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Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Departamento de Artes e Design

G1
A Evolução da Indumentária Feminina Europeia:
A Saia e o Vestido

Fernanda Bruno

Disciplina:

DSG 1821 História e Teoria do Design I

Turma:
1AC

Rio de Janeiro

Setembro, 2022
Esse estudo tem o objetivo de traçar uma linha temporal da indumentária feminina na Europa.
Teremos como foco a evolução da saia, do seu início como um simples retângulo de tecido atado em
volta do corpo até as criações de Charles Worth no fin de siécle.

Elegemos algumas peças para representar a passagem do tempo, e faz-se necessário reconhecer a
limitação deste recorte. Primeiro analisaremos uma estátua da civilização minoana, uma descoberta
que desafia a noção de linearidade pré-concebida sobre a Antiguidade. Estudaremos então um
exemplo de túnica grega, que, por mais que tenha sido uma cultura relativamente estável ao longo
dos anos, representa um período específico na longeva Grécia Antiga. Seguiremos para a primeira
peça que obtivemos vestígios arqueológicos, a vestimenta de uma Rainha franca. Com isso podemos
aferir tecidos e métodos de manufatura não apenas deduzidos de escritos, mas analisar o objeto em si.
Faremos uma passagem pelo reinado de Luís XIV para posteriormente analisar uma robe à la
française do suntuoso período Rococó. Terminamos nossa análise no fin de siécle, com um traje de
passeio assinado por Charles Worth, extremamente simples se comparado com as extravagâncias que
o antecederam, representando o começo de uma revolução no estilo de vida das mulheres.

Antes de discutirmos as vestimentas drapeadas utilizadas pelos


gregos, consideraremos as surpreendentes roupas usadas em Creta
antes do colapso da civilização minoana, por volta do ano 1400 a.C.
A documentação é escassa e consiste em afrescos, vasos pintados e
estatuetas e, devido à ausência de registros escritos, os processos,
materiais e métodos de manufatura encontram-se ainda envoltos em
obscuridade. Os Cretenses apresentam uma ruptura na linearidade da
história das vestimentas e dos retângulos de vários tamanhos,
drapeados pelo corpo. Vestimentas drapeadas, com pouca ou
nenhuma costura foram antes usadas pelos egípcios e assírios, e
depois pela cultura greco-romana. A vestimenta cretense feminina,
no entanto, apresenta uma saia feita de tiras estreitas de tecido que se
sobrepõem e criam babados até tocar o solo. Por sobre elas cai uma
espécie de avental redondo. A cintura é bem apertada e envolta por
um cinto torcido que termina
sob os seios. Foi sugerido
que as saias consistiam em
várias saias semelhantes a
aventais, usadas uma por
cima da outra. Outra possibilidade é que tivessem formato de
sino e fossem de tecido elástico, já fabricado ou cortado em
forma circular. Mesmo que ainda ignoremos os tecidos
utilizados na fabricação desses trajes, temos boas razões para
acreditar que a confecção de roupas era uma arte
extremamente desenvolvida, e que a indumentária feminina
representava um importante papel nessa civilização.

Seguiremos então a observar a indumentária grega clássica


feminina, composta de duas principais peças: uma túnica de
linho ou lã, o quitão, e uma sobreveste de lã, o peplo. A partir
desses trajes desenvolveram-se muitas formas de se amarrar
cintos e franzir tecidos. A cultura grega, a partir das invasões
dórias (em torno de 1200 a.C.), tornou-se extraordinariamente
estável e coesa: embora ajustes e amarrações variassem, as linhas essenciais das roupas permaneceram
as mesmas durante até o domínio romano. Acreditou-se que as roupas gregas fossem brancas ou da
cor natural do linho, pelo fato de as estátuas antigas terem perdido toda a cor que um dia vieram a ter.
Os trajes gregos, na verdade, eram coloridos e estampados, exceto pelos utilizados pelas classes
inferiores. Os adornos eram bordados nas extremidades, e tinham padrões como a cercadura grega,
flores e figuras de animais. O traje básico, o quíton, consistia em um único retângulo de mais ou
menos três metros de largura e comprimento igual à altura de quem o usava, e era preso por alfinetes
ou broches. A sobreveste, opcional, poderia ser usada com uma variação notável de amarrações e
dobras, e com o tempo foi ganhando outros tecidos para além da lã. Chegou a ser feita de seda, apesar
de numerosas leis suntuárias que restringiam o luxo dos trajes femininos. No contexto, luxo, porém,
não significa ‘moda’. A respeitosa mulher ateniense era raramente vista fora de casa e era pouco
tentada a competir com outras em trajes vistosos ou fora do comum.

A próxima vestimenta visitada por esse estudo foi produzida após a


queda do Império Romano e o estabelecimento do reino dos Francos, na
região que hoje é a França. Os francos tinham o hábito de enterrar seus
mortos, ao invés de queimá-los, contribuindo imensamente para o
estudo da indumentária. Uma descoberta importantíssima foi feita na
igreja de Saint-Denis, perto de Paris, onde foi escavado a tumba da
Rainha Arnegonde, falecida em 580-581 d.C. Trata-se da rainha
francesa mais antiga já encontrada, além do túmulo mais bem
documentado da Europa na Alta Idade Média. Por seu alto posto na
hierarquia merovíngia, como esposa de um rei e mãe de outro, foi
enterrada em trajes luxuosos que atestam a qualidade dos materiais e
proeza dos artesãos da época. Arnegonde foi enterrada com uma
chemise de linho fino e uma veste de seda cor violeta por cima. Sobre
esta, uma túnica de seda vermelha, aberta na frente. Um cinto largo,
cruzando as costas e preso na frente, mantinha a túnica no lugar. Preso à
túnica por broches de ouro, havia um véu que ia até a cintura. A
qualidade da matéria prima analisada pelos arqueólogos – lã fina, seda,
ouro, pelos de castor – aliada às cores brilhantes obtido a partir de
corantes como púrpura de marisco, garança e índigo, e a longa distância
dos tecidos importados provavelmente com desenhos exóticos
incomuns, convergem para comunicar a expressão de uma corte real
com grande apreço do luxo.

A França foi progressivamente aumentando sua influência, e a partir do


século XIII a indumentária francesa passou a representar um exemplo
de bom gosto para todos os povos da Europa Central. Próximo a
meados do século XIV, na França, a indumentária feminina começou-se a dividir em duas partes - um
corpete e uma saia. Embora a Espanha tenha exportado seu estilo com sucesso após o renascimento, a
partir da metade do século XVII Luís XIV assumiu o trono e reconheceu a importância dos têxteis
como motor da economia, decretando leis para expandir e melhorar as indústrias de linho, seda e lã, e
a França voltou a liderar a moda europeia. O gosto cada vez maior por artigos de luxo acendeu a
preferência por cores vivas e brilhantes. A moda francesa assim foi consolidada como dominante e
seu prestígio, inicialmente vinculado ao poder da corte de Luís XIV em Versalhes, e mais tarde se
deslocou para Paris. É importante destacar que é no reinado do Rei Sol que se estabelece uma noção
moderna de luxo e moda.
A próxima peça a ser estudada, a robe à la française vê
seu primeiro protótipo, contouche ou robe batantte,
surgir após a morte do Rei Sol, no período de Regência
até a maioridade de Luís XV. A rígida atmosfera da
corte francesa ficou um pouco mais relaxada com esse
corte de vestido, que poderia ser usado sem corset e até
disfarçar uma gravidez: dois motivos pelo qual ele se
torna um traje de uso doméstico a partir de 1730. Com
a ascensão de um novo rei, Versalhes voltava a ser uma
Corte propriamente dita e precisava de trajes
adequados para isso. O battante foi relegado aos
aposentos privados dos nobres, mas não sem deixar o
robe à la Française como seu sucessor de direito. Esse
corte volta a ser usado em situações formais após
ganhar um corpete justo, costurado apenas na frente do
vestido. As costas caem livremente, com pregas que tornam a peça muito marcante e bela. As
anquinhas, uma espécie de pequena gaiola que adicionava volume à saia, aumentavam o quadril, mas
permaneciam planas na frente e atrás. Em seu auge, o robe à la française era a segunda peça mais
formal que uma mulher poderia ter, atrás do vestido de corte para ocasiões com a presença do rei.

Encerramos nosso estudo na década de 1890, um período em que a moda vitoriana sofreu mudanças
drásticas para refletir o começo de um novo estilo de vida das mulheres. A anquinha, foi lentamente
desaparecendo e substituída por bustle pads feitos de restos de
tecidos e algodão que ressaltam a silhueta de forma mais
delicada. Foi nessa época que as mulheres começaram a
praticar esportes e atividades físicas mais assiduamente. O
ciclismo é o exemplo de uma atividade que se popularizou
rapidamente pela década e representou uma cultura que
desafiava as noções vigentes de feminilidade, pautadas por
sedentarismo e fragilidade. Nos aprofundaremos na saia de
passeio ou walking skirt, uma peça relativamente simples, se
comparada às extravagâncias que a precederam. A
complexidade da saia drapeada, característica principal do
vestuário anterior, transferiu-se para o corpete, acompanhado
de mangas bufantes que enfatizavam a parte superior do traje.
Vale ressaltar que por mais que a saia tenha ganho mobilidade
e praticidade, a presença do espartilho ainda era marcante,
mantendo uma silhueta em forma de ampulheta. A saia de
passeio é uma peça versátil e cotidiana, utilizada em trajes
informais e diurnos: caminhadas, piqueniques e pedaladas. É
importante destacar a diferença no tecido entre as saias
diurnas anteriores: antes feitas de materiais rígidos e pesados
que faziam barulho com o movimento. A seda mudou do tafetá para tipos mais macios e menos
ruidosos.

Referências

- Desrosiers, S. & Rast-Eicher, A. (2012). Luxurious Merovingian Textiles Excavated from Burials in
the Saint Denis Basilica, France in the 6th-7th Century
- Laver, J. A Roupa e a Moda: uma história concisa. 1ª edição. São Paulo. Companhia das Letras, 1989
- Köhler, C. História do Vestuário. 3ª edição. São Paulo. Martins Fontes, 2009

Figura 1: Estátua minóica da deusa das serpentes, Acervo do Museu Arqueológico de Heraclião

Figura 2: Cópia romana de estátua grega korai, Acervo do Museu Britânico

Figura 3: Desrosiers & Rast-Eicher (2012). Luxurious Merovingian Textiles Excavated from Burials in the Saint
Denis Basilica.

Figura 4: Robe à la française, Acervo do Instituto de Indumentária do Museu Metropolitan

Figura 5: Traje de passeio de Charles Worth, Acervo do Instituto de Indumentária do Museu Metropolitan

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