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Arte Parietal de Pompéia: Imagem e cotidiano no mundo romano

Article  in  Domínios da Imagem · August 2007


DOI: 10.5433/2237-9126.2007v1n1p13

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Renata Senna Garraffoni


Universidade Federal do Paraná
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ARTE PARIETAL DE POMPÉIA: IMAGEM E COTIDIANO NO MUNDO ROMANO

Arte Parietal de Pompéia:


Imagem e cotidiano no mundo romano

Renata Senna Garraffoni


Doutora em História pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Professora do
Departamento de História da Universidade Federal do Paraná e do Programa de Pós-graduação
em História da Universidade Federal do Paraná. Atua no Centro de Pensamento Antigo (CPA) e do
Núcleo de Estudos Estratégicos (NEE), ambos da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).
Autora de, entre outros livros, Gladiadores na Roma Antiga: dos combates às paixões cotidianas. São
Paulo: Annablume/Fapesp. 2005. resenna93@hotmail.com

RESUMO
O artigo apresenta um debate acerca da relevância dos estudos sobre as sociedades antigas,
do dialogo entre a Arqueologia e a História e de como os historiadores abordaram seus
estudos a respeito de tal tema. Chama a atenção para as muitas intervenções humanas que as
cidades antigas sofreram, mas, como é possível por meio da pintura parietal e dos grafites,
promover novas interpretações desse passado. Trata das fontes, e destaca os conflitos e
contradições da cidade da Campânia promovidos entre grupos rivais. Esta análise é feita por
meio do grafite que permitiu construir outras significações do cotidiano apontando a rivalidade
para muito além dos grupos comumente estudados. Destaca que a imagem como uma fonte
independente é capaz de expressar significados estéticos e simbólicos, ajuda a construir uma
interpretação mais complexa do acontecimento estudado.
PALAVRAS-CHAVE: cultura material; grafite; imagem.

ABSTRACT
The article discusses about the relevance of studies on ancient societies, the dialogue between
Archeology and History and how historians conduct their researchers on this theme. It pretends
to emphasize human intervention that ancient cities went through, but, how it is possible,
analyzing wall painting and graffiti from Pompeii, making new interpretations of the past.
Studying the historical source, it detaches the conflicts and contradictions of the city of
Campânia promoted by opponent groups. This analysis is based on those graffiti that allowed
the construction of other signification of the daily life, showing the rivalry besides those
groups usually studied. Emphasizes that image, as an independent historical source, is able to
express esthetic and symbolic meanings, and helps us to build an interpretation more complex
of the studied event.
KEY WORDS: material culture; graffiti; image.

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RENATA SENNA GARRAFFONI

Arte Parietal de Pompéia:


Imagem e cotidiano no mundo romano

Introdução História e Arqueologia tornaram-se as


ciências que definiam métodos e técnicas para
Caminhar pelas largas avenidas de Roma ordenar o passado, dar-lhe um sentido para
ou as estreitas vielas das cidades romanas que construir as identidades nacionais e as fronteiras
se espalharam pela Europa, norte da África dos países que se formavam. Dentro do âmbito
ou Oriente é sempre uma experiência do positivismo, da busca pelo passado ‘tal como
particular. As ruínas que ali permanecem ele realmente aconteceu’ nas palavras de
ainda hoje impressionam pela sua beleza Ranke, as primeiras coleções de documentos
arquitetônica e diversidade de estruturas, foram estabelecidos. Durante décadas, a
proporcionando aos passantes uma objetividade da Ciência foi fundamental para
percepção fragmentada das cidades antigas. que os intelectuais definissem as linhas de
Em cada momento histórico, estes estudos baseadas em descrições das fontes e,
fragmentos despertaram reações distintas: em também, separassem os materiais a serem
alguns períodos as estruturas remanescentes preservados ou descartados. Em geral,
foram reutilizadas na construção de novos preservou-se tudo aquilo que representava a
edifícios, em outros a preservação foi tema grandiosidade dos romanos, focando as
de discussões e lutas para a manutenção da interpretações nas narrativas sobre os grandes
memória dos antepassados1. Modernamente, homens e em suas conquistas bélicas.
em especial a partir do século XIX, as cidades É somente no século XX que estas certezas
romanas passaram a serem exploradas pela começam a serem questionadas. A partir das
Arqueologia que, então, nascia como trilhas abertas por Marc Bloch e Lucien Febvre,
disciplina científica atrelada à História2. Neste a chamada Escola dos Annales construiu
novo contexto, em que os estados nacionais diversos campos de reflexão sobre a relação
começavam a se delinear, a idéia na qual um dos homens com seu passado. A idéia na qual
povo se definia por uma língua e um território o presente influencia a interpretação do
comum modificou a relação dos europeus com passado, a percepção que o estudioso é, antes
seu passado (Funari e Cavicchioli, 2005). de tudo, um sujeito que interfere na

1
Rafael de Urbino, durante o Renascimento italiano, é um dos primeiros a destacar a importância de preservar Roma, a qual chamou
de “Cidade Eterna”. Sobre esta questão, cf., por exemplo, Teodoro, 1994; Nesseralt 1984; Burns, 1984.
2
É importante destacar que na Europa a Arqueologia surgiu derivada da Filologia e História, preocupada em estudar os vestígios
materiais do ocidente, diferente do que ocorreu na América. Para maiores detalhes, cf., por exemplo, Funari e Cavicchioli, 2005.

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construção de seu corpus de documentos ou surgiu como um núcleo de agricultores e


a recusa ao totalitarismo e o imperialismo que pescadores oscos na Idade do ferro. Desde o
produziam interpretações unilaterais das século VIII a.C., Pompéia foi habitada por
experiências passadas formaram uma postura diferentes povos e, por se localizar próxima
particular, na qual intelectuais se reuniram em ao mar, sempre favoreceu a circulação de
um espírito de busca por interpretações menos pessoas. Assim, oscos, etruscos, gregos,
lineares da História. samnitas e romanos circularam por este
Esta perspectiva foi fundamental para espaço em diversos períodos tornando a
ampliar a percepção do que é um documento cidade um importante local de comércio e
histórico, até então entendido como texto, veraneio (Cavicchioli, 2004).
construindo uma História baseada em uma Soterrada pelo vulcão Vesúvio no ano de
multiplicidade de fontes e de métodos 79 d.C., Pompéia permaneceu desaparecida
interpretativos calcados na interdisciplina- até o século XVIII, quando as primeiras
ridade (Le Goff, 2001). É dentro deste incursões foram feitas no local. Somente em
contexto que se insere a presente reflexão 1763 foi confirmado que as ruínas ali
sobre a arte romana. Considerando que a presentes eram da cidade de Pompéia, pois
preservação da arte parietal romana não é foi encontrada uma inscrição dedicada à
somente técnica, mas também estética e cidade (Funari, 2003). No entanto, como
política e partindo do pressuposto que o neste momento a Arqueologia como
estudo deste tipo de documentação requer disciplina ainda não existia, as primeiras
um esforço interdisciplinar, ou seja, um diálogo escavações foram feitas de forma aleatória,
entre História e Arqueologia, gostaria, nesta procurando preservar aquilo que a nobreza
ocasião, de propor uma discussão sobre o napolitana do momento acreditava ser mais
cotidiano romano, suas incertezas e conflitos, valioso. Neste contexto, muito se perdeu, em
tendo em vista a rixa de torcedores ocorrida especial pela falta de preservação e
no anfiteatro de Pompéia no ano de 59 d.C. constantes saques. Muitos estudiosos de
Para tanto, procurarei fazer uma reflexão Pompéia, como Varone (1998), apontam a
sobre a importância de Pompéia para se necessidade de se entender este contexto,
pensar o mundo romano e, em segundo lugar, pois a de retirada de objetos de valor artístico
discutirei como as imagens presentes nas de sítios abandonados e o hábito de
paredes desta pequena cidade da Campânia colecionar antiguidades era uma prática
romana podem ser consideradas um comum no momento.
importante corpus de documento para uma Embora durante este período Pompéia
análise do dia a dia das pessoas que tenha sido visitada por pessoas que
circularam por estas ruas antigas. defendiam o fim destas pilhagens, Etienne
(1994) afirma que, somente no século XIX, a
Escavando Pompéia cidade passar a ter uma intervenção mais
sistemática e menos destruidora. Mesmo que
Pompéia, localizada próxima à bacia de em alguns momentos o interesse tenha sido
Nápolis, no sul da Península itálica, é menor pela escavação, sabemos que Victorio
considerada pelos estudiosos um dos mais Emmanuele, rei da Itália e seu unificador,
importantes sítios arqueológicos do mundo aponta Fiorelli como responsável pelo estudo
antigo. Muitos acreditam que esta cidade de Pompéia. É somente com Fiorelli que a

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cidade passa a ter uma exploração mais consideramos o sítio arqueológico de


científica e Etienne destaca que foi este Pompéia é um local que passou por diversas
homem quem dividiu a cidade em regiões e intervenções sejam elas naturais, como a
quarteirões (insulae), sistema de demarcação erupção do Vesúvio que preservou alguns de
utilizado até hoje pelos arqueólogos, além de seus aspectos, mas destruiu outros e as
ter escavado o prostíbulo e outras regiões da escavações do local. Tais escavações foram
cidade. permeadas por saques, atravessadas pela
Se Fiorelli é um dos mais importantes estética napolitana do século XVIII, pelas
arqueólogos do século XIX, responsável por primeiras escavações científicas, pelo
uma escavação menos destrutiva, Amadeo fascismo de Mussolini e pela destruição dos
Maiuri é o superintendente mais polêmico do bombardeios durante a II Guerra. Assim, o
século XX. Mauiri ocupou o cargo entre 1924 que hoje se preservou não deve ser entendido
e 1961 desenvolvendo seus trabalhos a partir como uma ilustração direta do que era uma
de financiamentos do governo fascista de pequena cidade administrada pelos romanos
Mussolini. Embora boa parte de Pompéia no século I d.C., mas um sítio arqueológico
tenha sido escavada neste período, estudiosos que sofreu alterações naturais e humanas.
criticam as restaurações inadequadas por ele Neste sentido, mais do que estudarmos o
propostas que mais indicavam uma cotidiano de Pompéia como um reflexo do
percepção fascista do que era o Império do dia a dia romano, a idéia seria pensar este
que uma estética romana propriamente dita. local na sua especificidade, nas suas tensões
Suas restaurações visavam à propaganda do e conflitos, entendendo o mundo romano não
regime fascista, tornando Pompéia o orgulho como uma sociedade homogenia, mas
nacional, substrato para as idéias de formada a partir de uma pluralidade de
superioridade italiana moderna, já que estes sujeitos. Esta perspectiva possibilita o
descendiam de um povo conquistador. questionamento de parâmetros culturais
Cavicchioli (2004) ressalta ainda que, durante absolutos para os romanos que foram
direção de Maiuri, muitos objetos foram estabelecidos pela historiografia ao longo do
retirados de seus contextos originais, em século XX e foca na experiência de vida,
especial os que feriam a conduta de enfatizando sua fluidez e contradições3.
moralidade fascista como as pinturas e objetos Se por um lado as intervenções alteraram
com representações sexuais ou fálicas, a estrutura da cidade, por outro é importante
descritas na época como pornográficas. ressaltar que nem sempre Pompéia esteve no
Atitudes como esta restringiam o acesso ao centro das interpretações dos estudiosos.
material escavado em Pompéia, bem como Durante muito tempo foi considerada um
alteraram os contextos nas quais foram mero depósito de evidências e muitos
encontrados. classicistas recorriam à cidade para
Estas considerações acerca da escavação comprovar o que tinham lido nos textos
de Pompéia, embora tenham sido romanos. Com o desenvolvimento da
apresentadas de maneira sucinta, permite Arqueologia, em especial de vertentes de
uma reflexão particular: o que hoje pensamento que questionaram a idéia na

3
Sobre a importância da História do cotidiano para desmistificar interpretações absolutas da sociedade, cf., por exemplo, Dias
1998.

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qual a Arqueologia servia para escavar dados desobrigada de comprovar o relato de Tácito
para suprir a História, a relação entre ambas pode fornecer indícios para pensarmos as
disciplinas se alterou 4 . Assim, muitos formas de identidade nesta cidade. Para
estudiosos têm trabalhado em uma tanto, seria interessante, antes de
perspectiva dialógica, ou seja, ao invés de interpretarmos as evidências, tecermos alguns
utilizarem a cultura material como ilustração comentários sobre a arte parietal romana.
do texto, cada artefato passou a ser Arte parietal romana: as pinturas e os
interpretado em seu contexto, ora grafites
preenchendo lacunas da documentação As paredes da cidade de Pompéia, que
escrita, ora conflitando com ela. sobreviveram à erupção do Vesúvio,
A partir do exposto, ressalto que minha tornaram-se um importante corpus de
aproximação de Pompéia e seu cotidiano é pinturas e inscrições acerca do mundo
feita tendo por base um viés que considera as romano. Seguramente, Pompéia possui
intervenções no sítio e seus limites e visa uma apenas uma fração dos estilos de arte parietal
interpretação da cultura material a partir de que se desenvolveram no mundo romano,
suas particularidades, pois como afirma mas foi a partir dela que foram estabelecidas
Dommelen (1997), a Arqueologia permite o as cronologias e as tipologias ainda no século
estudo de caso redefinindo a situação do local XIX. Como basearei minha análise em duas
em que os artefatos foram encontrados. categorias imagéticas distintas, a pintura e os
Dentro do universo cultural de Pompéia e sua grafites, é interessante pensar o contexto de
diversidade, enfocarei, nesta ocasião, as estudo de cada uma delas. Iniciemos pelas
paredes da cidade, pois nelas é possível notar pinturas.
expressões imagéticas e epigráficas das mais Funari e Cavicchioli (2005) afirmam que
variadas espécies: pinturas de refinados embora tenham existido pinturas portáteis,
estilos, grafites que tratam desde ofensas em geral feitas em painéis de madeira, a partir
pessoais a poesias amorais, passando por do século I a.C. as pinturas de parede passam
ironias e charadas, além de propagandas a fazer parte da estética artística romana. Os
eleitorais ou dos espetáculos públicos. autores destacam, também, que a técnica
Como a idéia é pensar os conflitos e pictórica mais comum era o afresco. A parede
contradições desta cidade da Campânia, era preparada com uma capa de cal e pó de
gostaria de me deter a um estudo de caso mármore e os extratos de preparação
específico: a rixa que ocorreu no anfiteatro. poderiam conter até sete camadas, em uma
Há diferentes tipos de registros sobre este tentativa de refinar a parede e, ao mesmo
evento. O mais conhecido é o relato de Tácito, tempo, evitar umidade e infiltrações. Em geral
nos Anais (XIV, 17) e a arte parietal, seja a a pintura era feita antes da última camada,
pintura como os grafites, é pouco valorizada, desenhada por um pintor mais experiente
pois tradicionalmente é empregada para que delineava a decoração e o trabalho era
ilustrar a descrição do historiador romano. No completado por seus ajudantes. Tais pinturas,
entanto, uma leitura cuidadosa das imagens segundo Funari e Cavicchioli, poderiam ser
destas paredes em seu contexto original e realizadas nas paredes internas ou externas

4
Sobre o questionamento da idéia da Arqueologia como “serva” da História, cf. Funari et Zarankin, 2001; Funari, Jones et Hall,
1999; Storey, 1999.

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da casa, sendo que estas últimas recebiam locais, com a inclusão de elementos teatrais
menos cuidados e foram consideradas, pelos e satíricos que expressariam as escolhas da
estudiosos modernos, com menos valor elite pompeiana. Além de um debate interno
artístico. sobre estes estilos e suas modificações, há
As pinturas variavam de acordo com o também uma discussão acerca de quais
contexto, isto é, dependendo do cômodo, da pinturas poderiam ser enquadradas nestes
luminosidade, dos móveis e do efeito que se estilos. Há uma grande quantidade de
queria proporcionar, tornando-se, assim, uma pinturas de jardins e peristilos, por exemplo,
arte complexa, organizada e planejada. Dada que não fazem parte destes estilos e foram
a diversidade, Ling (1991) afirma que as denominadas de populares. Entre estes
pinturas mais elaboradas foram as mais pinturas estão as cenas cotidianas, como a
estudadas por historiadores da Arte, sendo rixa no anfiteatro ou as chamadas pinturas
que o primeiro a estabelecer as diferenças e eróticas. Tal diferenciação indica que os
os tipos de estilo foi Augusto Mau, em 1882. critérios de catalogação não são neutros, são
Apesar das críticas e complementos construídos a partir da perspectivas dos
posteriores, a divisão em quatro estilos estudiosos e, como afirmam Funari e
proposta por Mau segue sendo utilizada até Cavicchioli, muitas vezes, expressam quais os
hoje. De maneira resumida, é possível afirmar aspectos da cultura romana se pretendem
que o critério empregado por Mau foi preservar.
cronológico estabelecendo a seguinte Se por um lado os sistemas de pintura
evolução: Estilo I “estrutural ou mármore foram catalogados e têm sido
fingido” (do séc. III a.C. até séc. I a.C.) – relevo sistematicamente estudados, por outro, os
criava a impressão de placas de mármore; grafites de parede ainda são pouco
Estilo II “estilo arquitetônico” (séc. I a.C.) – conhecidos. Desde o século XIX, todas estas
perspectivas falsas, colunas e outros tipos de inscrições de cunho popular são catalogadas
imitação arquitetônica; Estilo III “estilo no CIL, Corpus Inscriptionum Latinarum, mas
ornamental” (final do séc. I a.C. até início do foram poucos os estudiosos que se dedicaram
séc. I d.C.) – ornamentação rica e delicada, a interpretá-las, se compararmos com as
muitos motivos egípcios; Estilo IV “estilo pesquisas acerca das pinturas dos IV estilos.
fantástico” (início do século I d.C.) – estilo Segundo Feitosa (2005: 59-61), até há pouco
rebuscado e forte presença de elementos da tempo, o volume IV, destinado a região
mitologia5. vesuviana, contava com quase onze mil
No que diz respeito à evolução e grafites. A grande maioria deles é copiada
transformações deste estilo há um grande conforme os originais, mas há muitos que são
debate. O próprio Mau afirmou que as anotados a partir da pontuação e
transformações eram algo externo a Pompéia, interpretação do paleógrafo que o
enquanto que Little (1945), já nos anos de transcreveu. Esta ressalva é muito importante,
1940, discordava desta postura, pois temos que estar conscientes que a leitura
argumentando que, embora haja uma que fazemos destes grafites pode ser
influência helênica, os estilos de Pompéia influenciada pela anotação de outros.
teriam se modificado a partir dos gostos

5
Para maiores detalhes sobre os estilos, cf. Funari e Cavicchioli, 2005: 115-116.

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ARTE PARIETAL DE POMPÉIA: IMAGEM E COTIDIANO NO MUNDO ROMANO

Mas o que seriam estes grafites? A rixa no anfiteatro de Pompéia (59 d.C.)
Diferentemente das inscrições oficiais que
eram pintadas para serem vistas a longa Tácito, no relato mencionado, aponta os
distância, os grafites eram pequenos e moradores de Nucéria e Pompéia como os
precisavam ser vistos de perto. Sulcados nas principais atuantes no confronto ocorrido no
paredes com um estilete (em latim anfiteatro de Pompéia, em 59 d.C.
graphium), os grafites produziam uma relação Pesquisadores modernos sugerem que a
distinta com o público: eram pessoais e o leitor desavença ocorrida durante o combate de
tinha que se aproximar da parede para poder gladiadores está relacionada à reorganização
enxergá-los. dos limites territoriais: o estabelecimento da
Em geral eram escritos em ambientes nova colônia neroniana em Nucéria em 57
fechados, embora muitos sejam encontrados d.C. acabou por agravar uma situação tensa
nas paredes externas das casas pompeianas. de longa data (Castrén, 1983: 108-113).
Impulsivo, imediato e espontâneo o grafite é Pompéia fazia parte de uma confederação
um registro singular que marca um momento junto com Nucéria, extinta por volta de 216
específico ou uma necessidade pessoal de a.C., na qual os samnitas constituíam o grupo
deixar registrado uma insatisfação, uma piada predominante. Em finais do século I a.C. após
ou uma declaração de amor tornando-se, guerras e conflitos locais, Nucéria se
portanto, uma fonte de inestimável valor para encontrava restabelecida e lutou ao lado dos
o estudo dos anseios e paixões cotidianas a romanos quando estes tomaram,
partir de uma perspectiva coletiva6. Seus tipos definitivamente, a região8. De acordo com
são variados alguns são simples inscrições, Pesando (2001), os distintos processos de
outros são acompanhados de desenhos e, por formação da cidade de Pompéia
isso, devem ser analisados em conjunto. desempenhariam um papel importante para a
A particularidade deste tipo de registro, compreensão do conflito em questão. Antigos
além de sua espontaneidade, é a possibilidade habitantes de períodos anteriores à chegada
de adentrar a estética das camadas populares, dos romanos e os novos que vieram após a
tão pouco documentada. Se as pinturas são conquista circulavam pelas ruas de Pompéia
feitas por meio do contrato de pintores, os com distintos interesses políticos e econômicos.
grafites são cunhados de próprio punho por Embora o estopim do confronto tenha sido
aquele que deseja expressar sua mensagem. a reunião para presenciar um espetáculo de
Neste sentido, analisar este conjunto de gladiador, o texto de Tácito não deixa claro o
documentação sobre a rixa no anfiteatro nos local em que o confronto ocorreu. Por outro
propicia uma leitura da perspectiva local, no lado, a pintura de parede, que atualmente se
calor da hora, um tipo de registro diferente encontra no Museu Arqueológico Nacional,
do proporcionado por Tácito, escrito a situado em Nápoles, sul da Itália, centraliza o
posteriori com claras implicações políticas7. conflito no anfiteatro (figura 1). Observemos
Observemos, então, estes registros. a pintura:

6
De acordo com Funari: “o grafismo popular diferenciava-se, desde o início, pelo seu caráter coletivo: não se trata de refletir um
mundo distante, como no interior das mansões, mas de retratar, nas paredes externas, a vida concreta, as paixões populares em
sua imediaticidade.” (Funari, 1989: 39). Sobre a questão da imediaticidade do grafite cf, também, Barbet, 1987.
7
Para esta ocasião me deterei a análise da pintura e dos grafites. Mas para uma análise em conjunto com o texto de Tácito, cf.
Garraffoni, 2005: 136-141.
8
Sobre os diversos conflitos na região até a chegada dos romanos, cf. Bomgardner, 2002: 50-53.

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Figura 1. Pintura parietal pompeiana da casa de Actius Anicetus - reg. I, ins. 3, 23 (in: LA REGINA,
2001: 333).

Originalmente, este afresco fazia parte da como sendo de cunho “popular”. Zevi (1991),
decoração do peristilo da casa de Actius afirma que as “pinturas populares” são
Anicetus (reg. I, ins. 3, 23). Tradicionalmente, representações figurativas que trazem cenas do
o peristilo de uma casa romana é aberto, dia a dia como as procissões religiosas a uma
rodeado de colunas e comporta um jardim, divindade, cenas de tavernas, lupanares, de
características do espaço em que a pintura gladiadores, caçadas ou espetáculos nos
foi encontrada. Sendo assim, esta pintura, anfiteatros, por exemplo. A grande maioria
datada de época nero-flaviana, se destaca destas pinturas se encontra, atualmente, no
por sua exterioridade e exposição ao tempo, Museu de Nápoles, pois é somente no início
em um local que ficava à vista de todos do século XX que se estabeleceu um
aqueles que se movimentavam pela casa. programa de preservação e restauro.
Por retratar cenas de episódios cotidianos, Zevi aponta como suas principais
tal pintura não se encontra na tipologia características a indiferença com a questão
proposta por Mau no século XIX, como espacial e dimensional da cena e o fato de
comentei nas linhas anteriores, mas é estudada ser uma pintura de ocasião, de exposição e,

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por isso, quase sempre localizada em paredes Esta particularidade nos parece muito
externas das casas. Além de terem pouca significativa, pois possibilita uma dinâmica
duração (eram bastante econômicas), tais específica da cena: as pessoas estariam em
pinturas retratam cenas de caráter histórico e combate no interior e ao redor do anfiteatro.
local, sendo seu grande expoente a Se observarmos com atenção, a maior
representação da briga no anfiteatro. quantidade de pessoas está na parte de cima
De acordo com Zevi, o protagonista da da pintura, isto é mais próxima do anfiteatro,
cena em questão é o próprio anfiteatro. De enquanto que sua presença mais abaixo é
fato, se olharmos atentamente a esporádica predominando a vegetação e um
representação percebe-se que um dos pequeno comércio de ambulantes por motivo
aspectos centrais de sua composição é a do munus. Os corpos das que estão mais
estrutura arquitetônica. O pintor preocupou- próximas do anfiteatro estão inclinados e os
se em retratar o anfiteatro com o toldo de movimentos são semelhantes, transmitindo
proteção solar quase no centro, mas não uma idéia de correria e luta corporal,
esqueceu da muralha, da palestra e de uma enquanto que as outras figuras abaixo ou
pequena construção de pedra próxima a estão paradas olhando o episódio ou
escadaria. A posição em que colocou o recolhendo seus pertences nas barraquinhas.
anfiteatro e o seu tamanho, muito maior que os Tudo indica, em minha opinião, que o
outros elementos da cena, nos instiga a pensar pintor teria pintado na parede do peristilo da
que pretendia destacar o epicentro do conflito. casa de Actius Anicetus um momento
O próprio recurso empregado pelo pintor específico do conflito entre pompeianos e
de contrapor a escadaria, em forma de nucerinos, deixando em sua perspectiva do
triângulo, ao centro da arena, em forma oval, evento representações de aspectos que não
dirige o olhar do passante às cenas de aparecem no texto de Tácito, como o
combate na arena e nas arquibancadas, ponto comércio ocasional de uma cidade da
este que, segundo Zevi, sairiam as principais Campânia. Além disso, a própria necessidade
linhas de fuga da pintura. Muito se discutiu de retratar o episódio em um local da casa
sobre o fato da escadaria representada não que poderia ser visto com freqüência por seus
corresponder às proporções originais. moradores e visitantes também nos parece
Realmente, ao comparar com as escadas do relevante, pois esta seria uma maneira de
anfiteatro é possível perceber que há um manter viva a lembrança do conflito.
número menor de arcadas que a Se a pintura foca o anfiteatro produzindo
representada na pintura. No entanto, uma referência mais explícita aos combates
considerando a afirmação de Zevi na qual em de gladiadores que o texto de Tácito, alguns
tais pinturas não haveria uma preocupação grafites o fazem de uma maneira mais clara
exata com as dimensões dos edifícios, ainda. Para esta análise, selecionei quatro
acredito que o pintor não fez uma reprodução grafites, um com expressões e acompanhado
do anfiteatro “tal como ele realmente era” de desenho e outros três constituídos apenas
mas recriou-o ao seu estilo, de uma maneira por palavras. Observemos o primeiro deles
que nos permite ver seu interior e exterior. (figura 2).

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RENATA SENNA GARRAFFONI

gladiadores sobre uma inscrição que faz


referência à derrota dos nucerinos.
Observemos a inscrição:

Campani uictoria una


cum nucerinis peristis

(CIL IV, 1293)


[Campanos, em uma única vitória, vocês
Figura 2. Grafite parietal sobre a rixa de pereceram com os nucerinos]
torcedores em Pompéia – CIL IV, 1293 (in:
Langner, 2001, imagem no 1138 de seu catálogo). Segundo Moeller (1970), o termo
campani causou controvérsias entre os
estudiosos. Há autores que consideram
Este grafite se encontra na parede externa campani um grupo aristocrático samnita
da casa Dioscuri (reg. VI, ins. 9, 6) localizada (antigos moradores de Pompéia), idéia que
na rua Mercúrio. Esta casa possui duas questiona. Para o autor, o texto de Tácito é
entradas e uma ampla fachada. Escavada fundamental para rechaçar esta suposição.
entre 1828-1829 e conhecida pela riqueza Analisando termos empregados por Tácito
de pinturas do IV estilo em seu interior como oppidana lasciuia ou ualidore
(Baldassare, 1993), esta casa se situa nas pompeianorum plebe, Moeller afirma que os
imediações do forum de Pompéia, o que nos participantes do conflito seriam membros das
faz imaginar uma região com grande camadas populares e descarta a participação
circulação de pessoas das mais variadas etnias de grupos aristocráticos. Sua postura visa
e condições sociais. Com um grande muro ressaltar que fãs dos combates ou do circo e
revestido de estuco branco para imitar uma teatro poderiam participar ativamente da vida
parede de bloco de mármore, característica das política da cidade, inclusive em momentos de
pinturas de época republicana, a parede externa conflitos como este de 59 d.C.
da casa foi alvo dos “grafiteiros” romanos nesta Embora o grafite sozinho não traz
movimentada região da cidade. elementos suficientes para precisarmos quem
No caso do grafite em questão, percebe- seriam os campanos, ele indica a percepção
se, de imediato, que é composto por um de diferentes grupos em conflito. Enquanto
conjunto de figuras e um texto em latim. A Tácito menciona uma luta entre pompeianos
figura situada à esquerda representa a subida e nucerinos, o grafite, localizado perto de um
de um homem ao podium e à direita, acima local muito movimento, traz o registro que
da inscrição, um gladiador vestido com elmo ressalta que, além dos nucerinos, os
e escudo segurando uma palma, símbolo do campanos também saíram derrotados,
vencedor. Os dois desenhos são referências trazendo um novo elemento para o conflito.
diretas a um momento específico dos Ao aliar este a um segundo grafite,
combates de gladiadores: a premiação do encontrado no lado ocidental do lupanar nota-
vencedor. Podium, palma e a figura de se o posicionamento de outros grupos rivais:

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ARTE PARIETAL DE POMPÉIA: IMAGEM E COTIDIANO NO MUNDO ROMANO

Puteolanis feliciter omnibus nucherinis nucerino ou simpatizante da cidade usou o


felicia et uncu(m) Pompeianis termo mentula, ae (falo, pênis) em um sentido
apotropaico, isto é, para afastar o azar que
etecsanis uma frase como esta poderia representar.
(CIL IV, 2183) Tanto este grafite como o do prostíbulo
me pareceu interessante na medida em que
apresenta uma dinâmica particular neste tipo
[Para os puteolanos “boa sorte”, para os
de escrita: nos dois casos a ofensa ou
nucerinos coisas boas e gancho para os
saudação foi complementada por terceiros,
pompeianos e pitecusanos.]
indicando que este tipo de comunicação fazia
parte do cotidiano daqueles que passavam
Este grafite apresenta uma oposição entre pelas ruas e edifícios de Pompéia. Mesmo que
dois grupos: puteolanos e nucerinos/ ambos não mencionem a rixa de torcedores,
pompeianos e pitecusanos. De acordo com tais grafites são indícios de que as desavenças
as anotações do CIL o grafite foi escrito em entre nucerinos, pompeianos e moradores de
dois momentos: em primeiro lugar teria sido outras cidades vizinhas eram parte do dia a
escrita a linha de “boa sorte” aos puteolanos dia da cidade e de conhecimento da
e nucerinos e, depois, a parte seguinte da frase população local. Sintomático, portanto, que
teria sido escrita por outra pessoa, pois as letras tais provocações estivessem em locais de
são distintas. Neste sentido, a expressão et grande circulação de pessoas, em muros
uncu(m) pompeianis petecsanis teria sido
próximos ao forum e num prostíbulo, bem
acrescentada por um partidário dos primeiros.
distantes do anfiteatro, local onde se deu o
Uncus é um substantivo que pode significar
espetáculo em que eclodiu o conflito armado.
qualquer tipo de gancho, mas também um
em específico utilizado para arrastar Tanto a pintura como os grafites nos
cadáveres, o que indica um desejo de liquidar oferecem relatos particulares de alguns dos
e humilhar os pompeianos e pitecusanos. conflitos pompeianos e muito distintos do de
As desavenças entre os grupos podem ser Tácito. As questões locais emergem em
encontradas em um outro grafite situado na detalhes enquanto que nos Anais são
estrada de Mercúrio. Em uma das paredes lê-se: aglutinados pelo termo oppidana lasciuia. Por
meio das fontes materiais o anfiteatro assume
Nucerinis infelicia um papel mais central, assim como as
Mentul... disputas locais: nucerinos, puteolanos,
(CIL IV, 1329) pompeianos, pitecusanos, campanos são
mencionados em distintos ambientes da
[Para os nucerinos desgraça cidade ampliando nossa noção dos grupos
Caralho...] rivais que poderiam estar presentes na rixa.
Assim, mais do que ilustrar o relato de Tácito,
Assim como o caso do grafite anterior, este a pintura e os grafites apresentam uma
também é escrito em dois momentos. Em interação mais popular do confronto e não
primeiro lugar aparece o desejo de desgraça somente uma briga dirigida pelo ex-senador,
e infelicidade aos nucerinos, uma provocação, como propõem estudiosos que se restringem
um xingamento. Segundo Mommsen, ao relato dos Anais.
mentul... foi acrescentado por outra mão, Neste sentido, é possível afirmar que a
posteriormente, o que nos faz pensar que um pintura e os grafites são fontes que nos levam

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RENATA SENNA GARRAFFONI

a perceber que os espectadores dos combates também, os conflitos que permeiam a


não eram passivos, mas formavam grupos presença romana em suas colônias. Ter em
que poderiam tomar diferentes partidos nas mente este conflito e suas diferentes
disputas. Além disso, tais fontes também representações significa estar atento às
indicam que as estruturas de segregação, diferentes possibilidades de ação humana, em
como as entradas separadas para as camadas especial em locais públicos que reúnem
sociais dos anfiteatros, não impediram a muitas pessoas. Os anfiteatros congregam
reorganização das pessoas e a explosão do experiências humanas e percepções de
conflito latente. O exemplo de Pompéia, espaço que se modificam de acordo com a
portanto, torna-se significativo, pois apresenta região em que foram construídos, causando
pessoas que mesmo compartilhando um espanto, admiração ou potencializando
gosto em comum pelos combates, não tinham conflitos entre aqueles que os freqüentavam.
uma atitude apática como muitos estudiosos
argumentam: a diversidade de opiniões entre Agradecimentos
os espectadores emerge com força nestas
fontes e poderia, como em muitos outros Gostaria de agradecer a Angelita Marques
casos, acirrar conflitos. Visalli (UEL – Universidade Estadual de
Londrina) e a comissão organizadora do I
Considerações finais Encontro Nacional de Estudos da Imagem pelo
convite para participar do Evento organizado
A análise da rixa a partir da cultura pelo LEDI. Gostaria de mencionar, também,
material, ou seja, da pintura parietal e dos meus agradecimentos aos colegas Marina Régis
grafites, proporciona um olhar particular sobre Cavicchioli, Lourdes Feitosa e Pedro Paulo
o evento. Embora tradicionalmente o relato Funari pelo diálogo em todos estes anos, além
de Tácito tenha sido considerado a principal do apoio institucional da UFPR (Universidade
fonte para compreender o episódio, um estudo Federal do Paraná) e do NEE (Núcleo de Estudos
interdisciplinar, que considere a imagem como Estratégicos da Unicamp).
uma fonte independente e capaz de expressar
significados estéticos e simbólicos, ajuda a Bibliografia citada
construir uma interpretação mais complexa
deste acontecimento. A partir do registro Fontes:
imagético é possível entender o evento em Tácito (1986), Annals (trad. J. Jackson), Londres,
uma perspectiva local, conhecer os diferentes Harvard University Press, Coleção Loeb.
grupos envolvidos bem como refletir sobre a
sua abrangência no momento, pois o fato de Bibliografia Moderna:
se pintar o episódio e manifestar os BALDASSARE, I. et alli, 1993. Pompei – Pitture
descontentamentos em grafites indica uma e mosaici – Enciclopedia dell’arte antica classica
e Orientale, Roma.
reorganização das identidades locais que nem
sempre foram pacíficas. BARBET, A., 1987. “La representation des
gladiateurs dans la peinture murale romaine”, in:
Se por um lado a rixa de torcedores em Les Gladiateurs: Lattes, Toulouse, pp. 69-74.
Pompéia é um acontecimento único
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registrado na Campânia, por outro ela indica, Roman amphitheater, Routledge, Londres.

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