais
tinha mais característica de adorno do que de proteçào, apesar evidente entre os homens.

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A moda feminina também se diferenciava de acordo com a Essa moda veio ela Inglaterra em meados do século XVI e
nacio nalidade; entretanto, era comum ?ts européias, em geral , usa- também no período elo Renascimento surg iu uma peça de gran-
rem um vestido denominado de ver/ligado, que consistia em par- de importância para toda a história da moda que foi o cotpete,
tes rígidas pa ra o tronco e que, da cintura para baixo, se abri a em q ue afun ilava a cintura fem inina de maneira bem significativa.
fo rmato cônico com armações mais rijas ainda, quase nào dando Além elo verdad eiro afunilamento elo pró prio corpo, hav ia tam-
efeito ele movimento à peça e liberdade à usuária. As mangas des- bém , e mais acentuado, um grande afunilamento visual, uma
ses vestidos normalmente eram lo ngas, largas e pendiam, muitas vez que o corpo ga nhava o aspecto de ângulo agudo à altura
vezes, quase até o chão . Em seus vertugados, as mulheres também d o quadril fem inino, que direcio nava o ol har para o ó rgão se-
faziam uso elas talhadas, e adornavam suas faces com a gola rufo. xual. Esse detalhe, já usado com o uertugado, ficava mais evi-
Para os cabelos, em um p rimeiro mo mento elo Renasci- dente ainda pelo acentuado volume das laterais das saias· quan-
mento, eram usados ado rn os mais leves (comparados aos elo do transformada s na " farthinga le".
período anterior) como red inhas, pérolas e tranças enroladas Com relação ao rufo, ele evoluiu e ganhou uma outra iclen-
sobre a cabeça, e um grande costume femini no foi acentuar a ticlade, transformando-se em um o utro tipo d e gola, também
testa não só esticando os cabelos para trás como também che- branca e rendada, em uma espécie ele resplendor que contorna-
gando até mesmo a ra spá-los mais próximos elo alto da face. va a parte de trás da cabeça, tendo uma abertura frontal q ue
Esse fo i um hábito comu m em toda a Europa. valorizava o decote do corpete. Essencialmente para as mulhe-
Um costume· muito marcant.e no período do Henascimento res, essa foi a gola Medici.
fo i o uso excessivo ele perfumes. Eram usados em p rofusão, A moda feminina foi ganhando um significativo compro-
não só sobre o corpo, mas também nas luvas, meias, sapatos etc. misso ele seduçào ao começar a evidenciar o colo com o decote
As jóias estiveram em voga tanto na Inglaterra q uanto na e também a cintura com o cotpete.
Itália, e as pesadas correntes de o uro eram muito apreciadas,
al ém ob v iamente das pedras preciosas. BC/1'/'0CO
A moela feminina, assim como a masculina, foi um tanto
q uanro colorida; todavia, uma certa referência oposta chegava ela Como contin uidade do processo antropocêntrico advindo
Espanha em meados elo século XVI, para ambos os sexos, fo i o com o Renascimento , o século XVJJ tro uxe para a humanidade
uso quase generalizado da cor preta. Esse país, por questões de a Revolução Ci entífica. A tentativa de conhecer os segredos
tradição cultural e religiosa, sempre manteve o rigor e a austeri- ela natureza fez do ser humano um gra nde• observador, que
dade em suas indumentárias, e agora, com a ascensão econômi- passou a sistemati za r com muito rigor as suas experiências.
ca, acabo u influenciando com essa moda o restante da Euro pa. Nomes como 13acon , Galileu, Newton , Descartes e o utros fize-
Não só isso contribuiu, mas também o gosto pessoal por essa cor ram do século >..'VII um verdadeiro período de transforma ção
pelo imperador espanhol Carl os V. intel ectual .
Com o passa r dos tempos, po rém ai nda dentro elos pa- Nas artes, da Itália partiu o estilo Barroco que se expandiu
drões renascentistas, a moda feminina do uertugado acabou se por toda a Europa e pelo mundo ocidental até meados do século
transfo rmando na fartbillgale, que cresceu nas l aterias elos qua- XVlll. Nomes como Velázquez, Rubens, Rembrandt, Caravaggio,
dris, atingindo volumes inusitados. As armações eram de ma- entre outros, difundiram um estilo que foi tão expressivo, em
deira, arame o u barbatanas ele bale ia para sustentarem todo esse seus efeitos de luz e sombra nas pinturas, quanto ornamental e
exagero . o pulento na arquitetura , busca ndo retratar a emoção humana .

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O re inado ele Luís XIV- o rei-Sol (1643-1715) - iniciou- Para as mulhe res, à exceção ela Espanha , não se usava
se no decorrer da Gue rra dos Trinta Anos (1618-1648). Nesse mais o vertugado e sim uma sobreposição de anáguas sob uma
período, nenhuma corte era capaz ele ditar modos e modas; não sa ia mais arredondada.
havia unidade nas vestimentas na Europa , que variavam ele acor- Por volta ela década de 40 do século XVII , os cabelos lon-
do com cada país . gos naturais masculinos entraram na mo ela; poré m, havia aque-
A Holanda, com seus burgueses ricos, por exemplo, rece- les não muito dotados ele cabele ira que faziam uso ele perucas
bia a influê ncia espanhola e, assim como também o protestan- e, sendo assim, as mesmas se tornaram um húbito de moda. A
tismo local, continuou a usa r o pre to com muita auste ridade. O peruca transformou-se num dos eleme ntos mais importantes ela
rufo também e ra usado e, na realidade, tornou-se ainda maior. elegâ ncia masculina. Luís X1V chegou a conceder licença em
1655 a 48 fabricantes de peruca e m Paris. ·
De uma forma geral, para a moda masculina, o gibão am-
pliou-se e alargou-se. Com os culottes, aconteceu o mes mo, além A partir de 1660, a corte ele Versalhes começou , ele fato, a
de te rem ido até abaixo elos joelhos. se impor para o restante ela Europa com os novos padrões so-
ciais, criando boas maneiras, etiquetas, modos e, principalmen-
A re nda
te , moela.
es tava muito
e m ev idê n c ia ' Desse momento em diante, a moda masculina desenvol-
e m punhos e veu-se muito mais que a fe minina ,. O pitoresco /
passou a ser
golas, tanto para uma marca registrada para ambos os sexos. A roupa elos ho-
ho me ns quan- mens ganhou uma ide ntidade muito marcante: o culotte! Ele tor-
to para mulhe- nou-se bem largo, chegando até aos joelhos, com ornamentos
res. Já não se ele bordados e re ndas, assemelhando-se mais a um sa iote curto
usa v a mais o do que a um calção. /
rufo, que havia Uma significativa quantidade ele re ndas enfe itava externa-
se transforma- mente o culotte, que recebia o nome de 1·hingrcwe, adquirindo
do no cabeção nítidas referências feminilizantes./
- gola e ngo -
Por volta de 1680, os excessos começam a perder espaço
mada , normal- O p eríodo Barroco foi car:1C1erizado pelo excesso visual. I
( RA CINET, Albcrt. Enciclopédia Hislórica do Traje. Lisboa: em favor ele um aspecto ele esplendor. Por influência o riental,
me nte de re n- Replicação, 1994.) •
os homens começaram a usar uma espécie de túnica longa que,
da, ligeiramen-
com o te mpo, foi se encurtando e se transformou na veste,
te inclinada para cima na parte ele trás, que parecia deixar a
que mais tarde, por sua vez, transformou-se no colete,tbem..sg.ro-
cabeça apoiada sobre uma base inclinada - e que vai também
prido de início, chegando à altura dos joelhos. Usavam também
se transformar na gola caída, q ue se apoiava e norme me nte so-
b -culotte, agora bem mais justo e, como comple mento geral,
bre os ombros, tanto para os homens quanto para as mulheres.
uma casaca. Os tecidos, veludos e brocados em especial, eram
Para o gênero masculino, era muito comum o uso de botas, bem sofisticados.,
q ue eram adornadas em seus canhões com magníficas rendas. Es-
sas botas, que ele início se destinavam só para montaria , ganha- Na última década do sécu lo XVII, s urgiu para o homem
ram também o status de moda. Foi a época da França dos mos- uma esp écie de gravata de re nda , ou mesmo de tecido ador-
quete iros e ela Inglaterr.t elos cavaleiros. nada de re ndas.

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' As meias de seda obviamente eram indispensáveis. fc om Os pensadores elo Ilu-
relação aos adornos de cabeça, os_ ingleses usavam chapéus de minismo eram chamados
copa alta e abas longas, ao passo que os dos franceses eram de de pbilosopbes, e tinham
copa baixa e abas largas. No que d iz resp eito a todo esse es- como objeti vo compreen-
pl endor dos homens, parece mesmo que o único elemento ele der a natureza, bem como
masculinidade visível era um peq ueno bigode_. a sociedade, por meio da
Para a moda feminina ,! havia também a correspondência razão. Paris foi o epicentro
dessa filosofia, irradiando a
ele todo esse esplendor. As mu lheres usavam camisa ele manga
idéia e encontra ndo adep-
curta , havendo a sóbrecamisa com decotes acentuados c d e
tos em toda a Europa c na
mangas até os cotovelos.f As cinturas eram finas, marcadas pelo
América do Nonc . Essa afir-
uso ele um corpete rijo e apertado. Os tecidos também eram
mação da razão e ela liber-
luxuosos e caros, p redominando as cores como o vermelho-
dade ecoou tanto no pen-
escarlate, o vermelho-cereja e o azul -escuro; todavia , apa reciam
samento político quanto no
cores mais claras como o rosa, o azul-céu e o amarelo-pálido.
social c econõmico.
Nas cabeças, as mulheres não usava m perucas, adornavam-
nas com um penteado denominado ele à la Fontcmge - nome As artes evoluíram
originado do de tnna elas preferidas ele Luís XI V - , uma espé- elo Barroco para o Roco-
cie de penteado com ares de d espenteado, preso por fitas. Com có, que teve seu início em
Os bab::tdos, I:Jcinhos e tlores reve lam o <:xa- solo fran cês. Se o Barroco
o tempo, incrementaram os cabelos com rendas, toucas e arma- gcro do Hococó. ( Netmto da Marquesa de Pom -
ções ele arame para manter de pé um volume tão alto. pa do u r . rran ço i s Bouchcr. 1756. Alt c já fo i um ex age r o, o
Pin ako thck, 1\l uniquc.) Rococó pode ser conside-
Um complemento muito curioso ele uso feminino foram as rado "o exagero do exage-
chamadas moucbes de beauté (moscas ele beleza), que vigoraram ro" . Apesar dessa característica, foi uma arte tão requintada quanto
na segunda metade do século XVII. T inham o aspecto ele pintas; aristocrútica, buscando se expressar mais pela leveza e pela clelica-
eram feitas de seda preta com desenhos inusitados que conti- clcza. O Rococó privilegiou valores ornamentais e decorati vos e
nham um materi al colante por trás para serem aplicadas sobre a toda essa opulência e luxo foram transportados para a moda.
face. Com relação aos motivos, podiam ser os mais variados pos-
O período de transição entre o Barroco e o Rococó na
síveis, como meia-luas, estrelas e corações. O efeito obtido era
França foi denominado de Regê11cia (1715-1 730). Se o Barroco
de charme e servia para acentuar a expressão facial. Havia as
esteve associado a Luís ?.1 V, o Rococó o foi com Luís XV; e,
grandes moscas com motivos como sóis, pombas, carruagens e
enqu anto da sua minoridacle, houve a Regênci a de Philippe
cupidos. Foi a pura essência elos excessos do Barroco.
d 'Orleans (17 15-1723). A moda, nesse momento, manteve-se com
toda a pompa e rigor já existentes. Os costumes de então priv i-
Rococó l egiaram a frivolidade. O aspecto de fineza e leveza eram maio-
res do que na época ele Luís À1V. As ro upas estavam mais fá ceis
Assim como o Renascimento foi o passo inicial para a Re- de serem usadas do que aquelas do período anterio r. A renda
volução Científica, esta, por sua vez, foi, ao mesmo tempo, ali- permanecia em vigor para os punhos das mangas ele camisas e
cerce e al avanca para o Iluminismo elo século XVIII , estabele- os coletes eram sofisticadamente orna mentados. O volume das
cendo assim o apogeu da modernidade. • perucas d iminuiu um pouco, porém , agora, havia o hábito de

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empoá-las com pó branco. Na moda feminina, a silhueta e a qua- e sa patos de sa ltos ( mais baixos que os do período anterior).
lidade elas roupas também mudaram. O penteado à la Fontange Na moda masculina , pouca coisa mudou desde o final elo reina-
desaparece u , predominando então um pemea do baixo e elo de Luís XlV. Os coletes eram bordados e abotoados à frente,
empoado. Os volumes cônicos elas saias, por sua vez, foram man- as casacas, também com os botões fronta i s, passa ram a ser
tidos com o uso de barbatanas ele baleia. bordadas a partir da segunda metade elo século XVIII.
O período do Rococó propriamente dito foi de 1730 a 1789, Os cabelos, ou mesmo as perucas, eram amarrados atrás
quando ocorreu a insurreição ela Revolução Francesa . A falta d e
em rabo-de-cavalo . As perucas podiam ser de cabel os naturais,
moderação foi a grande característica do período antecedente,
crina de bode ou de cavalo e também de fibra s vegetais. Além
predominando em to·dos os setores os exageros. Decorar exces-
de ser em empoados (cabelos e/ ou perucas) ele cinza ou bran-
sivamente foi o valor predominante. Caprichos e bizarrices mar-
co, hábito que vem desde o princípio elo século XVIII e perdu-
caram o gosto pela excentricidade.
rou até a Revolução Francesa (reinado ele Luís },.'VI), ganhavam
A moda feminina sob o reinado ele Luís XV manteve o uso ela agora, sob Luís XV, um laço de fita ele seda preta na nuca e um
maquiagem e dos pós nos cabelos; os volumes ele suas roupas outro na ponta elo rabo-el e-cava lo. Al ém do mais, usavam o cha-
dificultavam o caminhar. A flor foi o grande ornamenro, nunca tão péu tricórnio na cor preta. Assim a França lançou moda e in-
usada como então em vestidos e cabelos, tanto as naturais quanto flu enciou toda a Europa.
as artificiais. Enquanto as saias elos vestidos estiveram bem volu-
A partir ele 1760, a burguesia campestre inglesa exerceu
mosas, os seus corpetes ajustavam consideravelmente o busto e a
uma grande influência na moela , preva lecendo uma nítida refe-
cintura. Os vestidos eram denominados ele abe110 ou fechado. O
rência à praticidade e à simplicidade nas roupas.
primeiro era composto de corpete decotado em formato quadrado
com mangas até os cotovelos terminadas em babados de rendas e Com o tempo, a aristocracia francesa começou a d eclinar
lacinhos de fita; foi caracterizado como aberto pelo recone frontal em poderes políticos e econômicos; todavia , ainda demonstra-
na sobre-saia q ue dei..xava aparecer a saia de baixo repleta de or- vam riqueza por meio de suas roupas, principalmente no último
namentos. O vestido fechado, por sua vez, mantinha as mesmas momento do Rococó, que foi de 1770 a 1789. Luís },.'VI subiu ao
características, todavia sem ter a sobre-saia abelta. Nas costas de trono em 1774, e sua mulher, a austríaca Maria Antonieta, to r-
ambos os modelos, era comum haver pregas largas, denominadas nou-se rainha da França .
de à \flallecw, que pendiam desde os ombros até o chão. Os volu- O que muito marcou esse momento na moela feminina foram
mes laterais das saias eram obtidos por armações, denominadas os penteados, que já vinham ·se elevando desde 1760, mas, de
de pcmiers (cesto, em francês), de galhos, normalmente de sal- fato, foram assimilados a partir de 1770. Foram levados às últimas
gueiro ou vime. conseqüências em proporção e enfeites. Lembremos que as mu-
Tecidos como a seda e grossos brocados ornamentados com lheres não usavam perucas e seus adornos eram feitos com os
flores eram os preferidos tanto pelas mulheres q uanto pelos ho- próprios cabelos. Utilizavam-se de recursos ele enchimentos para
mens. O gosto pela inspiração na natureza prevalecia. Delicados obterem volumes consideráveis. Untavam-nos para aplicar-lhes o
sapatos calçavam os pés femininos. pó e enfeitavam-nos com cestos de frutas, caravelas, cenas pasto-
O s cabelos minuciosamente elaborados e empoados com- rais, moinhos de vento, borboletas etc. Para manter todo esse vo-
punham o conjunto ornando a face. lume de pé, usavam um supo11e ele crina de cavalo por trás da cabe-
ça, além elo recurso dos alfinetes. Se o Barroco esteve associado às
Para C?S homens desse período, a toifelle era composta de perucas e aos peruqueiros, especialmente masculinos, o Rococó
cu/oi/e justo até os joelhos, camisa, colete, casaca, meias brancas foi ligado aos penteados enormes e aos cabeleireiros femininos.

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No final do Rococó, tam bém fo i comum entre as mulheres
CAPÍTULO 5
a sa ia ele eno rmes volumes laterais, o btidos com excessivos
pc111iers, que, para passarem po r uma porta, era necessári o abri-
b em suas duas panes; ela mesma forma que, ao sentarem num
ba nco de jardim, o ocupavam praticamente todo .
Os decotes dos corpetes to rnaram-se mais profund os, mui-
tas vezes o rnad os sobre os o mbros <.:om um lenço branco qua-
drado dobrado em formato triangular denominado de ficbu.
Idade Contemporânea: Século XIX
Império, Romantismo,
BRAGA, João. História da moda: uma narrativa. 8. ed. rev. Era Vitoriana, La Belle Époque
São Paulo: Anhembi Morumbi, 2009.

império

C omo vimos, o períod o d o Rococó, o que antecedeu :1


Revolução Francesa, foi um momento d e grand e fausto para
aqueles que tinham privilégios. A sociedade francesa estava di-
v idida em três estados o u ordens, sendo o primeiro o clero; o
segundo, a nobreza; e o terceiro, o resta nte da po pulação. O
primeiro e o segundo estados compunham a classe privilegiada
enquanto o terceiro se diferenciava por ser composto especial-
mente pelos menos favorecidos economicamente. Até mesmo a
burguesia pertencia ao terceiro estado, d e o nde surgiu a lide-
rança ela Revolução; todavia, o sucesso desse movimento de-
pendeu de fato dos outros componentes desse estado, que eram
os campesinos e os trabalhadores urbanos.
A insatisfação com as diferenças sociais e o excesso ele
privilégios das classes favorecidas gerou uma revolta po pular
que cu lmino u com a To mada e Queda da Bastilha em 14 de
julho de 1789. Essa se tornou a data-marco de todo o processo
revoluci o nário . Assim , a Histó ri a ocidental viveu um g rande

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