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Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

Centro de Filosofia e Ciências Humanas – CFCH


Instituto de Filosofia e Ciências Sociais – IFCS
Departamento de História

Irina Aragão dos Santos

Celtas e romanos: interações culturais através dos


adornos pessoais

Rio de Janeiro

2006
Celtas e romanos: interações culturais através
dos adornos pessoais

Irina Aragão dos Santos

Departamento de História / IFCS / UFRJ / CFCH

Bacharelado em História

Profª Drª Regina Maria da Cunha Bustamante


Orientadora

Rio de Janeiro
2006

ii
Celtas e romanos: interações culturais através
dos adornos pessoais

Irina Aragão dos Santos

Monografia submetida ao corpo docente do Departamento


de História da Universidade Federal do Rio de Janeiro –
UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do
grau de Bacharel.

Aprovado por:

Profª Drª Regina Maria da Cunha Bustamante - Orientadora

Profª Drª Marta Mega de Andrade

Prof. Dr. André Leonardo Chevitarese

Rio de Janeiro

2006

iii
Irina Aragão dos Santos

Graduou-se em Desenho Industrial na Escola de Belas Artes da UFRJ


em 1989. No mesmo ano, ingressou em Curso de Extensão em
Ourivesaria na Escola Superior Artístico-Industrial - Strógonov em
Moscou / Rússia. Desde então, vem trabalhando junto ao setor nacional
de jóias e gemas. Obteve grau de mestre em Design apresentando
dissertação intitulada Adornos pessoais: uma reflexão sobre as relações
sociais, processo de design, produção e formação, na PUC-Rio, em
2003, sob orientação da Profª Drª Rita Maria de Souza Couto. Há seis
anos, está envolvida com o meio acadêmico. Ministra disciplinas, com
conteúdos voltados para esta área de conhecimento, no Curso de
Graduação em Desenho Industrial e Especialização em Design de Jóias
na PUC-Rio. Tem interesse na reflexão e pesquisa sobre o objeto, em
particular os adornos pessoais, como mediadores das relações sociais.

Santos, Irina Aragão dos

Celtas e romanos: interações culturais através dos adornos


pessoais / Irina Aragão dos Santos – Rio de Janeiro, 2006.

xiv, 77 f. : il.

Monografia (Bacharel em História) – Universidade Federal do Rio


de Janeiro – UFRJ, Instituto de Filosofia e Ciências Sociais –
Departamento de História, 2006.

Orientador: Regina Maria da Cunha Bustamante

1. Adornos pessoais 2. Alteridade 3. Representações simbólicas


4. Interações culturais 5. História – Monografias. I. Bustamante,
Regina Maria da Cunha. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Departamento de História
III. Título.

iv
Resumo

Santos, Irina Aragão. Celtas e romanos: interações culturais


através de adornos pessoais. Regina Maria da Cunha
Bustamante. Rio de Janeiro: UFRJ / IFCS / Departamento de
História, 2006. Monografia (Bacharelado em História).

O homem como ser social faz uso de variados veículos de


expressão e comunicação de suas idéias. Os objetos constituem-se
como produtos e vetores das relações sociais. Dentro do vasto universo
de objetos produzidos pela humanidade, destacamos os adornos
pessoais, como aqueles aos quais inúmeros usos e significados são
atribuídos. Na presente monografia, será traçado um panorama dos
adornos pessoais celtas e romanos a partir de 43 d.C. até o século II
d.C., momento da conquista da Britânia pelo Império Romano. Objetiva-
se compreender o processo de interação cultural entre celtas e romanos
através dos adornos pessoais.

Palavras-chave
Adornos pessoais; sociedade; cultura; cultura material; linguagem;
alteridade; identidade; classificação social; representação simbólica;
interação cultural.

v
Abstract

Santos, Irina Aragão. Celts and Romans: cultural interactions


through personal ornaments. Regina Maria da Cunha
Bustamante. Rio de Janeiro: UFRJ / IFCS / Department of
History, 2006. Bachelor Degree Paper (Bachelor in History).

Man is a social being and, as such, makes use of various means


to express and communicate his ideas. He uses objects to make his
existence easier, inclusively in support of his social relations. Within the
ample universe of objects created by humanity, we point out personal
ornaments, to which different usages and meanings are attributed. In
this paper we provide an overview of celtic and roman personal
adornments from 43 AD until second century AD, when takes place the
roman conquest of Britain. And then, lead an avaliation of the cultural
interaction between these societies through objects of personal
adornments.

Key words
Personal ornaments; society; culture; material culture; language;
otherness; identity; social classification; symbolic representation; cultural
interaction.

vi
Agradecimentos

Agradeço a minha querida orientadora - a Professora Doutora Regina


Maria da Cunha Bustamante (IFCS-UFRJ), por seu conhecimento,
paciência, dedicação, incentivo e amizade; aos orientadores não oficiais
- os Professores Doutores Marta Mega de Andrade e Norma Musco
Mendes (IFCS/UFRJ) pelo carinho e pelo combustível fundamental
nesta jornada – muitas discussões, informações, troca de idéias e
opiniões. Dos agradecimentos, não poderiam ficar de fora todos os
professores do IFCS, pelos conteúdos discutidos em suas disciplinas
durante o Curso de Graduação, fundamentais e preciosos na
elaboração desta monografia.

vii
Sumário

Apresentação 13

1. Introdução 16

2. Adornos pessoais: representações simbólicas de


identidade 21

3. Os celtas 26

4. Britânia Romana 43

5. Conclusão 62

Glossário 68

Referências bibliográficas 75

Referências das imagens 80

viii
Lista de quadros-resumos

Quadro 01• Principais elementos naturais, símbolos, padrões e


grafismos celtas 30
Quadro 02• Principais divindades celtas - símbolos e representações
gráficas 32
Quadro 03• Ornamentos celtas aplicados nas superfícies dos objetos
34
Quadro 04• Adornos pessoais celtas 42
Quadro 05• Adornos pessoais no Império Romano 50
Quadro 06• Anéis e braceletes na Britânia Romana 54
Quadro 07• Brincos, broches e fíbulas na Britânia Romana 56
Quadro 08• Colares, prendedores de cabelos, pendentes e torçais na
Britânia Romana 58
Quadro 09• Divindades, símbolos, padrões e grafismos na Britânia
romana 59

ix
Lista de mapas

Mapa 01• Tribos celtas na Idade do Berro e Britânia Romana 46

x
Lista de imagens

Ilustração 01• Escudo Battersea, século III a.C., Londres 35


Ilustração 02• Broche celta, século III a.C., Lincolnshire 37
Ilustração 03• Fíbula celta, século III a.C., Lincolnshire 37
Ilustração 04• Torçais e braceletes Snettisham, séc. I a.C/I d.C. 38
Ilustração 05• Torçal Snettisham, século I a.C. , Norfolk 39
Ilustração 06• Torçal Ipswich, século I a.C., Suffolk 39
Ilustração 07• Escultura de bronze, século III a.C., Roma 40
Ilustração 08• Torçal Snettisham, século I a.C., Norfolk 41
Ilustração 09• Retrato de mulher, século II d.C., Egito 49
Ilustração 10• Retrato de mulher, século II-III d.C., Egito. 50
Ilustração 11• Jóias romanas, séc. I, II e III d.C. 50
Ilustração 12• Anel de compromisso, séc. II d.C., Britânia romana 52
Ilustração 13• Anel de compromisso, séc. II d.C., Britânia romana 53
Ilustração 14• Bracelete bronze, séc. I a.C./I d.C., Castle Newe 53
Ilustração 15• Broche ‘dragonesque’, séc. I-II d.C., Escócia 55
Ilustração 16• Broches trompete, séc. I-II d.C., Chorley, Lancashire 56
Ilustração 17• Colares e pulseira, séc. I-II d.C., Britânia romana 65
Ilustração 18• Objetos votivos, séc. II-III d.C., Britânia romana 67
Ilustração 19• Colar estrusco, séc. VI a.C., Itália 71
Ilustração 20• Brinco grego, séc. IV a.C., Kul Oba 72

xi
"Felicidade do Historiador - (...) alguém em quem, ao estudo da
história, não somente o espírito, mas também o coração sempre
se transforma de novo e que, ao contrário dos metafísicos, se
sente feliz por albergar em si, não ‘uma alma imortal’, mas muitas
almas mortais."
Friedrich Nietzche

xii
Apresentação

A busca pelas respostas referentes à relação do designer / design


/ usuário / contexto, levou-me a ingressar no Curso de Graduação em
História (IFCS / UFRJ), pois se tornaram necessários o conhecimento e
a compreensão dos mecanismos que geram a demanda no homem de
criar e adquirir objetos e produtos. O fascínio pela diversidade cultural
da humanidade e as suas várias manifestações, despertou o interesse
pelo estudo e reflexão sobre o uso dos adornos,1 elementos integrantes
do cotidiano das sociedades.
Após a conclusão do Curso de Graduação em Desenho Industrial,
na EBA / UFRJ, o aprendizado das técnicas básicas de ourivesaria no
atelier de Jefferson Zanon e Paulo Accorsi (Rio de Janeiro), a
freqüência ao Curso de Extensão, no qual as técnicas de esmaltação e
filigrana receberam maior foco, na Escola Superior Artístico-Industrial de
Moscou – Strógonov (Rússia), ingressei no mercado de trabalho, como
designer de jóias da equipe de criação da joalheria Amsterdam Sauer,
no Rio de Janeiro. As experiências vivenciadas desempenharam função
catalizadora no envolvimento, curiosidade, interesse e vontade de
contribuir para o crescimento do design dentro do setor joalheiro
nacional. Os anos de atuação neste mercado, como designer
contratada ou freelancer, somados à experiência acadêmica, resultaram
em reflexões e questionamentos sobre a forma de pensar, desenvolver
e realizar o projeto de design neste setor industrial.
Os estudos e discussões realizados dentro do Curso de
Graduação em História, constantemente direcionavam para a reflexão
sobre o objeto / produto - jóia, seu significado dentro das sociedades,
sua relação com o usuário, com os processos de sua criação,
fabricação, comercialização e divulgação. A partir do tema proposto

1
Nesta monografia, denominaremos de adorno, ou adorno pessoal, ou objeto de
adorno, todos os objetos utilizados pelo homem sobre o corpo, envolvendo partes do
corpo, interferindo no corpo, aplicados sobre o corpo, que desempenham várias funções
e têm distintos significados dentro das sociedades: símbolo de status social, econômico
e cultural; símbolo de fé, devoção e religiosidade; veículo de cura; dote; riqueza; jóia;
bijuteria; folheado e similares. Busca-se um termo amplo para os diversos significados
atribuídos a este objeto, portanto, aqui citamos sinônimos para o termo adorno:
adereço, acessórios, enfeite, ornato, ornamento, atavio, objeto ritual ou simbólico. É
importante observar que o foco desta pesquisa não aborda roupas, sapatos e
acessórios tais como chapéus, luvas, bolsas, leques etc.

13
para pesquisa - Metodologia de projeto aplicada ao design de jóias,
título inicial, no Curso de Mestrado em Design da PUC-Rio, buscou-se a
identificação destas questões e o embasamento teórico, fundamental na
construção de idéias, que resultaram em novas perguntas e opiniões.
Paralelamente, disciplinas externas ao Departamento de Artes e
Design foram cursadas na Pós-Graduação em História Comparada –
PPGHC, do IFCS / UFRJ: Identidades e Alteridades Culturais, Seminário
da Linha de Pesquisa Identidades e Alteridades Culturais, objetivando
estudar e discutir as questões referentes ao olhar sobre o outro; e
Estado Atual dos Debates em Instituições e Formas Políticas, Seminário
da Linha de Pesquisa Instituições e Formas Políticas, tendo como
proposta discutir as instituições e a modernidade. Os conteúdos das
mencionadas disciplinas desempenharam importante papel na
fundamentação teórica da dissertação, bem como na reflexão sobre o
objeto de estudo e e pesquisa desenvolvido na dissertação intitulada –
Adornos pessoais: uma reflexão sobre as relações sociais, processo de
design, produção e formação acadêmica.
No presente trabalho, ao realizar o exercício de desenvolver uma
pesquisa histórica para monografia de conclusão do Curso, busco
conciliar as idéias geradas nestas experiências acadêmicas e as
opiniões vivenciadas e discutidas sobre o papel dos objetos dentro das
sociedades humanas. Fiz opção pelo estudo em História Antiga, pois foi
possível identificar uma oportunidade de reflexão sobre as mencionadas
questões. Entendo o meu objeto de pequisa como sendo atual, embora
aborde uma sociedade e cultura distantes, pois as questões levantadas,
avaliadas e pesquisadas são presentes e pertinentes na compreensão
das relações sociais humanas. No contexto atual, em que o rápido e
fácil acesso à informação possibilita o contato com novas idéias, novos
valores e culturas múltiplas, busca-se a percepção da dinâmica das
sociedades, fomentando a compreensão e maior aceitação das
diferenças culturais. Embora seja fascinante a idéia do mundo sem
fronteiras, proposta pela globalização e pela alta tecnologia, observa-se
a resistência à perda da identidade cultural e ao esquecimento das
tradições perpetuadas por gerações nas sociedades. Neste panorama,
percebemos o interesse pelo resgate das tradições, que falam da

14
história de um indivíduo, de um grupo, de um povo, de uma sociedade,
de uma cultura.
Diante deste panorama e experiência, entendo como necessária a
compreensão do bem simbólico como elemento importante na
sedimentação da identidade do produto brasileiro dentro do mercado
mundial. Buscando resgatar e perpetuar a cultura, as tradições e a
identidade deste povo e sua história. Estes aspectos são importantes
agentes agregadores de valor à matéria-prima, que devem ser
considerados pelo design como uma ferramenta aliada em tornar o
produto nacional competitivo, que embora produzido em massa, torna-
se único e especial, veículo de afirmação de valores, convenções,
aspirações e identidade.

Irina Aragão dos Santos

15
1. Introdução

O tema de pesquisa – Celtas e Romanos: interação cultural


através dos adornos pessoais, proposto para a realização da
monografia de conclusão do Curso de História do Instituto de Filosofia e
Ciências Sociais, da UFRJ, desencadeou um extenso estudo sobre os
diversos aspectos - sociais, culturais, econômicos e políticos, que foram
levantados e analisados, objetivando compreender o processo de
interação cultural entre as sociedades celta e romana, através de
objetos produzidos, durante a fase de implantação da ocupação romana
na Britânia, no período dos séculos I ao II d.C. O foco da reflexão
abrange um tipo de objeto de uso cotidiano destas sociedades: os
adornos pessoais e outros artefatos resultantes das técnicas de
ourivesaria – pequenos objetos votivos e utilitários confeccionados de
metal, e detalhes de armamentos.
Foram analisadas duas culturas distintas, objetivando avaliar a
relação que envolve trocas de elementos culturais e tecnológicos, que
se manifestam no cotidiano, nos valores e nas condutas sociais.
Propõe-se uma reflexão fundamentada na análise dos adornos pessoais
celtas e romanos atentando para origem, época, usuário, utilidade, tipo,
forma, ornamentação aplicada ao objeto, temática, materiais e
processos de confecção até 43 d.C. (ano de ocupação da Britânia pelos
romanos) e de objetos oriundos da Britânia Romana entre os séculos I a
II d.C.

Em conseqüência das diversas formas de ver o mundo, as


sociedades celta e romana se relacionaram de formas próprias com os
significados atribuídos aos objetos, suas funções e usos. Ao entrarem
em contato, perceberam os seus diferentes hábitos e valores. A partir
da necessidade de marcar a distinção, a diferença e a singularidade,
cada grupo firmou sua identidade, pela valorização de suas tradições e,
inclusive, pela dominação e apropriação de elementos oriundos da outra
cultura. Considerando Sahlins (1997:180), entendemos que a interação
cultural funciona como um processo dinâmico. Seus efeitos podem ser
identificados pela coexistência dos elementos estáveis da cultura e as
mudanças vivenciadas. Portanto, ao estudarmos a interação cultural
ocorrida entre estas sociedades, buscamos avaliar uma relação que
envolve trocas de elementos culturais, que se refletem no cotidiano, nos
valores e na conduta destes povos - a troca cultural com o conquistador
romano trouxe novos elementos que interagiram com os celtas e vice
versa.
Os objetos são produtos sociais, conseqüentemente,
construções resultantes de vários fatores, reais e históricos, em
determinado contexto econômico, político, cultural, ideológico e
tecnológico. Este contexto, que está vinculado às estruturas e
convenções estabelecidas, reconhecidas e praticadas pela sociedade,
direciona os valores atribuídos aos objetos.
Levando em consideração esta perspectiva, propõe-se como
instrumento para a análise da história de uma sociedade, a cultura
material, que se torna importante na compreensão do cotidiano e dos
seus valores sociais, culturais, políticos e econômicos. Através do
estudo de objetos de uso cotidiano, que consideramos documentos,
registros e referências de uma época, podemos obter informações
sobre a sociedade que os produziu em um determinado contexto
histórico. E no caso da Antigüidade, a cultura material se faz ainda mais
relevante em virtude da escassez de documentação escrita e para
abordar aspectos muitas vezes não contemplados pelos escritos.
Entendemos que, a partir de referências acumuladas e naturalizadas,
significados são atribuídos aos objetos para que estes sejam
reconhecidos e adotados pelo público.
O objeto é produto e suporte material do relacionamento social.
Através de seu corpo (sua forma, construção, estilo e funções) e
valores, os indivíduos e grupos se expressam e se comunicam. É
expressão da diferenciação em um grupo; integração e pertencimento
pelos privilégios comuns; identidade; classificação social; preferências;
modelos de atitude adotados ou almejados. “Objects participate in
human communication and support linguistically mediated social
practice” (Krippendorff,1989:170) – Os objetos participam da

17
comunicação humana e sustentam as práticas sociais lingüisticamente
mediadas.
Nesta pesquisa, conduziremos uma reflexão sobre os diversos
significados e efeitos atribuídos aos objetos usados sobre o corpo, aqui
chamados de adornos pessoais, que consideramos como formas de
expressão do imaginário de uma sociedade, de sua cultura, tradições,
crenças e valores. Através do adorno pessoal, buscaremos
características e elementos das culturas celta e romana, que possam
apontar para a relação entre estas sociedades.
Traçamos, como objetivos desta monografia: 1- mapear os
objetos das sociedades celta insular e romana até 43 d.C. e os objetos
oriundos da Britânia Romana, nos séculos I a II d.C; 2- selecionar e
sistematizar os objetos, que foram avaliados, analisados, estudados e
classificados a partir dos seguintes critérios: localização atual; origem;
data; tipo de objeto; usuário; função; forma; estilo; ornamentação /
grafismos / inscrições; temática; assinatura; materiais e processos de
fabricação; 3- identificar as características dos adornos pessoais celtas,
romanas e celto-romanas; 4- traçar quadros comparativos destes dados
e características, dos quais foram identificados os elementos e usos
resultantes da interação cultural entre as sociedades em questão.
Consideramos oportuno chamar atenção para o uso do termo
adorno pessoal nesta monografia, ao qual são atribuídos diversos
sinônimos: jóia, bijuteria, folheado, adereço, quinquilharia, acessório,
enfeite, ornato, ornamento, atávio, objeto ritual ou simbólico.
Atualmente, o uso dos nomes jóias, bijuterias e folheados está
vinculado ao tipo de material do qual são fabricados estes objetos e,
conseqüentemente, ao seu valor de troca. Portanto, jóia significa um
objeto de adorno pessoal, confeccionado de materiais convencionados
como valiosos. Este valor está vinculado à raridade, forma, função,
circulação comercial e às propriedades físicas e químicas de metais e
pedras preciosos.
Adotaremos os termos adorno ou objeto de adorno pessoal, para
significar os objetos acima mencionados. É importante observar que o
foco deste estudo não são roupas, calçados e acessórios tais como
chapéus, luvas, bolsas e outros. Mas, não descartamos a possibilidade

18
de citar tais objetos como elementos de referência na exemplificação
dos usos e moda da época em questão.
Estruturamos a monografia em cinco capítulos. No primeiro, a
introdução ao presente trabalho, seguida do segundo capítulo, no qual
realizamos uma reflexão sobre os objetos de adorno pessoal. Neste,
discutimos o papel dos adornos pessoais nas sociedades, apontamos
vários conceitos e sugerimos significados a eles atribuídos, para, no
capítulo subseqüente, desenharmos um panorama da sociedade celta
insular, com o auxílio dos objetos cotidianos de tão forte apelo
simbólico. No quarto capítulo, apresentamos os objetos de adorno
pessoal usados, produzidos e em circulação na Britânia após a
ocupação romana: suas características e os elementos celtas e
romanos, que indicam a interação ocorrida entre estas culturas.
Concluímos a monografia no quinto capítulo, com considerações sobre
as relações estabelecidas na Britânia Romana.

Antes de finalizarmos o capítulo de introdução, consideramos


relevante fazer um balanço dos objetivos traçados para esta monografia
e os resultados alcançados.
O presente trabalho foi realizado a partir de estudos em
bibliográfia especializada. Durante o processo, as observações
estiveram focadas nas imagens selecionadas nas obras consultadas.
Com a leitura dos textos e exame da iconografia, constatamos que as
imagens disponíveis são restritas, o que consideramos como fator
limitador na avaliação e análise mais acurada dos possíveis elementos
resultantes da interação cultural entre celtas e romanos. As fontes
mencionam relevante número de objetos no acervo arqueológico dos
museus, ao qual, por meio destas publicações, não tivemos acesso.
Para exemplificar, citamos os 111 torçais* do tesouro de Snettisham (61
peças encontradas entre 1948-50, e mais 50, em 1990), do qual apenas
8 torçais são apresentados na bibliografia.
Buscando formar opinião e um corpo de similares maior,
inicialmente, lançamos mão das imagens de adornos pessoais dos
celtas continentais, o que nos levou a delinear e isolar as características

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próprias às peças produzidas pelos celtas insulares. Paralelamente, já
estabelecidos os critérios de comparação (tipo, descrição morfológica,
usos e significados, decorações, materiais e técnicas de confecção), foi
feito levantamento das particularidades dos adornos pessoais romanos.
As fontes, em especial o livro The Jewellery of Roman Britain, de
Catherine Johns, direcionaram a análise e as comparações entre os
adornos pessoais produzidos na Britânia Romana.
A interação cultural entre as culturas celta e romana, na primeira
fase de ocupação da Britânia, torna-se aparente de forma sutil pelo
todo, isto é, pela avaliação da cultura material oriunda da região. Os
adornos pessoais que fazem parte deste sistema, apresentam
características de ambas as culturas, ora com maior maiores elementos
celtas, ora com maiores elementos romanos. Acreditamos na oferta,
circulação, coexistência e compartilhamento destes componentes no
dado contexto, o que ficará mais evidente nas peças de períodos
posteriores. Portanto, mesmo diante das limitações, consideramos
alcançado o objetivo deste trabalho, que possibilitou a formulação de
um banco de imagens, o mapeamento e conhecimento dos adornos
pessoais celtas e romanos, entre os séculos I a.C. e II d.C.

Antes de iniciarmos o capítulo seguinte, lembramos que os


termos técnicos e/ou específicos, marcados com asteriscos, podem ser
consultados no glossário.

20
2.Adornos pessoais

O presente capítulo trará reflexões sobre a necessidade humana


de se expressar, se relacionar, se comunicar e se diferenciar dentro da
sociedade através de objetos. Portanto, vários significados atribuídos
aos objetos de adorno vão ser apresentados, a partir dos quais,
posteriormente, será conduzida uma análise das questões referentes à
interação cultural entre celtas e romanos na Britânia.

O homem, como ser social, se expressa e se comunica por


movimentos, gestos, símbolos, sinais e objetos, sendo o produtor das
mais variadas manifestações culturais. Clifford Geertz (1989:13-41)
entende por cultura um sistema simbólico, portanto, um código de
símbolos partilhado pelos membros dessa cultura, que os acompanha
pela história, passando por aprendizados, assimilações e mudanças. O
patrimônio cultural, portanto, expressa demandas, valores, desejos,
crenças, tradições e identifica o homem como indivíduo em um grupo e
este grupo em uma sociedade (Laraia,1999:46;63).
No estudo proposto, optou-se por trabalhar com o adorno pessoal,
pois este aparece como um símbolo das inúmeras formas humanas de
expressão e de comunicação, que podem se manifestar através da
roupa, pintura corpórea, das tatuagens, escarificações,2 interferências e
alterações de partes do corpo.
Segundo o museólogo John Mack (1995:9), o adorno pessoal é
considerado uma das mais antigas manifestações de produção
artesanal de objetos de arte: ora significa fé e devoção; ora status
social, econômico e cultural; ora amuleto ou talismã; ora veículo de
cura; ora apenas um objeto de decoração. É símbolo de individualidade
e coletividade; de valores morais e estéticos; da alma humana; de suas
tradições, heranças e antepassados; rituais; crenças; prosperidade;
compromisso; comportamento; desenvolvimento tecnológico; além de
ser um objeto de adoração, contemplação e desejo.
2
Escarificação. [Do lat. scarificatione] S.f. 1. Ato ou efeito de escarificar. 2. Med.
Produção de pequenas incisões simultâneas e superficiais na pele. (Ferreira,1986:685).

21
Nesta abordagem, podemos observar que o adorno pessoal,
objeto que tem como suporte o corpo humano, veículo vivo, dinâmico e
mutável de idéias, emoções, sensações e padrões, portanto, de
comunicação, vem acompanhando a humanidade por toda a sua
trajetória, se adequando às suas necessidades e aos seus valores em
contextos históricos, econômicos, sociais e culturais distintos. São
metáforas do cotidiano, pois os seus vários significados, subjetivos ou
objetivos, são idealizados e materializados pelo homem no metal e em
outros materiais. Através dos adornos pessoais, laços de parentesco,
afinidade ou afeto são reforçados; alianças são firmadas; o belo é
cultuado; a sexualidade é enaltecida ou condenada; os antepassados
são reverenciados; a fé é exaltada e a proteção é rogada. São símbolos
do fetichismo de um contexto, falam da adoração de objetos animados
ou inanimados aos quais poderes sobrenaturais, mágicos e espirituais
são atribuídos.

Adorno pessoal: representação simbólica de identidade

O homem, mesmo antes de se vestir, usou adornos pessoais,


confeccionados de peles, presas, ossos, conchas, seixos, fibras
vegetais e animais, madeiras e outros materiais tidos então como
preciosos. Preciosos por quê? Porque através destes, por sua raridade,
aparência, forma e função, provavelmente, buscava-se expressar
idéias, valores, atitudes, posição social, crenças, prestígio e poder. O
adorno pessoal surge e se perpetua, portanto, como veículo de
comunicação e expressão das demandas, desejos, cultura, origem e
sentido de pertencimento de um indivíduo, de um grupo, de uma
sociedade. É uma das formas do homem se diferenciar, se identificar e
firmar sua posição social.
O homem se relaciona com outros indivíduos, grupos e
sociedades. Através da linguagem – código / sistema composto de
sinais, de caráter dinâmico, mutável e múltiplo, elaborado como
convenção para significar conceitos comuns e traduzir sentidos; busca a

22
compreensão, o diálogo, a troca de experiências, a ordem e a
convivência social.
A linguagem, portanto, é um produto social, gerado em um
contexto histórico, pela demanda e combinação de fatores
circunstânciais. Apresenta-se como mediadora das relações sociais,
produz efeitos, e através da qual, normas são estabelecidas; a ordem é
firmada; os valores são expressos, perpetuados ou excluídos; questões
cotidianas são gerenciadas; hierarquias são formatadas e articuladas.
Esta análise nos remete aos textos de Janet Wolff (1982:23-29)
nos quais é conduzido debate sobre a natureza da obra de arte, de sua
produção, distribuição e percepção. A leitura é iniciada com a afirmação
de que a arte é um produto social, conseqüentemente, construção
resultante de vários fatores, vinculados às estruturas e convenções
sociais em ação, sendo afetada por estes mecanismos. Entendemos
que os objetos são uma forma de linguagem, portanto, produtos da
estrutura social em vigente.
As sociedades humanas produzem estruturas sociais embasadas
na hierarquia, que está expressa nas organizações, relações, papéis e
valores sociais, que atuam como mecanismos de seleção e
consolidação das diferenças e semelhanças entre os indivíduos e
grupos. A hierarquia é resultado da demonstração, imposição e
aceitação do poder, que faz prevalecer um ponto de vista sobre a vida,
normas de conduta e ordem social em vigor, por meios que influenciem
e induzam no outro a ação ou o comportamento desejado. Citamos
Hannah Arendt (Apud: Habermas,1980:101-118), que entende o poder
como resultado da “capacidade humana, não somente de agir ou de
fazer algo, como de unir-se a outros e atuar em concordância com eles”.
O poder não é apenas a instrumentalização de uma vontade alheia para
os próprios fins, mas a formação de uma vontade comum, uma
comunicação orientada para o entendimento recíproco, no contexto da
comunicação livre de violência. Ocorre o assentimento e consenso dos
participantes mobilizados para fins coletivos e entendimento recíproco.
A linguagem, portanto, torna-se veículo ativo destas relações e
atribuições, tanto para mediar a aceitação como a reação ao poder
hegemônico.

23
A partir desta visão, podemos observar que as sociedades
produzem diversas formas e meios de significar e articular o poder,
dentre os quais podemos citar os bens simbólicos como agentes
eficientes na hierarquização social. Aqui, torna-se oportuno fazer
análise das estruturas sociais pela ótica de Pierre Bourdieu, que
discorre sobre o papel dos bens simbólicos dentro destes sistemas na
obra A Economia das Trocas Simbólicas (2001).
Bourdieu identifica o espaço social como lugar onde agentes
sociais, oriundos da mesma ou de diferentes classes sociais, se
relacionam. As classes sociais, portanto, são resultados da construção
classificatória, sistêmica e relacional do espaço social, que vai legitimar
os bens simbólicos. Estes agentes sociais têm diferentes pontos de
vista sobre o mundo e relacionam-se entre si de formas diversas. Em
função disto, as classes também têm diferentes graus e tipos de
relação, que geram os princípios da hierarquização pelos diferentes
graus de posse de bens, recursos e capital, demarcando as distâncias
sociais. Segundo Bourdieu, capital tem significado de bem utilizado nas
disputas sociais entre os agentes. O capital pode ser econômico, social,
cultural e simbólico; este último está diretamente vinculado aos valores
econômicos, intelectuais, artísticos e estéticos, quando conhecidos,
reconhecidos e legitimados como tais pela sociedade.
Os bens simbólicos são construções eficazes em perpetuar a
hierarquização social, e, conseqüentemente, as distâncias sociais, pelo
exercício do poder através da dominação simbólica legitimada e
alimentada pelo contexto e pela estrutura social.
Desta forma, podemos perceber o adorno pessoal como um
componente de formação da identidade do indivíduo, grupo e
sociedade, resultante da intenção, percepção e relação com o outro. O
objeto de adorno pessoal, portanto, também funciona como um
mecanismo da alteridade, isto é, de demarcação da distinção, da
qualidade que se constitui através de relações de contrastes e
diferenças. Este mecanismo é um dos símbolos de dominação, intenção
e confirmação da hegemonia, de prestígio e do poder, mas também de
contestação, resistência ou oposição.

24
Portar o adorno pessoal preenche a necessidade de auto-
afirmação e de identificação dos agentes sociais inseridos em uma
estrutura social. Chama-se a atenção para a dinâmica deste organismo,
que relaciona grupos distintos, inclusive os que negam o grupo
dominante pela exclusão de elementos simbólicos então dominantes,
gerando, conseqüentemente, um novo grupo. Torna-se claro o
movimento e a relação destas estruturas, que vivenciam a dependência
como necessária para legitimar a relação construída.
O adorno pessoal ao compor a imagem de seu usuário, torna-se
eficaz por localizá-lo e identificá-lo socialmente, e por fazê-lo parte da
dinâmica estrutura social em vigor. Portá-lo, proporciona ao usuário
confiança em sua imagem, que pode ser a real ou a pretendida; situa
seu gosto e escolhas, portanto, visão de si e de mundo; seus valores e
crenças. Portá-lo é deter poder, é se sentir protegido, é se relacionar
com o outro, é se perceber como indivíduo.

Após breve reflexão sobre o papel dos objetos de adorno


pessoal nas sociedades humanas, apresentaremos um panorama da
sociedade celta até a dominação romana. Nesta, buscaremos identificar
as questões levantadas e abordar esta sociedade pelo seu cotidiano,
focando nos usos e significados atribuídos aos adornos pessoais. Para,
posteriormente, apresentarmos um breve panorama da Britânia, após a
ocupação romana, através dos objetos de adorno pessoal produzidos e
usados na região, e, então conduzirmos uma discussão sobre a
interação cultural entre as mencionadas sociedades.

25
3. Os celtas

Celtas3 são povos que surgiram no centro da Europa entre o


século VII e IV a.C., quando se expandiram por praticamente todo o
continente: Espanha, Portugal, Alemanha central e Boêmia, França,
norte da Itália, regiões do Danúbio, Grã-Bretanha, Irlanda, Polônia,
Bulgária, Ucrânia até a Turquia. Difundiram, por estas regiões, sua
estrutura social, sua religião, economia e conhecimentos tecnológicos.
Estudos sugerem que a origem da civilização celta está vinculada a
duas correntes: 1. Cultura de Hallstatt,4 no sul da Áustria, até o 800 a.C.,
e 2. La Tène,5 junto ao lago suiço Neuchâtel, cerca de 500 a.C.; e a
primeira migração para a Britânia6 tenha ocorrido em torno de 600 a.C.
A unidade deste povo, que ocupou regiões tão diversificadas e
distantes, pode ser reconhecida na língua comum às sociedades,
mesmo com variações de diferentes dialetos, que passamos a conhecer
a partir das inscrições gaulesas e citações em obras de autores gregos
e latinos; pela forma de organização social; religião e tradições artísticas
compartilhadas.
Os celtas não deixaram registros escritos, portanto, o que
conhecemos deste povo é oriundo da cultura material, resgatada em
sepultamentos, entesouramentos e sítios arqueológicos; dos mitos da
tradição oral registrada nas lendas e canções irlandesas e gaulesas do
século VII d.C.; de relatos e narrativas de estudiosos gregos e romanos
(militares, geógrafos e historiadores)7 e, posteriormente, por monges

3
A palavra ‘celta’ vem do nome grego Keltoi dado aos bárbaros oriundos da Europa de
clima temperado.
4
Hallstatt - cidade na região montanhosa Salzkammergut, na Áustria, de 700 a.C. a 500
a.C., deu o nome à primeira fase a Idade de Ferro na Europa. Os túmulos desta região
apresentaram quantidade relevante de adornos pessoais feitos de metal.
5
La Tène, de 500 a.C. a 43 d.C., localidade suiça perto do Lago Neuchâtel, segunda
fase da Idade do Ferro. Estilo praticado até a conquista da Gália por Júlio César, século
I a.C. Muitos elementos do estilo La Tène continental são compartilhados com o insular,
mesmo este apresentando particularidades.
6
A Britânia compreende o território da atual Inglaterra, Gales e o sul da Escócia.
7
Hecateu de Mileto – geógrafo grego (550-475 a.C.), Viagem ao Redor do Mundo e
Histórias; Pítias de Massalia – mercador, geógrafo e explorador grego (380–310 a.C.);
Políbio – historiador e geógrafo grego (208-126 a.C.), Histórias; Posidônio de Rodes –
filósofo grego da Escola Estóica (135-51 a.C.); Júlio César – general e historiador
romano (100-44 a.C.), Comentários sobre a Guerra Gálica; Diodoro da Sicília –
historiador grego (c. 90-21 a.C.), Biblioteca histórica; Estrabão – geógrafo e historiador
grego (63 a.C.-24 d.C.), Geografia; Tito Lívio – historiador romano (59 a.C.-17d.C.),
História de Roma; Plínio, O Velho, historiador e naturalista romano (23 a.C.-79 d.C.),
História Natural; Cornélio Tácito – historiador romano (55-117 d.C), Anais, Histórias,
compiladores de mitos, lendas e costumes politeístas. Foram
mencionados, pela primeira vez, pelo geógrafo grego Hecateu de Mileto
e, posteriormente, pelo geógrafo e historiador grego Heródoto de
Halicarnassos (484-425 a.C.), em sua obra História (II,33; IV,49):

(...) Com efeito, o Nilo vem da Líbia e do centro de seu território;


conjecturo, então – raciocinando em relação às coisas desconhecidas
com base nos fatos evidentes – que seu percurso tem extensão igual à
dos Istros. Este rio vem da terra dos celtas e da cidade de Pirene, e
corre através da parte central da Europa. Ora: os celtas vivem além
das Colunas de Heraclés, sendo vizinhos dos cinésios, habitantes da
parte mais ocidental da Europa. Logo, o Istros corre através de toda a
Europa e termina no mar, lançando-se ao Pontos Êuxeinos junto à
cidade de Ístria, habitada por colonos milésios. (Heródoto, História: II,
33)

Descritos nas narrativas clássicas (Políbio, II 28-29; Estrabão IV,


passim; Diodoro da Sicília V, 28-31; Plínio, História Natural, VIII, 196)
como povo belicoso, formado por indivíduos altos, com cabelos louros e
ondulados; corpos fortes, adornados com tatuagens ou pinturas, e, que
em batalhas, faziam uso de vistosos braceletes e torçais; hospitaleiros;
falantes; vaidosos; apreciadores da bebida e festejos; esfuziantes na
vitória e abatidos na derrota.
A história da sociedade celta vem sendo estudada e
reconstruída a partir de escritos antigos de “outros” e de material
arqueológico diversificado, oriundo de assentamentos, cemitérios,
entesouramentos, espaços de práticas rituais e depósitos de objetos
votivos.
A pesquisa a partir das mencionadas fontes textuais escritas,
nos apresenta dados do olhar estrangeiro – do “outro”, que leva em
consideração a sua própria forma de ver o mundo e o seu repertório de
referências conhecidas. Sua observação, portanto, pode estar focada
nas práticas e questões prioritárias em sua sociedade, resultando em
interpretação e avaliação condicionadas por valores diferentes aos dos
celtas. Assim, consideramos interessante a abordagem feita por

Sobre a vida e o caráter de Júlio Agrícola, Germânia; Dio Cássio – senador e historiador
romano (150-235 d.C.), História Romana.

27
pesquisadores que buscam relacionar os dados textuais escritos ao
acervo material para entender o cotidiano da sociedade celta.
No capítulo anterior, mencionamos que o indivíduo ao se
relacionar com outro, busca expressar e comunicar suas idéias e
valores, perceber as diferenças e se posicionar diante do outro. A
formação da identidade, portanto, passa a ser um meio de
reconhecimento de similaridades e diferenças na relação com o outro.
Vale ressaltar que a identidade não é fixa, pois resulta de um processo
dinâmico e circunstancial - o relacionamento social, entre indivíduos,
grupos e sociedades, questões que exemplificaremos e discutiremos
nos capítulos seguintes. As sociedades formam e adotam identidades,
que são compartilhadas pelos seus agentes, e que podem ser
percebidas em diversas manifestações culturais: arte, religião,
educação, tradições familiares, práticas cotidianas, alimentação,
produção de objetos, indumentária, formas de relacionamento com
outras sociedades, relações comerciais etc.
Os objetos, então, como produtos sociais, comunicam e
informam sobre os seus usuários; os seus papéis nas relações entre os
indivíduos e entre grupos; os significados, valores e usos a eles
atribuídos; formas de sua produção, circulação e consumo dentro de um
contexto histórico. Portanto, as evidências materiais da vida cotidiana e
de rituais auxiliam na compreensão das maneiras que os celtas
entenderam, expressaram e construíram suas identidades. Ao
classificar e formar grupos por características comuns, os objetos
podem oferecer pistas para a compreensão de como os celtas
organizavam suas moradias, como produziam e decoravam objetos de
uso cotidiano, que tipo de vestimentas e adornos pessoais escolheram
para fazer e usar, quais peças depositavam em túmulos, e que objetos
importados consumiam.

A organização socio-política dos celtas era tribal, onde o líder


era eleito pelos clãs, por sua bravura em guerra e qualidades morais. A
base desta sociedade foi a família.

28
Na Britânia, onde são conhecidos três mil assentamentos, a
população era formada por diferentes tribos, que ocupavam os
territórios que pertenciam à comunidade, formando vilas com mercados
locais e pequenos povoados. A pirâmide social foi dividida em: escravos
– camada mais baixa da sociedade, constituída por homens que
perderam os seus direitos por não seguir as leis ou as normas sociais
em vigor; os homens da tribo que trabalhavam as suas próprias terras,
ou eram empregados em outras terras (clientelismo); os artesãos; a
aristocracia guerreira, nobres ou serventes públicos – responsáveis pela
preservação dos direitos e atividades públicas da tribo; os druídas –
sacerdotes, profetas, filósofos e professores; os bardos e os
curandeiros que gozavam de posição de destaque na sociedade. O
poder político era compartilhado pelos chefes eleitos pela tribo e os
druídas.
Na sociedade celta, a mulher ocupou posição de honra, exerceu
funções de chefia de clãs e famílias, teve direito à posse de terras e
bens próprios, acesso à carreira religiosa, gozou de liberdade e
igualdade com o homem como guerreira, chefe e líder do grupo. Ao se
casar, a mulher conservava seus bens pessoais, e os levava consigo
em caso de dissolução do casamento.
A economia destas sociedades, essencialmente rurais, tinha na
agricultura (trigo, cevada, centeio, feijões) e na criação do gado bovino,
suíno e ovino as principais fontes de subsistência, conjugadas com a
metalurgia (desenvolveram grande habilidade no manuseio de metais –
ferro, chumbo, ligas de cobre,8 prata e ouro), desenvolvendo técnicas
altamente sofisticadas para produzir armas, escudos e capacetes,
objetos para uso cotidiano (louças, utensílios domésticos, ferramentas,
espelhos, pegas para objetos, adornos pessoais etc) e para rituais
(caldeirões, máscaras, esculturas – carretas de culto, objetos votivos).
Havia também a produção artesanal de cerâmicas e vidros, têxteis
(tecelões de lã e linho), objetos de madeira e couro. Estes produtos
eram comercializados entre as tribos e o continente a partir do século I

8
Ligas de cobre: combinação do cobre com dois ou mais metais, usualmente fundidos
juntos, favorecendo suas propriedades e as equilibrando. 1. Bronze: liga metálica
composta por 96% de cobre e 4% de estanho. O bronze celta poderia possuir partículas
de cobalto, arsênico, ferro e níquel. 2. Latão: liga metálica composta por 70% de cobre e
30% de zinco.

29
a.C.9 As elites celtas demandavam e consumiam artigos de luxo,
compreendidos como bens de prestígio, tais como jóias, tecidos, vidros,
peças finas de cerâmica, vinhos e outros produtos vindos de regiões
distantes, o que movimentou o intercâmbio comercial e a formação de
centros comerciais em pontos estratégicos pela Britânia (os portos da
região sul e sudeste se destacam). Os artigos de luxo eram trocados
por gado, cereais, escravos, cães de caça, ouro, prata e ferro.
As atividades e elementos cotidianos mencionados, foram
representados como temas para ornamentos localizados; padronagens;
formas de objetos utilitários, decorativos e votivos; adornos pessoais e
armamentos. Suas qualidades e importância na ordem social os
tornaram símbolos sagrados, associados às forças e atributos divinos.
No quadro abaixo, podemos conferir os principais elementos
observados ao longo do estudo realizado.

Quadro 01: Principais elementos naturais, símbolos, padrões e


grafismos celtas.
Elementos naturais, símbolos, padrões e grafismos celtas
Britânia - até 43 d.C.
Elemento Representação Significado(s)
• poder mágico de cura
• mares, rios, quedas d’água, fontes e • o princípio da vida, fecundidade
Água
pântanos • elemento feminino – a mãe
• o mantenedor da vida
• venerados por sua força,
agressividade e virilidade
• virtudes de guerreiro
Boi / touro
• abundância agrícola
• símbolo das forças cósmicas,
fertilidade
• poderes sobrenaturais e
Cabeças
• deuses e guerreiros espirituais
humanas
• proteção – guardiãos espirituais

• símbolo de velocidade, beleza e


virilidade
Cavalo
• símbolo sagrado
• associado ao deus-sol

Elementos • abundância
florais / • símbolos de ressurreição na
vegetação vegetação e agricultura

• fecundidade, símbolo da
Falo / formas • deuses e guerreiros representados com perpetuação da vida, do poder
fálicas falo ereto ativo e da força
• rituais de fertilidade
• combinação de grupo de linhas em
Hachuras • formando trama de cestaria
direções contrárias

9
O comércio com Roma foi estabelecido e mantido até a invasão de Cláudio em 43 d.C.

30
• símbolo mágico associado ao
Par de
céu e cultos solares
dragões /
• proteção, roga-se coragem e
forma em S
vitória na guerra

Pássaros / • águias, cisnes, gansos, corvos, gralhas. • mensageiros dos deuses,


aves • desenhos estilizados. contato com o Outro Mundo
• símbolo do sol e céu, e das
Rodas, divindades solares – o criador
discos, • guerreiros usavam amuletos de
espirais e proteção, pessoas eram
suásticas / enterradas com miniaturas da
desenhos roda
geométricos • a força vital, propicia a fertilidade
e cura, luz
• síntese espiritual, harmonia,
Tríscele (de vinculado ao número mágico três,
três pernas) proteção, o sagrado e o positivo
• nascimento, zênite e ocaso
• referência à guerra, caça, na
forma de cornos e chifres,
Trombetas símbolos de virilidade
• instrumento de metal próprio dos
nobres e guerreiros

A visão e compreensão de mundo do homem celta, bem como


sua fé estavam ligadas à natureza. Foi um homem religioso, orientado
pelo mundo espiritual – chamado de o Outro Mundo, do qual fazem
parte os grandes guerreiros, mortos em batalhas, transformados em
divindades e mitos sagrados, respeitados e cultuados. Os celtas
acreditavam na sobrevivência da alma depois da morte e no seu
renascimento em forma humana, animal, vegetal ou mineral. A religião
politeísta reverenciava as águas de rios, fontes, quedas d’água, poços e
pântanos; a terra; as florestas e os animais; o céu e os seus astros. Em
comunhão com a natureza, a céu aberto, veneravam os deuses,
festejavam e realizavam rituais de iniciação, fertilidade, nascimento,
vida e morte, conforme o calendário baseado nos meses lunares, que
contavam os períodos de tempo não pelos dias, mas pelas noites. O
ano era dividido em quatro grandes festivais religiosos, vinculados ao
ano agrícola: Samhain (31 de outubro / 1º de novembro – marca o início
do inverno, fim do ano pastoril e início de outro), Imbolc / Brigantia (1º
de fevereiro – festa da purificação, da primavera), Beltane (1º de maio –
celebração pela chegada do verão, ritos de purificação e proteção do
gado contra doenças) e Lughnasadh (1º de agosto – a festividade das
colheitas, início do outono).

31
A religiosidade celta foi expressa, com freqüência, em objetos.
No Quadro 02, apresentamos um resumo das principais divindades e
mitos sagrados, relacionados à natureza (animais, vegetação,
fenômenos climáticos e naturais, estações) e aos elementos ar, terra,
fogo e água, que trazem bons augúrios e vitória nas guerras,
abundância na colheita e fertilidade dos solos e mulheres, pela
prosperidade e cura; e representados por elementos gráficos simples,
figurativos e/ou estilizados.

Quadro 02: Principais divindades celtas - símbolos e representações


gráficas.
Deuses celtas - representações gráficas e significados
Britânia - até 43 d.C.
Divindades Representação Significado
• carregando objetos em formato de S, • divindade suprema
que representava os relâmpagos e o • velocidade, beleza, força,
Deus Sol – Bel céu destreza sexual
/ Belenos • cavalo – animal de prestígio e elite • vinculado à festividade Beltane:
guerreira associado ao céu, luz, cultos ao
• suásticas, o S sol e fogo
• aquela que vela pela
• geralmente três mulheres cercadas por abundância, prosperidade, parto,
fertilidade e fecundidade do gado,
frutos, pão e espigas de trigo, ou bêbes
dos homens e da terra
Grande Mãe • Dólmen: símbolo da Grande Mãe,
• a mulher é a terra que
relacionado aos cultos de fertilidade
desenvolve o grão, símbolo da
• associada às águas e árvores
terra fecunda. Às vezes, ligada ao
culto solar.
• senhor das florestas, animais e
• representado com chifres e orelhas de
fartura. No panteão celta é o 2º
Deus alce
mais importante
Cernunnos • associado à serpente – símbolo de
• simboliza virilidade, força e
renovação
poder
• cão
Deus Nodons e
• conexão com as águas, monstros • divindade da caça, cura e morte
Arawn
marinhos e peixes
Deus Esus • ‘Senhor’ / ‘bom mestre’,
(divindade • entre folhagens. associado às árvores, vegetação,
gaulesa) elementos da terra
• carneiro
Deus Erriapus • força e agressividade
• acompanha Cernunnos
• o senhor dos relâmpagos
• usando capacete cônico, escudo e
• representa as mudanças, a força
Deus Taranis clava, e com a roda / o relâmpago
• ao seu lado é representada a roda destrutiva das tempestades e do
fogo
Deus Teutanes
// Cocidus
• água • guerreiro protetor, chefe tribal
(norte da
Britânia)
• guerreiro, mestre do artesanato
• corvo - um corvo profetiza a morte,
Deus Lugus • o nome da cidade Londres pode
três corvos juntos representam a
(Lud / Lugh) ter origens no nome deste deus,
destruição
que pode significar lince
Deusa Verbeia
• usando vestido pregueado, segurando
(popular norte • divindade da primavera
uma serpente em cada mão
da Britânia)
• com espiga de trigo ao lado de cavalos • divindade da fertilidade,
Deusa Epona
(animal de prestígio) protetora dos guerreiros /

32
• corvo cavaleiros, cavalos e asnos
• provedora da fartura
• vinculada à festividade pastoril
Deusa
• usando coroa • deusa que proteje as mulheres
Brigantia
em trabalho de parto
Deus Archina e • javali = animal de culto (se
deusa relacionava com o poder dos
Arduinna druidas), guerreiro natural
• representada montando um javali e um
(deusa da • representada no topo de
punhal na mão
floresta, vida capacetes, escudos ou em
selvagem, caça terminais de trompetes de guerra
e lua) (carnyx)
• deusa de profecia, inspiração,
Deus Sulis - sabedoria e morte
• divindade da cura
• renovação, renascer, cura,
Deusa Sirona • serpente
fertilidade

Esta sociedade produziu objetos para atender as necessidades


do grupo, e tornar o seu cotidiano mais confortável, prático e produtivo.
A estes foram atribuídos significados e valores, que permearam e
direcionaram as suas mais variadas funções: móveis, utensílios e
recipientes, armas, ferramentas, objetos rituais, objetos de adorno
pessoal, vestimentas etc. Muitos destes objetos receberam decorações
em suas superfícies ou foram confeccionados segundo formas
específicas, o que nos permite conhecer o gosto e a compreensão
estética desta sociedade.
Podemos perceber como as principais características da arte
gráfica e plástica celta: as composições e padrões formados pela
combinação de linhas retas e curvas, limpas e simples, ora simétricas,
ora assimétricas, formando motivos decorativos variados – geométricos,
florais e folhagens, através de espirais, círculos, trisceles, suásticas etc,
preenchidos com texturas variadas; figuras estilizadas – antropomorfas
e zoomorfas; liberdade na abstração, sem compromisso com o realismo
na representação de seres, que passaram a ser imaginários e
assumiram importância mágica. Estudos (Laing,1996:8-14) mencionam
o uso de compasso na elaboração dos desenhos na superfície dos
objetos, o que proporcionou um bom acabamento às formas da
composição, que geralmente apresenta contornos e linhas firmes, bem
construídas e com largura homogênea. A arte celta pagã representou
com ênfase deuses e elementos da natureza vinculados à fertilidade,
morte e ressurreição (vide Quadro 02).

33
No Quadro 03, apresentamos exemplos de composições
aplicadas às superfícies de objetos. Chamamos a atenção para a
representação dos elementos mencionados nos Quadro 01, tais como:
o triscele, a ornamentação floral e de vegetação, círculos e discos,
hachuras e cabeças de pássaros estilizadas.

Quadro 03: Ornamentos celtas aplicados nas superfícies dos objetos.


Ornamentos celtas
• Armamentos: capacetes, escudos, lanças, espadas, bainhas de espada; objetos utilitários
(espelhos, jarros, canecos etc), decorativos e votivos (baldes, caldeirões, réplicas de armamentos
etc) , e os adornos pessoais recebiam decorações.
• Ornamentos florais e folhagens, animais domésticos e fantásticos, formas geométrica em
composições harmoniosas, organizadas e executadas com refinamento. Observamos a
preocupação com o equilíbrio visual e o efeito de movimento dos componentes.

Dos vários objetos produzidos pelos celtas, não poderíamos


deixar de citar o vestuário – suporte ou importante elemento na
composição e uso de adornos pessoais. Nos relatos dos autores
clássicos, o vestuário celta era composto de uma túnica (tunicae) de
linho, com mangas, usada até os joelhos por homens e até os
tornozelos por mulheres, ajustada na cintura por um cinto com alguma
fivela ou broche. Sobre a túnica, usavam mantos (brat) retangulares e
coloridos (marrom, púrpura, carmin, azul e verde), ou listrados ou
pintados, feitos de lã (sagi) ou linho, com franjas ou trançados
aplicados, presos por fíbulas, broches ou alfinetes. O comprimento do
manto dependia do status e de quanto o seu usuário era abastado. O
uso de calças está associado à montaria de cavalos, prática que passou
a ser comum na Europa ocidental na Idade do Bronze. As sandálias ou
sapatos eram feitos de couro e peles, dos quais também eram
confeccionadas roupas, gorros, acessórios variados e objetos de
decoração.
A indumentária e os objetos de adorno pessoal das sociedades
celtas, continentais e insulares, desempenharam importantes papéis
como componentes formadores da identidade destas culturas, o que

34
permitiu identificá-los como grupos. Estes objetos de expressão da
identidade, nos oferecem informações sobre os indivíduos e grupos
sociais a que o usuário pertenceu; o estilo, o gosto e a moda que
determinaram as suas formas, os usos e os padrões estéticos então
aceitos e considerados adequados.
Os pesquisadores não puderam contar com um acervo relevante
de trajes celtas, pois peças feitas de lã, linho, peles e couro precisam de
condições especiais no ambiente, em que foram depositadas, para se
manterem preservadas. Mas, outros objetos encontrados em túmulos
masculinos e femininos – vestígios das honrarias fúnebres dedicadas ao
morto, nos quais eram colocados alimentos, animais, ferramentas,
armas de ferro ou bronze, adornos pessoais (tesouro Winchester),10
amuletos, vasilhames de cerâmica ou metal, carros de quatro ou duas
rodas com os acessórios de atrelagem; caldeirões (símbolo da
abundância) e trombetas – objetos considerados como necessários na
outra vida; ou enterrados em tesouros, ou em locais destinados para os
rituais sagrados como objetos votivos – oferendas para divindades:
miniaturas de machados; barcos; espadas e escudos de bronze
(Ilustração 01); rodas; esculturas de cabeças humanas com uma a três
faces, feitas de metal ou pedras; figuras de animais (javalis, cães,
cavalos e bois); e torçais - ofereceram pistas generosas sobre os
hábitos destas sociedades.

Ilustração 01
Nome: escudo Battersea
Material: bronze e esmalte vermelho opaco
Período: século III a.C.
Proveniência: rio Tâmisa em Battersea, Londres.
Dimensões: comprimento 77,5cm
Descrição: escudo cinzelado, com três círculos decorados por
composição floral estilizada. Desenhos em relevo cinzelado,
simétricos, formados por linhas curvas, firmes e limpas. 27
detalhes em forma circular, esmaltados em vermelho opaco.
Temática: suásticas nos centros esmaltados - símbolo do sol,
céu, das divindades solares, e dos guerreiros.
Estilo: La Tène (insular)
Especificidade: escudos da Idade do Ferro foram confeccionados
em madeira e couro, raramente recebiam partes em metal.
Localização: British Museum, Londres. P1857.7-15.1
Ref. biblio.: Laing;1996:106-107
Uso social: pela rica decoração, supõe-se que seja objeto de
parada, ou objeto votivo - para santuário, ou oferenda em espaço
de ritual (margens de rios), não para batalha.

10
Tesouro Winchester: Idade do Ferro, depositado em torno de 75-25 a.C., em
Hampshire, sul da Inglaterra.

35

Por toda a Europa, segundo Hugh Tait (1997:70-79), podemos


observar certa uniformindade nas formas e usos dos adornos pessoais
celtas, bem como nos processos de sua fabricação. O alto
conhecimento tecnológico de metalurgia e ourivesaria produziu
belíssimos objetos - peças resultantes das técnicas de fundição por cera
perdida* ou em areia, repuxo*, cinzelamento* e gravação*, decoradas
pelos processos de esmaltaçãoa quente* ou inlay * de pedras e vidros.
Os adornos pessoais foram usados por homens e mulheres das
mais diversas idades e status social, e confeccionados de ouro (material
oriundo de minas em solo, aluvião* ou lavado em córregos),11 prata,
ferro e ligas de cobre (principalmente de bronze). Receberam
decorações em relevo, quando formadas por repuxo ou cinzelamento da
chapa de metal, ou gravadas em suas superfícies – linhas paralelas e
oblíquas, hachuras formando a trama de cestarias, e padronagens
variadas; ou aplicações de outros materiais como esmaltes coloridos
(amarelo, verde, azul e vermelho), incrustações de corais do
Mediterrâneo, conchas e pasta de vidro.
Há objetos com claro aspecto utilitário, isto é, componentes da
indumentária de uso cotidiano, como os populares broches (Ilustração
02) e fíbulas (Ilustração 03), nas mais variadas formas e dimensões –
usados no peito ou no ombro, onde poderiam ser vistos por outros;
alfinetes de segurança para roupas, ou grampos para cabelos e fivelas
confeccionados de bronze, ferro, ouro e prata, todos usados como
presilhas na fixação de partes das túnicas, camisas e mantos (brat).
Embora, na Idade do Ferro, na Britânia, as peças predominantes
tenham características do estilo e moda insular, alguns destes objetos
podem ter sido importados, apresentando, portanto, traços do gosto
continental.

11
O ouro usado no período Hallstatt não era ligado. A partir do início do período La
Tène, o ouro passa a receber 5% de cobre para formação de liga.

36
Ilustração 02
Nome: broche
Material: bronze
Período: século III a.C.
Proveniência: Lincolnshire, Inglaterra.
Descrição: broche em forma de ‘8’, sinuosa,
decorado com circulos , alguns concêntricos, pontos
em suave relevo cinzelado. Nas laterais hachuras,
formando o padrão das cestarias.
Temática: desenhos abstratos
Estilo: La Tène (insular)
Especificidade: alfinete sem suporte de segurança
Ref. biblio.: Mills,2000:25;
Uso social: peça de decoração e fixação de partes
de roupas leves.

Ilustração 03
Nome: fíbula
Material: bronze
Período: século III a.C.
Proveniência: Lincolnshire, Inglaterra.
Descrição: forma simples, parte superior feita de chapa, sustenta compartimento de
segurança do alfinete; está solda a uma esfera, que dá início ao fio que forma o alfinete e o
mecanismo de pressão e fechamento.
Estilo: La Tène III (continental)
Ref. biblio.: Mills,2000:40
Uso social: dispositivo para fixação de roupas e mantos.

Colares de contas de vidro e de âmbar foram encontrados, com


certa freqüência, em túmulos femininos – o que nos sugere a
importância feminina naquela sociedade, além de apontar para o gosto
da época que demandava também os materiais com efeitos visuais e
texturas diferentes a dos metais.
Os braceletes (Ilustração 04) são mencionados na bibliografia
(Johns,1996:108-124) como peças bastante populares; alguns têm a
forma semelhante a dos torçais com terminações em alça, ou formas
sólidas decoradas, mas raramente representando cabeças de animais
(belos exemplares deste tipo são oriundos de tribos celtas continentais).
Estas peças encontradas em pares, em túmulos ou entesouradas,
sugerem - pela variação de origem, formas, aplicação de grafismos,
cores e materiais, traços de influência externa.

37
Ilustração 04
Nome: torçais (sete) e braceletes (quatro)
Material: ouro amarelo
Período: século I a.C. a I d.C.
Proveniência: Snettisham, Norfolk (território Iceni); encontrado em cova o tesouro L, em 1990.
Associado com moedas, fragmentos de metal e braceletes.
Descrição: dois braceletes rígidos, lisos, feitos de fio chato; dois braceletes em forma de torçal –
fios torcidos formam seus corpos e extremidades em forma de alças.
Estilo: celta insular
Localização: British Museum
Ref. biblio.: Laing;1995:29,32

Os anéis, brincos, colares flexíveis de metal e correntes foram


provavelmente pouco usados e produzidos na Idade do Ferro, na
Britânia. Os autores mencionam que tais peças passaram a ser mais
comuns durante o período de ocupação romana.
De todos os adornos pessoias, os torçais confeccionados de
metais são as peças mais emblemáticas da cultura celta. Mais de 200
exemplares, feitos de ouro electrum* (2 partes de prata + 3 partes de
ouro) e ouro puro, foram descobertos na Britânia – grande destaque
para os tesouros de Snettisham12 e Ipswich.13
Torçais são objetos de adorno pessoal, que têm formato de um
anel, que nos lembram as atuais gargantilhas rígidas usadas na base do
pescoço. Suas extremidades são abertas e finalizadas em alças
decoradas, maciças ou ocas (Ilustrações 05 e 06). São confeccionados

12
Tesouro Snettisham – Idade do Ferro, enterrado entre 70-75 a.C., em Ken Hill,
Snettisham, Norfolk (East Anglia – território do grupo Iceni / Rainha Boudica), Inglaterra.
Forma um dos 5 grupos do Snettisham Cinco grupos (A,B,C,D,E) do tesouro foram
encontradas em 1951: 61 torçais ou braceletes, 2 braceletes, 158 moedas e alguns
anéis. Em 1990, foram descobertos mais 7 tesouros (F: 50 torçais, 17 braceletes, 2
lingotes e 9 moedas, G: 03 torçais de ouro electrum + 07 de prata + 10 torçais de
bronze,H,J,K,L,M), que somam 20kg de ouro e 15kg de prata.
13
Tesouro Ipswich - Idade do Ferro, enterrado c. 75 a.C. Foi descoberto em outubro de
1968, no estado de Belstead, Suffolk, Inglaterra: 5 torçais de ouro. O 6º foi descoberto
em 1970.

38
de metais: ferro, ligas de cobre, prata ou ouro. Alguns torçais receberam
decorações em suave relevo ou incisões gravadas, formando variados
desenhos em sua superfície (Ilustrações 06 e 08), outros são
despojados de ornamentos, têm o corpo torcido em torno de seu próprio
eixo (Ilustração 05). Acreditamos que a origem do nome deste objeto
esteja vinculada a esta última variante, isto é, vem do padrão obtido de
dois fios maciços torcidos em torno de si. A palavra torquis era usada
pelos escritores latinos para nomear o torçal, e esta palavra vem do
verbo torqueo – torcer.

Ilustração 05
Nome: torçal
Material: ouro amarelo
Período: séc. I a.C.
Proveniência: Snettisham, Norfolk, Inglaterra.
Dimensões: diâmetro 21,2cm
Descrição: dois fios largos torcidos com
terminações em formato de alças, um anel
preso em uma das alças.
Localização: British Museum, Londres –
PRB 1951.4-2.1
Ref. biblio.: Tait,1997:80
Obs.: encontrado sozinho, em 1950.

Ilustração 06
Nome: torçal (detalhe)
Material: ouro amarelo
Período: século I a.C.
Proveniência: Ipswich, Suffolk, Inglaterra.
Descrição: terminações em formato de alças
decoradas com relevos florais estilizados.
Localização: British Museum, Londres – PRB
1969.1-3.5
Ref. biblio.: Tait,1997:78
Obs.: encontrado em 1968

Segundo Powell (1997:38), os torçais passaram a ser usados


pelos celtas no período de prosperidade do estilo La Tène (meados do
século V a.C.), talvez, a partir de peças similares então usadas na
sociedade persa, indicando o crescente contato com os povos do sul e
oriente. Muitos destes objetos foram encontrados em túmulos femininos,
em tesouros e depósitos votivos. Há referências aos torçais em relevos
aplicados sobre superfícies de objetos votivos – caldeirões, e

39
esculturas, representando guerreiros ou divindades femininas e
masculinas usando torçais (Ilustração 07), e em textos de escritores
clássicos, que fazem menção aos ferozes guerreiros celtas em batalhas
usando torçais, embora este objeto tenha sido pouco comum em
túmulos de guerreiros.

Ilustração 07
Nome: escultura de guerreiro
Material: bronze
Período: séc. III a.C.
Procedência: Roma - Itália
Dimensões: altura 13cm
Descrição: guerreiro celta usa torçal e cinto,
exemplifica a imagem típica do guerreiro celta
descrita na literatura clássica.
Localização: Staatliche Museen, Berlim.
Fonte: Powell;1997:63
Obs: representa os Gaesatae – tropas gaulesas
(homens-lança), homens nus adornados com
torçais de ouro em volta do pescoço e braceletes
de ouro e armas, que lutaram na batalha Telamon,
em 225 a.C., entre romanos e gauleses. Políbio
(História,II,28-29) descreveu a batalha e os
Insubres e Boii, tribos estabelecidas no norte da
Itália.

O torçal apresenta-se como um objeto valioso e sagrado, que


tem significados sócio-religiosos: símbolo de liderança familiar ou tribal;
representação de autoridade, dignidade e poder do chefe da tribo;
símbolo da força, agressividade e coragem dos guerreiros; demarcador
de status, distinção e organização social; insígnia da sabedoria e dos
poderes mágicos dos sacerdotes druídas; objeto de prestígio; objeto de
devoção religiosa; presente diplomático, símbolo de boa-fé e estima
para formação de alianças. Sua forma, dimensões, decorações
aplicadas à superfície, tipo de acabamento na confecção da peça e
materiais podem sugerir a identidade de seu usuário.
Os torçais distinguem no grupo o líder ou o guerreiro, aqueles
que têm o direito ao objeto sagrado, pela sua coragem e força. O líder
porta o mais rico dos torçais, que demarca o lugar de maior autoridade
na hierarquia social e representa a liderança, o poder, o diálogo com o
divino. O objeto que simboliza a identidade, usá-lo, não é apenas ser
reconhecido pelo grupo, mas também para se reconhecer como o líder,
o guerreiro, o homem, ou mulher de prestígio e poder. Dio Cassio
(História Romana,LXII:1-12) descreve Boudica - a rainha dos Icenos
(Norfolk), usando um grande torçal de ouro na rebelião contra os

40
romanos em 61 d.C. (Stead;2000:72-79). O objeto para significar,
dialogar, organizar, diferenciar, interagir, identificar e reconhecer. Os
chefes de tribos usavam torçais de ouro amarelo com fino acabamento
e riqueza de detalhes (vide similar na Ilustração 08). Os guerreiros
usavam torçais simples de prata, bronze, ferro, ou, às vezes, de ouro,
despojados de decorações rebuscadas.

Ilustração 08
Nome: torçal
Material: liga de ouro, prata e cobre
Período: Idade do Ferro, enterrado cerda de
70 a.C.
Proveniência: Snettisham, Norfolk –
Inglaterra. Forma um dos cinco grupos do
tesouro Snettisham, encontrado em 1951, em
Ken Hill.
Dimensões: diâmetro 19,5cm
Descrição: o corpo é formado por oito fios,
cada um formado por oito fios torcidos,
soldados à terminação em formato de alça
decorada com folhagens estilizadas e
hachuras.
Localização: British Museum, Londres – PRB
1951.4-2.2
Ref. biblio.: Laing;1995:32; Powell;1997:70;
Johns;1996:28; Tait,1997:79

As formas dos torçais e as decorações aplicadas às superfícies


são ricas em elementos simbólicos, tais como a roda (símbolo do sol e
das divindades solares), suásticas (representam o movimento do sol),
triceles (padrão celta - três pontas em movimento, forma de
representação do número sagrado), espirais (redemoinhos e furacões),
S (associado ao céu, relâmpagos e cultos ao sol), círculos e
representações de florais, folhagens e animais. Os desenhos podem ser
abstratos, estilizados ou figurativos em reverência à importância da
natureza no cotidiano celta.
Finalizamos o capítulo com o Quadro 04, no qual traçamos um
resumo esquemático, que identifica as principais caracterísitcas dos
adornos pessoais usados na Britânia. O conteúdo apresentado, será
retomado nos capítulos seguintes, ao realizarmos comparações com as
peças e elementos do estilo romano para, finalmente, observarmos os
exemplos produzidos na Britânia após a ocupação romana. Nossa
intenção é, através de elementos visuais e tópicos, propor uma olhar
sintético sobre as diferenças e semelhanças nos adornos pessoais
resultantes das interações ocorridas entre estas culturas.

41
Quadro 04: Adornos pessoais celtas.
Adornos pessoais celtas
Ilhas Britânicas - até 43 d.C.
Tipo Forma e decoração Significado Material Caracterísitcas
• raramente usados
Anel • lisos ou decorados - • bronze e ouro
pelos celtas
• rígidos, tubulares, • usados em pares,
lisos, torcidos e • bronze, ferro e ou peças únicas,
peças volumosas ouro + esmalte nos pulsos, braços
com relevos vermelho, azul, ou tornozelos.
Bracelete -
geométricos e florais amarelo e verde • encontrados em
estilizados • madeira, osso, túmulos femininos e
• também flexíveis: azeviche masculinos, ou
feitos de contas entesourados.
• bronze, ferro, • prender roupas de
• formas simples raramente em lã ou linho.
• decorações florais prata e ouro • objetos muito
Broche, abstratas • esmalte populares
fíbula, • objetos
vermelho, azul, • uso feminino e
alfinete de decorativos e
amarelo e verde masculino.
segurança, utilitários
• inlay de coral • amuletos /
fivela,
vermelho e talismãs.
branco e vidro • dimensões e
vermelho formas variadas
• flexíveis de contas
• rígidos (poucos exemplares) • âmbar, coral,
• poucos
mármore, osso,
exemplares da
madeira, bronze,
Colar Idade do Ferro
azeviche e vidro
• encontrados em
vermelho, azul e
túmulos femininos
branco

• com extremidades em formato de


figuras femininas ou divindades;
formas abstratas geométricas
• fixar lenços, véus,
Grampo / • âmbar, coral,
e mantos
alfinete para azeviche, osso,
• encontrados em
cabelos madeira, bronze
túmulos femininos

• sapatos, barcos,
falos, rostos, rodas, • bronze, ferro e • usado no colo,
pássaros, cestas, ouro pescoço, quadril e
• amuleto /
Pendente machados (em • âmbar, dentes cintura (em cintos)
talismã
bronze) de animais • associados às
• grandes contas (ursos), coral crinaças
(âmbar), discos
objeto mágico, • usados em
• ocos ou maciços,
representa batalhas
lisos ou torcidos,
poder, • bronze, ferro e • uso feminino e
com relevos
Torçal liderança, ouro, raramente masculino
geométricos, florais
autoridade, de prata • objeto ritual,
estilizados, fios
força bélica, oferenda votiva
torcidos
realeza, status • totem tribal
Aros lisos ocos ou • uso feminino, em
Tornozeleira - • bronze
maciços pares

42
4. Britânia Romana

Em 55 e 54 a.C., Júlio César14 organizou as primeiras


expedições à Britânia, objetivando a conquista deste território, mas não
obteve êxito em seus planos, pois enfrentou forte resistência celta, que
então expulsou os invasores. Tal operação militar foi concretizada em
43 d.C., ordenada por Cláudio I,15 sob comando do general Aulo
Pláucio, e representou o extenso alcance do poder e da capacidade de
organização romanos. O interesse pela Britânia possuia bases políticas
– ampliação das áreas de influência romana; e econômicas – expansão
de mercados, pela estruturação da rede de comércio a longa distância;
incremento da manufatura e exploração da região que oferecia minerais,
gado, gêneros alimentícios e escravos, recompensas tidas como
razoáveis pelos gastos com a campanha de invasão.
Por ocasião da incursão de Cláudio I, em 43 d.C., a Britânia
estava dividida em diversos reinos tribais (Potter;1997:8), que já
mantinham contato comercial com o continente, desde o século IV a.C.
Alguns chefes tribais firmaram relações comerciais e diplomáticas com
Roma, outros viam com desconfiaça e pouca simpatia o contato com o
Império Romano.
A conquista romana da Britânia foi caracterizada pela forte
presença estrangeira de civis e militares, oriundos das diversas regiões
do Império; uma nova ordem na distribuição e organização espacial do
território ocupado; novas culturas; novos hábitos cotidianos; novas
relações e valores. A ocupação foi iniciada pela região sul e sudeste da
Britânia, em Richborough (Kent) e avançou pouco a pouco para a região
norte. A consolidação da conquista demandou maior tempo, em
decorrência de reações das tribos nativas adversas à presença romana.
Houve sangrentas rebeliões de resistência, lideradas por chefes tribais
de diferentes regiões da Britânia, destas citamos: a organizada por

14
Caio Júlio César nasceu em Roma, no ano 100 a.C., numa família aristocrática.
Assassinado em 44 a.C.
15
Cláudio I (Tibério Cláudio César Augusto Germânico), nasceu em Lugdunum (atual
Lyon / França), na Gália Oriental, no ano 10 a.C. Foi tio do imperador Calígula, que, em
agosto de 40 d.C., foi morto pela Guarda Pretoriana. Cláudio, como único membro
adulto sobrevivente da família imperial, foi proclamado pelos militares como o novo
Imperador. Governou de 41 a 54 d.C., quando morreu envenenado.
Carataco, à frente das tribos Silures e Ordovices, em Gales, de 47 a 51
d.C.; a considerada como a mais violenta, liderada por Boudica – rainha
dos Icenos, em Norfolk, de 60 a 61 d.C.; e a liderada por Venútio –
pelos Brigantes, em 69 d.C., no norte da Inglaterra.
A estratégia de expansão romana foi caracterizada pela
intencional marcação dos territórios ocupados, com práticas e estruturas
entendidas como civilizadas pelo Império e, portanto, um benefício para
a região sob intervenção. Estes espaços foram marcados pela
arquitetura militar; definição de novas fronteiras; fundação de cidades
segundo modelos romanos; obras de infra-estrutura: aquedutos, fontes
d’água, caminhos, pontes etc, que simbolicamente representaram a
autoridade do conquistador, que definiu uma nova ordem social,
organização espacial – pelos processos de desterritorialização e
reterritorilização, portanto, uma nova forma de circulação e relações de
poder, através de novos códigos verbais e não verbais de comunicação
(Davidson;2005:17-41).
O contato do civilizador com a população local aconteceu de
formas variadas. Inicialmente, a ocupação espacial ocorreu fora do
padrão romano, pois invés de uma rede de cidades-Estados, os
romanos se depararam com a estrutura tribal rural, dominada pela
aristocracia guerreira, dividida em diferentes grupos, com lideranças
próprias (vide Mapa 01). Havia grandes assentamentos (oppida)
irregulares, maioria situada em topos de montanhas e colinas. As
adequações se fizeram necessárias, foram construídos fortes e
fortificações, muros e muralhas como demarcações de fronteiras e
soberania, rede de estradas e pontes, que posteriormente configuraram-
se em novas cidades, com infra-estrutura urbana, edificações públicas
(basílicas, fóruns, anfiteatros, termas e teatros) e privadas (villae).
A região sul da Britânia que, desde o século IV a.C., possuía
contato com o continente e que, portanto, já havia interagido com a
civilização romana, ofereceu menor resistência ao governo do
conquistador. As elites locais firmaram acordos de cooperação e paz,
adotaram hábitos, costumes e modas romanos, e até, em alguns casos,
a cidadania – cocedida para os membros da eleite que aceitavam a
ordem romana e administravam a sua comunidade em nome de Roma,

44
colaborando na reformulação do espaço e com a romanização. Os mais
ricos, importaram variados objetos e artigos de luxo: móveis, vinhos,
cerâmicas, objetos de metal e esculturas clássicas de divindades
romanas ou de figuras imperiais reconhecíveis.
E, para atender as novas demandas locais, e abastecimento das
cidades, bases e fortificações militares, novas rotas de comércio e
foram estabelecidas; vieram artesãos (ceramistas, ferreiros, tecelões)
de várias províncias do Império; foram abertas oficinas que difundiram o
estilo e padrões clássicos; e artesãos celtas foram treinados dentro da
tradição romana (Laing;1995:82). A mineração16 e a circulação dos
metais passou a ser controlada pelas autoridades romanas. As
principais oficinas de ourivesaria estiveram localizadas em
Verulamium17 e Cirencester18 (Gloucestershire), onde réplicas, peças
com referências aos padrões romanos e celtas foram produzidas.
A circulação dos objetos e mercadorias dentro dos modelos
romanos agenciava a divulgação dos novos padrões. As moedas, de
prata, ouro e bronze, que passaram a ser usadas pelas sociedades
celtas, no sudeste da Britânia, em torno de 100 d.C., após a conquista,
apresentaram-se como eficazes veículos de propaganda política e das
tendências estéticas romanas.
O latim passou a ser o idioma dos governantes e das elites, mas
a maior parte da população prosseguiu falando o idioma celta, e mesmo
com a presença dos modelos estrangeiros, segundo Potter (1997:65), a
tradição celta foi preservada.
Na região norte da Britânia, onde a influência romana foi menor,
as características da tradição e cultura celtas se mantiveram
predominantes. E, em conseqüência da distância e das ações de
resitência celtas, a troca entre as tribos do norte e do sul deixou de ser
intensa.

16
Mineração na Britânia: depósitos de ouro – em Dolacothi (sudoeste de Gales); prata,
cobre, estanho, chumbo e ferro – em Mendips (Somerset), Kent, Sussex e
Gloucestershire.
17
Verulamium (Verlamion na Idade do Ferro, assentamentos da tribo Catuvellauni) -
cidade localizada a 33Km de Londres, em St. Albans. Uma das maiores cidades na
Britânia romana.
18
Cirencester (originalmente chamada Corinium Dobunnorum) – no século II d.C. foi a
segunda maior cidade (municipia) da Britânia. Londres é a maior cidade (municipia), o
porto central e o centro de comércio. Colchester, Lincoln, Glouchester e York foram
consideradas colonia (povoamentos).

45
Mapa 01 - Tribos celtas, na Idade do Ferro e Britânia romana.

Da Britânia Romana, a historiografia (Potter;1997:8-23) cita


como fontes de informação: os testemunhos de escritores clássicos,
biografias de governantes (citamos como exemplo a biografia de
Agrícola – que governou a Britânia entre 78 a 84 d.C., escrita pelo genro
Tácito)19; inscrições sobre pedras, que formam acervo com em torno de
2000 exemplares; inscrições sobre cerâmicas, metais e madeira; cartas
e arquivos – estes descobertos em relevante número no forte
Vindolanda, próximo à Muralha de Adriano; estelas funerárias; altares;

19
Gaio Cornélio Tácito (c.56 – c.117 d.C.) – historiador, orador, jurista e senador
romano. Suas maiores obras — Os Annais e As Histórias, abordaram a história do
Império Romano no século I, da ascensão do imperador Tibério à morte de Domiciano.

46
objetos diversos (moedas, adornos pessoais, armamentos, utensílios
domésticos) e a arquitetura. O legado em adornos pessoais é
significativo, no qual podemos perceber as diferenças e as
características dos objetos, que nos auxiliam a perceber traços das
culturas celta e romana.
Na Britânia romana, a historiografia vincula o uso de adornos
pessoais à distinção de grupos sociais, como indicativo do status social
do qual o usuário gozava.
Nesta monografia, buscamos perceber a interação cultural entre
culturas muito distintas, que produziram objetos com características
próprias e também bastante diversas. Através da observação dos
adornos pessoais usados pelos celtas até 43 d.C, e os que foram
importados e fabricados na Britânia romana, podemos pensar o
movimento de aceitação, rejeição, adoção e apropriação dos modelos
estéticos do conquistador pelos objetos em circulação na sociedade.

Antes de iniciarmos a reflexão sobre os adornos pessoais


produzidos na Britânia Romana, consideramos interessante apresentar
um breve panorama da joalheria romana, que concluímos com o Quadro
05, no qual apontamos as principais características destes objetos.
Por muitos séculos, o adorno pessoal foi considerado um luxo e
o seu uso foi desaprovado no mundo romano. Durante as guerras
púnicas, as jóias foram confiscadas para patrocinar as campanhas. A
quantidade de ouro que poderia ser destinada aos funerais e a
quantidade de ouro que uma mulher romana poderia usar, estavam
fixadas por lei. A lei Oppia, aprovada no início do século II a.C., limitava
em uma onça20 a quantidade de ouro que cada mulher poderia ostentar,
o que pode ser equivalente a um anel, um par de brincos e uma
corrente com pequeno pendente. Alguns itens dos adornos pessoais,
como os anéis, tinham o uso restrito a certos grupos sociais e a
ocasiões especiais. Neste contexto, estes objetos aparecem também
como forma dos homens ostentarem sua riqueza através de suas
mulheres, que exibiam o seu status econômico e social pelas roupas e
20
Antiga unidade de medida de peso. Uma onça é equivalente a 28,691g.

47
adornos que usavam, pela posse de valiosos escravos e carros caros.
Dos objetos que sobreviveram, pode-se concluir que, entre 700 e 250
a.C., a joalheria romana era praticamente de origem etrusca (vide
verbete jóias etruscas*). E, entre 250 a 27 a.C., tanto as peças etruscas
como as romanas seguem o estilo helenístico grego – peças de ouro e
prata, volumosas e cheias de graciosos detalhes, confeccionadas pelos
processos de fundição por cera perdidada, filigrana, granulação, poucas
gemas, e superfícies coloridas com esmaltes ou pasta de vidro (vide
verbete jóias gregas*). Em torno de 27 a.C., quando o Império se
instalava, Roma finalmente dominara o que restava do mundo
helenístico com a anexação do Egito Ptolomaico em 30 a.C. As
mudanças políticas, entretanto, pouco refletiram na ourivesaria e,
durante os primeiros anos de domínio, os adornos pessoais
continuaram sendo produzidas segundo as formas helenísticas. Os
maiores centros de confecção de objetos de adorno pessoal do Império
Romano foram as cidades Antióquia, Alexandria e Roma. Com a
progressiva prosperidade, o luxo e a ostentação sepultaram de vez a
sobriedade da República e os adornos pessoais, influenciados pela rica
mistura dos estilos grego e etrusco, tornaram-se importantes símbolos
de status e poder. Nos primeiros anos do Império Romano, houve
restrições ao uso de peças feitas de ouro, em especial anéis. Até o final
do século I, o ouro era usado em ocasiões especiais e por pessoas de
posto elevado. O bronze não era popular e os grandes anéis-sinetes,
usados por homens, foram feitos de prata ou ferro - metais para uso
diário. Já os brincos eram a forma favorita das aristocratas mostrarem
riqueza. Estas freqüentemente recorriam aos cuidados das auricolae
ornatrices, mulheres que tinham como trabalho atender senhoras com
problemas causados pelo uso prolongado de grandes e pesados
brincos. A extravagância é relatada por Plínio, em História Natural.
9.58.117, que conta que a terceira esposa de Calígula - Lollia Paulina
era exemplo de ostentação - usava esmeraldas e pérolas nos cabelos,
cabeça, braços e dedos, assim como nas orelhas em seu cotidiano.

I have seen Lollia Paulina, though it was on no great occasion, nor she
in her full dress of ceremony, but at an ordinary wedding dinner. I have
seen her entirely covered with emeralds and pearls strung alternately,

48
glittering all over her head, hair, bandeau, necklaces and fingers, the
value of all which put together amounted to the sum of forty millions of
sesterces, a value she was ready to attest by producing the receipts.
Nor were these jewels the presents of a prodigal emperor; they were
regular family heir-looms, that is to say, bought with the plunder of
provinces. This was the end gained by his peculations, this the object
for which Lollius made himself infamous all over the East, by taking
bribes from its princes, and, at last, poisoned himself, when C. Caesar,
the adopted son of Augustus, formally renounced his friendship. All for
this end, that his granddaughter might show herself off by lamplight
bedizened to the value of forty millions of sesterces. (Plínio, História
Natural. 9.58.117)

No auge da expansão romana, os adornos pessoais passaram a ser


mais sofisticados, por conta da assimilação de estilos, técnicas,
metais e gemas, então utilizados livremente, trazidos das mais
diversas regiões do Império (vide as Ilustrações 09,10, 11).

Ilustração 09
Nome: pintura funerária – retrato de mulher
Material: painel de madeira, envolvido em linho.
Período: período romano, c. 100-110 d.C.
Proveniência: Egito
Descrição: mulher com cabelos recolhidos em
penteado, usa três colares: um de ouro com pendente
de ametista, dois de ouro com esmeraldas, um par de
brincos de ouro e pérolas, tiara de louros em ouro e
prendedor de cabelos de ouro.
Temática: retrato funerário
Estilo: romano
Especificidade: tiara com folhas de louros –
esperança de triunfo sobre a morte.
Localização: J. Paul Getty Museum – CA / USA
Ref. biblio.: Munn, 2002:13

49
Ilustração 10
Nome: pintura funerária – retrato de mulher
Material: cera pintada sobre madeira
Período: séc. II-III d.C. - período romano
Proveniência: Egito
Dimensões: 36,9cm de altura
Descrição: mulher usa dois colares de ouro e gemas,
e um par de brincos de ouro e pérolas.
Temática: retrato funerário
Estilo: romano-egípcio
Localização: Kunsthistoriches Museum Wien – AS
Inv. No X 301
Ref. biblio.: postal Kunsthistoriches Museum e
http://www.khm.at
Obs.: tipo pintura e suporte com influência egípcia -
forma de preservar as características faciais do morto
para o outro mundo.

Ilustração 11
Nome: dois colares e adorno para cabeça
Material: ouro, granadas, safiras, esmeralda, cristal e
pérolas.
Período: século I e II d.C.
Proveniência: Roma (colares) e Tunísia
Dimensões: colar com esmeraldas – 41,6cm
Descrição: 1- colar com centro de colar formado por
granadas + pendente em forma de borboleta (granada,
safira e duas pedras brancas); 2- colar com esmeraldas
e cristal; 3. adorno para cabeça com esmeraldas, safira
e pérolas – 10,7cm (século III d.C.).
Estilo: romano
Especificidade: uso de corrente etrusca, pedras
somente roladas.
Localização: British Museum, Londres. GR 72.6-4.670
Castellani Collection; . GR 14.7-4.1203 Townley
Collection; GR 1903.7-17.3.
Ref. biblio.: Tait;1996:87

Quadro 05: Adornos pessoais no Império Romano.


Adornos pessoais romanos
Império
Tipo Forma e decoração Significado Material Caracterísitcas
• sinetes
• em forma de
serpentes, nós, lisos
ou decorados • emblema de
• bronze, ouro,
• divindades riqueza,
prata e ferro
mitológicas prosperidade
• assinatura • gemas:
Anel • moedas • uso feminino e
• fertilidade granada, ágatas,
principalmente
esmeralda,
masculino
safira
• intaglios*

• inscrições AMICA;
ANIMA MEA, AMO
• uso feminino
AMA. MISCE MI • ouro, prata e
Anel noivado • compromisso • uso não era
• casal se fitando ou bronze
obrigatório
se beijando
• aperto de mãos
Bracelete • rígidos, em forma de serpentes, • bronze, ferro e • usados em

50
tubulares, torçais e peças volumosas ouro pares, ou peças
com extremidades em forma de animais • madeira; únicas, nos pulsos
mitológicos contas de vidro ou tornozelos.
• gemas • também
flexíveis: feitos de
contas

• esféricos, discos
• rosáceas recortadas
• folhagens e flores
• figuras mitológicas
• argolas com
• ouro, prata • uso feminino
pendentes: clava de
• com gemas: • feitos com
Hércules, contas • enfeite
esmeraldas, ganchos para
Brincos • em formato de barco • talismãs
granadas e orelhas furadas
(boat shape)
pérolas • brincos
• esmalte pendentes

• animais
• rosáceas • prender roupas
Broche, • bronze, ferro,
• folhagens e flores de lã ou linho
fíbula, prata e ouro;
• divindades e seres mitológicos • objetos muito
alfinete de inlay de coral
• camafeus populares, uso
segurança, vermelho e
feminino e
fivela branco e vidro
masculino

• colares de contas esféricas, cilíndricas • encontrados em


• colares flexíveis – uso de correntes • gemas: âmbar; túmulos femininos
(etrusca) com gemas variadas. coral, ágatas, • representados
• chokers* ametistas, em pinturas
esmeralda, funerárias,
pérolas, afrescos,
Colar
granada, esculturas
quartzos • dois a três
• osso; faiança e colares usados
vidro juntos, com
• bronze, ouro correntes, colar de
contas
• figuras mitológicas
• pássaros, cestas, machados • bronze, ferro e
ouro
• amuleto - Bulla /
Pendente • âmbar, dentes
talismã
de animais,
coral

• fixar lenços, véus


• extremidades com
e mantos
figuras divindades, • âmbar, coral,
Grampo / • prender roupas
animais (ursos, vidro, osso,
alfinete para - • prender
cães), objetos madeira, bronze,
cabelos penteados
• formas abstratas prata e ouro
• encontrados em
geométricas
túmulos femininos
• corrente etrusca
• com gemas,
Correntes • ouro pendentes ou
compondo colares

Observações gerais
• torçais em moda no século IV, nas províncias orientais do Império, usados com fecho e pendente.
• adornos pessoias usados como presente diplomático, amuletos, oferendas devocionais.
• processos de fabricação: filigrana, granulação, fundição por cera perdida, repuxo, gravação,
esmaltação, inlay, intaglio, niello.
• outros adornos pessoais: coroas, body chains, diademas, faixas de cabeça (headbands).

51
Na Britânia, o uso de anéis era pouco comum entre os celtas, o
que passou a ser popular a partir do período de ocupação romana. Os
anéis passaram a ser confeccionados de diversos materiais: dos mais
caros e sofisticados – ouro e prata, aos mais baratos – bronze, ferro,
vidro, âmbar, quartzos, ossos e azeviche, acessíveis para homens e
mulheres dos diversos grupos sociais. Os anéis em forma de serpente
ocuparam importante lugar na moda latina. Chegaram à Britânia no
século I e foram bastante usados durante todo o período de ocupação
romana. A serpente era associada à divindade da cura romana
Esculápio, (Asclépio grego), filho de Apolo, e à divindade celta Sirona.
Portanto, acreditava-se na sua capacidade de regeneração e renovação
- usar um anel neste formato, poderia preservar a boa saúde e
fertilidade, e proteger dos maus espíritos o seu usuário. Além dos anéis,
os braceletes rígidos também foram confeccionados em forma de
serpente, estas peças foram usadas por homens e mulheres.
Outra categoria de anéis comum na sociedade romana e que
passou a fazer parte do repertório dos adornos pessoais na Britânia, foi
a dos anéis de compromisso e de casamento. Estes anéis populares,
embora não obrigatórios, desempenharam o papel de firmar laços
afetivos e contratos de matrimônio. Na cabeça destes anéis, foram
representados, em baixo relevo, um aperto de mãos (Ilustração 12) ou
figuras de um casal se fitando (Ilustração 13). Por vezes, as cenas eram
acompanhadas de palavras ou frases expressando juras de amor eterno
e fidelidade (AMICA – amiga / querida; ANIMA MEA – minha alma,
MISCE MEA – misture-se comigo, AMO AMA – meu amor). Estes anéis,
finamente acabados, foram encontrados em ouro e bronze.

Ilustração 12
Nome: anel
Material: prata e ouro
Período: século II d.C.
Proveniência: Groovely Wood, Wiltshire, Inglaterra.
Descrição: relevo representando aperto de mãos.
Estilo: romano
Especificidade: peça cinzelada
Localização: British Museum, Londres.
Ref. biblio.: Johns;1996:63

52
Ilustração 13
Nome: anel
Material: ouro
Período: século II d.C.
Proveniência: Whitwell, Leicstershire, Inglaterra.
Descrição: relevo representa marido e esposa se fitando.
Estilo: romano
Especificidade: peça cinzelada
Localização: Rutland County Museum, Oakham, Inglaterra.
Ref. biblio.: Johns;1996:65

Embora o acervo de braceletes não seja grande, os autores


(Jonhs;1996:108-124) mencionam que havia peças rígidas em diversas
formas: lisos, torcidos, em forma de serpente, seguindo o estilo dos
anéis e braceletes romanos, foram bastante utilizados. Pulseiras
flexíveis confeccionadas com contas de vidro e metal, ou somente com
contas de madeira, vidro e azeviche também foram bastante
apreciadas. Citamos como exemplo o bracelete de bronze, decorado
com suaves relevos florais cinzelados e desenhos esmaltados em
vermelho e amarelo, com claras características do estilo celta
(dimensões, forma, composição, coloração, materiais e técnicas), a
peça encontrada em Castle Newe, Strathdon / Aberdeenshire, Escócia
(Ilustração 14). São conhecidos apenas 21 braceletes similares,
confeccionados entre 43-200 d.C., encontrados no noroeste da Escócia,
o que sugere que este tipo de objeto foi feito e usado nesta parte da
Britânia.

Ilustração 14
Nome: bracelete
Material: bronze e esmalte amarelo e vermelho
Período: séc. I-II d.C.
Proveniência: Castle Newe, Strathdon, Aberdeenshire,
Escócia.
Dimensões: 14,6cm
Descrição: terminais circulares, decorados com discos
com padrão quadriculado em esmalte amarelo e
vermelho, e desenhos de pétalas.
Temática: floral
Estilo: características celtas
Especificidade: fundição e esmaltação champlevé
Localização: British Museum, Londres – PRB 38.7-
14.3
Ref. biblio.: Tait,1997:79
Uso social: usada na parte superior do braço. Por
causa do peso acredita-se que não fosse para uso, mas
objeto votivo.

53
Quadro 06: Anéis e braceletes na Britânia Romana .
Adornos pessoais na Britânia Romana
Séculos I-II d.C.
Tipo Forma e decoração Significado Material Caracterísitcas
• inscrições AMICA;
• contrato
ANIMA MEA, MISCE MEA
Anel de afeto • compromisso • ouro, prata,
• casal se fitando ou se • uso feminino
e casamento • afeto bronze
beijando
• casamento
• aperto de mãos
• assinatura,
• sinetes (desenhos, • bronze, ouro,
marca oficial, • uso masculino
letras, nomes) prata
identificação
• em forma de serpentes • fecundidade
/ fertilidade
• boa saúde /
cura • bronze, ouro, • uso feminino e
• proteção prata masculino
• talismã
• regeneração,
renovação
• bronze, ouro,
Anel prata, ferro
• divindades: cabeça de
• gemas:
Hércules, Júpiter, Marte,
cornalina,
Baco, Apolo, Minerva, • proteção
esmeraldas, • uso masculino
Medusa, Vênus, Fortuna, • talismã
safiras, jaspe, e feminino
Ceres, Bonus Eventus • devoção
onix
• abreviações de nomes
• vidro
• moedas
• azeviche
• osso
• peças
• anéis-chave
utilitárias
- • bronze e
• chaves de
ferro
pequenos baús,
caixas de jóias
• fecundidade
• rígidos, em forma de / fertilidade
• usados em
serpentes • boa saúde /
pares, ou peças
cura • bronze, ouro,
únicas, nos
• proteção prata
pulsos ou
• talismã
braços
• regeneração,
• encontrados
renovação
em túmulos
Bracelete • bronze, ferro, femininos e
prata e ouro masculinos
• tubulares, fios torcidos e • também
• esmalte
peças volumosas com pulseiras
vermelho,
relevos geométricos e flexíveis: feitas
- azul, amarelo
florais estilizados de contas ou
e verde
• aros lisos ocos ou partes
• de vidro; de
maciços articuladas
madeira, de
azeviche

Os brincos são os adornos pessoais pouco usados pelos celtas.


Mas, com a chegada dos padrões romanos (vide Ilustrações 09 e 10),
os brincos, em diversas formas e materiais, passaram a ser usados
pelas mulheres da elite celta romanizada, imigradas e, posteriormente,
pelas bretãs. Os mais caros eram feitos de metais nobres, seguindo o
estilo greco-romano. Enquanto os mais simples - argolas variadas com

54
ou sem pendentes, foram feitos de materiais mais baratos como o
bronze.
Os broches, alfinetes e fíbulas foram peças muito apreciadas e
usadas por celtas e romanos, homens e mulheres, e figuraram como
objetos de uso cotidiano. São numerosos os exemplares oriundos da
Britânia, do período anterior e posterior da conquista romana, o que
aponta para a popularidade deste objeto entre os celtas e romanos. O
generoso acervo de broches e fíbulas auxilia na reconstituição das
variações ocorridas na moda na Britânia. Foram confeccionados em
bronze – a grande maioria, ferro, prata e ouro; revestidos com esmaltes
coloridos; e aplicados as suas superfícies desenhos gravados, que
representaram formas, grafismos e decorações das culturas celta e
romana. Os broches figurativos de bronze esmaltado, ou de prata com
niello*, que representaram animais diversos do repertório celta e/ou
romano, são característicos do período romano-britânico. Poderiam
estar associados às divindades ou atividades cotidianas (vide Quadro
08): golfinhos, peixes, cães, cavalos, javalis, lebres, alces, aves e
pássaros (patos, galinhas, corvos e águias), leões e leopardos. Os
broches que representam um par de dragões em forma de S (Ilustração
15), que também são típicos do período romano-britânico, expressam o
gosto e estilo nativos. Foram confeccionados em bronze, decorados
com esmaltes coloridos e usados em pares. São peças bastante
decorativas, mas como as fíbulas – são funcionais, foram usadas para
prender pregas espessas e mantas.

Ilustração 15
Nome: broche ‘dragonesque’
Material: bronze e esmalte branco e azul
Período: século I-II d.C.
Proveniência: norte da Inglaterra, Escócia.
Dimensões: 6,2cm
Descrição: broche em forma de S, em cada extremidade uma
cabeça de dragão: grandes orelhas e focinho curvo. O corpo é
decorado com desenho geométrico e colorido com esmaltes branco
e azul.
Estilo: características celtas
Especificidade: fundição e esmaltação champlevé
Localização: British Museum, Londres - PRB
Ref. Biblio.: Tait,1997:96
Uso social: espirais e formas em S são formas associadas ao céu e
aos cultos solares. O deus Sol foi também representado segurando
objetos em formato de S, representação dos relâmpagos. Estes
broches foram comuns no norte da Inglaterra (tribos Brigantia).
Usados como amuletos de proteção: roga-se coragem e vitória na
guerra.

55
As fíbulas (Ilustração 16) foram as peças mais usadas na
Britânia, antes, durante e após a ocupação romana. Isoladas ou em
pares, em tamanhos variados, foram dispostas em cada ombro do
usuário, prendendo mantos (feitos de lã e linho, e, quando trajes de
luxo, de algodão ou seda) ou partes da túnica, e ligadas por uma
corrente ou cordão. As fíbulas sofreram várias mudanças em sua forma,
acompanhando a moda em vigor, influências continentais, ora peças
simples, despojadas de decorações, ora ricamente elaboradas.

Ilustração 16
Nome: dois broches trompete e corrente etrusca
Material: prata
Período: séc. I-II d.C.
Origem: Chorley, Lancashire, Inglaterra.
Dimensões: comprimento broche 6,6cm
Descrição: um par de fíbulas em forma de trompete,
decoração com linhas geométricas em relevo.
Estilo: romano-britânico, ligados por corrente
estrusca.
Especificidade: fundição por cera perdida
Localização: British Museum, Londres
Fonte: Johns;1996:161
Obs: peça encontrada com moeda de 140 d.C.

Quadro 07: Brincos, broches e fíbulas na Britânia Romana.


Adornos pessoais na Britânia Romana
Séculos I-II d.C.
Tipo Forma e decoração Significado Material Caracterísitcas
• esféricos, discos
• rosáceas recortadas
• argolas com pendentes: • ouro, prata,
clava de Hércules, contas bronze • uso feminino
• enfeite
Brincos • gemas • feitos com
• talismãs
• contas de ganchos
vidro

• par de dragões em S • reverência • bronze, ferro,


• formas zoomorfas: cão, às forças prata e ouro
javali, cavalo, alce, leão, • prender roupas
divinas e • esmalte
leopardo, lebre, aves e de lã ou linho
mágicas, cura, vermelho,
pássaros, golfinho • alfinetes de
caça, azul, amarelo
segurança
Broche, mensageiros e verde
• objetos muito
fíbula e do Outro •inlay de coral
populares
fivela, Mundo vermelho e
• uso feminino e
• proteção, branco e vidro
masculino
roga-se por vermelho
• amuletos /
coragem e • bronze
talismãs
vitória na prateado ou
guerra dourado

56
Os colares e as correntes, embora poucos exemplares tenham
sido encontrados na Britânia, a bibliografia (Johns;19:87-103) sugere
que tenham sido usados com freqüência no período romano. Os
modelos confeccionados com metais e gemas (esmeraldas na sua
forma hexagonal original; granadas; ametistas; safiras; ágatas e
cornalinas em formato de discos, lentilhas, cilindros, esferas ou contas
facetadas; e pérolas – muito apreciados pelos romanos, portanto,
presentes em várias composições de brincos e colares) ou contas de
vidros coloridos (verde, lilás, azul e branco simulando as gemas) foram
bastante usados em Roma e em suas províncias (vide as Ilustrações
09, 10 e 11), o que nos sugere a adoção destes modelos também na
Britânia. Acreditamos que colares confeccionados com materiais
orgânicos perecíveis, tais como madeiras, sementes e couros,
acessíveis a qualquer grupo social, tenham sido feitos e usados na
região, mas por causa de sua fragilidade não foram preservados.
Os prendedores de cabelos (hairpins) foram usados como
alfinetes de segurança em roupas, mas com maior freqüência como
adornos e fixadores de elaborados penteados. Este objeto foi comum às
sociedades celta e romana (vide Ilustração 09), confeccionado de
diversos materiais, dos quais destacamos o osso; o metal – bronze e
prata, mas raramente de ouro; o azeviche; o vidro e a madeira. As
extremidades foram decoradas com pequenas figuras de divindades,
animais, mãos segurando frutos ou simples formas geométricas (vide
Quadro 08).
Os torçais, tão característicos da cultura celta, no período
romano seguiram sendo usados pela população nativa, talvez como
símbolo de sua origem, veneração de suas tradições e ancestrais,
objetos votivos e como reserva de ouro e prata. Os romanos também os
usaram, mas como objetos-troféus, o distintivo militar ou emblema de
um oficial, de um guerreiro vencedor. Esta prática tornou o torçal um
objeto de adorno pessoal comum em outras províncias do Império.

57
Quadro 08: Colares, prendedores de cabelos, pendentes e torçais na
Britânia Romana.
Adornos pessoais na Britânia romana
Séculos I-II d.C.
Tipo Forma e decoração Significado Material Caracterísitcas
• contas de
• colares de contas esféricas, cilíndricas, osso; faiança;
irregulares vidro colorido
• colares flexíveis – uso de correntes e azeviche
(etrusca) com gemas variadas. • bronze, ouro • encontrados
e prata em túmulos
Colar
• gemas: coral femininos, ou
ágata, âmbar; entesourados
quartzos,
esmeralda,
pérolas,
granada
• extremidades com figuras femininas ou
divindades, animais (ursos, cães), objetos • fixar lenços,
• formas abstratas geométricas • âmbar, coral, véus e mantos
azeviche, • prender roupas
Grampo /
vidro, osso, • prender
alfinete para
madeira penteados
cabelos
• bronze, prata • encontrados
e ouro em túmulos
femininos

• usados em
• imagens de Ísis, Vênus, • ouro, bronze
colares,
cupidos, Medusa • amuleto / • gemas:
correntes de
• rodas, discos, barcos, talismã cornalina,
ouro
rostos • fortuna azeviche
Pendente • uso masculino
• falos, clava de Hércules • proteção • moedas de
e feminino
• cabeças de animais contra más ouro
• como amuletos
• moedas influências • vidro
atados à pessoa
• camafeus • osso
ou à roupa
• ocos ou maciços, lisos
ou torcidos, com relevos • objeto
geométricos, florais mágico, • usados em
estilizados, fios torcidos representa batalhas
• bronze, ferro
poder, • uso feminino e
e ouro,
Torçal liderança, masculino
raramente de
autoridade, • objeto ritual,
prata
força bélica, oferenda votiva
realeza, status • totem tribal
• troféu militar

Observações gerais
• os processos de fabricação dos adornos pessoais: fundição por cera perdida ou em areia, repuxo /
cinzelamento, gravação, texturização, esmaltação champlevé, inlay (incrustação), intaglio, douração
e revestimento de prata (técnicas provavelmente trazidas pelos romanos).
• outros tipos de adornos pessoais: tornozeleiras, body chains (comuns no século IV), diademas,
coroas, botões

A tradição e o profundo conhecimento das técnicas de trabalhar


os metais foram as grandes contribuições celta e romana para a
produção e o desenvolvimento de adornos pessoais na Britânia.

58
As peças produzidas no período romano, resultaram de idéias,
técnicas e materiais do conhecimento destas culturas. É interessante
pensar que os adornos, aos poucos, foram recebendo modificações em
suas formas, decorações, dimensões, significados e usos, conforme as
idéias circulavam, se mesclavam e passavam a ser aceitas, ou
rejeitadas. O repertório de técnicas de ornamentação praticadas pelos
celtas em objetos foi ampliado com as técnicas oriundas das oficinas
romanas, tais como a filigrana, granulação, esmaltação cloisonné*,
intaglio, niello e douração de peças. E a recíproca ocorreu nas oficinas
dos artesãos romanos, que passaram a trabalhar peças volumosas,
feitas com ligas de cobre, cinzeladas e repuxadas, gravadas, fundidas,
e esmaltadas na técnica champlevé*. Mas, além dos conhecimentos
técnicos assimilados, as partes somaram a sua forma de ver e externar
idéias em adornos pessoais, novos conceitos, estilo e padrões.
E para ilustrar e complementar o texto e quadro anteriores,
elaboramos o Quadro 09, no qual listamos as principais divindades,
símbolos, padrões e grafismos em circulação na Britânia Romana, que
representam divindades celtas com características associadas às
divindades romanas, e vice versa. Estas correspondências também
exemplificam o processo de interação entre as culturas.

Quadro 09: Divindades, símbolos, padrões e grafismos na Britânia


Romana.
C – elemento celta R – elemento romano
Deuses, símbolos, padrões e grafismos na Britânia Romana
Século I-II d.C.
Divindades Representação Significado
• segurando objetos em formato de • divindade suprema
S, que representavam os • vinculado à festividade
C relâmpagos Beltene; culto ao sol e fogo
Deus Sol Belenus // • carvalho • velocidade, beleza, força e
Júpiter • rodas e espirais, suásticas destreza sexual
• águia (identificada com o sol, e os • triunfo, dominação
R deuses do poder e da guerra) • o pai, o elemento fecundador
• rodas • símbolo do poder do Império
• aquela que vela pela
• geralmente três mulheres cercadas por
abundância, parto, fertilidade
Grande Mãe frutos, pão e trigo, ou bêbes
e fecundidade do gado, das
• símbolos de abundância
pessoas e da terra
• senhor das florestas, animais
• representado com chifres e orelhas de e fartura
Deus Cernunnos
alce • simboliza virilidade, força e
poder
• conexão com as águas, monstros
• divindade da caça, cura e
Deus Nodons marinhos e peixes
morte
• cão

59
Deus Esus • associado às árvores,
• entre folhagens
(divindade gaulesa) vegetação, elementos da terra
• carneiro • força e agressividade
C
• acompanha Cernunnos • divindade popular
Deus Erriapus //
Mercúrio • simbolizado pela sua bolsa, pés • deus do comércio, o
R alados e chapéu de viajante mensageiro dos deuses
• galo • divindade popular
• usando capacete cônico, escudo e
clava • senhor dos relâmpagos e
C • representa o relâmpago trovões
Deus Taranis // • roda • símbolo da força e duração
Júpiter • azinheira
• homem grande barbado, com • triunfo, dominação
R relâmpago • o pai, o elemento fecundador
• águia, a coroa e o trono • símbolo do poder do Império
• guerreiro protetor, chefe
Deus Teutanes // C • figura guerreira usando todos os
tribal
Cocidus // Marte R adornos de guerra
• divindade popular
• cavalo, lobo (triunfo e coragem)
Marte-Alator;
• armas e ferro • divindade popular
Marte-Toutatis //
• figura guerreira usando todos os • deus da guerra
Marte
adornos de guerra
• guerreiro, mestre do
• o corvo – um corvo profetiza a morte, artesanato
Deus Lugus (Lud /
três corvos juntos representam a • o nome da cidade Londres
Lugh)
destruição pode ter origens no nome
deste deus
• usando vestido pregueado,
Deusa Verbeia // C
segurando uma serpente em cada • divindade da primavera
Salus R
mão
• divindade da fertilidade,
protetora dos cavalos e asnos
C • com espiga de milho ao lado de
Deusa Epona • venerada no período
R cavalo
romano, inclusive pelos
romanos
• vinculada à festividade
C • usando coroa
Deusa Brigantia // pastoril
Minerva • divindade popular.
R • armadura e coruja
• deusa da sabedoria
Juno • acompanhada por pavão • deusa do parto
• pomba
Vênus • deusa da beleza e amor
• espelho
• deus da saúde, da salvação,
• folhas de louro – esparança de triunfo
Apolo do canto, da poesia, da dança
sobre a morte
e da verdade
• jovem que traz na mão uma taça e na
Bonus Eventus • bons acontecimentos
outra espigas e papoulas
• taça, vinho, uvas, romã
Baco • pantera, leopardo, papagaios • deus do vinho
• folhas de hera e parreira

Medusa / Górgona • proteção

Sirona // • filho de Apolo, deus da cura


C
Aesculapius • serpente • regeneração, renovação,
R
(Esculápio romano) fertilidade, boa saúde e cura
Cabeças humanas • poderes sobrenaturais e
• deuses e guerreiros
espirituais
• poder mágico de cura
• mares, rios, quedas d’água e fontes
Água • conecção com as divindades
• espiral
da água
Animal de culto: patos, galinhas

• mensageiros dos deuses, em


Pássaros e aves
contato com o Além

• guerreiro natural, associado


ao deus Archina e à deusa
Javali Animal de culto Ardennes
• representado no topo de
capacetes ou em terminais de

60
trompetes

• agressividade e força dos


guerreiros e abundância
Boi Animal de culto agrícola
• atributo da agricultura e
fundação
• animal de culto
• caça, cura e morte;
Cão
• associado aos deuses Arawn
e Nodons
Animal de culto
• velocidade, beleza, destreza
Cavalo sexual, associado ao deus Sol
• associado à deusa Epona

Lebre • caça

Formas fálicas • fecundidade / fertilidade


• lótus; palmeira; folha de acanto, de • louros – esparança de triunfo
Elementos florais
oliveira, carvalho e louro sobre a morte

Oito pequenas estatuetas


de bronze, representando
divindades romanas, mas
em estilo celta. Século III
d.C., Southbroom,
Wiltshire.
(Potter;97:61)

Os adornos pessoais produzidos na Britânia, nos séculos III a V,


apresentam-se como peças mais sofisticadas e elaboradas na forma,
materiais, variedade e número. Como testemunhos deste período e
objetos, citamos os tesouros Thetford21 e Hoxne22, que pelo grande e
valioso acervo, podemos observar o aprendizado e trocas entre culturas
tão distintas, manifestadas em peças. Outro aspecto relevante, é a
possibilidade de observar nos objetos o processo deste relacionamento
e os seus resultados, que demanda tempo, seleciona, descarta e
assimila.

21
Tesouro Thetford - escondido no século IV d.C, Thetford, Norfolk, Inglaterra, e
encontrado em 1979: 33 colheres de prata, 22 anéis, 4 pendentes, vários colares, uma
fivela de ouro. Embora neste período a Britânia oficialmente é cristã, há influências
pagãs nas peças deste tesouro.
22
Tesouro Hoxne - enterrado no século V d.C., em Hoxne, Suffolk, Inglaterra, e
encontrado em 1992: 200 objetos de ouro e prata (19 braceletes, 6 colares, 3 anéis de
ouro, 78 colheres, estatuetas, vaso de prata); 14.780 moedas (maioria de prata). É
considerado o mais rico tesouro da Britânia romana.

61
5. Conclusão

Conduzindo este trabalho para a sua conclusão, gostaríamos de


retomar a reflexão, que deu iniciou a esta monografia, sobre as formas
de relação das sociedades humanas com os seus produtos.
O ser humano, como ser social, se relaciona com os seus iguais
e o seu meio para se perceber como indivíduo e, portanto, definir a
própria identidade. Esta relação se dá pela exposição de suas idéias e
formas de ver e entender o seu entorno, e pelas relações com o outro.
Ao se expressar e comunicar, pressupõe a demarcação de seu espaço
e os limites de aceitação do espaço do outro – configurando assim os
termos de uma negociação. Estrutura o seu meio dentro de padrões e
normas estabelecidos e, a princípio, compartilhados por todos. O que,
teoricamente, funciona como regulador da convivência e mantenedor da
ordem na sociedade.
Os grupos compartilham códigos, que, de forma dinâmica, se
atualizam e modificam. Estas mudanças ocorrem dentro de espaços
diferentes de tempo, o que sugere a necessidade de adequação e
negociação com o novo, até que ocorra a sua adoção, adaptação ou
recusa. Diante da aceitação, adaptação ou rejeição do novo, os códigos
já não são mais os mesmos, pois estes sofrem uma avaliação e
reapropriação, que pressupõe diálogo, ponderação e posicionamento
em relação ao objeto em questão. Portanto, podemos considerar como
constantes os ajustes - movimentos de avaliação, interpretação,
aceitação ou rejeição, adaptação e reformulação, nos códigos sociais
estabelecidos. O processo perpassa e pode se modificar neste
processo de indivíduo para indivíduo, de indivíduo para grupo, de grupo
para grupo, de grupo para sociedade e de sociedade para sociedade. O
aspecto curioso deste processo é a pluralidade de variantes, situações
e combinações. Cada agente do sistema, com a sua bagagem e
repertório de informações, sensações e idéias, se relaciona com outros
e, desta ação, tem a oportunidade de recriar seus próprios valores, o
que manifestará em tempos e formas diferentes.
Certamente que as relações em sociedade criam mecanismos e
códigos dominantes, para fazer valer pontos de vista norteadores das
relações e obrigações, que controlam e, conseqüentemente,
determinam os papéis sociais. Hierarquias e distinções são formuladas
e postas em prática, levando os agentes sociais a negociar com a
estrutura construída em vigor. Assim, forma-se uma malha viva de
códigos expressos através de vários veículos e suportes: seja por meio
da organização e ocupação espacial, normas de conduta, etiquetas,
valores, conceitos e modelos, ou materializados, por exemplo, em
objetos, que ao circular, passam a desempenhar funções e
desencadear efeitos dentro do sistema.
No presente trabalho, avaliamos a ocupação romana da Britânia
por este ângulo, buscando entender as relações de interação cultural
naquela sociedade, através dos objetos de adorno pessoal, que
pressupõe novos códigos, formulados a partir de elementos da cultura
nativa e a estrangeira.
A sociedade celta insular, no momento da invasão romana,
embora gozando de identidade própria, não poderia ser considerada
como homogênea. Encontrava-se dividida em grupos e regiões
distintos, que se relacionavam com o seu entorno de formas peculiares.
Tribos das regiões sul e sudeste da Britânia, ao contrário das
tribos do norte, mantinham maior contato, embora lento, mas contínuo,
com o continente, portanto, com a civilização romana, que por sua vez,
já havia interagido com as culturas das províncias formadas.
A conquista romana teve início justamente pela região de maior
receptividade aos valores civilizadores latinos. A elite local, já
conhecedora destes modelos, conjugou aos seus interesses a presença
romana na ilha. Em contrapartida, grupos que não compartilhavam das
mesmas conveniências, se organizaram em movimentos de resistência,
refutando qualquer padrão estrangeiro, e valorizando as tradições de
seus ancestrais. Citamos como exemplo o uso dos torçais e fíbulas,
produzidos dentro do estilo celta.
A concretização da conquista demandou tempo, negociações e
ajustes às variantes locais, novos padrões foram impostos e outros
sugeridos – como a adoção de anéis, brincos e broches em formas
figurativas, mas o que não significou a extirpação da cultura nativa.
Diferentes formas de conflito, reação e subversão passaram a vigorar, o

63
que não descarta a aceitação de elementos da cultura do conquistador,
que também passaram fazer parte do cotidiano daquela sociedade.
Seguindo este raciocínio, podemos, então, falar em interação
cultural entre celtas e romanos. Um processo que ocorreu nos dois
sentidos, portanto, híbrido e permeável aos elementos das culturas
envolvidas.
Podemos observar nos adornos pessoais oriundos da Britânia
romana objetos com características tanto da tradição celta insular como
romana. A relação entre estas sociedades envolveu a adoção de
elementos tradicionais destas culturas, que podem ser observados nos
objetos de uso cotidiano. Aparentemente, ao avaliarmos a iconografia,
os aspectos mais evidentes nas peças são de origem latina, talvez por
terem sido adotados pelas elites locais, mais permeáveis à
romanização, que, inclusive, propiciaram a sua maior circulação e
divulgação. Possuidores de recursos, encomendaram e consumiram
objetos confeccionados de materiais nobres23 - os mais cobiçados e
preservados ao longo do tempo. Mas, ao observarmos atentamente a
documentação, podemos identificar traços, em alguns mais e em outros
menos, da cultura nativa expressa nos objetos.
Nesta reflexão, não devemos esquecer a “gente comum”,
geralmente vinculada à tradição, que valoriza o que é nativo - o
conhecido. Acreditamos que este grupo deve ter usado objetos menos
elaborados, leia-se mais despojados de decorações, se comparados
com os que receberam influência clássica; e feitos de materiais não
nobres, mas com características e padrões da cultura celta.
Confeccionar e circular estes modelos, pode ter sido uma forma de
resistência, pois ao rememorar, respeitar, valorizar e usar adornos
celtas, fizeram viver os seus costumes e os seus antepassados.
Nos primeiros anos da conquista, novidades chegaram à ilha,
seduziram alguns e influenciaram parte do gosto local. Outros as
negaram e rejeitaram. De geração em geração, se fizeram conhecidas e
parte da rotina, deixaram de ser novidades, e talvez não mais

23
Atualmente na joalheria são considerados materiais nobres: o ouro; a platina e alguns
metais de seu grupo (rutênio, ródio, paládio, ósmio e irídio); a prata; e as pedras
preciosas. No período estudado, os metais entendidos como nobres são o ouro, a prata
e as pedras.

64
percebidas como totalmente estrangeiras, pois então passaram por
adaptações e se integraram ao dia-a-dia das sociedades locais.
Desta forma, consideramos válido pensar no cotidiano em que
pessoas faziam uso de fíbulas e broches para prender partes de suas
vestimentas, como também para torná-las mais bonitas e únicas. Ou,
em momentos de tensão – guerras, em que enterravam seus maiores
bens – aqueles que possuiam grande valor, que não apenas pelo seu
poder de troca, mas também por ser parte de sua memória e afeição –
forma de guardar e preservar algum momento importante, ou presente
de pessoa querida, ou símbolo de devoção a alguma divindade, ou até
mesmo um emblema do status social almejado e alcançado, para
retomar passado o conflito.
Acreditamos que, na Britânia, muitos objetos passaram a ser usados
tanto por celtas como pelos romanos, por estarem associados aos
valores e crenças comuns a estas sociedades. Um bom exemplo desta
situação são os colares e pulseira, feitos de correntes e pendentes
representando a roda (Ilustração 17). Este elemento foi comum às duas
culturas como um símbolo solar, vinculado às maiores divindades
cultuadas por celtas e romanos – respectivamente, os deuses Belenus e
Taranis, e Júpiter (vide Quadro 09). Embora estas peças sejam de
origem romana, provavelmente também foram aceitas e usadas pelos
celtas, pois os elemento centrais destas peças foram identificados e
associados aos modelos nativos.

Ilustração 17
Nome: dois colares e pulseira
Material: ouro
Período: séc. I-II d.C.
Origem: Backworth, Noethumberland,
Inglaterra.
Significados: associação às divindades
solares
Descrição: pulseira – corrente formada por
esferas, conectadas por elos, no centro roda
de 4 eixos; dois colares de correntes e
pendentes em formato de rodas de 4 eixos,
que também compõem o fecho da peça
(ganchos).
Estilo: romano
Localização: British Museum, Londres –
PRB 50.6-1-3-5-15-16
Ref. biblio.: Tait;1996:204
Obs: referência ao deus Sol Beltane (celta) e
Júpiter (romano) – divindades solares,
supremas, símbolos de força e poder.

65
Com o tempo, os processos de fabricação e os materias se
mesclaram nas oficinas da Britânia, passaram a ser comuns, assim
como os tipos de adornos pessoais, que antes eram pouco usados ou
inexistentes. Os anéis, brincos e colares, anteriormente pouco usados,
foram decorados com o repertório celta, e as fíbulas e torçais passaram
a ser utilizados pelos romanos.
Os romanos contribuíram para a metalurgia / ourivesaria celta
trazendo a tecnologia de uma nova liga de cobre - o latão, que
inicalmente era apenas importada na forma de fíbulas ou moedas; a
filigrana; a granulação e a douração de metais. Outra técnica romana
que também foi difundida na Britânia é o intaglio*, que, por recortes e
sulcos, em superfícies planas de pedras duras ou metais, forma
desenhos variados: cenas mitológicas, divindades, bustos e perfis,
inscrições e símbolos. Por sua vez, os celtas apresentaram a
possibilidade de produzir requintados trabalhos em bronze; bem como
peças em azeviche, material até então pouco familiar aos romanos, mas
logo adotado e divulgado pelo Império.
Um outro aspecto interessante foi observado por Lloyd e Jennifer
Laing (1995): até a ocupação da Britânia, os celtas pouco produziam
imagens tridimensionais realistas de homens e animais, mas, após o
contato com os modelos clássicos, passou a ser mais comum na
representação de divindades e animais em peças de ourivesaria.
Apresentamos como exemplo os objetos votivos entesourados,
encontrados em Felmingham Hall (Ilustração 18), que representam
divindades e símbolos celtas e romanas. Destes objetos, nos chama a
atenção a cabeça maior com claras características clássicas (peça
cinzelada, semelhante à figura humana) e a menor com halo e meia-lua
(peça fundida com linhas mais estilizadas), que, provavelmente,
representam Júpiter - deus romano associado aos deuses celtas
Belenus ou Taranis – divindades solares, identificadas com as forças e
fenômenos celestiais, e que representam o pai supremo, símbolo do
poder supremo e dominação. Outros elementos curiosos deste tesouro,
são as duas pequenas esculturas em forma de aves estilizadas e uma
roda - os três conforme estilo celta, mas que podem simbolizar tanto as

66
divindades celtas (Belenus, Taranis ou Lugus) como as romanas
(Júpiter, Mercúrio ou Vênus) - vide Quadro 09.

Ilustração 18
Nome: tesouro Felmingham Hall
Material: bronze
Período: séculos II-III d.C.
Proveniência: Felmingham Hall, Norfolk, Inglaterra. Encontrado em 1884.
Descrição: estatuetas e esculturas votivas
Localização: British Museum, Londres.
Ref. biblio.: Green,2000:47
Obs.: Combinação de elementos religiosos clássicos e nativos, na Britânia romana.

Objetos são produtos de situações e relações, que norteam


mudanças, modas, hábitos, normas de conduta, usos, novos materiais e
técnicas na sua fabricação. Do estudo realizado, sugerimos que, no dia-
a-dia, muitas práticas foram compartilhadas na Britânia Romana:
romanos fizeram uso de peças romanas e das que seguiram o estilo
celta, e vice-versa. Pois, ao analisarmos todas as possibilidades e
motivos para o uso de adornos pessoais, observaremos conjunturas
diversas que nem sempre estão apenas vinculadas às questões de
dominação e resistência. Sensações, sentimentos e emoções,
componentes tão circunstanciais, também perpassaram e influenciaram
a escolha, a adoção ou rejeição de objetos.
Os adornos pessoais, como componentes do patrimônio simbólico
cultural celta e romano, desempenharam papéis de mediadores das
diferenças e semelhanças, firmaram identidades, marcaram a
coexistência e o compartilhamento dos estilos e experiências destas
sociedades.

67
Glossário

• Aluvião: depósito de cascalho, areia e argila que se forma junto


às margens ou foz dos rios, proveniente do trabalho de erosão.
• Azeviche: do árabe assabaj, produto orgânico, carvão
betuminoso, fóssil, que pode ser polido. Possui brilho ceroso
aveludado.
• Bronze: liga metálica composta por 96% de cobre e 4% de
estanho.
• Cinzelamento / repuxo: técnica artesanal, que trabalha a
superfície de um metal, laminado em chapas, com o auxílio de
punções - com formas e desenhos variados, que recebem
golpes de martelo próprio, formando assim, relevos. O
cinzelamento pode ser feito sobre madeira, pequena almofada
de areia ou sobre piche. O resultado destes golpes são
desenhos em relevo na superfície dos metais.
• Choker: gargantilha usada ajustada em volta do pescoço.
• Esmaltação: técnica de cobrir e/ou preencher superfícies de
metais, vidros, porcelanas e cerâmicas com um tipo de “vidro”
(esmalte), mediante a fundição deste sobre estas superfícies.
• Esmaltação Champlevé: é a técnica de esmaltação em que a
área que vai receber o esmalte é feita de rebaixos ou
depressões na superfície do metal. Estes rebaixos, de
profundidade entre 0,5 a 0,8 mm, são obtidos por técnicas como
cinzelamento, estamparia, gravação, corrosão por ácidos ou
soldando-se outra chapa, recortada com o desenho desejado,
sobre a superfície base.
• Esmaltação Cloisonné: é a técnica de esmaltação em que a
área que vai receber o esmalte, é determinada com o auxílio de
finíssimos fios chatos ou filigranas, formando desenhos. Estes
fios formam “paredes” – cloisons, de 0,8 a 1,0 mm de altura, que
podem ser soldados à superfície do metal e/ou apenas fundidos
ao esmalte. Outra opção da técnica, é o preenchimento do
espaço com pedras cortadas conforme o seu formato.
• Estamparia: processo pelo qual o molde de estamparia é
formado de duas partes: uma côncava (fêmea) e outra convexa
(macho), que devem encaixar com precisão. As duas partes do
molde são colocadas na prensa, a parte convexa desce sobre a
parte côncava e sob pressão molda o metal no desenho e forma
gravados em suas superfícies. Estes moldes são gravados com
todos os detalhes que se quer na peça, limados, lixados e
ajustados com precisão.
• Filigrana: a palavra “filigrana” vem de duas palavras do latim:
filum que significa fio e granum que significa grão. Assim,
podemos definir como sendo filigrana a técnica de ourivesaria
em que executamos peças e/ou ornamentos a partir de
finíssimos fios de metais lisos, ou torcidos, ou lisos achatados,
ou torcidos achatados, ou trançados. Estes fios formam
ornamentos que nos lembram rendas e que podem ser apenas
parte decorativa de uma peça, como também a própria estrutura
da peça. Podemos ter a filigrana soldada sobre uma base, assim
como formando a própria estrutura - onde os ornamentos estão
soldados entre si sem haver uma base. Estas estruturas podem
ser planas e/ou com volume.
• Fundição por cera perdida: este processo é conhecido desde
a Antiguidade; foi aperfeiçoado e atualizado, tornando-se um
processo bastante utilizado na fabricação seriada de jóias. Seu
custo é baixo e é possível ter várias cópias de uma peça a partir
de um modelo, que pode ser confeccionado de cera ou metal. O
termo “fundição por cera perdida” tem origem em uma das fases
do processo em que a peça a ser produzida é confeccionada em
cera, e que, após ser revestida por uma argamassa refratária,
será queimada - perdida. Com o calor, a secagem da argamassa
e a queima da peça de cera ocorre, e o molde do modelo será
formado. Isto é, no interior do bloco de argamassa uma cavidade
ou negativo idênticos à peça a ser fundida será deixado.
• Gemas: do latim - gemma, pedra preciosa; substâncias naturais
orgânicas ou inorgânicas, por suas características intrínsecas

69
(cor, beleza, raridade, dureza e brilho) são utilizadas como
adornos pessoais.
• Granulação: grãos / granulos também feitos de metal e
aplicados nas superfícies da peças como ornamento.
• Gravação: é o processo de entalhar, incisar, abrir sulcos em
metais, madeiras, pedras, coral, ossos com o auxílio de buril,
goiva ou reagente químico. Atualmente, há processos de
gravação além do buril: pantografia bi e tridimensionais;
guilhoche; eletroerosão; motores de suspensão (chicote); fresas
de aço rápido e diamantadas; laser; entre outros. Por processos
químicos: ácido nítrico, água forte, fotocorrosão, ultrasom etc.
• Inlay: incrustação de madeiras, vidros, pedras, metais etc em
rebaixos nas superfícies metálicas. Estes materiais são
embutidos de tal forma que as suas superfícies se confundem.
• Intaglio: o mesmo que entalho. Técnica de gravar por sulcos
superfícies de pedras ou metais, formando composições
variadas.
• Jóias etruscas: os mais antigos vestígios dos etruscos na Itália
central datam aproximadamente 700 a.C., com presença até o
século I a.C. A prosperidade deste povo, que se deve aos
recursos agrícolas e minerais da região, permitiu a importação
de artigos de luxo da Fenícia e Grécia, o que refletiu na
suntuosidade de seus funerais e túmulos. Nos túmulos
femininos, foram encontrados recipientes com adornos pessoais
em ouro e prata: fivelas, peitorais, braceletes e brincos (em
forma de bolsa de viagem – baule; de disco; de arco tubular com
cabeça de mulher, ou leão, ou carneiro aplicada em uma das
extremidades - esculpidas em cera de abelha e obtidas em metal
pelo processo de fundição por cera perdida; de ferradura,
formada por várias esferas ocas, que possibilitavam colocar
óleos perfumados em seu interior). A decoração dos adornos
pessoais era feita com apliques de folhas e flores estilizadas,
rosetas, motivos geométricos, em composições ricamente
preenchidas por granulos e filigranas, e, ocasionalmente, com
esmaltes ou gemas incrustadas. Estes depósitos refletem não

70
apenas o importante papel da mulher, mas também a função dos
adornos pessoais como tesouro e fundo de reserva nesta
sociedade. As manifestações primórdias da arte etrusca foram
despojadas da influência grega até o final do século VII a.C.,
quando a influência estética grega é percebida em várias
civilizações do Mediterrâneo. Entretanto, o estilo etrusco não
perde a sua identidade e características até os últimos trinta
anos do século IV a.C., quando as formas tradicionais etruscas
gradualmente desaparecem e são substituídas pelas formas
internacionais: pendentes, discos, pirâmides, pássaros, sinos,
ânforas ou arcos decorados com cabeças de negros feitas em
âmbar.

Ilustração 19

Nome: Colar
Material: ouro
Período: século VI a.C.
Proveniência: Toscana Maremma, Itália.
Dimensões: 27,6cm
Descrição: pendentes em formato de
cabeças do deus dos rios, sereias, flores,
botões e escaravelhos.
Estilo: etrusco
Localização: British Museum, Londres -
GR 56.6-25.17
Ref. biblio.: Tait;1997:63

• Jóias gregas: o estilo de adornos pessoais gregos que


influenciaram todas as civilizações do Mediterrâneo, foram
produzidas no período clássico (século V-II a.C.). A relativa
abundância de artefatos de ouro deste período, sem dúvida, diz
respeito à abertura do mundo grego ao Oriente. Através das
colonizações os gregos tiveram acesso às ricas fontes de metais
preciosos da Ásia menor. Na Grécia, as reservas de prata eram
mais abundantes que as de ouro, e a exploração destes metais
data a Idade do Bronze. Os adornos pessoais gregos foram
confeccionados de bronze, prata e ouro; gemas – cornalinas e
granadas; esmaltes; terracota e materiais orgânicos - marfim,
ossos e âmbar. Mas, as peças preservadas e estudadas foram
feitas em ouro. Os processos de fabricação mais utilzados
foram: fundição por cera perdida, cinzelamento, repuxo,
estamparia em sua forma mais primitiva, gravação, filigrana,
granulação e esmaltação. O grande destaque deste período são

71
os trabalhos feitos com a finíssima filigrana, a granulação e a
esmaltação nas cores azul, verde, preto e branco. Os temas
representados nestas peças fazem menção à mitologia e à vida
cotidiana, representam flores e animais, formas geométricas,
espirais, guirlandas de flores e figuras humanas. Os adorno
pessoais provavelmente foram presenteadas em ocasiões como
casamentos, nascimentos ou aniversários; como oferendas para
os deuses, colocados em estátuas de culto, nos templos, que
pediam ou agradeciam alguma graça: manter um casamento,
manter um amante, ter um bom parto, ter alcançado a cura de
um mal etc; em túmulos, como honrarias em funerais. Os
homens normalmente usavam apenas anéis e, em ocasiões
especiais, coroas de ouro. Nas cidades do leste grego, os
homens usavam brincos e braceletes. As mulheres usavam
brincos, colares, braceletes, anéis, coroas, tiaras e pendentes. O
uso de botões, fivelas e alfinetes variava de acordo com a época
e a região.

Ilustração 20
Nome: brinco
Material: ouro
Período: c. 350 a.C.
Proveniência: Kul Oba, Kerch, reino Bosporan, Rússia.
Dimensões: h 9cm; diâmetro disco 2,8cm; peso 22,35gr
Descrição: brinco com disco sustentanto forma boat shape,
da qual 5 correntes etruscas, flores e pinhas formam franja,
uma figura alada completa em uma das laterais e outra
somente parte.
Estilo: helênico
Especificidades: filigrana e granulação
Localização: Hermitage, St. Petersburg – K0 7
Ref. biblio.: Williams;1995:149

• Laminação: é o processo de trabalho a frio, que utiliza o


laminador, equipamento formado por pares de rolos cilindrícos
polidos (laminador misto – tem cilindros lisos e sulcados; ou
laminador só com cilindros lisos, ou só com cilindros sulcados),
girando em sentidos opostos, reduzindo a espessura e
aumentando o comprimento do metal. Estes rolos têm faces
polidas e planas para folhas, chapas e tiras; e rolos sulcados

72
para barras e hastes. Os laminadores podem ser manuais ou
elétricos.
• Latão: liga metálica composta por 70% de cobre e 30% de
zinco.
• Liga: combinação de dois ou mais metais, usualmente fundidos
juntos. Ligas de metais são feitas em ourivesaria, objetivando
somar as características dos metais envolvidos na mistura:
maleabilidade, resistência, ductibilidade, conductibilidade,
dureza, elasticidade, fluidez, moldabilidade, plasticidade e
tenacidade. Ao unirmos metais, esperamos que estes atendam
às necessidades de algum trabalho que devemos realizar.
Podemos modificar não apenas a sua maneira de se comportar,
mas também a sua aparência.
• Modelos de cera: modelos originais esculpidos em cera ou
réplicas em cera de um padrão-mestre, protótipo, feitas
injetando-se em moldes de borracha vulcanizada, montadas em
grupos sobre troncos e, então, fundidas (perdidas) e, assim,
removidas de um molde de revestimento, deixando cavidades
precisas para a intrusão.
• Niello: técnica de ornamentar peças através da aplicação de
“esmalte” negro em rebaixos, vãos e entalhes em suas
superfícies. Este “esmalte” é uma liga metálica composta de
enxofre com prata, cobre e chumbo.
• Ouro electrum: liga de ouro, na qual duas partes são de prata
pura e três partes de ouro puro.
• Repuxo: vide cinzelamento.
• Torçal: Torçal é objeto de adorno pessoal, que tem formato de
um anel, que nos lembra as atuais gargantilhas rígidas usadas
na base do pescoço. Suas extremidades são abertas e
finalizadas em alças decoradas, maciças ou ocas. Foi
confeccionado de metais: ferro, ligas de cobre, prata ou ouro.
Alguns torçais receberam decorações em suave relevo ou
incisões gravadas, formando variados desenhos em sua
superfície, outros são despojados de ornamentos, têm o corpo
torcido em torno de seu próprio eixo.

73
• Trefilação: é o processo em que se aplica tração em perfis
metálicos, obtendo-se perfis de diâmetros menores e de
comprimento maior. Quanto mais dúctil for o metal, mais ele
poderá ser trefilado, chegando a filamentos mínimos.

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nov. 2005.

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Referências das imagens

• Ilustração 01: Escudo Battersea, século III a.C., Londres. LAING,


Lloyd and Jennifer. Art of the Celts. Londres: Thames and
Hudson (World of Art), 1996, pp. 106-107.
• Ilustração 02: Broche celta, século III a.C., Lincolnshire. MILLS,
Nigel. Celtic & Roman Artefacts. Essex: Greenlight Publishing,
2000, p. 25.
• Ilustração 03: Fíbula celta, século III a.C., Lincolnshire. MILLS,
Nigel. Celtic & Roman Artefacts. Essex: Greenlight Publishing,
2000, p. 40.
• Ilustração 04: Torçais e braceletes Snettisham, séc. I a.C/I d.C.
LAING, Lloyd and Jennifer. Celtic Britain and Ireland – Art and
Society. Londres: The Herbert Press, 1995, pp. 29 e 32.
• Ilustração 05: Torçal Snettisham, século I a.C. , Norfolk. TAIT,
Hugh. Seven Thousand Years of Jewellery. Londres: British
Museum Press, 1997, p. 80.
• Ilustração 06: Torçal Ipswich (detalhe), séc. I a.C.- I d.C., Suffolk.
TAIT, Hugh. Seven Thousand Years of Jewellery. Londres:
British Museum Press, 1997, pp. 78.
• Ilustração 07: Escultura de bronze, século III a.C., Roma.
POWELL, T.G.E. The Celts. Londres: Thames and Hudson,
1997, p. 63.
• Ilustração 08: Torçal Snettisham, século I a.C., Norfolk. TAIT,
Hugh. Seven Thousand Years of Jewellery. Londres: British
Museum Press, 1997, p. 79.
• Ilustração 09: Retrato de mulher - pintura funerária, século II
d.C., Egito. MUNN, Geoffrey. Tiaras – Past and Present.
Londres: Victoria and albert Publications, 2002, p. 13.
• Ilustração 10: Retrato de mulher - pintura funerária, séculos II-III
d.C., Egito. Postal Kunsthistoriches Museum e http://www.khm.at
• Ilustração 11: Jóias romanas, séculos I,II e III d.C. TAIT, Hugh.
Seven Thousand Years of Jewellery. Londres: British Museum
Press, 1997, p. 87 .
• Ilustração 12: Anel de compromisso, século II d.C., Britânia
romana. JOHNS, Catherine. The Jewellery of Roman Britain.
Londres: UCL Press, 1996, p.63.
• Ilustração 13: Anel de compromisso, século II d.C., Britânia
romana. JOHNS, Catherine. The Jewellery of Roman Britain.
Londres: UCL Press, 1996, p. 65.
• Ilustração 14: Bracelete de bronze, séculos I a.C. - I d.C., Castle
Newe, Aberdeenshire, Escócia. TAIT, Hugh. Seven Thousand
Years of Jewellery. Londres: British Museum Press, 1997, p.
79.
• Ilustração 15: Broche ‘dragonesque’, séculos I-II d.C., Escócia.
TAIT, Hugh. Seven Thousand Years of Jewellery. Londres:
British Museum Press, 1997, p. 96.
• Ilustração 16: Broches trompete, sécúlos I-II d.C., Chorley,
Lancashire. JOHNS, Catherine. The Jewellery of Roman
Britain. Londres: UCL Press, 1996, p. 161.
• Ilustração 17: Colares e pulseira, séculos I-II d.C., Britânia
romana JOHNS, TAIT, Hugh. Seven Thousand Years of
Jewellery. Londres: British Museum Press, 1997, p. 204.
• Ilustração 18: Objetos votivos, séculos II-III d.C., Britânia
romana. GREEN, Miranda Jane. Celtic Myths. Londres: The
British Museum Press, 2000, p. 47.
• Ilustração 19: Colar estrusco, séc. VI a.C., Toscana Maremma,
Itália. TAIT, Hugh. Seven Thousand Years of Jewellery.
Londres: British Museum Press, 1997, p. 63.
• Ilustração 20: Brinco grego, séc. IV a.C., Kul Oba. WILLIAMS,
Dyfri & OGDEN, Jack. Greek Gold – Jewelry of the Classical
Worl. Nova Iorque: Harry Abrams, 1995, p. 149.

Referência do mapa

• Mapa 01: Tribos celtas, na Idade do Ferro e Britânia romana.


LAING, Lloyd and Jennifer. Celtic Britain and Ireland – Art and
Society. Londres: The Herbert Press, 1995, p.71.

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