Você está na página 1de 432

Cultura Castreja:

identidade e transições
Atas do Congresso Internacional
Volume II

Câmara Municipal de Santa Maria da Feira 2020


FICHA TÉCNICA
Título Cultura Castreja: Identidade e Transições
Atas do Congresso Internacional
Volumes Vol. I e II
Coordenação Rui Centeno; Rui Morais; Teresa Soeiro e Daniela Ferreira
Edição Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, 2020
Impressão Gráfica Lda.
Deposito legal 477062/20

*Os textos são da responsabilidade dos autores.

FICHA TÉCNICA DO CONGRESSO


INTERNACIONAL CULTURA CASTREJA: IDENTIDADE
E TRANSIÇÕES
Data 15 > 17 novembro 2018
Organização Câmara Municipal Santa Maria da Feira | Museu Convento dos Lóios

Apoios
CITCEM - Centro de Investigação Transdisciplinar «Cultura, Espaço e Memória»
FLUP - Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Museo do Pobo Galego

Outros Apoios
Fábrica de Papel de Ponte Redonda

Comité Executivo (Congresso)


Rui M. S. Centeno (UPorto-FLUP / CITCEM)
Rui Morais (UPorto-FLUP / CECH UC)
Ana José Oliveira (CM-Feira / Museu Convento dos Lóios)
Teresa Soeiro (UPorto-FLUP / CITCEM)

Secretariado
Daniela Ferreira (UPorto-FLUP/ CITCEM)
Ana Celina Marques (CM-Feira / Museu Convento dos Lóios)
Maria Manuel Gonçalves (CM-Feira / Museu Convento dos Lóios)
Pedro da Silva (UniBAS / CITCEM)
SUMÁRIO

Comunicações

O Setentrião da Lusitânia e o Meridião da Galécia: geografia, cultura 7


e etnicidade em transição.
Virgílio Hipólito Correia

En la periferia del noroeste peninsular. Particularidades del hábitat 35


castreño construido del oeste de Asturias.
Sergio Ríos

“Civitates” y fronteras en el entorno del Duero (Zamora). 67


Alejandro Beltrán Ortega

“NW Castros Culture” and its contrast with protohistorical communities 85


of the late Iron Age in the region of Los Montes de León and connected
territories (Orense, León, Zamora and Bragança). An analytical approach
on the Iron Age settlements in the Montes the León. Archaeology
and historiography contrasted.
Óscar Rodríguez-Monterrubio

Identificações, símbolos e alteridadess dos callaeci da antiguidade: 111


a caetra do labirinto e as suas representações.
Luís Magarinhos

Contributo das arqueociências para a investigação da cultura castreja, 129


no último quartel do século XX.
Francisco M. V. Reimão Queiroga

Agricultura no final da Idade do Ferro e Romanização no 151


Noroeste Peninsular.
João Pedro Tereso

La caza en la Cultura Castreña del noroeste Ibérico: la información 175


zooarqueológica.
Carlos Fernández Rodríguez

Workshop Cerâmica Castreja: transições

A investigação sobre cerâmica castreja no Norte de Portugal. 199


Teresa Soeiro


Tradicións na cerámica dos castros da Galiza, ao longo do tempo e do 229
espazo. A percepción dende unha liña de investigación interdisciplinar.
Josefa Rey Castiñeira | Emilio Abad Vidal |María Martín Seijo | Andrés Teira Brión
| Nuria Calo Ramos | Aldara Rico Rey

Contrastes y similitudes entre dos poblados fortificados galaicos. 259


La cerámica.
Miguel Á Vidal | Lojo e Juan | Naveiro López

Santo Estêvão da Facha: a (a)ventura de aprender em comum. 283


Teresa Soeiro

Cerâmicas da Idade do Ferro do Crastoeiro, Mondim de Basto (Vila Real). 301


António Pereira Dinis

Cividade de Terroso. Evolução da produção cerâmica. 317


José Manuel Flores Gomes

Castro de Monte Mozinho e necrópole de Monteiras (Penafiel): a cerâmica 337


castreja em época romana.
Teresa Soeiro

O Castelo de Gaia: a cerâmica dos contextos castrejos. 353


Teresa Pires de Carvalho | André Nascimento | Laura Sousa

Cerâmica da Idade do Ferro do Castro de Ovil (Espinho, Aveiro). 371
Jorge Fernando Salvador | António Manuel S. P. Silva

A cerâmica da Idade do Ferro do Castro de Salreu (Estarreja, Aveiro). 391


Estudo preliminar.
Sara Almeida e Silva | António Manuel S. P. Silva

Conferência de Encerramento 405

La implantación romana en Callaecia: valoración de sus consecuencias.


Mª Dolores Dopico Caínzos
Comunicações
VIRGÍLIO
HIPÓLITO
CORREIA
O SETENTRIÃO DA LUSITÂNIA E O MERIDIÃO DA GALÉCIA:
GEOGRAFIA, CULTURA E ETNICIDADE EM TRANSIÇÃO.1

VIRGÍLIO HIPÓLITO CORREIA


Museu Monográfico de Conimbriga, Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos UC

virgiliocorreia@mmconimbriga.dgpc.pt

RESUMO
É feita uma apreciação global dos principais aspectos da ocupação da Idade do
Ferro e do período romano entre o Douro e o Tejo, na óptica da definição das fronteiras
meridionais da “cultura castreja”.
Conclui-se pela existência, no período pré-romano, de uma área cultural que é muito mais
vasta, devendo-se à intervenção romana o desenvolvimento de alguns fenómenos arqueológicos
muito específicos, que a historiografia tem tomado como essenciais na definição dessa cultura.

PALAVRAS CHAVE
Idade do Ferro, Lusitânia, Galécia, Arquitetura doméstica, Ourivesaria.

ABSTRACT
A global assessment of the main aspects of the Iron Age and Roman occupation of the
region between the Douro and the Tejo rivers is made, aiming at the definition of the
Southern borders of the “castro’s culture”.
One concludes on the existence, in pre-Roman times, of a much wider cultural area,
and on the Roman intervention causing the development of some specific archaeological
phenomena, which have historically been seen as essential in the definition of that culture.

KEYWORDS
Iron Age, Lusitania, Galaecia, Domestic Architecture, Jewelry.

1
Trabalho desenvolvido no âmbito do projeto UID/ELT/00196/2013, financiado pela FCT – Fundação para
a Ciência e a Tecnologia. | Research Developed under the Project UID/ELT/00196/2013, funded by the Portuguese
FCT – Foundation for Science and Technology.

9
1 INTRODUÇÃO: OBJECTIVOS E LIMITES DA INDAGAÇÃO

O presente texto pretende resolver um problema: a contradição entre duas afirmações


sequentes na Geografia de Estrabão, que dizem:
i) Geog. 3.3.2: “Os Calaicos não só forneceram o epíteto do homem que derrotou os
Lusitanos como também deram lugar a que, agora, a maioria dos Lusitanos é chamada de
Calaicos.”
ii) Geog. 3.3.3: “Vetões, Vaceus e Calaicos são as tribos bem conhecidas; não vale a
pena nomear o resto, dada a sua pequenez e escassa reputação. Mas, contrariamente aos
homens de hoje, todavia, alguns chamam também a estes povos Lusitanos.”
Este problema, que tem uma expressão tradicional na problematização do entendimento
destas sociedades (Almagro 2018, 437-470) e ao qual o presente autor já se referiu noutros
contextos (v.g. Correia 2001, 214-215) pareceu poder ser de importância central para
o tema do congresso reunido em Santa Maria da Feira em Novembro de 2018: “Cultura
castreja: Identidade e transições”, na medida em que obriga a abordar, pelo menos, quatro
aspectos essenciais, a saber:
a) Como se definia a fronteira meridional da entidade cultural hoje conhecida como
“cultura castreja”? O que conduz a uma segunda questão:
b) Onde se traçava essa fronteira? E levanta dois problemas interpretativos acessórios
c) Um, fenomenológico - visto que essa fronteira não é clara para o geógrafo de Amasia,
sê-lo-ia para os habitantes locais?
d) Outro, histórico – porque é a fronteira da Lusitânia tão claramente definida em Plínio?
A resposta a estas questões, se for possível de encontrar, resolverá o problema.
As dificuldades no achamento dessa solução, prendem-se, à partida, com a dificuldade
de decidir se a confusão da Geografia provém do desconhecimento da realidade, de um
seu conhecimento erróneo, ou se provém de uma clara percepção de uma situação, de facto,
fluída. Ambas as situações podiam estar presentes, nos séc.s II e I a.C., em discussões
sobre esta matéria.
Não se conhecem, por falta de conservação dos originais livianos, que se interrompem
em 167 a.C., as eventuais discussões acerca do triunfo de Decimus Iunius Brutus “qui
Callaicus apellantur” (nos Fasti Triumphales; Degrassi 1954, 70), mas sabe-se que a Marcus

10
Popillius Laenas, em 173 a.C., não foi votado um triunfo sobre os Statellati lígures, devido
ao tratamento que o procônsul lhes infligiu (Pittenger 2008, 231-245 e, quanto à Península
Ibérica, Públio Sulpício Galba foi processado por quebra da fides relativamente aos
Lusitanos, em 152 a.C. (Apiano, Iber. 60; Goldsworthy 2009, 441).
Ora, a atitude de D. Iunius Brutus quanto aos habitantes de Talabriga, relatada por
Apiano (Iber. 73), e que é explicitamente referida como surpreendente, pode referir-se, por
contraste deliberado, a esta situação. É a gestão do capital simbólico do general romano no
seio da aristocracia senatorial que gera, e gere, a surpresa, a ambiguidade; a imprecisão
estraboniana pode, no limite, depender da imprecisão da extensão e importância da
expedição juniana, tal como relatada pelo próprio (cf. Pittenger 2008, 104-105), sendo claro
que por vezes vitórias de pouca expressão eram inflacionadas como forma de pressionar o
Senado a conceder um triunfo.
Por outro lado, a visão helenístico-romana das características dos povos bárbaros, como
dependente de condições geográficas e naturais (Isaac 2004, 60-83) pode ter condicionado
a percepção do quadrante noroeste peninsular, como uma grande entidade, e a referência
de Estrabão ao seu afastamento geográfico como causa do seu afastamento sócio-cultural
(Geog. 3.3.8) pode ter sido entendida, generalizadamente, como sobrepondo-se a divisões
políticas circunstanciais.
Do ponto de vista historiográfico, tem-se insistido bastante em Portugal numa
perspectiva etno-arqueológica de identificar e localizar os populi pré-romanos através
das referências literárias (Plínio, sobretudo) e da epigrafia (Tranoy 1981, 39-74; Alarcão
1990, 21-34; Silva 2007a, 389-397). Trata-se de uma área de conhecimento com muita
bibliografia acumulada mas que, finalmente, parece oferecer menos do que o almejado.
Para a matéria em apreço, e independentemente da dimensão e importância das entidades
étnicas, tribais, gentilitárias ou suprafamiliares identificadas (Alarcão 2003, 14-76; id. 2018,
48-66), a sua pertença a Callaici ou Lusitani só pode ser suposta de acordo com a sua
localização a Norte ou a Sul do Douro, de uma forma obviamente tautológica, dependente
da fronteira pliniana colocada nesse rio. De facto, não existe, fora das listas plinianas,
nenhuma evidência independente que estabeleça relações de pertença entre essas
entidades reconhecidas “no terreno” e as referências aos étnicos maiores consagrados
na historiografia. O presente texto voltará ainda a este problema, mas é necessário desde

11
já reforçar a grave dificuldade que parte da evidência apresenta, como acontece com a
localização (ou a própria existência) dos Haberi/Hiberi algures entre Douro e Vouga.
A resolução dos problemas propostos tentará aqui passar pela abordagem das
“fronteiras persistentes” (Anthony 2007, 104-106); em primeiro lugar, logicamente, pela
verificação da sua efectiva existência (questão a) antes mencionada), e depois pela sua
localização no espaço e no tempo (questões b) e d) mencionadas).
Para tal, nos limites possíveis de aprofundamento na ocasião e com a evidência
disponível, abordar-se-ão três aspectos distintos: a arquitectura doméstica, a arquitectura
pública e a afirmação da elite guerreira e as comunalidades linguísticas. Estes domínios
não são perfeitamente equivalentes, nem em natureza, nem na evidência disponível nem
em relevância societal, mas são aspectos, todos eles, relevantes à sua maneira própria
e que permitem iluminar alguns dos ângulos relevantes para a questão fundamental
proposta.

2 A ARQUITECTURA DOMÉSTICA CASTREJA OU A QUADRATURA DO CÍRCULO

A priori, a “casa castreja” - edifício civil de finalidade residencial, de planta circular, por
vezes precedida por um vestíbulo algumas vezes dito ‘em caranguejo’, por analogia da sua
planta com uma representação esquemática do crustáceo, integrada ou não num conjunto
residencial, que pode ser de conformação bastante diversa - é o elemento definidor principal
(o “fóssil-tipo”) da cultura castreja, tal como a ciência arqueológica a define desde Martins
Sarmento e (por diversas circunstâncias histórico-académicas, nem todas igualmente bem
fundadas no conhecimento produzido por sucessivas gerações de investigadores) que
representa um elemento central no pensamento académico e nas reconstruções históricas
desenhadas (nas “narrativas”) das sociedades sidéricas do Noroeste da Península Ibérica.
É justo, portanto, iniciar por este elemento uma análise da problemática em causa.
A investigação arqueológica tem interpretado frequentemente a arquitectura doméstica
de planta circular como um arcaísmo, algo destinado a ser substituído inelutavelmente pela
arquitectura de planta rectangular evoluída, trazida às regiões do Noroeste pala presença
civilizadora romana.

12
Esta perspectiva levanta toda uma panóplia de problemas de determinação cronológica,
para que não há condições de análise pormenorizada nesta ocasião, mas que se podem
resumir da forma seguinte.
O povoado de Neves-Corvo escavado por Maria e Manuel Maia (Maia e Maia 1986),
apesar das deficiências das publicações originais, constitui um exemplo, a vários títulos
paradigmático, da substituição a nível técnico e conceptual da arquitectura de plantas
circulares pela arquitectura de planta rectangular e tem sido justamente valorizado.
A cronologia da sua substituição pode ser apontada algures no séc. VI.
Mais precisamente datado, o povoado de Outurela, terá assistido a essa substituição
cerca dos finais do séc. VI ou inícios do V (Cardoso 1995, 62-64).
Mas, sobretudo, o caso da acrópole de Ratinhos (Berrocal-Rangel e Silva 2010, 244-
258) é de especial atenção, por duas ordens de razões. Em primeiro lugar, trata-se de uma
zona urbanisticamente fundamental num povoado que desempenhava um papel central no
povoamento da área, à época, não se tratando, ao contrário dos exemplos anteriores, de
construções isoladas ou integradas em pontos menos centrais nas redes de povoamento.
Em segundo lugar pela conjunção da precisão da datação, a sua antiguidade (séc. IX a.C.)
e a natureza do edifício rectangular construído, que terá desempenhado funções cultuais.
Mais para Norte, não dispomos de informação equivalente e outras questões técnicas
se levantam. Santa Olaia é um povoado de plantas rectangulares construídas em terra,
mas tratando-se de uma fundação ex nihilo, provavelmente correspondente a uma espécie
de apoikia oriental, o seu papel de divulgador de uma nova moda arquitectónica pode
ter sido importante, mas não é um claro exemplo de “introdução de um modelo forâneo”.
É possível, mas não é certo, que essa introdução possa ser a explicação para alguns
fenómenos verificados em Conimbriga, mas as observações de campo são insuficientes
para determinar se as estratigrafias mais profundas localizadas junto ao fórum constituem,
como sustenta A. M. Arruda (1989, 1997), vestígios de “cabanas” com a base aberta na
rocha (caso em que as casas de pátio escavadas pela equipa luso-francesas corresponderiam
a um fenómeno de substituição de modelo arquitetónico que teria ocorrido, pelo mais tarde,
no séc. II a.C. [Arruda 1997, 22: data ICEN 422, cal. 2σ 400-123 a.C.]), ou se são apenas
lixeiras de habitações, possivelmente já desde uma data antiga, de planta rectangular
(cf. Correia 1993, 271-283).

13
Fig. 1 - Estruturas habitacionais do Castro da Cárcoda (seg. João L. Inês Vaz [1987]).

Fig. 2 - Casas pré-romanas de Conimbriga (seg. V. H. Correia [2017]).

14
No interior, o caso do Cabeço de São Romão, em Seia, mostra estruturas habitacionais
adaptadas à configuração granítica da elevação, com dados interessantes, mas
inconclusivos quanto a este aspecto (Guerra et al. 1989, 189-234), pois tanto existem
estruturas de planta tendencialmente circular (CSR-A P6: op. laud., 204) como rectangular
(CSR-C III P2: op. laud., 222), mas sem uma clara relação estratigráfica entre elas, por se
situarem em sectores diferentes do povoado. A cerâmica é, quer numa quer noutra das
áreas, integrável no complexo designado Baiões-Sta. Luzia (Martinez 1993, 93-124;
id. 2000, 119-131) o que indicaria, a ter havido substituição de modelo arquitectónico,
uma cronologia aproximada àquela em que o fenómeno ocorre no sudoeste peninsular.
Em qualquer caso, a data para essa substituição de modelo arquitectónico em
Conimbriga não pode ser apontada com os dados disponíveis e, para além disso, pode
perguntar-se se essa substituição, a ter existido, se deveria a um modelo “oriental”
transmitido por Santa Olaia ou a um modelo “continental”, filiado, por exemplo, em Cortes
de Navarra (Maluquer et al. 1990, 15-43), conhecida como é a presença de cerâmicas
de tipo Cogotas na cidade (Correia 1993, 245-247). Esse “modelo continental”, fosse
ele de natureza propriamente cultural, do domínio da concepção social da arquitectura
de prestígio, ou mais estritamente técnico, ligado à disponibilidade e conhecimento da
arquitectura de terra, em que a taipa se adapta melhor às plantas rectangulares, poderia
explicar a preferência por essas plantas em zonas do interior, da mesma forma que o faz
nas zonas costeiras.
Mas ainda, independentemente de todas estas alternativas, subsiste a utilização de
plantas circulares em elementos residenciais complexos da chamada “cultura castreja”,
edificadas em datas plenamente contemporâneas da integração romana, como no Monte
Mozinho (Carvalho e Queiroga 2005, 128-132), e que mostram até um conhecimento
integrado das fórmulas sociais romanas, como em Briteiros (Coroneri Camali (filius)
domus: Silva 2007, 129 e 690). Cronologia e integração cultural ultrapassam de muito
qualquer fenómeno de arrastamento de práticas tradicionais que se possa imaginar que
tenha existido e a explicação só pode ser a de uma escolha intencional e deliberada de um
modelo urbano e arquitectónico sui generis.
Comprovada a continuidade e intensidade de relações culturais do Noroeste com o
Sul da Península, atestada pelos achados de ourivesaria (Correia 2005, 1221-1223), de

15
cerâmicas gregas (Arruda 1997, 81-83; actualizado parcialmente em id. 2007, 135-140) e
de outras cerâmicas de origem púnica (Silva 2007a, 201-204), desde pelo menos o séc. VI
a.C., que torna inverosímil a justificação desse arrastamento pelo “isolamento” do Noroeste,
que nunca existiu, é forçoso concluir por dois aspectos complementares: i) que a escolha do
modelo de habitações circulares é característico de uma “IIª Idade do Ferro” do Noroeste
(Silva 1990, 297-341), centrada nos séc. s IV-III a.C. (Almeida 1983, 71), em que, como
noutras zonas da Península, esse tipo de escolhas tem lugar no âmbito da afirmação étnica
das comunidades sujeitas a fenómenos de intensificação dos contactos supra-regionais
(Cunliffe 1997, 147-167); ii) que o abandono dessas escolhas é tardio, contemporâneo da
presença romana e muito pouco sistematicamente implementado (Almeida 1983, 72-73).
No que diz respeito ao primeiro aspecto, pode ser possível sustentar uma similitude
com os modelos insulares britânicos das casas circulares (Audouze e Buschenchutz
1989, 237-246) que são frequentemente edifícios de prestígio e controle da exploração
económica dos territórios (sobre o modelo bi-modal de estruturação territorial: Correia 2001,
217-218). A interpretação sistémica da arquitectura doméstica tipicamente castreja (Almeida
1986, 161-163) seria, portanto, a da concentração proto-urbana e da “petrificação” de um
modelo arquitectónico de prestígio (a casa circular). E insista-se em que esta escolha
arquitectónica reiterada, em datas posteriores à integração romana, em locais como
Romariz (Silva 2007a, 48-51), ou a Cárcoda (Vaz 1987, 83-86), desmente a definição da
fronteira lusitana no Douro enquanto fronteira cultural.

3 A ARQUITECTURA PÚBLICA E AS EXPRESSÕES DE PRESTÍGIO COMUNITÁRIO

Um fenómeno do mesmo género parece ocorrer com um elemento significativo da


arquitectura pública associada à cultura castreja: os balneários semi-enterrados (Silva
2007a, 66-75; id. 2007b, passim). Segundo algumas propostas estes têm uma presença
de alguma forma significativa entre o Douro e o Vouga, ainda que as evidências sejam
reconhecidamente escassas (Silva 1999, 410 e 421). Essa escassez, todavia, não ilude
o facto essencial de que as práticas sociais associadas a esses monumentos, porventura
mais importantes do que as tipologias arquitectónicas específicas – sendo que aquelas

16
primeiras podem ser satisfeitas por várias modalidades destas segundas e que isso poderia
explicar a multiplicação de referências tipologicamente indistintas, como parece ser o caso-
podem ter tido uma presença alargada nessa e noutras regiões.
Idêntica consideração se poderá fazer acerca de outro domínio do espaço público:
os espaços rituais sobre monumentos naturais, por vezes associados a povoados, quando
não mesmo integrados neles, que representam um importante indicador arqueológico, entre
outras razões, pela forte coincidência da sua dispersão peninsular com outros elementos,
como a linguística pré-romana ou a teonímia da mesma época (Almagro 2015, 329-410).
E, neste ponto, é muito significativo fazer um alerta acerca de que, quando a prospecção
é suficientemente intensiva e eficazmente dirigida, os condicionalismos naturais às técnicas
de construção (ou, neste caso, à existência de formações naturais de conformação adequada)
parecem esbater-se, em favor de distribuições mais alargadas e variantes tipológicas
adequadas a várias situações (Vilhena 2016, 85-86). Este campo é, portanto, tema em
aberto a futuras investigações.
Esta apreciação conduz a referir um terceiro ponto, ainda no domínio da arquitectura
pública, muito importante, que é o da poliorcética.
Na medida em que representa o principal investimento em edilícia levado a cabo pelas
comunidades sidéricas, a construção de muralhas rodeando os povoados da Idade do
Ferro, designadamente os chamados “castros” é, necessariamente, um elemento essencial
de estudo e compreensão da evolução dessas comunidades. É aliás notório que o
desenvolvimento da poliorcética, enquanto actividade edilitária especializada, levou ao
aparecimento não só de uma engenharia específica (cujo elemento propriamente científico
não é conhecido, mas que deve ter estado presente nalguns exemplos, para além dos
meros conhecimentos e experiência empíricos) mas também de estilos de construção,
delimitáveis regional ou cronologicamente.
Mas, para além de, e em contraste com esta situação, é também evidente que o
empirismo ditou, na maioria das situações, uma forte dependência das condições de
terreno, nomeadamente no que ao substrato rochoso diz respeito (Silva 2007, 27), criando
uma fortíssima clivagem de tradições entre as zonas de base granítica, por um lado, e das
de base xistosa ou calcária, por outro.
Por isso, na faixa granítica que se estende do Entre-Douro-e-Minho até à Serra

17
da Estrela é possível, senão a definição de uma verdadeira tipologia, pelo menos o
isolamento do que poderá chamar de cinco respostas típicas a situações determinadas (op.
laud. 33), que parecem também poder ser isoladas em contextos geográficos específicos
como o caso da região de Viseu (Pedro 1996, 177-203). Contrastantemente, sabe-se
menos das respostas típicas noutros contextos geomorfológicos, podendo todavia verificar-
se a existência de uma tradição de muralhas em talude, que se estende de S. Jusenda
(Höck e Coelho 1977, 203-208), no Nordeste transmontano, a Trás-de-Figueiró (Coutinho
1994, 113-115), nas serras calcárias do Ocidente, e do Cerro do Castelo de Seade (Batata
2006, 155 e 260), no vale do Zêzere, a Sul, a S. Julião (Silva et al. 2015, 72-78), na planície
costeira do Entre-Douro-e-Vouga.
Da mesma forma, infelizmente apenas aproximativa, pode olhar-se para a dispersão
geográfica de uma classe de objectos de prestígio: os torques e outras jóias masculinas
de pescoço. De facto as quatro classes principais identificáveis mostram uma dispersão
diferencial, regionalizada, que se pode comparar com outras distribuições de itens que
constituem presenças regionais marcadas, como a de certos tipos cerâmicos (designadamente
na costa galega), na presença/ausência de escultura de principes (sobretudo presente no
Entre-Douro-e-Minho) ou de animais (mais ligados ao interior vetão).
As quatro classes que parecem constituir modelos diferenciados (para além de questões
técnicas de execução que permitem subdividir mais a tipologia, nomeadamente como faz
Armando Coelho F. Silva [2007, 333]) são:
- torques de terminal em dupla escócia (incluindo os tipos D2 e D3, op. laud.),
notoriamente inexistente a sul do Douro.
- torques de terminal bolbiforme (incluindo os tipos D1 e D4, op. laud.), idem.
- lúnulas (op. laud., 337-338; Correia 2018, 91), de que o exemplo mais setentrional
é o de Viseu, ausentes a norte do Douro.
- colares entrançados (op. laud., 336-337; Correia et al. 2013, 117-123), presentes
a Norte e a Sul do Douro, mais comuns no interior (zona de Monsanto), mas não
desconhecidos em zonas próximas do litoral (Chão de Lamas).

18
a) b)

c) d)

Fig. 3 - a) torques de terminal em dupla escócia de Paradela do Rio; b) torques de terminal bolbiforme, idem; c)
lúnula de Viseu; d) colar entrançado de Soalheira do Barbanejo (Museu Nacional de Arqueologia: Inv nº Au 566,
Au 569, Au 294 e Au 42, respectivamente. Fotos de José Pessoa ©DGPC/ADF)

O que é importante retirar deste panorama é que por toda a região têm lugar fenómenos
de escolha deliberada de modelos de auto-representação, neste caso constituídos pela
escolha de um determinado modelo de jóia. Esta afirmação baseia-se, obviamente no
pressuposto de que as jóias podem, e muitas vezes realmente são, transaccionadas a
larga distância: não estando dependente de zonas de produção/distribuição e por estilos
que lhes sejam próprios e exclusivos, a distribuição dos tipos identificados poderia, em
abstracto, ser completamente diferente; a distribuição regional diferencial liga-se portanto

19
à escolha dos atores, dos portadores das jóias, que estabelecem as suas esferas de
interacção num determinado espectro geográfico, em competição ou contraste com um
conjunto de outros atores que é diferentemente seleccionado por razões que não se
conhecem (tal como não se conhecem as modalidades dessas afirmações de contraste
ou dessas competições). Mas, como se trata dos elementos de maior prestígio associados
aos principes de sociedades de guerreiros, pode razoavelmente supor-se que essas
modalidades ultrapassavam a mera escolha das jóias e afectavam as relações entre grupos
e comunidades. Nesse sentido, as distribuições regionais diferenciais destes elementos
(claro que não só as jóias), representam vários contextos, diferenciados eles em termos
de cronologia (no sentido fino do termo, não propriamente em termos de cronologia
dos faseamentos arqueológicos) e das modalidades das afirmações de contraste ou de
competição. Estes contextos são os mesmos em que se afirmam as auto-identificações
étnicas das sociedades.

4 EXCURSO: A EXTENSÃO DO CONHECIMENTO ACTUAL SOBRE A IDADE


DO FERRO NO CENTRO DE PORTUGAL

É inevitável, neste ponto, fazer uma avaliação daquilo que realmente se conhece
da arqueologia sidérica entre o Douro e o Tejo, do Atlântico à raia seca e às planícies
leonesas, castelhanas e extremenhas e tentar avaliar até que ponto as observações
possíveis sobre as matérias em apreço correspondem a uma leitura adequada de um
panorama consistente e homogéneo de conhecimento de terreno e de investigação
dos dados existentes ou se, pelo contrário, a investigação está limitada a avaliações
impressionísticas sobre aspectos particulares de achados avulsos, sítios identificados
ocasionalmente e considerações gerais descontextualizadas.
Infelizmente, a situação parece inclinar-se mais para este último extremo do espectro,
de grande desconhecimento da situação de terreno, pontuada aqui e ali por projectos
de investigação que, com muito mérito, têm abordado campos muito significativos do
conhecimento, mas num contexto que, como é sabido, há cerca de três décadas privilegia
decisivamente a investigação arqueológica em contextos de minoração de impactos

20
de obras o que, em zonas deprimidas economicamente e, muitas delas, desertificadas,
significa a inexistência de investigação corrente.
Excepções são constituídas por zonas como a de Viseu (Vaz 1987, 403-411; Pedro
1996, 177 204), a área costeira entre Douro e Vouga (Silva 1999, 403-429), vales de
rios como o Côa (Perestrelo 2003, 98-127) ou o Zêzere (Batata 2006, 31-41) ou, em
aspectos mais particulares, a zona do Ribatejo (Felix 2014, 203-250); algumas revisões de
localizações geográficas específicas oferecem também dados relevantes, seja em função
da orografia (Serra da Estrela: Saraiva 2013, 32-49), seja em função dos sistemas antigos
de viação e comunicação (“Estrada Coimbrã”: Vilaça 2015, 39). Mas todas estas excepções
somadas não permitem discutir com seriedade questões de padrões de povoamento, de
tipologias de implantação ou de relações entre áreas geográficas já que, globalmente, a
cultura material não tem sido privilegiada nos estudos.
É por isso inevitável, olhar para as realidades proto-históricas da região de que
o presente texto se ocupa através do filtro dos dados de época romana, onde
designadamente a epigrafia nos oferece alguma informação suplementar, apesar de
todas as dificuldades inerentes e ao cuidado que é necessário ter com interpretações
anacrónicas e historicamente enviesadas, provocadas pela própria intervenção romana na
situação.

5 A INTERVENÇÃO ROMANA

No actual estado dos conhecimentos disponíveis, parece aceitável afirmar que a


situação de definições regionais diferenciadas, muito provavelmente conscientemente
assumidas, pelas sociedades que as corporizavam, como identificações étnicas auto-
reconhecidas e afirmadas por competição e/ou contraste, pode apenas ser caracterizada
sumariamente. Mas pode analisar-se a intervenção jurídico-política romana na região, que
como antes se afirmou constitui um importante vector de análise dada a relativa riqueza de
epigrafia, sobretudo quando confrontada com a escassez de dados de terreno de data mais
antiga, e a sua ligação ao registo histórico, que é também significativo.
Pode portanto começar-se por analisar aquele aspecto inicialmente proposto: “Porque é
a fronteira da Lusitânia tão claramente definida em Plínio?”.

21
A resposta possível é a de que assim acontece por se tratar de uma decisão
racionalmente tomada no domínio geográfico (na óptica romana) e administrativo,
apontada a ser claramente identificável no terreno e insusceptível de dúvidas ou segundas
interpretações e que se terá sobreposto a quaisquer considerações mais gerais sobre a
pertença a étnicos maiores das comunidades localmente afectadas.
E Estrabão (Geog. 3.4, 20) é aliás bastante explícito a este propósito quando, em
contraste com as referências a esses étnicos maiores feito em capítulo anterior, menciona
explicitamente que “no tempo presente” a Lusitânia, já definida com a fronteira no Douro
e a capital em Emerita Augusta é governada por um legado (legatus augusti) de nível
pretoriano e um seu legado, enquanto a Citerior é governada por um legado (legatus
augusti) de nível consular assistido por três legados e dispondo de três legiões. Duas
destas, sob o primeiro desses legados, estão estacionadas além-Douro (e Estrabão retoma
a questão da designação desses povos referida em Geog. 3.3.2 e 3.3.4).
A transferência da Galécia para a Tarraconense datará de 16-13 a.C. (Tranoy 1981,
146-147) e terá constituído uma profunda reformulação da divisão provincial hispânica
(suficientemente importante para ser recordada por Augusto nas Res Gestae (12.2; cf.
Cooley 70-71 e esp. 220-221) pois, por pura lógica geográfica, o Noroeste sempre tinha
dependido da Ulterior, incluindo até às Guerras Cântabras, concluídas em 19 a.C.
É este o contexto da definição do Douro como fronteira, decisão pragmática e expedita,
que se pode reputar ignorante ou despreocupada de eventuais problemas locais ou
imprecisões étnicas, aliás como aconteceu com a escolha do Reno como fronteira entre
a Gália e a Germânia em época de César (Goldsworthy 2007, 306). A primeira, senão a
única, preocupação seria de dar um limite preciso e inequívoco ao imperium (em época
imperial, ao mandatum).
Esta distinção essencial estabelecida a partir de 16-13 a.C. vem a ter consequências
muito importantes no devir histórico das regiões, com diferenças muito sensíveis no
desenvolvimento urbano e da ocupação do território a norte e a sul do Douro.
A Galécia representa uma fracção longínqua (ainda que significativa, graças aos
recursos auríferos e à presença legionária), de uma vasta província de nível consular que
olha mais para o Mediterrâneo, a partir da capital e de outras importantes cidades, como
Valentia, Carthago Nova ou Barcino, do que para o Noroeste, onde um contado número

22
de fundações urbanas (Bracara, Lucus e Asturica) deixam quase in naturalibus a maior
parte do território (Dopico 2016, 85-93). Sem surpresa, as elites indígenas destes territórios
concentram-se no desenvolvimento, em moldes tradicionais, da sua própria afirmação
política e, retirada a conflitualidade implícita nessas formas tradicionais de competição
pela presença romana, é num urbanismo de modelo sui generis (o castro; ou, aliás,
segundo C. A. Ferreira de Almeida [1986, 163-164] o castro no seu “período áureo”)que
essa competição se traduz, desde logo no aparato edilício, mas também no contingente
demográfico captado e na concomitante capacidade económica.
Não assim na Lusitânia, onde a dimensão da província e uma capital provincial criada
ex novo, suplantaram a realidade de um mosaico cultural indígena muito variado e
desenvolveram uma verdadeira política de urbanização que, mesmo que tenha sido
menos sistematicamente conseguida do que algumas restituições propõem, cobriu
sistematicamente o território de cidades ao modo romano, com a consequente integração
das sociedades locais e com um programa acessório, mas certamente indispensável,
de regulação das relações entre elas, também ao modo romano.
Interessam para esta discussão quatro termini augustales conhecidos neste momento
no quadrante Nordeste da região entre Douro e Tejo:
a) Ul, Oliveira de Azeméis (Almeida 1953, AE 1958, 10; ILER 6066; Hisp. Ep. 20060)
[Imp(eratore) / Caes]are Augusto tribuni/[cia pot(estate)] XXVII co(n)s(ule) XIII pater (sic)
/ [patr(iae) ter]minus Augustalis / …
Datável de 4-5 a.C. e pode ser atribuído à delimitação entre Talabriga e Langóbriga.
b) Balsemão, Lamego (CIL II 6199; Hisp. Ep. 22101).
[Ti(berio)]Claudio Caesare A[ug(usto)] / Germ(anico) pont(ifice) max(imo) trib[un(icia)]/
potest(ate) II imp(eratore) II p(atre) p(atriae) co(n)[s(ule)]/ III Term(inus) Aug(ustalis // [inter/
…] // [inter/ …]
Datável de 43 d.C.. O terminus seguinte, mencionando especificamente Coilarni
e Arabrigenses, esclarece a sua inserção político-geográfica.
c) Goujoim, Armamar (Vaz 1979; AE 1979, 331; Hisp. Ep. 20366):
[Ti(berio) Claudio Cae/sa]re Aug(usto) Ge[r(manico) / p]ont(ifici) max(imo) tr[i/b]u(nicia)
potestate II imp(eratore)/ II p(atri) p(atriae) co(n)s(uli) III ter/mi(nus) Aug(ustalis) // Inte[r]/
Coila[r(nos?)] // [I]nter/ Arabr(igenses).

23
Com uma datação originalmente proposta de Nerva ou Trajano, a data deve todavia
coincidir com o anterior (43. d.C.).
d) Guardão, Tondela (Alföldy 1969, 134; AE 1954, 88; Hisp. Ep. 16765):
Imp(erator) Caesar div[i f(ilius) Augustus co(n)s(ule)] / XIII trib(unicia) potest[ate …
terminum] / august(alem) inter [ … / … ie(n)ses Q(uinto) Artic(u)le[io Regulo leg(ato)
Aug(usti) … ] / causa cognit[a … ]
Datável de 2-14 d.C., mostra o formulário mais explícito e mais sugestivo das realidades
administrativas em jogo nesta matéria.
Resumidamente, estes exercícios de demarcação territorial entre circunscrições
administrativas sugerem, em primeiro lugar, a imperfeição do modelo original aplicado
(ou a colocação desses termini não seria necessária). Sugerem ainda, em segundo lugar,
a dificuldade do acerto, medido pela espessura temporal que documentam, pelo menos
de Augusto a Claúdio. E, mais do que sugerir, documentam a importância atribuída pela
administração romana à solução de problemas de profundas raízes históricas e impacto
público dilatado (causa cognita).
Neste contexto, dispõe-se ainda da mesma zona de algumas informações quanto à
auto-identificação das comunidades locais, no contexto romano e expressa ao modo
romano:
- Podem considerar-se em primeiro lugar as auto-identificações coincidentes com
a identificação romana, como é o caso dos Turduli Veteres de Monte Murado, que faz eco
de Pompónio Mela e de Plínio (Nat. Hist. IV, 112-113; cf. Silva 1983, 13). Pode perguntar-
se se dessa coincidência de identificação faria também parte a comunhão da história
passada (Fentress e Wickham 1994, 59-70), nomeadamente da sua origem meridional
e da expedição militar conjunto levada a cabo com os célticos da região do Guadiana,
verosimilmente da Betúria (Berrocal-Rangel 1998, 25), que nos é transmitida por Estrabão
(Geog. 3.3.5), ou se foi apenas uma expressão convencional, feita por deferência no âmbito
do pacto de hospitalidade.
A segunda hipótese parece, todavia, pouco provável, entre outras razões porque existem
testemunhos muito claros de auto-identificações divergentes da identificação romana, dos
quais a ara de Viseu, dedicada em língua indígena aos deuses de Vissaium (Fernandes
et al. 2008, 185-189), é porventura o melhor exemplo. Vissaium, topónimo indígena com

24
expressão geográfica suficientemente marcante para estar ainda na origem da moderna
designação de Viseu, não foi, no entanto, recenseada nas fontes clássicas, chegando essa
ausência a constituir um problema de historiografia toponomástica (Vaz 1997, 347-348).
Esta questão, dir-se-ia técnica, da recensão das realidades locais nas fontes clássicas,
que são todas de um nível bastante geral e abrangente e, por isso, pouco pormenorizadas,
ganha particular acuidade quanto às auto-identificações de grau organizativo diferente da
identificação romana mais vulgar, que se estabelece ao nível da civitas. É especialmente
importante neste ponto considerar uma inscrição de Conimbriga (Etienne et al. 1976, 30-32,
nº 11) dedicada aos Lares dos Lubanci, sub-unidade gentilitária de uma entidade designada
dovilonicorum horum (“os Dovilónicos deste sítio”). Os Dovilónicos “daqui” pressupõem
a existência dos outros Dovilónicos, “de lá”, o que abre uma gama de possibilidades
interpretativas: trata-se de uma entidade de grau organizativo (e contingente demográfico)
inferior, que é apenas parcialmente transferida para Conimbriga no âmbito da contributio
que parece ter acontecido na cidade (Bendala 2004, 26-27; Correia 2013, 191-192); ou
trata-se de uma entidade maior, um populus cuja existência não foi recenseada nas fontes
clássicas e que continua a ser significativo para a consciência pública dos habitantes de
Conimbriga depois da organização opidana promovida pelos romanos (Etienne et al., op.
laud.)?
Nesta segunda hipótese, as relações topónimo/etnónimo, sobreviveriam nas recensões
clássicas de forma exactamente inversa nos casos de Vissaium/Interamnienses e
Conimbriga/Dovilónicos e, em qualquer caso, pode retirar-se a sugestão forte de que a
combinação das fontes e da epigrafia romanas padecem de uma deficiência essencial na
explicação dos fenómenos proto-históricos, que se prende não só com a sua cronologia
mas com a sua própria natureza. Esta limitação é frequentemente olvidada na historiografia
moderna.
A solução passa por abandonar as tentativas de integrar (num sentido próximo do
sentido matemático do termo) o panorama proto-histórico a partir do panorama romano.
Nalgum nível de análise pode aceitar-se a leitura do mapa étnico-político de época romana
como um palimpsesto, mas importará desenhar os projectos de investigação com vistas
mais largas e menos preconceitos do que tem acontecido até aqui.

25
6 CONCLUSÕES

Parece, portanto, possível apresentar propostas de resposta às questões com que


se abriu este texto, não pela ordem em que elas foram apresentadas, mas de maneira a
chegar a um patamar seguro de avaliação das realidades envolvidas.
Segundo a argumentação exposta, pode tomar-se como seguro que a clara delimitação
geográfica da Lusitânia com fronteira no Douro é uma realidade exclusivamente romana,
posterior a 16-13 a.C., ditada pela necessidade de dar ao mandatum dos legati uma
linha de demarcação inequívoca. Tomada sem discussão por Plínio (que termina a sua
obra pelo ano de 77 d.C.) o carácter político da decisão é ainda muito presente para
Estrabão (escrevendo cerca de 10-20 d.C.). Isto abona em favor do rápido impacto da
decisão, que oblitera a situação anterior em meio século e, com efeito, verifica-se que
as consequências da decisão, no que às práticas políticas provinciais diz respeito e
nas consequências destas práticas do domínio da integração cultural das populações,
designadamente na sua urbanização, foram excepcionalmente potentes.
Resolvido o problema histórico, podem aventurar-se respostas do domínio
fenomenológico.
A consciência de Estrabão da fluidez conceptual de Lusitani e Callaici pode significar
uma de duas coisas: ou essa fluidez era partilhada pelos próprios ou era por eles ignorada.
Toda a evidência (e ela existe, pelo que não é um argumento ex silentio) concorre em que
as definições étnicas, a pertença a grupos gentilitários ou suprafamiliares, a ligação ao
origo, eram importantes para estas populações e, no entanto, nenhuma menção existe
a esse nível a nenhum esses povos. A única conclusão possível é, portanto, que essa
“etnicidade” era ignorada pelos seus supostos partícipes, afirmando-se a outros níveis de
formação social (Jones 1997, 92-100).
O traçado da fronteira meridional da Calaecia e setentrional da Lusitania no período pré-
romano é, desta forma, uma falsa questão, como tal irrespondível, um traçado impossível
por corresponder a uma realidade inexistente.
Aborde-se-então a crux do problema.
A cultura castreja é um constructo intelectual, fruto da ciência arqueológica do final de
oitocentos e primeira metade de novecentos que, por razões diversas, que extravasam das

26
possibilidades deste texto, ganhou e manteve foros académicos incontestáveis e, nessa
medida, se afirmou como objecto incontornável da investigação da proto-história peninsular.
Não se pretende afirmar algum carácter fictício desse constructo, como certo
hipercriticismo relativista associado ao pensamento crítico contemporâneo estaria
certamente tentado a fazer, mas sim, a partir de uma posição de indagação rigorosa,
verificar em que pontos esse vasto projecto de investigação (Lakatos 1998, 11-20; 1999,
54-103 ) que vem de Francisco Martins Sarmento aos participantes do Colóquio na Vila da
Feira em 2018, produziu e isolou teorias que, com mais dados ou com os mesmos, lidos de
outra forma, se podem considerar falsas (Popper 1999, 41-44).
Nesta perspectiva, é de suma importância a proposta nuclear de C. A. F. Almeida (1986,
161) de que o floruit – ou, dito de outra forma, a fase típica – da cultura castreja é de época
romana e representa a forma local de integração no mundo imperial romano, contando
com partes complementares de resistência e de assimilação (Wallace-Hadrill 2008, 3-37;
Correia 2017, 39-42). Tentou-se aqui aduzir alguns dados históricos para a compreensão
deste fenómeno.
Mas é necessário ressaltar concluindo que, para além dos fenómenos típicos da
arquitectura doméstica, de alguma arquitectura pública e de certos elementos de prestígio,
que sumariamente se abordaram, em época pré-romana, as “fronteiras persistentes”
(Anthony 2007, 104-106) do Noroeste não coincidem com a cultura castreja: a língua dita
lusitana (Tovar 1985, 227-254; revisão mais recente em Prósper e Villar 2009, 1-32), o
panteão do Noroeste (com Banda, Reva, Cosus e alguns outros; Encarnação 1975, 119-142,
263-267, 160-171; Vallejo 2013, 273-291) e alguns fenómenos associáveis (Almagro 2015,
329-410; Alfayé 2009, passim; Wodtko 2010, 335-368), ultrapassam-na de largo.

27
REFERÊNCIAS

FONTES. EDIÇÕES UTILIZADAS:


Estrabão, Geog.: Jones, H. L., 1988: The geography of Strabo (Loeb Classical Library).
Apiano, Iber.: Richardson, J. S., 2000: Appian. Wars of the Romans in Iberia
(Warminster, Aris & Philips).
Plínio, Nat. Hist.: Guerra, A. 1995: Plínio-o-Velho e a Lusitânia (Lisboa, Colibri).

FONTES EPIGRÁFICAS. ABREVIATURAS:

CIL: Corpus Inscriptionum Latinarum


ILER: Inscripciones Latinas de la Hispania Romana
AE: L’Année Epigraphique
Hisp. Ep.: Hispania Epigraphica Online Database (Departamento de Historia I y Filosofia,
Universidad de Alcalá de Henares: http://eda-bea.es/pub/search_select.php , cons.
19/2/2019)

28
BIBLIOGRAFIA

Alarcão, Jorge (1990). Identificação das cidades da Lusitânia. In Les villes de Lusitanie romaine. Hiérarchies
et territories Paris: CNRS (Collection de la Maison des Pays Ibériques 42), 21-34.
Alarcão, Jorge (2003). A organização social dos povos do Noroeste e Norte da Península Ibérica nas épocas
pré-romana e romana. Conimbriga 42, 5-115.
Alarcão, Jorge (2018). A Lusitânia e a Galécia do séc. II a.C. ao séc. VI d.C. Coimbra: Imprensa da
Universidade.
Alfayé Villa, Silvia (2009) Santuarios y rituales en la Hispania Celtica. Oxford: Archaeopress (BAR-IS 1963).
Almagro Gorbea, Martin (2015). Sacra saxa. ‘Peñas Sacras’ propiciatórias y de adivinacion de la Hispania
Celtica. Estudos Arqueológicos de Oeiras 22, 329-410.
Almagro Gorbea, Martin (2018). De la historia a la paleoetnologia de los Lusitanos. Estudos Arqueológicos
de Oeiras 24, 437-470.
Almeida, Carlos Alberto Ferreira de (1983). Cultura castreja. Evolução e problemática. Arqueologia 8, 70-74.
Almeida, Carlos Alberto Ferreira de (1986). Arte castreja. A sua lição para os fenómenos de assimilação e
resistência à romanidade. Arqueologia 13, 161-172.
Anthony, David W. (2007). The horse, the wheel and language. Princeton, NJ: Un. Press.
Arruda, Ana Margarida (1997). As cerâmicas áticas do Castelo de Castro Marim. Lisboa: Colibri.
Arruda, Ana Margarida (2007). Cerâmicas gregas encontradas em Portugal. In Pereira, Maria Helena Rocha
(coord.) Vasos gregos em Portugal. Aquém das Colunas de Hércules. Lisboa: MNA (cat. exp.), 135-140.
Audouze, Françoise e Buchsenschutz, Olivier (1989). Villes, villages et campagnes de l’Europe celtique.
Paris: Hachette.
Batata, Carlos António Moutoso (2006). Idade do Ferro e romanização entre os rios Zêzere, Tejo e Ocreza.
Lisboa: IPA (Trabalhos de Arqueologia 56).
Bendala Galán, Manuel (2004). Conimbriga en la transformacion urbana de la Hispania protohistorica a la
romana. In Correia, Virgílio Hipólito (ed.) Perspectivas sobre Conimbriga. Lisboa: Ed. Âncora/LAC, 13-33.
Berrocal-Rangel, Luís e Silva, António Carlos (2010). O Castro dos Ratinhos (Barragem do Alqueva, Moura).
Lisboa: MNA (O Arqueólogo Português - Suplemento 6).
Berrocal-Rangel, Luís (1998). La Baeturia. Un território prerromano en la Baja Extremadura. Badajoz:
Dip. Provincial.
Cardoso, João Luís (1995). O Bronze Final e a Idade do Ferro na região de Lisboa: um ensaio. Conimbriga
34, 33-74.
Cardoso, Teresa Pires de e Queiroga, Francisco (2005). O castro do Mozinho: últimos trabalhos realizados.
In Castro, um lugar para habitar. Colóquio. Penafiel: Museu Municipal (Cadernos do Museu 11), 212-254.
Cooley, Allison E. (2009). Res Gestae Divi Augusti. Cambridge: Un. Press.
Correia, Virgílio Hipólito (2001). O povoamento do noroeste no 1º milénio a.C.. In Berrocal-Rangel, Luís e
Gardes, Philippe (eds.) Entre Celtas y Íberos. Las poblaciones protohistóricas de las Galias e Hispania. Madrid:
Real Academia de la Historia/Casa de Velazquez (BAH 8), 213-226.

29
Correia, Virgílio Hipólito (2005). A presença orientalizante a norte do Tejo e a ourivesaria arcaica do território
português. In Celestino Pérez, Sebastian e Jiménez Ávila, Javier (eds.) El período orientalizante. Mérida: IAM/
CSIC (Anejos de AEspA XXV), vol. 2, 1215-1224.
Correia, Virgílio Hipólito (2013). A arquitectura doméstica de Conimbriga e as estruturas económicas e
sociais da cidade romana. Coimbra, Inst. Arqueologia (Anexos de Conimbriga 6).
Correia, Virgílio Hipólito (2017). A arquitectura do ocidente da Lusitânia romana: entre o público e o privado.
Lisboa: Academia das Ciências.
Correia, Virgílio Hipólito (2018). A expressão artística do mito das “cabeças cortadas” no ocidente da
Península Ibérica durante a Idade do Ferro. In Cardoso, João Luís e Sales, José das Candeias (eds.) In
Memoriam. Estudos de homenagem a António Augusto Tavares. Lisboa: Un. Aberta, 97-108.
Correia, Virgílio Hipólito; Silva, Armando Coelho F. e Parreira, Rui (2013). Ourivesaria arcaica em Portugal.
Lisboa: CTT.
Coutinho, José Eduardo Reis (1994). Monte Figueiró. In Idade do Ferro. Figueira da Foz: Câmara Municipal
(cat. exp.), 113-115.
Cunliffe, Barry (1997). The ancient Celts. Oxford: Un. Press.
Degrassi, Attilio (1954). Fasti capitolini. Turim: G. B. Paravia (Corpus scriptorum latinorum paravianum).
Dopico Cainzos, Maria Dolores (2016). El proceso de urbanizacion del noroeste dentro de la política
augustea. In Morais, Rui; Bandeira, Miguel e Sousa, Maria José (eds.) Celebração do Bimilenário de Augusto.
Ad nationes. Ethnous Kallaikon. Braga: Câmara Municipal, 84-95
Etienne, Robert; Fabre, Georges e Lévêque, Pierre e Monique (1976). Fouilles de Conimbriga, II. Epigraphie
et sculpture. Paris: De Boccard.
Felix, Paulo (2014). Para uma aproximação às dinâmicas de transformação das sociedades da Idade do
Bronze entre o Zêzere e o Atlântico (dos inícios do II aos inícios do I milénio a.n.e.). In Lopes, Susana Soares
(coord.) A Idade do Bronze em Portugal: os dados e os problemas. Tomar: Centro de Pré-história IPT (Antrope-
série monográfica 1), 203-250.
Fentress, James e Wickham, Chris (1994). Memória social. Lisboa: Ed. Teorema.
Fernandes, Luís, S.; Carvalho, Pedro Sobral e Figueira, Nádia (2008). Uma nova ara votiva de Viseu (Beira
Alta, Portugal). Sylloge epigraphica barcinonensis 6, 185-189.
Goldsworthy, Adrian (2007). Generais romanos. Lisboa: Esfera dos livros.
Goldsworthy, Adrian (2009). A queda de Cartago. As guerras púnicas, 165-146 a.C.. Lisboa: Ed. 70.
Guerra, Amílcar; Fabião, Carlos e Senna Martínez, J. C. (1989). O Cabeço do Crasto de São Romão, Seia.
Alguns resultados preliminares das campanhas 1(985) a 3 (987). In Actas do I Colóquio Arqueológico de Viseu.
Viseu: Governo Civil, 189-234.
Isaac, Benjamin (2004). The invention of racism in classical antiquity. Princeton, NJ: Un. Press.
Jones, Siân (1997). The archaeology of ethnicity. Londres, Routledge.
Lakatos, Imre (1998). História da ciência e suas reconstruções racionais. Lisboa: Edições 70.
Lakatos, Imre (1999). Falsificação e metodologia dos programas de investigação científica. Lisboa, Edições 70.
Maia, Maria e Maia, Manuel (1986). Arqueologia na área mineira de neves-Corvo. Trabalhos realizados no
triénio 1982-1984. Lisboa: SOMINCOR.

30
Maluquer de Motes, Juan; Gracia Alonso, Francisco e Munilla Cabrillana, Gloria (1990). Alto de la Cruz,
Cortes de Navarra. Campañas 1986-1988. Pamplona: Inst. Principe de Viana (Trabajos de Arqueologia de
Navarra 9).
Pedro, Ivone (1996). Estruturas defensivas e habitacionais de alguns povoados fortificados da região de
Viseu. Máthesis 5, 177-204.
Perestrelo, Manuel Sabino G. (2003). A romanização na bacia do Côa. Vª Nª Foz Côa: PAVC.
Pittenger, Miriam R. Pelikan (2008). Contested triumphs. Politics, pageantry and performance in Livy’s
republican Rome. Berkeley: California Un. Press.
Popper, Karl (1999). A lógica da pesquisa científica (9ª edição). São Paulo: Ed. Cultrix.
Prósper, Blanca M. e Villar, Francisco (2009). Nueva inscripcion lusitana procedente de Portalegre.
Emerita 77, 1-32.
Saraiva, Rita Rodrigues (2013). Povoamento proto-histórico e romano no território dos atuais concelhos de
Seia e Gouveia – Distrito da Guarda (diss. mestrado). Porto: FLUP.
Senna-Martinez, João Carlos (1993). O Grupo Baiões/Santa Luzia: contribuição para uma tipologia da olaria.
Trabalhos de Arqueologia da EAM, 1, 93-124
Senna-Martinez, João Carlos (2000). O “Grupo Baiões/Santa Luzia” no quadro do Bronze Final do Centro de
Portugal. In Senna-Martinez, João Carlos e Pedro, Ivone (coords.) Por terras de Viriato. Viseu/Lisboa: Gov. Civil/
MNA (cat. exp.), 119-131.
Silva, António Manuel S. P. (1999). Aspectos territoriais da ocupação castreja na Região do Entre Douro e
Vouga. In Actas do Congresso de Proto-História Europeia. Guimarães: SMS (Revista de Guimarães nº esp.),
vol 1, 403-429.
Silva, António Manuel S. P.; Pereira, Gabriel, R.; Lemos, Paulo A. P. e Silva, Sara Almeida (2015).
Escavações arqueológicas em São Julião da Branca (Albergaria-a-Velha). Campanhas de 2014-2015. Albergue
– História e Património do Concelho de Albergaria-a-Velha 2, 59-91.
Silva, Armando Coelho F. (1983). As tesserae hospitales do Castro da Senhora da Saúde ou Monte Murado,
Pedroso, V. N. Gaia. Gaya 1, 9-26.
Silva, Armando Coelho F. (1990). A Segunda Idade do Ferro. In Alarcão, Jorge de (coord.) Portugal. Das
origens à romanização. Lisboa: Ed. Presença (Serrão, Joel e Marques, A. H. Oliveira [dir.] Nova História de
Portugal, vol. 1), 289-343.
Silva, Armando Coelho F. (2007a). A cultura castreja do noroeste de Portugal (2ª edição). Paços de Ferreira:
Cam. Mun.
Silva, Armando Coelho F. (2007b). Pedra formosa. Lisboa: MNA/C. M. Vª Nª Famalicão (cat. exp.).
Tovar, Antonio (1985). La inscripcion de Cabezo das Fráguas y la lengua de los lusitanos. In Hoz, Javier de
(ed.) Actas del III Coloquio de Lenguas y Culturas Paleohispanicas. Salamanca: Ed. Universidad, 227-254.
Tranoy, Alain (1981). La Galice romaine. Paris: De Boccard (Pub. C. Pierre Paris, 7).
Vallejo, José Maria (2013). Hacia una definicion del lusitano. Paleohispanica 13, 271-291.
Vaz, João L. I. (1987). A civitas de Viseu. Espaço e sociedade. Coimbra: CCDRC.
Vilaça, Raquel (2015). Dados e reflexões sobre a arqueologia pré-romana da região de Penela. In Neto,
Margarida Sobral (coord.) Penela. Um percurso pelo tempo. Penela: Câmara Municipal, 21-50.

31
Vilhena, Jorge (2016). Acupunctura em Odemira: dois séculos de arqueologia. In Prista, Pedro (coord.) Atas
do Colóquio Ignorância e Esquecimento. Odemira: Município, 53-124.
Wallace-Hadrill, Andrew (2008). Rome’s cultural revolution. Cambridge: Un. Press.
Wodtko, Dagmar (2010). The problem of Lusitanian. In Cunliffe, Barry e Koch, John T. (eds.) Celtic from the
West. Oxford: Oxbow Books, 335-368.

32
SERGIO
RÍOS
EN LA PERIFERIA DEL NOROESTE PENINSULAR.
PARTICULARIDADES DEL HÁBITAT DOMÉSTICO CASTREÑO
DEL OESTE DE ASTURIAS
AT THE PERIPHERY OF THE IBERIAN PENINSULA
NORTHWESTERN REGION. ON THE SPECIAL CHARACTERISTICS
OF THE DOMESTIC HILLFORT S HABITAT IN WESTERN ASTURIAS

SERGIO RÍOS

RESUMEN
En esta comunicación se aporta un balance del estado actual de conocimientos sobre el
hábitat doméstico de los poblados fortificados del sector occidental de Asturias.
El enfoque del análisis es diacrónico, abarcando desde las primeras cabañas de madera
y barro de la Edad del Hierro a las transformaciones e innovaciones introducidas con la
entrada del territorio bajo el dominio de Roma y el inicio de la explotación a gran escala de
sus minas de oro.

PALABRAS CLAVE
Castros, Cultura castreña, Asturias, minas de oro romanas.

ABSTRACT
This paper aims to stablish an up-to-date status of the issue of the knowledge on the
domestic hillforts habitat of western Asturias. Our analytical perspective is diachronic, from
the first Iron Age wood and clay built huts to the innovations and transformations due to the
entry of the country under the Roman control and the beginning of the great-scale work on
the gold mines.

KEYWORDS
Castros, Castro culture, Asturias, roman gold mines.

37
I. INTRODUCCIÓN

El pleno reconocimiento del occidente astur como parte integrante del ámbito territorial
de la Cultura Castreña del Noroeste Peninsular se produjo en un momento relativamente
tardío, ya que no tuvo lugar hasta después de la Guerra Civil. García y Bellido era un
buen conocedor de las actividades arqueológicas llevadas a cabo en castros de Galicia y
Portugal desde 1875, año en el que se iniciaron las excavaciones en Briteiros, por lo que
relacionó de forma inmediata sus hallazgos en los castros de Pendia y Coaña, a los que
no dudó en calificar de tipo “galaico-portugués”, con el registro arqueológico de asentamientos
como Santa Trega, Terroso, Âncora y, sobre todo, Briteiros (García y Bellido, 1940, p.284).
Lo publicado sobre estos dos castros sería el principal referente material del que se sirviria
F. López Cuevillas para fijar en la Sierra de Rañadoiro - un cordal que forma parte del
interfluvio oriental de la cuenca del río Navia - la línea nororiental de la delimitación del
territorio de la Cultura Castreña que propuso en La Civilización céltica de Galicia (1988,
pp. 54-55). Con ello, por un lado, venía a considerar al occidente asturiano parte integrante
de ese dominio, y no una mera periferia receptora de influencias; y por otro, rubricaba a
partir del registro material el papel de frontera étnico-cultural del río Navia y su cuenca a lo
largo de la Protohistoria y Antigüedad, que con anterioridad había sido reivindicado en las
elaboraciones historiográficas sobre los pueblos prerromanos del norte peninsular a cargo
de Schulten, Sánchez Albornoz y Menéndez Pidal (Ríos y García de Castro, 1998, pp. 82-
84; 2001, pp. 103-105) y que por aquel entonces eran asumidas sin discusión (González
Fernández-Vallés, 1952).
Las propuestas de delimitación del ámbito de la Cultura Castreña que se formularon
con posterioridad vinieron a refrendar la existencia de esta nítida frontera (Calo, 1997,
pp. 43-46), confirmando su situación en el río Navia y su cuenca (Maya, 1989, pp. 21-23;
Camino, 1995, p. 215), o bien desplazándola en dirección este hasta la cuenca del Esva
(Jordá Cerdá, 1977, pp. 29-30). Se asumía con ello que los poblados fortificados situados
al oeste de esta imaginaria línea debían adscribirse al dominio galaico, o lucense, mientras
que los situados al este pertenecerían ya al ámbito astur.
La visión de la Cultura Castreña que López Cuevillas trasmitía en La Civilización céltica
de Galicia englobaba todo el acervo de conocimientos disponible en aquel momento sobre

38
los pueblos prerromanos del Noroeste1. Con ella reivindicaba la uniformidad de lo castreño,
dentro de un marco territorial que se extendía desde el Navia al Duero y de las montañas
de Lugo a las riberas del Ave, y que abarcaba tanto la obra construida como el repertorio
material asociado (1988, p. 44). El progreso de la investigación arqueológica ha venido, sin
embargo, a mostrar la gran variabilidad del registro arqueológico de la prehistoria reciente y
protohistoria del noroeste peninsular (Carballo y Fábregas, 2006, pp. 81 y ss.), por lo que
ya no es sostenible esta visión general y uniforme. Tal es así que cada vez son mayores
las dificultades para otorgar un sentido unívoco a la noción de Cultura Castreña, en contra
de lo que sostiene Calo (2005, p. 92).
Esta última afirmación no supone demérito para reconocer que existen evidentes
características comunes que hermanan a los castros del noroeste peninsular, lo que
permitiría asumir una noción de Cultura Castreña con un sentido estrictamente
arqueográfico - libre por lo tanto de connotaciones étnicas de reminiscencias kossinnianas -,
y siempre y cuando se adopte un criterio restrictivo que la ciña a las manifestaciones
ligadas al castro como modelo de poblamiento: patrones de asentamiento, hábitat
doméstico, poliorcética, etc.., para las que rigen dinámicas particulares que no tienen por
qué coincidir en tiempo y espacio con las que afectan a la definición de los taxones del
repertorio mueble - cerámica y materiales metálicos en particular- y menos aún con las
que gobiernan el complejo universo de mentalidades y creencias, que además solo en
ocasiones excepcionales dejan huella en el registro arqueológico.
Un ejemplo en este sentido podría ser la definición, de inequívoca inspiración
naturalista, que propone P. Brun, según la cual cabe considerar cultura arqueológica
a “un conjunto politético de elementos asociados más frecuentemente al interior que
al exterior de un área geográfica determinada” (1991, p. 12). Visto desde este prisma
parece que no ofrece duda el hecho de que los castros de la Asturias occidental ofrecen
mayores afinidades con los de las comarcas cercanas de Galicia -en particular con los
de aquellas zonas con un substrato geológico dominado por las pizarras y esquistos-, que
con los castros de la Asturias central, lo que no es óbice para que compartan puntualmente

1
Su concepto de cultura, dado su carácter integral, se ajusta a la definición acuñada por Tylor. López Cuevillas
comparte también con este antropólogo la consideración como sinónimos de los términos civilización y cultura. Por
el contrario es bien sabido que su noción de la arqueología, y la del resto de los miembros de la generación Nos,
se aparta del evolucionismo para asumir los planteamientos teóricos del historicismo alemán y el difusionismo.

39
también con estos últimos algunos elementos, como, por ejemplo, las murallas de módulos.
Queda, sin embargo, pendiente de precisar todavía el ámbito geográfico abarcado por
estos castros occidentales. El referente inicial del valle del Navia como frontera se ha
mantenido a lo largo de las últimas décadas gracias a que la investigación arqueológica
se ha concentrado de manera abrumadora en las cuencas de los ríos Navia y Eo, y en la
franja costera comprendida entre las desembocaduras respectivas de estos dos cauces.
Sin embargo, San Chuis, ya en la cuenca del Narcea, pone de manifiesto la existencia
de castros tipológicamente emparentables bastante más al este de este territorio y es de
prever que los poblados fortificados de buena parte de la cuenca del Narcea y de sus
valles tributarios se ajusten también a las mismas características (Ríos, 2017a, pp. 48-50)2.
En esta comunicación pretendemos exponer un balance del estado actual de
conocimientos sobre el hábitat doméstico de estos castros del sector occidental de Asturias.
El enfoque de este análisis será diacrónico, abarcando desde las primeras cabañas en
material perecedero a las transformaciones introducidas tras la entrada del territorio bajo
el dominio de Roma. No abordaremos, por lo tanto, el estudio de las construcciones
asociadas a las fases de ocupación más tempranas registradas por el momento en los
castros de este territorio, dado que presentan unas características muy particulares que
las hacen merecedoras de un análisis específico al que dedicamos otro estudio (Ríos,
2019), ni tampoco las transformaciones que por lo común se asocian a las reformas de
época flavia (Carrocera, 1990b, p. 131; Villa, 2002, pp. 184-185).

2
Castru Vigaña (Belmonte) es un castro de la cuenca del Pigüeña situado en línea de aire 29 km al este de
San Chuis. En él se han exhumado parcialmente los restos de tres cabañas fechables en la Segunda Edad del
Hierro (González Álvarez et alii, 2018). Sus paredes perimetrales son de piedra, por lo que podrían a priori tener
más rasgos comunes con las construcciones domésticas de los castros galaico-portugueses que con las de la
zona central asturiana, donde por el momento sólo se ha registrado el empleo madera y barro.
La escasa superficie excavada obliga, sin embargo, a tomar este dato con la debida prudencia, en espera de
intervenciones de mayor envergadura.

40
II. EL REGISTRO EXCAVADO

Hasta 1985 se habían llevado a cabo excavaciones arqueológicas, además de en el


Castelón de Coaña (Coaña) y el castro de Pendia (Boal), en el Castelo de El Esteiro
(Tapia de Casariego), la Corona del castro de Arancedo (El Franco), el Castro de Mohías
(Coaña), el Castro de Larón (Cangas del Narcea) y el Castro de San Chuis (Allande).
En 1985, tras la aprobación y entrada en vigor de la Ley de Patrimonio Histórico
Español, la administración autonómica del Principado de Asturias pasó a asumir
las competencias relativas a la gestión, conservación y protección del patrimonio
arqueológico. Arrancaría entonces un periodo de gran actividad, que se prolongó hasta el
inicio de la segunda década de este siglo. En concreto, se llevaron a cabo intervenciones
arqueológicas en una decena de poblados, entre las que se incluyeron excavaciones en
extensión: Chao Samartín (Grandas de Salime) y Os Castros (Taramundi); reexcavaciones
de sectores explorados con anterioridad: Coaña y Pendia ; y sondeos de alcance diverso:
La Escrita (Boal), Castrelo de Pelóu (Grandas de Salime), Cabo Blanco (El Franco), El
Picón (El Franco), San Isidro y Pico da Mina (Pesoz y San Martín de Oscos) (Fig 1). La
mayoría de estas intervenciones se ejecutó en el marco del Plan Arqueológico del Navia-
Eo, que se desarrolló entre 1995 y 2011 con un generoso apoyo de fondos públicos.

En lo que atañe al objeto de este estudio los


yacimientos de mayor interés son, como es lógico,
aquellos que ofrecen a la vista superficies de
una cierta extensión: Coaña, Pendia, Os Castros
de Taramundi, Mohías y Chao Samartín. La falta
de memorias de excavación limita, sin embargo,
de manera drástica la posibilidad de establecer
inferencias de orden antropológico y social a partir
de estos restos.

Fig. 1 - Castros excavados en el occidente de Asturias.

41
III. LAS PRIMERAS CONSTRUCCIONES DOMÉSTICAS

Os Castros de Taramundi es el castro que mayor interés ofrece para el conocimiento


de los primeros horizontes domésticos castreños del occidente de Asturias. Entre 2000
y 2011 se realizaron excavaciones en distintos sectores del asentamiento (Villa et alii,
2007; Menéndez y Villa, 2009; Menéndez et alii, 2013). De ellas ofrece un especial
interés para lo que nos ocupa la emprendida en el sector norte, ya que permitió registrar
la superposición de tres horizontes constructivos asociados a diferentes modelos
de construcciones domésticas. Los dos primeros son anteriores a la romanización,
relacionándose el más antiguo con los fondos de varias cabañas de planta circular u
oblonga construidas en material perecedero (Fig 2). Todas ofrecen suelos de tierra batida y
perímetros definidos por zanjas, en las que permanecían in situ algunas de las piedras que
sirvieron para fijar la base de las armaduras de materia vegetal que conformaban el alma
de las paredes (Menéndez et alii, 2013, p. 19; Rodríguez del Cueto, 2017, p. 48).

Son apreciables varios solapes


entre plantas (C-25 y C-24, C-23 y
C-21/22) (Menéndez et alii, 2013, p.
192), que traslucen amortizaciones y las
consiguientes sucesiones diacrónicas,
lo que alimenta el debate en torno a la
durabilidad de estas construcciones (Ríos
y García de Castro, 2001, p. 105), para la
cual se ha apuntado una vigencia media
en torno a la decena de años (Queiroga,
2015, p. 270).
Fig. 2 - Planta de las cabañas de la fase I del sector Una muestra recogida del suelo de C-23
septentrional de Os Castros de Taramundi. Debajo y
a la derecha, las construcciones superpuestas de las permitió extraer una fecha radiocarbónica
fases II y III (según Menéndez et alii, 2013).

que abarca un arco temporal comprendido entre el 790 y el 400 a.C. (Menéndez et alii,
2013, pp. 192-193)3. Para otras dos cabañas, C-24 y C-25, su amortización por dos

42
construcciones del horizonte subsiguiente, ya asociado por entero al uso de la piedra, fija
un terminus ante quem. Se trata de C-7, para la que se defiende su vigencia durante el
siglo IV a.C.; y C.8, a la que se relaciona con un periodo de uso comprendido entre los
siglos IV y II a.C. (Ibidem). Con acuerdo a estas referencias parece por lo tanto que la
primera fase de Os Castros no alcanzó el final del siglo IV a.C., lo que se ajusta a la fecha
de referencia que Ferreira de Almeida postuló para la generalización del uso de la piedra en
construcciones domésticas (Almeida, 1984, pp. 35-36), que otros investigadores han venido
a suscribir a partir de los excavaciones más recientes (Queiroga, 2005, pp. 156-158; 2015,
pp. 268-271).

IV. LA CONSOLIDACIÓN DEL POBLAMIENTO (SS. IV A.C./50 D.C.)

IV.I. LA PERVIVENCIA DEL EMPLEO DE LA MADERA Y BARRO


EN LAS CONSTRUCCIONES DOMÉSTICAS
En otros castros el uso de materiales perecederos se prolongó hasta momentos muy
avanzados de la Segunda Edad del Hierro, cuando menos, por lo que la fecha para la
petrificación registrada en Taramundi no puede tomarse como referente general. Este es el
caso de Pendia, donde su reciente reexcavación ha servido para corroborar que todas las
unidades domésticas hoy visibles, 13 cabañas en total, son de cronología altoimperial, y
que el hábitat doméstico preexistente estaba formado en exclusiva por construcciones en
material perecedero (Rodríguez del Cueto, 2017, pp. 41-51)4. Para esta fase prerromana

3
En esta referencia bibliográfica de 2013 no se especifica de donde proviene la datación. Años atrás,
al describir la excavación de la cabaña superpuesta a C-23 (C-5), los excavadores señalaron lo siguiente:
“La primitiva construcción contaba con un suelo de tierra compacta con hogar del que se conservaba la
superficie de arcilla rubefactada, sepultado posteriormente por un pavimento, también de tierra apisonada,
que no conocería la ocupación romana” (Villa et alii, 2007, p. 270). De ello se deduce que se exhumaron
dos pavimentos, el inferior con hogar, relacionable presumiblemente con C-23, aún sin identificar por aquel
entonces, y el superior, asociado a C-5 (aunque esta relación no sería ni confirmada ni desmentida en
publicaciones posteriores). El texto se asocia con una nota en la que figuran como apoyo a lo afirmado cuatro
fechas radiocarbónicas (entre paréntesis, las respectivas edades calibradas): Beta 201688 (790-400 BC), Beta
201690 (360-80 BC), Beta 201686 (370-30 BC) y Beta 201685 (200 BC-70 AD) (Villa et alii, 2007, pp. 274-275).
La edad calibrada de la primera coincide con el periodo al que se adscribe el suelo de C-23 en la referencia
bibliográfica de 2013, por lo que entendemos que es a esta fecha a la que se alude. No se ha aclarado
tampoco si las otras tres dataciones provienen del mismo horizonte o bien se vinculan con C-5, posibilidad
que entendemos como más probable a la vista de que sus edades calibradas son bastante más recientes, y de
hecho una de ellas sobrepasa con holgura el cambio de era.

43
se ha propuesto un terminus post quem en el inicio del siglo IV a.C., precisándose que
algunas estructuras de madera y barro pudieron subsistir “hasta los momentos postreros
del poblado” (p. 50). Aunque las construcciones asociadas a esta fase estaban arrasadas
casi por completo, se ha señalado que el número de cabañas debió de oscilar en torno a la
docena (p. 60). La mala conservación anuló toda posibilidad de determinar el arco temporal
abarcado por cada una de ellas, impidiendo así verificar si fueron o no sincrónicas (p. 141).
Resulta en todo caso forzosa la asunción de la existencia de varios niveles constructivos si
se asume la amplia cronología propuesta para la fase prerromana.
El otro ejemplo destacado de pervivencia del empleo de la madera y barro lo representa
el castro costero de Cabo Blanco. Su espacio intramuros se divide en dos recintos, en
los que se sacaron a la luz los restos de tres (C-9, C-12 y C-13), o quizá cuatro, cabañas
tipológicamente idénticas a las documentadas en Taramundi. En ningún caso se exhumaron
plantas completas, sino tan solo agujeros de poste y tramos de pavimentos de tierra batida
o de las zanjas perimetrales. Desconocemos por lo tanto las dimensiones, la disposición y
configuración de los umbrales y todo lo relativo a la articulación del espacio interior.
Su cronología relativa se ha podido fijar a partir de la datación de las cabañas de
piedra superpuestas, establecida a partir del radiocarbono (Fig 3) o el repertorio ergológico
asociado. En el recinto interior se exhumó parte de la zanja perimetral de C-9 debajo
de C-7, una cabaña circular de piedra de la que se recuperó un ajuar sin indicios de
romanización. Una muestra de materia orgánica recuperada del pavimento de un espacio
adosado a esta construcción proporcionó una fecha radiocarbónica con una elevada
desviación tópica que se adentra en la segunda mitad del S. I d.C. (Beta 236630) (Fanjul
et alii, 2009, pp. 262-263; Fanjul y Villa, 2013, p. 241). Por su parte, los rebajes, zanjas
perimetrales y hoyos asociados a C-12 y C-13 se localizaron por debajo de C-10 y C-11,
dos cabañas de piedra que se adosan al paramento interior de la muralla que delimita el
recinto interior y que proporcionaron material de cronología Julio-Claudia (Fanjul y Villa,
2013, pp. 241-243)5.

4
En la monografía que dedica Rodríguez del Cueto a este yacimiento, que se basa en su tesis doctoral,
no se estudian la cabaña aislada de piedra enclavada en el recinto norte, que se reconoce que no se pudo
datar (2017, p.142-143), ni tampoco sus dos estructuras termales. En ambos casos se asumen acríticamente
las interpretaciones previas de Villa, que sin ninguna base objetiva las sitúa en contextos prerromanos,
identificándolas respectivamente con una cabaña de asamblea y saunas relacionadas con ritos iniciáticos (Ríos,
2017a, pp. 202-210).
5
Estas dos cabañas son referidas como C-12 y C-13 pero también como C-12 y C-14. Entendemos que
esta última cita es producto de un error.

44
En el recinto exterior se exhumó otra
cabaña circular de piedra con banco
corrido asociada también a material
de cronología altoimperial (C-3). Su
suelo sellaba un piso de tierra batida
preexistente (S-2) del que se extrajo una
muestra orgánica que proporcionó una
fecha radicarbónica comprendida entre el
primer tercio del siglo IV y mediados del
siglo I a.C. (Beta 217990). Este segundo
Fig. 2 - Dataciones radiocarbónicas de Cabo Blanco pavimento, según los excavadores, se
citadas en el texto.

relaciona con “restos del basamento y sustentación” de una construcción previa de la que
no se precisa si estaba o no construida en materiales perecederos (Fanjul et alii, 2009,
p. 260), aunque el supuesto parece probable.
En suma, los registros arqueológicos de Pendia y Cabo Blanco muestran la
superposición de construcciones en piedra de cronología altoimperial sobre cabañas
en material perecedero. La circunstancia parece traducir que el empleo de la madera y
barro se prolongó en estos dos castros hasta las postrimerías de la Edad del Hierro, o bien
que entre la amortización de estas cabañas prerromanas y la ulterior construcción de las
estructuras romanas se interpuso una fase de abandono de cierta amplitud; disyuntiva
que al menos en el caso de Cabo Blanco podrá ser despejada por medio de nuevas
excavaciones.
Una nueva intervención arqueológica contribuiría asimismo a aclarar la imprecisa alusión
de Camino a la localización de tres cabañas en material perecedero en el castro de Pelóu
(2016, p. 81). Al respecto, los responsables de la excavación de este castro tan solo
reseñan la existencia de unos hoyos de poste excavados sobre el substrato debajo del
suelo de una cabaña de piedra (C-3) asociada a un horizonte de ocupación altoimperial
(Montes et alii, 2009, p. 317), sin especificar su número, si se relacionaban con una o varias
estructuras o el material con el que estaban construidas.
Esta perduración del empleo de la madera y el barro hasta épocas tardías constituye

45
una muestra más de la dificultad de integrar todas las secuencias particulares de cada
castro del occidente astur en una única periodización general, con nítidas y rotundas
fronteras entre sus distintas fases. Dista además de constituir un hecho excepcional, ya
que se han documentado petrificaciones muy posteriores al IV a.C. en varios castros y en
distintos territorios del noroeste peninsular: Crastoeiro, donde no llega hasta mediados
del siglo I a.C. (Dinis, 2001, pp. 106, 110-111, 122); Sao Julião, en un momento avanzado
del siglo II a.C. (Martins, 1990, pp. 140-141); Romariz, siglo II a.C. (Silva, 1986, pp. 40-
43; Centeno, 2011, p. 13), o Santa Trega, siglo II a.C. (Rodríguez Martínez, 2018, p.114),
entre otros. Las soluciones constructivas a las que se ajustan estas estructuras de madera
y barro del occidente astur cuentan con numerosos paralelos en castros galaicos, a
diferencia de los castros de la zona central de Asturias (Llagú, Castiellu de San Martín,
Campa Torres,...), donde los fondos de cabaña se definen por lo común a través de soleras
delimitadas por anillos pétreos (Camino, 2016, p. 81).

IV.II. LAS CONSTRUCCIONES DOMÉSTICAS EN PIEDRA


En Taramundi y Chao Samartín, y con acuerdo a las cronologías propuestas por sus
excavadores, la introducción de la piedra en la arquitectura doméstica sí parece ajustarse
al referente temporal postulado por Ferreira de Almeida. Entre las características generales
comunes a este horizonte prerromano se incluyen el dominio de las plantas simples,
circulares, oblongas y cuadrangulares con las esquinas redondeadas. La presencia de
medianeras se evita sistemáticamente y la disposición del caserío no parece responder a
un orden establecido. Dicha disposición tampoco permite inferir la existencia de agrupaciones
relacionables con unidades familiares, cuestión sobre la que quizás fuera posible avanzar a
partir de la combinación del análisis arqueográfico de cada construcción con el estudio de
los respectivos repertorios materiales asociados.

46
La planimetría correspondiente a
esta fase en el barrio sureste del Chao
Samartín consta de once cabañas
dispuestas sin orden aparente (Villa,
2001, lám II) (Fig 4). Una de ellas,
C-3d, sería posteriormente sepultada
por el edificio termal de época julio-
claudia (Villa, 1999-2000, pp. 372-373;
Ríos, 2017a, pp. 241-245), mientras
que las diez restantes perduraron con
modificaciones de diversa consideración
durante la posterior etapa romana.
Sorprende que cinco construcciones
abran sus vanos de acceso al noroeste
(C-9c, C-1, C-10, C-2 y C-11), pese a ser
esta la orientación más desfavorable.
Fig. 4 - Fases prerromana y romana en el sector
sureste de Chao Samartín (Según Villa, 2001). Por su parte, cuatro de ellas (C-13,

C-9, C-1 y C-10) se disponen cercanas al paramento interno de la muralla de módulos


asociada a esta fase, que se fecha entre los siglos IV y II a.C. (Villa, 2002, pp. 164 y ss),
contraviniendo de este modo la pauta, observada en otros ámbitos del noroeste peninsular,
de dejar libre una franja de terreno entre la muralla y las construcciones domésticas
(Fernández y Fernández-Posse, 2000). El estrecho espacio disponible fue además
aprovechado para la instalación de varios hornillos de fundición (Villa, 2002, pp.165-166).
Se registran también adosamientos, entre las cabañas C-5a y C-6 y entre la cabaña C-9c
y un espacio auxiliar (C-9b) (Villa, 2001, lám I). En cuanto a la cronología, han podido
fecharse tres construcciones, de las que dos parecen no ser anteriores al S. II a.C. y solo
la tercera podría remontarse al S. IV a,C.: C-9 (siglos II-I a.C)6, C-3d (de mediados del S.
II a.C. al cambio de era)7 y C-13 (de inicios del siglo IV a finales del siglo III a.C.)8. A estas

6
CSIC 1166: 2096+32. (190-30 BC cal) Recuperada del pavimento asociada a la fase fundacional (Villa, 1999-
2000, pp. 378-380).
7
CSIC 1425: 2056+30. Cal BC 156-cal AD 19. (Villa, 2002, p. 166)
8
CSIC 1471: 2306+27. Cal BC 395-255; CSIC 1472: 2279+27. Cal BC 391-215 (Villa, 2002, p. 164).

47
muestras se suman dos dataciones provenientes del suelo exterior que adosaba a C-1, C-9
y C-13, con fechas comprendidas entre finales del S. V a.C e inicios del S. I a.C.9
En Os Castros de Taramundi esta etapa se corresponde con el segundo horizonte
constructivo registrado en el sector norte, representado por cinco cabañas con muros
curvilíneos y plantas oblongas (C-1, C-3, C-5, C-7, C-8), que se superponen a varias
construcciones en material perecedero de la fase I. En relación también con esta etapa se
localizó en el sector este un espacio de función metalúrgica adosado a un lienzo de muralla
interior (Menéndez et alii, 2013, pp. 193-194). No se ha dado aún a conocer la cronología
de la cerca exterior, por lo que por el momento no es posible determinar si ambos encintados,
exterior e interior, fueron o no coetáneos.
Para este periodo no consta la adecuación de los espacios comunes (pavimentaciones,
sistemas de drenaje, etc...) y tampoco se conocen, al menos hasta el momento, edificaciones
con una función comunitaria. Hay que descartar en ese sentido la identificación con
“cabañas de asamblea” propuesta para construcciones de Taramundi, Chao Samartín,
Pendia, Coaña, Pelóu y Mohías, dado que solo se sustenta en una falacia: afirmar que “no
existen argumentos para cuestionar su interpretación como espacios sociales vinculados
con la organización de las comunidades indígenas” (Villa, 2008, p. 728). La realidad, sin
embargo, es justo la contraria: no disponemos de ninguna prueba, siquiera indiciaria, que
apoye esta función. La alusión a la “hipertrofia de sus dimensiones”, precisando que superan
los 45 m2 (Taramundi o Mohías), o incluso los 60, 70 u 80 m2 (Coaña, Pendia, Pelóu o Chao
Samartín) (Villa, 2008, p. 728), carece de valor probatorio si no se acompaña de un
análisis pormenorizado que confirme su cronología prerromana y descarte otras funciones.
De hecho no se han explicitado los argumentos que justifiquen poner en cuestión la
cronología romana atribuida hasta ahora a las construcciones visibles de Pendia10, Coaña
y Mohías. En cuanto a la cabaña de Pelóu (C-3), el repertorio material asociado no hace

9
CSIC 1518: 2291+43. Cal BC 403-203 y CSIC 1158: 2160+24. Cal BC 350-110 (Villa, 2001, p. 509; 2002,
pp. 164-165. Esta última publicación incluye el dibujo de un perfil (Fig 4), en el que se representa como lugar de
procedencia de CSIC 1158 no el suelo adosado a la cabaña C-9 sino el fondo de un hornillo de fundición.
10
Constituye un interesado ejercicio de reubicación a posteriori, y como tal puramente especulativo, la
pretensión de vincular con la esta cabaña el material recuperado del expolio perpetrado por José Artime en 1934,
que proviene -se supone- de sus proximidades (Maya, 1988, p. 41; Ríos, 2017a, p. 198). Lo heterogéneo del
lote, que incluye, hachas pulimentadas, un hacha de talón y una anilla, fragmentos de caldero con remaches, una
piedra de molino, cerámica lisa, etc.., apunta de hecho a cronologías dispares (Maya, 1988, pp. 71, 78 y ss).

48
sino confirmar su cronología altoimperial, además de certificar su vinculación con funciones
de carácter militar y administrativo (Montes et alii, 2009, pp. 316-317). Por su parte la cabaña
de Chao Samartín (C3d), que es la única inequívocamente prerromana, solo se conserva una
mínima parte de su perímetro, insuficiente para determinar sus dimensiones con precisión11.
La combinación de un gran tamaño con la presencia de banco corrido - elemento del
que carecen todos los ejemplos asturianos antedichos-, es la que dota de verosimilitud a
la identificación de la Casa do Conselho de Briteiros con un lugar de reunión (Silva, 1986,
p.53)12; reservado bien a un consejo de ancianos, como sugiere Silva (1996, p. 51), o bien
a los cabezas de una élite aristocrática, como puntualiza Lemos (2009, pp. 149-150). Por
otra parte, ni la población estimada a partir del tamaño de Briteiros, ni la estructura social
que cabe deducir del análisis de su modelo urbano -de indudable influencia romana, aunque
en fechas recientes haya cobrado cierto auge una interpretación alternativa (González
Ruibal, 2006-07, pp. 328 y ss.; en contra: Ríos, 2017a, pp. 339-345)-, admiten paralelo con
la realidad social que reflejan los horizontes prerromanos de los castros del occidente astur.
Tanto es así que resulta inevitable preguntarse sobre el sentido y necesidad de dotar de
una cabaña de asamblea a un poblado tan minúsculo como Pendia, cuya población debió
de estar integrada por no más de dos, o a lo sumo tres, grupos familiares.

V. EL IMPACTO DE ROMA

La presencia de Roma comienza a detectarse de forma clara en los castros del


occidente de Asturias en torno a mediados del siglo I d.C. (Carrocera, 1991b: p. 131; 1994,
p. 218; Villa, 2007a, pp. 126-129). Existe, por lo tanto, un hiato de unos setenta años

11
Se ha señalado tanto que supera los 44 m2 (Villa, 2001, p. 510), como que mide 80 m2 (Villa, 2008, p.
728), o incluso que poseía dimensiones similares a la plaza pavimentada, esto es unos 100 m2 (Villa, 2005,
pp. 89-91). En realidad la construcción de esta plaza, ya en época de la dinastía flavia, requirió del previo
arrasamiento de la mayor parte del perímetro de esta cabaña y de la regularización y rebaje del roquedo que
le sirvió de asiento, por lo que hoy en día resulta físicamente imposible determinar cual era su planta (Ríos,
2017a, pp. 243-245).
12
Es necesario recordar aquí que Silva adscribe la Casa do Conselho a la fase III de su periodización, que
se inscribe “no quadro da romanização”, entre la expedición de Décimo Junio Bruto y la segunda mitad del siglo
I d.C. (Silva, 1986, pp. 43-46)

49
con relación al final reconocido de las Guerras Cántabras (19 a.C,), que no ha dejado una
huella evidente en ninguno de los poblados fortificados estudiados hasta ahora. Como
es sabido, la primera presencia de Roma se asocia a una radical transformación del
modelo de ocupación y aprovechamiento del medio, al pasarse de un paisaje de carácter
segmentario, marcado por la presencia de un poblamiento poco o nada jerarquizado
que se distribuye en castros autárquicos, a otro gestionado a gran escala, en el que se
articularon a través de las civitates tanto las asignaciones del territorio y la población
como la captación de los recursos fiscales (Sastre, 2001, pp. 38 y ss., 113 y ss.). Esta
presencia se asocia a una significativa presencia del ejército, al que se atribuye un papel
fundamental en la puesta en explotación de los recursos mineros, que eran considerados
ager publicus, al igual que la infraestructura hidráulica asociada, y que durante todo el Alto
Imperio no dejaron de estar bajo control directo del estado (Carrocera, 1990b, pp. 135-136;
Sastre, 2001, p.124; Sastre y Sánchez Palencia, 2002, pp. 219 y ss.). El ejército no solo
aportó especialistas y capacidad técnica (Sastre y Sánchez Palencia, 2002, p. 228),
sino que además resultó determinante a la hora de gestionar la logística vinculada a unas
explotaciones que, dada su complejidad y extensión, requerían de un control del territorio
a gran escala (Sánchez-Palencia et alii, 2006, pp. 268 y ss.; Sastre et alii, 2010, pp. 118 y
ss.). En el occidente astur no se han detectado hasta el momento asentamientos militares
permanentes que respondan a tipologías comunes en el mundo romano, equiparables,
por ejemplo, a los descubiertos en las comarcas del Bierzo o la Cabrera (Valdemeda, Las
Rubias, etc...) (Sastre et alii, 2010, p. 123). Aquí, el componente militar se inserta en los
recintos castreños y debió de estar integrado por contingentes poco numerosos. Puede
rastrearse a partir del hallazgo de repertorios ergológicos tradicionalmente asociados a
este tipo de ocupaciones (armas, piezas de armadura, determinadas acuñaciones, etc,...)
(Villa, 2007a, pp. 128-131; Rodríguez del Cueto, 2017, pp. 29-30; Ríos, 2018, p. 238); o
bien a través de la presencia de construcciones que remiten a tipologías residenciales
campamentales (Contubernia), de las que se han exhumado ejemplos en Chao Samartín
(Villa, 2007a, p.129), Coaña (Jordá Cerdá, 1983, pp. 9-13), San Chuis (Jordá Pardo et alii,
2014, pp.159-160), Cabo Blanco (Fanjul et alii, 2009, pp. 261-262) y Taramundi (Ríos,
2017a, p. 255). Incluso es posible relacionar esta ocupación militar también con cabañas
de tipología puramente castreña a partir de la presencia de materiales significativos, como

50
en el caso de la ya referida construcción C-3 de Pelóu. En el mismo sentido, aunque ya
de manera más hipotética, podría vincularse con una ocupación similar la gran cabaña de
Pendia, en este caso a partir de su posición aislada dentro de un recinto cerrado y apartado
de la agrupación conformada por las unidades domésticas del castro (Ríos, 2017a, pp.
200-201).
Las estructuras termales de los castros de Asturias y del norte de Galicia responden
a la acreditada vinculación entre el ejército e instalaciones termales y constituyen otro
testimonio expresivo de la presencia de contingentes militares (Ríos, 2017a, pp. 362-363 y
369). Hay que descartar en consecuencia su vinculación con horizontes prerromanos, que
solo se sustenta en un uso abusivo de la radiometría (Ríos, 2017b, pp. 112-118); al que
se añaden una deficiente comprensión de su funcionalidad, que por pereza intelectual se

Fig. 5 - Restitución ideal del modelo termal más común en el convento lucense, al que se ajustan las estructuras
asturianas de Coaña II, Chao Samartín y Taramundi (Asturias); y las coruñesas de Punta dos Prados y la descubierta
recientemente en Punta Sarridal. Su principal característica es la presencia de una bañera individual en la estancia
cálida, que la pone en relación con un ambiente cálido y húmedo. Su inspiración tipológica en el caldarium de las
termas de época republicana está fuera de duda (Dibujo: Andrea Menéndez. Tomado de Ríos, 2017a).

51
reduce de forma vaga e incorrecta a la toma de baños de vapor -lo que de soslayo sirve
para eludir el abordar análisis estructurales (Fig 5), y la atribución a este termalismo de
unas connotaciones rituales y religiosas que quedan al albur de los límites que quieran fijar
a su imaginación quienes defienden su existencia, dada la ausencia absoluta de referentes
en las fuentes escritas y en el registro arqueológico de la prehistoria reciente y protohistoria
de Europa occidental (Ríos, 2017a, pp. 323-339).
La domus exhumada en Chao Samartín merece una mención especial, por constituir
hasta ahora un unicum en la arqueología castreña del noroeste peninsular. Sus
dimensiones y calidad constructiva denuncian su vinculación con un militar de alto rango,
denunciando el papel de cabecera territorial, probablemente de alcance superior al de una
mera civitas, que debió de desempeñar este poblado. La fase de uso que se le atribuye,
comprendida grosso modo entre el 50 y el 80 d.C. (Montes et alii, 2013, pp. 234-236),
constituye además un preciso referente para fijar el arco temporal de la tutela militar
asociada a la primera presencia de Roma en los castros del occidente astur, previa a la
entrada en el gobierno de la dinastía flavia (Villa, 2007a, pp. 130-131).
Otra característica a destacar de la primera ocupación romana castreña es su
variabilidad, que además de a las dimensiones y situación de los asentamientos
(Carrocera, 1990b, pp. 135-136), atañe también a la configuración de la trama construida.
Atendiendo a las características de esta última pueden distinguirse al menos cuatro
tradiciones constructivas, que no mantienen una relación unívoca con los asentamientos
dado que varias de ellas pueden llegar a coexistir en un mismo castro.

52
Fig. 6 - A. Barrios Alto y Bajo de San Chuis (Jordá Pardo et alii 2014). B. Coaña (según Jordá Cerdá, tomada
de Maya, 1988). C. Sector sur de Chao Samartín (Según Represa y Ollocarizquieta). D. Castro de San Isidro
(Carrocera, 1991a).

1. LA PERVIVENCIA DE LA TRADICIÓN CONSTRUCTIVA AUTÓCTONA

Marcada por la presencia de construcciones de nueva planta que se ajustan a tipologías


previas a la ocupación romana y por la readaptación de construcciones preexistentes, a
las que se incorporan pavimentaciones, compartimentaciones del espacio interior, espacios

53
anexos de nueva planta, etc... El ejemplo más representativo es el Barrio Bajo de San
Chuis (Fig 6.A), para el que recientemente se ha reivindicado un origen en la Segunda
Edad del Hierro a partir del redescubrimiento de los diarios y el estudio del lote cerámico
recuperado de las excavaciones dirigidas por F. Jordá en 1962 y 1963 (Marín, 2007,
pp.133-139), si bien son distinguibles los agregados y transformaciones introducidas
en época Julio Claudia (Jordá Pardo et alíi, 2014, pp. 151, 160). Otros castros con
construcciones que responden a este modelo son Taramundi, Esteiro, La Escrita, Cabo
Blanco, Larón o Chao Samartín.

2. MODELO PSEUDOORTOGONAL

En este modelo el caserío se ordena en función de unas calles, lo que indica una cierta
planificación previa. El ejemplo más significativo lo constituye el barrio sudeste de Chao
Samartín (Fig 6.C), donde las construcciones de planta cuadrangular se alinean a ambos
lados de dos vías paralelas a la muralla, cuya estrechez es inferior un metro en algunos
puntos. Las plantas de las construcciones son cuadrangulares y por lo común se adosan
unas contra otras. Existen también divisiones internas y escaleras de fábrica exteriores que
denuncian la existencia de más de una altura, si bien alguna de ellas pudo ser agregada
en momentos posteriores. La tipología de algún ejemplo se inspira en los contubernia
campamentales, como ya se ha avanzado, pero la de otros casos recuerda más bien a
las tabernae, denunciando con ello una posible relación con actividades comerciales y
administrativas. La presencia de elementos excepcionales en los castros asturianos, como
suelos de cal a modo de rústicos opus signinum (Villa, 1999-2000, p. 371), o revocos
pictóricos en las paredes (Carrocera, 1994, fig. 4), contribuye a reforzar la impresión de
que esta arquitectura se aparta de lo común en los horizontes castreños romanos de la
región. La batería de viviendas cuadrangulares que conforma el flanco oriental del sector
nororiental del castro de Mohías (Maya, 1988, pp. 48-49) y en el barrio Alto de San Chuis
constituyen sus paralelos más cercanos, aunque su calidad queda lejos de la alcanzada en
el castro grandalés.

54
3. LA INFLUENCIA BRACARENSE

Las evidentes reminiscencias de la configuración Coaña con la ordenación del hábitat


doméstico de los castros del ámbito bracarense ya llamó poderosamente la atención de
García y Bellido. Esta afinidad, marcada por la presencia de las denominadas “casas con
vestíbulo” y la conformación de unidades familiares a través de la agrupación de varias
construcciones en torno a un patio común (Fig 6.B), se ve aún más singularizada por la
falta de hitos intermedios entre el occidente astur y el área nuclear en la que se cree que
se originó el modelo (Romero, 1976, p. 62; Carballo y Fábregas, 2006, pp. 77- 78), donde
aparece bien representado en castros como Briteiros, Sanfins, Santa Luzía, Castromao
o Santa Trega. Esta peculiaridad fue interpretada por Carrocera como resultado de un
traslado de población desde el ámbito galaico portugués (2003, pp. 164-165), hipótesis
que resulta verosímil. Podría incluso especularse con un traslado por vía marítima, dada la
cercanía del castro a la ría de Navia.
Con algunas reservas podría también incluirse en este modelo la agrupación de
cabañas de Pendia, distante del anterior menos de 10 km en línea de aire. En este caso la
vinculación con el área bracarense se ve reforzada por la presencia de la estructura termal
norteña con una mayor afinidad formal con los monumentos con horno bracaraugustanos
(Ríos 2017a, pp. 203-206).

4. EL CASO PARTICULAR DE SAN ISIDRO Y PICU DA MINA

San Isidro y Picu da Mina son dos asentamientos fortificados separados por apenas
200 metros. Ambos son bien conocidos en la bibliografía por ser los únicos ejemplos
asturianos que cuentan con campos de piedras hincadas, singularidad que ha dado pie
incluso a identificarlos con campamentos militares, minimizando así su carácter castreño
(Villa, 2007b, pp. 208-211). Sin embargo estos asentamientos tampoco se ajustan a
la tipología de los recintos campamentales (Fig 6.D). Los paralelos más cercanos los
encontramos en poblados fortificados -que también reciben la denominación de castros-
de la comarca de Tras os Montes y del sector occidental de la meseta (Esparza, 2011;
Redentor, 2003).

55
F. Jordá fue el primero en relacionar San Isidro con trasvases de población promovidos
en época romana al socaire de la puesta en explotación de los yacimientos auríferos (1985
- 86., pp. 261-262), idea que suscribiría Carrocera tras el reconocimiento del Pico da Mina y
dirigir una intervención arqueológica de pequeño alcance en los dos asentamientos (1990a;
1990b, pp. 126 y 133). Su situación, en un lugar inhóspito y cercano a explotaciones mineras
(La Arruñada), confirma su vinculación con la minería a la vez que descarta su relación
con aprovechamientos agropecuarios. Precisar si la población de ambos asentamientos
tuvo o no la misma filiación requeriría de intervenciones arqueológicas de mayor
alcance que las llevadas a cabo. A priori parece posible la vinculación con contingentes
militares, aunque no debe descartarse la presencia de población peregrina –el hallazgo
de materiales que remiten a finales del S. I d.C., un periodo en el que la presencia militar
parece que ya ha perdido fuerza, podría ir en este sentido (Villa, 2007b, p. 208), o incluso
una cierta coexistencia del elemento militar con el peregrino, favorecida por la presencia de
dos asentamientos. Procede destacar en este sentido que la aparición en Tras os Montes
y las comarcas occidentales de Zamora y Salamanca de piedras hincadas en poblados
de cronología romana ha sido explicada a partir de la consideración de este elemento
como un referente étnico de las comunidades, dejando en un plano secundario su función
poliorcética (Esparza, 2011, p. 34). En el mismo sentido puede apuntarse que la fundación
tardía de los castros del oeste de Salamanca también se ha asociado con una dinámica de
reubicación de poblaciones inducida por Roma, en este caso en el periodo que subsiguió
a las Guerras Civiles y el apoyo de los vettones a Sertorio, primero, y Pompeyo, después,
entre los mandatos de César y Augusto (González-Tablas, 2008).

VI. RECAPITULACIÓN

La secuencia de todos los poblados fortificados estudiados hasta el momento en el


occidente astur está marcada por la presencia de potentes horizontes de ocupación
romana, que transformaron de forma radical o bien arrasaron la trama constructiva de
las etapas preexistentes. Este es el principal factor limitante a la hora de documentar
la articulación interna de los poblados durante las fases de ocupación prerromana, cuyo

56
efecto más pernicioso es la falta de análisis microespaciales que permitan precisar la
organización de los espacios habitacionales, identificando las unidades domésticas y la
dedicación de las construcciones que las componen (almacenes, cocinas, talleres, etc...).
La información de la que disponemos para este periodo se reduce, en consecuencia, a
la identificación de una serie de estructuras de fundación prerromana, a través de fechas
absolutas radiocarbónicas o por medio de la cronología relativa que fija su posición
estratigráfica en la trama construida, y a la localización de áreas de especialización
metalúrgica en Taramundi y Chao Samartín.
La entrada bajo el dominio de Roma y la puesta en explotación de los recursos auríferos,
en torno a mediados del S. I d.C., conllevó el colapso de la estructura social preexistente.
A propósito de esta cuestión es posible extraer algunas inferencias de carácter general
a partir del análisis de la posición de los poblados y de las transformaciones introducidas
por Roma en su trama construida. La primera a destacar es la introducción de una cierta
especialización funcional de los asentamientos, que pudo ofrecer unas ciertas similitudes
con la documentada en otros territorios mineros (Perea y Sánchez Palencia, 1995, pp. 93-
97). En ese sentido y en un plano hipotético, dada la falta de estudios específicos, se ha
apuntado la relación con el aprovechamiento de los recursos marinos de castros costeros
cercanos a buenos fondeaderos naturales: Campo San Lorenzo, Santa Gadea, Cabo
Blanco, etc... (Camino, 1995, pp. 195-202); a la que se suma la lógica, por necesaria,
con actividades agropecuarias, que pudo implicar a un buen número de asentamientos,
incluyendo a buena parte de los castros cercanos a la rasa costera, dada la disponibilidad
de terrenos cultivables en su entorno inmediato, y a algunos de los castros de mayor
tamaño, como Coaña, Taramundi y, quizá, San Chuis, aunque este poblado ha sido
relacionado también con actividades mineras (Sánchez-Palencia y Suárez, 1985, p. 239).
El trabajo en las minas y el mantenimiento de la infraestructura hidráulica precisó de la
presencia cercana de mano de obra, por lo que se han vinculado con estas actividades los
castros situados en las inmediaciones de explotaciones, como es el caso de Pelóu, Pico da
Mina y San Isidro, Arancedo y Larón (Sánchez-Palencia y Suárez, 1985, p. 239; Carrocera,
1990b, p. 125; Sánchez-Palencia et alii, 2006, p. 282). Por último, la particular ordenación
pseudourbana del sector sureste del Chao Samartín parece relacionarse con actividades
comerciales o administrativas.

57
La segunda inferencia a destacar de la morfología de los asentamientos y de su
articulación interna es que puede llegar a traslucir una relación con población de origen
alóctono. San Isidro y Picu da Mina son ejemplos en este sentido ya asumidos desde
antiguo; pero Coaña, y quizá también Pendia, sin duda pueden asociarse también con
emigrantes, provenientes en este caso del ámbito bracarense. Incluso la conexión con
actividades comerciales y mercantiles que denuncia la configuración del barrio de sureste
de Chao Samartín permite presumir un origen exógeno para su población, arribada
quizá desde la capital conventual o al socaire de los contingentes militares. Si bien se ha
apuntado lo contrario en relación con otras comarcas mineras (Sastre et alii, 2010, pp. 128-
129), resulta improbable que la población indígena existente a mediados del S. I d.C. en el
occidente astur tuviera la capacidad de aportar la integridad de la mano de obra necesaria
para poner en explotación las minas, mantener la infraestructura hidráulica asociada
y generar los excedentes alimenticios que nutrieron las redes de aprovisionamiento
conectadas con las explotaciones. No sorprende, por lo tanto, que Roma dirigiera y
estimulara el trasvase de grupos humanos hacia este territorio. La arribada de alieni
aparece de hecho expresada en algunos epígrafes, como la estela del uxamiense Lucius
Valerius Postumus, localizada en Arnosa (Cangas del Narcea), muy cerca del castro de
Larón; o la de Flaus, miembro de los Cibarci (Plinio. NH IV, 111), proveniente de Ablaneda
(Salas), un entorno plenamente minero ya cercano al sector central de Asturias (Diego,
1985, pp. 76-79; Sánchez-Palencia y Suárez, 1985, p. 237). Aunque puntuales, constituyen
testimonios muy expresivos si se tiene en cuenta lo parco del registro epigráfico de la región.
Además de las actividades logísticas, técnicas, administrativas y de vigilancia que les
son propias, el contexto en el que fue hallada la tabula censualis recuperada en Pelóu
(Villa et alii, 2005, p. 274) nos muestra como los contingentes militares acantonados en
los castros ejercieron además una cierta tutela de la población peregrina en cuestiones
como la fiscalidad o la captación de mano de obra. El grado de desarticulación generado
en la población local por el proceso de conquista nos es desconocido, pero en todo caso
parece plausible presuponer que con este papel de intermediación, que en otras partes
del noroeste se ha atribuido a las aristocracias locales (Sastre, 2001, p. 123; Orejas et
alii, 2012, p. 37), Roma buscó compensar las insuficiencias derivadas de la presencia
de una estructura social poco jerarquizada, y como tal atomizada, incapaz a todas luces

58
de gestionar de forma autónoma un territorio a gran escala, máxime tras la llegada de
población alóctona. El fin de esta tutela militar se fija a partir del referente marcado por la
fase de ocupación de la domus de Chao Samartín, que como ya se ha adelantado se sitúa
en torno al 80 d.C., fecha que tiene su refrendo en la amortización hacia finales del s.I e el
inicio del s II d.C. de los fosos de Mohías, La Escrita o Chao Samartín (Carrocera, 1990a,
p. 160; 1990b, p. 131; 1994, p. 218; Villa, 2007a: pp.130-131). Su duración duro por lo
tanto en torno a los treinta años -lapso que en el plano genealógico supone poco más de
una generación-, antecediendo en algo menos de un siglo al abandono de los castros y
de las explotaciones mineras (Villa, 2007a, p. 132). Hay que presuponer por lo tanto que
en torno a la primera fecha, que grosso modo viene a coincidir con la concesión del ius latii
por Vespasiano, la estructura social del occidente astur había alcanzado ya la madurez
suficiente como para ser capaz de gestionar y administrar el territorio con cierta autonomía,
lo que resulta coherente con la plena integración de las comunidades hispanas en la
praxis político-administrativa romana que se asocia a las reformas flavias (Ortiz de Urbina,
2000, pp. 101 y ss). Espacios públicos como la plaza pavimentada de Chao Samartín
vienen a dar la medida material del desarrollo social alcanzado en este momento.
El fin de la explotación de las minas del oeste de Asturias se asocia al abandono de
los poblados fortificados, a los que sucedió una invisibilización casi absoluta de la
presencia de Roma en el territorio, con excepción de puntuales reocupaciones militares
en época Bajo Imperial que han podido ser detectadas en Pelóu (Montes et alii, 2009,
pp. 321-322), Taramundi (Menéndez y Villa, 2009, pp. 461-462; Menéndez et alii, 2013,
p.195), La Escrita (Carrocera, 1990a, pp. 160-161) y, quizá, en Coaña (Maya, 1988, p. 32;
Carrocera, 2003, p. 175). Es esta una particularidad del occidente astur que contrasta con
el panorama que ofrecen la mayor parte de las comarcas de Galicia, norte de Portugal
y noroeste de la provincia de León. Aquí no existen, o al menos no se han localizado
hasta ahora, ni villas rústicas, ni vici, ni otros agregados por minúsculos que sean, ni red
viaria reconocible, ni cualquier otro asentamiento que responda a patrones habitacionales
considerados característicos de la romanidad, que en las comarcas antedichas sucedieron
al abandono de los castros y afloran en numerosos lugares. Esta carencia no traduce una
retirada de Roma, como es obvio. Lo que refleja es que gran parte del occidente astur
no reunía las condiciones necesarias para generar grandes excedentes agropecuarios;

59
o bien que, debido a su situación periférica, existieron serios condicionantes para que
dichos excedentes pudieran ser integrados en los circuitos comerciales. El coyuntural polo
de dinamismo que supuso el beneficio de las minas a gran escala no pudo por tanto ser
suplido por otras actividades, por lo que se produjo el inevitable ajuste a la capacidad de
carga del medio, generándose con toda probabilidad un importante proceso migratorio.
La población subsistente se orientó a una actividad agropecuaria productora de
modestos excedentes, o incluso de mera subsistencia, articulando un nuevo modelo de
ocupación del territorio, probablemente de carácter disperso, que debido a su escasa
entidad aún no ha podido ser documentado a través de la arqueología. Esta radical
transformación constituye uno de los referentes más expresivos del acontecimiento
excepcional que supuso el beneficio del oro en el devenir histórico de este territorio.
En consecuencia, y al menos en lo que atañe al occidente astur debe cuando menos
matizarse la negación de una especialización económica sectorial ligada a la explotación
de las minas por parte de Roma (Orejas et alii, 2012, p. 26).

60
BIBLIOGRAFÍA

Almeida, C.A. (1984). A casa castreja. Memorias de Historia Antigua, 6, 35-42.


Brun, P. (1991). Le Bronze Atlantique et ses subdivisions culturelles: essai de définition. En A. Coffyn y C.
Chevillot (Dir.), L´Áge du Bronze Atlantique (11-24). Beynac et Cazenac: Association des Musées du Salardais.
Calo Lourido, F. (1997). A Cultura Castrexa. Vigo: A Nosa Terra. (2ª edición).
Calo Lourido, F. (2005). O castro: da aldea autárquica á cidade desenvolvida. Cadernos do Museo, 11, 91-106.
Camino Mayor, J. (1995). Los castros marítimos en Asturias. Oviedo: RIDEA.
Camino Mayor, J. (2016). La arquitectura doméstica de la Edad del Hierro en Asturias. Algunos ejemplos
singulares. ARPI, 5, 79-95.
Carballo Arceo, X. y Fábregas Valcarce, R. (2006). Variacións rexionais nas sociedades pre e protohistóricas
galaicas. En R. Álvarez, F. Dubert y X. Sousa (Eds.). Lingua e territorio (67-91). Santiago de Compostela:
Consello da Cultura Galega/Instituto da Lingua Galega.
Carrocera, E. (1990a). El castro de San Isidro: informe de las excavaciones arqueológicas 1986.
Excavaciones arqueológicas en Asturias, 1 (1983-1986), 157-162.
Carrocera, E. (1990b). La cultura castreña en Asturias. Historia de Asturias I, Prehistoria-Historia Antigua
(121-136). Oviedo: Prensa Asturiana.
Carrocera, E. (1994). Estudio crítico de la Cultura Castreña Asturiana. Trabalhos de Antropología e
Etnología, vol 34 (1º Congresso de arqueología peninsular), 213-221.
Carrocera, E. (2003). El castro de Coaña. En A.M. Fernández García y C. Bermejo Lorenzo (Coord.).
Estudios sobre el concejo de Coaña, vol I (141-178). Coaña: Ayuntamiento de Coaña.
Centeno, R.M.S. (2011): O castro de Romariz. Santa María da Feira: Câmara municipal de Santa Maria da
Feira.
Diego Santos, F. (1985). Epigrafía romana de Asturias. Oviedo: IDEA.
Dinis, A. P. (2001). O povoado da Idade do Ferro do Crastoeiro (Mondim de Basto, norte de Portugal).
Braga: Universidade do Minho.
Fanjul Mosteirín, J.A. y Villa Valdés, A. (2013). Exploración arqueológica del recinto norte del castro marítimo
de Cabo Blanco, Valdepares (El Franco, Asturias). Excavaciones arqueológicas en Asturias, 7 (2007-2013),
239-243.
Fanjul Mosteirín, J.A.; Villa Valdés, A. y Menéndez Granda, A. (2009). El castro de Cabo Blanco, Valdepares
(El Franco): informe sobre los trabajos de acondicionamiento y exploración. Excavaciones arqueológicas en
Asturias, 6 (2003-2006), 255-264.
Fernández Manzano, J. y Fernández-Posse M.D. (2000). Los recintos de los castros. La función social de
la muralla. En J. Sánchez-Palencia Ramos (Coord). Las Médulas (León). Un paisaje Cultural en la Asturias
Augustana (82-91). León: Diputación de León/Instituto Leonés de Cultura.
García y Bellido, A, (1940). El castro de Coaña (Asturias) y algunas notas sobre el posible origen de esta
cultura. Revista de Guimarães, 50.3-4, 284-311.
González Álvarez, D.; Marín Suárez, C.; Farci, C.; López Gómez, P.; López Sáez, J.A.; Martínez Barrio, C.;
Martinón Torres, M.; Menéndez Blanco, A.; Moreno García, M.; Núñez de la Fuente, S.; Peña Chocarro, L.;

61
Pérez Jordá, G.; Rodríguez Hernández, J.; Tejerizo García, C. y Fernández Mier, M. (2018). El Castru (Vigaña,
Balmonte de Miranda, Asturias): un pequeño poblado fortificado de las montañas occidentales cantábricas
durante la Edad del Hierro. Munibe, 69.
González Fernández-Vallés, J.M. (1952). El sector lucense del litoral asturiano en la Antigüedad. Archivo
Español de Arqueología, 25: 366-374.
González Ruibal, A. (2006-2007). Galaicos. Poder y comunidad en el noroeste de la península ibérica (1200
a.C. -50 d.C.). La Coruña: Museo arqueolóxico e histórico Castelo de San Antón.
González-Tablas Sastre, F.J. (2008). Los castros del occidente salmantino. Edad del Hierro y romanización.
Zephyrus, 62, 139-149.
Jordá Cerdá, F. (1977). La cultura de los castros y la tardía romanización de Asturias. Coloquio internacional
sobre el bimilenario de Lugo (29-40). Lugo: Patronato del Bimilenario de Lugo.
Jordá Cerdá, F. (1983). Nueva guía del castro de Coaña (Asturias). Oviedo: Fundación Pública de Cuevas y
Yacimientos Prehistóricos de Asturias.
Jordá Cerdá. F. (1985-86). Sobre la celtización tardía de Asturias. Veleia, 2-3, 261-264,
Jordá Pardo, J.; Marín Suárez, C. y Molina Salido, J. (2014). El castro de San Chuis (San Martín de
Beduledo, Allande, Asturias): cincuenta y dos años de investigación arqueológica. En D. Álvarez Alonso y J.A.
Fernández de Córdoba (Coord), Francisco Jordá (1914-2004). Maestro de Prehistoriadores (Anejos de Nailos,
2) (135 - 175). Oviedo: APIAA.
Lemos, F.S. (2009). A Cultura Castreja no Minho. Minho, Traços de identidade (pp. 122-213). Braga:
Conselho Cultural da Universidade do Minho.
López Cuevillas, F. (1988): La civilización céltica de Galicia. Madrid: Istmo. (1ª edición: 1953).
Marín Suárez, Carlos (2007). Los materiales del castro de San L.luis (Allande, Asturias). Complutum, 18,
131-160
Martins, M. (1990). O povoamento proto-histórico e a romanização da bacia do curso médio do Cávado.
Braga: Universidade do Minho.
Maya González, J.L. (1988). La cultura material de los castros asturianos. Estudios de la Antigüedad 4/5.
Barcelona: Universidad Autónoma de Barcelona.
Maya González, J.L. (1989). Los castros en Asturias. Gijón: Silverio Cañada.
Menéndez Granda, A.; Martín Hernández, E. y Villa Valdés, A. (2013). La exploración de áreas inéditas en el
poblado fortificado de Os Castros de Taramundi. Excavaciones arqueológicas en Asturias, 7 (2007-2012), 189-196.
Menéndez Granda, A. y Villa Valdés, A. (2009). Os castros de Taramundi: reseña sobre el plan director
e informe relativo al avance de las excavaciones arqueológicas. Excavaciones arqueológicas en Asturias, 6
(2003-2006), 455-463.
Montes López, R.; Hevia González, S.; Villa Valdés, A. y Menéndez Granda, A. (2009). Monte Castrelo de
Pelóu (Grandas de Salime). Avance sobre su secuencia estratigráfica e interpretación histórica. Excavaciones
arqueológicas en Asturias, 6 (2003-2006), 313-322.
Montes, R.; Villa, A.; Gago, O.; Hevia, S.; Menéndez, A. y Madariaga, B. (2013). Avance sobre la excavación
de una domus altoimperial en el castro de Chao Samartín (Grandas de Salime). Excavaciones Arqueológicas en
Asturias 7 (2007-2012), 225-238.

62
Orejas, A.; Sastre, I.; Zubiaurre, E. (2012). Ordenación y regulación de la actividad minera hispana
altoimperial, En M. Zarzajelos, P. Hevia y L. Mansilla (Eds.), Paisajes mineros antiguos en la península ibérica.
Homenaje a Claude Domergue (pp. 31-46). Madrid: UNED.
Ortiz de Urbina Álava, E. (2000). Las comunidades hispanas y el derecho latino. Vitoria: Universidad del
País Vasco.
Perea, A.; Sánchez-Palencia Ramos, F.J. (1995). Arqueología del oro astur. Oviedo: Caja de Asturias.
Queiroga, F. (2005). Materiais e técnicas construtivas da Cultura Castreja no Entre-Douro-e-Minho.
Cadernos do Museo de Penafiel, 11, 155-166.
Queiroga, F. (2015). As cabanas do castro de Penices, e a evolução da arquitectura doméstica dos castros.
Portugalia, Nova Serie, 36, 263-276.
Ríos González, S. (2017a). Los baños castreños del noroeste de la península ibérica. Pola de Siero:
Ménsula.
Ríos González, S. (2017b). Un nuevo espejismo historiográfico: el termalismo castreño prerromano. Nailos,
4: 87-127.
Ríos González, S. (2018). Actuación de urgencia en la construcción nº18 del castro de Chao Samartín
(Grandas de Salime). Excavaciones arqueológicas en Asturias, 8 (2013-2018), 235-238.
Ríos González, S. (2019). A propósito de las primeras arquitecturas castreñas en el sector occidental de
Asturias. Portugalia, Nova Serie, 40, 5-32.
Ríos González, S. y García de Castro Valdés, C. (1998), Asturias castreña. Gijón: Trea.
Ríos González, S. y García de Castro Valdés, C. (2001). Observaciones en torno al poblamiento castreño
de la Edad del Hierro en Asturias. Trabajos de Prehistoria, 58(2): 89-107.
Rodríguez del Cueto, Fernando (2017). Arquitectura, urbanismo y espacios domésticos en “El Castro”,
Pendia (Asturias, España). Siglos IV a.C.-II d.C. (BAR International Series 2847). Oxford: Bar Publishing.
Rodríguez Martínez, R.M. (2018). Reexcavando Santa Trega (A Guarda, Pontevedra). Nuevos datos y
conclusiones del Barrio Merguelina. Férvedes, 9: 107-116.
Romero Masia, A. (1976). El hábitat castreño. Santiago de Compostela: Colegio de Arquitectos.
Sánchez-Palencia, F.J.; Orejas, A.; Sastre, I.; Pérez, L.C. (2006). Las zonas mineras romanas del noroeste
peninsular. Infraestructura y organización del territorio. En Nuevos elementos de Ingeniería Romana. III
Congreso de Obras públicas romanas (265 - 285). Astorga: Junta de Castilla y León/Colegio de Ingenieros
T, de O.P.
Sánchez-Palencia, F.J.; Suárez, F. (1985). La minería antigua del oro en Asturias. El Libro de la Mina
(pp. 221 - 241). Gijón: Mases.
Sastre Prats, I. (2001). Las formaciones sociales de la “Asturia” romana. Madrid: Ediciones clásicas.
Sastre, I.; Beltrán, A. y Sánchez-Palencia F.J. (2010). Ejército y comunidades locales en el noroeste
peninsular: formas de control y relaciones de poder en torno a la minería del oro. En J.J. Palao (Ed.), Militares y
civiles en la antigua Roma. Dos mundos diferentes, dos mundos unidos (117-134). Salamanca: Universidad de
Salamanca.
Silva, A.C.F. (1986). A Cultura castreja no noroeste de Portugal. Paços de Ferreira: Museu Arqueológico da
Citânia de Sanfins.

63
Silva, A.C.F. (1996). A cultura castreja no norte de Portugal: integração no mundo romano. En C. Fernández
Ochoa (Coord), Los finisterres atlánticos en la Antigüedad (49.55). Gijón: Electa.
Villa Valdés, A. (1999-2000). Descripción de estructuras defensivas e trazado urbano no castro do Chao de
San Martín (Grandas de Salime, Asturias). Boletín do Museo Provincial de Lugo, 9, 367-419.
Villa Valdés, A. (2001). Aportaciones al estudio de la evolución del espacio urbano castreño en el occidente
de Asturias (siglos IV a.C.-II d.C.). En III Congresso de arqueología peninsular. V (Proto-história da Península
Ibérica) (507-521). Vila Real: ADECAP.
Villa Valdés, A. (2002): Periodización y registro arqueológico en los castros del occidente de Asturias. En
M. A. de Blas Cortina y A. Villa Valdés (Eds.). Los poblados fortificados del Noroeste de la península ibérica:
formación y desarrollo de la Cultura Castreña (159-188). Navia: Ayuntamiento de Navia.
Villa Valdés, A. (2005). El castro de Chao Samartín. Grandas de Salime: Sociedad Arqueológica Profesional.
Villa Valdés, A. (2007a). La excavación arqueológica del Chao Samartín en el periodo 1999-2002.
Precisiones sobre su origen y pervivencia. Excavaciones arqueológicas en Asturias, 5 (1999-2002), 123-134.
Villa Valdés, A. (2007b). El Chao Samartín (Grandas de Salime) y el paisaje fortificado en la Asturias
Protohistórica. En L. Berrocal y P. Moret (Eds.), Paisajes fortificados en la Protohistoria de la península ibérica
(191-212). Madrid: Real Academia de la Historia/Casa de Velázquez.
Villa Valdés, A. (2008). La arquitectura doméstica en los castros prerromanos. En J. Rodríguez Muñoz
(Dir. y coord.), La Prehistoria en Asturias (721-752). Oviedo: Prensa Asturiana.
Villa Valdés, A.; Francisco Martín, J. de; Alföldy, G. (2005). Noticia del hallazgo de un epígrafe altoimperial en
el lugar de Pelóu, Grandas de Salime (Asturias). Archivo Español de Arqueología, 78: 271-274.
Villa Valdés, A.; Menéndez Granda, A. y Fanjul Mosteirin, J.A. (2007). Excavaciones arqueológicas en el
poblado fortificado de Os Castros. Excavaciones arqueológicas en Asturias, 5 (1999-2002), 267-275.

64
ALEJANDRO
BELTRÁN
CIVITATES Y FRONTERAS EN EL ENTORNO DEL DUERO (ZAMORA)1

DR. ALEJANDRO BELTRÁN ORTEGA


Universidad Carlos III de Madrid
abeltran@hum.uc3m.es



RESUMEN
La civitas Zoelarum, ha sido objeto de estudio desde el siglo XIX por la relevancia de
sus menciones en las fuentes históricas y epigráficas. Tradicionalmente, se ha asumido su
localización ocupando todo el sur del conventus Asturum y con una epigrafía propia muy
singular. Sin embargo, el análisis integral de la epigrafía pone de manifiesto que se pueden
distinguir dos zonas muy claras dentro de esa área, que podrían indicar una realidad
administrativa diferente.

PALABRAS CLAVE
Epigrafía, arqueología del paisaje, territorios rurales, límites administrativos.

ABSTRACT
The civitas Zoelarum, has been the subject of study since the nineteenth century for the
relevance of its mentions in historical and epigraphic sources. Traditionally, its location has
been assumed occupying all the south of the conventus Asturum and with a very unique
epigraph of its own. However, the comprehensive analysis of the epigraphy shows that
two very clear areas can be distinguished within that área, that could indicate a different
administrative reality.

KEYWORDS
Epigraphy, landscape archeology, rural territories, administrative boundaries.

1
Este trabajo ha sido posible gracias al trabajo del GI EST-AP del CSIC en el entorno de Pino del Oro
(Zamora) a través de diferentes proyectos de investigación. Por otro lado, el artículo fue redactado y preparado
en gran parte gracias a la estancia financiada por la Sociedad de Estudios Clásicos (SEEC) en la Fondation
Hardt de Ginebra (https://www.fondationhardt.ch), a quienes quiero agradecer su apoyo.

69
1. LA EPIGRAFÍA COMO ELEMENTO ARQUEOLÓGICO

Durante varias décadas, la epigrafía ha sido tratada, en muchas ocasiones, como un


objeto diferenciado del registro arqueológico y para el uso casi exclusivo de estudios de
índole prosopográfica o teonímica, en los que los elementos relevantes de los epígrafes los
constituían los cargos y honores de los individuos mencionados en ellos o los nombres y
apelativos de las divinidades honradas. A este fenómeno ha contribuido, sin duda, el hecho
de que las inscripciones hayan sido objeto de reutilización constante a lo largo del tiempo.
De esta manera, los epígrafes, realizados generalmente en un material especialmente
seleccionado y de buena calidad, eran reutilizados desde fechas muy tempranas en todo
tipo de construcciones. No son escasos los ejemplos de este uso en tumbas o edificaciones
ya en la propia época romana, puesto que en el Bajo Imperio es frecuente el uso de estelas
como tapa de tumbas de este periodo o su reutilización en murallas de nueva construccion.
Este hecho, además, suponía que, en muchas ocasiones, a los textos fragmentarios
o epígrafes de formulario muy sencillo en los que apenas se menciona el nombre del
difunto y su edad, apenas se les prestase atención como fuente de información histórica.
Sin embargo, los últimos años han permitido dotar a la epigrafía de un nuevo enfoque,
tratando de situarla, en la medida de lo posible, en su contexto original, aquel para el que
fue creada, y tratando a los epígrafes como un elemento más, e inseparable, del registro
arqueológico. Para ello se requiere un estudio integral, tanto del propio epígrafe y de todos
sus elementos (externos, internos formales, etc.) como del resto del registro arqueológico
en el que se insertan.
Es en este contexto donde la epigrafía puede adquirir un nuevo valor como un elemento
de diferenciación territorial que permita aproximarse a las divisiones administrativas de
época romana. Hasta este momento eran raros los conjuntos epigráficos que podían
considerarse como propios y exclusivos de una comunidad determinada. Así en el caso
hispano, tan sólo los vadinienses parecían cumplir esta premisa, debido al uso de un
material muy concreto y determinado para la realización de sus inscripciones como son los
enormes cantos rodados de cuarcita, que si bien no son exclusivos de esta civitas, sí que
representan su práctica epigráfica más común (Sastre y Sánchez-Palencia 2013: 253), así
como la mención frecuente de su pertenencia a la comunidad, ya que un gran número de

70
ellos se definen a sí mismos como vadinienses, la llamada origo intra civitem (González
y Ramírez 2007: 596)., un fenómeno poco frecuente en individuos fallecidos dentro de su
propia comunidad de origen y casi restringido en zonas como la Bética a un determinado
grupo social como los libertos, cuyas motivaciones para hacer mención expresa de su
ciudadanía local pueden ser muy diferente2.
La aparente uniformidad de las inscripciones y del propio hábito epigráfico en todo el
Imperio, hacía casi imposible esta distinción entre provincias y mucho menos en territorios
más pequeños. Sin embargo, un estudio más detallado de los conjuntos locales permite
establecer diferencias entre los usos epigráficos de un territorio respecto a los vecinos.
Incluso dentro de un sistema tan estanco y rígido como las propias fórmulas epigráficas,
se puede observar cómo, en territorios aparentemente uniformes, el uso que se hace
de estas propias fórmulas es diferente. Así pues, un análisis detallado de los conjuntos
locales de inscripciones permite observar el uso que cada comunidad o grupo hizo del
hábito epigráfico. Esto, teniendo en cuenta que los grupos sociales más representados
en la epigrafía son, sin duda, los grupos dominantes, revela diferencias entre las élites
dirigentes de cada territorio y, por tanto, puede ser un reflejo de la propia división
administrativa de esta área.

2. LA CIVITAS ZOELARUM

Uno de los casos más llamativos e interesantes para analizar la dimensión epigráfica
de la epigrafía es la civitas Zoelarum, una comunidad del noroeste hispano, incluida dentro
de la provincia Hispania Citerior y del conventus Asturum, tal y como se refleja en la
descripción de Plinio (Nat. Hist. III, 283). Esta civitas se ha situado, tradicionalmente, en un
territorio demasiado amplio, ocupando una gran parte del distrito de Bragança en Portugal

2
Un caso aparte lo suponen los termini augustales que marcaban los límites administrativos de las
comunidades. Desgraciadamente el número de estos epígrafes documentados es relativamente bajo, aunque
su análisis, desde nuevas perspectivas, puede seguir aportando nuevas posibilidades de investigación, como en
el caso reciente del noroeste de la provincia de Salamanca (Beltrán, Ruíz del Árbol & Sastre 2015).
3
Iunguntur iis Asturum XXII populi divisi in Augustanos et Transmontanos, Asturica urbe magnifica. In his
suní Gigurri, Paesici, Lancienses, Zoelae.

71
y el occidente de Zamora (VVAA 1991), especialmente la comarca de Aliste. Además, la
civitas marcaría a su vez los límites del convetus Asturum con el Cluniensis al este, el
Bracaraugustanus al oeste y el Emeritensis al sur, que supondría, además, la frontera con
la provincia de Lusitania. En la práctica, esta identificación supone que esta comunidad
ocupase todo el flanco meridional del conventus Asturum y se convirtiese en la civitas
de mayor extensión del Noroeste, ocupando una superficie en torno a los 5.000 km2 o
incluso los 10.000 si se incluyen otras zonas propuestas por algunos autores como Sayago
(Sastre 2002) o Sanabria (González Rodríguez & Ramírez Sánchez, 2011 y García Rozas
& Abásolo, 2012). La relevancia historiográfica de esta civitas proviene, fundamentalmente,
de su protagonismo en un pacto de hospitalidad (CIL II 26334), plasmado en bronce y
firmado en el año 27 d.C. en un lugar llamado Curunda, que a su vez hace referencia a un
tratado anterior, y que posteriormente se completa en el 152 d.C. en la copia firmada en
Astorga. La aparición de un ara al dios Aerno por parte del ordo Zoelarum (CIL II 26065) en
el yacimiento de Torre Velha en Castro de Avelãs, ha supuesto identificar este lugar con un
núcleo central de esta civitas o incluso la propia Curunda6 mencionada en el pacto.

Fig. 1 - Mapa general de situación de la zona de estudio.

72
A partir de la localización de las civitas Zoelarum en esta zona cercana a Bragança,
se establecieron sus límites en un amplio territorio circundante. Dentro de este territorio,
se encuadró un área en la que se documentaron una serie de estelas de características
muy particulares, que Tranoy definió como “estilo Picote” (1981: 176)7, por considerar
este centro como uno de los núcleos fundamentales de este tipo de estelas. De esta
manera se produjo la identificación de estas lápidas como propias de los zoelas. Se trata,
fundamentalmente, de estelas de esquema tripartito (cabecera, campo epigráfico y pie),
realizadas, en su mayoría, en un material local (mármol de brecha o de Santo Adrião) y
con un estilo bien definido caracterizado por una cabecera semicircular con una rueda
de radios de número y dirección variable, un campo epigráfico encolumnado, una figura
zoomorfa bajo él y una arquería ultra-semicircular. La dispersión de estas estelas se
produce, efectivamente, en la zona en torno a Picote, es decir, en el concelho de Miranda
do Douro, aunque también se extiende a otras zonas cercanas como el occidente de
Aliste o el concelho de Mogadouro. Esta dispersión tan concreta es, precisamente, una
de los motivos que permiten dudar de esta identificación de las estelas con los zoelas,
ya que como se ha indicado, en el único núcleo indudablemente zoela, como es Castro
de Avelãs, no se documentan este tipo de estelas, a pesar de contar con un notable
conjunto epigráfico8. A este hecho, se debe añadir que, en las pocas ocasiones que se
hace mención al origen zoela de algún individuo en la epigrafía, en ningún caso se trata de

4
M(arco) Licinio Crasso / L(ucio) Calpurnio Pisone co(n)s(ulibus) / IIII K(alendas) Maias / gentilitas
Desoncorum ex gente Zoelarum / et gentilitas Tridia/vorum ex gente idem / Zoelarum hospitium vetustum antiquom
/ renova/verunt eique omnes ali(u)s alium in fi/dem clientelamque suam suorumque libero/rum posterorumque
receperunt egerunt / Araus Ablecaeni et Turaius Clouti Docius Elaesi / Magilo Clouti Bodecius Burrali Elaesus
Clutami / per Abienum Pentili magistratum Zoelarum / actum Curunda / Glabrione et Homullo co(n)s(ulibus) V Idus
Iulias / idem gentilitas Desoncorum et gentilitas / Tridiavorum in eandem clientelam eadem / foedera recepunt ex
gente Avolgigorum / Sempronium Perpetuum Orniacum et ex gente / Visaligorum Antonium Arquium et ex gente
/ Cabruagenigorum Flavium Frontonem Zoelas / egerunt / L(ucius) Domitius Silo et / L(ucius) Flavius Severus /
Asturicae.
5
Deo / Aerno / ordo / Zoelar(um) / ex voto.
6
Otros autores han optado por situar Curunda en otras localizaciones, como Rabanales (Olivares Pedreño
2002: 69; VVAA 2007).
7
Aunque en realidad en Picote tan sólo se documenta un ejemplar “completo” de este estilo.
8
A partir del corpus realizado por Redentor de la región de Bragança (2002) se puede observar que las únicas
estelas con decoración zoomorfa se limitan a una estela muy particular de Amendoeira (Macedo de Cavaleiros),
de Laboena, esposa de Cilurnus (ERRBr 61), con una cabecera ultra-semicircular, una rueda de radios dentro de
un cuadrado, un zoomorfo y debajo el texto.

73
este tipo de estelas. Estas tres menciones se concentran todas en la provincia de León y
se trata, en primer lugar, de una estela hallada en Arganza (AE 1988, 759), de una mujer,
Claudia Accula, dedicada por su marido9. El segundo caso, el de Titus I(- - - ) Valens (CIL
II 265110), apareció en Astorga, pero se trata de una inscripción incompleta y que parece
hacer mención a algún tipo de delimitación de propiedad (Sastre 2002: 60; Orejas y Morillo
2013: 100). El último caso es el de Titus Montanius Fronto (CIL II 568411), encargado de
la vigilancia y gestión del almacén de las armas del campamento de la legio X Gemina
en León. De nuevo esta estela no presenta las características de los zoelas, algo que sí
ocurre con el epitafio de Lucretius Proculus (CIL II 266812), que ocupó este mismo cargo,
pero que sin embargo y a pesar de lo largo del texto, en el que también aparecen su mujer
(Valeria Amma), hijo (Lucretius Proculus) y el dedicante (Valerius Marcellinus, suegro, padre
y abuelo de los difuntos), no hace mención a un posible origen zoela. Pero, tanto por su
estilo decorativo, como por su onomástica, a estos individuos se les ha atribuido un posible
origen zoela (Sastre 2002: 58-60 y 76). Aunque la estela no se puede denominar como
específicamente de estilo Picote, ya que se trata de una lápida rectangular, sí presenta
las decoraciones de ruedas de radios y los zoomorfos característicos. Además, se trata
de una estela triple, dedicada a tres difuntos, un fenómeno también documentado en la
zona mirandesa y alistana en un estilo muy similar13. En cuanto a la onomástica, dentro
de las pocas familias documentadas se incluye con especial relevancia la Valeria, a quien
pertenecen tanto la mujer como el suegro de Lucretius Proculus, si bien sobre esta familia
se incidirá más adelante.
Así pues, paradójicamente las estelas atribuidas a los zoelas no se documentan en el entorno
del único núcleo zoela confirmado, ni las menciones a la comunidad de los zoelas en los
textos epigráficos corresponden a este tipo de estelas. Todo ello hace necesaria una revisión
de esta zona mirandesa-alistana y la identificación de este estilo Picote con esta civitas.

9
D(is) M(anibus) / Cl(audia) Accula / Zoela ann/o(rum) XL h(ic) s(ita) e(st) / Cl(audius) Sergius / coniugi p(osuit).
10
Paedatura / T(iti) I(- - -) Valentis / Zoelae.
11
D(is) M(anibus) s(acrum) / T(ito) Montanio / Frontoni ar(morum) / cus(todi) civi Z(o)elae / an(norum)
LIII st(i)p(endiorum) XXVI / T(itus) Montanius / Maternus / patrono opt(imo) / curator f(isci) f(unus) l(ocum) /
m(onumentum) posuit s(it) t(ibi) t(erra) l(evis).
12
D(is) M(anibus) / Lucretio • Pr/oculo • arm/orum • cus(todi) • / an(norum) • XXXV • et • / Val(eriae) • Amme /
uxs(ori) • an(norum) XXV / Lucretio • Pro(culo) • / [fil]io • eorum / an(norum) I[II?] posuit / socer [•] pater / avus •
Val(erius) M/arcellinus.
13
Como por ejemplo CIL II 5659 (Silviae Calvi/nae an(norum) XXVIII / et C(aio) Silvio ann(orum) I / Silvius
Calvinus / filiae et nepoti) de Duas Igrejas.

74
3. EL “ESTILO PICOTE” Y SU ÁREA DE DISTRIBUCIÓN

Como se señalaba anteriormente, las estelas de este estilo se concentran en el entorno


de Picote, con ejemplares documentados en Atenor, Duas Igrejas, Saldanha y Urrós en
Portugal, y Rabanales, Rábano de Aliste (San Mamed) y Alcañices en España. Toda esta
zona se caracteriza por un poblamiento de tipo rural y disperso en época romana.
Los asentamientos son de pequeño tamaño y ninguno parece tener un desarrollo
urbano.Es cierto que algunos de estos centros presentan un registro arqueológico algo
más rico, y que parecen haber actuado como núcleos de mayor envergadura e importancia,
tales como el propio Picote o Rabanales, coincidiendo además con los conjuntos
epigráficos más ricos, pero sin que se puedan calificar como urbanos en ningún sentido.
Precisamente, es la abundancia y riqueza de su conjunto epigráfico lo que permite que
esta zona sea especialmente interesante para su análisis, ya que, a pesar de tratarse de
un poblamiento rural y disperso, como se ha señalado, con núcleos de pequeño tamaño, la
cantidad de inscripciones documentadas es muy superior al de las zonas vecinas (Beltrán
2016), con la circunstancia añadida de que prácticamente todos los asentamientos cuentan
con epígrafes asociados a ellos.
Como ocurre en el resto del Imperio, el propio poblamiento va evolucionando durante
las primeras décadas de dominio romano. De esta manera, los centros más destacados
durante las primeras etapas coinciden, en líneas generales, con los asentamientos ya
existentes en el final de la Edad del Hierro, que presentan una continuidad, tales como São
João dos Arribes en Aldeia Nova (Sánchez–Palencia et alii, 2012: 614), el Cerco de Sejas
de Aliste o el castro de Santiago de Villalcampo. Sin embargo, a partir de época flavia,
parecen distinguirse cambios sustanciales, y son los nuevos asentamientos en abierto
fundados en época romana los que parecen convertirse en los más destacados (Sánchez-
Palencia & Beltrán & Romero 2018), como los casos del Castrico de Rabanales, El Picón
de Pino del Oro o Faceira da Granja en Duas Igrejas.
Esta transformación no significa un abandono de los anteriores asentamientos, pero sí
un descenso brusco o incluso la desaparición del hábito epigráfico. Este fenómeno sólo
puede explicarse por el surgimiento de nuevas familias en los ámbitos de poder político
de la civitas o bien por el traslado de estas mismas familias a los nuevos centros, mejor

75
relacionados con las vías de comunicación y más dirigidos a la explotación de los recursos
agropecuarios que los antiguos asentamientos. Estas familias emplean de forma significativa
el hábito epigráfico como herramienta de poder y prestigio, pero con una cambio sustancial
respecto a los modelos anteriores. Por un lado, se produce un cambio significativo de estilo
decorativo, adoptando la nueva simbología que caracteriza al “estilo Picote”. Por otro lado,
se introduce un nuevo soporte, el cipo y aunque las estelas se siguen utilizando, algunas
de ellas pasan a ser fabricadas en mármol de brecha de Santo Adrião (Navarro Caballero
1998). Además de este nuevo material, la decoración cambia ostensiblemente. El nuevo
modelo supone la utilización de un esquema tripartito en estelas simples, dobles e incluso
triples. Esta división supone separar de manera clara la cabecera semicircular, coronada
generalmente por una rueda de radios de número y dirección variable, un campo epigráfico
encolumnado y la presencia de relieves zoomorfos en la parte inferior y un pie con arcadas
ultra-semicirculares. Finalmente, los textos se vuelven más complejos, superando la
fórmula sencilla de nombre+filiación+edad (Beltrán et alii 2009), pasando a mencionarse
a varios miembros de la familias y su relación de parentesco. Esta nueva fórmula se ve
reforzada por el uso de nomina, un fenómeno muy infrecuente en la epigrafía de esta zona
hasta este momento14, que permite documentar la existencia de varias familias prominentes
en la zona (Valerii, Anii, Silvii, etc.), así como sus relaciones entre ellos (Beltrán, Romero
& Alonso 2013). La importancia y preeminencia de estas familias se ve reforzada por su
implantación a lo largo de todo el territorio de los concelhos de Miranda do Douro y Mogadouro,
así como en la comarca de Aliste15.

14
Prácticamente la única excepción a la fórmula de nombre único es la de P. Carisius Fronto, que además
aparece en dos inscripciones, ambas de Villalcampo. Una dedicación a la divinidad local Mentoviaco (CIRPZa
267) y su estela funeraria (HAE 897).
15
Así, uno de los personajes principales de esta zona es Valerius Attiannus, que aparece nombrado en tres
inscripciones diferentes. Una de Picote (AE 1987, 570) como esposo de Flaccilla Flaccil(ae )/ Flacci f(iliae) /
Attianus /Rufus uxori, otra en Rabanales (CIRPZa 127) dedicando una estela a su padre (Val(erio) · Rufino /
Attianus· Rufus/patri y otro de nuevo en Picote (EE IX 292a), como patrono de un liberto Frontoni · / Rufi ·
Atiani / liberto · u(xori) / Rufina. Finalmente en Duas Igrejas (AE 2008, 683) se documenta su propio cipo
funerario Val(erio) · Rufo / Attiano / Procula · et / Rufina / patr i/ an(norum · LX) La propia relación con un liberto,
prácticamente el único de todo el territorio es una muestra más del poderío económico y político de esta familia
y más concretamente de este personaje. De hecho, uno de sus cognomina, Attianus, aunque conocido en todo
el Imperio en Hispania solo se documenta en este caso.

76
Fig. 2 - Cipo funerario de Valerius Rufus Attianus de Duas Igrejas (AE 2008, 683) y estela funeraria de Valerius
Rufinus dedicado por su hijo Valerius Rufus Attianus de Rabanales (CIRPZa 127) © EST-AP/CSIC y Alejandro
Beltrán Ortega.

77
Así pues, parece claro que a partir de época flavia, fecha en la que se pueden datar
las primeras de estas inscripciones, tanto los cipos funerarios como las estelas de mármol
de brecha (Beltrán & Alonso 2010), se produce una reorganización territorial en toda esta
zona, en la que surgen nuevos centros de poder en los que está presente una nueva
aristocracia local, que elige unas nuevas formas de auto-representarse y de mostrar su
poder. Sin embargo, este fenómeno no se detecta en la zona en torno a Castro de Avelãs,
que presenta una mayor continuidad en su hábito epigráfico. Este mantenimiento de
los soportes y formas epigráficas parece reflejarse también en las formas de ocupación
del territorio, sin que se detecte un auge destacable de nuevos centros. Por otro lado,
las relaciones y alianzas políticas en el seno de la civitas Zoelarum, así como con otras
comunidades vecinas, continúan hasta bien entrado el siglo II d.C. Esta situación se ve
claramente reflejada en el propio Pacto de los Zoelas (CIL II 2606), que señala como en
el 127 d.C. las mismas organizaciones que firmaban el pacto anterior, las gentilitates de
los desoncos y los tridiavos, firmaban una alianza con visáligos y cabruagénigos, también
zoelas, pero además con los avólgigos, que eran orniacos16, lo que supone ampliar el pacto
a comunidades y organizaciones externas a la civitas Zoelarum.

16
La comunidad de los orniaci, con capital en Intercatia son mencionados por Ptolomeo (II, 6, 31). Sin
embargo, epigráficamente solo son mencionados en el Pacto de los Zoelas, sin que se documente ninguna
mención más a este grupo. A pesar de ello la historiografía lo ha venido situando en el entorno de la Valduerna
(Tranoy 1981: 50; Hernández Guerra 2007: 54), sin que haya más evidencias que una supuesta correspondencia
fonética (García Alonso 2014: 92), que ya fue puesta en duda por otros autores (Mangas y Olano 1995: 344).
La propia estructura del Pacto, con alianzas entre comunidades vecinas dentro del seno de una misma civitas,
permite pensar que lo más probable es que estos avólgigos de los orniaci se localizaran geográficamente
en la vecindad de los propios zoelas y no en un lugar tan alejado y con otras civitates de por medio, como la
Valduerna. De cualquier manera, la localización de la Intercatia de los orniaci no se ha confirmado, de momento,
aunque se ha tratado de buscarla en la zona de la Asturia Transmontana a partir de una inscripción de Bonn (CIL
XIII 8098), que menciona a un soldado procedente del castelo de Intercatia Pintaivs Pedilici / f(ilivs) Astvr Trans/
montanvs Castelo / Intercatia(e) signifer c(o)ho(rtis) V Astvrvm / anno(rvm) XXX stip(endiorvm) VI[I] h(eres) ex
t(estamento) f(aciendvm) c(vravit). No ocurre lo mismo con la Intercatia de los vacceos, que parece localizarse en
Paredes de Nava (Mañanes Pérez 2014: 29-31), descartando otras localizaciones propuestas como Aguilar de
Campos, Montealegre de Campos o Villalpando.

78
4. CONCLUSIONES

Por tanto, y desde un punto de vista epigráfico, parece claro que existe una marcada
diferencia entre la epigrafía de la zona de Aliste-Miranda y la zona de Castro de Avelãs.
Esta diferenciación epigráfica refleja en realidad una diferenciación política, porque la
epigrafía es una indudable herramienta de poder, que en el caso de estas zonas rurales
del Noroeste es utilizada por las aristocracias locales como un elemento claro de auto
-propaganda y legitimación de su poder al frente de sus respectivas comunidades.
La existencia de dos zonas tan diferenciadas permite pensar, por tanto, en la posibilidad
de que se tratase, al menos desde época flavia, de dos entidades políticas diferenciadas,
situándose en la zona alistana-mirandesa una civitas cuyo nombre, de momento,
desconocemos. Esta posibilidad podría verse reforzada por los indicios mostrados en otros
análisis, como los arqueológicos u onomásticos (Beltrán 2016), que parecen reforzar esta
idea de división y que abren la posibilidad de seguir avanzando en la resolución de los
límites administrativos de esta zona tan compleja.

Fig. 3 - Propuesta de límites de civitates en la zona transduriana.

79
De esta manera, se pone de manifiesto la validez del estudio integral de la epigrafía
y su tratamiento como parte indivisible del registro arqueológico, como herramienta para
establecer los límites administrativos de algunas civitates, lo que se puede denominar
como la dimensión territorial de la epigrafía.

80
BIBLIOGRAFÍA

Alonso Ávila, Á. & Crespo Ortiz de Zárate, S. (2000). Corpus de inscripciones romanas de la provincia de
Zamora. Fuentes epigráficas para la historia social de Hispania romana (= CIRPZa). Salamanca.
Beltrán, A. (2016). Epigrafía y territorio: las civitates de la Asturia meridional y la Lusitania
nororiental (Doctoral dissertation, Universidad Complutense de Madrid).
Beltrán, A. & Alonso, F. (2010). El contexto epigráfico de Pino del Oro, Zamora: escritura. símbolo y poder
en el área transmontano–zamorano occidental. In I. Sastre – A. Beltrán (Eds.), El Bronce de El Picón (Pino del
Oro). Procesos de cambio en el occidente de Hispania, (pp. 175–200). Valladolid.
Beltrán, A., Reher, G., Alonso, F., Romero, D., Currás, B., Sastre, I. (2009). Inscripciones funerarias y votivas
de Villardiegua y Pino de oro: arqueología y epigrafía latina en Zamora. Conimbriga 48, 123-180.
Beltrán, A., Romero, D., Alonso, F. (2013). Epigrafía y poblamiento en el occidente de Zamora: Aliste y Alba»,
In R. M. Cid López & E. García Fernández (Eds.), Debita verba: estudios en homenaje al profesor Julio Mangas
Manjarrés (Vol. I, pp. 247–272). Oviedo.
Beltrán, A., Ruíz del Árbol, Mª, Sastre, I. (2015). Territorios imperiales en el occidente de la Península
Ibérica. Una visión desde el estudio del paisaje. In A. Beltrán, I. Sastre, M. Valdés (Eds.), Los espacios de la
esclavitud y la dependencia desde la antigüedad. Homaneja a Domingo Plácido. Actas del XXXV coloquio del
GIREA (pp. 607-621). Toulouse.
García Alonso, J. L. (2014). Ethnic names in Hispania. In J. L. García Alonso (Ed.), Celtic and Other
Languages in Ancient Europe, (pp. 83-100). Salamanca,
García Rozas, R. – Abásolo, J. A. (2012). Algunas aportaciones al conocimiento del panteón indígena en el
Occidente peninsular. In Diis Deabusque, Actas do II Colóquio Internacional de Epigrafia «Culto e Sociedade»,
Sintria III–IV (1995–2007), (pp. 165–180). Sintra.
González Rodríguez, Mª C. – Ramírez Sánchez, M. (2007). Observaciones sobre la mención de la origo
‘intra ciuitatem’ en la epigrafía funeraria de Hispania. In M. Mayer et al. (Eds.), Actas del XII Congressus
Internationalis Epigraphiae Graecae et Latinae (Barcelona 2002), (pp. 595-600). Barcelona.
González Rodríguez, Mª C. & Ramírez Sánchez, M. (2011). Unidades organizativas indígenas del área
indoeuropea de Hispania III: addenda, Veleia 28, 253–267.
Hernández Guerra, L. (2007): El tejido urbano de época romana en la Meseta septentrional. Salamanca.
Mangas, J. y Olano, M. (1995). Nueva inscripción latina. Castella y castellani del área astur, Gerión 13, 339-347.
Mañanes Pérez, T. (2014). Intercatia: un nombre y tres núcleos diferentes (castellum, mansio y civitas),
Oppidum 10, 19-34.
Navarro Caballero, M. (1998). Las estelas en la brecha de Santo Adrião. Observaciones tipológico-
cronológicas, BSAA 64, 175-206.
Sánchez-Palencia, F. J., Beltrán, A., Romero, D., Currás, B., Reher, G., Sastre, I. (2012). Zonas mineras
y civitates del noreste de Portugal en el Alto Imperio (zona fronteriza con España de los distritos de Braganza
y Castelo Branco), Informes y trabajos 9, 606-627.

81
Sánchez-Palencia, F. J., Beltrán, A., Romero, D. (2018). Enclosures and settlement strategies in the Arribes
del Duero. In J. C. Sastre, Ó. Rodríguez-Monterrubio, P. Fuentes (Eds.), Archaeology in the River Duero Valley
(pp. 147-171). Cambridge Scholars Publisihing.
Sastre, I. (2002): Onomástica y relaciones políticas en la epigrafía del Conventus Asturum durante el Alto
Imperio, (Anejos de AEspA XXV), Madrid.
Sastre, I., Sánchez-Palencia F. J. (2013). Clientela y minería del oro entre los cántabros vadinienses. In
R. M. Cid López & E. García Fernández (Eds.), Debita verba: estudios en homenaje al profesor Julio Mangas
Manjarrés (Vol. 2, pp. 253-270). Oviedo.
Olivares Pedreño, J. C. (2002). El dios Aernus y los zoelas, Iberia 5, 65-77.
Orejas y Morillo (2013). Asturica Augusta. Reflexiones sobre su estatuto y su papel territorial (finales del
siglo I a. d. C. - principios del siglo III d. C.)”, In R. M. Cid López & E. García Fernández (Eds.), Debita verba:
estudios en homenaje al profesor Julio Mangas Manjarrés (Vol. 2, pp. 93-119). Oviedo.
Redentor, A. (2002). Epigrafia romana da região de Bragança (= ERBB). Lisboa.
Tranoy, A. (1981). La Galice romaine. París.
VV.AA. (1991). Tabula Imperii Romani. Hoja K-29: Porto (TIR, K-29). Madrid.
VV.AA. (2007). Proyecto Interreg IIIA: Vías Augustas. Prospecciones Arqueológicas, Dip. Prov. De Zamora,
Zamora.

82
ÓSCAR
RODRÍGUEZ-
MONTERRUBIO
“NW CASTROS CULTURE” AND ITS CONTRAST WITH
PROTOHISTORIC COMMUNITIES OF THE LATE IRON AGE IN
THE REGION OF LOS MONTES DE LEÓN AND CONNECTED
TERRITORIES (ORENSE, LEÓN, ZAMORA AND BRAGANÇA).

ÓSCAR RODRÍGUEZ-MONTERRUBIO
1
orodmon@hotmail.com. Doctor por la UNED -Universidad Nacional de Educación a Distancia- y arqueólogo
de ZamoraProtohistorica. Doctor in Archaeology by the National University of Distance Studies and Archaeologist
in the Archaeological Protohistory Society ZamoraProtohistorica.

AN ANALYTICAL APPROACH ON THE IRON AGE SETTLEMENTS IN THE MONTES


DE LEON. ARCHAEOLOGY AND HISTORIOGRAPHY CONTRASTED.

CULTURA MATERIAL CASTREÑA Y SU CONTRASTE CON


LAS COMUNIDADES PROTOHISTÓRICAS DEL HIERRO II
EN LOS MONTES DE LEÓN Y TERRITORIOS ANEXOS (ORENSE,
LEON, ZAMORA Y BRAGANÇA).

UN ENFOQUE ANALÍTICO SOBRE LOS ASENTAMIENTOS DE LA EDAD DEL HIERRO


EN LOS MONTES DE LEÓN. ARQUEOLOGÍA E HISTORIOGRAFÍA A CONTRASTE.

ÓSCAR RODRÍGUEZ-MONTERRUBIO (UNED)1

ABSTRACT
Since the Omañas River in the North until the source of the Sabor River to the South
and from the basin of the Sil River to the West up to the eastern valleys of Esla and Orbigo

87
rivers, they extend the eastern territories of the north-western Cultura Castreña (Castros
or Hillforts culture in NW Spain) in an irregular territory dominated by the Montes de León
where there are located 498 Iron Age settlements. We have analysed more than 120
different technical, morphological, functional or territorial attributes for each of them like for
example the layout of the walls, types and combination of advanced or flanked-defences,
natural connectivity, visibility, and efficiency of the territory. It resulted in a big database
with over 27,000 data studied from an analytical perspective based on decomposing each
settlement in its most basic attributes and on integrating information from a comparative
process of components that we drive to create types, models and systems of settlement.
Once we have identified different models of settlement arising from the analysis of the
components we have some material cultures of the Late Iron Age which we can contrast
with Roman documental sources that identify the communities of inhabitants that populate
this region, the Asturi tribes and their gentilitates (groups of people inferior to tribes). The
result of a detailed investigation on the material cultures helps us to complete knowledge
about the historical communities of Late Iron Age as for example to define its territorial
boundaries, to understand their social or political organisation and his relationship with the
strategic natural resources and territory.

PALABRAS CLAVE
Cultura Castreña, Montes de León, Hierro II, Astures, Arqueología Analítica, Paisaje.

RESUMEN
Desde el río Omañas al norte hasta el nacimiento del río Sabor al sur y desde la cuenca
del río Sil al oeste hasta la de los ríos Esla y Órbigo al Este se extienden los territorios
orientales de la cultura castreña noroccidental en un territorio irregular dominado por los
Montes de León donde se encuentran situados 498 asentamientos de la Edad del Hierro.
Hemos analizado más de 120 atributos técnicos, morfológicos, funcionales o territoriales
diferentes para cada uno de ellos como por ejemplo el trazado de las murallas, tipos y
combinación de avanzadas o flanqueos, conectividad natural, visibilidad o eficacia del
territorio dando como resultado una big database con más de 27.000 datos. Hemos
estudiado esta información desde una perspectiva analítica basada en descomponer

88
cada asentamiento en sus atributos más básicos e integrar la información a partir de
un proceso comparativo de componentes que nos conduzca a crear tipologías de
asentamientos, modelos y sistemas de poblamiento. Una vez que hemos identificado los
diferentes modelos de poblamiento surgidos a partir del análisis de los componentes,
nos encontramos con unas culturas materiales del Hierro II que podemos contrastar con
las fuentes documentales romanas que identifican las comunidades de habitantes que
pueblan esta región, las tribus astures y sus gentilidades. El resultado de una investigación
exhaustiva sobre las culturas materiales nos ayuda a completar el conocimiento sobre
las comunidades históricas del Hierro II como por ejemplo definir sus delimitaciones
territoriales, comprender su organización social o política y su relación con los recursos
naturales estratégicos y el territorio.

KEYWORDS
Castros Culture, Montes de León, Late Iron Age, Asturi, Analytical Archaeology,
Landscape Archaeology.

89
1. THE INVESTIGATION

This paper is framed in the PH dissertation titled “Iron Age defensive systems in Los
Montes de León, the Protohistory in the north-western edge of the Iberian Northern Sub-
Plateau”, within the program of the Doctoral Studies on History and History of Arts and
the Territory, belonging to the Department of Prehistory and Archaeology of the National
Distance Education University (UNED) directed by Profs. Jesús Jordá Pardo and Mario
Menéndez. The process of investigation was also developed within the visiting students
program of the University of Cambridge, Department of Archaeology and sponsored and
supervised by Prof. Simon Stoddart. The description of this work is summarized as the
detailed study of the elements composinge the defensive systems of the settlements of the
Iron Age of the Montes de León, as well as the formal, technical and functional relationships
that exist between them. The procedure is part of a compilation of the information in primary
sources as archaeological artefacts and structures, materials or secondary ones as the
bibliographic references or/and the historical records. After an inventory of all the information,
we proceed to an analysis of the components forming part of each one of the settlements to
define in depth their relationships and the degree of cultural kinship (similarities) or on the
contrary the degree of differentiation among them all. This document here summarises
the results obtained after analysing the components of the Late Iron Age settlements and
its comparison with the territorial patterns provided by the historical documents recorded
by Romans about the presence of the indigenous historical communities to which these
settlements were supposed to be related with.

2. TERRITORY, SETTLEMENTS, SOURCES AND CHRONOLOGIES

2.1. THE TERRITORY


Los Montes de León form a mountainous range that works as a connection between the
Iberian Northern Sub-Plateau, the Gallaecian massif and the Cantabrian mountain range.
It is part of the set of mountain systems called of edge that delimit the central plateau of
the Iberian Peninsula (Fig. 1). It extends to the west of the provinces of León and Zamora

90
(Castilla y León), the east of the province of Ourense (Galicia), south of the province of
Lugo (Galicia) and the northeast of the district of Bragança (Tras-Os-Montes, Portugal).

Fig. 1 - Location of the Montes de León on aerial photography of Google Earth.

It is a mountainous territory where more than 67% of the landscape is over 1,000 metres
above sea level. Los Montes de León are part of a large bulging of the bedrock that shapes
the Iberian Massif, and which was fractured during the alpine orogeny giving rise to a
germanic type structure. Its mountains are horst or elevated blocks with soft tops that form
smooth ranges. These summits are surrounded by graben or sunken areas such as the
great tectonic fault of El Bierzo, which is filled by the materials of the surrounding mountains
eroded during the Cenozoic. The nature of the soil is diverse, the predominating rocks are
metamorphic with Paleozoic origin and from the Precambrian to the Silurian corresponding
more than two thirds of the substrate to materials of Origin Ordovician (Torres de Luna,
1986; Alberto Medeiros, 1988; Guichard, 1990; Moran Rodríguez, 1995).

91
2.2. THE SETTLEMENTS
In this extensive territory about 498 settlements have been found described as Iron Age
hillforts by researchers and excavations
led by a large number of scholars
since the late 19th century (fig. 2). In
this research we have inventoried all
the data registered by these previous
investigations, most of the information
comes from surveys and only about a 4%
of them have been excavated (fig. 3).

Fig. 2 - Distribution of the Iron Age settlements in


the territory of study-

Fig. 3 - Graph showing the origin of the information inventoried here.

92
2.3. THE SOURCES
The sources used in the investigation are as varied as numerous in types, methodologies
and approaches. Bibliographic references from previous investigations, cartographic and
geographic resources such as GIS, museums, and historical documents from Roman
writers were extremely useful to find the information. We can point out inventories of sites
(fig. 4) with short but descriptive information of a large number of site in different areas of
study, for instance Prof. Esparza investigations in Zamora (1986), researchers as Mañanes
(1988) or Orejas and Sánchez Palencia (1992) in Leon, Xusto Rodriguez in Galicia (1993)
or Sande Lemos in Portugal (1993) or Archaeologists such as Vidal Encinas (2015) in Leon
as well.

Fig. 4 - Territories in Los Montes de Leon and their inventories of sites bt author and year of publication.

More specific were the bibliographic resources from excavations presenting the results
obtained in individualized Iron Age hillforts (with the same number displayed on figure 5):
1.-“O Castro” and 2.-“Torre Velha” (Pereira Lopo, 1897; Sande Lemos, 1993), 3.-“Buraco
del Mouro” (Prieto, 1946), 4.-“Sacaojos” (Célis, 1993), 5.-“Castro de Fresno de Carballeda”
(Esparza, 1977, 1986), 6.-“El Cerco de Sejas” (Esparza, 1987), 7.-“Pico de Santo Toribio”

93
(Sánchez Palencia, 1982; Rodríguez-Monterrubio y Sastre Blanco, 2008), 8.-“El Castillo de
Manzanal” (Escribano Velasco,1990), 9.-“La Corona de Corporales” (Fernandez Posse and
Sánchez Palencia, 1983), 10.-“As Muradellas” (Esparza, 1986), 11.- La Pasion (Esparza,

1986), 12.-“La Corona/El Pesadero”


(Celis, 1989; Misiego et alii, 1998, 2003),
13.-“Cuestos de la Estación”, (de Celis,
1993), 14.-“El Castro Borrenes” (Sánchez
Palencia, 1996), 15.-“Las Labradas”
(Balado, 1999), 16.-“Castrelín de San
Juan de Paluezas” (Fernandez Posse,
2001), 17.-“Peña del Hombre” (Rodríguez
González and Vidal Encinas, 2001;
Fernández Manzano and Herrán Martínez,
2004; Celis, 2016), 18.-“Castro del Chano
de Peranzanes” (Sánchez Palencia,
Orejas y Sastre, 2002), 19.-“Castro de la
Ventosa” (Fernández Rodríguez and López
Fig. 5 - Location of the excavated Iron Age settlements
in Los Montes de León (cited in order in the text above). Pérez, 2002), 20.-“Peñas de la Cerca”
(Rodríguez-Monterrubio y Sastre Blanco, 2008, 2011), 21.
- “El Castillón” (Rodríguez y Sastre, 2008, 2011) and 22.-“El Castro” (Ferrer, 2012).

2.4. THE CHRONOLOGIES


Absolute chronologies are rare in Iron Age either because of the difficulty of preserving
organic remains in such acid soils and the issues generated by the so called “Hallstat
plateau” in radiocarbon dating (Hamilton, Haselgrove and Gosden, 2015).Most of the
chronologies are based on relative and comparative analysis related to pottery (castros
culture pottery), stone tools (querns and hand-mills) or dwelling structures. According to this
dating approach scholars and researchers have previously to this investigation categorised
settlements in Early Iron Age (8th to 5th c. BC) and Late Iron Age (5th c BC to 1st/2nd c. AD)
and so we follow. In this paper we concentrate our efforts in Late Iron Age, out from the 498
settlements almost all of them, a total of 485 have been inhabited in some moment during

94
the Late Iron Age between the 5th BC and the 1st AD, but that they all were sharing the
landscape in the same moment or periods is difficult to say.

3. METHODOLOGY. A CONTRASTIVE ANALYSIS OF ARCHAEOLOGICAL


COMPONENTS

An analysis of the settlements components in the Iron Age has been common in the
bibliography since the 20th century early 70s (Rodriguez-Monterrubio, 2016), It contemplates
the settlement as the object of study, as the archaeological evidence (Renfrew, 2012) and
its attributes as the components that can be observed (Clarke, 1978), compared, associated
and reintegrated again to establish connections between settlements, being the study of the
attribute the beginning of the analytical approach.

Fig. 6 - Data base file of the inventory used in this investigation.

95
Iron Age settlements, as archaeological evidence that they are, can be observable as
a whole and studied as part of a material culture, or a technological group, but can also
be studied from the attributes that compose them, for instance: accesses (Hogg, 1975),
lines and patterns (Dyer, 1992), ramparts (Berrocal-Rangel, 2004), strategic functions
(Ralston, 1995) or adaptability (González-Tablas, 1986). There is not a systematic list of
components to be applied in an analysis because, this process of decomposing a complex
reality in its components is elastic and extremely adaptative (Ching, 2005) but we have
defined from previous researchers a total of 106 components that describe the settlement
(table 1) and were used to construct a complex database (fig. 6). Several studies on
broad territories in the Iron Age can be analysed by applying analytical principles of the
compositional attributes of their settlements (Hogg, 1975; Forde-Johnston, 1976; Dyer,
1981; González - Tablas, 1986; Berrocal-Rangel, 1992; Ralston, 1992; Raftery, 1994; Cotter,
2003). The list below is only a selection, of course there are more examples of scholars and
researchers focusing on specific attributes of the Iron Age settlement.

Component/attribute REFERENCES
Raw materials Hogg (1975), Berrocal-Rangel (2004), Krausz (2007), Fichtl
(2007)
Enclosures Hogg (1975), Dyer (1981), Mañanes (1981), Esparza (1986),
Sande Lemos (1993), Fernandez Posse (1997), Berrocal-Rangel
Wall patterns
(2004), Payne, Corney y Cunliffe (2006), Krausz (2007), Fichtl
Side defences (2007), Villa (2007), Lorrío (2007), Álvarez Sanchís and Ruiz
Zapatero (2002), Fonte (2008), Papworth (2011)
Advanced defences
Dwelling organisation Dyer (1981), Fernandez Posse (1997), Berrocal-Rangel (2004),
Payne, Corney y Cunliffe (2006), Papworth (2011)
Masonry Dyer (1981), Berrocal (2004), Krausz (2007), Fichtl (2007)
Wall faces Dyer (1981), Berrocal-Rangel (2004), Krausz (2007), Fichtl
(2007), Villa (2007), Lorrío (2007
Wall’s integrity Berrocal-Rangel (2004)
Conservation Berrocal-Rangel (2004), Lorrío (2007)
Accesses Hogg (1975), Dyer (1981), Mañanes (1981), Esparza (1986),
Berrocal-Rangel (2004), Villa (2007), Lorrío (2007), Fonte (2008)
Natural defences Mañanes (1981), Esparza (1986), Berrocal-Rangel (2004),
Payne, Corney y Cunliffe (2006)

96
Defensive complexity Berrocal-Rangel (2004), Payne, Corney y Cunliffe (2006),
Dwelling techniques Dyer (1981), Mañanes (1981), Esparza (1986), Fernandez
Posse (1997), Payne, Corney y Cunliffe (2006),
Stone tools Mañanes (1981), Esparza (1986), Sande Lemos (1993)
Pottery Mañanes (1981), Esparza (1986), Sande Lemos (1993),
Papworth (2011)
Metallurgy Mañanes (1981), Esparza (1986), Sande Lemos (1993)
Defensive viability Dyer (1981), Ralston (1995), Fernandez Posse (1997), Berrocal-
Rangel (2004), Papworth (2011)
Economic strategies Dyer (1981), Ralston (1995), Fernandez Posse (1997), Sastre
Blanco (2013), Papworth (2011), O’Connor y Evans (2005),
Wilkinson y Stevens (2011)
Strategic resources Dyer (1981), Ralston (1995), Papworth (2011), O’Connor y
Evans (2005), Wilkinson y Stevens (2011)
Symbolism and Dyer (1981), Ralston (1995), Berrocal-Rangel (2004), Papworth
ostentation (2011)
Political hierarchies Dyer (1981), Fleming (1998) Krausz (2007), Fichtl (2007), Lorrío
(2007), Alvarez Sanchís and Ruiz Zapatero (2002), Papworth
(2011)
Surface Hogg (1975), Dyer (1981), Mañanes (1981), Esparza (1986),
Berrocal-Rangel (1992), Sande Lemos (1993), Payne, Corney y
Cunliffe (2006), Alvarez Sanchís and Ruiz Zapatero (2002)
Accessibility Berrocal-Rangel (2004), Payne, Corney y Cunliffe (2006)
Patterns of settlement Hogg (1975), Dyer (1981), Mañanes (1981), Esparza (1986),
Orton (1988), Sande Lemos (1993), Fernandez Posse (1997),
Berrocal-Rangel (2004), Payne, Corney y Cunliffe (2006), Villa
(2007), Alvarez Sanchís and Ruiz Zapatero (2002)
Altitudes Mañanes (1981), Esparza (1986), Sande Lemos (1993),
Berrocal-Rangel (2004), Parcero Oubiña (2002),
Adaptability González-Tablas (1986), Berrocal-Rangel (2004)
Landscape Parcero Oubiña (2002), Berrocal-Rangel (2004), Payne, Corney
y Cunliffe (2006), Papworth (2011), Burillo (2006 y 2009), Sastre
Blanco (2015)
Nearby altitude Parcero Oubiña (2002), Berrocal-Rangel (2004), Papworth
(2011)
Territoriality/territories Fleming (1998)

97
Settlement density Orton (1980)

Distances
Connectivity/visibility Berrocal-Rangel (2004)
Economic efficiency O’Connor y Evans (2005)
Table 1. List of compositional attributes present in previous research and bibliographical references

With these components identified and inventoried in a complex database (fig. 6) we


began to determine the main characteristics of the settlements of the Late Iron Age and
its geographical dispersion, which will be very useful for the process of contrasting these
archaeological data with the documentary record on the historical communities that
inhabited the territory.

4. KNOWN PROTOHISTORICAL COMMUNITIES: ASTURES AND GALAICI


4.1. THE HISTORICAL ROMAN RECORDS
The first indirect reference that we have found to the cultural group of the Astures and
Gallaeci It is found in the epic poem of Silio Italic Punic (Book I, 191, 231, 238 and 252)
written in the 1st century AD but narrating the events of the Second Punic War in the 3rd
century BC(Pastor Muñoz, 1978;Monte Mérida, 2015). With more historical relevance are
the mentions that Strabo (Gómez Espelosín, 2015) in Geography of Iberia, Pomponio
Mela, Pliny the Elder in Nat. Hist. IV (Moure, 2010), Ptolemy in Book II, 6 (Schulten
and alii, 1987) and Dion Casio (Santos Yaguas, 1981) in The Cantabrian Wars Classical
sources as well as the epigraphic ones refer to the Astures and/or Gallaeci as conventus
(territories with the same jurisdiction) assigning territories and locations to these indigenous
communities. Internal divisions were also defined, Pliny (Nat. Hist. III) divided the Astures
into Augustani (south) and Transmontanes (north), Ptolemy classifay the Gallaeci as
Lucenses (north, from the sea to the river Miño) and Bracarenses (south, between the rivers
Miño and Duero). Within this, we find subdivisions such as populi (tribes), gentes (clans),
gentilitates (kindreds) and civitates (less rural clans). In the 2nd century AD writers such
as Ptolemy, Strabo or Appian (Iber., 54) who wrote about these cultural conglomerates,
Pliny used the term populi to refer in this case to 22 communities from which only 3 were
described as civitates according to Ptolemy and 12 in Strabo.

98
4.2. EPIGRAPHIC SOURCES
Epigraphic sources related with the indigenous communities are classified mainly in three
types: hospitality pacts, such as The “Bronze of Bierzo” (Sánchez Palencia, 2001; Balboa
de Paz, 2001; Rodríguez Colmenero, 2000) from the 14-15 BC, The “Table of the Caurel”
(Hernando Sobrino, 2002; Alvar, 1995) which is dated in the 1st century AD and best known
is the “Pact of the Zoelas” bronze found in Astorga (Alvar, 1995) which renews in the year
152 AD a pact made more than a century ago (52 A.D.); stelae and gravestones with
references to inhabitants of indigenous origin dated between the 1st and 4th centuries AD
(Pastor Muñoz, 1978; Santos Yanguas, 1981); and Roman milestones linked to the ways
of communication with Asturica Augusta, (Rodríguez Colmenero, Ferrer Sierra and Álvarez
Asorey, 2004) appearing in the Antonine itinerary of the 2nd century AD and in the clay
tablets of Astorga (Pastor Muñoz, 1977). The main routes of communication that passed
through our territory of study connected Asturica with Lucus Augusti (Lugo) to the northwest
through the Via Nova and the via XIX, Bracara Augusta (Braga) and Aquae Flaviae
(Chaves) to the southwest through the via XVII and the Via Nova.

4.3. THE LATE IRON AGE PARADIGMATIC MODELS OF SETTLEMENT IN THE


BIBLIOGRAPHY
Romanization describes therefore the Protohistoric communities, the classical sources
(Epigraphic and writings) mention several hierarchies in the organization of the indigenous
peoples. Romans tried to understand a more complex and varied society than the one
they first contacted, and so scholars do at nowadays in broadly and explanatory models
of “paradigmatic” settlement of the pre-roman indigenous societies (Pastor Muñoz, 1978;
Santos Yangüas, 1981; Báez Mosque, 1994, Alvar, 1995; Sanz Villa, 1996; Almagro
Gorbea, 2009 or Parcero Oubiña and Armada, 2017 to cite some of them).
The oldest model of settlement that we have consulted in the bibliography is that
proposed by Pastor Muñoz (1978) that integrates epigraphic data and documents in a
paradigm of a thirty of Astures tribes that has been modified later with the integration of
more exact locations both in the Gallaecian (Tranoy, 1981 and Placido Suárez, 2002) and in
the Astur territories (Esparza, 1986; Fernández Ochoa, 2006 and Vicente González, 2011).
It is generally accepted that the Astures populi in the Montes de León are the

99
Fig. 7 - Proposal to locate the historical communities in Late Iron Age in los Montes de León according to
classical sources and bibliographic models.

communities of the Brigaecini, Baedunienses, Orniaci, Lungoni, Saelini, Supertii,


Amaci, Tiburi, Gigurri and Zoelae (divided in turn into Desonci, Tridiavori, Visaligores, y
Cabruagenigi) to which we can add the arniciores (Bragado Toranzo and García Martínez,

100
1997) and the iburri (Esparza, 1983, Báez Mezquita, 1994). In the Gallaecian territory it is
accepted that the Aobrigenses, Interamnici and Luances (Alvar, 1995), Tamagani and Limici
(Tranoy, 1981) occupied the southwestern end of territory that we study. Among all the
paradigmatic models that locate the historical communities in space we emphasize three
we consider fundamental to understand the Late Iron Age communities territories (Fig. 7):
Tranoy (1981), Fernández Ochoa (2006) and Vicente González (2011).

5. CONTRIBUTIONS TO THE KNOWLEDGE OF HISTORICALAL COMMUNITIES


AND MATERIAL CULTURES: THE ZOELAN TERRITORY AS A CASE STUDY

Among all these historic communities we are going to focus on the Zoelae as a case
study. Specifically, the southern territory of the Montes de León that belonged to the
northern area of the Zoelae influence that extends further south towards the Duero. If we
include the extracted information, we have obtained in the analysis of components of
the settlements located in this territory (table 1) we could contribute enormously to the
knowledge of these communities. At first sight after analysing the information from the
database, we identify the first symptom of differentiation that defines this Zoelae territory
and it is the result obtained in a territorial attribute that is the natural capacity of the
settlements for an effective connectivity among themselves following natural ways (rivers,

mountain passes or valleys) since 45% of


all the inventoried sites with an effective
connectivity are concentrated in this
space (fig. 8). This capacity to connect
settlements is the reason why in our
investigation we have called this type of
domination over the terrain as “connected
model of settlement”.
In general, we have detected attributes
that individualise the settlements of this

Fig. 8 - Distribution of the Late Iron Age settlements


with an efficient natural connectivity (green spots).
The line marks the territory ascribed to the Zoelae.

101
area traditionally ascribed to the Zoelae in relation to the rest of Los Montes de León
apart from this natural connectivity that we have detected. For instance: the increase of
settlements in Late Iron Age in comparison with the Early Iron Age is here a 21%, almost
the double than in the rest of the territory; the use of towers and secondary enclosures is
much more frequent considering that the 44% of the towers and the 45% of the secondary
enclosures are located in this area; the use of chevaux-des-frise is extremely high since
the 68% of the cases are concentrated in the territory of the Zoelae. When talking about
connectivity the high concentration of natural efficiency (fig. 8) means 7 of each 10 sites are
connected among them naturally when the average is inferior to 5 over 10, but on the other
hand connectivity with the strategical resources such as minerals, water bodies for supply
of water and fish, forests or meadows for the livestock farming activities, is inefficient which
means that settlements managed to reach directly via natural ways only 3 from 10 of the
available resources in the catchment areas and the 69% of the settlements in Los Montes de
León which are inefficiently connected with their nearby resources are concentrated here.
A total of 94 settlements from the Late Iron Age have been inventoried in the regions of
Bragança and Zamora that traditionally compose the territory of the Zoelae. Of these 94
settlements, 55 are hamlets without defensive viability, 32 are fortified villages or fortifications
and 7 are central settlements (Fig. 9).
The 55 hamlets or small settlements can be defined as mountain settlements with control
function on communications networks, resource capture and supplies routes. They are
generally defined as small-sized settlements with less than 3 has, settled on hills, slopes
or knolls in an adapted or natural way and with difficult or restricted accesses and with a
sunken altimetric pattern what means they are placed below the average altitudes of their
nearby environment. As a connected settlement as we have detected, they maintain better
connections between themselves than with resources and this is just the opposite than in
other areas of Los Montes de León, on the other hand, the visibility indexes are very low
even predominating the invisibility between settlements when it is much more effective
with the resources. The defensive systems are relatively simple, with unique enclosures
and unique walls, we find some cases of towers like side-defenses, but it is very common
the partial ditch as advanced-defenses, in any case, the defense is not viable because of
the sunken situation of the settlements in relation to their close more elevated landscape.
Economically they possess a low potential economic efficiency (relationship between
resources, spaces and distances), however they performed a prevailing supply network

102
control as main potential activity followed by hunting and mining based on the exploitation
of abundant mineral resources such as gold, copper, tin and iron. Among all the hamlets
we highlight as the main ones: Peña del Castro in Ribadelago (1, fig. 9), El Cerro del
Castro in San Román de Sanabria (2, fig. 9), Cigadonha en Moimenta (3, fig. 9), Torre de
Soutelo de Gamoedo (4, fig. 9), El Castro de las Viñas vines in Pobladura de Aliste (5, fig.
9) and El Castillo en Ferreras de Abajo (6, fig. 9) being the last two the largest ones not
only surpassing 3 ha but arriving even up to the 8. Other important Late Iron Age hamlets
are those with high potential economic efficiency indexes (control of strategic resources in
spaces near the settlement) as El Pico de Santo Toribio in Ferreros (7, fig. 9), As Muradellas
in Lubián (8, fig. 9), Castro de Quintela (9, fig. 9), Castrilhâo de Pinheiro Novo In Torre de
Maças (10, fig. 9),El Castrico in Mahide (11, fig. 9), Castro Furnía in Escober de Tábara
(12, fig. 9). Castro de Sapeira en Babe (13, Fig. 9) and El Castillo in Cional (14, fig. 9) stand
out for their complex defenses that include even cheveux-de frise although the defensive
function is not viable.
Secondly, we can define the 32 defensive villages or hamlets as proper hillforts. They
had restricted access; they were adapted to the terrain or natural; built on hills and knolls;
small-sized with less than 3 ha; effective settlement connectivity, with sufficient or deficit
resources, and strategic visibility is also effective; where we find a significant difference
is in the intervisibility between settlements which is much higher than in non-defensive
hamlets. In the defensive system they also differ, they clearly have an effective fortification
with acropolises as side-defenses and terraces and ditches as advanced- defenses which
with various enclosures and walls make the defense viable. They do not have high indexes
of economic efficiency and control directly (visual and natural) other settlements that at
turn they control the tracks of communication and supplies routes Articulating in this way
the control of the territory and the resources thanks to the relationship between control of
river fords and the connection between settlements and fortifications. Of all the fortifications
we will highlight as major examples for possessing more complex defensive systems the
next sites: El Castro A Estrada in Hermisende (15, fig. 9), El Castriello in Doney (16, fig. 9),
Cidadelha de Vinhais, (17, fig. 9) Lombeiro do Castro en Oleiros (18, fig. 9), Castragosa
in Babe (19, fig. 9), El Castro de Riomanzanas (20, fig. 9), El Castro in Pobladura de Aliste
(21, fig. 9), Peña del Castillo in Boya (22, fig. 9) And Peña Valdemera at Ferreras de Arriba
(23, fig. 9).

103
Fig. 7 - Distribution of the Late Iron Age settlements in the southern area of Los Montes de León (northern
Zoelae territory).

Finally, the 7 central settlements could be defined within the category of oppida. They are
central settlements since the analysis of its components reveals a defensive viability with
more complex systems, a dominion over the territory (altitude, visibility, connectivity), a high
economic potentiality (strategic resources Varied and upcoming) and generally larger sizes.
Of these oppida three appear in the Roman sources being Curunda (24, Fig. 9) located in
Castro Avelhas and/or Torre Velha, Bragança (Sande Lemos, 1993), Veniatia (25, fig. 9)
possibly located in El Castro de Peña del Castillo in Villardeciervos, Zamora (Pastor Muñoz,
1978) y Compleutica (26, Fig. 9) for which we propose the location of Sacoias in Bragança
since it is a central settlement and could fit in the calculation of distances of the Antonine
Itinerary between the two mansiones previously mentioned (Pastor Muñoz, 1978). The other
four central settlements or oppida in this case secondary central sites are identified with the
settlements of Peñas de la Cerca (27, fig. 9), Villa de Souane in Cisterna (28, Fig. 9),
El Castillo de Manzanal de Abajo (29, fig. 9) and El Castro de Abejera (30, fig. 9).

104
REFERENCES

Alberto Medeiros, C. (1988). Geografía humana de Portugal. Barcelona: Oikos-Tau.


Almagro Gorbea, M., Arteaga, O., Blech, M., Ruiz Mata, D., & Schubart, H. (2009). Protohistoria de la
Península Ibérica. Madrid: Ariel.
Alvar, J. (1995). De Argantonio a los romanos, la Iberia protohistórica. Madrid: Historia 16.
Álvarez Sanchís, J., & Ruiz Zapatero, G. (2002). Etnicidad y Arqueología: tras la identidad de los vettones.
SPAL(11), 253-275.
Apiano. (2015). Historia de Roma: sobre Hispania. Leipzig: Amazon Distribution.
Armada, X., Parcero Oubiña, C., & Ayán, X. (2017). Castros en la escalera: el noroeste entre la normalida
y la indiferencia. En S. Celestino Pérez, La Protohistoria en la Península IBérica (págs. 815-866). Madrid:
Ediciones Akal.
Báez Mezquita, J. (1994). Asentamientos, morfologias y tipologías rurales. Zamora: Colección de etnografía
Luis Cortés Vázquez, CSIC.
Balado Pachón, A. (1999). Excavación arqueológica en el castro de Las Labradas. Anuario del Instituto de
Estudios Zamoranos Florian de Ocampo, 17-42.
Balboa de Paz, J. (2001). El bronce del Bierzo. Argutorio, 20-24.
Berrocal-Rangel, L. (1992). Los pueblos célticos del suroeste de la Península Ibérica. Extra Complutum, 2.
Berrocal-Rangel, L. (2004). La defensa de la comunidad. Sobre las funciones emblemáticas de las murallas
protohistóricas en la Península Ibérica. Gladius XXIV, 27-98.
Bragado Toranzo, J. (1997). Sobre una nueva deidad indígena en el Conventus Asturum. Studia Zamorensia,
IV, 21-31.
Burillo Mazota, F. (2006). Oppida y ciudades estado del Norte de Hispania con anterioridad al 153 a.C. En
F. Burillo, Segeda y su contexto histórico: entre Caton y Nobilior (105 al 153 a.C.). Homenaje a Antonio Beltrán
Martínez (págs. 35-70). Centro de estudios celtibéricos de Segeda.
Celis Sánchez, J. (1993). La secuencia del poblado de la Primera Edad del Hierro de los Cuestos de la
Estación (Benavente). En F. Romero, C. Sanz, & Z. Escudero, Arqueología Vaccea: Estudios sobre el mundo
prerromano en la cuenca media del Duero (págs. 93-132). Valladolid: Junta de Castilla y León.
Celis Sánchez, J., & Gutiérrez González, J. (1989). Noticia de la excavación de urgencia en “El Pesadero”,
Manganeses de la Polvorosa (Zamora). Anuario del Instituto de Estudios Zamoranos Florián de Ocampo,
161-171.
Celis Sánchez, J., Esparza, A., & Velasco Vázquez, J. (2016). Notas sobre la fase “Soto formativo” en el
poblado de Los Cuestos de la Estación (benavente, Zamora). BSAA Arqueología(82), 63-85.
Ching, F. (2005). Arquitectura: Forma, espacio y orden. Ciudad de México: Editorial Gustavo Gili.
Clarke, D. (1978). Analytical Archaeology. London: Methuen & Co.Ltd.
Colmenero, R. (2000). El más antiguo documento (año 15 a.C.) hallado en el noroeste penínsular ibérico.
Un edicto de Augusto sobre tabula broncínea, enviado a Susarros y Gigurros desde Narbona, de viaje por
España. CEG(112), 9-42.

105
Cotter, C. (2003). The cultural background of Irish Forts with cheveux-de-frise. Cheveux-de-frise i fortificació
en la primera Edat del Ferro europea (págs. 101-118). Lleida: Universitat de Lleida.
Dyer, J. (1992). Hillforts of England and Wales. Shire Publications.
Escribano Velasco, C. (1990). Contribución al estudio de la Edad del Hierro en el occidente de Zamora y su
relación con el horizonte del Soto de Medinilla: “El Castillo”, Manzanal de Abajo (Zamora). Anuario Instituto de
Estudios Zamoranos Florian de Ocampo, 211-263.
Esparza Arroyo, A. (1977). El castro zamorano del Pedroso y sus insculturas. Boletín del Seminario de
estudios de Arte y Arqueología: BSAA(43), 27-39.
Esparza Arroyo, A. (1986). Los castros de la Edad del Hierro del noroeste de Zamora. Zamora: Instituto de
Estudios Florian de Ocampo.
Fernández Manzano, J., & Herrán Martínez, J. (2004). Una espada de lengua de Carpa hallada en Paradela
de Muces (El Bierzo, León). Lancia: revista de Prehistoria, Arqueología e Historia Antigua del noroeste
peninsular(6), 77-85.
Fernández Ochoa, C. (2006). Los castros y el inicio de la romanización en Asturias. Zephyrus, 275-288.
Fernández Rodríguez, C., & López Pérez, C. (2002). Análisis de un conjunto de materiales arqueológicos
procedentes del Castro de La Ventosa (El Bierzo, León). En J. Balboa de Paz, I. Díaz Álvarez, & V. Fernández
Vázquez, Actas de las jornadas sobre Castro Ventosa (Cacabelos, León) (págs. 49-62). León: Patronato del
Patrimonio Cultural de Cacabelos.
Fernández-Posse, M. (1997). Ocupación del territorio y estructura social de las poblaciones castreñas
astures. Coloquio, o Iº milénio a.c. no noroeste peninsular a fachada atlântica e o interior (págs. 87-107).
Bragança: Parque Natural de Montesinho.
Fernández-Posse, M. (2001). El castro prerromano de El Castrelín. León: Instituto Patrimonio Histórico
español, Fundación Las Médulas y Obra Cultural de Caja España.
Fernández-Posse, M., & Sánchez Palencia, F. (1983). La Corona y el Castro de Corporales II. Campaña
de 1983 y prospecciones en La Valdería y en La Cabrera (León). Madrid: E.A.E.
Ferrer Sierra, S. (2012). Una plaza cubre los restos de un castro en O Barco de Valdeorras. (J. Cruz,
Entrevistador) Periodico La Región. Obtenido de http://www.laregion.es/articulo/valdeorras/plaza-cubre-restos-
arqueologicos-castro/20130622074011010422.html.
Fichtl, S. (2007). Architectures des remparts celtiques de La Tène finale dans l’Est de la Gaule. En P. Moret,
& L. Berrocal-Rangel, Paisajes Fortificados de la Edad del Hierro (págs. 1-21). Madrid: Real Academia de la
Historia, Comisión de Antigüedades. Publicaciones del Gabinete de Antigüedades. Bibliotheca Archaeologica
Hispana 28.
Fleming, A. (1998). Prehistoric landscapes and the quest for the territorial pattern. En P. Everson, & T.
Williamson, Archaeology of the Landscape. Manchester: Manchester University Press.
Fonte, J. (2008). Sistemas defensivos proto-historicos de Tras-Os-Montes Occidental. Cuadernos de
Estudios Gallegos, 55, 9-29.
Forde-Jonhston, J. (1976). Hillforts of the Iron Age in England and Wales. Liverpool: Liverpool University
press.
Gómez Espelosín, J. (2015). Estrabón. Geografía de Iberia. (J. Gómez Espelosín, Trad.) Madrid: Alianza.

106
González-Tablas, F., Arias González, L., & Benito Álvarez, J. (1986). Estudio de la relación relieve/sistema
defensivo de los castros abulenses (fines de la Edad del bronce-Edad del Hierro). Arqueología espacial,
9, 113-126.
Guichard, F. (1990). Geographie du Portugal. Paris: Masson.
Hamilton, W. D., Haselgrove, C., & Gosden, C. (2015). The impact of Bayesian chronologies on the British
Iron Age. World Archaeology, 47:4, 642-660.
Hernando Sobrino, M. (2002). Nota sobre nota, el bronce del Bierzo y la Tabula del Caurel. Gerión, 20(2),
577-584.
Hogg, A. (1975). A guide to the hill-forts of Britain. Londres: Hart Davis, MacGibbon.
Krausz, S. (2007). Les remparts celtiques du Centre de la France. En L. Berrocal-Rangel, & P. Moret,
Paisajes fortificados de la Edad del Hierro. Las murallas protohistóricas de la Meseta y la vertiente atlántica
en su contexto europeo (págs. 135-149). Madrid: Real Academia de la Historia, Comisión de Antigüedades.
Publicaciones del Gabinete de Antigüedades. Bibliotheca Archaeologica Hispana 28.
Lorrío Alvarado, A. (2007). EL Molón (Camporrobles, Valencia) y su territorio: fortificaciones y paisaje
fortificado en un espacio de frontera. En L. Berrocal-Rangel, & P. Moret, Paisajes fortificados de la Edad del
Hierro: Las murallas protohistóricas de la Meseta y su vertiente atlántica en su contexto europeo (págs. 213-
236). Madrid: Real Academia de la Historia. Casa de Velázquez.
Mañanes, T. (1988). Arqueología de la cuenca leonesa del río Sil (Laceana, Bierzo y Cabrera). Valladolid:
Univrsidad de Valladolid.
Misiego-Tejada, J. C., Martín Carbajo, M., Sanz García, F., & Marcos Contreras, G. (2003). Últimas
investigaciones de la Edad del Hierro en la provincia de Zamora: el yacimiento de “La Corona/El Pesadero”,
en Manganeses de la Polvorosa. II congreso de Historia de Zamora. Zamora: Instituto de Estudios Zamoranos
Florián de Ocampo.
Misiego-Tejada, J. C., Martín Carbajo, M., Sanz García, F., Marcos Contreras, G., & Larrén Izquierdo, H.
(1998). Arqueología en el territorio astur: La Corona/El Pesadero (Zamora). Revista de Arqueología(19), 24-35.
Montes Mérida, J. (2015). Púnica de Silio Itálico: introducción, edición crítica y comentario filológico. Tesis
doctoral, dirigida por María Luisa Arribas Hernáez. (D. d. Filología, Ed.) Madrid: UNED.
Morán Rodríguez, M. (1995). Medio natural y hábitat en la provincia de Zamora. Zamora: Cuadernos de
Investigación Florián de Ocampo.
Moure, A. (2010). Plinio el Viejo. Historia Natural. Libros XII-XVI. (A. Moure Casas, Trad.) Gredos.
O’Connor, T., & Evans, J. (2005). Environmental Archaeology, principles and methods. Stroud:
Sutton Ltd. Publishing.
Orejas, A., & Sánchez Palencia, F. (1992). La minería de oro del noroeste peninsular: tecnología,
organización y poblamiento. Minería y metalurgia en la España prerromana y romana (págs. 147-233).
Fuenteovejuna, Córdoba: Seminarios Fons Mellaria.
Orton, C. (1980). Matemáticas para arqueólogos. Alianza Editorial.
Papworth, M. (2011). The search for the durotriges. Dorset and the West Country in the Late Iron Age.
Stroud, Gloucestershire: The History Press.

107
Parcero Oubiña, C. (2002). La construcción del paisaje social en la Edad del Hierro del Noroeste Ibérico.
Ortigueira: Fundación F.M.Ortegalia, Instituto de Estudios Galegos Padre Sarmiento (CSIC- Xunta de Galicia).
Pastor Muñoz, M. (1977). Los astures duranre el impero romano. Oviedo: Instituto de estudios asturianos.
Payne, A., Corney, M., & Cunliffe, B. (2006). The Wessex hillforts project. Londres: English Heritage.
Pereira Lopo, A. (1897). Miranda arqueológica. O Arqueólogo Português(1 serie, 3), 212-213.
Plácido Suárez, D. (2002). La estructura territorial y étnica del Conventus Bracarensis. Minius, 111-134.
Prieto, L. (1946). Antigas minas del rio Camba. BCMOR(XV. Fásc. III), 116-121.
Raftery, B. (1994). Pagan celtic ireland. London: Thames and Hudson.
Ralston, I. (1992). Les enceintes fortifies du Limousin, les habitats protohistoriques de la France non
mediteraneene. Paris: Documents d’Archaeologie française.
Ralston, I. (1995). Fortification and defence. Green, 59-81.
Renfrew, C., & Bahn, P. (2012 (6ª ed.)). Archaeology, theory, methods and practice. Londres: Thames and
Hudson.
Rodríguez Colmenero, A., Ferrer Sierra, S., & Álvarez Asorey, R. (2004). Miliarios e outras inscricions viarias
romanas do noroeste hispánico (conventus bracarense, lucense e asturicense). Santiago de Compostela:
Consello de cultura galega. Sección de patrimonio histórico .
Rodríguez González, P., & Vidal Encina, M. (2001). Dos nuevos castros en al red de canales de Las
Médulas. Estudios bercianos(27), 80-81.
Rodríguez-Monterrubio, Ó. (2016). Enfoques metodológicos en el estudio de los asentamientos fortificados
de la Edad del Hierro. Aproxiomación teórica a la metodología de estudio sobre la defensa del territorio en la
Prehistoria FInal Europea. Oxford: Archaeopress Pblishing Ltd.
Rodríguez-Monterrubio, O., & Sastre Blanco, J. C. (2008). Aproximación a los trabajos de investigación
en los castros de Peñas de la Cerca y de El Castillón (Zamora). Actas de las I Jornadas en Investigación
Arqueológica, dialogando con la cultura material (págs. 271-279). Madrid: OrJia, Compañia Española de
Repografía y Servicios, S.A.
Rodríguez-Monterrubio, O., & Sastre Blanco, J. C. (2011). El control del territorio y sus recursos desde la
Edad del Hierro hasta la Antigüedad Tardía. Actas de las V Jornadas de Investigación del departamento de
Prehistoria y Arqueología de la Universidad Autónoma de Madrid. Madrid: UAM.
Sánchez Palencia, F. (1982). Cántabros, Astures y Galaicos. Madrid: Dirección general de Arqueología y
Patrimonio.
Sánchez Palencia, F. (1996). La zona arqueológica de Las Médulas, León. Guía arqueológica. León:
Consejería de educación y cultura de la Junta de Castilla y León.
Sánchez Palencia, F., & Mangas, J. (2001). El edicto del Bierzo. Augusto y el Noroeste de Hispania.
Ponferrada: Fundación Las Médulas.
Sánchez Palencia, F., Orejas, A., Sastre, I., & Ruiz del Arbol, M. (2002). La minería y la metalurgia en
época romana en general, en la singular zona del Bierzo. En J. Mata Perelló, & J. González Pérez (Ed.),
Primer simposio sobre la minería y la metalurgia en el Sudoeste Europeo. 2, págs. 277-290. Segría: Centre
d’Arqueologia d’Avinganya, Serós.

108
Sande Lemos, F. (1993). Povoamento romano de Trás-Os-Montes Oriental. Estudios de Arqueologia
no nordeste transmontano o quadro geográfico, o povoamento proto-histórico e o povoamento romano.
(Dissertaçao de Doutoramento na especialidade de Pré-Historia e Historia da Antiguidade. Braga:
Universidade de Braga.
Santos Yanguas, N. (1981). El ejército romano y la romanización de los astures. Oviedo: Asturlibros.
Sanz Villa, J. (1996). Los dioses astures. León: Instituto leonés de cultura.
Sastre Blanco, J. C., & Rodríguez-Monterrubio, Ó. (2013). Estado de conservación del Arte Esquemático
en la Provincia de Zamora: situación actual y medios de protección para su preservación. En J. M. Garcis, & M.
S. Pérez (Ed.), Actas del II Congreso de Arte Rupestre Esquemático en la Península Ibérica 2010 (págs. 202-
210). Vélez-Blanco: Ayuntamiento de Vélez-Blanco.
Sastre Blanco, J. C., Rodríguez-Monterrubio, Ó., Fuentes Melgar, P., & Vázquez Fadón, M. (2015).
El yacimiento arqueológico de El Castillón (Santa Eulalia de Tábara, Zamora). Un Enclave tardoantiguo a orillas
del Esla. Valladolid: Glyphos publicaciones.
Schulten, A., & Maluquer, J. (1987). Hispania Antigua según Pomponio Mela, Plinio el Viejo y Claudio
Ptolomeo. Fontes Hispaniae Antiquae.
Torres de Luna, M. (1986). Geografía de Galicia: el medio físico. A Coruña: Xuntanza.
Tranoy, A. (1981). La Galice romaine. Paris: Centre Pierre Paris, CNRS Bourdeaux III.
Vicente González, J. (2011). Bellum Asturicum: una hipótesis ajustada a la historiografía romana y al marco
arqueológico y geográfico de la comarca de Los Valles de Benavente y su entorno. Argutorio(27), 4-10.
Vidal Encinas, L. (2015). Los castros arriscados en la provincia de León: Un grupo castreño singular. I
Jornadas internacionales “Evolución de los espacios urbanos y sus territorios en el noroeste de la Península
Ibérica (págs. 339-441). León: Universidad de León.
Villa Valdés, A. (2007). El Chao San Martín (Grandas de Salime, Asturias) y el paisaje fortificado en la
Asturias protohistórica. En L. Berrocal-Rangel, & P. Moret, Paisajes fortificados de la Edad del Hierro: Las
murallas protohistóricas de la Meseta y su vertiente atlántica en su contexto europeo (págs. 191-212). Madrid:
Real Academia de las Historia. Casa de Velázquez.
Wilkinson, K., & Stevens, C. (2011). Environmental Archaeology. Approaches, techniques and Applications.
London: Tempus Publishing Ltd.
Xusto Rodríguez, M. (1993). Territorialidade castrexa e galaico-romana na Galicia suroriental: a Terra de
Viana do Bolo. Orense: Boletín Auriense, Museo Arqueolóxico Provincial Ourense.

109
LUÍS
MAGARINHOS
IGLESIAS
IDENTIFICAÇÕES, SÍMBOLOS E ALTERIDADES
DOS CALLAECI DA ANTIGUIDADE: A CAETRA DO LABIRINTO
E AS SUAS REPRESENTAÇÕES

LUÍS MAGARINHOS1

1
Doutorando em História Antiga/Arqueologia (Universidade de Santiago de Compostela), mestre em
Arqueologia, Ciências da Antiguidade e Cultura Comparada (Universidade de Santiago de Compostela) e
licenciado em Humanidades (Universitat Pompeu Fabra de Barcelona). Com formação interdisciplinar no campo
das ciências sociais e humanidades tem dedicado especial atenção aos estudos histórico-culturais no âmbito
europeu e lusófono. Ampliou estudos nas universidades de Vigo, Porto e Presbiteriana Mackenzie (São Paulo,
Brasil).

RESUMO
Neste trabalho abordamos a questão da caetra do labirinto e as suas representações
iconocráficas e simbólicas de alteridade. A caetra como arma defensiva central dos
guerreiros galaicos da Idade do Ferro cuja função símbolica apotropaica fica posteriormente
apropriada por Roma na sua representação em moedas e relevos petrificados, como uma
constatação da dominação não só militar ou política, mas também simbólica na representação
da conquista, a victória e o submetimento.

PALAVRAS CHAVE
callaeci, galaicos, caetra, guerreiros, roma.

ABSTRACT
In this work we address the issue of the caetra of the labyrinth and its iconocraphic
and symbolic representations of alterity. The caetra as a central defensive weapon
of the Galician warriors of the Iron Age whose symbolic apotropaic function is later
appropriatednby Rome in its representation in coins and petrified reliefs, as a confirmation
of the domination not only military or political, but also symbolic in the representation of the
conquest, the victory and the submission.

KEYWORDS
callaeci, galaicos, caetra, warriors, rome.

113
A CAETRA GALAICA: UMA REPRESENTAÇÃO APOTROPAICA?

Não podemos afirmar que o símbolo que aparece representado em várias das estátuas2
dos chamados guerreiros galaicos ou Galaico-Lusitanos do NW seja um labirinto strictu
sensu, mas sim apresenta importantes pontos em comum com este símbolo na sua
representação dum centro protegido por uma série de caminhos mais ou menos sinuosos
que levam a ele. No entanto, decidimos neste trabalho interpretar este símbolo galaico tão
característico desde uma perspectiva semiológica do labirinto como tal. E no reforço deste
argumento, cabe ressaltar outras representações esquemáticas de simples meandros
canonicamente aceites como labirintos no mundo clássico (de Velasco Abellán, 1992:
passim), ou representações de labirintos uni-cursais, sem bifurcações (Phillips, 1992:
321-329), bastante similares aos que podemos observar nas estátuas dos guerreiros
galaicos (vid. Fig 28).

Fig. 1 - [1] Mosaico romano de Avenches, Suíça. [2] Escudo de guerreiro (950-750 a.C.) The National Museum
of Scotland. [3] Reconstrução da caetra (Polito, 2012: 142) do guerreiro de Cendufe [4].

Nesse sentido, há um consenso bastante generalizado (Dorado, 1995: passim;


Chevalier, 1986: 620-622; Kern & Saward, 2000; Quesada Sanz, 2003: 98) quanto à
ideia de que o labirinto tem representado ao longo da história um efeito eminentemente
apotropaico. Isto é, uma função simbólica defensiva de afastamento dos maus espíritos e
do mal em geral. Nesse sentido, o instinto de sobrevivência faz com que algumas acções
pulsionais que não têm uma explicação racional aparente, como matar um insecto ou
afastar certas situações perigosas, estejam na origem dos actos apotropaicos, como

Guerreiros de Lezenho e Cendufe (Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa), Armea (Museo Arqueolóxico de
2

Ourense) e São Jorge de Vizela (Museu Martins Sarmento de Guimarães).

114
vestígios desses impulsos próprios do instinto primário evolutivo, e sendo justamente o
labirinto uma das representações apotropaicas mais habituais nas mais diversas culturas.
Assim, normalmente, o centro do labirinto poderia representar o centro do mundo ou
ponto central origem e fim de tudo, o centro como lugar sagrado ao que só se poderia
chegar a través dum difícil percurso (Chevalier 1986: 620-622).
O labirinto tem sido usado também como sistema de defesa nas entradas das cidades
fortificadas para proteger a casa ou a cidade, o centro do mundo, representando a
proteção, não só contra o inimigo, mas também contra as influências maléficas. O labirinto
representaria um “símbolo de um sistema de defesa, que anuncia a presença de algo
precioso ou sagrado [o seu centro] e esta pode ter uma função militar ou guerreira, para
defender um território, uma aldeia, uma cidade, um túmulo ou um tesouro, só permitindo o
acesso a aqueles que conhecem os planos, os iniciados” (Chevalier, 1986: 620-622).
Mas o labirinto também pode ter uma função religiosa de defesa contra o mal, de
defensa contra aquele que pretende intrometer-se e destruir os segredos mais íntimos,
o sagrado, o divino. O centro do labirinto está reservado ao iniciado, aquele que superou
todos os ritos iniciáticos e todas as provas para ser digno de aceder a ele. E quem alcançar
o centro, tornar-se-á uma pessoa consagrada, vinculada à verdade e aos conhecimentos
mais secretos: “O ritual labiríntico em que se baseia o cerimonial do iniciado tem apenas
por assunto ensinar o neófito no decurso da sua vida na terra, como chegar sem se desviar,
nos territórios de morte à porta de uma outra vida. Assim “todas estas provas rituais no
espaço do labirinto reduzem-se a penetrar com sucesso num espaço dificilmente acessível,
bem defendido, e onde se encontra um símbolo mais ou menos transparente da potência,
da sacralidade e da imortalidade” (Chevalier 1986: 620-622).
O labirinto conduz também ao interior de um mesmo, ao santuário interior oculto onde
reside o mais misterioso do ser humano. Podemos pensar aqui nas profundidades do
inconsciente. Mas para chegarmos lá é preciso transcorrer o sinuoso e iniciático caminho
do labirinto. Ronnberg & Martin (2011: 714) dizem-nos que a “natureza essencialmente
dupla e paradoxal do labirinto é circular e linear ao mesmo tempo, simples e complexa,
histórica e temporal. Contida num espaço compacto, uma comprida e difícil via que dá
constantemente media volta, levando-nos indirectamente a um misterioso e invisível
centro. Esta dualidade paradoxal reflecte o propósito psicoterapêutico de tactear o caminho

115
através do sofrimento a escuridão e a confusão, com o alvo de ampliar a capacidade para o
discernimento e a perspectiva.”

GUERREIROS GALAICOS OU GALAICO-LUSITANOS?

Das mais de 30 estátuas de guerreiros da Idade do Ferro encontradas no Noroeste


peninsular, todas menos uma (A Guarda, Portugal), apareceram a norte do rio Douro (vid.
Fig. 33), no território do que logo viria a ser a província romana da Gallaecia. Entendemos
portanto lógica a denominação de guerreiros galaicos, ainda que aceitemos também a
forma secundária denominar estas estátuas como guerreiros galaico-lusitanos, tendo em
conta a proximidade etno-cultural e geográfica de ambos populus, tal como se relata nas
fontes antigas.

O ETHOS GUERREIRO DOS GALAICOS NAS FONTES

Nas fontes clássicas encontramos diversas referências aos callaeci, quer nos textos
gregos quer nos latinos. Mas relativamente ao nosso trabalho, e dado que estamos a falar
de panóplia de combate como é o caso da caetra, interessa-nos saber qual é a visão que
os romanos tinham deste povo a nível militar e guerreiro.
Assim Estrabão em Geografia 3.3.2 diz textualmente:

“Καλλαϊκοὶ δ’ ὕστατοι, τῆς ὀρεινῆς ἐπέχοντες πολλήν· διὸ καὶ δυσμαχώτατοι


ὄντες τῷ τε καταπολεμήσαντι τοὺς Λυσιτανοὺς αὐτοὶ παρέσχον τὴν
ἐπωνυμίαν, καὶ νῦν ἤδη τοὺς πλείστους τῶν Λυσιτανῶν Καλλαϊκοὺς καλεῖσθαι
παρεσκεύασαν.”

“os galaicos ocupam grande parte da zona montanhosa. Por isso e por serem [os]3

3
Não há um critério unánime entre as diferentes traduções na hora de afirmar se foram “mais” difíceis de
combater (cf. Gómez Espelosín, J. (trad.). Estrabón. Geografía de Iberia. Madrid: Alizanza Editorial.) ou “os mais”
difíceis de combater. (cf. Meana, & Piñeiro (ed.), 1988. Estrab. Geo. III. Madrid: Gredos.)

116
mais difíceis de combater deram o sobrenome a quem vencera os lusitanos, e
fizeram que a maioria de lusitanos sejam conhecidos actualmente como galaicos.”

Como podemos comprovar, a imagem que nos transmite Estrabão era a dum povo muito
difícil de combater e conquistar daí que o Cognomem ex Virtute recebido por Décimo Júnio
Bruto fora o de Callaicus e não por exemplo o de Lusitanicus, ainda quando este combateu
e submeteu do mesmo jeito os povos a sul do Douro. Mas dispomos de outras referências
que, ainda sendo mais tardias,4 não deixam de aportar informação interessante. Por sua
vez, Orósio (Hist. adv. pag. VII. 5. 5) descreveu o confronto militar entre as legiões de Bruto
e os callaeci nos seguintes termos:

“Interea Brutus [...] sexaginta millia Gallaecorum, qui Lusitanis auxilio venerant,
asperrimo bello et difficili, quamvis incautos circumvenisset, oppressit. Quorum in eo
praelio quinquaginta millia occisa, sex millia capta referuntur, pauci fuga evaserunt.”

“enquanto isso [...] Bruto derrotou a sessenta mil galaicos que vieram auxiliar
os lusitanos numa batalha cruenta e difícil mesmo sendo cercados por surpresa.
Nesta batalha morreram cinqüenta mil, seis mil foram cautivos e muito poucos
conseguiram fugir.”

Ovídio (Fast. VI. 12. 461) atreve-se a datar no dia 9 de Junho [137 a.C.] esta batalha
cujo lugar exacto desconhecemos:

“Turn sibi Callaico Brutus cognomen ab hoste fecit”

“Então Bruto ganhou seu sobrenome a partir dos inimigos galaicos e tingiu de
sangue a terra hispana”

Nestas três referências vemos portanto que no imaginário romano5 há uma clara

4
Séculos IV-V d.C.
5
A de Paulo Orósio é uma fonte de finais do S. IV ou princípios do V, porém baseada em textos mais antigos.

117
percepção do forte ethos guerreiro dos galaicos e da dificuldade que entranhava o seu
combate, e este argumento vê-se reforçado como já indicamos pelo facto de Bruto ter
recebido o Cognomem ex Virtute de Callaicus e não qualquer outro.

A CAETRA GALAICO-LUSITANA NAS FONTES

Também as fontes clássicas encontramos diversas referências ao escudo da caetra dos


guerreiros galaicos e lusitanos. Sílio Itálico (Pun. III. 344-348) diz:

“Fibrarum et pennae diuinarumque sagacem / flammarum misit diues Callaecia


pubem, / barbara nunc patriis ululantem carmina linguis, / nunc pedis alterno
percussa uerbere terra / ad numerum resonas gaudentem plaudere caetras. /
haec requies ludusque uiris, ea sacra uoluptas. / cetera femineus peragit labor:
addere sulco / semina et impresso tellurem uertere aratro / segne uiris. quicquid
duro sine Marte gerundum, / Callaici coniunx obit inrequieta mariti.”

“A opulenta Gallaecia enviou a juventude experta na adivinhação das entranhas,


os voos das aves e os divinos lóstregos, às vezes berrando bárbaros cantos na
própria língua, e às vezes dançando até ferir a terra, divertindo-se tocando as
sonoras caetras a ritmo.”

O próprio Estrabão (Geo. 3. 3. 6) faz uma interessante referência ao escudo que usam
os lusitanos, mesmo indicando o seu diâmetro de dous pés, o que segundo Quesada Sanz
(2003: 95-96) representa aproximadamente 66 cm:

“τοὺς δ᾽ οὖν Λυσιτανούς φασιν ἐνεδρευτικοὺς ἐξερευνητικοὺς ὀξεῖς κούφους


εὐεξελίκτους: ἀσπίδιον δ᾽ αὐτοὺς δίπουν ἔχειν τὴν διάμετρον, κοῖλον εἰς τὸ
πρόσθεν, τελαμῶσιν ἐξηρτημένον: οὔτε γὰρ πόρπακας οὔτ᾽ ἀντιλαβὰς ἔχει”

118
“Assim pois disse que os lusitanos são hábeis nas emboscadas, propícios
à espionagem, vivos, ligeiros, ágeis nas manobras; e que têm um escudo
pequeno de dous pés de diâmetro, côncavo por diante, sujeito com correias, pois
não tem empunhaduras nem assas.”

Por sua vez Diodoro Sículo (Bibl. Hist. V. 34. 4) volta a fazer uma interessante referência
ao escudo dos lusitanos:

“τῶν δ᾽ Ἰβήρων ἀλκιμώτατοι μέν εἰσιν οἱ καλούμενοι Λυσιτανοί, φοροῦσι


δ᾽ἐν τοῖς πολέμοις πέλτας μικρὰς παντελῶς, διαπεπλεγμένας νεύροις καὶ
δυναμένας σκέπειν τὸ σῶμα περιττότερον διὰ τὴν στερεότητα:
ταύτην δ᾽ ἐνταῖς μάχαις μεταφέροντες εὐλύτως ἄλλοτε ἄλλως ἀπὸ τοῦ
σώματος διακρούονται φιλοτέχνως πᾶν τὸ φερόμενον ἐπ᾽ αὐτοὺς βέλος.”

“Os mais corajosos dos ibéricos são os lusitanos. Levam à guerra um escudo muito
pequeno que protege os tendões, é o suficientemente apertado para assegurar
o corpo perfeitamente. Utilizam-no na luita movendo-o dum lado a outro com
rapidez para afastar habilmente do seus corpos todos os envistes que dirigem
contra eles.”

ESTÁTUAS DE GUERREIROS GALAICOS COM A CAETRA DO LABIRINTO


E REPRESENTAÇÕES PETRIFICADAS ROMANAS

Entre as mais de 30 estátuas de guerreiros que temos catalogadas até o momento


(vid. Fig. 33), registramos cinco (vid. Fig. 28) nas quais é ainda visível a representação
da caetra com a forma iconográfica do característico labirinto galaico. São as estátuas de
Lezenho e Cendufe (Museu Nacional de Arqueologia, Lisboa), Armea (Museo Arqueolóxico
de Ourense) e São Jorge de Vizela (Museu Martins Sarmento de Guimarães).
No entanto, nas esculturas que melhor se pode ver esta forma plástica são as de
Lezenho e Cendufe e também num dos guerreiros de Armea. No guerreiro de São Jorge de
Vizela não está totalmente clara a visualização. Mesmo assim, é um registro arqueológico
bastante contundente como para acreditarmos na existência dum patrão simbólico galaico

119
relativo à guerra e ao combate associado a esta figura iconográfica particular, e esta idéia
poderá ser reforçada nas próprias representações romanas da moeda da caetra (vid.Fig.31)
e as petrificações da mesma que podemos encontrar na Itália6 como representações dos
trunfos e botins de guerra contra galaicos e lusitanos, pois como nos indica Polito (2011),
era comum no Império Romano petrificar a modo de troféu de guerra as armas conquistadas
aos diversos povos “bárbaros” com os que se confrontou o Império ao longo dos séculos.
Esta petrificação das armas dos seus inimigos representava uma espécie de apropriação
perpétua do seu poder, numa celebração simbólica da guerra e da victória.

Fig. 2 - [1] Imagens dos guerreiros galaicos de Lezenho (1), Armea (2), São Jorge de Vizela (3) e Cendufe (4).
Neles podemos observar a representação do labirinto na caetra.

120
A petrificação dos botins de guerra e da panóplia guerreira dos inimigos tinha também
uma função propagandística interna dentro do Império na hora de infundir animo e ardor
guerreiro entre os próprios soldados e a cidadania romana em geral (Polito, 2011), e na
procura da dominação simbólica intemporal sobre os seus inimigos. Daí a importância do
suporte escolhido e a sua durabilidade.
As armas petrificadas são normalmente representadas em frisos e outros lugares
diversos que podem ir desde portas e arcos do trunfo até santuários religiosos.7

Fig. 3 - [1] Fragmento de friso dórico do período republicano tardio com representação de caetra procedente
dum prédio do papa Sixtius IV da Via Flamínia em Roma (Höck, 2003: 56) e conservado no Musei Capitolini
(Inv. Musei Capitolini 2262/S; DAI Rom Inst. Neg. 29.141) [2] Petrificação em relevo da caetra galaica (terceiro
escudo pola esquerda), actualmente no santuário romano de Pietrabbondante, Molise, Itália. (DAI Rom Inst.
Neg. 75.2648). [3] Informação sobre o friso da Via Flaminia em Roma (Mustilli (Ed.)., 1939: 186, nr. 104).

6
cf. Inv. Musei Capitolini 2262/S; DAI Rom Inst. Neg. 29.141, 75.2648, 79.2736; Mustilli (Ed.)., 1939: 186, nr.
104; Polito, 2011; id. 2012; Blanco Freijeiro, 1971: 229 e ss.; Fig. 29.
7
No santuário romano de Pietrabbondante em Molise, Itália. (DAI Rom Inst. Neg. 75.2648; Fig. 29, 2)
encontramos precisamente uma representação petrificada de caetra galaica.

121
No caso da caetra galaica temos constância de duas representações petrificadas na
Itália, uma delas procedente dum prédio do papa Sixtius IV da Via Flamínia em Roma
(Höck, 2003: 56) e conservada actualmente no Musei Capitolini (Inv. Musei Capitolini
2262/S; DAI Rom Inst. Neg. 29.141; Fig. 29, 1).
O segundo registro de petrificação de caetra galaica na Itália (Polito 2012: 143) é o que
se encontra no santuário de Pietrabbondante (DAI Rom Inst. Neg. 75.2648; Fig. 29, 2) na
região de Molise, na área centro-sul italiana.

Fig. 4 - Possíveis similitudes formais entre a planta urbana dos castros de San Cibrao de Las e Monte Mozinho
e o símbolo representado nas caetras dos guerreiros galaicos (cf. Rodríguez-Corral, 2012: 91-92).

Todo isto leva-nos a pensar que a caetra foi uma arma de combate de enorme
importância e efectividade táctica e simbólica para os habitantes no NW da Península

122
Ibérica na sua resistência contra a invasão romana, dada também a importância que esta
arma teve para o Império Romano na hora de põe-la em destaque nos seus botins de
guerra e nas representações simbólicas dos seus trunfos sobre estes os povos.
Por sua vez, poderíamos achar também (Rodríguez-Corral, 2012: 91-92) uma certa
correlação formal entre o desenho simbólico que vemos na caetra e a planta urbana de
alguns dos principais castros do NW como o de San Cibrao de Las e Monte Mozinho (vid.
Fig. 30), pois este tipo de representações de escudos não deixam de ser arquetípicas na
antiguidade (Quesada Sanz, 2003: 98) na sua dupla face apotropaica na “defensa física de
un território o ciudad y como protección religiosa ante el asalto del mal”.

A MOEDA ROMANA DA CAETRA

A chamada moeda romana da caetra aparece maiormente em todo o NW mas sobretudo


no Norte de Portugal e na zona de Lugo (Rodríguez Colmenero & Ferrer Sierra, 2014:
35). Os mais de 200 exemplares catalogados até o momento são maiormente datados

na primeira metade do S. I a.C.


e representam o mesmo símbolo
que encontramos nas estátuas de
guerreiros. Porém algumas destas
moedas representam também armas
de ataque como lanças, soliferreuns
ou falcatas (vid. Fig. 31, 2).
Fig. 5 - Moeda romana da caetra do Museo
Arqueolóxico e Histórico do Castelo de San
Antón, A Corunha. [1] e moeda romana da
caetra com representação de armas (duas
lanças, um soliferreun e uma falcata) do Museo
Arqueolóxico de Lugo [2] © Museo Arqueolóxico
e Histórico do Castelo de San Antón. © Museo
Arqueolóxico de Lugo © Arquivo fotográfico de
Património Nacional Galego.

Existem, no entanto, dúvidas sobre o seu lugar de cunhagem, mas algumas hipóteses
(Rodríguez Colmenero & Ferrer Sierra, 2014: 35) apontam que poderia estar em Lugo,
dada a quantidade de moedas encontradas nessa área.
Paradoxalmente, grande parte dos numismáticos obviam a evidente similitude (Cebreiro

123
Ares, 2012: 205) entre o escudo representado no reverso destas moedas e a caetra das
estátuas de guerreiros, ainda quando tudo vem a indicar que esta era uma das armas mais
importantes dum ponto de vista simbólico e de poder para o conjunto de povos galaicos do
NW, dadas as suas propriedades óptimas quanto a tamanho e peso para o combate a nível
defensivo mas também ofensivo.
Alguns autores coincidem em afirmar que estas moedas poderiam corresponder a uma
emissão imperial (Grant, 1946: 121-123) co intuito de serem usadas para compensar
economicamente e simbolicamente os soldados romanos que combateram os galaicos.
O mesmo opina García-Bellido (2010: 164) ao afirmar que “parece pues probable que el
denario de la caetra esté ilustrando un objeto heroico, del pueblo lusitano-galaico.”
E quiçá podemos associar a emissão desta moeda com as campanhas na Gallaecia
de Carisio (26-27 a.C.), dado que a grande parte dos autores coincidem em datar as
moedas neste período (Gil Farres, 1966: 236, 245 e 263; García-Bellido, 2010: 164; Pérez
González, et al., 1995: 202).
Cabe destacar também que o mapa de distribuição de achádegos arqueológicos

Fig. 6 - Dispersão geográfica das moedas com reverso de caetra (por quantidades). Pérez González, et al.,
1995: 204.

destas moedas situa-se principalmente na zona costeira das Rias Baixas galegas e norte
de Portugal, ainda quando temos encontrado importantes depósitos nas áreas de Lugo,

124
Braga e Corunha. No caso de Lugo, localizaram-se também vários pedaços de metal sem
cunhagem (Pérez González, et al., 1995: 203), o que não deixa de ser um importante
indicador de que um ou vários locais de fabricação monetária se poderiam encontrar em
Lucus Augusti. Outros exemplares foram encontrados na faixa cantábrica e na meseta
peninsular mas já em menor quantidade.

Fig. 7 -Localização geográfica dos achádegos de estátuas de guerreiros galaicos. Em vermelho as estátuas
com representação da caetra do labirinto. Elaboração própria partindo de Calo Lourido (2003).

125
BIBLIOGRAFIA

CALO LOURIDO, F. (2003). “Catálogo. Guerreiros galaicos” Madrider Mitteilungen 44, pp. 6-32
CEBREIRO ARES, F. (2012). “La emision de sestercios den Noroeste a la luz de un nuevo hallazgo.”
SAGVNTVM (P.L.A.V.) 44, pp. 203-206.
CHEVALIER, J. (1986). Diccionario de los símbolos. Barcelona: Herder.
DE VELASCO ABELLÁN, F. P. D. (1992). “Anotaciones a la iconografía y el simbolismo del laberinto en el
mundo griego: el espacio de la iniciación.” In Ricardo Olmos (Coord.) Anejos de Archivo español de Arqueología,
XII. Coloquio sobre Teseo y la copa de Aison, pp. 175-200.
DORADO, M. R. (1995). Laberintos de la Antigüedad. Madrid: Alianza Editorial.
GARCÍA-BELLIDO, M. P. (2010). “Etnias y armas en Hispania: los escudos.” Gladius, 30, pp. 155-170.
GIL FARRES, O. (1966). La moneda hispánica en la Edad Antigua. Madrid: Altamira.
GRANT, M. (1946). From imperium to auctoritas: a historical study of aes coinage in the Roman Empire, 49
BC-AD 14. Cambridge University Press.
HÖCK, M. (2003). “Os guerreiros lusitano-galaicos na história da investigação, a sua datação e
interpretação. Cultura castreja e celtas.” Madrider Mitteilungen 44, pp. 51-66.
MUSTILLI, D. (Ed.). (1939). Il Museo Mussolini. Rome: La libreria dello Stato.
PÉREZ GONZÁLEZ, C. et al. (1995). “Reflexiones sobre las monedas de la caetra procedentes de Herrera
de Pisuerga (Palencia).” Anejos del archivo español de arqueologia XIV. La moneda hispánica, ciudad y
território. Madrid: CSIC, pp. 199-206.
PHILLIPS, A. (1992). “The topology of Roman mosaic mazes.” Leonardo. Vol. 25, No. 3/4, Visual
Mathematics: Special Double Issue, pp. 321-329.
POLITO, E. (2011). “La pietrificazione delle armi conquistate”. In Miti di guerra, riti di pace. La guerra e la
pace: un confronto interdisciplinari. Bari: Edipuglia, pp. 259-266.
— (2012). “Augustan triumphal iconography and the Cantabrian Wars: Some remarks on round shields and
spearheads depicted on monuments from the Iberian Peninsula and Italy.” Archivo Español de Arqueología,
85(0), Madrid: CSIC, pp. 141–148.
QUESADA SANZ, F. (2003). “¿Espejos de piedra?. Las imágenes de armas en las estatuas de los guerreros
llamados galaicos.” Madrider Mitteilungen 44, pp. 87-112.
RODRÍGUEZ COLMENERO, A. & FERRER SIERRA, S. (2014). Augusto na Fisterra ibérica: entre a vitoria
cántabra e os albores do culto imperial . Concello de Lugo, Servizo de Municipal de Arqueoloxía.
RODRÍGUEZ-CORRAL, J. (2012). “Las imágenes como un modo de acción: las estatuas de guerreros
castreños”. Archivo Español de Arqueología, 85, pp. 79-100.
RONNBERG, A. & MARTIN, K. (Eds.). (2011). El libro de los símbolos: Reflexiones sobre las imágenes
arquetípicas. Colonia: Taschen.

126
FRANCISCO
QUEIROGA
CONTRIBUTO DAS ARQUEOCIÊNCIAS PARA A INVESTIGAÇÃO
DA CULTURA CASTREJA, NO ÚLTIMO QUARTEL DO SÉCULO XX

FRANCISCO M.V. REIMÃO QUEIROGA1*


1
Professor Associado, Universidade Fernando Pessoa, Porto; investigador associado ao CLEPUL.

RESUMO
Apresenta-se a evolução de algumas das metodologias e dos instrumentos de análise
científica utilizados nos estudos realizados sobre a cultura castreja no último quartel do
séc. XX. Referem-se os avanços das metodologias de detecção de sítios arqueológicos,
de escavação e de recolha de evidências. Aborda-se a implementação das análises
paleoambientais, dos métodos de prospecção, da datação absoluta, das formas de análise
dos artefactos e do desenvolvimento dos estudos laboratoriais sediados nos museus.

PALAVRAS-CHAVE
Cultura castreja, arqueociências, escavação arqueológica, datação C14, geofísica.

ABSTRACT
The paper draws upon the evolution of both some methods and instruments of scientific
research used for the study of the northwestern Portuguese castro culture in the last quarter
of XXth century. The approaches and the advances on the methods of surveying for
archaeological occupation, and also the methods of excavation and evidence gathering, are
summarized here. It is also referred the development of the use of environmental studies,
the surveying techniques, and the radiocarbon dating, in addition to the analysis of artefacts
and the development of laboratorial studies based on museums.

KEYWORDS
Castro culture, environmental archaeology, archaeological excavation, radiocarbon
dating, geophysics.

131
1 - INTRODUÇÃO

A tarefa de ponderar sobre temas de um passado que nos é próximo, e de uma geração
de actores da qual fazemos parte, é sempre, e inevitavelmente, passível de parcialidades
na abordagem, por muito que o tempo e as vicissitudes do percurso de vida nos tenham
criado alguma distância crítica. Esta parcialidade é tanto mais recorrente quanto é certo
que todas as gerações, de uma forma ou de outra, assumem a tarefa tão épica, quanto
bem - intencionada, de tentar mudar o mundo, de nele deixarem a sua marca, motivados
pelo inconformismo, pela busca da diferença, e pela irrereverência geracional que é, afinal,
o mais dinâmico dos motores de evolução da cultura e do conhecimento das sociedades.
Por isso é normal que as abordagens retrospectivas comportem algum criticismo de
contorno maniqueísta, no qual o observador julga em função do presente, em torno dos
conceitos e dos modelos vigentes, que considera como legítimos ao serem uma conquista
do seu tempo.
O período sobre o qual agora nos detemos adquiriu uma identidade própria, portanto
merecedora deste reparo, tanto pelos actores, como pelo contexto histórico no qual se
desenvolveu, e por ter constituido um ponto de viragem a juntar às muitas outras mudanças
que o país então viu serem operadas. Este último quartel do século XX é marcado desde
logo pela revolução de Abril e por toda a panóplia de acontecimentos e mudanças de vária
ordem que se desenvolveram a partir de então, e nomeadamente na Arqueologia.
Nesta pequena nota pretende-se abordar a relação que os arqueólogos então
estabeleceram com os contextos arqueológicos, a forma como observaram, registaram,
e os instrumentos e processos que utilizaram para recolher toda a informação pertinente.
Este universo, desde cedo referido como “ciências auxiliares da Arqueologia”, é amplo e
complexo, pelo que aqui se amostram apenas as temáticas que mais impactos produziram
na evolução deste período.

2 - O PANORAMA PRÉVIO: OS PRECURSORES E A SUA HERANÇA

O panorama prévio ao início do último quartel do século XX caracteriza-se por um vasto


acervo de informação sobre a cultura castreja do noroeste de Portugal, fruto do trabalho tão

132
incansável como continuado de gerações de estudiosos, que desde o século XIX tinham
vindo a intervir, observar e registar.
Sobranceira a este grupo situa-se a figura ímpar de Francisco Martins Sarmento, não
somente pelo volume de informação que nos legou, mas pelo investimento pessoal que
afectou ao trabalho de campo, mormente em escavações, afirmando-se como o grande
mentor da identidade da cultura castreja, a qual projectou no panorama europeu. Dotado
de uma capacidade de observação invulgar, a ela juntava o sentido analítico e sistemático,
que lhe permitiram desde logo salientar o “ar de família” ou a tipificação de muito do que
ia vendo. Complementarmente, o seu hábito de escrevinhar quase compulsivamente todas
as observações e conclusões, legou-nos os numerosos registos gráficos na forma de
esquissos, alicerces das suas impressões e, para nós, informação de grande valia.
A ele se juntaram Mário Cardozo e Santos Júnior, que salientamos somente pelo volume
de informação que legaram, mas sem esquecer muitos outros nomes de referência, que
as limitações de espaço não nos permitem agora enumerar. Do trabalho destes estudiosos
herdamos não só o grande acervo de informação registada, que de outra forma estaria
perdida, mas também o registo das suas observações dos vários cenários, que em alguns
casos quase nos permitem incorporar os olhos do personagem e reinterpretar a realidade.
Deste largo período ficou um curioso legado metodológico plasmado no perfil do
investigador, com grandes aptidões de observação e de interpretação dos contextos
arqueológicos, em detrimento dos outros utensílios de pesquisa, mormente o registo
normalizado. Enquanto no mundo anglo-saxónico e francófono do início deste ciclo o
arqueólogo era já um operador de metodologias, no noroeste peninsular a escavação
mantinha-se ainda como um exercício de diálogo individual entre o escavador e os
contextos observados. Reminiscências deste período sobreviveram até ao presente,
mormente na imagética e na praxis arqueológica, razão pela qual ainda se defende que
alguém fluente na escavação de um tipo de complexo cronológico-cultural não estará
adequado a escavar um outro diferente.
Por detrás deste edificado, cuja solidez se alicerça sobretudo na cultura material
das grandes áreas de povoados escavados e dos acervos dos museus, escondem-se
amplas lacunas de conhecimento e de problematização, que as gerações seguintes se
encarregariam de rehabilitar.

133
3 - A IMPLEMENTAÇÃO DOS NOVOS MÉTODOS E TECNOLOGIAS

As intervenções arqueológicas em castros diversificaram-se regionalmente a partir


do terceiro quartel do século XX. Saldando-se em áreas mais reduzidas de intervenção,
salvo uma ou outra excepção, ao contrário do que nos tinha habituado Francisco Martins
Sarmento com o grande investimento feito na Citânia de Briteiros. A evolução sentida
no período em apreço deveu muito às novas formas de questionar o que então se sabia
sobre a cultura castreja, e às dúvidas que as mentes mais inconformadas iam colocando.
Naturalmente que essas dúvidas não poderiam ser esclarecidas com os dados disponíveis,
nem com o seu teor, pelo que se tornou necessário investir nas formas de recolher
informação contida nos contextos arqueológicos e nos artefactos, e assim foi crescendo a
curiosidade pelas arqueociências.
Neste contexto surge-nos como incontornável o nome de Carlos Alberto Ferreira de
Almeida, docente da FLUP e investigador da cultura castreja, que muito contribuiu para
a formação dos que logo em seguida encetaram os seus caminhos. Exercendo uma
pedagogia de liberdade intelectual, de trabalho empenhado e de observação atenta e
crítica, deixou marca indelével nos seus discípulos. O seu projecto, que talvez o não tenha
sido intencionalmente, abarcou um conjunto de intervenções em castros as quais, além de
terem servido de escola, marcaram o curso dos conhecimentos e da investigação. Com
efeito, os trabalhos desenvolvidos durante este período no Monte Mozinho, na Citânia de
Sanfins e em Santo Estêvão da Facha produziram novos conhecimentos e abordagens
que reconfiguraram o curso da investigação em cultura castreja, e outros posteriormente
seguiram. Este dinamismo intelectual deparou-se com uma praxis arqueológica que se
revelava insuficiente, e deveria ser enriquecida com novas formas de explorar a escavação,
desenvolvendo-se neste ambiente a crescente apetência pelas arqueociências.

A) AS CRONOLOGIAS
No período em apreço as formas de datação cultural disponíveis para a cultura castreja
estavam muito dependentes dos materiais clássicos. As cerâmicas gregas, ainda muito
raras; os materiais púnicos, quase desconhecidos; e os materiais romanos, mormente as
cerâmicas campanienses e as sigillatas itálicas, constituiam as âncoras cronológicas mais

134
fiáveis para datar os contextos castrejos. Para os contextos mais antigos, ficava a baliza
remota das produções cerâmicas do Bronze Final, cujos fabricos melhor caracterizados se
identificavam com o “tipo Alpiarça”, e com as formas carenadas. Entre estas duas balizas,
ficavam alguns séculos de ambiguidade cronológica, uma “idade das trevas” que a todos
custava a gerir. Qualquer contexto com aparência mais antiga, mas sem presença das
formas do Bronze Final, seria tentativamente remetido para este momento quase mítico, do
anterior, ou contemporâneo, da campanha de Decimo Júnio Bruto.
A acessibilidade das datações pelo carbono 14 instala-se na década de 70 (Eiroa 1980),
as quais se vulgarizam já no início dos anos 80, abrindo caminho para a clarificação dos
horizontes cronológicos da ocupação dos castros. Com efeito, os primeiros trabalhos que
sintetizam o panorama das datações absolutas referentes ao primeiro milénio a.C. no
noroeste peninsular (Fábregas - Carballo 1991; Queiroga 1992) elencam já um número
avultado de datações de carbono 14 efectuadas em castros do noroeste, evidenciando a
vulgarização deste método de datação.
Contudo, e apesar das abordagens pedagógicas, e intencionalmente interactivas, de
Soares e Cabral sobre a utilização das datações de radiocarbono (Cabral - Soares 1984;
Soares - Cabral 1984), o entendimento deste método de datação foi de assimilação
excessivamente demorada pela generalidade da comunidade arqueológica, e ao longo
desta década continuaram a ser apresentadas datas não calibradas. Conceitos como o
desvio padrão e as intersecções na curva de calibração, os quais são essenciais para a
leitura das datas radiocarbono, foram de difícil assimilação pela comunidade arqueológica.
Em acréscimo, as ideias pré-concebidas sobre a cronologia dos contextos ajudava a
desvalorizar a data, quando esta não era coincidente com os resultados esperados.
As estratégias de amostragem em muito ajudaram a acentuar os problemas e as
desconformidades. Vulgarizaram-se então os argumentos que ainda hoje se utilizam, como
a contaminação das amostras, e a sugestão de a amostra provir do cerne de uma árvore
antiga, ou reutilizada durante largo período (Hendrickson et al. 2013), os quais continuam a
justificar a falha em não efectuar várias datações do mesmo contexto. Logo nos inícios dos
anos 80 popularizou-se o laboratório da Universidade Gakushuin, no Japão, cujos preços
comparativamente módicos motivaram um conjunto significativo de datações desta região
(Queiroga 1992, Figs. 1.1 a 2.4), mas apresentava cronologias excessivamente recuadas

135
para o que seria expectável, facto que contribuiu para lançar alguma suspeição sobre a
fiabilidade do método. Contudo, o investimento realizado em novas curvas de calibração
(Stuiver - Becker 1986) e a acessibilidade de programas informáticos, como o CALIB,
que contribuia para autonomizar os arqueólogos na calibração das suas datações, foram
lentamente introduzindo confiança no processo.

B) OS ESTUDOS PALEOAMBIENTAIS
Desde a década de 40 que o achado de sementes vinha a ser noticiado na bibliografia
arqueológica, mormente em virtude de contextos arqueológicos cuja preservação se
revelava mais feliz, certamente devendo bastante à sensibilidade e à curiosidade atenta de
alguns dos arqueólogos de então. Neste quadro, destacam-se na bibliografia as referências
produzidas por Afonso do Paço (1955) a quem devemos a notícia de inúmeros achados de
sementes incarbonizadas nas suas escavações, sobretudo no Zambujal e em Vila Nova
de S. Pedro. No entanto, esta lição valiosa não motivou à busca de evidências de restos
paleoambientais.
A sensibilização para o potencial dos estudos paleoambientais no quadro da
investigação castreja começou a delinear-se a partir dos investigadores ligados à pré-
história recente, e em particular em torno de Vítor Oliveira Jorge, enquanto docente, e
mentor do Campo Arqueológico da Serra da Aboboreira. Com efeito, a estreita ligação
que à época os pré-historiadores mantinham com a arqueologia francesa despertou
sensibilidades nos diversos colaboradores, na sua maioria estudantes da FLUP, para
a existência de informação de natureza ambiental contida no registo arqueológico. O
desenvolvimento dos primeiros estudos neste âmbito esteve ligado à colaboração de
investigadores e laboratórios franceses, sempre ávidos de estenderem o âmbito da sua
investigação. Refira-se a colaboração e o interesse que Jean Louis Vernet (1988) dedicou
à informação antracológica que lhe foi sendo disponibilizada, colaboração que deu
frutos também na sensibilização e na formação de especialistas como Isabel Figueiral,
que contabiliza desde este período um contributo significativo no estudo dos carvões
provenientes de castros portugueses.
No plano nacional destaca-se o trabalho pioneiro, e a disponibilidade sempre
entusiástica, de António Rodrigo Pinto da Silva, da Estação Agronómica Nacional, na

136
colaboração com os arqueólogos de então no estudo e classificação de sementes
provenientes de escavações arqueológicas. A este precursor da investigação em carpologia
se deve um grande acervo de estudos (Silva 1988, 3-5) e de informação preciosa sobre
sitios arqueológicos no país.
A realização do encontro intitulado “Paleoecologia e Arqueologia” em Julho de 1987
(Queiroga et al 1988), organizado pelo Gabinete de Arqueologia da Câmara de Vila Nova
de Famalicão (GA-CVNF), teve como objectivo sensibilizar a comunidade arqueológica
para o potencial dos estudos paleoambientais. Por esta razão, foi organizado em áreas
temáticas consideradas mais relevantes, e apresentadas por especialistas. Em Setembro
de 1990 é organizada a segunda edição do encontro, desta feita em homenagem ao eng.
A.R. Pinto da Silva. Aberta a comunicações livres, esta iniciativa congregou um número
considerável de estudos (Queiroga - Dinis 1991), que bem demonstram a sensibilização
da comunidade de investigadores e o trabalho que então vinha sendo desenvolvido nas
ciências ambientais.
Nos finais da década de 80, a melhoria dos meios de processamento, e a disponibilidade
de especialistas nas diversas áreas de estudos paleoambientais, incentivaram os
arqueólogos que adquiriram maior desenvoltura na recolha e processamento das amostras
paleoambientais.
A experiência de Jarman (Jarman et al 1972) sobre o processamento de amostras
paleoambientais através de flutuação abriu caminho para formas de tratamento expeditas
e adequadas das amostras de solo. Seguindo estes princípios, em 1986 é construído
e ensaiado um modelo de tanque de flutuação (Figura 3) no GA-CMF, cuja laboração e
eficácia é posta à prova no processamento de amostras de solo que tinham vindo a ser
recolhidas desde 1983, nos castros de Vermoim e Ermidas. Contudo, e em virtude de
dispormos de água em abundância, não foi seguido o processamento de flutuação com
recurso a espuma, utilizado por aquele autor nas escavações em Israel. Em acréscimo, foi
ensaiada a introdução de bolhas de ar pela adição de uma válvula de Venturi no circuito de
entrada, opção que agilizou o processamento.
Ao mesmo tempo que a familiaridade com os métodos de recolha e processamento se
foi instalando, alicerçou-se também a noção do manancial de informação que as amostras
podem conter, e da especificidade de cada um dos tipos de amostragem.

137
A década de 80 foi pródiga em publicações generalistas sobre as temáticas
paleoambientais, começando a divulgar-se entre nós os manuais sobre paleoecologia
(Schackley 1981; 1985), instalando-se uma visão mais racional sobre os processos
de amostragem e de estudo, onde as diversas especialidades iam implementando as
diferenças decorrentes desta adequação.
De resto, a crescente importância dos estudos paleoambientais na investigação
arqueológica é documentada pelos diversos estudos de cariz metodológico, na sua
configuração ou nas intenções (Ganderton 1981, Karl Butzer 1971, Sheridan - Bailey 1981,
Shipley - Salmon 1996), que se foram desenvolvendo no plano internacional ao longo das
décadas de 70 e 80, e cujo eco chegou aos arqueólogos do noroeste.
Cedo se foi constatando que, à escala do volume de trabalho desenvolvido nos castros,
o número das amostragens de sedimentos recolhidas, com o entusiasmo inicial, se revelava
impraticável de processar e de estudar. O equacionamento dos métodos estatísticos, e a
sua implementação, introduziu algum desafogo, mas sobretudo bastante mais fiabilidade,
na leitura do registo paleoecológico. Ensaios fundamentais, como o de Ernestina Badal
(1988) sobre a representatividade estatística das amostras de carvões, permitiram começar
a delinear o caminho para a racionalização metodológica das amostragens que, a partir de
então, começaram a ombrear com os restantes veículos de informação contextual.
Os estudos ambientais puderam então começar a desligar-se da imagem de mera
curiosidade científica, ganhando significado estatístico a presença de espécies, agora
entendida num quadro contextual, podendo igualmente entrar em linha de conta com as
ausências, que são igualmente relevantes no entendimento do paleo-ambiente humanizado
(Butzer 1982, Marshall 1978). A recolha programada de amostras de solo (Figura 5) cedo
passou a fazer parte do conjunto de tarefas do programa de algumas escavações.

C) A SISTEMÁTICA E AS TIPOLOGIAS
Desde os inícios da década de 70 que se vinha a delinear na Europa a preocupação
com a organização sistemática das formas das produções cerâmicas menos normalizadas,
desde a pré-história recente (Deded - Py 1975) até à Idade Média (Leenhardt 1969).
Estas abordagens de cariz mais marcadamente formal, e sistemático, desligavam-se
da proximidade afectiva do estudo arqueológico, sendo desenvolvidas com o recurso

138
mais impessoal das sistematizações matemáticas e geométricas (Gardin 1976), que a
emergente ciência da computação começava a permitir.
Esta metodologia teve eco no país com o trabalho pioneiro de Gustavo Marques e
Miguéis de Andrade (1974) sobre a denominada “cerâmica de Alpiarça”. Um edificante
exercício de sistemática formal que abriu caminho para a normalização das formas destas
produções cerâmicas que, curiosamente, começaram a partir de então a surgir em vários
sitios arqueológicos do norte do país.
Os artefactos produzidos pelas populações indígenas do noroeste peninsular
configuram-se no que poderiamos designar como grandes famílias culturais, dentro das
quais são manifestos regionalismos técnicos e formais, e ainda as variabilidades impostas
pelos recursos locais. Esta variabilidade sempre criou obstáculos à normalização das
cerâmicas castrejas, por forma a permitir a sua utilização como elementos de referência
cronológica, razão para os esforços envidados na sua sistematização, desde logo por
Almeida (1974) com base em observações de acervos de museus e nos materiais
resultantes de escavações. Esta tendência foi continuada em abordagens posteriores,
buscando já suporte estratigráfico e fundamentação estatística, realizadas por Silva (1986)
e sobretudo por Manuela Martins (1987; 1990), autora que dedicou alguma atenção a
esta temática, abrindo caminho para muitos outros estudos em torno de um problema
que ainda está longe de se esgotar, e continua até ao presente a merecer a atenção dos
investigadores.
A análise mineralógica de cerâmicas foi igualmente uma preocupação metodológica ao
nível internacional (Peacock 1970) sendo aplicada aos vários complexos ceramológicos.
No norte de Portugal foi feito um ensaio sobre as cerâmicas do vale do rio Cávado (Little
1990) que abriu caminho a esta promissora linha de pesquisa, mas cujo alcance ficou
cerceado por falta de continuidade.

D) A ETNOARQUEOLOGIA
Durante este período esboça-se igualmente uma forma de “lógica etnográfica” tanto
no questionamento e na observação, como na interpretação da evidência arqueológica.
Também aqui Carlos Alberto Ferreira de Almeida assume um papel incontornável na
sensibilização dos seus discípulos para as pequenas evidências que, afinal, são o suporte

139
de ideias e de linhas de pesquisa. Na escavação do castro de Santo Estêvão, na Facha, foi
pedido aos participantes o exercício de observação cuidada das pedras das construções
nos níveis inferiores, em busca de vestígios de utilização de pico. A ausência deste vestígio
permitiu sugerir a raridade da utilização do ferro nas fases mais antigas da cultura castreja,
sugestão que desde então tem vindo a ser cumulativamente apoiada por diversas frentes
de trabalho. Numa outra vertente, as referências aos espaços vividos do Monte Mozinho
(Almeida 1974; 1977) com evocação da vida quotidiana dentro das casas, e a sugestão
sobre o maior desafogo dos habitantes de algumas zonas do povoado, promove a lógica
da humanização da investigação nos castros, salientando a importância da antropologia
(Gosden 1999; Orme 1981) no entendimento da realidade arqueológica.
Estas sugestões, enquadradas em momentos sociais próprios, foram despertando a
atenção para a pedagogia contida na etnoarqueologia, não só como disciplina para a
interpretação da evidência arqueologica, como também para o entendimento desta pelos
públicos menos especializados, num quadro de rentabilização social do investimento feito
na prática arqueológica. Esta tendência, que continua hoje em franco crescimento,
é visível nos exercícios então realizados sobre o fabrico de pão de bolota, de manufactura
de têxteis, ensaios de prática metalúrgica, e no restauro de uma casa castreja na Citânia de
Sanfins, sendo este último talvez o exemplo mais impactante realizado num povoado castrejo.

E) TÉCNICAS DE TRABALHO DE CAMPO


O trabalho de campo, talvez pelo seu carácter abrangente e diversificado, foi o espaço
porventura com maior evolução neste período.
A utilização da análise estratigráfica em contextos nacionais era já conhecida dos
arqueólogos portugueses. Com efeito, Mendes Corrêa efectuou registo estratigráfico numa
sondagem realizada em 1932 na cidade do Porto, e temos também o magnífico exercício
de análise estratigráfica realizado por Jean Roche, em 1952-54, na escavação dos
concheiros de Muge. Pouco depois, em 1958-59, Christopher Hawkes realiza sondagens
nos castros de Sabroso, Cútero e Âncora, os quais foram amplamente divulgadas na
comunidade arqueológica nacional (Cardozo 1959). No decurso destas intervenções foi
efectuado o registo da estratigrafia cujo rigor de representação (Figura 1) demonstra o
alto nível de técnica de trabalho de campo praticado por esta equipe, conhecimentos que

140
estariam então acessíveis aos arqueólogos portugueses dedicados ao estudo da cultura
castreja. Contudo, seria necessário um longo hiato para a implantação deste método na
arqueologia dos castros, o qual se implementa, desta vez em definitivo, com a escavação
de 1974 no Monte Mozinho. Deste arranque metodológico irradiaram desenvolvimentos nos
anos que se seguiram, fruto dos contactos europeus e dos numerosos exemplos patentes
na bibliografia especializada. Um dos muitos desenvolvimentos foi a quadriculagem
decimal, utilizada a partir de 1986, com objectivo de abrir caminho à futura geo-
referenciação pelas coordenadas UTM.
Neste quadro de busca pelo rigor metodológico, recordamos ainda as escavações
realizadas no castro das Ermidas em 1986-87 (Pautreau - Queiroga 1989), em colaboração
com Jean-Pierre Pautreau, do CNRS, na qual foi realizada a escavação pelo método da
estratigrafia artificial, com planos cotados de todos os artefactos e carvões, com a qual este
especialista no estudo de habitats da Idade do Bronze estava bem familiarizado.
Estamos convictos que esta exorbitância metodológica não terá sido repetida posterior-
mente em qualquer outra escavação em castros do norte do país.
Seguindo a linha das preocupações com a sistemática acima referidas, sentidas neste
período, começam a proliferar as fichas normalizadas de registo de todo o tipo de informação
relacionada com a pesquisa e com o arquivamento. Desde as fichas de contexto estratigráfico,
às fichas de registo e análise dos diversos materiais, muito se investiu no ordenamento e
na análise de informação.
A detecção de sítios, no quadro de projectos de estudo territorial ou nas inventariações
designadas por “carta arqueológica”, mereceu uma atenção particular desde os finais
da década de setenta. Também aqui se promoveu a normalização, tendo imperado o
modelo francês de inventário divulgado pela então jovem Universidade do Minho, cujos
colaboradores desenvolveram um profícuo trabalho de inventariação. Este interesse
ligava-se igualmente com uma linha de estudos que se vulgarizou sob a designação de
“Arqueologia espacial”, com um importante epicentro nos seminários organizados desde
1984 em Teruel, e foi-se apoiando em instrumentos como os modelos de Vita Finzi e Higgs
(1970), e na emergente aplicação informática dos sistemas de informação geográfica (SIG).
As detecções remotas ao nível do subsolo tiveram um dinamismo notável desde a
década de 80, mercê do trabalho intenso promovido pelos investigadores da Universidade

141
de Aveiro, em particular Senos Matias e Fernando Almeida, os quais foram testando e
desenvolvendo soluções, sempre em diálogo com os arqueólogos. Como resultado desta
colaboração, mas também devido a projectos com instituições estrangeiras (Millett et al.
2000), ao longo deste período foi sendo divulgada na prática arqueológica a detecção pelos
métodos da resistividade eléctrica do solo, da magnetometria de protões, e do radar do solo.

F) A ANÁLISE E CONSERVAÇÃO DOS ARTEFACTOS


Os artefactos provenientes das escavações começaram a acrescer de importância neste
período em virtude de duas razões de maior relêvo.
Por um lado, as identidades locais, e o envolvimento crescente das autarquias no
investimento em Arqueologia, valorizavam a cultura material como elemento museológico
de cariz identitário, promovendo a sua rentabilização social através da exposição. Neste
quadro, revalorizou-se tanto a conservação como o restauro de artefactos móveis, e de
elementos arquitectónicos, destinados mormente ao consumo público, encetando-se
mesmo alguns projectos de monta, como o do Museu e Citânia de Sanfins.
A outra faceta igualmente importante residia na noção, entretanto divulgada, que os
materiais arqueológicos podiam conter, na sua estrutura e nos seus resíduos ou corrosões
(Cameron 1988; 1991) um largo espectro de informação, como por exemplo sobre a sua
manufactura, a sua utilização, e mesmo vida pós-deposicional, manancial este de suma
importância para o entendimento dos contextos.
Começou a ganhar importância o laboratório museológico de Arqueologia, bem assim
como o cuidado que seria necessário colocar na recolha dos vestígios (Alarcão 1991) no
decurso da escavação. O Museu Monográfico de Conímbriga, com o seu laboratório, e
a figura tutelar de Adília Alarcão são referências incontornáveis. O seu contributo para o
avanço das arqueociências neste período foi por um lado circunstancial, pela aceitação
benévola de todos os pedidos de conservação que lhe eram feitos; mas sobretudo
estrutural, porque estabeleceu um elevado padrão de trabalho em conservação e restauro,
e formou técnicos qualificados nesta área que se foram dispersando pelo norte do país.
Museus, câmaras municipais e também universidades desta região, continuam no presente
o seu legado de estudo e de conservação de artefactos arqueológicos.

142
4 - O ENCERRAMENTO DO CICLO

Não seria lícito abordar a evolução dos conhecimentos sobre cultura castreja neste
período ignorando o motor em que se constituiu a parceria intelectual, e também em muitos
casos operacional, entre os arqueólogos galegos e portugueses. A intensa colaboração
e partilha de conhecimento que se estabeleceu, cumulativamente, a partir de meados
da década de 70 deu origem a escavações, publicações e congressos -promovidos por
ambos os lados- que ainda hoje se afirmam como referências e como pontos de viragem
do conhecimento. Nesse ambiente foram formados os que então eram estudantes, de
ambas nacionalidades, produzindo um sentimento de irmandade científica que ainda hoje é
cultivado com empenho, e nos une sobremaneira.
A actividade arqueológica ao longo do período em apreço foi conduzida quase
exclusivamente no quadro de actividades de investigação, e organizada em torno de
projectos, a maioria dos quais conducentes a doutoramento, permeados por algumas
iniciativas mais pontuais, e maioritariamente tutelados por instituições académicas.
Mudanças operadas no quadro político-administrativo do país começaram, em boa
hora, a promover o cumprimento do disposto nas convenções internacionais sobre a
protecção do património, mormente nas grandes obras públicas, medida que vinha sendo
em grande parte ignorada. Como resultado, os arqueólogos começaram a ser chamados
a intervir no cumprimento das medidas de avaliação e de mitigação dos efeitos negativos
das grandes obras públicas sobre a paisagem arqueológica. Neste âmbito, não podemos
deixar de evocar o impacto que produziu o projecto de construção da “Barragem do Côa”
na Arqueologia nacional, criando ondas de reflexão e processos de intervenção que
envolveram o tecido social, e produziram efeitos significativos na regulamentação da
prática arqueológica, com a criação do IPA.
No encontro intitulado “100 anos de Arqueologia” realizado em Vila do Conde (AAVV
1998) debateu-se longamente o conjunto de questões referentes à actividade arqueológica
neste novo quadro, no qual as intervenções já não dependiam de subsídios, pois eram
remuneradas: tinha nascido a arqueologia profissional no país. Com ela se desenvolveram
novas formas e práticas de intervenção e de exercício da arqueologia, que moldaram a
nova geração de arqueólogos, mas também motivaram mudanças nas universidades,
abrindo caminho para a realidade que hoje nos é familiar.

143
Fig. 1 - Registo gráfico da escavação dirigida por Christopher Hawkes em 1958 no Castro do Cútero,
representando cortes e estruturas. Diapositivo cedido por C.H.

Fig. 2 - Escavação do Monte Mozinho, 1974. Carlos Alberto Ferreira de Almeida observa a estratigrafia e os
pormenores da escavação, comentando as observações e conclusões com os alunos, e envolvendo-os na
discussão.

144
Fig. 3 - Primeira geração de tanque de flutuação de amostras de solo, seguindo o processo divulgado por
Jarman et al. 1972 (Foto GA-CMF 1986).

Fig. 4 - Amostras de carvões resultantes do processamento por flutuação. Separação dos carvões e das
sementes incarbolizadas por meio de lupa binocular, para envio aos respectivos especialistas para estudo (Foto
GA-CMF 1986).

145
Fig. 5 - Escavação do castro de Penices, contextos antigos de cabanas em madeira. Dispersos pelo espaço notam-
se os sacos com as cerâmicas exumadas, e os baldes com as amostras de solo para estudos paleoambientais.

Fig. 6 - Castro de Penices. Escavação do material incarbonizado, troncos e ramagens, que compunha as
paredes e o telhado de uma cabana em materiais perecíveis.

146
5 - BIBLIOGRAFIA

AAVV (1998) - Actas do Encontro 100 Anos de Arqueologia – “O Archeologo Português. Vila do Conde: APPA-VC.
Alarcão, Adília (1991) - Técnicas de recolha dos vestígios arqueológicos. In Queiroga, F.; Dinis, A.P. (eds.),
Paleoecologia e Arqueologia 2, Vila Nova de Famalicão, 1-12.
Almeida, Carlos A. Ferreira de (1974) - Cerâmica castreja. Revista de Guimarães 84 (1-4), 171-97.
Almeida, Carlos A. Ferreira de (1974) - Escavações no Monte Mozinho (1974). Penafiel.
Almeida, Carlos A. Ferreira de (1977) - Escavações no Monte Mozinho, 2 (1975-1976). Penafiel.
Almeida, C.A.F.; Soeiro, T.; Almeida, C.A.B.; Baptista, A.J. (1981) Escavações arqueológicas em Santo
Estevão da Facha. Ponte de Lima: Arquivo de Ponte de Lima, 3 (sep.),
Badal Garcia, Ernestina (1988) Resultados metodologicos del estudio antracologico de la cova de les
Cendres (Alicante, España). In Queiroga, F.; Sousa, I.M.A.R.; Oliveira, C.M. (eds.), Paleoecologia e Arqueologia,
Vila Nova de Famalicão: Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, 57-69.
Butzer, Karl W. (1971) - Environment and Archaeology: An Ecological Approach to Prehistory. Chicago:
Aldine.
Butzer, Karl W. (1982) - Archaeology as human ecology. Cambridge: Cambridge University Press.
Cabral, J.M.P.; Soares, A.M. (1984) - Datação pelo radiocarbono. II - Sobre a estimação do verdadeiro valor
das datas convencionais de radiocarbono e a comparação de duas datas. Porto: Arqueologia 10, 89-99.
Cameron, E. (1988) - Acerca da preservação de resíduos orgânicos nas superfícies corroídas dos metais. In
Queiroga, F.; Sousa, I.M.A.R.; Oliveira, C.M. (eds.), Paleoecologia e Arqueologia. Vila Nova de Famalicão, 81-8.
Cameron, Esther (1991) - Evidence for ecology and technology in iron corrosion products. In Queiroga, F.;
Dinis, A.P. (eds.), Paleoecologia e Arqueologia 2. Vila Nova de Famalicão, 31-44.
Cardozo, M. (1959) - 2ª campanha de escavações em castros do Norte de Portugal (Cividade de Âncor e
monte do Cútero) dirigida pelo prof. Dr. Christopher Hawkes da Universidade de Oxford (7 a 26 de Setembro
de 1959). Guimarães: Revista de Guimarães 69 (3-4), 522-46.
Dedet, B.; Py, M. (1975) - Classification de la céramique non tournée protohistorique du Languedoc
mediterranéen. Paros, Revue Archeq. de Narbonnaise sup. 4, 8-106.
Eiroa, J.J. (1980) - Notas sobre la cronología de los castros del Noroeste de la Península Ibérica.
Guimarães: Seminário de Arqueologia do Noroeste Peninsular, Vol 1, 71-83.
Fábrecas Valcarce, R.; Carballo Arceo, L. X. (1991) - Dataciones de carbono 14 para castros del Noroeste
Peninsular. Madrid: Archivo Español de Arqueologia 64, 244-63.
Ganderton, P.S. (1981) - Environmental Archaeology. Site methods and interpretation. Highworth:
Vorda Research Series 2.
Gardin, J.-C. (1976) - Code pour l’Analyse des Formes de Potteries. Paris, Centre National de la Recherche
Scientifique.
Gosden, Christopher (1999) - Anthropology and archaeology: a changing relationship. London: Routledge.
Guitián Rivera, F.; Vázquez Varela, J.M. (1979) - Sobre la tecnologia de la cerâmica castreña (ceramica de
las islas Cies. Pontevedra). Gallaecia 3/4, 275-9.
Hendrickson, M.; Hua, Qu.; Pryce, Th. O. (2013) - Using in-slag charcoal as an indicator of ‘terminal’ iron

147
production within the Angkorian Period (10th–13th centuries AD) center of Preah Khan of Kompong Svay,
Cambodia. Radiocarbon 55/1, 31-47.
Leenhardt, M. (1969) - Code pour le classement et l’étude des poteries médiévales. Caen, Centre de
Recherches Archéologiques Médiévales.
Little, G.M. (1990) - The technology of pottery production in Northwestern Portugal during the Iron Age.
Braga: Universidade do Minho, Cadernos de Arqueologia (Monografias).
Marques, G.; Andrade, M. (1974) - Aspectos da proto-hitória do território português. 1 - Definição e
distribuição geográfica da cultura de Alpiarça (Idade do Ferro). Porto: III Congresso Nacional de Arqueologia,
125-48
Marshall, A.J. (1978) - Environment and agriculture during the Iron Age: statistical analysis of changing
settlement ecology. London: Word Archaeology 9 (3), 347-56.
Martins, M. (1987) A cerâmica proto-histórica do vale do Cávado. Tentativa de sistematização. Braga:
Cadernos de Arqueologia 4 (S 2), 9-62.
Martins, M. (1990) O povoamento proto-histórico e a romanização da bacia do curso médio do rio Cávado.
Braga: Cadernos de Arqueologia, Monografias.
Millett, Martin; Queiroga, Francisco; Strutt, Kris; Taylor, Jeremy; Willis, Steven (2000) - The Ave Valley,
Northern Portugal: an Archaeological Survey of Iron Age and Roman Settlement. Internet Archaeology nº 9.
Orme, B. (1981) - Anthropology for archaeologists. An introduction. London: Duckworth.
Pautreau, J.-P.; Queiroga, F. (1989) - Le Castro das Ermidas. Village fortifié du Portugal. Paris: Archeologia
253, 44-9.
Paço, Afonso do (1955) - Nota sobre sementes proto-históricas e outras encontradas em Portugal.
Zaragoza: III Congreso Nacional de Arqueologia, 510-15.
Peacock, D.P.S. (1970) - The scientific analysis of ancient ceramics: a review. Word Archaeology 1 (3),
London.
Queiroga, Francisco M.V.R.; Sousa, Isabel Maria A.R.; Oliveira, Custódio M. (edits.) (1988) - Paleoecologia
e Arqueologia. Vila Nova de Famalicão: Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão.
Queiroga, Francisco M.V.R.; Dinis, António P. (edits.) (1991) Paleoecologia e Arqueologia II. Vila Nova
de Famalicão: Camara Municipal de Vila Nova de Famalicão.
Sheridan, A.; Bailey, G. (eds.) (1981) - Economical Archaeology. Towards an Integration of Ecological and
Social Approaches. Oxford: British Archaeological Reports (IS) 96.
Cabral, J.M.P.; Soares, A.M. (1984) - Datação pelo radiocarbono. II - Sobre a estimação do verdadeiro valor
das datas convencionais de radiocarbono e a comparação de duas datas. Porto: Arqueologia 10, 89-99.
Shackley, M.L. (1981) - Environmental Archaeology. London: Allen & Unwin.
Shackley, M.L. (1985) - Using Environmental Archaeology. London: Batsford.
Shipley, Graham; Salmon, John (edits.) (1996) - Human landscapes in classical antiquity: environment and
culture. London: Routledge.
Silva, A.C.F. (1986) - A Cultura Castreja no Noroeste de Portugal. Paços de Ferreira.

148
Silva, António R. Pinto da (1988) A Paleoetnobotânica na Arqueologia Portuguesa. Resultados desde 1931
a 1987. In Queiroga, Francisco M.V.R.; Sousa, Isabel Maria A.R.; Oliveira, Custódio M. (edits.), Paleoecologia
e Arqueologia, Vila Nova de Famalicão: Camara Municipal de Vila Nova de Famalicão, 5-36.
Simmonds, Ian G.; Tooley, Michael J. (edits.) (1981) - The Environment in British Prehistory. Ithaca: Cornell
University Press.
Soares, A.M.; Cabral, J.M.P. (1984) - Datas convencionais de radiocarbono para estações arqueológicas
e a sua calibração: revisão crítica. Lisboa: O Arqueólogo Português 2 (4ª Série), 167-213.
Stuiver, M.; Becker, B. (1986) - High Precision Decadal Calibration of the Radiocarbon Time Scale, AD 1950-
2500 BC. Radiocarbon 28, 863-910.
Vernet, J.-L. (1988) - Les conditions ecologiques du peuplement prehistorique (Neolithique à Bronze) de la
région d’Aboboreira (Baião, Portugal). Résultats preliminaires. Arqueologia 17. Porto: GEAP, 172-4.
Vita Finzi, C; Higgs, E.S. (1970) - Prehistoric economy in the Mount Carmel area of Palestine: site catchment
analysis. London: Proceedings of the Prehistoric Society 36, 1-37.

149
JOÃO
TERESO
AGRICULTURA NO FINAL DA IDADE DO FERRO E ROMANIZAÇÃO
NO NOROESTE PENINSULAR

JOÃO PEDRO TERESO


nBIO – Rede de Investigação em Biodiversidade e Biologia Evolutiva, Lab. Associado / CIBIO – Centro
de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos, Universidade do Porto; Museu de História Natural
e da Ciência da Universidade do Porto; Uniarq – Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa
jptereso@gmail.com

RESUMO
As comunidades do final da Idade do Ferro no Noroeste Peninsular cultivavam um
conjunto bastante diverso de cereais com distintas características agronómicas. Salientam-
se os trigos vestidos e nus, a cevada e o milho-miúdo, que surgem num número grande
de sítios, em toda a região. A fava parece ter sido amplamente cultivada e as bolotas terão
sido abundantemente recolhidas.
A diversidade de cultivos sugere uma agricultura adaptada às condições ambientais
da região e uma estratégia de subsistência baseada na complementaridade dos cultivos.
Ao possibilitar o uso de terrenos agrícolas com diferentes características, a diversidade
agronómica identificada permitiria às comunidades otimizarem o uso dos seus territórios,
numa lógica de autossuficiência.

PALAVRAS-CHAVE
Carpologia, Agricultura, Castrejo.

ABSTRACT
Late Iron Age communities in NW Iberia cultivated a wide and diverse set of cereals
with distinct agronomic characteristics. Emphasis must be given to hulled and naked
wheats, hulled barley and broomcorn millet. These have been recovered in numerous sites
throughout the region. Faba beans seem to have been widely cultivated and acorns were
abundantly collected in the wild.

153
This diversity of crops suggests agricultural strategies were well-adapted to the
environmental conditions of the region and subsistence was based on the complementarity
of crops.
By making possible the use of agricultural fields with various characteristics, the agronomic
diversity would allow communities to optimize their territories and try to guarantee their self-
sufficiency.

KEYWORDS
Carpology, Agriculture, Castros culture.

154
1. INTRODUÇÃO

Na segunda metade da década de 1990 foram produzidas várias sínteses acerca das
espécies cultivadas pelas comunidades pré-históricas, proto-históricas e romanas do
Noroeste peninsular, com base em dados carpológicos (Ramil Rego, 1993; Aira Rodríguez,
& Ramil Rego, 1995; Dopazo Martínez, 1996; Dopazo Martínez, Fernández Rodríguez,
& Ramil Rego, 1996; Ramil Rego, Dopazo Martínez, & Fernández Rodríguez, 1996;
Ramil Rego & Fernández Rodríguez, 1999; Oliveira, 2000). Estes trabalhos decorreram
num momento importante da Arqueologia da região, marcando o início da incorporação
de análises de Arqueobotânica nas estratégias de investigação. As tabelas de síntese
apresentadas pelos estudos acima mencionados e os discursos produzidos a partir destas,
traduziam esta transição. Por um lado, expunham dados detalhados acerca de alguns
sítios onde haviam sido efetuados estudos laboratoriais, pelos próprios autores, com base
em amostras sedimentares recolhidas, ainda que pontualmente, durante escavações
arqueológicas. Por outro lado, incorporavam dados de fraca qualidade, resultantes de
estudos carpológicos com bases metodológicas já então – há 20 anos – pouco fiáveis.
Estes últimos derivaram essencialmente de recolhas esporádicas e manuais durante
intervenções arqueológicas que frequentemente apresentavam fraco controlo estratigráfico.
Em parte por causa de tudo isto, a maioria dos trabalhos de síntese acima citados
enquadrava boa parte dos achados num espectro cronológico amplo - genericamente, o
período entre a Idade do Bronze e Época Romana - de pouca utilidade na investigação
arqueológica.
Uma síntese mais recente questiona esta abordagem cronologicamente vaga e opta
por excluir várias destas jazidas (Tereso, 2012, 2013). As propostas interpretativas daí
resultantes refletem o seu enquadramento numa fase distinta da investigação arqueológica,
onde a incorporação de estudos arqueobotânicos era mais frequente, ainda que o número
de jazidas com estudos desta natureza e a qualidade dos mesmos estivessem longe de ser
satisfatórios. Tentava-se, então, obter maior detalhe nos diagnósticos taxonómicos, realizar
análises integradas entre dados arqueobotânicos e arqueológicos e incorporar corpos
teóricos mais atuais ao nível da interpretação paleoetnobotânica.
Ainda assim, nos últimos anos foram obtidos novos dados, tendo sido publicados

155
estudos centrados em jazidas do Noroeste de Portugal (Tereso & Silva, 2014; Seabra,
2015; Vaz, Tereso, Lemos, & Abranches, 2016; Vaz, Martín-Seijo, Carneiro & Tereso,
2016; Vaz, Seabra, Tereso, & Carvalho, 2017; Seabra, Tereso, Bettencourt, Dinis, 2018a,
2018b;), no Nordeste de Portugal (Vaz, Tereso, Pereira & Pereira, 2016; Figueiral, Sanches
& Cardoso, 2017; Vaz et al., 2017; Tereso et al., 2018, Leite, Tereso & Sanches, 2018) e
na Galiza (Teira Brión, 2013; Martín Seijo, Teira Brión, Otero Vilariño, & Abad Vidal, 2015;
Moreno-Larrazabal, Teira-Brión, Sopelana-Salcedo, Arranz-Otaegui, & Zapata, 2015).
Foram também publicadas algumas sínteses de dados carpológicos de períodos limítrofes
àquele aqui abordado, nomeadamente da Idade do Bronze (Tereso et al., 2016) e Época
Romana e Medieval (Peña-Chocarro et al., 2019).
Justifica-se, por ora, um texto que faça a ponte entre estes diferentes trabalhos, em
especial, entre a síntese de 2012 e os dados obtidos desde então. Estes apresentam
novidades que contribuem de forma substancial para a compreensão das práticas de
armazenagem e da agricultura da região. Como tal, apresenta-se aqui uma síntese dos
dados existentes acerca das espécies cultivadas durante a Idade do Ferro.
A maior abundância de dados acerca das fases terminais da Idade do Ferro e início
da Romanização levam a que este período seja o mote desta síntese, ainda que as fases
o antecedem (o Bronze final e o início da Idade do Ferro) e sucedem (a Época Romana),
sejam mencionados ao longo do texto. Os dados carpológicos que constituem o ponto de
partida para esta síntese encontram-se amplamente publicados e, como tal, não serão
apresentados em detalhe, remetendo-se, sempre que necessário, para as respetivas
publicações.

2. SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS E DADOS DISPONÍVEIS

Esta análise irá centrar-se em vestígios carpológicos de contextos dos séculos II a.C. e
I a.C., assim como alguns genericamente atribuídos à viragem da Era do Norte de Portugal
(a Norte do rio Douro) e da Galiza. Ainda assim, foram incluídos conjuntos carpológicos
cuja cronologia é ainda imprecisa, podendo abranger períodos imediatamente anteriores
(podendo recuar ao século IV a.C.) ou posteriores (até ao século I d.C.). Esta imprecisão

156
reflete a dificuldade na atribuição de cronologias em sítios com ocupações longas e
contínuas, assim como a amplitude dos intervalos de tempo das datações de radiocarbono.
Os últimos dois séculos antes da viragem da Era correspondem a um período de
fortes modificações no Noroeste peninsular, visíveis ao nível do povoamento, estrutura
dos povoados e nos conjuntos artefactuais aí recolhidos. Estes elementos deverão
traduzir alterações importantes ao nível social e geopolítico na região, nomeadamente
após as primeiras incursões dos exércitos romanos. A crescente presença de elementos
mediterrâneos resultou de contactos cada vez mais frequentes com áreas e grupos
humanos romanizados, assim como com as forças imperiais que, ao longo do período de
tempo em questão, exerceram crescente controlo sobre o território peninsular, culminando
na sua total integração na esfera administrativa romana. Estas questões têm sido
amplamente debatidas por diferentes autores, por vezes com posições antagónicas (e.g.
Silva, 1986; Martins, 1990; Alarcão, 1992; Fabião, 1992; González-Ruibal, 2003). Ainda que
não sejam discutidas em detalhe neste texto, devem ser tidas em conta na interpretação
dos conjuntos carpológicos, em especial quando se analisa a permanência e a inovação ao
nível dos cultivos e práticas agrícolas deste período (vide infra).
Apesar de terem sido efetuadas escavações arqueológicas num elevado número de
sítios arqueológicos da Idade do Ferro, em especial castros, poucas foram as intervenções
onde foram realizados estudos arqueobotânicos com base em amostras de sedimento
abundantes ou representativas dos contextos escavados. Em diversos sítios, os dados
carpológicos resultam de recolhas manuais, direcionadas para elementos de maior
dimensão, ou recolhas de sedimento em contextos muito particulares onde a presença
de material vegetal carbonizado era evidente (Tereso, 2012). Como referido antes, a
cronologia de muitos destes achados nem sempre é clara, o que levou a que fossem
excluídos de outras revisões deste autor (Tereso 2012, 2013). Aqui serão seguidos os
mesmos critérios.
Assim, este estudo incidirá sobre os vestígios carpológicos de 13 sítios arqueológicos,
alguns deles com mais de uma fase dentro do limite cronológico desta síntese (Tabela 1).
Sempre que pertinente, serão referidas outras jazidas, de períodos cronológicos próximos.
Como é possível observar na Figura 1, os sítios encontram-se distribuídos
principalmente pelo Noroeste de Portugal e Sudoeste da Galiza, no que González

157
Fig. 1 - Localização dos sítios estudados. Legenda e bibliografia dos dados carpológicos: 1. Vixil (Ramil Rego,
1993); 2. Castrovite (Rey et al., 2009); 3. Castrolandín (Martín-Seijo et al., 2015); 4. Alto do Castro (Dopazo
Martínez et al., 1996); 5. El Castrelin (Lopez Merino et al., 2010); 6. As Laias/O Castelo (Tereso et al., 2013b);
7. Lesenho (Tereso, 2012); 8. S. João de Rei (Dopazo Martínez 1996; Oliveira 2000); 9. Briteiros Tereso & Cruz,
2014); 10. Crastoeiro (Seabra, 2015; Seabra et al., 2018a, 2018b); 11. Crasto de Palheiros (Figueiral, 2008;
Figueiral et al., 2017; Leite et al., 2018); 12. Chã (Vaz et al., 2016); 13. Quinta de Crestelos (Tereso et al., 2018).

158
Ruibal (2003) considerou a área central da “cultura” castreja, e no Nordeste de Portugal.
Contamos ainda com um sítio no Norte da Galiza e outro no limite Oeste da cordilheira
cantábrica.
Deve ser tido em conta que alguns fatores dificultam as leituras regionais e tornam
as comparações entre sítios particularmente arriscadas. A quantidade e diversidade de
vestígios botânicos recuperados em cada sítio ou região poderão estar muito condicionados
pelas estratégias de escavação e recolha de material arqueobotânico, pela geografia de
investigação de alguns investigadores e pela verificação, ou não, de eventos no passado
que potenciassem a preservação de grande número de macrorrestos vegetais. Como
exemplos opostos, temos As Laias/O Castelo (Tereso, Ramil-Rego, Álvarez González,
López González & Almeida-da-Silva, 2013b) e Lesenho (Tereso, 2012). O primeiro sítio
foi alvo de uma intervenção muito ampla em virtude da sua iminente destruição durante
a construção de uma autoestrada. Ao mesmo tempo, foram detetados vários níveis de
incêndio, que se sucedem no tempo e na estratigrafia, que levaram à acumulação de
enormes quantidades de sementes e frutos carbonizados. Num cenário de investigação
quase oposto, o material arqueobotânico do Lesenho advém de uma intervenção
arqueológica de pequena dimensão, focada numa área muito circunscrita do povoado que
poderia estar direcionada para a metalurgia e cujo abandono não está ligado a qualquer
incêndio destrutivo. Apesar de terem sido recolhidas amostras sedimentares, estas foram
escassas e tinham pouco material carpológico.
A opção por reduzir os dados ao registo de presenças (Tabela 1) advém das limitações
acima referidas. Estas só poderiam ser contornadas com uma avaliação detalhada, sítio a
sítio, da extensão da amostragem e do tipo de contextos estudados, algo que não cabe nos
limites impostos a esta publicação.

3. CULTIVOS E AGRICULTURA

Verifica-se no registo carpológico um predomínio de grãos de cereais. Ainda que este


cenário deva traduzir uma preferência efetiva pelos cereais na alimentação humana (na
sua componente vegetal), tamanho predomínio nos conjuntos arqueológicos pode estar

159
exacerbado por diferentes fatores que conduzem à sua preservação preferencial. Sendo
a carbonização a forma mais comum de preservação de macrorrestos vegetais na região,
temos de colocar a hipótese de os grãos de cereal contactarem mais frequentemente
com fogo ou simplesmente sobreviverem mais facilmente ao fogo do que outros bens
alimentares de origem vegetal. Estão em causa não só as características físicas que
tornam os grãos mais resistentes ao fogo, mas também os modelos de manuseamento dos
grãos em fases de processamento pós-colheita ou as práticas culinárias que poderiam,
eventualmente, implicar um maior contacto direto destes com o fogo, potenciando a sua
preservação.
Seja como for, devermos ter em conta que os conjuntos carpológicos preservados por
carbonização representam um conjunto reduzido das plantas efetivamente consumidas
pelas comunidades antigas e que algumas plantas ou partes de plantas (e.g. folhas, flores)
poderão estar ausentes (van der Veen, 2007).

3.1. O CULTIVO DE CEREAIS


Os cereais recolhidos num maior número de sítios arqueológicos foram o milho-miúdo
(em 11 dos 13 sítios) a cevada de grão vestido (Hordeum vulgare subsp. vulgare) (8), trigos
de grão nu (Triticum aestivum/turgidum/durum – espécies indistinguíveis pela morfologia
dos grãos) e trigos de grão vestido. Entre estes últimos foram distinguidas três espécies:
Triticum monococcum (1 sítio), Triticum trugidum subsp. dicoccum (5) e trigo espelta
(Triticum aestivum subsp. spelta) (4). Acresce ainda um sítio - Lesenho – onde os poucos
grãos identificados foram classificados como T. dicoccum/spelta (Tereso, 2012). Sete dos
13 sítios têm pelo menos uma das espécies de trigo vestido.
Devemos salientar, porém, a dificuldade em distinguir grãos de diferentes espécies
de trigo, que levou à presença de grãos identificados ao nível do género (Triticum - ou
seja, classificados só como trigo) em diversas jazidas. Em S. João de Rei não foram
mesmo identificados quaisquer grãos além do nível do género (Dopazo Martínez, 1996;
Bettencourt, 1999; Oliveira, 2000).
Alguns cereais foram identificados em poucos sítios, nomeadamente cevada de grão nu
(Hordeum vulgare subsp. vulgare var. nudum) (1 sítio), centeio (Secale cereale) (1) e milho-
painço (Setaria italica) (2). No que respeita aos grãos de trigo de morfologia globiforme,

160
não é claro a que táxon pertencem, mantendo-se aqui a designação de base morfológica
(ver discussão em Tereso, 2012). Foram identificados no Crasto de Palheiros e também
nos primeiros estudos carpológicos do Crastoeiro (Silva, 2001), não incluídos na Tabela 1.
Grãos de aveia (Avena sp.) foram identificados em 7 das 13 jazidas aqui analisadas, o
que põe esta táxon a par de trigos e cevada. Porém, este táxon inclui espécies silvestres
e domésticas de aveia, indistinguíveis pela morfologia dos grãos. As aveias silvestres
são comuns em toda a região, sendo mesmo daninhas de cultivos habituais nos campos
agrícolas (Aguiar, 2000). Só através das inflorescências podemos distinguir as diferentes
espécies, mas estas componentes da planta são muito frágeis e raramente sobrevivem
à combustão. Na área de estudo, só no Crastoeiro foram identificadas bases de flórulas
e estas eram de Avena sterilis tipo, ou seja, de um táxon silvestre (Seabra et al., 2015,
2018a, 2018b). Este achado obriga a colocar em dúvida o caráter doméstico das aveias
que têm vindo a ser descobertas no Noroeste peninsular e que levaram à conclusão de
que este cultivo havia sido introduzido na região em momentos iniciais da Idade do Ferro
(Tereso, 2012). Não devemos assumir que todos os grãos de aveia descobertos na região
pertencem a espécies silvestres, mas temos de obter mais dados para esclarecer este
ponto, que é particularmente importante para compreendermos a agricultura praticada,
tendo em conta o possível significado ambiental e económico das aveias cultivadas.
Como é possível observar tanto na Tabela 1 como na Figura 2, não se verificam
diferenças na distribuição dos cereais pela região de estudo. Ou seja, no período em
questão, encontramos quase todos os cereais acima mencionados, tanto no Noroeste
de Portugal/Sudoeste da Galiza, como no Nordeste de Portugal, não havendo dados
suficientes para o restante território. A exceção, por ora, reside na ausência de trigos
vestidos nos contextos da Idade do Ferro do vale do Sabor – Chã e Quinta de Crestelos
– que tem eco noutros estudos da mesma região, ainda por terminar e, por isso, inéditos.
A continuação dos estudos em questão poderá vira a permitir compreender esta situação
em particular, mas, não podemos deixar de referir que o trigo espelta surge em contextos
de momentos avançados da Época Romana no Nordeste de Portugal, a Norte do vale do
Sabor, nomeadamente, na Terronha de Pinhovelo (Tereso, 2009).
O período que analisamos é demasiado curto para detetarmos padrões cronológicos,
restando comentar que a maioria dos cultivos acima mencionados surge em períodos
anteriores.

161
Tabela 1- Síntese de dados carpológicos (presença/ausência). Cinza escuro assinala a presença de partes de
inflorescências.

162
O trigo de grão nu encontra-se na Península Ibérica desde o início do Neolítico, no 6º
milénio a.C. (Zapata, Peña-Chocarro, Pérez-Jordá, & Stika, 2004; Buxó & Piqué, 2008;
Antolín & Buxó, 2011), em especial a(s) espécie(s) tetraploide(s) (T. turgidum subsp.
turgidum/T. turgidum subsp. durum). A imprecisão do diagnóstico taxonómico dos grãos de
cereal torna difícil compreender quando foi introduzido o trigo hexaploide (T. aestivum). Só
através de partes das inflorescências é possível chegar a uma identificação mais precisa.
Na região Noroeste, foram encontrados fragmentos de ráquis de trigos hexaploides em As
Laias/O Castelo (Tereso et al., 2013b) e no Crastoeiro (Seabra, 2015, 2018a, 2018b).
O Triticum dicoccum acompanhou os trigos nus desde o início da neolitização (Zapata
et al., 2004; Buxó & Piqué, 2008; Antolín & Buxó, 2011) e, surge na região em contextos de
início da Idade do Ferro em Penalba (Aira Rodríguez, Ramil Rego & Álvarez Nuñez, 1990).
Foi registado em contextos do Neolítico antigo do ocidente peninsular, nomeadamente da
Estremadura portuguesa (López Dóriga, 2015) e numa fossa do Bronze inicial/médio no
Freixo (Marco de Canaveses) (Tereso et al., 2016), mas a escassez de dados carpológicos
de contextos neolíticos e calcolíticos no noroeste peninsular não permite conhecer a
cronologia da sua introdução na região. Já o trigo espelta parece ter sido uma introdução
da Idade do Ferro (Tereso, 2012; Tereso et al., 2013b), ainda que não existam datações
diretas sobre espiguetas deste cultivo.
Na verdade, os trigos de grão vestido parecem ter tido grande importância na região,
tanto durante a Idade do Ferro como em Época Romana, a julgar pela sua presença
frequente em sítios arqueológicos (Tereso, 2012, Tereso et al., 2013a, 2013b).
A relevância deste aspeto reside no facto de contrastar com a diminuição do peso dos
trigos vestidos nos sistemas agrícolas das regiões ibéricas mais meridionais, exatamente
a partir da Idade do Ferro.

163
Fig. 2 - Distribuição dos principais grupos de cereais. Ver legenda de Figura 1 para identificação e localização
mais precisa dos sítios.

164
A cevada de grão nu, também presente em contextos ibéricos desde o Neolítico, terá
perdido relevância durante o Calcolítico e início da Idade do Bronze, à medida que a
cevada de grão vestido se afirmou nos sistemas agrícolas. No período e região aqui em
análise, foi documentada unicamente no Alto do Castro (Dopazo Martínez et al., 1996),
o que, apesar do problema de representatividade dos dados carpológicos acima referido,
poderá significar que seria cultivado de forma esporádica.
Os dados carpológicos atuais sugerem que o milho-miúdo foi introduzido no Noroeste
peninsular, tal como no resto da Península Ibérica, durante o Bronze médio (Tereso et
al., 2016). Ainda assim, Sola (Bettencourt, 1999) é o único sítio com (escassos) vestígios
carpológicos desta cronologia. Durante o Bronze final e Ferro inicial, o milho-miúdo devia
ser já um cultivo particularmente relevante, surgindo num grande número de jazidas, por
vezes em grande quantidade, em particular no Norte de Portugal (Tereso et al., 2013). Esta
relevância ter-se-á mantido durante a Idade do Ferro, pois é o cereal que surge num maior
número de sítios arqueológicos, dispersos por toda a região de estudo. A preponderância
do milho-miúdo nos sistemas agrícolas da Idade do Ferro, com antecedentes no Bronze
final e continuação para Época Romana (Tereso et al., 2013a) contrasta com o papel
secundário que lhe era atribuído em sínteses anteriores (Ramil Rego, 1993; Aira Rodríguez
& Ramil-Rego, 1995; Dopazo Martínez, 1996; Dopazo Martínez et al., 1996; Ramil Rego et
al., 1996). Devemos, porém, contextualizar esta diferença interpretativa. Os grãos de milho
apresentam dimensões muito pequenas (c. 1 mm de diâmetro) tornando a sua identificação
durante os trabalhos de campo particularmente difícil. A aplicação de métodos de trabalho
mais adequados, implicando a recolha de amostras sedimentares e a sua flutuação
com recurso a malhas de crivo de reduzida dimensão, tornou mais recorrente a sua
identificação, o que teve notórios impactes na interpretação dos sistemas agrícolas proto-
históricos e romanos da região (Tereso, 2012; Tereso et al., 2013c, 2016).
No que respeita ao milho-painço, existem poucos dados carpológicos, o que torna difícil
a sua integração cronológica. Aos vestígios de Castrolandín (Martín-Seijo et al., 2015)
e Crastoeiro (Seabra, 2015, 2018a,2018b), junta-se a presença desta espécie no castro
de Navás, onde foram alvo de uma datação por radiocarbono que posicionou estes grãos
nos séculos II/I a.C. (Moreno-Larrazabal et al., 2015). Esta é a única informação publicada
referente a estes vestígios pelo que não foi incluída na Tabela 1.

165
Por fim, deve ser assinalada a presença de grãos de centeio em fossas de armaze-
nagem do Crastoeiro (Seabra, 2015, 2018a,2018b). Cada uma das duas datações de
radiocarbono obtidas, apresenta intervalos difíceis de interpretar, mas em conjunto
sugerem uma cronologia de meados do século I a.C., correspondendo aos vestígios de
centeio mais antigos de toda a Península Ibérica. Ainda que existam outras menções a este
cereal, referem-se a vestígios que nunca foram alvo de identificações por carpólogos ou
cujo contexto arqueológico e cronológico não foi suficientemente esclarecido (e.g. Álvarez
González, López González & López Marcos, 2006).
Considerando a cronologia dos achados, não podemos excluir a hipótese de este cultivo
ter sido introduzido na região por influência romana. Neste sentido, deve ser salientada
a presença, no Crastoeiro, de elementos da mesma cronologia que atestam a integração
do sítio num espaço de influência romana, se não do ponto de vista administrativo, pelo
menos, comercial (Seabra, 2015, 2018a,2018b). O centeio encontra-se largamente ausente
do registo dos séculos subsequentes (Tereso et al., 2013c), o que sugere que, embora
conhecido pela população da região desde o século I a.C., não foi amplamente cultivado
pelo menos até ao início da Antiguidade Tardia.
Tem sido salientada a versatilidade e, acima de tudo, a complementaridade dos cereais
cultivados durante a Idade do Ferro no Noroeste peninsular (Tereso, 2012, 2013; Tereso et
al., 2013c; Seabra et al., 2018a, 2018b). O grupo dos trigos nus inclui espécies exigentes
ao nível dos solos e da exposição solar, sendo muito produtivas em condições ambientais
favoráveis. Pelo contrário, os trigos vestidos estão bem adaptados a solos pobres e a
invernos chuvosos. Estudos agronómicos e experimentais demonstraram que os trigos
vestidos são mais produtivos do que os trigos nus em ambientes de montanha, húmidos e
com solos menos férteis (Rüegger & Winzeler, 1993; Nesbitt & Samuel, 1996; van der Veen
& Palmer, 1997; Troccoli & Codianni, 2005). Também a cevada de grão vestido como o
milho-miúdo são ambientalmente pouco exigentes. Já o cultivo do centeio nos piores solos,
reservando para o trigo os terrenos mais férteis e com melhor exposição solar, está bem
documentado etnograficamente (Júnior, 1977), atestando a versatilidade deste cereal.
O processamento das espigas após a colheita, para libertar os grãos, é bastante mais
moroso nos trigos vestidos do que nos trigos nus, o que poderá ter contribuído também
para o quase abandono dos trigos vestidos ao longo da Idade do Ferro e Época Romana

166
noutras regiões ibéricas e europeias. A relevância dos trigos vestidos no Noroeste
peninsular durante a Idade do Ferro e Período Romano, em contraciclo com o que se
verifica noutras regiões ibéricas, poderá residir exatamente na sua adequação a áreas
de montanha, com solos pobres e climas frios e húmidos, assim como no facto de se
adequarem a armazenagem de longa duração (ver discussão em Tereso et al., 2013b).
Considerando as características ambientais (e.g. grande pluviosidade, Invernos muito frios,
solos geralmente pouco férteis) e ao caráter montanhoso da região Noroeste, agravado
pela implantação preferencial dos castros em locais elevados, estes cereais seriam uma
boa estratégia para garantir a segurança alimentar das comunidades castrejas. Ainda
assim, a alimentação humana está fortemente condicionada por fatores de ordem cultural,
devendo também neste campo ser procurada uma possível explicação para a presença
significativa destas espécies.
É certo que o conjunto de cereais cultivados incluía espécies com ciclos de vida
bastante distintos. O milho-miúdo é um cultivo de Primavera, com um ciclo de vida muito
curto, que permite que seja semeado na Primavera e colhido no Verão (Vázquez Varela,
2000; Hunt & Jones, 2008). Os restantes cereais são cultivos de Inverno, mas são comuns
as variedades de Primavera tanto de cevada como de trigo mole (T. aestivum). Em Trás-os-
Montes até centeio de Primavera era cultivado recentemente (Taborda, 1932). Ainda assim,
a principal vantagem de cultivar centeio, assim como os trigos vestidos, reside no facto
de não só crescerem em solos pouco férteis, como também tolerarem invernos rigorosos,
húmidos, frios e com geadas.

3.2. LEGUMINOSAS E OUTROS CULTIVOS


A única leguminosa que surge de forma recorrente nos castros da Idade do Ferro é
a fava (Vicia faba), tendo sido identificada em 7 dos 13 sítios aqui tratados. Tal como os
cereais, surge por toda a área de estudo. El Castrelin é o único sítio onde foram recolhidas
ervilhas (Pisum sativum) (Tabela 1), no entanto, devemos ter em conta que foram
igualmente recolhidas ervilhas em As Laias/O Castelo (Tereso et al., 2013b), em níveis
mais antigos do que o período aqui estudado, pelo que não surge na Tabela 1, assim como
em alguns sítios do Bronze final (Tereso et al., 2016) e Romanos (Tereso et al., 2013a).
A pouca frequência e, em especial, a escassa diversidade de leguminosas no

167
Noroeste poderá resultar de problemas de preservação, já abordados acima, ou mesmo
de amostragem. É necessário incrementar os estudos de Arqueobotânica e melhorar as
estratégias de amostragem em escavação para conseguir mais e melhores dados.
Ainda assim, é evidente a escassez de cultivos não cerealíferos nos contextos
arqueológicos da Idade do Ferro na região. Esta escassez, aliás, verifica-se também nos
sítios da Idade do Bronze (Tereso et al., 2016) e de Época Romana (Tereso et al., 2013a),
ainda que em sítios da Idade do Bronze também encontremos linho (Linum usitatissimum)
e papoila (Papaver somniferum). Sementes de linho foram igualmente recolhidas em níveis
do século II d.C. de Petón do Castro (Dopazo Martínez, 1996), a que se soma a referência
por Plínio (Nat. Hist., 19, 1) à exportação para a Península Itálica, de linho dos Zoelae,
povo localizado no Nordeste de Portugal.
O caráter doméstico ou silvestre das uvas (Vitis vinifera) cujas grainhas têm sido
recolhidas na região é difícil de abordar com os vestígios carpológicos hoje existentes
pois os conjuntos de sementes não são suficientemente numerosos para abordagens
biométricas ou de morfometria geométrica. Ainda assim, no período que aqui abordamos,
com frequentes contactos com o mundo romano, é possível que fossem cultivadas videiras
na região, em especial no Sul da área de estudo, considerando que os cinco sítios com
grainhas são todos no Norte de Portugal. Esta tendência geográfica também se verifica em
Época Romana (Tereso et al., 2013a).

3.3. RECOLEÇÃO DE FRUTOS SILVESTRES


É provável que a recoleção de bolotas (Quercus sp.) tivesse bastante importância
para as comunidades castrejas, a julgar pela presença recorrente destes frutos nos sítios
arqueológicos (Tereso, Ramil Rego, & Almeida da Silva, 2011). Salientamos que a Tabela
1 só apresenta sítios com cultivos e que existem várias jazidas onde foram recolhidas
bolotas e não foram recolhidos cultivos. A presença frequente de bolotas no registo
arqueobotânico parecia confirmar as observações de Estrabão acerca do peso deste fruto
na alimentação humana antes da conquista romana. Porém, a abundância e diversidade
de plantas e faunas domésticas detetadas nos castros demonstra que a alimentação das
comunidades da Idade do Ferro baseava-se essencialmente em produtos resultantes de
práticas produtivas. A grande dimensão das bolotas terá conduzido à sua recolha frequente

168
em escavações desde muito cedo na Arqueologia castreja (Silva, 1986), por oposição aos
cultivos, todos com sementes/frutos de menores dimensões. Por outro lado, trata-se de um
fruto facilmente identificado sem recurso a especialistas.
Quaisquer outros frutos silvestres surgem de forma ocasional, nomeadamente os
medronhos (Arbutus unedo) e as amoras (Rubus sp.). Não podemos, porém, deixar de
colocar a hipótese de também aqui existirem problemas de preservação a condicionar a
sobrevivência de vestígios destes e de outros frutos até aos dias de hoje.

4. CONCLUSÃO

O registo carpológico demonstra que as comunidades castrejas, num momento de


transição da Idade do Ferro para a Época Romana, apresentavam uma agricultura à base
de um conjunto diverso de cereais, mas também de outros cultivos. Diferentes espécies de
trigos, cevadas e milhos, com características agronómicas distintas, permitiam uma maior
otimização do território de exploração de cada povoado, possibilitando a exploração de
terrenos com diferentes tipos de solos e exposição solar, entre outras variáveis ambientais.
Por outro lado, o cultivo de espécies de Primavera e de Inverno não só pressupõe um
forte compromisso por parte das comunidades humanas face aos trabalhos agrícolas, ao
longo de todo o ano, como também permite compensar eventuais perdas de colheitas após
Invernos rigorosos.
A continuação do cultivo de trigos vestidos, incluindo uma nova espécie, o trigo espelta,
em contraste com outras regiões ibéricas, poderá relacionar-se com o facto destas
espécies serem particularmente produtivas em ambientes montanhosos, frios e chuvosos.
Neste sentido, estes cereais parecem adequar-se particularmente bem às características
ambientais e geomorfológicas da região Noroeste.
De um modo geral, a aposta num conjunto diverso e complementar de cultivos, por
oposição a estratégias agrícolas com base em monoculturas, assegura uma produtividade
mínima que permite enfrentar, com segurança, intempéries, prevenindo ou minimizando
tempos de escassez de alimentos. A recolha de frutos silvestres, assim como a caça e a
pastorícia completariam um cenário de autossuficiência das comunidades castrejas.

169
As trocas locais, regionais ou extrarregionais, atestadas pela presença de materiais
cerâmicos exógenos (González-Ruibal, 2003), poderiam ser formas de incorporação de
inovações agrícolas e até de integração de novos produtos, mas não temos informações
que nos permitam outorgar ao comércio um papel relevante no aprovisionamento de
alimentos durante a Idade do Ferro.

170
5. REFERÊNCIAS

Aguiar, C. (2000). Flora e Vegetação da Serra de Nogueira e do Parque Natural de Montesinho.


Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa.
Aira Rodríguez, M. J., & Ramil-Rego, P. (1995). Datos paleobotánicos del Norte de Portugal (Baixo Minho).
Estudio polínico y paleocarpológico. Lagascalia, 18(1), 25-38.
Aira Rodríguez, M., Ramil Rego, P., & Álvarez Nuñez, A. (1990). Estudio paleocarpológico realizado en el
Castro de Penalba (Campolameiro, Pontevedra. España). Botânica Complutensis, 16, 81-89.
Alarcão, J. (1992). A evolução da cultura castreja. Conimbriga, 31, 39-71.
Álvarez González, Y., López González, L., & López Marcos, M. (2006). La secuencia cultural en el Castro de
Vilela. Cuadernos de Estudios Gallegos, 53(119), 9-31.
Antolín, F., & Buxó, R. (2011). L’explotació de les plantes al jaciment de la Draga: contribució a la història
de l’agricultura i de l’alimentació vegetal del neolític a Catalunya. In J. Bosch, J. Chinchilla, & J. Tarrús (Ed.), El
poblat lacustre del neolític antic de La Draga: Excavacions de 2000-2005 (pp. 147-174). Girona: MAC-CASC
(Monografies del CASC, 9).
Bettencourt, A. M. S. (1999). A paisagem e o Homem na bacia do Cávado durante o II e o I milénio AC. (PhD
thesis), Universidade do Minho, Braga.
Buxó, R., & Piqué, R. (2008). Arqueobotánica. Los usos de las plantas en la península Ibérica. Barcelona:
Ariel.
Dopazo Martínez, A. (1996). La dieta vegetal del Noroeste Ibérico durante el Holoceno. Una aproximación a
través del análisis paleocarpológico. (Undergraduation Thesis), Universidad de Santiago de Compostela.
Dopazo Martínez, A., Fernández Rodríguez, C., & Ramil-Rego, P. (1996). Arqueometría aplicada a
yacimientos Galaico-romanos del NW Penínsular: valoración de la actividad agrícola y ganadera. In P. Ramil-
Rego, Fernández Rodríguez, C., Rodríguez Guitían, M. (Ed.), Biogeografia Pleistocena - Holocena de la
Península Ibérica (pp. 317-332). Santiago de Compostela: Xunta de Galicia.
Fabião, C. (1992). O Passado Proto-Histórico e Romano. In J. Mattoso (Ed.), História de Portugal,1, Antes
de Portugal (pp. 77-299). Lisboa: Círculo de Leitores.
Figueiral, I. (2008). O Crasto de Palheiros (Murça, NE Portugal): a exploração dos recursos vegetais
durante o III/inícios do IIº milénio AC e entre o Iº milénio AC e o séc. IIº DC. In M. J. Sanches (Ed.), O Crasto de
Palheiros. Fragada do Castro. Murça – Portugal (pp. 79-108). Murça: Município de Murça.
Figueiral, I., Sanches, M., & Cardoso, J. (2017). Crasto de Palheiros (Murça, NE Portugal, 3rd - 1st
millennium BC): from archaeological remains to ordinary life. Estudos do Quaternário, 17, 13-28
González-Ruibal, A. (2003). Arqueología del Primer Milenio a.C. en el Noroeste de la Península Ibérica.
(PhD thesis), Complutense University of Madrid, Madrid.
Hunt, H., & Jones, M. (2008). Pathways across Asia : exploring the history of Panicum and Setaria in the
Indian subcontinent. Pragdhara, 18, 53-68.
Júnior, J. (1977). A cultura dos cereais no leste transmontano. Trabalhos de Antropologia e Etnologia, 23(1),
41-159.
Leite, M., Tereso, J. & Sanches, M. (2018). Cultivos da Idade do Ferro no Crasto de Palheiros: novos dados
carpológicos da Plataforma Inferior Leste. Cadernos do GEEvH, 7(2), 40-68.
Lopéz-Dóriga, I. (2015). La utilización de los recursos vegetales durante el Mesolítico y Neolítico en la costa
atlántica de la península ibérica. (PhD), Universidad de Cantabria.
López Merino, L., Peña-Chocarro, L., Ruiz Alonso, M., Lopez Saez, J., & Sanchez Palencia, F. (2010).
Beyond nature: The management of a productive cultural landscape in Las Medulas area (El Bierzo, Leon,
Spain) during pre-Roman and Roman times. Plant Biosystems, 144, 909-923.
Martín Seijo, M., Teira Brión, A., Otero Vilariño, C. & Abad Vidal, E. (2015). Spatial analysis of
archaeobotanical data at the Iron Age hillfort of Castrolandín (Pontevedra, Spain): firewood, woodcrafts and
crops. Poster presented at the 21st Annual Meeting of the European Association of Archaeologists. Glasgow,
2-5 September, 2015. Retrieved from https://www.researchgate.net/publication/281546942_Spatial_analysis_of_
archaeobotanical_data_at_the_Iron_Age_hillfort_of_Castrolandin.

171
Martins, M. (1990). O povoamento proto-histórico e a romanização da bacia do curso médio do Cávado.
Braga: Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho.
Moreno-Larrazabal, A., Teira-Brión, A., Sopelana-Salcedo, I., Arranz-Otaegui, A., & Zapata, L. (2015).
Ethnobotany of millet cultivation in the north of the Iberian Peninsula. Vegetation History and Archaeobotany,
24(4), 541–554. doi: 10.1007/s00334-015-0518-y.
Nesbitt, M., & Samuel, D. (1996). From staple crop to extinction? The archaeology and history of the hulled
wheats. Paper presented at the Hulled wheats. Proceedings of the First International Workshop on Hulled
Wheats. Promoting the conservation and use of underutilized and neglected crops, Rome.
Oliveira, M. (2000). O registo paleocarpológico do NO peninsular entre o IIIº e o Iº milénios a.C. Contributo
para o estudo da alimentação pré e proto-histórica. (MSc thesis), Universidade do Minho, Braga.
Peña-Chocarro, L., Pérez- Jordà, G., Alonso, N., Antolín, F., Teira-Brión, A., Tereso, J. P., . . . López
Reyes, D. (2019). Roman and medieval crops in the Iberian Peninsula: A first overview of seeds and
fruits from archaeological sites. Quaternary International, 499, Part A, 49-66. doi:https://doi.org/10.1016/j.
quaint.2017.09.037
Ramil Rego, P. (1993). Paleoethnobotánica de yacimientos arqueológicos holocenos de Galicia (N.O.
Cantábrico). Munibe, 45, 165-174.
Ramil Rego, P., Dopazo Martínez, A., & Fernández Rodríguez, C. (1996). Cambios en las estrategias de
explotación de los recursos vegetales en el Norte de la Península Ibérica. Férvedes, 3, 169-187.
Ramil Rego, P., & Fernández Rodríguez, C. (1999). La explotación de los recursos alimenticios en el
noroeste ibérico. In M. García Quintela (Ed.), Mitología y mitos de la Hispania prerromana (III) (pp. 296-342):
Akal.
Rey Castiñeira, J., Abad Vidal, E., Calo Ramos, N., M., M.-S., Quindimil Garcia, L., A., Rico Rey, A.,
Rodríguez Calviño, M., Teira Brión, A. (2009). Metodoloxía e criterios para o estudo dos materiais arqueolóxicos:
o proxecto do Castro da Punta do Muíño. Gallaecia, 28, 213-232.
Rüegger, A., & Winzeler, H. (1993). Performance of Spelt (Triticum spelta L.) and Wheat (Triticum aestivum
L.) at two Different Seeding Rates and Nitrogen Levels under Contrasting Environmental Conditions. Journal of
Agronomy and Crop Science, 170(5), 289-295. doi: 10.1111/j.1439-037X.1993.tb01088.x
Seabra, L. (2015). Estudo Paleoetnobotânico do Povoado da Idade do Ferro do Crastoeiro (Noroeste de
Portugal). (MSc in Archaeology), Universidade do Minho. Instituto de Ciências Sociais, Braga.
Seabra, L., Tereso, J., Bettencourt A. M. S. & Dinis, A. (2018). Crop diversity and storage structures in the
settlement of Crastoeiro (Northwest Iberia): New approaches. Trabajos de Prehistoria, 75(2), 361-378. Doi:
https://doi.org/10.3989/tp.2018.12221
Seabra, L., Tereso, J., Bettencourt A. M. S. & Dinis, A. (2018). Evidências arqueobotânicas e de
armazenagem no povoado da Idade do Ferro e na Romanização do Crastoeiro (Mondim de Basto, Norte de
Portugal). Cadernos do GEEvH, 7(2), 69-94.
Silva, A. C. d. (1986). A Cultura Castreja do Noroeste de Portugal. Paços de Ferreira: Museu Arqueológico
da Citánia de Sanfins.
Silva, A. P. d. (2001). Relatório do estudo carpológico. In A. Dinis (Ed.), O povoado da Idade do Ferro do
Crastoeiro (Mondim de Basto, Norte de Portugal). Braga: Universidade do Minho, Instituto de Ciências Sociais.
Taborda, V. (1932). Alto Trás-os-Montes. Estudo geográfico. Coimbra: Imprensa da Universidade.
Teira Brión, A. (2013). Dentro y fuera del bosque. la gestión de Prunus avium/cerasus en Época Romana y
Medieval en el NW Ibérico, Revista Arkeogazte, 3, 99-115.
Tereso, J. (2009). Plant macrofossils from the Roman settlement of Terronha de Pinhovelo, northwest Iberia.
Vegetation History and Archaeobotany, 18(6), 489-501.
Tereso, J. (2012). Environmental change, agricultural development and social trends in NW Iberia from the
Late Prehistory to the Late Antiquity. (PhD), University of Porto, Porto.
Tereso, J. (2013). Continuidade e mudança nas estratégias agrícolas na Idade do Ferro e Época Romana no
Noroeste Peninsular. Paper presented at the Arqueologia em Portugal. 150 anos, Lisboa.
Tereso, J. P., Bettencourt, A. M. S., Ramil-Rego, P., Teira-Brión, A., López-Dóriga, I., Lima, A., & Almeida,
R. (2016). Agriculture in NW Iberia during the Bronze Age: A review of archaeobotanical data. Journal of
Archaeological Science: Reports, 10, 44-58. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.jasrep.2016.07.011

172
Tereso, J., & Cruz, G. (2014). Frutos e Sementes da Idade do Ferro e Época Romana da Citânia de
Briteiros. Al-madan, 19(1), 83-91.
Tereso, J., Ramil Rego, P., & Almeida da Silva, R. (2011). A exploração de recursos alimentares silvestres
e seu enquadramento nas dinâmicas económicas e sociais das comunidades agrícolas desde a Pré-história
à época romana. In J. Tereso, J. Honrado, A. T. Pinto, & F. C. Rego (Eds.), Florestas do Norte de Portugal.
História, Ecologia e Desafios de gestão (pp. 56-83). Porto: InBio - Rede de Investigação em Biodiversidade e
Biologia Evolutiva.
Tereso, J. P., Ramil-Rego, P., & Almeida-da-Silva, R. (2013a). Roman agriculture in the conventus
Bracaraugustanus (NW Iberia). Journal of Archaeological Science, 40(6), 2848-2858. doi: http://dx.doi.
org/10.1016/j.jas.2013.01.006.
Tereso, J. P., Ramil-Rego, P., Álvarez González, Y., López González, L., & Almeida-da-Silva, R. (2013b).
Massive storage in As Laias/O Castelo (Ourense, NW Spain) from the Late Bronze Age/Iron Age transition to the
Roman period: a palaeoethnobotanical approach. Journal of Archaeological Science, 40(11), 3865-3877. doi:
http://dx.doi.org/10.1016/j.jas.2013.05.007.
Tereso, J., & Silva, V. (2014). Fruits and seeds from an Iron Age ritual of commensality in Frijão (Braga, NW
Portugal). Estudos do Quaternário, 11, 67-72.
Tereso, J., Vaz, F., Jesus, A., Pereira, S., Espí, I., Sastre-Blanco, J. (2018). Os horrea na Quinta de Crestelos
(Mogadouro) na Idade do Ferro e Romanização: dados arqueobotânicos sobre armazenagem e construção.
Cadernos do GEEvH, 7(2), 95-137.
Troccoli, A., & Codianni, P. (2005). Appropriate seeding rate for einkorn, emmer, and spelt grown under
rainfed condition in southern Italy. European Journal of Agronomy, 22(3), 293-300.
Van der Veen, M. (2007). Formation processes of desiccated and carbonized plant remains – the
identification of routine practice. Journal of Archaeological Science, 34(6), 968-990. doi: http://dx.doi.
org/10.1016/j.jas.2006.09.007.
Van der Veen, M., & Palmer, C. (1997). Environmental Factors and the Yield Potential of Ancient Wheat
Crops. Journal of Archaeological Science, 24(2), 163-182..
Vaz, F. C., Martín-Seijo, M., Carneiro, S., & Tereso, J. P. (2016). Waterlogged plant remains from the Roman
healing spa of Aquae Flaviae (Chaves, Portugal): Utilitarian objects, timber, fruits and seeds. Quaternary
International, 404, Part A, 86-103. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.quaint.2015.09.063.
Vaz, F., Seabra, L., Tereso, J., & Carvalho, T. (2017). Combustível para um forno: dinâmicas de ocupação
de um espaço em Monte Mozinho (Penafiel) a partir de novos dados arqueobotânicos. Paper presented at the
Arqueologia em Portugal / 2017 – Estado da Questão, Lisboa.
Vaz, F. C., Tereso, J. P., Martín-Seijo, M., Pereira, S. S., Gaspar, R., Seabra, L., & Sastre-Blanco, J.
(2017). Iron Age ovens and hearths from the hilltop of Quinta de Crestelos, Sabor Valley (NE Portugal):
An archaeobotanical approach on typology, functionality and firewood use. Quaternary International,
458(Supplement C), 75-93. doi: http://doi.org/10.1016/j.quaint.2017.02.028.
Vaz, F., Tereso, J., Lemos, P., & Abranches, P. (2016). Estudo arqueobotânico do Castro de Cidadelhe
(Mesão Frio): resultados preliminares. Estudos do Quaternário, 15, 59-69.
Vaz, F., Tereso, J., Pereira, J., & Pereira, S. (2016). O potencial interpretativo de contextos secundários
e terciários: o caso do estudo arqueobotânico de Chã (Alfândega da Fé). Cadernos do GEEvH, 5(1), 7-28.
Vázquez Varela, J. (2000). El modelo tradicional de cultivo del mijo (Panicum miliaceum L.) en Galicia y
su aplicación a la prehistoria. In J. Vázquez Varela (Ed.), Etnoarqueología: conocer el pasado por medio del
presente (pp. 65-84). Vigo: Diputación Provincial de Pontevedra.
Zapata, L., Peña-Chocarro, L., Pérez-Jordá, G., & Stika, H.-P. (2004). Early Neolithic Agriculture in the
Iberian Peninsula. Journal of World Prehistory, 18(4), 283-325.

173
CARLOS
FERNÁNDEZ
RODRÍGUEZ
LA CAZA EN LA CULTURA CASTREÑA DEL NOROESTE IBÉRICO:
LA INFORMACIÓN ZOOARQUEOLÓGICA

CARLOS FERNÁNDEZ RODRÍGUEZ


Área de Prehistoria – Departamento de Historia
Universidad de León
cferr@unileon.es

RESUMEN
El incremento de los análisis de faunas arqueológicas recuperadas en poblados
castreños del noroeste (contextos prerromanos y romanizados) permite hacer una
aproximación a la importancia que tuvo uno de los recursos accesibles a estas poblaciones:
los mamíferos salvajes. En este trabajo se analizan los datos zooarqueológicos disponibles
y se comparan con los obtenidos tanto en los asentamientos romanos de nueva creación
en el noroeste como en poblados de áreas geográficas limítrofes. Los resultados apuntan
a que el aporte realizado por estos recursos fue por lo general de baja importancia.

PALABRAS CLAVE
Zooarqueología, Cultura castreña, Edad del Hierro, Época romana, Caza.

ABSTRACT
The increase in the analysis of archaeological faunas recovered in northwestern Iberia
hillforts (pre-Roman and Romanized contexts) allows an approximation to the importance
of one of the accessible resources for these populations: wild mammals. In this paper, we
analyze the zooarchaeological data available and compare them with those obtained in the
Roman settlements in the northwest as well as in hillforts in nearby geographical areas.
The results suggest that the contribution made by these resources was generally of low
importance.

KEY WORDS
Zooarchaeology, Castro Culture, Iron Age, Roman Age, Hunting.

177
1. INTRODUCCIÓN

La explotación de los recursos silvestres por las comunidades castreñas del noroeste
ibérico ha sido un tema bastante estudiado en las últimas décadas. En la actualidad ya
se dispone de trabajos bien desarrollados que evalúan el aprovechamiento del medio
marino, en relación tanto con el marisqueo (Fernández, Bejega, & González, 2014; Bejega,
2015) como con la pesca (González, 2014), y también se ha valorado la aportación de los
vegetales no cultivados (Ramil, 1993).
Por lo que respecta a los mamíferos salvajes, su valoración no ha sido tan detallada
como en las temáticas precedentes, quizás por haber quedado enmascarada entre
los estudios globales de las faunas terrestres, dominadas por las especies domésticas
(Fernández, 1996, 2000). A ello debemos además añadir la existencia de una serie de
referencias a la presencia en algunos yacimientos tanto de restos óseos de especies
salvajes, en especial ciervo y jabalí (aun cuando no se contara con identificaciones
taxonómicas adecuadas), como de astas de cérvidos que dieron pie a considerar una
actividad cinegética que habría tenido un desarrollo no despreciable (por ejemplo, López
García, 1927, pp. 80-81; López Cuevillas, 1953, p. 207); propuesta apoyada también en
la existencia de otras evidencias, como el ara a Diana Venatrix de Porto do Son o algunas
referencias de autores clásicos (aunque no fueran estrictamente a los galaicos), que
parecían incidir en este sentido (Tranoy, 1981, p. 96).
Desde los primeros análisis de fauna de poblados castreños, Vázquez Varela indica la
puntual presencia que suponen las especies silvestres, llegando a concluir más tarde en
relación con este tema, aunque el volumen de datos disponibles fuera todavía muy limitado,
que “Existe un número escaso de restos de jabalí y de ciervo que nos permiten suponer
que ambos animales han debido de formar parte de un modo ocasional en el menú de estas
gentes” (Vázquez Varela, 1986, p. 233). Sin embargo, con posterioridad, diferentes autores,
aun asumiendo la escasa evidencia zooarqueológica, siguen abundando en una actividad
cinegética que debería tener mayor desarrollo: “É curioso que os restos de caza sexan
escasísimos, estando apenas documentados o porco bravo e o cervo. É lóxico considerar
que a caza desempeñase un papel semellante ao da recolleita como complemento
alimenticio,…” (Calo, 1993, pp. 157-158), basándose en ocasiones en una idealizada pero

178
compleja correspondencia entre la fauna salvaje potencialmente presente en el medio y el
seguro aprovechamiento que se realizaría de la misma (Torres Martínez, 2003, pp. 245 y
ss.), hipotética vinculación que veremos que no se ha cumplido de manera ni absoluta ni
sistemática.
Nuestro objetivo en este trabajo es el de analizar el estado actual de la investigación
en relación con la práctica cinegética en contextos castreños, basándonos de manera
prioritaria en la información zooarqueológica y centrándonos en el territorio de la actual
Galicia, zona nuclear de la denominada cultura castreña para la que disponemos de datos
faunísticos actualizados. A su vez, los resultados obtenidos serán comparados con los
coetáneos disponibles para otras zonas periféricas al área antes indicada e incluso otras
algo más alejadas, con el fin de plantear y evaluar las hipótesis que puedan resultar más
adecuadas.

2. LA ACTIVIDAD CINEGÉTICA: DATOS ZOOARQUEOLÓGICOS

El potencial número de especies susceptible de ser objeto de caza en el noroeste ibérico


durante el periodo considerado resulta muy extenso, tal y como se puede deducir a partir
de los registros de momentos tanto anteriores como posteriores, y excluyendo, obviamente,
aquellas extinguidas en cronologías previas o introducidas más recientemente (caso de la
gineta, por ejemplo). El listado incluiría, al menos, cérvidos (ciervo y corzo), suidos (jabalí),
grandes bóvidos (uro), pequeños bóvidos (cabra montés y rebeco), équidos (¿zebro?),
lepóridos (liebre y conejo) y un largo catálogo de carnívoros: cánidos (lobo y zorro),
mustélidos (tejón, marta, nutria, etc.) y úrsidos (oso pardo). Evidentemente, los ungulados
serían los que más atención atraerían si se considera un estricto interés bromatológico,
pero este no ha tenido por qué haber sido exclusivo.
Como veremos, el registro zooarqueológico reduce considerablemente el catálogo
de especies cazadas, sobre todo en poblados castreños. No obstante, en los nuevos
asentamientos de fundación romana (sobre todo en los principales núcleos urbanos) se
documenta una mayor diversidad cinegética, que en parte también va a verse reflejada en
otro tipo de registros, como los epigráficos. En este sentido, en el ara y en la placa (CIL

179
II 2660), procedentes de León ciudad, dedicadas a Diana a mediados del s. II d.C. por
Qvintvs Tvllivs Maximvs, legado de la Legio VII Gemina, son citados, en un claro contexto
cinegético, ciervos, corzos, jabalíes, caballos salvajes y, muy posiblemente, osos (entre
otros, Montaner, 2001; Hoyo, 2002).
Debemos tener en cuenta que alguno de estos animales nos plantea problemas a nivel
zooarqueológico, siendo quizás el de mayor interés el de los équidos salvajes. Los referidos
en la arriba citada ara leonesa como ‘caballos que se crían en los bosques’ (eqvorum
silvicolentvm) se han identificado con zebros (Pascual, 2008), équidos para los que existe
un reciente y detallado estudio crítico (Nores, Morales, Llorente, Bennett, & Geigl, 2015).
Pero más allá de esta identificación nominal, la determinación específica a partir de los
muy escasos y fragmentados restos de équidos documentados en contextos castreños
(Fernández, 2000) resulta de difícil realización; aunque tampoco es fácil cuando se trabaja
con las más amplias muestras recuperadas en asentamientos romanos (Fernández, 2003).
En consecuencia, hemos excluido de nuestra valoración los registros de caballos, al no
poder precisar si proceden de animales salvajes o domésticos.
También resulta problemática la valoración de los restos de conejo, no tanto en los
contextos castreños, donde hasta la fecha no hemos documentado ninguno que no
parezca responder a contaminaciones relacionadas con sus actividades fosoras, sino en
los asentamientos romanos, debido a la posible existencia de amplios recintos cerrados
(leporaria, según los autores clásicos) donde se criarían en cautividad, en condiciones
similares al campo abierto, con el fundamental fin de abastecer la demanda de los núcleos
urbanos (Fernández, 2003).
A la hora de evaluar los resultados obtenidos, otro aspecto a tener en cuenta, este de
carácter tafonómico, es el relacionado con las características litológicas (grado de acidez
y drenaje de los suelos) de buena parte de la actual Galicia, que ocasiona la destrucción
de la materia orgánica ósea de manera bastante rápida (Fernández, 2005). Esta realidad
ha dado lugar a que la información disponible se encuentre mayoritariamente agrupada en
zonas litorales, donde los medios arenosos y la existencia de concheros han favorecido la
conservación de estos restos. Es evidente que determinadas especies, tales como la cabra
o en especial el rebeco, tienen sus hábitats preferenciales en zonas de montaña, rocosas,
alejadas por tanto de las áreas donde se concentra el mayor volumen de datos.

180
La información se va a presentar distribuida en tres apartados: el primero dedicado a
los restos óseos recuperados en poblados castreños que reflejan la captura de mamíferos
salvajes; en el segundo se evalúa la presencia de astas de cérvidos; y en el último haremos
referencia a los registros cinegéticos vinculados a los nuevos tipos de asentamientos
surgidos tras la presencia romana en el noroeste (figura 1).

Fig. 1 - Yacimientos citados: 1.- Punta Atalaia (San Cibrao, Lugo); 2.- Castro de Fazouro (Foz, Lugo);
3.- La Campa Torres (Gijón, Asturias); 4.- Punta do Castro (Barreiros, Lugo); 5.- A Devesa (Ribadeo, Lugo);
6.- Castiello de Llagú (Oviedo, Asturias); 7.- Castru de Vigaña (Balmonte de Miranda, Asturias); 8.- Borneiro
(Cabana, A Coruña); 9.- Castro de Viladonga (Castro de Rei, Lugo); 10.- Peña del Castro (La Ercina, León);
11.- Neixón Grande (Boiro, A Coruña); 12.- O Achadizo (Boiro, A Coruña); 13.- Alobre (Vilagarcía de Arousa,
A Coruña); 14.- El Castrelín (Borrenes, León); 15.- Cantodorxo (O Grove, Pontevedra); 16.- A Lanzada
(Sanxenxo, Pontevedra); 17.- Santomé (Ourense); 18.- A Peneda do Viso (Redondela, Pontevedra); 19.- Castro
de Montealegre (Moaña, Pontevedra); 20.- Castro de Vigo (Vigo, Pontevedra); 21.- Santa Tegra (A Guarda,
Pontevedra); 22.- Brigantium (A Coruña); 23.- Cidadela (Sobrado dos Monxes, A Coruña); 24.- Lucus (Lugo);
25.- Legio (León); 26.- Asturica Augusta (Astorga, León); 27.- A Proba (O Barco de Valdeorras, Oursense);
28.- A Igrexiña (Cangas do Morrazo, Pontevedra); 29.- Toralla (Vigo, Pontevedra); 30.- La Cogollina (Teverga,
Asturias); 31.- La Garba (Teverga, Asturias); 32.- Peña del Hombre (Priaranza del Bierzo, León).

2.1. ESPECIES CAZADAS: RESTOS ÓSEOS


La información de tipo zooarqueológico que refleja la presencia de mamíferos salvajes

181
resulta bastante restringida en los poblados castreños del noroeste, tanto en niveles
prerromanos como ya romanizados (figura 1). Como puede apreciarse en la tabla 1, el
elenco de taxones identificados es variado, pero su registro se limita a un único yacimiento
en un número significativo de casos. Además, también destaca la ausencia de alguna
especie, como es el corzo (Capreolus capreolus), cuya presencia en el noroeste aparece
atestiguada en los registros de los núcleos poblacionales romanos y cuyo aprovechamiento
alimenticio por parte del ser humano también ha resultado recurrente en cualquier periodo
considerado.
Entre los registros considerados también algunos presentan problemas (con
interrogantes en la tabla 1). La referencia a un fragmento de mandíbula de tejón (Meles
meles) en el poblado de A Lanzada la realiza Penedo Romero (1988) entre la fauna
procedente de unos sondeos realizados en 1983; sin embargo, en nuestro estudio de esta
misma colección (Fernández, 2000) no reconocimos ningún resto de esta especie.
A su vez, las identificaciones de gato montés (Felis silvestris) resultan también
complejas, por las dificultades de diferenciación con el gato doméstico. Hemos
asignado estos restos de manera tentativa a la especie silvestre (Fernández, 2000,
2001) considerando tanto las biometrías de los elementos analizados como su contexto
cronológico, en dos casos vinculados a ocupaciones prerromanas aunque con evidencias
de contactos comerciales con el sur peninsular en momentos más o menos próximos al
cambio de era, tanto en el denominado sector exterior de A Lanzada (Suárez & Fariña,
1990) como en O Achadizo (Concheiro y Vilaseco, 2011). Si bien la difusión del gato
doméstico en el noroeste ibérico aparece claramente constatado con la presencia romana
(Fernández, 2003), no puede excluirse de manera absoluta la llegada puntual de algún
ejemplar en momentos anteriores, cuando la parte oriental y meridional de la península
ya estaba bajo dominio romano, acompañando a comerciantes desplazados hasta las
costas galaicas, más aun si consideramos las primeras referencias a su presencia en el
Mediterráneo europeo (por ejemplo, De Grossi, 1997). Por lo que se refiere al caso de
Punta Atalaia (en proceso de estudio por nosotros), ha sido asignado de forma tentativa
considerando aspectos biométricos, si bien ya procede de un contexto claramente
romanizado.

182
Yacimientos Cevus Sus Canis Vulpes Meles Felis Lepus
A Peneda do Viso ● ●
Niveles Prerromanos

Montealegre ●
A Lanzada (poblado) ● ● ¿●?
A Lanzada (exterior) ● ●
Cantodorxo ●
Alobre ●
O Achadizo ¿●?
Castro de Vigo ●
Niveles Romanos

Santomé ●
Punta Atalaia ● ¿●?
Punta do Castro ●
A Devesa ●

Tabla 1: Macromamíferos salvajes presentes en castros del noroeste peninsular - Cervus: ciervo (Cervus
elaphus); Sus: jabalí (Sus scrofa); Canis: lobo (Canis lupus); Vulpes: zorro (Vulpes vulpes); Meles: tejón (Meles
meles); Felis: gato montés (Felis silvestris); Lepus: liebre (Lepus sp.). Referencias bibliográficas en el texto.

Otras especies con presencia puntual son el lobo, hasta ahora solo identificado en las
excavaciones desarrolladas en el año 2010 en A Lanzada (Moreno-García, Checa, & López
Romero, s.f.), el zorro, en Cantodorxo (Fernández, Rodríguez, Ferré, & Rey, 1998), o la
liebre, en el Castro de Vigo en un contexto romanizado (Fernández, 2000). Los restos del
zorro y de la liebre, trece y tres respectivamente, parecen proceder de un único ejemplar,
que en el caso del primero (una vértebra torácica, varias caudales y diferentes piezas
distales de las patas delanteras –carpos, metacarpianos y falanges–) podríamos asociar
con el aprovechamiento de una piel.
El jabalí (Sus scrofa) ha sido determinado en tres yacimientos: A Peneda do Viso,
A Lanzada (sector exterior) y A Devesa (Fernández, 2000), si bien las dificultades que
plantea la segregación de los restos de esta especie frente a los procedentes de la
doméstica (Sus domesticus), en especial en ejemplares que no han alcanzado la edad
adulta, puede estar ocultando una mayor frecuencia del agriotipo salvaje que la hasta ahora
reconocida. No obstante, los valores que suponen los suidos en las faunas castreñas de la
zona considerada siempre resultan mucho menos significativos que los de vacuno y ovino/
caprino, al tiempo que reflejan edades de sacrificio muy sistematizadas que sugieren una
explotación de ejemplares domésticos (Fernández, 1996, 2000; Ramil & Fernández, 1999).

183
Es indudable que el ciervo (Cervus elaphus) es la especie mejor documentada en
los registros faunísticos castreños del noroeste, al menos considerando el número de
yacimientos en que está presente. Es también la única constatada en uno de los escasos
poblados de interior para los que disponemos de datos zooarqueológicos, aunque sean muy
escasos: Santomé (Fernández & Rodríguez González, 1999).
En relación con la representatividad que alcanzan estas especies, debe indicarse que
en muchas ocasiones sus frecuencias absolutas no suponen más que un único resto, como
sucede con los félidos o el jabalí en los tres yacimientos donde se ha reconocido cada uno
de ambos, el ya discutido tejón de A Lanzada o el ciervo en Santomé o en Punta do Castro.
Los valores no son mucho mayores en otros casos (2-3 restos): el ciervo en Alobre y Punta
Atalaia (ambos todavía en proceso de estudio) o también en Punta do Castro (Fernández,
1997), o con el lobo y el ciervo en el poblado de A Lanzada. Como ya se indicó, los más
numerosos de zorro de Cantodorxo o de liebre del castro de Vigo sugieren su procedencia
de un único ejemplar. Exceptuando el registro de Cantodorxo, en ninguno de los yacimientos
indicados el porcentaje de los mamíferos silvestres alcanza el 2% del total de restos
identificados, frecuencia que se reduce cuanto mayor es el volumen global de fauna
analizada, como por ejemplo en A Lanzada o Alobre.
Tan solo dos yacimientos se alejan de esta norma, ambos sublitorales (en el sentido
de Rodríguez López & Fernández, 1996) y vinculados a la ría de Vigo: A Peneda do Viso
y Montealegre. En el caso de A Peneda, los valores de ciervo, tanto en un depósito del
museo de Ponteareas como en un sondeo realizado en el conchero, alcanzan frecuencias
relativas de entre el 5-10% (Fernández, 2000), aun cuando el volumen de restos identificados
no es muy alto (y por tanto tampoco muy significativo). Por lo que se refiere al castro de
Montealegre, ya en una primera valoración de la fauna de la intervención de los años 2003-
2004 hicimos especial incidencia en la importancia de los restos de ciervo (Fernández,
2006), realidad que ha venido a ser confirmada en las más recientes excavaciones de 2016-
2017. El análisis de la fauna de esta última campaña constata que Cervus no solo está
presente en varias unidades estratigráficas sino que se ha reconocido una amplia variedad
de partes anatómicas (tabla 2), alcanzando casi el 10% del total de los restos (sumando los
valores de diferentes unidades estratigráficas) para la principal fase ocupacional documentada
que se produce durante los dos siglos inmediatamente anteriores al cambio de era.

184
Unidad Estratigráfica
002 006 009 016 020 029 040 048 056 063 064 099 107 180
Frontal 1/1 1/1
Dientes superiores 1/1 1/1 1/1 1/1
Vértebra cervical 1/1
Vértebra lumbar 1/1
Escápula 1/1
Húmero 1/1
Radio 1/1 1/1 1/1 1/1
Ulna 1/1 1/1 1/1
Metacarpo 1/1 1/1 1/1
Pelvis 2/2 1/1
Tibia 1/1 1/1
Metatarso 1/1 1/1 1/1
Calcáneo 1/1 2/2 1/1 2/1 1/1
Astrágalo 1/1 1/1 1/1 2/2
Centrotarsal 1/1 1/1
Falange primera 1/1 1/1 1/1 1/1
Falange segunda 1/1 1/1
Falange tercera 1/1
Total 2/1 2/1 1/1 2/1 6/1 1/1 12/1 2/1 2/1 4/1 4/1 9/2 2/1 1/1

Tab. 2 - Partes anatómicas de Cervus elaphus del Castro de Montealegre (intervención arqueológica 2016)
distribuidos por unidades estratigráficas (no se incluyen los fragmentos de astas que no conservan la zona
de unión con el cráneo). Se indica, para cada parte anatómica, el número de restos / número mínimo de
elementos; en el total, el número de restos identificados / número mínimo de individuos.

2.2. LAS ASTAS DE CÉRVIDOS


En buen número de los poblados castreños del noroeste resulta habitual documentar
no solo objetos realizados en astas de cérvidos (principalmente mangos) sino también
fragmentos de esta misma materia prima que, por los tipos de marcas que presentan
(cortes y aserrados), se vinculan con los procesos de elaboración de útiles (figura 1).
Por sus dimensiones (espesor de la cortical) y, cuando se conserva, la morfología de
la superficie exterior, la especie de procedencia es el ciervo (Cervus elaphus) (Fernández
& Caamaño, 1996). En muchos casos estos restos no permiten deducir si responden a un
aprovechamiento de animales cazados o si se corresponden con cuernas de desmogue

185
recolectadas, sin necesidad por lo tanto de abatir un ejemplar de esta especie, de ahí que
no hayan sido incluidos en el epígrafe precedente.
Las únicas evidencias que reflejan el aprovechamiento de astas obtenidas de
ciervos cazados proceden del castro de Montealegre (UE 063 y UE 064), donde se han
documentado sendos fragmentos de cráneo que conservan parte del pedículo, en el que
se reconocen claras marcas de actividad antrópica (cortes). Por el contrario, la evidencia
del uso de astas de desmogue (documentable en las ruedas o medallones basales o en
las puntas distales roídas por los propios cérvidos) se encuentra más extendida, aunque
tampoco es un hallazgo habitual: A Peneda do Viso, Punta do Castro y A Devesa. En los
demás yacimientos citados tan solo se han recuperado fragmentos que no permiten
discernir entre ambos sistemas de obtención: caza o recolección.

2.3. LA CAZA EN CONTEXTOS ROMANOS.


Como hemos indicado con anterioridad, incluimos bajo este epígrafe la información
procedente de aquellos tipos de asentamientos directamente vinculados con la
romanización del noroeste (urbes, aglomerados secundarios, campamentos militares, villas
o factorías) con la finalidad de contar con elementos de comparación contemporáneos a las
fases romanas de los poblados castreños, pero sin el objetivo de aportar una información
tan minuciosa como se hizo para estos.
La información disponible (tabla 3) (figura 1), para un menor número de yacimientos con
datos zooarqueológicos, refleja una presencia similar de especies objeto de caza, faltando
tan solo el lobo (Canis lupus) pero estando muy bien representado el corzo (frente a lo
visto en los poblados indígenas) y también documentándose puntualmente la presencia
de nutria en la factoría litoral de A Igrexiña. Además, en el núcleo urbano de Lucus se han
identificado distintas aves que no se incluirían entre las de corral (perdices y codornices).

186
Yacimientos Cervus Capreolus Sus Vulpes Felis Lutra Lepus Aves
Lucus Augusti ● ● ● ● ●
Cidadela ●
Brigantium ● ● ●
A Pobra ● ●
Toralla ● ●
A Igrexiña ● ●

Tab. 3 - Macromamíferos salvajes presentes en yacimientos romanos del noroeste peninsular - Cervus: ciervo
(Cervus elaphus); Sus: jabalí (Sus scrofa); Vulpes: zorro (Vulpes vulpes); Felis: gato montés (Felis silvestris);
Lutra: nutria (Lutra lutra); Lepus: liebre (Lepus sp.). (Altuna & Mariezkurrena, 1996; Fernández, 2000, 2003;
Colominas, Fernández, & Iborra, 2017).

Si ampliamos el área de análisis, otros asentamientos significativos del noroeste, como


la ciudad de Asturica Augusta (Fernández, 2000, 2003) o, aunque en menor medida, el
campamento legionario de Legio (Fernández & Fuertes, 2003), incrementan el elenco de
especies cazadas, con la presencia, además de los taxones ya señalados, de lobo (Canis
lupus), oso pardo (Ursus arctos) o de un amplio abanico de aves silvestres.
Consideramos que estas capturas reflejan en mayor medida, aunque no exclusivamente,
el resultado de una actividad de tipo lúdico o de prestigio social, relacionada con las élites
administrativas, económicas o militares, que la consecuencia de cubrir unas necesidades
de tipo subsistencial, tal y como hemos apuntado en repetidas ocasiones (Fernández,
2003; Fernández & Fuertes, 2007; etc.). No obstante, sirven para ofrecer un panorama
mucho más realista de la fauna salvaje que habría en el noroeste ibérico, frente al tan
empobrecido que presentan los registros de los poblados castreños. Es conveniente
resaltar que las frecuencias relativas de los restos relacionados con la actividad cinegética
tampoco suponen valores muy significativos en estos conjuntos, no alcanzado el 5% del
total cuando se han analizado series amplias (Fernández, 2003).
Además de los registros faunísticos, se dispone de otras evidencias que pueden
constatar el carácter social de las actividades cinegéticas en los contextos poblacionales
más genuinamente romanos o romanizados. Nos referimos a las inscripciones epigráficas,
y de manera concreta a la dedicada a Diana Venatrix de Porto do Son (Pereira, 1991,
p.195-196), pero en especial al ara y a la placa a la misma divinidad recuperadas en la
capital leonesa y de las que ya nos ocupamos con anterioridad.

187
3. LA ACTIVIDAD CINEGÉTICA: UNA VALORACIÓN SINCRÓNICA AMPLIANDO
EL ENFOQUE

La información zooarqueológica presentada refleja unas prácticas cinegéticas que


podemos calificar como de esporádicas o puntuales en la mayoría de los poblados
castreños del noroeste. Es evidente que, hasta la fecha, tan solo disponemos de contextos
que podemos calificar como basureros domésticos, por lo que las posibles capturas
destinadas a actividades que no hayan dejado registro en estos depósitos no pueden
ser evaluadas. Además, ya señalamos la limitación impuesta por la localización de las
muestras analizadas, que excluye en gran medida el interior galaico y en especial el macizo
oriental.
Con el fin de contrastar la validez de los datos obtenidos, se puede atender a lo que
sucede en las zonas periféricas de la cultura castreña, más concretamente en los actuales
territorios de Asturias y León (figura 1), aun cuando los análisis zooarqueológicos tampoco
resultan muy numerosos, o en algún caso responden a un volumen de material tan limitado
que sus resultados no pueden considerarse absolutos, como por ejemplo en los castros de
La Cogollina (Fernández, 2007) o La Garba (Fanjul, Fernández, López, & Alvarez, 2007) en
el valle de Teverga (Asturias), donde toda la fauna reconocida es doméstica.
Sin abandonar Asturias, en La Campa Torres (Gijón) uno de los dos estudios disponibles,
centrado en contextos del Hierro I, recoge la presencia exclusiva de ciervo como única
especies salvaje, representando en torno al 0,5% del total de restos identificados
(Liesau & García, 2005). El segundo análisis, de materiales próximos al cambio de era,
reconoce también restos de corzo y de cabra montés, aunque el predominio seguiría
correspondiendo claramente al ciervo, con una frecuencia total de la caza próxima al 4%
del total (Albizuri, 2001).
En la misma región, del Castiellu de Llagú o Cellagú (Oviedo) también se dispone de dos
análisis, si bien considerablemente más dispares. En el primero, centrado en la ocupación
del cambio de era, la única especie salvaje es nuevamente el ciervo, con un número de
restos que no llega al 2% del total de identificados (Liesau & García, 2002). Por el contrario,
en el segundo (Adán, 2003), que aborda el análisis de un considerable volumen de restos
tanto de momentos prerromanos como ya romanizados, se registran frecuencias de

188
especies silvestres totalmente discordantes no solo con el anterior análisis sino también
con todo lo conocido para estos poblados tipo castro, al suponer la caza más del 50% en
los contextos prerromanos y algo más del 40% en los romanos. Entre las especies citadas,
se incluyen con valores altos en ambas fases a ciervo, jabalí y cabra montés, a las que en
el segundo estudio se añaden corzo y rebeco. Parece necesaria una revisión del último de
los análisis en el que, por ejemplo, todos los restos de suido se han asignado a la especie
silvestre.
Un último ejemplo por lo que a Asturias se refiere es el Castru de Vigaña (en Balmonte
de Miranda), en el que ciervo y corzo se constituyen en los únicos mamíferos no domésticos
(dejando a un lado la problemática ya comentada de cerdo y jabalí), no presentes en todas
las fases documentadas de una ocupación que se extiende desde momentos prerromanos
hasta los altoimperiales, y con frecuencias que oscilan entre el 0,05 y el 0,2% del total de
los restos identificados (González Álvarez et al., 2018).
Por lo que se refiere a la provincia de León, de la limítrofe comarca del Bierzo se
cuenta con datos muy parciales de la fauna del castro prerromano del Castrelín (San Juan
de Paluezas), donde la caza parece representar menos de un 2% del total (Fernández-
Posse, 2001), aunque no se dispone de datos numéricos, ni de frecuencias, ni de la
especie o especies presentes. En nuestro análisis de los restos faunísticos del cercano
castro, también prerromano, de la Peña del Hombre (Priaranza) tampoco hemos detectado
hasta el momento ninguna evidencia de actividad cinegética. En el resto de la provincia la
información faunística es escasa, al menos la relacionada con asentamientos tipo castro
y ocupaciones prerromanas; en el más alejado poblado de la Peña del Castro (La Ercina),
situado en las estribaciones de la cordillera Cantábrica, las muestras que hasta el momento
hemos analizado indican la presencia de ciervo (en porcentajes bajos) como especie
cazada, así como de équidos aprovechados para consumo, lo que, aun cuando en principio
no tenga por qué ser sintomático del carácter salvaje de los mismos, no deja de ser un
aspecto diferenciador frente a otros sitios.
En definitiva, los datos disponibles para yacimientos del entorno de Galicia, alguno
de los cuales se localiza además en zona de montaña (como el Castru de Vigaña o la
Peña del Castro), no reflejan una mayor incidencia de las actividades cinegéticas, siendo
los recursos aportados por las especies domésticas los que claramente atienden las

189
necesidades alimenticias de estas comunidades. Es decir, no se aprecian diferencias
significativas con lo constatado en los poblados ubicados en la costa o próximos a la misma.
Esta escasa incidencia de la actividad cinegética en el noroeste castreño no parece
responder a una baja presencia de mamíferos silvestres. Como se aprecia en los
asentamientos de creación romana, hay una amplia variedad de especies y los resultados
de la práctica cazadora desarrollada desde estos lugares indican un volumen de capturas
que estaría reflejando una importante población de cuando menos algunos de estos
taxones, como ciervos, corzos o jabalíes, que se constituían como las presas más
buscadas, tal y como también se recoge en las fuentes epigráficas.
Si nos alejamos un poco más en el espacio hasta la cuenca media del Duero, en
zona vaccea, en contextos de la denominada cultura Soto se dispone de información
zooarqueológica de una serie de poblados con ocupaciones del Hierro I y del Hierro II: Soto
de Medinilla, La Mota, Cerro del Castillo, Era Alta, Las Quintanas-Valoria y Las Quintanas-
Padilla (Morales & Liesau, 1995). En estas muestras, en algún caso con volúmenes muy
significativos, la fauna silvestre llega a alcanzar ocasionalmente (como en el Hierro I de
Soto de Medinilla) frecuencias que superan el 25% de los restos identificados, aunque lo
más común es que se sitúe entre el 5% y el 10% del total. Sin embargo, debemos tener en
cuenta que la presa mayoritaria en buen número de estos lugares es el conejo, reflejando
sin duda una amplia población de esta especie (junto a la liebre) favorecida por unas
condiciones del medio adecuadas para su desarrollo y una litología muy propicia para la
realización de sus madrigueras. Si excluimos los valores correspondientes a los lepóridos,
el ciervo se constituye como la principal especie cazada, pero sus frecuencias descienden
hasta situarse en valores de entre el 3% y el 10% del total de restos; en tanto que los demás
mamíferos salvajes cuentan con una presencia muy puntual: jabalí, corzo, lobo, tejón, lince,
gato montés, nutria, oso o castor entre otras. Muy parecidos, con unas condiciones del medio
también muy similares, son los resultados aportados por el registro de la I Edad del Hierro
de Sacaojos (La Bañeza) (Driesch & Boessneck, 1980), en el que se documenta una gran
variedad de animales no domésticos (ciervo, corzo, jabalí, lobo, zorro y lepóridos), si bien
con un volumen de restos que solo supone el 3,5% del total de los identificados, siendo el
ciervo el mejor representado con poco más del 2%.
Parece claro que la actividad cinegética tiene una mayor trascendencia en las

190
comunidades de la zona meseteña que en las del noroeste galaico, pero en este hecho
está influyendo la presencia de una especie con una amplia capacidad reproductora y
una fácil captura mediante trampeo, como es el conejo. La incidencia de otras especies
de mayor talla, y en especial la del ciervo, es en ocasiones igual a la que se percibe en
los poblados castreños que hemos analizado, aun cuando para las prácticas cinegéticas
parezca ser en principio más adecuado el territorio meseteño, con amplias llanuras que
permiten una mayor visibilidad de las presas.
En cualquier caso, debe recordarse que en dos poblados castreños, A Peneda do Viso
y en especial Montealegre, se registra una significativa presencia de restos de ciervo,
superando claramente la constatada en los demás sitios analizados. Parece lógico valorar
que determinadas comunidades, aprovechando quizás la ubicación de sus poblados, hayan
explotado en mayor medida estos recursos; en este sentido, el castro de Montealegre,
aunque próximo al mar, se ubica en una zona ya relativamente elevada de la ladera que
comunica con la parte alta de la península del Morrazo, un espacio abrupto en el que la
existencia de vegetación de carácter boscoso favorecería el que se tratase de una zona de
refugio aprovechada por animales salvajes.

4. CONCLUSIONES

El volumen de evidencias osteológicas resultado de una actividad cinegética es muy


limitado en los contextos relacionados con los poblados castreños del noroeste. Tan solo
el ciervo adquiere una mayor trascendencia en cuanto al número de yacimientos en los
que se ha podido constatar, si bien habitualmente con frecuencias también reducidas;
seguramente su captura tendría una finalidad preferentemente bromatológica, aunque
sus astas también serían aprovechadas en la elaboración de determinadas manufacturas.
Las demás especies representadas lo están de manera más puntual y con frecuencias
mínimas, por lo que su captura parece haber sido más casual, quizás como reflejo del
empleo de técnicas de trampeo o de episodios cinegéticos de carácter fortuito.
Este escaso aprovechamiento de los mamíferos salvajes se contrapone a la aparente
potencialidad que estos alcanzarían, al menos así parecen atestiguarlo los registros

191
faunísticos de los asentamientos más genuinamente romanos o incluso lo reflejado en
ciertas inscripciones de claro carácter cinegético.
Por el momento no resulta posible contrastar otras posibilidades que hubieran motivado
una actividad cinegética con una motivación de naturaleza más simbólica, al carecer de
registros cuya contextualización permita deducir actuaciones de este tipo; análisis que
también se ha mostrado complejo en otras zonas donde se ha tratado de trabajar en
este tipo de enfoques, como la Galia septentrional en los momentos finales de la Edad
del Hierro, donde incluso se disponía de un registro arqueológico mucho más preciso
(Méniel, 2002). Así, no nos resulta posible evaluar propuestas como la que plantea que,
considerando diversas asociaciones hombre-jabalí en las representaciones de alguna
estela, la caza de esta especie formase parte de los ritos de tipo iniciático de los guerreros
castreños del noroeste, ritual al que también se vincularían las conocidas como Pedras
Formosas (García Quintela, 1999); ya ha quedado constancia del reducido número de
restos de esta especie en las series analizadas, hecho que tampoco invalida esa hipótesis,
ya que los residuos de las prácticas de carácter ritual no tuvieron por qué ser depositados
junto a los procedentes de, por ejemplo, las actividades domésticas.
En cualquier caso, resulta evidente que los mamíferos salvajes tuvieron escasa
importancia en el conjunto de los recursos subsistenciales, con frecuencias que oscilan
habitualmente por debajo del 3% del total de restos identificados. Estos mismos valores se
constatan también en poblados de zonas periféricas al área nuclear galaica de la cultura
castreña, por lo que su ubicación (litoral o interior) no parece influir de manera sensible en
los resultados finales. Valores idénticos para las especies cazadas (< 3%) se documentan
asimismo en zonas singularmente alejadas, como en los ya citados poblados de finales
de la Edad del Hierro de la Galia septentrional (Méniel, 2002). También para el País Vasco
se ha definido un descenso en el volumen de la caza de ungulados con fines alimenticios
entre el Hierro I y las fases siguientes (Mariezkurrena, 1990), posiblemente vinculado a una
mejora en los sistemas pecuarios.
En consecuencia, parece lógico considerar que la escasa explotación de los mamíferos
salvajes por las comunidades castreñas como fuente alimenticia ha sido una decisión
consciente, que trataría de evitar depender de unos recursos extremadamente móviles y
no sencillos de obtener, frente a otros también silvestres (en especial, recolección vegetal y

192
marisqueo) con mayor éxito en su adquisición cuando estuvieran disponibles. Naturalmente
no se pueden desestimar las capturas asociadas a otra causas, como las ocasionales
cuando se presentara la oportunidad, las de respuesta ante los daños producidos por los
ungulados salvajes en los espacios cultivados o frente a los ataques de los carnívoros (en
especial el lobo) al ganado, además de otras posibles actividades de carácter ritual cuya
identificación ya hemos calificado de compleja.
Finalmente, debemos insistir en que la presencia de astas no constituye una evidencia
de la captura del animal de procedencia, a no ser que conserve la zona de unión al cráneo.
En los poblados castreños se han reconocido cuernas de desmogue que indican un
proceso de recolección de estos productos, encaminado a la manufactura de determinados
objetos, principalmente mangos. Por su recurrente presencia en los poblados castreños,
que sugiere que este material tiene una importancia significativa en el ámbito artesanal, no
puede descartarse que las astas no hayan formado parte de los productos comercializados
por estas comunidades, con el fin de resolver la posible demanda existente; sin embargo,
reconocemos que se trata de una hipótesis no fácilmente contrastable y que además es un
tema que no corresponde a lo tratado en este trabajo.

193
BIBLIOGRAFÍA

Albizuri i Canadell, S. (2001). Estudio arqueozoológico de los mamíferos salvajes y domésticos de La


Campa Torres (Gijón): estrato de los siglos II y I a.C. In J. L. Maya, & F. Cuesta Toribio (eds.), El castro de La
Campa Torres. Periodo prerromano (pp. 317-347). Serie Patrimonio 6. Gijón: Ayuntamiento de Gijón.
Altuna, J., & Mariezkurrena, K. (1996). Estudio arqueológico de los restos óseos hallados en las
excavaciones romanas de Lugo. In A. Rodríguez Colmenero (ed.), Lvcvs Avgvsti. 1. El amanecer de una ciudad
(pp. 55-106). A Coruña: Fundación Pedro Barrié de la Maza.
Adán Alvarez, G. (2003). Las transformaciones del material óseo en el Castiello de Cellagú (Latores,
Oviedo):
la arqueofauna y el utillaje óseo desde el siglo V a.C. al II d.C. en Asturias (España). Zephyrus, 56, 85-115.
Bejega García, V. (2015). El marisqueo en el noroeste de la Península Ibérica durante la Edad del Hierro
y la Época Romana. Serie Tesis Doctorales. León: Universidad de León [Accesible en: http://hdl.handle.
net/10612/5126].
Calo Lourido, F. (1993). A Cultura castrexa. Vigo: A Nosa Terra.
Colominas, L., Fernández Rodríguez, C., & Iborra Eres, M. P. (2017). Animal husbandry and hunting
practices in Hispania Tarraconensis: An overview”. European Journal of Archaeology, 20 (3): 510-534. DOI:
10.1017/eaa.2016.30.
Concheiro Coello, A., & Vilaseco Vázquez, X. I. (2011). Os materiais de importación de orixe mediterránea
do castro do Achadizo (Boiro, A Coruña). Gallaecia, 30, 107-115.
De Grossi Mazzorin, J. (1997). The introduction of the domesticated cat in Italy. Anthropozoologica, 25-26,
789-792.
Driesch, A. von den, & Boessneck, J. (1980). Tierknochenfunde aus Sacaojos bei La Bañeza (prov. León).
Studien über frühe Tierknochenfunde von der Iberischen Halbinsel, 7, 122-159.
Fanjul, A., Fernández Rodríguez, C, López Pérez, M. C., & Alvarez, A. (2007). Excavaciones en el Castro de
La Garba (Teverga), Asturias. Primeros trazos arqueológicos del poblamiento castreño en la alta montaña.
In A. Fanjul (coord.), Estudios varios de arqueología castreña. A propósito de las excavaciones en los castros de
Teverga (Asturias) (pp. 49-75). Santander: Instituto de Estudios Prerromanos y de la Antigüedad (IEPA).
Fernández-Posse, M. D. (2001). El castro prerromano de El Castrelín de San Juan de Paluezas. Cuadernos
de la Fundación, 2. Las Médulas: Fundación Las Médulas.
Fernández Rodríguez, C. (1996). La ganadería y la caza desde la Edad del Hierro hasta los inicios de la
Edad Media en el noroeste. Férvedes, 3, 201-216.
Fernández Rodríguez, C. (1997). Recursos ganaderos y cinegéticos en los castros costeros del sector
cantábrico lucense (noroeste de la Península Ibérica). Férvedes, 4, 63-79.
Fernández Rodríguez, C. (2000). Los macromamíferos en los yacimientos arqueológicos del Noroeste
peninsular: un estudio económico. In Tesis Doctorales de la Universidad de Santiago de Compostela (año
2000): Humanidades. Santiago: Universidade de Santiago de Compostela.
Fernández Rodríguez, C. (2001). La alimentación cárnica en el castro costero de O Achadizo (Cabo de Cruz,
Boiro, A Coruña). Gallaecia, 20, 165-191.

194
Fernández Rodríguez, C. (2003). Ganadería, caza y animales de compañía en la Galicia romana: estudio
arqueozoológico. Brigantium, 15. A Coruña: Museo Arqueológico e Histórico.
Fernández Rodríguez, C. (2005). La arqueozoología en el noroeste de la Península Ibérica: historia de las
investigaciones. Munibe, 57 (1), 511-523.
Fernández Rodríguez, C. (2006). Os recursos de orixen animal: primeiros datos e avaliación preliminar”. In
R. Aboal, & V. Castro (coord.), O Castro de Montealegre. Moaña, Pontevedra (pp. 323-340). Keltia, 37. Noia:
Editorial Toxosoutos.
Fernández Rodríguez, C. (2007). Análisis de los restos óseos de macromamíferos del Castro de La
Cogollina (Asturias). In A. Fanjul (coord.), Estudios varios de arqueología castreña. A propósito de las
excavaciones en los castros de Teverga (Asturias) (pp. 41-47). Santander: Instituto de Estudios Prerromanos y
de la Antigüedad (IEPA).
Fernández Rodríguez, C., Bejega García, V., & González Gómez de Agüero, E. (2014). Shellfish gathering
during the Iron Age and Roman Times in the northwest of the Iberian Peninsula. In K. Szabó, C. Dupont, V.
Dimitrijević, L. Gómez Gastélum, & Nathalie Serrand (eds.), Archaeomalacology: Shells in the archaeological
record (pp. 135-145). BAR International Series 2666. Oxford: Archaeopress.
Fernández Rodríguez, C., & Caamaño Gesto, J. M. (1996). Utillaje óseo de castros galaico-romanos
de Galicia”. In Humanitas. Estudios en Homenaxe ó Prof. Dr. Carlos Alonso del Real (Vol. 1, pp. 301-318).
Santiago: Universidade de Santiago.
Fernández Rodríguez, C., & Fuertes Prieto, N. (2003). Análisis de la fauna de Maestro Copín y San Salvador
del Nido (León). In B. E. Fernández Freile (ed.). La época romana en León: aspectos arqueológicos (pp. 199-
232). Arqueología Leonesa II, León I. León: Universidad de León.
Fernández Rodríguez, C., & Fuertes Prieto, N. (2007). La romanización del noroeste de la Península Ibérica
y las modificaciones en la presencia, uso y consumo de mamíferos. In S. O. Jorge, A. M. S. Bettencourt, & I.
Figueiral (eds.), A concepção das paisagens e dos espaços na Arqueologia da Península Ibérica (pp. 207-217).
Promontoria Monográfica, 8. Faro: Centro de Estudos de Patrimonio - Universidade do Algarve.
Fernández Rodríguez, C., & Rodríguez González, X. (1999). Análisis de los restos faunísticos del conjunto
arqueológico de Santomé (Ourense). Boletín Auriense, XXIX, 23-38.
Fernández Rodríguez, C., Rodríguez López, C., Ferré, C., & Rey, J. M. (1998). Sondeos en el conchero del
Castro de Punta de Cantodorxo (O Grove, Pontevedra): análisis zooarqueológico. Gallaecia, 17, 177-197.
García Quintela, M. V. (1999). Mitología y mitos de la Hispania Prerromana, III. Serie Interdisciplinar 198.
Madrid: Ediciones Akal.
González Alvarez, D., et al. (2018). El Castru (Vigaña, Balmonte de Miranda, Asturias): un pequeño poblado
fortificado de las montañas occidentales cantábricas durante la Edad del Hierro. Munibe, 69. doi: 10.21630/
maa.2018.69.14
González Gómez de Agüero, E. (2014). La ictiofauna de los yacimientos arqueológicos del noroeste de la
Península Ibérica. Serie Tesis Doctorales. León: Universidad de León [Accesible en: https://buleria.unileon.es/
handle/10612/3378].
Hoyo, J. del (2002). Cvrsu certari. Acerca de la afición cinegética de Q. Tvllivs Maximvs (CIL II 2660).
Faventia, 24 (1), 69-98.

195
Liesau, C., & García García, J. (2002). Los restos óseos: estudios de paleodieta y de industria ósea. In L.
Berrocal-Rangel, P. Martínez Seco, & C. Ruiz Triviño (eds.), El Castiellu de Llagú (Latores, Oviedo). Un castro
astur en los orígenes de Oviedo (pp. 259-282). Bibliotheca Archaeologica Hispana 13. Madrid: Real Academia
de la Historia & Principado de Asturias.
Liesau, C., & García García, J. (2005). La fauna de mamíferos del yacimiento de La Campa Torres (Gijón,
Asturias, España). Zephyrus, 58, 261-266.
López Cuevillas, F. (1953). La civilización céltica en Galicia. Santiago: Porto y Cía.
López García, J. (1927). La Citania de Sta. Tecla o una ciudad prehistórica desenterrada. A Guarda:
Imp. Casa Táboas.
Mariezkurrena, K. (1990). Caza y domesticación durante el Neolítico y Edad de los Metales en el País
Vasco. Munibe, 42, 241-252.
Méniel, P. (2002). La chasse en Gaule, une activité aristocratique?. In V. Guichard, & F. Perrin (eds.),
L’aristocracie celte à la fin de l’âge du Fer (IIe s. av. J.-C., 1er s. ap. J.-C.) (pp. 223-230). Bibracte, 5. Glux-en-
Glenne: Centre Archéologique Européen du Mont-Beuvray.
Montaner Frutos, A. (2001). El ara leonesa de Diana (CLE, 1526): constitución literaria y dimensión ritual.
Emblemata, 7, 9-77.
Morales Muñiz, A., & Liesau, C. (1995). Análisis comparado de las faunas arqueológicas en el valle Medio
del Duero (prov. Valladolid) durante la Edad del Hierro. In G. Delibes, F. Romero Carnicero, & A. Morales Muñiz
(eds.), Arqueología y medio ambiente. El Primer Milenio a.C. en el Duero Medio (pp. 455-514). Valladolid: Junta
de Castilla y León.
Moreno-García, M., Checa, E., & López-Romero, E. (s.f.). Avance preliminar sobre el estudio de la fauna de
mamíferos y aves recuperados en las excavaciones de A Lanzada (Sanxenxo, Pontevedra), 2010. Madrid: IH,
CCHS-CSIC. Inédito.
Nores Quesada, C., Morales Muñiz, A., Llorente Rodríguez, L., Bennett, E. A., & Geigl, E.-M. (2015). The
Iberian zebro: what kind of a beast was it? Anthropozoologica, 50 (1), 21-32. doi: 10.5252/az2015n1a2
Pascual Barea, J. (2008). Razas y empleos de los caballos de Hispania según los textos griegos y latinos
de la Antigüedad. In M. T. Santamaría Hernández (coord.), La transmisión de la ciencia desde la Antigüedad al
Renacimiento (pp. 117-202). Cuenca: Universidad de Castilla La Mancha.
Penedo Romero, R. (1988). Datos paleontológicos sobre la ganadería de la Cultura castreña en Galicia.
Trabalhos de Antropologia e Etnologia, XXVIII (3-4), 325-340.
Pereira Menaut, G. (1991). Corpus de inscripcións romanas de Galicia. I - Provincia de A Coruña. Santiago:
Consello da Cultura Galega.
Ramil Rego, P. (1993). Paleoethnobotánica de yacimientos arqueológicos holocenos de Galicia (N.O.
Cantábrico). Munibe, 45, 165-174.
Ramil Rego, P., & Fernández Rodríguez, C. (1999). La explotación de los recursos alimenticios en el
Noroeste Ibérico. In M. V. García Quintela (Ed.), Mitología y mitos de la Hispania Prerromana, III (pp. 296-319).
Serie Interdisciplinar, 198. Madrid: Ediciones Akal.

196
Rodríguez López, C., & Fernández Rodríguez, C. (1996). Una aproximación al estudio de los yacimientos
castreños del litoral galaico: dimensiones ambientales y económicas. In P. Ramil, C. Fernández, & M. Rodríguez
(coord.), Biogeografía Pleistocena - Holocena de la Península Ibérica (pp. 363-375). Santiago: Xunta de Galicia.
Suárez Otero, J., & Fariña Busto, F. (1990). A Lanzada (Sanxenxo, Pontevedra), definición e interpretación
de un yacimiento castreño atípico. Apuntes para un estudio de los intercambios protohistóricos en la costa
atlántica peninsular. Madrider Mitteilungen, 31, 309-337.
Torres Martínez, J. F. (2003). La economía de los celtas de la Hispania atlántica I. Serie Keltia, 21. Noia:
Editorial Toxosoutos.
Vázquez Varela, J. M. (1986). Dieta real y dieta imaginaria. In J. C. Bermejo Barrera (ed.). Mitología y mitos
de la Hispania prerromana II (pp. 231-239). Serie Interdisciplinar 185. Madrid: Ediciones Akal.

197
Workshop
Cerâmica castreja:
transições
TERESA
SOEIRO
A INVESTIGAÇÃO SOBRE CERÂMICA CASTREJA NO NORTE
DE PORTUGAL

TERESA SOEIRO
U. Porto/Faculdade de Letras - CITCEM

RESUMO
Deambulação bibliográfica por entre olhares significativos e trabalhos de investigação
sobre a cerâmica castreja no Norte de Portugal, de Martins Sarmento ao século XXI,
salientando as propostas crono-tipológicas e as transições.

PALAVRAS-CHAVE
Cultura Castreja; castros do Norte de Portugal; cerâmica castreja; crono-tipologias;
transições.

ABSTRACT
A bibliographic perspective through significant views and research works on castreja
ceramics in Northern Portugal, since Martins Sarmento time until the 21st century,
emphasizing the chronotypological propositions and the transitions.

KEYWORDS
Castreja culture; Northern Portugal hill-forts (“castros”); castreja ceramics;
chronotypologies; transitions.

No programa do congresso internacional Cultura Castreja, identidade e transições, a


tarde do segundo dia ficou reservada para o workshop Cerâmica Castreja: transições,
que decorreu no Museu Convento dos Lóios, acompanhado por uma mostra sumária de
espólios provenientes de escavação. Aos convidados, responsáveis pelas intervenções de
campo e projectos, pedimos que se debruçassem sobre esta temática específica a partir
dos resultados obtidos em sítios arqueológicos escolhidos pela sua pertinência. Já a mostra

201
teve o objectivo de permitir aos participantes visionar directamente materiais significativos,
mesmo que as peças fossem pouco exuberantes, para em redor da mesa (imaginária)
gerar um debate informado. Não se tratou de exposição, isso exigiria outros procedimentos
e recursos.
Fizemo-lo também em celebração da prática incutida a sucessivas gerações de
arqueólogos por Carlos Alberto Ferreira de Almeida, cidadão ilustre do município da
Feira (que atribuiu o seu nome a uma Escola Básica 2,3 da sede concelhia) e docente
da Faculdade de Letras U. Porto: dialogar infinitamente, visitar e participar nos trabalhos
dos colegas do Norte de Portugal, da Galiza, das Astúrias, etc. que se interessam pelas
mesmas problemáticas históricas e idênticas fontes de informação arqueológicas, observar
e manusear o material sempre que possível, para que todos os sentidos o apreendam e
memorizem.
Com espaço e tempo limitados, não conseguimos abranger todos os investigadores e
sítios arqueológicos desejados, faltaram alguns considerados mesmo muito importantes, ...
ficam para uma próxima ocasião. Neste evento, coube-nos aproveitar o melhor possível
a oportunidade, gratos pelo excepcional acolhimento do Município de Santa Maria da
Feira e Museu Convento dos Lóios, reconhecimento extensível aos investigadores
enquadrados em autarquias, museus e empresas que responderam positivamente e
trouxeram cerâmicas, com o respectivo poster de contextualização, e, evidentemente, aos
demais intervenientes que, por motivos alheios à sua vontade (sobretudo burocráticos),
não se fizeram acompanhar de espólios. Estiveram disponíveis, seguindo a ordem na
mostra, materiais de: Monte do Castro (Ribadumia, Pontevedra); A Lanzada (Sanxenxo,
Pontevedra); Castro Máximo e Bracara Augusta (Braga); Castro de Monte Mozinho e
Necrópole de Monteiras (Penafiel); Castro de Sto Estêvão da Facha (Ponte de Lima);
Castelo de Faria (Barcelos); Castroeiro (Mondim de Basto); Castro de Penices (V. N. de
Famalicão); Cividade de Terroso (Póvoa de Varzim); Castelo de Gaia (V. N. de Gaia);
Castro de Romariz (Feira); Castro de Ovil (Espinho); Castro de Salreu (Estarreja); Crasto
de Palheiros (Murça).

202
1. A CERÂMICA NA INVESTIGAÇÃO SOBRE CULTURA CASTREJA

A cerâmica de uso quotidiano surge nos níveis castrejos dos sítios arqueológicos como
uma expressão das mais constantes, pela sua resiliência à deterioração/eliminação,
e democrática, no sentido de ser utilizada e espelhar todo o espectro social, na sua
diversidade e dinâmicas, acrescendo a grande sensibilidade à transferência cultural de
base, tantas vezes mimética com realidades outras. Presença incontornável, diríamos hoje,
nem sempre obteve o favor dos investigadores, a não ser em casos excepcionais, como
peças com particularidades ou bastante decoradas, sirva de exemplo o vaso de Sendim
(Felgueiras), publicado em 1933 por Rui de Serpa Pinto, que o considerava «das mais
belas peças da olaria castreja» (Pinto, 1933:378), imagem reproduzida à saciedade como
paradigma da olaria castreja meridional.
Martins Sarmento, o primeiro a escavar sistematicamente um povoado castrejo, foi
registando nos diários do trabalho em Briteiros, logo desde 1874, o achado de cerâmica,
embora surja algo secundarizada em relação à arquitectura, à plástica em pedra e aos
objectos de metal. Este eminente pioneiro estava perante o desafio de um processo de
aprendizagem lento, sem guia, e possivelmente assoberbado pela quantidade. Diz-nos,
em 1874, no início das campanhas: «deu muito caco; - um fundo de panella, - bordos
superiores da mesma. Alguns dos cacos são com ornatos em relevo (cordões), outros
insculpidos com gume. O objecto mais completo e notável foi um grão de colla de barro
tambem [des. cossoiro decorado]»; em 1875 «uma pequena esphera achatada, e com
um buraco, de barro, quasi igual à do anno passado; ... appareceu tambem outra aza
atravessada, pegada a um fragmento e o notável é que esta aza está na parte concava
[des. frags vaso de asas interiores]; ... O museu de cacos e pedras está installado na casa
circular. Appareceram nas ultimas escavações fragmentos de vasilhas com lavores novos
[des. frag. decorado com linha de círculos concêntricos]» (Sarmento, 1903:5, 64-65, 123-124).
Cinco anos volvidos (1879), tendo somado a Briteiros a experiência adquirida em
Sabroso, Sarmento já discute, combatendo apriorismos, a seriação diacrónica que pudera
verificar na cerâmica castreja: «Na Citânia a ornamentação arcaica já é rara, em relação
a Sabroso. Quási podia afirmar-se que a importação da louça vermelha e envernizada
suplantou, e pôs aqui em desuso, a indústria do oleiro indígena que burilava pacientemente

203
os seus artefactos e os vendia como o supra summum da moda. Em Sabroso esta industria
está em plena florescência. A variedade dos motivos ornamentais sobe a muito mais de
trinta sendo o mais favorito o triângulo, ou a pirâmide, combinada de vários modos, e,
bem menos frequentemente, o círculo singelo, ou dobrado, às vezes agrupado com ela»
(Sarmento, 1933:28). Mais, na sua excepcional percepção da arqueologia castreja tinha
perfeita consciência de que Sabroso cheira a velho, como diz, pois por baixo dos pisos
das casas, que lhe pareciam mais antigas do que as de Briteiros, havia ainda níveis de
ocupação anteriores «dois a três metros duma terra requeimada, calabreada de fragmentos
de ossos, carvão, metais, cacos, etc.», em paralelo com a muralha, na qual também
identificou diferentes fases e técnicas de construção (Sarmento, 1933:33).
Os trabalhos de campo e publicações de C. Hawkes (Cardozo, 1994e; Hawkes, 1971)
e a pequeníssima sondagem que realizámos neste castro (Soeiro, Centeno & Silva, 1981)
confirmaram a sua assertividade, actualizando argumentos.
Ainda na Citânia de Briteiros, após trinta e duas campanhas da sua responsabilidade
(1935-1968), Mário Cardozo1 pouco avançará no conhecimento da cerâmica, à qual não
dedicou estudo específico2, como fez para outras temáticas da cultura castreja. Refere-se a
ela nos breves relatórios publicados na Revista de Guimarães, reunidos no primeiro volume
das Obras (Cardozo,1994a:195-341), onde trata mais detalhadamente as produções
romanas, assinalando apenas peças castrejas com particularidades, entre as quais
sobressai, na campanha de 1951, a descoberta dos fragmentos de dólio com a inscrição
dedicatória aberta na pasta fresca pelo oleiro Caturo (Cardozo, 1994b:240ss). Alargam-se
um pouco mais as suas considerações nas sucessivas edições do guia Citânia e Sabroso,
embora reconheça logo na primeira, de 1930, que «a cerâmica citaniense, cujo estudo
sistemático está ainda por fazer quer nos aspectos morfológicos e ornamentais, quer na

1
Mário Cardozo foi substituído durante breves ausências. Em 1949, antecipa críticas ao método usado
na escavação, nomeadamente o não reconhecimento e registo da estratigrafia até às cotas mais baixas,
argumentando que isso destruiria o edificado das camadas superiores, «além de a Cultura Norte dos castros
da Idade do Ferro ser o mais homogéneo que se possa imaginar, raras vezes aparecem, num corte de terreno
praticado em qualquer zona de um destes povoados, níveis arqueológicos diversos» Cardozo, 1994a :218).
2
Na comunicação ao II Colóquio Portuense de Arqueologia (1962) reuniu as marcas e inscrições sobre
cerâmica castreja publicadas nos relatórios e guias de Briteiros e Sabroso (Cardozo,1994e: 661-667)). Menos
pertinente é o breve e muito generalista texto apresentado no IV Colóquio Portuense de Arqueologia, publicado
em 1966: As indústrias cerâmicas e vidreiras na antiguidade peninsular, particularmente na cultura dos castros
do noroeste (considerações gerais) (Cardozo, 1994c: 203-208).

204
técnica do seu fabrico e natureza das pastas empregadas, demanda um trabalho especial»
(Cardozo, 1930:38), afirmação repetida na 6ª edição, de 1971, quando estava prestes a
retirar-se (Cardozo, 1971:46).
O Museu da Sociedade Martins Sarmento, para onde confluíram os artefactos
provenientes de Briteiros e Sabroso, bem como de outros castros nortenhos, viria a
constituir-se no acervo de referência para a exposição e os estudos ceramológicos no
âmbito da cultura castreja. Marcos Albuquerque realizou um primeiro ensaio monográfico
em Albuquerque, 1970, Maria Antónia Dias da Silva fecha este ciclo com a sua dissertação
de mestrado A cerâmica castreja da Citânia de Briteiros, entregue na FLUP em 1993 (Silva,
1997). Nas décadas intermédias, de entre o material exumado por Martins Sarmento e
Mário Cardozo, tanto Carlos Alberto F. Almeida como Armando Coelho F. Silva foram eleger
muitas das formas para a construção das respectivas tipologias, a que voltaremos adiante.
A partir de 1977, as escavações são retomadas, seguindo novas metodologias (Silva &
Centeno, 1977; Centeno & Silva, 1978).
Passamos agora de Guimarães ao Porto, para revisitar uma revista que ainda teve
o privilégio de acolher textos de Sarmento, assim como de eruditos vimaranenses
formados na sua esteira. A Portugalia, publicada entre 1899 e 1908, permite-nos entrever
a manifesta vontade de um grupo de investigadores para estudar a cerâmica castreja3,
mesmo considerando-a bárbara. Após duas campanhas em Terroso e Laúndos (Póvoa
de Varzim), financiadas por privados, haviam-se acumulado, depois de selecção, 44
caixotes de espólio, prontamente encaminhado para o Museu Municipal do Porto, onde
era conservador Rocha Peixoto que, com José Fortes, ficaram encarregados de preparar
as respectivas memórias (Peixoto, 1905-1908:680). Lamentavelmente, para tal não houve
o necessário tempo, dada a morte precoce do primeiro e a desagregação do grupo com a
partida de Ricardo Severo.
No entanto, algumas notas esparsas em artigos da revista deixam-nos perceber a
avaliação que faziam da cerâmica e da cultura castreja. Já não estávamos na inocência
primordial de Briteiros, o nosso eco romântico de Micenas e de vetustas civilizações pré-
celtas com que Sarmento brindara os sábios europeus, de visita em 1880. O evolucionismo

3
A cerâmica não teve a sorte que bafejou, por exemplo, as fíbulas, estudadas por José Fortes, que para elas
construiu uma tipologia de referência longamente utilizada (Fortes, 1904 e 1905-1908a).

205
sublinhava agora a rusticidade repetitiva dos artefactos recolhidos nos diferentes castros,
uma fonte de informação arqueológica merecedora de cuidada análise científica, sem
dúvida, mas representativa da barbárie, etapa que se queria há muito ultrapassada, embora
o cepticismo finissecular duvidasse desse progresso na nação portuguesa.
A propósito do recipiente de barro que continha as arrecadas de Laúndos, muito próximo
a exemplares de Terroso, Ricardo Severo diz-nos que «os vasos são, como este, de argilla
grosseira, avermelhada, com elementos muito apparentes de mica e silica, modelados
sem o auxílio da roda de oleiro. Teem o negrume exterior, irregularmente espalhado,
devido á acção do fogo ... e teem o lustre gorduroso proprio d’esta ceramica de barbara
feitura. ... Parecem vestigios de uma industria archaica, ou casos de sobrevivencia em um
meio ulterior de menos barbara civilização» (Severo, 1905-1908:404-405). Partilhavam o
arcaísmo, ao menos decorativo, com a plástica em pedra e muitos motivos da joalharia,
atractivos na sua genuinidade, apesar de demonstração da «impotencia esthetica do
artista e da barbarie do cliente» que «no interior da casa castreja não contemplam outra
arte, a quebrar a monotonia das superficies, na pobre baixella de barro» acrescentaria
José Fortes, no artigo a propósito das jóias de Estela (Póvoa de Varzim), no qual publica
desenhos da cerâmica de Terroso (Fortes, 1905-1908b:615). Rocha Peixoto concordava
com os seus pares na crítica ao crónico atraso na actividade oficinal da região, não se
coibindo de comparar a produção nas olarias de Prado contemporâneas, que estudou
directamente, com a cerâmica de Briteiros, para concluir «indifferentes os minimos avanços
de fabrico ... as actuaes olarias de Prado representam estheticamente uma civilisação
proto-historica» (Peixoto, 1899-1903:270).
O estudo do espólio e da documentação de Terroso e Laúndos foi retomado por Rui
de Serpa (Pinto, 1928;1932), quando se encontravam quase perdidos nas reservas de
museus da cidade do Porto. Com um novo olhar, o atraso é transformado no regionalismo
tão em voga nas primeiras décadas do século XX. Possuindo profundo conhecimento da
investigação internacional do seu tempo, em particular a produzida em Espanha (seguia o
quadro etnológico de Bosch Gimpera) e na Galiza, pelo Seminário de Estudos Galegos a
que pertencia; foi co-autor com a figura de proa dos estudos de cultura castreja, F. López
Cuevillas, pelo que não surpreende a referência ao celtismo da decoração cerâmica, logo
matizado pela existência dos mesmos motivos na cultura ibérica.

206
Na publicação sobre a Cividade de Terroso, que resulta da comunicação apresentada no
IV Congreso Internacional de Arqueologia, de Barcelona - 1929 (Pinto, 1932), teve pouco
espaço para desenvolver as referências à cerâmica castreja, que ilustra com os desenhos
feitos anteriormente, aquando da escavação, talvez por ainda não se encontrar estudada
na sua totalidade, apesar dos artigos que vinha a publicar (1928) no jornal A Voz do
Crente (Gonçalves, 1984:570,575,583) e de o material estar patente ao público no Museu
Municipal do Porto. Distingue claramente a produção castreja das romanas, sobre as quais
deixa interessante nota tendo em vista a sua utilidade na datação. Entre a primeira, afirma,
as decorações incisas primitivas em pasta micácea escura ou amarela seguiam na tradição
da Idade do Bronze (xadrez, “chevrons”, sinusóides, cordões em relevo, traços paralelos
com os intervalos tracejados), enquanto a estampada (círculos simples e concêntricos,
quadrados, séries de palmípedes estilizados (SSS), “postes”, pérolas em relevo) «cuja área
de distribuição quási coincide com a dos castros com casas redondas, revelando a cultura
céltica setentrional» (Pinto,1932:85-86). Fala-nos ainda dos poucos perfis reconstituíveis,
sobretudo pequenas olas de fundo plano, e das curiosas asas no interior dos vasos. Na
exposição figuravam dez vasos castrejos completos, pequenos, recolhidos em 1906-1907,
e muitos fragmentos decorados, cuja diversidade apenas era ultrapassada pelo material de
Sabroso e Santa Trega.
Também para Rui de Serpa Pinto a vida foi curta, e assim a investigação sobre
Terroso permaneceu no limbo, com acelerada perda do espólio cerâmico, enquanto
internacionalmente este castro, em particular pela publicação (incorrecta) da planta,
passava a novo paradigma. Apenas no início da década de setenta a sua cerâmica castreja
atingiria novamente a ribalta, pela mão de Carlos Alberto F. Almeida, primeiro em estudo
local (Almeida, 1972), depois pela integração na síntese de 1974, que aquele preludiava.
As escavações foram retomadas em 1980, com o apoio do município e sob a direcção de
Armando Coelho F. Silva, prosseguindo, assim como a valorização do sítio, com orientação
de J. Flores Gomes (Gomes & Carneiro, 2005; ver texto da apresentação neste workshop).
Os referentes de investigação acima mencionados são casos maiores na área castreja
do Norte de Portugal, mas estão muito longe de únicos. Desde Sarmento, que correu
grande parte do território interamnense despertando eruditos locais para o património
arqueológico, havia em todos os distritos, mesmo na maioria dos concelhos, interessados

207
prontos a fazer levantamentos, recolher materiais de superfície, formar pequenas colecções
e, se possível, publicar as descobertas na imprensa local, ou se fossem bem relacionados,
fazê-lo no Arqueólogo Português, na Revista de Guimarães, nos Trabalhos de Antropologia
e Etnologia ... ou em actas de reuniões científicas, contribuindo assim para o lustre da
sua pequena pátria. Raro será o museu municipal, até meados do século XX, sem cacos
castrejos, ou a notícia de castros que não ilustra um ou outro fragmento decorado, isto
apesar da militante acção de Leite de Vasconcelos para que tudo fosse encaminhado para
o museu nacional e noticiado na sua revista. Recordar4 a actividade de L. Figueiredo da
Guerra. F. Alves Pereira, Albano Belino, Abel Viana, J. Rocha Araújo, L. Quintas Neves,
Afonso do Paço, A. Paço-Quesado, Carlos Teixeira, J. Sellés Paes Villas-Boas5, Eugénio
Jalhay, José de Pinho, C. F. Santarém, J. Santos Júnior, J. Neves dos Santos ... adiciona
casos, mas pouco ajudaria hoje à investigação sobre cerâmica castreja, já que nenhum
se debruçou especificamente sobre esta temática6, ainda que, por vezes, nas publicações
se identifiquem situações interessantes, mesmo que expectáveis. Sirva de exemplo o
aparecimento nos espólios ilustrados provenientes de castros do Alto Minho - Santa
Luzia (Viana & Oliveira, 1954:est.II), Âncora, etc. e mais recente no Côto da Pena (Silva
2015:227) e no Vieito, de produções afins às das Rías Baixas - Galiza (Rey Castiñeira,
1990-1991), que não encontramos a Sul.
O panorama começaria a alterar-se no início da década de setenta, pela valorização e
registo da planimetria e estratigrafia nas novas intervenções, tantas vezes dos mesmos
sítios arqueológicos. Esta mudança foi estrutural no programa de acção e magistério de
Carlos Alberto F. Almeida, levado ao terreno em trabalho participado por estudantes no
Castro de Fiães (1971-1974), na Citânia de Sanfins (1972-1974) e por aí adiante.
Como dissemos antes, Martins Sarmento já observara que havia nos seus castros
diferentes níveis de ocupação; Leite de Vasconcelos, de veraneio em Melgaço (1903),
anota os locais e as camadas que eram encontradas na Cividade de Paderne, por conta do

4
O leitor interessado encontra um extenso repositório bibliográfico, com a vantagem da organização por sítio,
na tese de Armando Coelho F. Silva (1986 e 2007).
5
Com o particular mérito de ter ultrapassado o olhar paroquial e convocado para o estudo da cerâmica
castreja figuras eminentes da arqueologia peninsular, a quem solicitou os trabalhos publicados no Boletim do
Grupo Alcaides de Faria, iniciado em 1948.
6
Maria Margarida Campos Lopes Belo apresentou, em 1959, na Universidade de Coimbra, a tese de licenciatura
em Ciências Histórico-filosóficas intitulada: Subsídio para o estudo das cerâmicas castrejas do Alto Minho.

208
Museu, relacionando-as com as estruturas e o espólio, que descreveu, comparou e ilustrou,
observações estendidas a escavações de outros, como a de Belinho, onde dá relevo à
cerâmica castreja (Vasconcellos 1933a e b); Mário Cardozo, como vimos, descartou a
utilidade do método aplicado aos castros e desvalorizou mesmo o invulgar cuidado de
registo usado por López Cuevillas e Xaquín Lorenzo em Cameixa (López Cuevillas &
Lorenzo Fernández, 1986). Algo de fundamental na investigação da cultura castreja iria,
pois, mudar.

2. PROPOSTAS DE CRONO-TIPOLOGIA

Iniciaremos esta breve incursão nos estudos de sistematização da cerâmica castreja


em 1974. Nesse ano, que hoje parece tão longínquo, foi apresentado à convocatória do
prémio «coronel Mário Cardozo», da Sociedade Martins Sarmento, o pioneiro trabalho
da autoria de Carlos Alberto F. Almeida. Distinguido, viria a ser publicado, com algumas
revisões, na Revista de Guimarães, volume 84, de 1974 (p. 171-197 e 19 estampas),
embora fosse finalmente impresso em 1975, data aposta na separata. Precedera-o, em
três décadas, a tentativa de L. Monteagudo para construir uma tipologia da La cerámica
castreña de la comarca de Vigo, inserida no Archivo Español de Arqueologia, (Monteagudo,
1945), muito limitada na amostra considerada e carente de suporte para ensaiar a atribuição
cronológica. Como bem avaliara López Cuevillas na sua síntese maior sobre a Cultura
Castreja, publicada a meados do século, «seguramente la parte peor estudiada de la cultura
castreña es la correspondiente a las vasijas cerámicas, siendo causa de esta evidente
falta en la investigación la ausencia de yacimientos que, como las necrópolis celtas de
Castilla, ofrezcan una gran cantidad de piezas enteras o fácilmente reconstituibles, que
consientan el estabelecimiento de tipos y aún su ordenación con arreglo a um sistema
cronológico» (1953:343). Por outro lado, o facto de estarmos perante povoados de altura
abandonados de um modo lento seria justificação para neles não encontrarmos senão
restos fragmentados de olaria já inutilizada, argumentos glosados e ampliados por Carlos
Alberto F. Almeida. Tais constrangimentos não impediram López Cuevillas de salientar
a importancia etnográfica (funcional) do estudo da cerâmica e elencar pelo menos uma
dúzia de formas, bem como caracterizar diferentes fabricos, contributo para um «estudio
comparativo... que puede ayudar mucho a la discriminación de los orígenes de los pueblos

209
invasores y a la determinación de las épocas de sus movimientos» (López Cuevillas, 1953:343).
Para a cerâmica castreja do Norte de Portugal, Carlos Alberto F. Almeida publica, em
1972, uma primeira versão da caracterização estilística/cronológica, a propósito da revisão
do espólio de Terroso e Laúndos já mencionado, que se encontrava então reduzido a 2 dos
44 caixotes iniciais, guardados no Museu de Etnografia e História [do Douro Litoral], onde
se expunham também alguns vasos inteiros das mesmas proveniências.
Além deste material de Terroso, analisou diversas outras colecções, pertencentes a
museus e a particulares, conseguindo assim reunir uma interessante panóplia formal
e decorativa da cerâmica castreja, ao mesmo tempo que afinava a sensibilidade para
conjugar estes aspectos com a variação das características da produção, chegando por
esta via à proposta de seriação de 1974. Nesta declara: «vamos tentar estabelecer uma
série de tipos estilísticos desta cerâmica castreja, baseados, magramente, na análise dos
seus pormenores técnicos e modo decorativo, uma vez que não possuímos quaisquer
estratigrafias que nos possibilitem o seu perfeito estudo evolutivo, nem temos ainda
trabalhos que publiquem com certa exaustão a olaria aparecida nos nossos castros.
Julgamos que esta sequência de tipos ou estilos tem certo valor diacrónico. Não lhes
chamamos fases porque devem ter coexistido, em parte. Falta, na verdade, escavar muito,
e sistematicamente, para podermos definir centros de produção, para sabermos quais os
núcleos mais dinâmicos que estiveram na génese da evolução e quais os mais tradicionais
a fim de podermos entender e organizar melhor uma teorização sobre esta cerâmica.
É, por isso, no meio de grandes dificuldades e com muita ousadia que intentamos
demarcar a evolução da cerâmica castreja e esboçar uma sua tipologia» (Almeida,
1974:182-183).
Beneficiou também da informação recolhida nas campanhas que dirigiu no Castro de
Fiães e na Citânia de Sanfins, onde a discussão das estratigrafias e o estudo de materiais
mereceram já grande atenção, bem como na do Castro de Monte Mozinho, embora não
esteja muito ilustrado o material deste sítio arqueológico, pois a intervenção apenas tivera
início em Setembro de 1974, ou seja, no período que medeia entre a entrega do prémio e
a definitiva revisão do texto para publicação. Mesmo assim, a base de que partia era ainda
assaz limitada e insegura.
A maior fragilidade da periodização que apresentou reside nas cronologias mais

210
antigas. Não se conhecia quase nada sobre povoados e necrópoles do Bronze Final, e
sem isso era difícil propor um começo ou transição para o Castrejo. Escreve que o Estilo
A corresponde a uma cerâmica sempre feita à mão, de cozedura razoável, com pastas de
muita mica e desengordurante, apresentando as superfícies geralmente cinzento-escuras,
acidentalmente amarelo avermelhadas. Seriam recipientes grandes, com boca larga;
havia asas anelares, de secção semicircular ou triangular, ou em asas molduradas sobre
a pança, como se fazem nas vasilhas de madeira. Nenhuma forma se mostrou passível de
reconstituição para ilustrar. As decorações, sobre o bojo, feitas a ponta ou estilete, eram
rectilíneas, preferindo as composições com triângulos preenchidos e faixas quebradas
lisas, motivos que faz remontar à tradição Penha. Vulgares também os cordões com
incisões. A cronologia, mal definida, compreenderia os momentos iniciais, não antes do fim
do século V, e terminaria com a afirmação do Castrejo, no III a.C. Esta fase será designada
como de formação ou pré-castrejo em artigos dos anos 80, preenchendo o lapso temporal
até ao final do séc. IV ou início do III a.C. (Almeida 1983; 1984; 1985; 1986).
No Estilo B, a maior diferença resultava do emprego de matrizes complexas ou carimbos
para as decorações, pois passaram a fazer-se muito mais motivos curvilíneos (círculos
concêntricos, SSS encadeados) e os escudetes com besantes, isto sem abandonar as
decorações anteriores, mesmo combinando-se com elas para obter diferentes composições.
A este grupo pertenceria o original fragmento do Castelo de Faria com as figuras
humanas e animais. Muitas asas aparecem agora lançadas do lábio para o alto da pança,
podendo ser polilobadas e torsas.
O Estilo C, que ocupa os séculos II e I a.C., de plena expansão do castrejo, corresponde
ao começo do uso do torno primitivo e a uma maior especialização das formas, afirmando-
se o grande dólio para armazenamento, o tacho de asas interiores usado sobre o lume, os
pequenos vasos de libação e os que imitam vasilhas de prata, etc. Na decoração domina
a distribuição em faixas com linhas incisas, círculos e SSS, motivos estes que também
formam composições em triângulo ou surgem no vértice de triângulos preenchidos
com incisões. Inopinadamente, estes dois estilos virão a ser reunidos nas propostas de
periodização posteriores, sob a designação de Castrejo Antigo, «fase longa e muito mal
conhecida, com todas as suas cerâmicas feitas à mão e, parece, com decoração impressa
somente na sua parte final» (Almeida, 1983:71), «a área castreja patenteia depois, quase

211
até à conquista romana, um grande isolamento e um consequente arcaísmo» (Almeida, 1985:79).
Os estilos D e E teriam, o primeiro uma cronologia entre meados do século I a.C. (ou 30
a.C.) e o fim do governo de Tibério, e o segundo cobriria as décadas subsequentes. Toda a
produção se fazia a torno, embora com decoração - cuja quantidade e qualidade diminui - e
finalização à mão. Os pequenos potes, bem alisados e com um toro no fim do colo, seguido
de uma faixa simples decorada, são bom exemplo. O autor atribui a este estilo/período uma
forma nova, a panela de asas em orelha, e uma maneira peculiar de embelezar os potinhos,
decorando-lhes o exterior do fundo. Na última fase, E, cruza-se a produção castreja com
as romanas, o que leva a substituições e introdução mimética de formas, fabricadas com
técnica castreja mas acabadas com aguadas vermelho-alaranjadas, para se aproximarem
ao novo gosto. Em trabalhos posteriores sobre cultura castreja, a periodização desta etapa é
mais detalhada, remontando o Castrejo Médio às investidas de César e o Castrejo Recente
à reorganização do território com Augusto, estendendo-se até à época dos Flávios, início
do Castrejo Final, que acabará por deixar de incluir na Cultura Castreja (Almeida 1983;
1984; 1985; 1986).
Na construção da tipologia, como esclarece, as 21 formas que definiu, das quais se
excluem as imitações evidentes de produções romanas, seriam quase todas relativamente
tardias, por se tratar das mais abundantes e completas nas colecções dos museus.
A partir de meados dos anos setenta, as campanhas arqueológicas multiplicaram-se,
quer no Norte de Portugal, quer na Galiza, carreando maior quantidade e diversidade de
informação sobre cerâmica, quase toda em contexto. Estes projectos contemplaram vários
castros com décadas de escavação, na tentativa de, com nova metodologia, poder recuperar
informação que permitisse reinterpretar as estruturas e o material anteriormente exumado,
enquanto, em simultâneo, se levavam a cabo acções de preservação e mediação,
necessárias para a sua disponibilização pública.
Foi com um misto de materiais antigos e resultados de novas intervenções por si (co-)
dirigidas que Armando Coelho F. Silva construiu o capítulo sobre cerâmica (p.117-164; est.
XLI LXXXII) da tese de doutoramento apresentada na Faculdade de Letras U. Porto em
1986, com o título A Cultura Castreja no Noroeste de Portugal. Sob o enunciado:
«a sua sistematização em três fases principais, fundamentada nas estratigrafias das
nossas escavações, constituiu um corpus significativo de formas completas procedentes

212
de muitas estações dispersas por toda a área» (Silva, 1986:117), o autor apresenta uma
tipologia que abrange materiais produzidos entre o início do século IX a.C. - Fase A1 e a
Fase IIIB, que termina com a subida ao poder da dinastia dos Flávios (69 d.C.), estando
ilustrados, maioritariamente, exemplares do Côto da Pena, Âncora, Afife, Briteiros, Sanfins,
Terroso, Romariz e Baiões, embora tenham sido considerados espólios de outros sítios,
como ficou referido no texto e sinteticamente indicado no Quadro tipológico da cerâmica
castreja - Gráfico 3.
A apresentação desta tipologia suscita uma dupla leitura, uma vez que o texto privilegia
os contexto cronológicos - Fases, enquanto os desenhos estão organizados por formas,
na sua singular diacronia. Para tornar mais imediatamente perceptível, ainda que de forma
simplista, o cruzamento das duas vertentes, veja-se a infografia do autor construída, em 1991,
para a exposição Cerâmica Castreja, patente no Museu Arqueológico da Citânia de Sanfins.
Nela se verifica, e já o demonstrara Carlos Alberto F. Almeida, como a especialização
das formas se torna muito mais evidente no século I a.C., o período dos grandes
castros, quando a cerâmica é feita a torno, as cozeduras oxidantes aumentam e se dá a
padronização tipológica e decorativa, extensível a grande número de povoados de toda
a área castreja meridional, ainda que com regionalismos. São: taças de beber e vasos
de toucador ou copos derivados de protótipos metálicos; vasos para actividade culinária;
os multifuncionais potes/panelas/púcaros com e sem asa; vasos de suspensão com asas
interiores e em orelha; formas abertas e baixas para comer ou cozinhar, como pratos,
assadeiras, terrinas para tampa, caçoilas; queijeiras e coadores; dólios, cântaros e bilhas
de armazenamento e transporte; testos em calote ou disco; cadinhos e outros vasos para
metalurgia; fusaiolas elaboradas e decoradas para a fiação.
Esta tendência à especialidade e uniformização da pouco decorada cerâmica castreja
deste período conjuga-se com a possível existência de oficinas/centros oleiros a produzir
para o comércio, como parece documentar a existência de marcas idênticas e o seu
achamento em diferentes sítios arqueológicos (est. LXIII-LIV). Estas produções apenas
serão ultrapassadas na segunda metade da centúria seguinte, com a crescente opção
pelos produtos romanos, primeiro imitados em aparência, desde a época de Augusto,
depois em técnica de fabrico e, de seguida, maciçamente adoptados, juntamente com
novas formas de cozinhar e consumir, uma lição sobre a transição eloquentemente

213
documentada em Monte Mozinho, desde 1974 (vide poster relativo a este sítio).
Na Fase II (500-136 a.C.), segundo Armando Coelho F. Silva, a cerâmica castreja
conheceu «um crescente afluxo de influências inovadoras, de ordem técnica, morfológica
e decorativa, de procedência meridional posta em relação com as migrações túrdulas
e o comércio púnico em simultâneo com correntes post-hallstáticas de origem centro-
europeia recebidas através da Meseta», sendo a mais relevante inovação, no período
final, a introdução da roda de oleiro e, desde o início, a da técnica de estampagem para a
decoração. Pastas micáceas mas díspares entre povoados, assim como formas de fazer
e decorar, indiciariam micro áreas de produção que, no entanto, mantêm traços comuns,
como a quase ausência de cerâmica carenada, a preferência pelo perfil em S e os bordos
horizontalizados, características que já haviam sido mais detalhadamente evidenciadas em
Sto Estêvão da Facha (vide poster respectivo).
Serão próprias desta Fase II as formas abertas, como pratos e assadeiras, os vasos de
asas interiores para cozinha, as panelas de lume de pousar e suspender e vasos de pança
ovóide com boca apertada de colo alto em fita aprumada, que o autor relaciona com as
ânforas e outras cerâmicas mediterrânicas o vasilhame tipo dólio tem, de preferência, bordo
em aba larga, horizontal ou oblíqua, assim como os poucos exemplares de recipientes
pequenos, taça ou copo de beber. As fusaiolas são achatadas ou aproximadamente
hemisféricas. Há vasos cuidados e profusamente decorados, como o conhecido exemplar
do Castro de Sendim, para os quais é alvitrado um eventual carácter cultual. Lembramos,
aliás, que no quadro decorativo das diversas fases se apresentam 920 composições
obtidas com diversas técnicas.
A Fase I, entre o século IX e o VI a.C., está exclusivamente ilustrada, quanto a materiais
cerâmicos, com o conjunto do Castro de Baiões (S. Pedro do Sul), bastante periférico
em relação à futura Cultura Castreja, que nele se conhece parca e confusamente. Pelo
contrário, os materiais dos níveis do Bronze Final são relevantes.
Têm paralelo nos achados de cerâmicas carenadas de qualidade que, desde o final da
década de setenta, vinham a ser noticiados em vários sítios do Noroeste, em contextos
onde outras produções mais grosseiras são maioritárias. Atribui estas à tradição autóctone
e aquelas à «influência dos povos dos Campos de Urnas», com «pervivência mesmo para
além dos século VII e VI a.C.» (Silva, 1986:122).

214
Serve-nos esta referência para enlaçar com uma terceira proposta crono-tipológica
para a cerâmica castreja, contida na tese de doutoramento apresentada na Universidade
do Minho, em 1987, por Manuela Martins, com o título O povoamento proto-histórico e
a romanização da bacia do curso médio do Cávado (1990 [tese Dez. 1987]) e no ensaio
temático A cerâmica Proto-Histórica do Vale do Cávado: tentativa de sistematização
(1987)7. A investigação está suportada no trabalho desenvolvido no vale do Cávado,
em área não confinante com o litoral, mormente nas escavações dos povoados de S.
Julião (Vila Verde), Barbudo (Vila Verde) e Lago (Amares), sendo que nos dois primeiros
também existe ocupação do Bronze Final, remontando aos séculos X/IX e IX/VIII a.C.
respectivamente, que, como a Fase IA de Armando Coelho F. Silva, não consideraremos
nesta breve revisão de propostas crono-tipológicas para a cerâmica castreja.
A Fase II, que teria decorrido no longo período que vai do séculos VI/V aos finais
do II a.C., foi estudada por esta autora nos três povoados mencionados, propondo uma
descontinuidade multidimensional nos dois que apresentavam a Fase I. No domínio da
cerâmica, a descontinuidade morfológica manifestar-se-ia pela desaparição dos grandes
potes e formas carenadas, salvaguardando, contudo, a situação reconhecida em S. Julião,
onde na transição há «estratos que fornecem materiais cerâmicos de tradição do Bronze
Final, juntamente com outros que registam as características comuns na cerâmica da Idade
do Ferro da região. [...] Referimo-nos concretamente ao aumento de partículas de mica
nas pastas de alguns recipientes» (Martins, 1990:135). Esta questão já se tornara evidente
em Santo Estêvão da Facha (Almeida et al, 1980) e, a partir desse alerta, verificou-se em
outros sítios arqueológicos. A hipótese agora colocada faz corresponder à louça fina não só
diferente funcionalidade, como a produção em centros especializados regionais, enquanto
a mais grosseira seria doméstica e, por isso, de maior heterogeneidade de fabrico
(Martins, 1987:46).
Retendo apenas as linhas de força caracterizadoras da cerâmica8 da Fase II, verifica que
esta apresenta grande homogeneidade técnica (modelação a partir de um bloco de argila,
em partes para as maiores; cozedura redutora, cores escuras com manchas) e morfológica,

7
E nas monografias de cada povoado, publicadas na U. Minho, Cadernos de Arqueologia: Monografias, 1 a 3.
8
No artigo de 1987 é explicado o método utilizado para o estudo detalhado da globalidade do material
cerâmico. Em simultâneo, Georgiana M. Little, da Universidade de Boston, desenvolveu, com o apoio de
Manuela Martins, um trabalho específico sobre a tecnologia usada na produção destes artefactos (Little, 1990).

215
tanto para as grandes peças como para as pequenas, é «muito micácea, normalmente
mal cozida e pouco alisada; corresponde a um certo número de formas típicas» (Martins,
1987:41), com pouca especialização funcional. As formas são: 1. pote (>50% nos três
povoados), 2. potinho/púcaro (±30%), 3. malga/tigela (±3%), 4. panela/tacho de asa interior
(3-8%). Dentro de cada forma, existem significativas variações de dimensão, perfil dos
bordos e modelo de asas. Questiona-se sobre a possível introdução do torno lento perto do
final desta fase, com pouco impacto já que a cerâmica manual continua maioritária, mesmo
no século seguinte. Embora seja predominantemente lisa, a decoração tipo Baiões persiste,
tornando-se originais as composições com triângulos preenchidos, reticulados, traços em
espinha, por vezes sobre cordão ou entre caneluras, e motivos impressos como os SSS e
os círculos concêntricos.
Sem grande originalidade morfológica e decorativa, a identidade destas cerâmicas
ficaria a dever-se sobretudo ao fabrico com pastas micáceas e especificidade de alguns
dos seus atributos (bordos, asas e bases) que contribuem para reforçar um certo “ar de
família”.
É nesta homogeneidade e na falta de materiais exógenos para referencial cronológico
que reside a dificuldade em estabelecer uma periodização mais fina para estes níveis dos
três povoados e das suas cerâmicas, como em geral para as de todo o Noroeste. Por outro
lado, também lhe parecem pouco comparáveis entre si, dado os fabricos serem locais,
a que acresce a disparidade de método na construção dos trabalhos publicados. Não
deixa, porém, de tentar cotejar os materiais em estudo com tipologias anteriores e também
com relatórios publicados de escavações em castros, incluindo alguns da província de
Pontevedra, a futura bracarense, onde há maior possibilidade de paralelos.
A Fase III (I a.C. - meados I d.C.) será a da cerâmica castreja idêntica à mais bem
conhecida e representada nos museus. Manuela Martins salienta como marcantes a
generalização do torno e, a par do fabrico castrejo grosseiro e micáceo, o aparecimento de
cerâmicas de melhor qualidade, com pastas mais finas e melhores acabamentos, louça de
mesa (potinhos, púcaros e tigelas) que associa a um tipo de produção mais especializado,
mas também mais estereotipado. Existe eventual complementaridade entre a produção
local, manual e a torno lento, e centros mais especializados, que usariam o torno.
Predominando ainda os tons escuros, o leque cromático alarga-se aos beges, até rosados,

216
resultantes de cozeduras mais oxidantes (Martins, 1987:56) e, genericamente, de melhor
qualidade.
O número de peças decoradas decresce, assim como a intensidade, as composições
tornam-se mais simples, empregando mesmo as técnicas e motivos da fase precedente.
Relativamente a formas, às quatro anteriores, que mantêm a sua quota de distribuição,
embora com alguma perda dos potes e potinhos em favor dos vasos de asa interior (agora
mais robustos e de maior capacidade), vêm juntar-se, atendendo aos três povoados
considerados, novos vasos mais especializados: 5. talha, 6. panela de asa em orelha, 7.
copa, 8. almofariz, e ainda os testos.
Em algum destes sítios, sugere, as inovações parecem mais difíceis de se vulgarizar
(Martins, 1987:58). Sublinho o comentário da autora (e alargá-lo-ia aos momentos recentes
da Fase II), bastante pertinente se compararmos o limitado da panóplia formal apresentada
com as coetâneas, sistematizadas por Carlos Alberto F. Almeida e Armando Coelho F.
Silva. Esta situação, se não resultar de um acaso aleatório das intervenções, aponta
possivelmente para um “custo da interioridade”, uma micro regionalização, já que no baixo
vale do Cávado a diversidade está comprovada em níveis estratigrafados de vários castros.

3. TRANSIÇÕES

Referir-nos-emos a esta leitura em dois eixos básicos, o temporal e o espacial.


Gostaríamos ainda de chegar pelo menos a um terceiro olhar, cruzado, o da comparação
dos espólios cerâmicos sincrónicos em cada região e inter-regiões, mas atendendo à
tipologia/dimensão dos sítios, o que não foi exequível. Evidentemente, a cada transição não
corresponde uma linha estreme de demarcação e uma cisão, antes uma mancha desigual
de contacto e aprendizagem, no multifacetado processo de repulsa/atracção/resistência/
incorporação.
No eixo temporal, a transição mais evidente ocorre na segunda metade do séc. I
d.C., quando a cerâmica comum romana, maximamente a de produção regional, se está
a vulgarizar em muitos dos castros, testemunhando novos gostos e recursos quanto à
aquisição de artefactos, mas também diferentes comportamentos, por exemplo face ao

217
alimento (na armazenagem, cozinha e consumo). Como dissemos, o Castro de Monte
Mozinho tornou-se, desde o projecto de Carlos Alberto F. Almeida, iniciado em 1974,
paradigma desta mudança, que no domínio da cerâmica está praticamente rematada
em época flávia, quando mesmo as poucas formas castrejas remanescentes, como o
característico vaso de asas interiores para suspensão sobre o lume, são minoritárias e já
fabricadas à romana, ao que parece em centros especializados e para comercialização
(ver Castro de Monte Mozinho, nesta obra). O Castro de Alvarelhos (Trofa) (Moreira, 2010
e material exumado pela Perennia Monumenta) será outro exemplo, assim como o Monte
Padrão (Santo Tirso) (Santarém 1951 e 1955; Moreira, 2005), ambos com bons espólios
que, na sequência da olaria atribuível à tradição castreja, mostram produções romanas
locais/regionais e importadas, a cobrir todo o I d.C. Este confronto é menos perceptível em
outros, veja-se Tongobriga (Dias, 1997; Silva, 2016), por um ainda limitado conhecimento
das preexistências ao romano, isto para falarmos apenas de grandes castros, com
significativa área escavada, da metade Sul do Entre-Douro-e-Minho.
Reportando-se a um território mais para Norte e interior, o do médio Cávado, Manuela
Martins identifica esta etapa como Fase IV (Martins, 1990:172-173), ali sem a pujança
que todos conhecemos nos povoados antes referidos. Por outro lado, apesar dos muitos
avanços no conhecimento sobre Bracara Augusta e do já volumoso acervo, a ponderação
da memória/perda da tradição castreja nas produções oleiras encontradas na cidade e
imediações, de crucial relevância, ainda não satisfaz, em parte por falta de bons níveis
prístinos (ver comunicação de R. Morais e respectivas referências bibliográficas).
Nas últimas décadas, mais intenso e controverso tem sido o debate para definir a
relação do Bronze Final com o Castrejo, muito pela equívoca sinonímia castro = castrejo,
que desviou o fulcro da discussão. A transição que nos interessa ressaltar, embora intuída
antes, decorre de diversas escavações levadas a cabo desde o final dos anos setenta (ver
Santo Estêvão da Facha, neste volume). Tornou-se, posteriormente, prioritária para Ana
Bettencourt, que direccionou para esta problemática trabalho de campo e análise intensiva
de contextos, artefactos e ecofactos, suporte da sua tese de doutoramento, apresentada
na Universidade do Minho, em 19999. Propondo o termino do Bronze Final pelo séc. VII
AC (Bettencourt, 2005:25; em Bettencourt, 1999:1156ss propunha séc. VI(?)-IV AC), faz-

9
Ver também as publicações monográficas sobre os diferentes sítios estudados (Bettencourt, 2001a e 2001b).

218
lhe suceder uma fase de transição, uma mudança em continuidade até finais do V/início
do séc. IV a.C. (Bettencourt, 2005:31), processo «em que as populações autóctones do
Bronze Final são as principais protagonistas, dado o afastamento do Noroeste dos grandes
centros civilizacionais do sul» (Bettencourt, 2005:26). Naquela última data, a eventual
migração de grupos vindos do Sul, que se misturaram com os residentes, teria acelerado
esta mudança, territorialmente assimétrica, dando lugar a uma nova etapa na faixa litoral.
Focando a cerâmica, esta investigadora diz-nos, em síntese, que estão a desaparecer
as formas específicas do Bronze Final e a diminuir as taças carenadas e algumas formas
de potes, substituídas por outras, enquanto surgem novidades, como as panelas de
asas interiores. Aumentam as pastas micáceas, em detrimento das arenosas, e dá-
se a rarefacção dos bordos serrilhados; constata a alteração das técnicas e padrões
decorativos, agora mais afins à conhecida gramática castreja, incluindo o aparecimento de
motivos estampilhados (triângulos, círculos, SSS) (Bettencourt, 1999: 1029-1035 e 1159-
1166; 2005:26).
A originalidade da proposta resulta, sobretudo, da admissão da Transição Bronze/Ferro
como fase cronológica-cultural com identidade e autonomia, tendo a duração de cerca de
três séculos, que vem a ser a fase de formação ou o pré-castrejo antes referenciados, mas
muito mais bem documentada e discutida, reservando-se a designação Idade do Ferro do
Noroeste (ou Cultura Castreja) para as etapas de maioridade.
No espaço, as transições estão menos estudadas e parecem mais difíceis de mapear,
também por as manchas que se entrevêem não serem necessariamente constantes no
tempo longo. Vamos, por isso, cingir-nos a horizontes recentes e bem conhecidos do
castrejo no Norte de Portugal, assumindo este recorte territorial anacrónico, mas que, pelo
menos quanto às produções da área litoral, mostra consistência10. Referimos no final do
ponto 1 que em castros do Alto-Minho surgem cerâmicas afins às das Rías Baixas (Galiza),
as quais não encontramos mais a Sul. São, maioritariamente, peças decoradas, no entanto
o seu reduzido número não parece sinalizar um fabrico regular para autoconsumo ou
mercado local, talvez resultarem de trocas. Vice-versa, a Norte da actual fronteira havia,

10
Curiosamente, Adolfo Fernández (2008), na contribuição em que resume o estado da questão sobre as
cerámicas del mundo castrexo del NO Peninsular, inserida no volume de actualização das problemáticas sobre
Cerámicas hispanorromanas, apesar do título, apenas se refere ao espaço galego.

219
com assiduidade nas comarcas envolventes da ria de Vigo e em momentos avançados,
povoados que utilizavam cerâmicas que nos são muito familiares, mas aí as circunstâncias
parecem apontar para fabricos próprios.
Ainda a Norte, progredindo para o interior, a similaridade dos dois lados da raia acentua-
se no vale do Tâmega. Sirva de exemplo o Castro da Pastoria (Chaves) (Soeiro, 1985/86),
sobre a veiga, que foi escavado (1982-83) com a participação de colegas galegos e
após termos estado em Castromao (Celanova/ Ourense). A cerâmica dos dois sítios
patenteava um certo grau de semelhança, um ar de família no seu estilo: escolha de
pastas, morfologia, polimento, decoração, etc. Havia mesmo fragmentos de uma câmara
de cozedura circular amovível, possivelmente usada para pequenos vasos, cujo melhor
paralelo provinha exactamente de Castromao (Naveiro Lopez, 1991:83-85). No geral,
estávamos a encontrar produções distintas das do litoral, não no fundamental, mas em
pormenores dos perfis, no bom acabamento e na decoração; sem serem exactamente
iguais, lembravam mais o grupo que Josefa Rey designa «olaria castreja de tradição
Minho»11 (Rey Castiñeira, 2014).
Já no Castro de Carvalhelhos (Boticas), o mais intervencionado desta área
transmontana ocidental, a olaria escasseou em número e variedade nas campanhas
de Santos Júnior (Santos Júnior, 1957 e 1985), embora se conservem, entre outros,
fragmentos de vasos de asas interiores e panelas com asas em orelha, duas formas
características. A meio do percurso português do Tâmega, o Castroeiro (Mondim de Basto),
apesar de inserido numa área rica em minérios, é interior e chama a nossa atenção para
as diferenças de ritmo, seja na monumentalização, petrificação, romanização, etc. A
cerâmica, porém, estará próxima da recolhida no demais Entre-Douro-e-Minho, sem as
especificidades da Pastoria e do grupo Minho (Dinis 2002; ver contribuições nestas actas).
Deslocando-nos para Este, há poucos sítios que permitam comparação com os
anteriores. Quase no mesmo paralelo do Castroeiro, essa tentativa poderá ser bem

11
Esta designação é passível de criar mal-entendidos em Portugal, uma vez que imediatamente nos remete
para o tramo final do rio, que marca a fronteira Norte no distrito de Viana do Castelo, área que corresponde, na
sua distribuição tipológica, às cerâmicas Rías Baixas. A olaria de tradição Minho é característica de um tramo
médio do rio, na província de Ourense, «desde a confluencia do Sil até o Avia e o Arnoia» (Rey Castiñeira,
2014:293). González Ruibal (2006-2007:466ss) prefere reunir os grupos Rías Baixas - Miño e isolar o sector
sudoriental gallego - Veiga de Chaves, onde enquadra as cerâmicas do Castro da Pastoria (489-490), sem
descartar ser esta mais uma subárea no âmbito do grande grupo anterior.

220
sustentada nas extensas/intensas intervenções dirigidas por Maria de Jesus Sanches
no Crasto de Palheiros (Murça) (Sanches, 2008). O estudo minucioso da cerâmica deste
povoado (Pinto, 2011), que manteve a ocupação durante a Idade do Ferro e nos primeiros
séculos após a conquista romana, aponta novamente, segundo a investigadora, para a
presença de cerâmicas afins às do Castro da Pastoria e tradição Minho, mas também
sinaliza outras, em quantidade substancial, com muito maior semelhança a acervos
mesetenhos, ausentes dos castros interamnenses.
Para além do Tua, e como de forma reiterada parece ter ficado documentado no vale do
Sabor, estará ultrapassada a área de transição da cerâmica (e da Cultura) Castreja.
A Sul do Douro, por exemplo os castros de Ovil (Espinho) (ver contríbuto nestas actas),
Fiães e Romariz (ambos na Feira) (Centeno, 2011) facultaram conjuntos oláricos em linha
com o encontrados em povoados da margem direita do rio, mas, nomeadamente do último,
há também fabricos, formas e decorações que parecem remeter para a região Centro, o
mesmo acontecendo, por exemplo, no Castro de Salreu (ver texto nestas actas)12.
A Sul da serra da Arada, já no distrito de Viseu, as cerâmicas da Idade do Ferro de
Baiões (S. Pedro do Sul) - Fabrico IV, são feitas à roda, em pasta tradicional não micácea,
aplicando-se-lhes decoração impressa por carimbagen de SSS, círculos concêntricos,
escudetes com besantes, etc., em que Baptista Lopes detectada «nítida influência do Sul
no uso destes elementos decorativos (Lopes, 1993:170). O Castro da Cárcoda (S. Pedro
do Sul), na vertente da serra, mostrou contexto(s) bastante mais tardio(s). Foi vinculado ao
castrejo desde os trabalhos das décadas de cinquenta e setenta, atendendo em particular
à implantação, plano e características das bem preservadas estruturas pétreas, defensivas
e habitacionais, «casas redondas, uma das quais ... provida do típico vestíbulo de entrada,
agrupadas em bairros» (Silva & Correia, 1977:607; Pedro, 1995). Continuou habitado, como
comprova a presença de cerâmicas romanas e o uso de telha em algumas coberturas.
A cerâmica castreja, pouco numerosa mesmo na escavação de 1976, com pasta
grosseira e cozedura branda, seria, para os primeiros autores, de fabrico manual. Nos
níveis mais fundos, junto da muralha, foram recolhidos fragmentos de vasos de perfil em S,

12
Como fica patente na dissertação de mestrado de António M. Silva (1994:33ss), o território até ao Vouga
era ainda pouco conhecido arqueologicamente nos anos 90 do século passado, dado o escasso número
de projectos e escavações sistemáticas, situação que lentamente se tem vindo a alterar, carreando melhor
informação para a caracterização da transição/limite Sul do castrejo.

221
com parede pouco espessa, bem cozidos, um decorado no alto bojo por uma fila de SSS
estampilhados entre duas faixas de incisões, outro apenas com duas linhas pontilhadas.
O material remanescente seria revisto por Ivone Pedro, juntamente com o de Santa Luzia
e Castelo dos Mouros, parecendo inclinar-se, também influenciada pela arquitectura
em presença, para uma maior aproximação ao castrejo e não tanto à Idade do Ferro do
Centro e Sul, de que destaca a falta de fabricos de cinzenta fina pré-romana, vulgar em
Conimbriga, mas também já presente em Romariz (Pedro, 1993 e 1995:117). A resultados
afins chega Sara Almeida, que estuda ocupações da área de Viseu, concluindo que:
«relativamente às produções cerâmicas ... estas revelam, em termos gerais, uma inegável
comunhão de estilos e técnicas com a cultura material do noroeste peninsular. Contudo,
sob este fundo comum, sobressaem, a um nível intermédio, particularidades que revelam
uma partilha de códigos e tendências de cariz regional» (Almeida, 2005:120).
Por limitação de páginas, aqui finalizamos este percurso tópico, para relembrar quase
século e meio de observações e investigação sistematizada sobre cerâmica castreja,
com que quisemos apenas enquadrar o debate focado nestes artefactos, parte e produto
da Cultura, omnipresentes, dialogantes e polissémicos, tão constantes no trabalho do
arqueólogo. E também, como dissemos no início, facultar o contacto directo (a centímetros,
muitas vezes mesmo na mão) dos participantes neste congresso internacional com uma
mostra significativa de cerâmicas recolhidas num amplo espectro territorial - dos castros
da província de Pontevedra ao de Salreu, à altura da laguna de Aveiro; dos sítios litorais
ao Crasto de Palheiros, em pleno Trás-os-Montes - para assim potenciar o conhecimento
sobre intervenções antigas e recentes, facilitar a troca de informações e a colaboração,
bem como a interiorização de memórias experienciadas, competência útil ao futuro
reconhecimento das produções no quotidiano da prática profissional.

222
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALBUQUERQUE, M. (1970) - A cerâmica da Citânia de Briteiros. Um sítio arqueológico de contacto lusitano-


romano. Revista de Guimarães, 80, 105-122.
ALMEIDA, C. A. F. (1972). A Póvoa de Varzim e o seu aro na Antiguidade. Boletim Cultural. Póvoa de
Varzim, 11, 5-34.
ALMEIDA, C. A. F. (1974). Cerâmica castreja. Revista de Guimarães, 84, 171-197.
ALMEIDA, C. A. F. (1983). Cultura Castreja. Evolução e problemática. Arqueologia, 8, 70-74.
ALMEIDA, C. A. F. (1984). Casa castreja. Memorias de Historia Antigua, 6, 35-42.
ALMEIDA, C. A. F. (1985) - Arquitectura e arte castreja. A sua lição para os fenómenos de assimilação
e resistência. In Asimilación y resistencia a la romanización en el Norte de Hispania (pp. 79-101). Vitoria:
Universidad del País Vasco.
ALMEIDA, C. A. F. (1986) - Arte castreja. A sua lição para os fenómenos de assimilação e resistência à
romanidade. Arqueologia, 13, 161-172.
ALMEIDA, C. A. F. et al. (1980) - Escavações arqueológicas em Santo Estêvão da Facha. Arquivo de Ponte
de Lima, 3, 3-90.
ALMEIDA, S. O. (2005) - A Idade do Ferro no planalto de Viseu: o caso do Morro da Sé. Coimbra:
FLUC (diss. mestrado).
BETTENCOURT, A. M. S. (1999) - A paisagem e o homem na bacia do Cávado durante o II e o I milénio AC.
Braga: U. Minho (tese de doutoramento).
BETTENCOURT, A. M. S. (2001a) - Estações da Idade do Bronze e inícios da Idade do Ferro da bacia do
Cávado (Norte de Portugal). Braga: Unidade de Arqueologia da U. Minho.
BETTENCOURT, A. M. S. (2001b) - O povoado de S. Julião, Vila Verde, Norte de Portugal, nos fins da Idade
do Bronze e na transição para a Idade do Ferro. Braga: Unidade de Arqueologia da U. Minho.
BETTENCOURT, A. M. S. (2005) - O que aconteceu às populações do Bronze Final do Noroeste de
Portugal, no segundo quartel do I milénio AC, e quando começou, afinal, a Idade do Ferro. Cadernos do Museu,
11, 25-40.
CARDOZO, M. (1930) - Citânia e Sabroso. Notícia descritiva para servir de guia ao visitante. Guimarães:
Sociedade Martins Sarmento.
CARDOZO, M. (1971) - Citânia de Briteiros e Castro de Sabroso. Notícia descritiva para servir de guia ao
visitante. Guimarães: Sociedade Martins Sarmento.
CARDOZO, M. (1994a) - Obras de Mário Cardozo. Porto: Fundação Eng. António de Almeida, vol.1.
CARDOZO, M. (1994b) - Escavações na citânia de Briteiros. Campanha de 1951. In Obras de Mário
Cardozo (vol.1, pp. 233-247). Porto: Fundação Eng. António de Almeida.
CARDOZO, M. (1994c) - As indústrias cerâmicas e vidreiras na antiguidade peninsular, particularmente na
cultura dos castros do noroeste (considerações gerais). In Obras de Mário Cardozo (vol.1, pp. 203-208). Porto:
Fundação Eng. António de Almeida.
CARDOZO, M. (1994d) - Inscrições e marcas figulinas em olaria castreja. In Obras de Mário Cardozo (vol.2
pp. 661-667). Porto: Fundação Eng. António de Almeida.

223
CARDOZO, M. (1994e) - Missão inglesa de escavações num «castro» do Norte de Portugal. In Obras de
Mário Cardozo (vol.2, pp. 227-246). Porto: Fundação Eng. António de Almeida.
CENTENO, R. M. S.; SILVA, A. C. F. (1978) - Corte estratigráfico na Citânia de Briteiros (Guimarães) 1977-
1978. Revista de Guimarães, 88, 421-430.
DIAS, L. T. (1997) - Tongobriga. Lisboa: IPPAR.
DINIS, A. P. (2002) - O povoado da Idade do Ferro do Castroeiro (Mondim de Basto, Norte de Portugal).
Braga: Unidade de Arqueologia da U. Minho.
FERNÁNDEZ FERNÁNDEZ, A. (2008) - Cerámicas del mundo castrexo del NO Peninsular. Problemática e
principales producciones. In BERNAL CASASOLA, D.; RIBERA i LACOMBA, A. - Cerámicas hispanorromanas.
Un estado de la cuestión (pp. 221-245). Cádiz: Universidad de Cádiz.
FORTES, J. (1904) - Fíbulas e fivelas. O Arqueólogo Português, 4, 1-11.
FORTES, J. (1905-1908a) - As fíbulas do Noroeste da Peninsula. Portugalia, 2, 15-33.
FORTES, J. (1905-1908b) - Ouros protohistoricos da Estella (Póvoa de Varzim). Portugalia, 2, 605-618.
GOMES, J. M. F.; CARNEIRO, D. M. V. (2005) - Subtus Montis Terroso. Património arqueológico no
concelho da Póvoa de Varzim. Póvoa de Varzim: Câmara Municipal.
GONÇALVES, A. B. (1984) - Antologia dos artigos de Rui de Serrpa Pinto publicados no jornal poveiro “A
Voz do Crente”. Póvoa de Varzim - Boletim Cultural, 23, 547-601.
GONZÁLEZ RUIBAL, A. (2006-2007) - Galaicos. Poder y comunidad en el Noroeste de la Península Ibérica
(1200 a.C. - 50 d.C.). Brigantium, 19.
HAWKES, C. F. C. (1971) - North-western castros: excavation, archaeology and history. In Actas do II
Congresso Nacional de Arqueologia (p. 283-287). Coimbra.
LITTLE, G. M. (1990) - The technology of pottery prodution in Northwestern Portugal during the Iron Age.
Braga: Unidade de Arqueologia da U. Minho.
LOPES, A. B. (1993) - A cerâmica do Castro da Senhora da Guia (Baiões). Tecnologia e morfologia. Porto:
FLUP (diss. mestrado).
LÓPEZ CUEVILLAS, F. (1953) - La civilización céltica em Galicia. Santiago de Compostela:
Ed. Porto y Cía Editores.
LÓPEZ CUEVILLAS, F.; LORENZO FERNÁNDEZ, X. (1986) - Castro de Cameixa. Campañas 1944-46.
Santiago de Compostela:
MARTINS, M. M. (1987) - A cerâmica Proto-Histórica do Vale do Cávado: tentativa de sistematização.
Cadernos de Arqueologia, série 2, 4, 35-77.
MARTINS, M. M. (1990) - O povoamento proto-histórico e a romanização da bacia do curso médio do
Cávado. Braga: Unidade de Arqueologia da U. Minho.
MONTEAGUDO, L. (1945) - La cerámica castreña de la comarca de Vigo. Archivo Español de Arqueología,
18(60), 237-249.
MOREIRA, A. B. (2005) - O Castro do Monte do Padrão. Do Bronze Final ao fim da Idade Média. Santo
Tirso: Câmara Municipal.

224
MOREIRA, A. B. (2010) - Castellum Madiae. Formação e desenvolvimento de um “aglomerado urbano
secundário no ordenamento do povoamento romano entre Leça e Ave”. Santiago Compostela: Univ. Santiago
Compostela.
NAVEIRO LOPEZ, J. L.(1991) - El comercio antiguo en el N.W. peninsular. A Coruña: Museu Arqueolóxico.
PEDRO, I. (1993) - Cerâmica comum do Castro da Cárcoda (S. Pedro do Sul). Beira Alta, 52, 275-310.
PEDRO, I. (1995) - O povoamento proto-histórico na região de Viseu. Viseu (FLUP, diss. mestrado).
PEIXOTO, R. (1899-1903) - Industrias populares: As Olarias de Prado. Portugalia, 1, p. 227-270.
P[EIXOTO], R. (1905-1908) - Benemeritos da archeologia: As explorações da Cividade de Terroso e do
Castro de Laúndos, no concelho da Póvoa de Varzim. Portugalia, 2, p. 677-680.
PINTO, D. (2011) - O Crasto de Palheiros na Idade do Ferro. Contributo da aplicação de uma nova
metodologia no estudo da cerâmica. Coimbra: Faculdade de Letras (tese doutoramento).
PINTO, R. S. (1928) - Cividade de Terroso (Póvoa de Varzim). Trabalhos da Sociedade Portuguesa de
Antropologia e Etnologia, 3(4), 311-312.
PINTO, R. S. (1932) - A cividade de Terroso e os castros do Norte de Portugal. Revista de Guimarães, 42,
81-91.
PINTO, R. S. (1933) - O Castro de Sendim. Felgueiras. (Nota preliminar). In Homenagem a Martins
Sarmento (pp. 376-380). Guimarães: Sociedade Martins Sarmento.
REY CASTIÑEIRA, J. (1990-1991) - Cerámica indígena de los castros costeros de la Galicia occidental:
Rías Bajas. Valoración dentro del contexto general de la Cultura Castreña. Castrelos, 3-4, 141-163.
REY CASTIÑEIRA, J. (2014) - A olaria castreja de tradição Minho. In MORAIS, R. et al, - As produções
cerâmicas de imitação na Hispania (vol. 1, p.289-302). Porto/Madrid: FLUP/SECAH.
SANCHES, Maria de Jesus (coord.) (2008) - O Crasto de Palheiros - Fragada do Crasto, Murça - Portugal.
Murça: Município de Murça.
SANTOS Júnior, J. R. (1957) - O Castro de Carvalhelhos. Trabalhos de Antropologia e Etnologia, 16, 25-62.
SANTOS Júnior, J. R. (1984) - 30 anos de escavações no Castro de Carvalhelhos (Boticas - Vila Real).
Revista de Guimarães, 84, 411-424.
SANTARÉM, C. M. F. (1951) - O Castro do Monte do Padrão. Boletim Cultural - Concelho de Santo Tirso, 1,
49-66.
SANTARÉM, C. M. F. (1955) - O Castro do Monte do Padrão. Campanhas de 1952-53-54. Boletim Cultural -
Concelho de Santo Tirso, 3, 397-429.
SARMENTO, F. M. (1903) - Materiaes para a archeologia do concelho de Guimarães. Revista de Guimarães,
3, 5-16; 57-70; 112-124.
SARMENTO, F. M. (1933) - Acêrca das escavações de Sabroso (estudo). In Dispersos (pp. 22-35). Coimbra:
Imprensa da Universidade.
SEVERO, R. (1905-1908) - As arrecadas d’ ouro do Castro de Laúndos. Portugalia, 2, 403-412.
SILVA, A. J. M. da (2015) - Culinary clash in Northwestern Iberia at the height of the roman empire: the
Castro do Vieito case study. In SPATARO, M.; Villing, A. - Ceramics, cuisine and culture (p.222-232). Oxford: Oxbow
Books.

225
SILVA, A. M. S. P. (1994) - Proto-história e romanização no Entre Douro e Vouga Litoral. Elementos para
uma avaliação crítica. Porto: FLUP (diss. mestrado).
SILVA, A. M. S. P. (2016) - Do galaico ao romano. In LIMA, A. M. (coord) - Mudar de vida (pp. 6-16). Porto,
DRCN.
SILVA, A. C. F. (1986) - A Cultura Castreja no Noroeste de Portugal. Paços de Ferreira: Câmara Municipal/
Museu Arqueológico da Citânia de Sanfins. Reeditado, com alterações, em 2007.
SILVA, A. C. F.; CENTENO, R. M. S. (1977) - Escavação arqueológica na Citânia de Briteiros (Guimarães).
Notícia sumária. Revista de Guimarães, 87, 277-280.
SILVA, C. T.; CORREIA, A. (1977) - O Castro da Cárcoda. Beira Alta. 36, 281-306 e 589-610.
SILVA, M. A. D. (1997) - A cerâmica castreja da Citânia de Briteiros. Guimarães: Sociedade Martins
Sarmento.
SOEIRO, T. (1985/86) - Muro da Pastoria, Chaves. Campanha de escavação de 1982-83. Portugalia, nova
série, 6/7, 21-28.
SOEIRO, T.; CENTENO, R. M. S.; SILVA, A. C. F. (1981) - Sondagem arqueológica no Castro de Sabroso
(Guimarães) - 1981. Revista de Guimarães, 91, 341-350.
V, J. L. (1933a) - Castros lusitanos I Cividade de Paderne. O Arqueólogo Português, 29, 31-45.
V, J. L. (1933b) - Castros lusitanos II Castro de Belinho. O Arqueólogo Português, 29, 45-49.
VIANA, A.; OLIVEIRA, M.S. (1954) - «Cidade Velha» de Santa Luzia (Viana do Castelo). Revista de
Guimarães, 66, 40-72.

226
JOSEFA
REY
CASTIÑEIRA
TRADICIÓNS NA CERÁMICA DOS CASTROS DA GALIZA,
AO LONGO DO TEMPO E DO ESPAZO. A PERCEPCIÓN
DENDE UNHA LIÑA DE INVESTIGACIÓN INTERDISCIPLINAR.

REY CASTIÑEIRA JOSEFA1; ABAD VIDAL, EMILIO2; MARTÍN SEIJO, MARÍA1;


TEIRA BRIÓN, ANDRÉS1; CALO RAMOS, NURIA3, RICO REY, ALDARA3.

1
Grupo de Estudos para a Prehistoria do NW Ibérico_Arqueoloxía, Antigüidade e Territorio (GEPN_AAT)
(GI-1534). Dpto. de Historia I, Universidade de Santiago de Compostela. Praza da Universidade s/n. E-15782
Santiago de Compostela. josefa.rey@usc.es, maria.martin.seijo@gmail.com, andres.teira.brion@usc.es

2
Fundación Centro Tecnológico de Supercomputación de Galicia. Av. de Vigo s/n (Campus Sur). Santiago de
Compostela (A Coruña - Spain). E-mail: eav@cesga.es

3
Profesionais independientes. gallego.calo@gmail.com, aldara.rico@gmail.com

RESUMO
Ofrécese unha síntese de resultados sobre a investigación cerámica nos castros
galegos, en clave cronoterritorial. Amósanse algunhas das preocupacións traballadas, dos
protocolos construídos e dos criterios aplicados, no marco da investigación artefactual da
cultura castrexa, no que se involucra parte do equipo Grupo de Estudos para a Prehistoria
do NW Ibérico-Arqueoloxía, Antigüidade e Territorio.

ABSTRACT
We summarize the results about the research of pottery from the Galician “castros”
or hill forts, ordered by location and time. We show some of the issues addressed, with
created protocols and the applied criteria, in the framework of research on artefacts of the
“Castrexa” culture, where the team of Grupo de Estudios para la Prehistoria del NW Iberian
- Archeology, Antiquity and Territory is involved.

231
PALABRAS CHAVE
Olería castrexa, Idade do Ferro, Noroeste ibérico, Arqueoloxía artefactual, protocolos
arqueolóxicos.

KEYWORDS
Castro Culture Pottery, Iron Age Pottery, Northwestern Iberia, Artefactual archaeology,
Archaeological protocols.

232
INTRODUCIÓN

Os procesos de cambio e a formación de identidades foi o leitmotiv da reunión “Cultura


Castreja: Identidade e Transições”, celebrada en Porto no mes de novembro de 2018.
Este evento é, sen dúbida, o motor dun texto que pretende reunir imaxes construídas
dentro da liña de investigación sobre a cerámica dos castros levada a cabo no seo do
Grupo de Estudos para a Prehistoria do NW Ibérico-Arqueoloxía, Antigüidade e Territorio
da Universidade de Santiago de Compostela (en adiante GEPN-AAT). Dende os seus
comezos, foi un percorrido diverso tanto nos seus ritmos como nos enfoques. Os estudos
se centraron na lectura en clave cronoterritorial na procura de retratos estéticos, de
biografías estilísticas, de identificación e caracterización de contextos postdeposicionais,
de manufactura, de uso e das interaccións dentro da cultura castrexa e co exterior, e, así
mesmo, traballouseo recurso da arqueoloxía etnoexperimental como test de hipóteses e
definición de criterios.
Neste texto desexamos amosar as preocupacións traballadas, os camiños construídos
e os criterios aplicados, nunha visión que podemos a priori entender como particular. Esta
liña discursiva permítenos expoñer as exploracións que foron feitas e de como mudaron
os elementos que forman parte da definición de identidades castrexas, nun proceso que
depende e se adapta aos ritmos da investigación.

1. OS PRIMEIROS RESULTADOS: UNHA APROXIMACIÓN ESTILÍSTICA.

A primeira definición de tradicións cerámicas na área galega realízase sobre a vertente


atlántica (Rey 1992). Actualmente distinguimos tres áreas oleiras: a que denominamos
Rías Baixas (Rey 1992), Setentrional e bacía Baixa e Media do Miño (Rey 2014: fig. 10,
p. 28). A das Rías Baixas é a mais rica en análise, con estudos intensivos dos conxuntos
cerámicos. É onde o coñecemento de achados publicados ou gardados en museos
resulta máis denso e estendido xeograficamente. A área setentrional inclúe estudos igualde
intensivos, en xacementos concretos, pero a cantidade de material coñecido e publicado é
significativamente menor; faise máis difícil debuxar o seu territorio, a variabilidade estilística
e as densidades de consumo. A zona do Miño só está definida pola exploración visual

233
do material, abrindo e pechando bolsas no museo, sen a alternativa de ordenamento de
conxuntos, un obstáculo importante para o cálculo de vasillas e valoracións porcentuais. Só
contamos coa estimación de ausencia/presenza e percepcións subxectivas de predominios
puntuais de tipos cerámicos. Boa parte da súa definición susténtase na revisión
bibliográfica e, sobre todo, faise dende a periferia, na desembocadura do Miño, nas Rías
Baixas meridionais e nas Terras de Trasdeza, mellor caracterizadas.
A definición de tradicións posibilita esclarecer límites comarcais e observar a interacción
entre estilos. Estas áreas de distribución defínense con relación ao consumo, ao non
identificar, polo de agora, centros produtores. Ainda así consideramos que cada un dos
territorios contaba cun sistema productivo equivalente o das aldeas oleiras do mundo
tradicional que García Alén retrata (1983). Así, a través dos niveis de representación
cuantificados, dos tipos e atributos tipo (ver Rey 2014: 291, fig. 2) poderíamos proponer
que os produtos Miño son adquiridos polos mercados comarcais da Ría de Vigo e pola
comarca do Deza (Rey 2011). Polo seu lado, as terras do Barbanza e do Xallas son áreas
de interacción entre a olería das Rías Baixas e Setentrional, se ben no Barbanza pesa máis
a primeira e no Xallas a segunda.
Así mesmo, nun mesmo territorio oleiro, a partir do cálculo do número máximo e mínimo
de vasillas de cada xacemento percíbense preferencias de consumo moi variadas (ver Rey
et al. 2009: fig. 8, p. 228; Rey 2014: fig. 11, p. 29). Estas discordancias poderían en estar
condicionadas por varios factores, entre eles as variadas costumes subsistenciais e sociais,
o acceso a mercados diferentes onde se adquiren as cerámicas, ou incluso a discordancias
cronoloxías dos conxuntos, ainda non matizadas.
Entre as preparacións alimenticias, deducidas a partir da ergonomía das pezas e das
súas marcas de uso, a cocción parece a técnica de cociña máis estendida, xa que todas
as tradicións teñen olas; na olería Setentrional, Rías Baixas e a zona oriental, parece que
é o sistema de cociñado exclusivo, xa que só a olería do Miño rexistra unha forma de tixola
para o asado. Asemade, identifícanse maneiras diferentes de poñela pota ou a sartén o
lume e da maneira en cómo regulan as brasas. Na olería Miño, as olas con asas lobulares
de orella, igual que as tixolas, da olería Miño, pendúranse sobre o lume (Fig. 1), coa opción
de regular a distancia e de remover as brasas debaixo delas. En cambio, nas Rías Baixas,
as potas parecen pensadas para estar pousadas e envolvidas polas ascuas. Na olería
setentrional, as vasillas que no seu momento interpretamos como “kernoi” (Rey 1984),
poderían referirse a un tipo de olas para pendurar no lume.

234
Fig. 1 - “Tixola Miño” do castro de Fozara con marcas de desgaste por fricción por estar pendurada. Depositada
no Museo Quiñones de León (foto Rey 2016).

Semella que algunhas formas cerámicas puideron servir como cámaras de cocción para
alimentos xa que poderíamos falar de algo semellante ás buleiras ou “tapas da Bica” (García-
Alén 1983) na olería Miño. En cambio, no caso das Rías Baixas, habería que pensar que
empregarían envoltorios vexetais, xa que resulta difícil propoñer algún tipo de recipiente para
este labor en concreto, ou en fornos de pedra como se teñen documentado en Santa Trega.
Outra diferenza entre territorios ten que ver co peso da propia olería. Pois aínda que
falta unha análise sistemática que relacione cantidades amortizadas con metros de
superficie escavada dá a impresión dunha maior austeridade no consumo de cerámica
nas terras setentrionais e interiores e que, pola contra, o consumo de cerámica é mais
profusa no sur e no litoral Rías Baixas, tal vez debido á maior densidade de habitantes por
poboado ou a que no norte e interior pesa mais a tradición da madeira.

235
Cronolóxicamente identificamos tres tempos cronoculturais, o Inicial, Medio e Final,
equiparables ao Bronce Final/Ferro I, ao Ferro II prerromano e ao romano (Rey 1996).
Son unhas franxas arbitradas dentro da periodización xeral, pero que ainda non contan
cunha biografía calendárica de cada tipo cerámico. Asemade, a caracterización cerámica
da fase Inicial é aínda moi exigua; só se conseguen illar algúns atributos tipo con capacidade
diagnóstica referida a tempo, pero non ao territorio. No Ferro II os estilos son mais nidios.
Os tipos e atributos tipo definen dous tempos acoutados pola cronoloxía romana-
prerromano e galaicoromano- e tres territorios que son, á súa vez, secuenciables, xa que
entre a fase Media e Final varían o radio de acción e como se relacionan.
As xerras e as Toralla, as olas Toralla ou as vasillas Cíes, entre outras producións guía
(definidas en Rey 1992), propias do Ferro II, restrinxen o seu consumo ao ámbito das Rías
Baixas. En cambio, as vasillas Vigo, propias da fase final, duplican o seu percorrido, xa que
alcanzan a costa lucense, parece que seguindo o Ulla; e os seus deseños inflúen na olería
setentrional (Rey 2011: fig. 6, p. 25). Algo semellante sucede coas cerámicas do Miño, que
durante a fase media non superan apenas a confluencia co Sil (Rey 2014: fig.2, p. 291); en
cambio, as vasillas de orella, que teñen o seu epicentro e desenvolvemento mais antigo na
área entre o Douro e o Miño, nun momento avanzado do Ferro II, sobrepasana cabeceira
do Sil e alcanzan a costa cantábrica.
Para todas as propostas mencionadas, a liña de percepción principal é a estética. Ela
rexe os criterios analíticos e encamiña as agrupacións e as configuracións diagnósticas.
Representa o estudo máis primario e inmediato dos obxectos, enténdese que o aspecto
dunha peza, incluída a súa forma é o reflexo integral da súa tecnoloxía, dos seus destinos
pensados, dos efectos do seu uso e, por suposto, é a expresión dunha sociedade e unhaépoca.
Esta liña de traballo, o estudo dos materiais en si mesmos dá cabida a cerámicas
desprovistas de contextos.
Nesta vía de traballo definimos dúas categorías de análise: os grupos formais e
decorativos, os tipos e atributos tipo. Os grupos só foron clasificados, e os tipos contan con
interpretación de contextos. Iso garda relación co percorrido analítico, que cada un deles
require e no potencial que cada un deles ofrece. Nos tipos, a forza estética é elevada,
xa que habitualmente contan con características formais, decorativas e de acabado moi
normativizadas; en cambio é reducida nos grupos, que son normalmente lisos, ou os
fragmentos decorados non logran relacionarse con formas concretas, o que obriga a un
proceso de análise bastante mais longo, para que sexan diagnósticos, e requiren sempre

236
da concreción porcentual e valoracións estatísticas. Nos tipos, todos os seus atributos son
de fácil illamento e, polo tanto, resulta mais áxil a súa caracterización contextual. Son estes
os que sustentan e propoñen todo o ata aquí mencionado. Aos grupos aínda lles queda o
camiño da configuración tipolóxica, de dotalos de connotacións diagnósticas.
Os contextos traballados máis concisos son os cronoculturais. É a escala coa que
traballamos dende hai anos (1992, 1996, etc.); é a opción máis dispoñible e a que permite
integrar a todo tipo de mostras. Non podemos esquecer que escasean os relatos ben
constituídos de estratigrafías ou de diagramas de UEs, no que se refiere a súa relación
coas cerámicas, no detalle requerido. Os procesos de rexistro e análise carecen de
estándares mínimos, moitas veces nin existen, resultan intelixibles ou son difíciles ou
imposibles de conseguir. Os criterios descritivos tenden a ser moi enumerativos e erráticos.
É rara a información agrupada e apoiada en valores cuantificados, tampoco son un garante
as diagnosis tipolóxicas, xa que non sempre se respaldan con documentación gráfica ou
fotográfica. Asemade, no proceso de obtención de datos de memorias ou publicacións,
precísanse percorridos complicados nun mar inxente de datos pendentesde procesar,
entregados en papel impreso, o que obriga a reiniciar un rexistro dende cero, para poder
traballalos (Rey et al. 2009). Hai unha carencia importante de formatos acordados,
ensaiados e protocolizado, na entrega da documentación arqueolóxica que acompaña o
depósito dos materiais nun museo.
A falta de normas de entrega que atendan ao valor dos contextos, que supostamente
son a razón de ser dunha escavación arqueolóxica, fai que tamén se requira dunha
recompilación moi ardua, do que se entrega en museos, dos documentos administrativos,
do que se publica e das conversas coas equipas de escavación.
En definitiva, na información arqueolóxica dispoñible faltan habitualmente os retratos
integrados dos conglomerados artefactuais correspondentes ás capas ou UEs, das
interrelacións precisas cos espazos e coas datas radiocarbónicas, que a súa vez tamén
carecen dunha contextualización adecuada. As referencias ás cerámicas son case sempre
puntuais ou unha selección arbitraria, que non representativa. Rara vez deriva dunha
agrupación porcentual. Aínda que reneguemos del, na práctica, a noción de fósil director
permanece con mal uso nas nosas metodoloxías.
Outro problema importante ten que ver coas características dos poboados. A súa longa
duración e as remodelacións que habitualmente se producen, alteran en grande medida
calquera contexto de uso e desordenan as fases de ocupación.

237
Así, por todas estas razóns, decotío a unidade básica de referencia, o contexto ao cal
podemos referenciar os materiais é o castro, entendido como un tempo tipolóxico único,
e no que converxen o total das evidencias. Así e todo, certos exemplos que desenvolven
a súa ocupación nun período curto ou son expresivos fundamentalmente dunha única
fase cronocultural foron a base da definición da evolución cerámica. Os castros de partida
foron para o Bronce Final-Ferro I: Neixón Pequeno, Torroso e Penalba; para o Ferro
II prerromano: Forca; para o Ferro II de cronoloxía romana: Santa Trega, Vigo e San
Cibrao de Lás. Unha vez definidas as fases, o paso seguinte foi illalas nos castros cunha
ocupación prolongada, corrixindo ou complementando a definición dos contextos que
propoñen os seus materiais. Así, a través da cerámica, é posible propoñer as fases do
Ferro I e Ferro II prerromano en Punta do Muíño, Cíes e Toralla; as dúas do Ferro II en
Neixón Grande, e evidencias das tres na Lanzada, Montealegre ou Castromao (ver Fig. 2).
Por suposto as definicións territoriais dos estilos arroupan e acrecentan a lectura
secuencial, nun proceso de retroalimentación mutua. Así, atendendo ao grao de relación
topográfica e contrastes estilísticos, ponse de manifesto unha estratificación horizontal
entre os castros do Neixón Pequeño e Grande, separados por una muralla (Fig. 2.1), entre
A Forca e Santa Trega, distanciados uns 900 metros (Fig. 2.2), ou entre as cerámicas do
castro de Vigo con respecto ás de Punta do Muiño, Illa de Toralla, Cíes e Castro Castriño,
dentro da Ría de Vigo.

Fig. 2 - Fases cerámicas identificadas en castros das Rías Baixas e bacia do Miño. As fotografías aéreas dos
castros do Neixón Grande e Pequeño (1) e de Santa Trega e A Forca (2), sinalan a proximidade xeográfica
entre castros con conxuntos cerámicos opostos, proporcionando una secuencia horizontal.

238
2. A CERÁMICA NA NUBE DE DATOS

Unha novidade importante na etapa na que hoxe estamos ten que ver coa incorporación
das infraestruturas de datos. IDEPatri (Abad Vidal et al. 2011) é unha plataforma
pensada para o traballo arqueolóxico en xeral, partindo do marco de estudos castrexos,
a raíz de proxectos de investigación artefactual e ecofactual do GEPN-AAT, que foron
subvencionados pola Administración autonómica entre 2008-2011. Isto permitiu madurar
a súa estrutura lóxica, mais o recorte orzamentario na implementación informática no
proxecto específico para IDEPatri (Xunta de Galicia 09SEC002CT), fai que sexa limitada
a súa aplicación fluída e aínda menos aberta (Teira e Abad 2012). IDEPatri é un modelo
de datos, que ten a intención de integrar nunha lóxica común, negociada, ensaiada e
finalmente instaurada, todos aqueles traballos de temática e metodoloxías diversas.
O obxectivo é incrementar a capacidade de análise e enriquecer os contextos relacionais
(Rey et al. 2009, 2011). Os temas máis desenvolvidos refírense a cerámica (Rey et al.
2009, 2011; Seoane 2018), metalurxia (Seoane 2018) a arqueobotánica (Martín 2013),
datacións radiocarbónicas (Jordá et al. 2009), e actualmente trabállase coas cerámicas
importadas (Ferrer et al. 2018).
As variables principais xiran en torno á evidencia –artefactos e ecofactos– e ao contexto
-arqueolóxico e cronocultural. O fío que as entrelaza é o xacemento e a intervención
arqueolóxica (Rey et al. 2011: 71). A partir de aí, procúrase a uniformidade dos datos para
facilitar a comparación entre metodoloxías diversas e establecer unha escala mínima
na que se produce a análise. Debemos comprender que a información emanada das
escavacións non é compatible en todas as súas escalas, incluso traballando baixo un
mesmo sistema de rexistro. A IDE incorpora, acouta e expresa dunha maneira sintética
os espazos verticais e horizontais e as connotacións de tempo que levan implícitas,
en tódolos graos posibles. Este criterio corrixe, en certa medida, as discrepancias
metodolóxicas entre as escavacións do sistema Wheeler e do sistema Barker-Harris e as
descompensacións na precisión da información dispoñible.
A lóxica dos SIX (Sistemas de Información Xeográfica), permite a inclusión dos datos
dentro de coordenadas reais, o que favorece a análise relacional en calquera grao, xa
sexan na microescala (capas ou UEs) ou na macroescala (territorio). Todo se dota de

239
espazo, o tempo sitúase na vertical dos estratos e na tendencia estilística (Rey et al. 2009
e 2011).
Este marco analítico e procedimental permite afondar nas biografías dos tipos e atributos
tipo, e no axuste das tendencias intuidas. A finalidade é conseguir relatos mais densos,
afianzar, matizar, corrixir as presuncións cronotipolóxicas establecidas e conseguir que
un tipo non sexa plano e que adquira connotacións cronestratigráficas. Simultaneamente,
explóranse, ensáianse e acórdanse protocolos de testeo coa aspiración de que algún día
teñan cabida nas escavacións arqueolóxicas, acompañando á diagnose.
Para esta orde secuencial estúdase o reparto porcentual de tipos e grupos formais,
cunha diferenza de partida, xa que os primeiros (os tipos) inclúen unha presunción
cronolóxica, e os segundos (os grupos formais) precisan configurala. Así mesmo, para
avaliar calidades dos contextos, sumamos as nocións de Harris (1991), referidas a “orixinal”
ou “localización no sitio”, “contaminación” ou “infiltrado” e o de “perduración” ou “residual”.
As tendencias porcentuais axudan a definir secuencias ocupacionais e matices nos
contextos. Corrixe o discurso de ausencia/presenza, ou de valoracións aproximadas que
non son representativas e moito menos avaliables. O certo é que nos nosos casos de
estudo con aplicación de IDEPatri, só foi viable estudar con absoluto detalle unha orde
secuencial estratificada no castro de Castrovite (Rey et al. 2011 e fig. 3). Os materiais
estudados recentemente do castro de Punta do Muiño foron depositados no museo sen
ningún tipo de contexto e os de Formigueiros quedaron pendentes dun traballo coordinado
máis a fondo, da man do responsable da súa escavación arqueolóxica.
O caso de Castrovite é, polo tanto, un estudo illado, e obviamente non ofrece resultados
concluíntes e xeneralizables e, por outra banda, o tamaño reducido da súa mostra
cerámica, non favorece a valoración porcentual. Aínda así, son datos cuantificados que
ratifican algunhas das presuncións tipolóxicas ata o de agora asumidas. Corrobora un
ambiente do Ferro I para os fondos Neixón Pequeno (Rey et al. 2011, fig. 8 e Rey 2014:
fig. 3), onde predominan. Tamén un borde serrado, característico do Bronce Final/
Ferro Inicial en moitos puntos da península Ibérica, parece que tamén se atopa nun
estrato antigo. A menor presenza de fondos Neixón Pequeno nos niveis do Ferro II son
perduracións estilísticas ou aportes removidos. E a súa recuperación porcentual en
niveis superficiais dalgunha sondaxe, atopan unha explicación adecuada na categoría de

240
contaminacións estratigráficas, relacionadas con accións agrarias contemporáneas ou
como consecuencia da construción dunha ermida (Rey et al 2011).
A única decoración estilo Neixón Pequeno, unha dixitación relacionada cun “galbo con
decoración Neixón”, é contextualmente máis recente que o suposto tipolóxico, a non ser
que se interprete como unha perduración ou unha incursión residual, xa que formaba parte
dun nivel do Ferro II Inicial (Rey et al 2011, fig. 11, nº 10).
As dúas vasillas Castromao de tradición Miño (definidas en Rey 1992: 363-366) ainda
que teñen aquí unha distribución periférica e confirman o seu consumo dentro do Ferro
II inicial (Rey 2014: fig. 8) e que tamén continúa un consumo continuado ata os niveis
máis recentes de cerámicas desta mesma tradición ainda que sen definición tipolóxica,
desta mesma tradición. As vasillas Montaz (Rey et al. 2011: 82) e as Singular Recarea
(definidas en Rey 1992: 403-408) propias da olería setentrional, tamén revalidan o seu
tempo tipolóxico no Ferro II, cun reparto por igual nas dúas etapas. As vasillas Borneiro
A e B (definidas en Rey 1992: 380-389), que consideramos propias do Ferro II avanzado,
concordan nos dous exemplares Borneiro B rexistrados (Rey et al. 2011: fig. 8.). Mais, pola
contra, os tres casos Borneiro A (Rey et al. 2011: fig. 8), repartidos en niveis do Ferro I,
Ferro II Antigo e Recente propoñen unha historia máis prolongada que a biografía do tipo
asumida en traballos anteriores (Rey 1992 e outros).
En canto aos atributos tipo decorativos (Rey et al. 2011, p.. 87, fig 11), a cronoloxía
tipolóxica da estampilla concorda coa estratigráfica. A máis antiga rexístrase nun ambiente
do Ferro II Inicial e continúa no Ferro II Avanzado. Pero o seu incremento e variedade
de matrices a partir do século I a.C (círculos concéntricos dobres e triplos, cruciformes
ou rombos raiados) supón unha progresión porcentual diferente á que supoñemos para
as Rías Baixas. Sospeitamos que pode que esta sexa unha pauta habitual na olería
Setentrional, onde a estampilla resulta moi rara e o seu incremento é tardío respecto das
tradicións oleiras Miño e Rías Baixas.

241
Fig. 3 - Tendencias porcentuais no castro de Castrovite dos tipos e atributos tipo (marcados con trama de gris),
e dos grupos formais e decorativos (en branco). A escala de grises define as concordancias coas cronoloxías
estratigráficas.

Os grupos formais clasificados (Rey et al 2011, p. 85, fig. 10), carentes de atribución
cronotipolóxica, tamén ofrecen condutas estratigráficas interesantes (Fig. 4). Así, as vasillas
con borde recto e os recipientes abertos son maioritarios no Ferro I. Os labios redondeados
predominan nos niveis antigos mais continúan no Ferro II Inicial. Os facetados pertencen en
exclusiva aos niveis do Ferro II e os multifacetados teñen unha certa ascendencia no Ferro
I, aínda que o estilo varía. Corresponde a un nivel antigo unha asa de viseira atrofiada ou
de protuberancia en crista e con base rectangular. Son dun Ferro II Inicial as dúas únicas
asas con decoración lobular, e son do Ferro II Final unha asa moi pequeniña de sección
cilíndrica e outra rectangular. No referente a grupos decorativos, cabe dicir que os cordóns
sogueados con impresións arqueadas se encadran no Ferro II Final (Fig. 11.1) e as puntas
de diamante aparecen nas tres fases cronoculturais do castro.
En canto ás tendencias tecnolóxicas, parece que tamén se constata un cambio
significativo na entrada do Ferro II bosquexado noutros conxuntos cerámicos (Rey 1991).
A manufactura dos bordes rectos, da vasilla Bornerio A e os multifacetados, dos niveis
antigos, é propia do Ferro I. Os recipientes abertos do Ferro II teñen un perfil mais variado
que os do Ferro I.
A estrangulación do colo das vasillas con labios redondeados teñen máis definición a
partir do Ferro II inicial. Os fondos con transición arestada do Ferro I non marcan o ángulo
coa mesma definición que os do Ferro II. E, asemade, os mamelóns aplicados e acabados
cos dedos, de planta circular e ovalada, aparecen en niveis do Ferro I, mentres que os que
se axudan dalgún instrumento se atopan no Ferro II.

242
Fig. 4 - Reparto porcentual de grupos formais no corte estratigráfico dunha sondaxe do castro de Castrovite.

3. A CERÁMICA NO SEU CONTEXTO ARQUEOSEDIMENTARIO

Con outro grado de análise, pero coas mesmas premisas, traballamos a información
publicada, as memorias oficiais e, ás veces, o acompañamos de revisións nos museos.
Aínda sendo miradas superficiais, axudan a avaliar a información dispoñible, coa intención
de sopesar e encarreirar unha intervención artefactual con mais detalle, xa con presuncións
e cuestións concretadas. A exploración, por exemplo, das publicacións do Achadizo
(Concheiro 2008, Rubinos et al. 1998 e Rodríguez-Nóvoa et al. 2016) permiten, grosso
modo, secuenciar tres intervalos de tempo e interrelacionar nun diagrama acontecementos
arqueosedimentarios, datas radiocarbónicas e unha mostra cerámica típica das Rías
Baixas (Fig. 5.1).
Aparentemente, confírmase a presunción cronolóxica para as vasillas Vigo a finais do I

243
milenio a.n.e. xa que todas as que foron debuxadas corresponden ao vertedoiro final.
En cambio, modernízase o tempo das xerras Toralla (Fig. 5.2), que nunha boa parte
comparten secuencia arqueosedimentaria coas Vasillas Vigo e só un dos exemplares
publicados ocupa unha cota máis baixa, coherente coa súa atribución cronotipolóxica
nun Ferro II máis antigo. Mais vendo as pezas polo miúdo, observamos que tres dos
seis exemplares procedentes dos sedimentos máis recentes xa non son Xerras Toralla
“clásicas” (a 4, 5, 6 da fig. 5.2). Rememoran algún dos seus atributos pero están lonxe
da súas características tipo. Diferéncianse na sección das súas asas, nas pastas e no
acabado. Tamén son unha anomalía estilística os botóns cónicos ou calquera adorno
plástico. Haberá que esperara unha análise cuantificada e porcentual que as encadre na
secuencia estratigráfica cunha maior precisión.

244
2

Fig. 5 - Diagrama de secuencia, do castro de O Achadizo, configurado a partir da información publicada


(Concheiro 2008, Rodríguez Nóvoa et al. 2016). 2-4. Reparto secuencial de tipos cerámicos e atributos tipo
publicados (Concheiro 2008).

245
A maior cantidade das Vasillas Cíes, pola contra, pese a que rexistra achados no
vertedoiro final, é anterior e coherente coa presunción cronotipolóxica (Fig. 5.3). Ademais,
a presenza dun galbo decorado con cordóns planos e engobe vermello interior (6.3 e
4), abonda na nosa sospeita de que tales atributos son antigos (Fig. 5.3.8) e que a súa
historia é máis longa que a definida en traballos previos (Rey 1992). Entre os materiais
desprovistos de contexto, dunha campaña anterior (Rey 1992), rexistramos un exemplar
con cordóns verticais e horizontais de estilo tecnolóxico Neixón Pequeno ou Ferro I, que
sospeitamos forma parte da biografía das vasillas Cíes (Fig. 7). Só quedaría asimilala
a través de exemplares parellos no seu contexto arqueosedimentario, que sospeitamos
coetáneo ao exemplar de cordóns planos e engobe vermello xa citado, que é xustamente
o ambiente o que tamén corresponden unha parte das cerámicas estilo Neixón pequeño.

1 2

3 4

Fig. 6 - Tendencia evolutiva para as Vasillas Cíes segundo contextos arqueosedimentarios de O Achadizo. 1-2.
Vasilla Cíes típica, cara exterior e interior. 3-4. Vasilla Cíes, nos primeiros tempos; engobe vermello no interior.

246
1 2

Fig. 7 - Vasilla de O Achadizo, sen contexto explicado, que tipoloxicamente formaría parte dun estadio antigo na
biografía das vasillas Cíes. Corresponde a unha campaña feita por Vázquez Varela (Rey 1992: fig. CCI-129).

4. A IMPORTANCIA DA TAFONOMÍA NA INTERPRETACIÓN DOS PROCESOS DE


FORMACIÓN DO REXISTRO

A caracterización tafonómica e o exame pormenorizado e protocolizado do estado de


conservación da cerámica pode arroxar luz sobre os procesos de formación dos conxuntos
materiais e da orixe natural ou antrópica dos sedimentos arqueolóxicos, tal e como se vén
aplicado no noroeste en xacementos do Bronce Medio (Martín et al. 2017).
Os procesos de alteración, de concentración e redistribución dos fragmentos ou de
vasillas completas, son unha interesante alternativa para a identificación de contextos
funcionais e postdeposicionais. Esta perspectiva constrúese dende a noción tafonómica
propia da paleontoloxía, considerando as súas leis de enterramento e procesos de
fosilización, referidos á formación dos xacementos e ás razóns do estado en que aparecen
as evidencias (Fernández-López 1999). Dende aquí, é posible entrever todo ou parte do
que lle sucede a unha vasilla e o que expresa do ambiente arqueosedimentario. A idea do
remontado, instaurada na investigación sobre o Paleolítico, parte aquí da pretensión de
situar os fragmentos que proceden dun mesmo vaso, para categorizar as roturas no sitio e
os desprazamentos verticais e horizontais. Neste caso, o pegado e asociado de fragmentos
non busca acrecentar o valor patrimonial dunha evidencia, que tamén leva implícito,
nin calcular os volumes de consumo, que teñen cabida noutra esfera de análise, senón
abondar nos seus contextos.
Visto nesta perspectiva, o exemplo de Castrovite, onde este aspecto foi traballado

247
(Rey et al. 2011), vemos ofrece uns ambientes arqueosedimentarios que están lonxe
do seu contexto orixinal de actividade, xa sexa manufactura, uso perda ou abandono.
A dispersión uniforme dos fragmentos cerámicos, nos niveis inferiores, o seu tamaño
reducido e a escaseza de roturas no sitio, interprétanse como un contexto secundario ou
terciario cunha forte alteración postdeposicional, onde aos procesos acumulativos e de
alteración do abandono, se suma unha redistribución total, afectada por axentes naturais
- desprazamentos por gravidade, por escorrentías - que non conservan síntomas de algún
tipo de actividade antrópica (seguimos as suxestións de Butzer 1991).
En cambio, nos niveis superiores, pese a que os procesos de redistribución
son importantes, aparentan ser mais parciais. Hai unha mellor preservación
arqueosedimentaria. O reparto é mais desigual e rexístranse remontados e máis roturas
in situ; se ben, en absoluto se trata de contextos primarios. Nestes niveis a acumulación
de sementes e madeiras carbonizadas aparentan conservar relacións microespaciais de
carácter máis primario e que aínda preservan unha asociación con información funcional,
de abandono por incendio, dunha estrutura de almacenaxe de sementes.
Pola contra, no caso do Achadizo (Concheiro 2008 e Rodríguez-Nóvoa et al. 2016)
atopámonos con vertedoiros onde se concentra o 80% da cerámica da intervención en
contexto primario, coa maior parte do material pouco fragmentado e roturas no sitio, e
fragmentos imbricados nun contexto arqueosedimentario de formación breve e con pouco
desprazamento espacial.

5. SOBRE O USO E A FUNCIÓN

A definición de uso dende unha perspectiva formal presenta o problema derivado de


que se fundamenta sobre similitudes formais con paralelos coñecidos e, en consecuencia,
carente dunha caracterización fundamentada sobre datos propios de cada cerámica. Neste
senso, é preciso discernir entre función, suposta pola morfoloxía, e trazas tafonómicas -
desgastes, concrecións, marcas de feluxe e síntomas de exposición ao lume, entre outros
- do uso das cerámicas.
A caracterización e identificación de uso das vasillas, dende a perspectiva
arqueométrica, con análises cromatográficas é outra das liñas iniciadas. Permítenos

248
coñecer os compostos presentes nas vasillas e valoralas en función do seu uso no pasado.
As análises actuais, polo de agora, centráronse nas Xerras Toralla (Amado et al. 2015)
sobre a hipótese dunha relación do consumo de bebida con modos mediterráneos. Este
punto de partida arróupase a partir da caracterización funcional derivada da anatomía da
peza, manufactura e acabados moi coidados ou ausencia de feluxe; e porque ademais
forman parte dun territorio, onde as interaccións co Mediterráneo son destacadas. Do
mesmo xeito, involúcrase na análise relacional da alimentación castrexa e nos ensaios de
uso. Esta hipótese podería confirmarse en parte, xa que se identifica un uso de bebidas
fermentadas, pero tamén doutros produtos coma os lácteos (Amado et al. 2015), que
puidesen establecer unha vinculación deste tipo cerámico cun uso particular, non derivado
do que, a priori, as observacións estéticas e formais expresan.

6. A ETNOEXPERIMENTACIÓN. OUTRA PERSPECTIVA ENSAIADA

A colaboración asidua de oleiros de tradición torno baixo, torno alto e ceramistas, dentro
do formato “Conversas con artesáns” como actividade universitaria posibilita buscar unha
mirada experta de como se fan as pezas (Fig. 8). Estas actividades son documentadas
en formato audiovisual para obter un rexistro das impresións e xestos técnicos. Este tipo
de rexistro permitiu reunir un corpus xestual de imaxes con aplicación na interpretación
da manufactura de pezas arqueolóxicas (Rey 2011: fig. 19, p. 36). Estes non son datos
concluíntes, xa que non son sistemáticos. É un campo que está comezando, e funciona por
oportunidade, non como unha liña de traballo nin un proxecto subvencionado. Aliméntase,
sobre todo, no marco da docencia regrada. Por outro lado, este tipo de actividades
caracterizouse non só por unha importante validez interpretativa, senón tamén coma un
medio altamente eficiente para a difusión dos coñecementos arqueolóxicos, destacando
sobre todo a carga expresiva do método de investigación, a práctica da arqueoloxía
experimental en si mesma, á vez que xera recordos, algúns dos cales derivan do seu
aspecto científico, o experimento, e da aplicación do coñecemento a través de actividades
orientadas ao público, a experiencia (Teira et al. 2014).
A pesar de que o suposto máis plausible dos fornos Castromao é que funcionasen como

249
fogóns de cociña (Teira et al. 2013), durante os ensaios de cocción guiados por Tomás
López, oleiro de Gundivós, demostrouse que tamén son viables para a cocción cerámica,
cunha carga máis cá suficiente para soster o consumo dun xacemento como Castrovite,
con sete ou once fornadas anuais. A carga estimada é dunhas 20 vasillas de entre 1´5 e 2´5
litros, ao longo de 800 anos (Rey et al. 2015: fig. 6). A esta consideración chégase a partir
do cálculo total de vasillas recuperadas e do cálculo do seu volume en litros, a superficie
escavada e a total do poboado, e o tempo de ocupación. Por contraste, sospeitamos que
este sistema de cocción nas Rías Baixas non sería o sistema adecuado a partir da Fase
Media, polo tamaño das pezas e polo elevado consumo e reposición das mesmas, tal e
como amosan as áreas de vertedoiro nestes castros, e polos índices de acumulacións
cerámicas, con cantidades que triplican as do territorio setentrional.

250
Fig. 8 - 1-4. Taller de conversas III no máster 2017-2018. De esquerda a dereita José Manuel Fernández, Tomás
López e Antonio Pereira “O Rulo”. Observación e manufactura de crateriformes Rías Baixas. A 2 e a 3 son
momentos de aplicación de barbotina para o pegado da asa, que foi previamente observado en pezas orixinais.
5-6. Borde monofacetado do castro de Montealegre. Os restos de barbotina na cara inferior e o espigado
metopado enriba de la sinalan a súa identidade como Crátera Rías Baixas.

251
7. TRADICIÓNS E IDENTIDADES

Os ciclos de importación, ao igual que a aplicación de análises radiométricas,


proporcionan una dimensión calendárica, mais cunha vantaxe importante, respecto o método
do C14: o seu carácter inmediato e a súa relación directa coas cerámicas endóxenas nos
contextos arqueosedimentarios. Parécenos especialmente interesante a aplicación da
análise porcentual e xeorreferenciada das distribucións dos produtos importados en
interrelación directa coa cerámica castrexa, coa fin de sincronizar as dúas secuencias,
a dos ciclos comerciais e as das olerías castrexas, que hoxe amosan contradicións
importantes. Na actualidade, a maior precisión dos ciclos comerciais e o predominio duns
determinados estilos cerámicos, abre novas alternativas á periodización cerámica. Así, o
estilo da cerámica castrexa da etapa final, ratifícase coetáneo co ciclo comercial romano,
namentres que o estilo, que supostamente ocupaba toda a Idade do Ferro prerromana,
parece asimilable especialmente co ciclo comercial tardopúnico. A cuestión radica en cómo
se desenvolve realmente esta fase, si se restrinxe a tal período, ou a súa historia ten unha
maior amplitude. Para iso fai falla afinar a lectura de contextos arqueosedimentarios que
determinen as variantes susceptibles de ser denominadas arcaicas, clásicas e evoluídas,
e en como se interrelacionan cos estadios de parecido grao nos estilos I e II. Intuímos
biografías en tipos e en estilos globais, pero falta afinar o contexto.
O estudo da cerámica castrexa no marco das interrelacións comerciais co Mediterráneo,
e máis en concreto a olería Rías Baixas, actualmente ofrece un contexto discursivo cheo de
suxestións. Dúas liñas importantes, que actualmente examinamos, refírense ao tema das
aculturacións e das cronoloxías. Gardan relación coa primeira o estudo das Xerras Toralla
en relación con bebidas fermentadas (Amado et al. 2015) e o dos crateriformes
Rías Baixas (Fig. 8), observadas como unha imitación dunha das pezas máis
frecuentemente importadas entre as vasillas de luxo. En relación coa segunda, buscamos
sincronizar as cerámicas castrexas e os produtos importados con cuantificacións
porcentuais, en secuencias dos tipos identificados e identificables dentro de contextos
arqueosedimentarios ben datados.

252
8. UNHAS CONSIDERACIÓNS FINAIS

A tipoloxía estética é a base que sustenta, aínda a día de hoxe, o coñecemento


cerámico dos castros galegos. É a única escala dispoñible para definir os estilos coñecidos
e ata o de agora tipificados. O castro de corta duración como unidade de contexto
arqueolóxico e o ambiente cronocultural que definen no seu conxunto, son polo de agora
as unidades de referencia temporais máis precisas, das que dispoñemos. Falta moito
percorrido para chegar a contextos mellor caracterizados. Pouco se avanzou neste tema.
Non hai nada máis erróneo, que a imaxe que se reflicte nalgúns traballos e memorias da
última década, de que está todo ben definido no que respecta as cerámicas castrexas. Non
é en absoluto adecuado, que “os tipos” ata o de agora definidos, poidan ser empregados
como fósiles directores que daten unidades estratigráficas ou un contexto, sen maiores
análises e valoracións dos conxuntos.
Aínda queda moito por andar para definir ou completar a tipoloxía das cerámicas
castrexas. Queda abondar nos estilos, nas súas múltiples facetas, nos factores produtivos,
nos funcionais e de uso, nos circuítos rexionais de distribución, nas cronoloxías e na
evolución.
Para abondar nos contextos arqueosedimentarios tamén se amosa interesante o
campo da tafonomía e da xeoarqueoloxía aplicados o estudo da cerámica, o que require
protocolos de recollida e de rexistro en campo, que aínda non están asumidos ou nin tan
sequera razoados. A recuperación que actualmente se se fai, da totalidade dos fragmentos
cerámicos, non vemos que repercuta nas memorias arqueolóxicas. Temos a impresión que
se trata dunha rutina engadida, da que se descoñece a razón de facelo.
Consideramos que sería importante comezar a recoñecer a investigación artefactual
como unha intervención arqueolóxica ao mesmo nivel que as intervencións de campo
referidas á escavación arqueolóxica e á prospección. Sobre todo, se queremos que se
amplíen as lecturas e, igualmente, nazan obxectivos e miradas novas, que renoven os
discursos e os traballos de síntese. E, por suposto, para que as intervencións de campo
deixen de limitarse a descubrir estruturas e achados sobresaíntes, sen máis.
Por último, é importante comenzar a ter en conta o valor que se lle concede ao material
arqueolóxico, nos protocolos de entrega nos museos, xa que elo repercute nas consultas

253
sucesivas por parte de outros arqueólogos. Non podemos esquecer que o material
arqueolóxico é, ante todo, unha evidencia, que precisa ser lida sucesivamente, por
xeneracións, por cada nova mirada ou porque xorden procedementos novidosos.
So así se convirte en documento e se acrecenta como tal (Rey et al. 2009; Rey 2018).

254
BIBLIOGRAFÍA

Abad Vidal, E., Rey Castiñeira, J., Álvarez Castro, G., Varela Pet, J. (2011). “Diseño y desarrollo de un
modelo de datos para una IDE arqueológica de la Edad de Hierro en Galicia”. En II Jornadas Ibéricas de
Infraestructura de Datos Espaciales. http://www.idee.es/resources/presentaciones/JIIDE11/Articulo-71.pdf
Amado Rodríguez, E.; Rodríguez Garrido, B.; Guitián Fernández, E.; Rodríguez Nóvoa, A. A.; Rey Castiñeira,
J.; Lantes Suárez, O. (2015). “Primeros ensayos para la caracterización de uso de la cerámica de la Edad del
Hierro del NW Ibérico”. En Oliveira C., Moriais, R.; Morillo Cerdán, A. (eds). ArchaeoAnalytics. Chromatography
and DNA analysis in archaeology, p. 103-117.
Butzer, K. (2007). Arqueología una ecología del hombre: método y teoría para un enfoque contextual.
Bellaterra. Barcelona.
Concheiro Coello, Á. (2008). Castro do Achadizo: cultura material, economía de subsistencia na Idade do
Ferro: memoria das escavacións, 1991-1994. Cadernos culturais, 11. Concello de Boiro. Boiro.
Fernandez López, S.R. (1999). “Tafonomía y fosilización”. En Meléndez, B. (ed.). Tratado de Paleontología.
Tomo I. Consejo Superior de Investigaciones Científicas, Madrid, p. 51-107.
Ferrer Albelda, E.; Rey Castiñeira, J.; Rodríguez Corral, J.; Sáez Romero, A. M.; García Fernández, F. J.
(2018, en prensa). “Punic amphorae in the Northwest coast of the Iberian Peninsula: Origins, distribution and
commercial dynamics”. En Docter, R.; Gubel, E.; Martínez Hahnmüller, V.; Perugini, A. (eds.). First Amphoras of
the Phoenician-Punic World Congress: the State of Art. Peeters en Leuven.
García Alén, L. (1983). La alfarería de Galicia. Un estudio a través del testimonio cultural de las vasijas y de
los alfareros-campesinos. Fandación Barrié de la Maza. A Coruña.
Harris, E.C. (1991). Principios de estratigrafía arqueológica. Ed Crítica, Barcelona.
Jordá Pardo, J. F.; Rey Castiñeira, J.; Picón Platas, I.; Abad Vidal, E.; Marín Suárez, C. (2009).
“Radiocarbon and Chronology of the Iron Age Hillforts of Northwestern Iberia”. Karl, R., Leskovar J. Y. (eds.).
Interpretierte Eisenzeiten. Fallstudien, Methoden, Theorie. Tagungsbeiträge der 3 Linzer Gespräche zur
interpretativen Eisenzeitarchäologie. Studien zur Kulturgeschichte von Oberösterreich, 22. Oberösterreichischen
Landesmuseum, Linz, p. 81-98.
Martín Seijo, M. (2013). A xestión do bosque e do monte dende a Idade do Ferro á época romana no
noroeste da península Ibérica: consumo de combustibles e produción de manufacturas en madeira. Tese de
doutoramento. Universidade de Santiago de Compostela. Santiago de Compostela.
Martín Seijo, M.; Blanco González, A.; Teira Brión, A.; Rodríguez Rellán, C.; Bettencourt, A. M. dos S.;
Rodríguez Sáiz, E.; Comendador Rey, B. (2017). “Disentangling the life-cycles of Bronze Age pits: A multi-
stranded approach, integrating ceramic refitting, archaeobotany and taphonomy”. Journal of Archaeological
Science: Reports, 12, p. 528-542, doi:http://dx.doi.org/10.1016/j.jasrep.2017.02.024.
Proxecto de Deseño e desenvolvemento dun modelo de datos para unha IDE arqueolóxica da Idade do
Ferro en Galicia (http://idepatri.cesga.es/). Proxecto de colaboración da convocatoria de I+D do Programa
Sectorial de Investigación Aplicada da Xunta de Galicia, e referencia 09SEC002CT, estase a realizar polo
GEPN, o CESGA (Centro de Supercomputación de Galicia) e o Laboratorio de Sistemas da USC.

255
Rey Castiñeira, J. (1984). “Notas sobre algunhas pezas singulares da cerámica castrexa”. Gallaecia 6-7-8
(1980-84), p. 229-235.
Rey Castiñeira, J. (1990-1991). «Cerámica indígena de los castros costeros de la Galicia Occidental: Rías
Bajas. Valoración dentro del contexto general de la Cultura Castreña». Castrelos, 3-4, p. 141-163
Rey Castiñeira, J. (1991). Yacimientos castreños de la Vertiente Atlántica. Análisis de la cerámica indígena.
Tese de Doutoramento. Universidade de Santiago de Compostela. Santiago de Compostela.Teses en microficha
número 185. Servicio de publicacions e inercambio científico. Universidade de Santiago de Compostela.
Rey Castiñeira, J. (1996). “Referencias de tempo na cultura material dos castros galegos”. En Hidalgo
Cuñarro, J. M. (coord.). A cultura castrexa galega a debate. Actas do curso de verán da Universidade de Vigo
(Tui 1995). Instituto de Estudios Tudenses. 158-206.
Rey Castiñeira, J. (2011). “Cerámica castrexa y alfarería tradicional. Comparaciones”. En González Amado,
S. (ed.). La cerámica en Galicia: de los Castros a Sargadelos. Actas del XIV Congreso anual. Oleiros, octubre
2009. Asociación de Ceramología. Alicante, p. 19-42.
Rey Castiñeira, J. (2014). “A olería castrexa de tradición Miño”. En Morais, R.; Fernández Fernández, A.;
Sousa, M.J. (eds.). As produçôes cerámicas de imitaçâo na Hispania. Monografías Ex oficina hispana II. Tomo
I. II Congreso internacional, Sociedad de Estudios de la Cerámica Antigua en Hispania (SECAH), Serviço de
Publicações da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). Porto, p. 289-302.
Rey Castiñeira, J. (2018). “Arqueotecas, por favor”. Carretero Pérez, A., Papí Rodes, C.; Ruiz Zapatero, G.
(eds.). Actas del V Congreso Internacional de Historia de la Arqueología/IV Jornadas de Historiografía SEHA-
MAN. Arqueología de los Museos: 150 años de la creación del Museo Arqueológico Nacional. Ministerio de
Educación, Cultura y Deporte. Madrid, p. 1175-1190.
Rey Castiñeira, J.; Abad Vidal, E.; Calo Ramos, N.; Martín Seijo, M.; Quindimil García, L.; Rico Rey,
A.; Rodríguez Calviño, M.; Teira Brión, A. (2009). “Metodoloxía e criterios para o estudo dos materiais
arqueolóxicos: o proxecto do Castro da Punta do Muíño”. Gallaecia, 28, p. 213-232.
Rey Castiñeira, J.; Abad Vidal, E.; Calo Ramos; N.; Candamo Bueno, C.; Candamo Bueno, M.; Cortegoso
Comesaña, M.; Martín Seijo, M.; Meijide Cameselle, G.; Pena Monteagudo, N., Picón Platas, I.; Rico Rey, A.;
Rodríguez Rellán, C. ; Teira Brión, A., (2010). Formigueiros. Análise da cultura material. Documento Científico-
Técnico depositado en Dirección Xeral do Patrimonio Cultural. Consellería de Cultura e Turismo. Xunta de
Galicia. Inédito.
Rey Castiñeira, J.; Calo Ramos, N.; Rodríguez, J. M.; Abad Vidal, E. (2000). Los materiales cerámicos del
castro de Elviña. Documento Científico - Técnico depositado no CSIC. Santiago de Compostela. Inédito.
Rey Castiñeira, J.; Martín Seijo, M.; Teira Brión, A.; Abad Vidal, E.; Calo Ramos, N.; Carballo Arceo, X.;
Comendador Rey, B.; Picón Platas, I.; Varela Montes, A. (2011). “CastroBYTE: un modelo para a xestión da
información arqueolóxica”. Gallaecia, 30, p.. 67-106.
Rey Castiñeira, J.; Teira Brión, Á.; Calo Ramos, N.; Rodríguez Corral, J.; López González, T. (2013).
«Cámaras de cocción móviles de la Edad del Hierro del NW peninsular: una propuesta de reconstrucción
experimental». En López Palomo, L. A.; Piqué I Huerta, R.; Terradas Batlle, X. (eds.). Experimentación en
Arqueología. Estudio y difusión del pasado. Série Monográfica del Museu d’Arqueologia de Catalunya. Girona,
p. 437-445

256
Rodríguez Corral, J. (2008). “Una propuesta de estudio tecnológico de la cerámica castrexa: el caso de
Borneiro B”. Gallaecia, 27; p.. 205-225.
Rodríguez Nóvoa, A. A.; Díaz Rodríguez, M.; Seoane Novo, C. (2016). “Revisión de datos contextuales para
el yacimiento de O Achadizo (Boiro, A Coruña)”. En Cordeiro Macenlle, R.; Vázquez Martínez, A. (eds.), Estudos
de Arqueoloxía, Prehistoria e Historia Antiga: achegas dos novos investigadores. Andavira Editora. Santiago de
Compostela, p. 113-125.
Rubinos Pérez, A.; Fábregas Valcarce, R.; Alonso Mathias, F.; Concheiro Coello, Á. (1999). “Las fechas C-14
del Castro de O Achadizo (Boiro, A Coruña): problemática de la calibración de conchas marinas”. Trabajos de
Prehistoria, 56, 1, p. 147-155.
Seoane Novo, C. (2018). Interaccións entre olería e metalurxia na cultura castrexa: sítulas de bronce e as
súas analoxías cerámicas. Tese de doutoramento. Universidade de Santiago de Compostela. Inédita.
Teira Brión, A.; Abad Vidal, E. (2012). “O necesario emerxer da información silenciada. A biografía das
escavacións en xacementos da Idade do Ferro en Galicia como exemplo”. Gallaecia, 31. p. 83-105.
Teira Brión, Á.; Rey Castiñeira, J.; Ní Líonain, C. (2014). “The registry of memory proccess applied to
Experimental Archaeology in Castromao “oven””. En Proceedings of the 7th Experimental Archaeology
Conference, Cardiff 2013, 12-13 January. EXARC Journal. Dublín. Póster. https://experimentalarchaeologyuk.
files.wordpress.com/2013/01/small-cooking-pots-or-cooking-with-pots-by-tiera-brion-et-al.pdf

257
MIGUEL Á VIDAL
LOJO E JUAN
NAVEIRO LÓPEZ
CONTRASTES Y SIMILITUDES ENTRE DOS POBLADOS
FORTIFICADOS GALAICOS. LA CERÁMICA

MIGUEL Á VIDAL LOJO E JUAN NAVEIRO LÓPEZ

RESUMEN
Se presentan los primeros resultados de las recientes intervenciones arqueológicas
en dos asentamientos fortificados de la Edad del Hierro en las Rías Baixas gallegas:
Castro da Cidá (CC) y Castro de Montealegre (MA). Las diferencias entre tipo y periodo
de ocupación, uno de poca duración y pronto abandono -CC- y otro con una extensa vida
-MA- aportan un contraste sugerente y clarificador. En el caso de la cerámica, fue posible
diferenciar algunas producciones indígenas predominantes, en su mayor parte de la zona,
pero también algunos recipientes específicos procedentes de otras zonas interiores
distantes. El encuadre cronológico absoluto de las analíticas de C-14, se complementa
con las dataciones relativas que aporta la concentración de algunos materiales
de importación en MA.

PALABRAS CLAVE
Rías Baixas, Edad del Hierro, Castros, Cerámica, Producciones Alfareras.

Abstract
The first results of recent archaeological interventions in two Iron Age fortified
settlements in the Galician Rías Baixas are presented: Castro da Cidá (CC) and Castro
de Montealegre (MA). The differences between type and period of occupation, one of
short duration and early abandonment -CC- and another with a long life -MA- provide a
suggestive and clarifying contrast. In the case of ceramics, it was possible to differentiate
some predominant indigenous productions, mostly from the area, but also some specific
containers from other distant interior areas. The absolute chronological framing of the
analyses of C-14 is complemented by the relative dates provided by the concentration
of some imported materials in MA.

Keywords
Rías Baixas, Iron Age, Castros, Ceramics, Pottery Productions.

261
Los yacimientos objeto de estudio se localizan en un ámbito concreto de las Rías
Baixas gallegas, CC en el límite norte y MA en el sur. El castro da Cidá es un yacimiento

prácticamente inédito en la historiografía,


siendo intervenido por vez primera en
los años 2014 y 2015, a iniciativa del
Ayuntamiento de Ribeira (A Coruña) con
cofinanciación europea. El asentamiento
se localiza a 209 m.s.n.m. en la cima del
monte homónimo, en el extremo final de
la península del Barbanza entre las rías
de Arousa y Muros-Noia, situación que le
confiere una gran presencia en el paisaje
y una visibilidad de 360º. A pesar de su
proximidad a la costa (menos de 2 km)
y dominio de las entradas de las rías de
Arousa -en menor medida la de Muros/ Fig. 1 - Situación general.

Noia-, no puede tipificarse como costero o marítimo. De planta ovoide y aproximadamente


2 hectáreas de extensión, se configura como un recinto fortificado en altura, con dos líneas
de defensa exterior que abarcan sendas plataformas propicias para habitación, una más
pequeña y plana en la parte alta del monte y la otra rodeada de un parapeto de más de 4 m
de altura, además de otro parapeto parcial, más exterior, circunscrito a un sector dónde la
topografía es más plana.
Por contra, el castro de Montealegre es un viejo conocido de la historiografía. Estudiado
por primera vez en los años 20 del pasado siglo (Losada, 1927, 1943) y más recientemente
tras la construcción de un nuevo vial (Aboal y Castro, 2006), presenta una plata oval y 3,5
hectáreas de extensión (aprox.), asentándose en un espolón de difícil acceso natural
que desciende cara el mar, desarrollando dos plataformas principales a distinta cota. Su
posición, en la zona de mayor estrechamiento de la ría de Vigo, privilegia y favorece el
control tanto de la gestión de los recursos marinos como de los contactos por la misma vía. Su
arquitectura, a excepción de la zona N donde un foso delimita el recinto, viene condicionada
por la microtopografía natural que individualiza el asentamiento.

262
CONTEXTOS
Para entender la investigación en el castro de Montealegre deben aclararse varios
aspectos. En primer lugar, la localización de las áreas de excavación en el ámbito de impacto
de una obra civil: laderas este y oeste, zonas excéntricas en relación a la teórica centralidad
del castro. En segundo lugar, una orografía con pronunciadas pendientes y severos procesos
postdeposicionales que dificultan e impiden la asociación de materiales y estructuras.
En tercer lugar, las propias ocupaciones que movilizan paquetes sedimentarios para
atenuar la pendiente y configurar espacios habitables y transitables. El caso del Castro da
Cidá es diferente. Su estudio se centró en la plataforma más alta del yacimiento, un espacio
relativamente plano con alteraciones puntales derivadas, fundamentalmente, de la extracción
de piedra (cantería tradicional). Los datos manifiestan una estratigrafía relativamente
sencilla, sin acumulaciones estratigráficas ni reestructuraciones arquitectónicas
importantes, que revelan un nivel de ocupación homogéneo sin superposiciones de
materiales que indiquen episodios dilatados en el tiempo. De facto, el material aparece
poco estratificado, reflejando el sumatorio de escenas del comportamiento de un grupo
social durante un marco temporal acotado.
Si a esto se añaden los escasos indicios de reformas arquitectónicas y la coherencia del
material, se puede defender un ciclo corto para su ocupación.

Las evidencias arquitectónicas en


ambos yacimientos también son distintas.
En CC la superficie plana favoreció
la conservación de las estructuras,
documentando en el espacio intervenido
(800m2) indicios de 22 cabañas, 13
excavadas íntegramente. Se trata de
construcciones medianas y pequeñas,
con diferentes morfologías: circulares,
ovaladas, rectangulares con esquinas
redondeadas, cuadrangulares… Los datos
revelan una ocupación principal, bajo un
gran derrumbe pétreo, que atendiendo Fig. 2 - Planta general de la arquitectura en Castro da
Cidá.

263
a los resultados mayoritarios de las 10 dataciones de C14 realizadas, muestran una
concentración entre los ss. VII-V aC., proponiendo su abandono mayoritario alrededor del
IV aC. Las causas de su abandono habrá que seguir investigándolas aunque se desecha
un episodio rápido provocado por una coyuntura violenta. Lo que se descarta es que
estuviera funcionando en la fase de romanización, incluso durante las primeras incursiones
de Roma en el NO. Por el momento, no contamos con pruebas concluyentes que permitan
atribuir una funcionalidad específica al asentamiento: la práctica ausencia de hogares
permanentes en el interior de las cabañas crea un serio inconveniente para su exclusiva
atribución doméstica. La actividad artesanal, sobre todo la metalurgia de bronce, parece
cobrar peso sí atendemos a la presencia de numerosas escorificaciones.
El expolio material (3.000 piezas) no fue generoso en relación a la densidad de
estructuras. Destaca porcentualmente una cerámica que en su conjunto muestra rasgos
arcaizantes y elevados índices de fragmentación (pisados, no rodados), quizás porque
fueron arrojados sobre el nivel de uso como lo demuestra que muchos fragmentos se
puedan remontar. Acompañando a la cerámica, muchas con evidencias de exposición
al fuego, se documentaron pequeñas pesas de piedra, algunas con acanaladuras que
recorren su perímetro, varios recortes cerámicos discoidales con perforación central e
industria lítica, mayoritariamente en cuarzo. Contrariamente a lo que cabría esperar para
la ría de Arousa -un área preferente de dinamismo cultural en la Edad del Hierro con los
primeros flujos de mercancías de los navegantes meridionales-, el asentamiento parece
mantenerse aislado de estas actividades. La excepción, con prudencia, la encontramos en
dos fragmentos de cuchillos afalcatados, algunas cuentas monocromas de pasta vítrea azul
y quizás un par de fragmentos cerámicos.
En MA la intervención se desarrolló en las laderas este y oeste en un total de 400m2 y
1.000m2 respectivamente, en una superficie problemática para una buena secuenciación
arqueológica. La arquitectura en la ladera más prolífica -oeste- muestra un gran muro de
contención que delimita el espacio superior del castro, donde asoman restos parciales de
dos cabañas de tendencia angular. Seguidamente un murete transversal a la pendiente
generando una superficie aterrazada, contiendo tierras y facilitando el tránsito. Más abajo, un
camino enlosado que articula una zona de acceso y deambulación. Este camino, encajado
y jalonado por muros laterales, presenta, en ocasiones, escalones para salvar los fuertes

264
desniveles. En un punto concreto, el camino se “estrangula”, probablemente por la existencia
de una puerta que es flanqueda por dos estructuras a modo de “bastión”. En torno al camino
se definen los espacios arquitectónicos: una cabaña planta lobular que se interpreta como
un espacio de tránsito, probablemente para recepción y descarga -desde luego se aleja de
lo que se entiende por espacio doméstico- y una cabaña circular con vestíbulo y hogar cuya
funcionalidad doméstica es la hipótesis más firme. Además, esparcido por toda la superficie,
se documentan diez vertederos de alimentación, uno de ellos de gran tamaño.
Los materiales recuperados se disparan tanto en cantidad como en calidad -40.000

Fig. 3 - Planta de las estructuras arquitectónicas detectadas en la ladera oeste de MA.

piezas-, donde abunda la cerámica pero también objetos metálicos, líticos y óseos. La
explicación de la gran diferencia entre los materiales recuperados en MA y CC quizás
pueda explicarse por la diferente funcionalidad de los yacimientos, pero también por la
duración propuesta para cada uno.
Se analizaron cinco muestras de C-14, dos en relación directa con las estructuras de
combustión de la cabaña circular con vestíbulo. Los resultados oscilan entre mediados
del I aC. y I dC. para una, y de mediados del I dC. al II dC. para la otra. Estos análisis

265
no son concluyentes, de modo que para poder precisar la secuencia se echa mano
de la cronología relativa de las tipologías cerámicas seriadas y de otros materiales
característicos, caso de ciertos objetos de bronce.
El registro permite proponer a MA como un asentamiento de larga duración, con una
fase antigua de la primera Edad del Hierro (s. VIII aC.), identificada por tipos cerámicos
característicos -formas Neixón Pequeño-, algún objeto de bronce -colgante circular y alfiler
de cabeza enrollada- y claramente por un fragmento de molde de hachas de talón y dos
anillas. A una fase más avanzada se pueden adscribir algunas fíbulas -tipo Sabroso y
La Tène- y ciertos tipos cerámicos indígenas y foráneos. Para la última fase, la
más activa, la que más huella dejó, y a la que se puede asociar la gran mayoría de las
construcciones, destaca un repertorio cerámico indígena recurrente en las Rías Baixas,
acompañado de un progresivo incremento de material tardopúnico y romano. Estos
elementos cerámicos se acompañan de objetos metálicos, destacando por la elocuencia
cronológica cierto tipo de fíbulas (omega, de charnela, de disco). En menor medida, otros
materiales apuntan a que el lugar fue frecuentado episódicamente entre los ss. II-IV dC.
según se desprende de la aparición de vidrio de bandas horizontales esmeriladas y una
moneda de Constancio.

RASGOS PRINCIPALES Y DESTACABLES DEL MATERIAL CERÁMICO

Las referidas circunstancias que separan ambos yacimientos, tienen reflejo en los
respectivos expolios cerámicos, pero al mismo tiempo constituyen la única salida para
buscar marcos de referencia cronológicos-comparativos y funcionales; tan necesarios
cuando aquel que aporta la inmensa mayoría del material, carece de secuencias
estratigráficas precisas y las mínimas superficies habitacionales no llevan aparejados
contextos ergológicos expresivos. Con unos índices tan elevados de fragmentación
y dispersión que, difícilmente permiten reconstruir perfiles enteros o mínimamente
expresivos, no hay que obcecarse en precisar formas o tipos concretos; al fin, como en
toda producción artesanal, resulta inútil forzar la aplicación de encuadres tipológicos
rígidos, propios tan sólo de una alfarería semi-industrializada1.

266
No obstante, una mirada global a todo el conjunto cerámico, hace evidentes los parámetros
que enmarcan la producción, el suministro y el consumo de estos objetos de la actividad
alfarera, omnipresente e imprescindible, para la vida cotidiana de aquellas comunidades.

I.-PRODUCCIONES MAYORITARIAS

El primer rasgo característico de la cerámica, es la existencia de dos tipos de fábrica


mayoritarios. Resulta obvio desde un principio, que una mayoría de las piezas son el
resultado de dos producciones alfareras diferenciadas, pero no sólo por su fábrica distinta
y bien definida, sino también por el tipo de cocción, los acabados y hasta los estilos
decorativos. En los aspectos morfológicos y funcionales, si bien no es posible seleccionar
un repertorio variado, propio y específico a cada una, no es menos evidente que algunas
formas solo aparecen en una de ellas. Otros morfotipos muestran preferencia por alguna
de estas producciones, pero no son exclusivos, si bien en algunos casos, pueden ser
excluyentes. Las variaciones de formato y, sobre todo funcionales, parecen determinar a
veces, la elección o preferencia de una producción determinada2. Son esas formas más
representativas y difundidas de cada producción, las que parecieron más idóneas para
denominar ambas producciones. La “Cíes” toma su nombre de la olla de borde engrosado
del mismo nombre, muy frecuente, y que muestra con gran nitidez los rasgos visuales de
fábrica, acabado y decoración que la definen. La producción “Vigo”, igualmente se apoya
en las ollas globulares de borde reforzado, por idénticas razones3.
Veamos pues los rasgos principales que caracterizan cada una de estas producciones,
tanto tecnológicos, como morfológicos y decorativos, y también, en la medida de lo posible,
su difusión espacio-temporal.

1
Al carecer de perfiles, contextos o analíticas de referencia, carecería de sentido entrar en excesivas precisiones,
de ahí que en la mayoría de los casos, se optó por términos y conceptos más amplios e inconcretos, tales como
“círculos o ámbitos de producción”, “zonas alfareras”, “grupos morfológicos”, o “estilos decorativos”.
2
En la base de nuestra terminología están los tipos definidos por REY CASTIÑEIRA (1990/91 y 1991)
aunque, como en otros aspectos morfológicos y decorativos, entendidos en un sentido amplio y sin relacionarlos
directamente con periodos cronológicos concretos o fases evolutivas rígidas o/y constrictivas.
3
Las piezas de este grupo morfológico, presentan en ocasiones diversidad de fábricas, pero es un efecto minoritario,
derivado de la actitud más abierta de los alfareros de este conjunto productivo, al que volveremos a referirnos.

267
I.1- PRODUCCIÓN “CÍES”.

Los recipientes de esta producción presentan unas características de fábrica bastante


homogéneas y estables. Pastas de granulosidad media y fina, con desgrasantes de un
tamaño medio (principalmente cuarzo) regularmente repartido y, generalmente, poco
abundante. La coloración de tonalidades rojizas, denota una cocción en un ambiente bien
oxigenado, si bien en las piezas de mayores formatos y consecuentemente paredes más
gruesas, es característico un espeso núcleo de tonos grises; la delimitación brusca y muy
definida entre dicho núcleo y la capa superficial, lleva a suponer una cocción en dos fases.
El modelado, varía según los tipos y tamaño de las piezas. El modelado manual no es
raro, aunque retocado con tanta precisión que en ocasiones, sobre todo en los pequeños
fragmentos, resulta confusa su identificación. No obstante, proporcionalmente, el levantado
en torno bajo, o lento, parece mayoritario, sobre todo en las piezas de mayor tamaño, y con
estampaciones continuas enlazadas; en este caso es el ensamble de las distintas partes o
de los elementos añadidos al cuerpo principal, el que crea irregularidades y asimetrías en
las paredes afectadas.
El acabado superficial, siempre cuidado, suele estar bien alisado, cuando no con un
espatulado vertical exterior, que en las piezas pequeñas las cubre totalmente, y en algunas
de las grandes únicamente el cuello. Desde momentos tempranos aparece un engobe
blanco, en ocasiones de notable espesor -hasta 0’5 mm-, que se aplica mayoritariamente
al interior, lo que parece señalar a una intención funcional de impermeabilización4. Caso
distinto es el de las aguadas rojizas exteriores, que recubren total o parcialmente, para
acentuar efectos cromáticos con fines estéticos sobre los que volveremos a continuación.

4
En algunos casos, este recubrimiento supera el borde, para detenerse en una línea bien definida bajo el
labio. Aquellos otros que están recubiertos en ambas superficies, suelen tener delgadas paredes, por lo que
duplica el efecto aislante.

268
Fig. 4 - Caraterísticas de la producción “Cíes”.

En lo que a formas y módulos se refiere, aunque no siendo posible atribuir un


repertorio o vajilla específica para esta producción, no es menos seguro afirmar la
existencia de morfotipos o, mejor grupos morfológicos, propios de la producción. Estos
grupos comprenden un número de perfiles relativamente limitados, si se obvian las
múltiples variantes derivadas de sus elementos constitutivos -labios, cuellos y asas,
principalmente-. Con todo, su peso cuantitativo parece avalar una amplia y prolongada
aceptación y demanda. Los tres grupos principales están representados por los siguientes
tipos de recipientes:
a. Pequeños vasos de tendencia cilíndrica y suave perfil en S, con bodes levemente
engrosados de secciones variadas, y sin apenas tratamiento decorativo a mayores de las
líneas verticales espatuladas que recorren toda su altura.
b. Ollas globulares de tamaños medianos y grandes, con bordes exvasados que se
abren desde el hombro sin otra solución de continuidad que el estrangulamiento impuesto
por el cambio de curvatura en la línea del perfil; estos bordes se engrosan progresivamente,
generando labios de marcada sección triangular. Muestran una decoración diversa, desde
sobrios y aislados baquetones estructurales, de refuerzo, hasta complejas composiciones
que combinan diversas técnicas y motivos.
c. Ollas globulares, con tendencia cilíndrica o, con más frecuencia, piriformes, y una
amplia gama de módulos, desde medianas-pequeñas hasta de gran tamaño. Los bordes
y sobre todo los labios son tan diversos que precisarían más atención, para distinguir

269
variantes o grupos diferenciados como parecen requerir estos materiales; de todas
maneras son los labios almendrados -con sección ovoide o semiovoide- y los moldurados,
-con rebaje o escalón interior para encaje de tapa- los más abundantes y característicos.
En lo que respecta al tratamiento estético, se mantienen los rasgos del grupo anterior.
Sobre otros elementos formales, tales como bases-pies y suspensiones, poco
merece destacarse. Los fondos planos simples tienen un predominio absoluto, si acaso
galleta. Los medios de suspensión, tienen muy escasa, o nula, representación: pueden
entenderse como tales algunas pestañas prismáticas, dispuestas horizontalmente, pero
dicha atribución es muy poco probable por su similitud con ciertos elementos de finalidad
decorativa y la fragilidad del tipo de inserción a la pared del cacharro. En un único caso
se documenta un asa en arco con fijaciones adecuadas y perfectamente funcionales, que
arranca del lomo para terminar en la parte alta del cuello, bajo el borde.

Fig. 5- Formas de prod. “Cíes”.

No menos complejo resulta intentar compendiar la decoración asociada a estas


producciones, que combina todas las diversas técnicas aplicables, con diferentes
composiciones y numerosos motivos. Así, las técnicas están representadas desde la
incisión en todas sus variantes o las aplicaciones plásticas, hasta la impresión, simple (con
improntas manuales o de objetos sencillos de alrededor) o estampillada (con punzones
específicos, representando motivos complejos) y los efectos cromáticos5.

5
Los baquetones -aplanados-, como las acanaladuras, suelen emplearse con fines estructurales,
compartimentando el espacio, normalmente en bandas horizontales, pero también en vertical para delimitar
metopas, y más raramente oblicuos o en zig-zags, ya en la parte baja del cuerpo, Entre estos, o incluso
sobre ellos, se extienden composiciones incisas o impresas, estas últimas, casi siempre, series repetitivas de
estampillas muy sencillas -sucesión de eses enlazadas, las más frecuentes-.

270
La decoración suele limitarse a una banda horizontal sobre la mitad superior del cuerpo,
si bien, en casos contados se extiende por toda la superficie. El cromatismo se consigue
por la tonalidad de las distintas arcillas aplicadas, acentuándolo con la aplicación de ligeras
aguadas pigmentadas de rojo o negro. Un elemento plástico característico, lo representan
las asas tubulares horizontales, con nervaduras anulares o no, pero sin posible uso funcional.

I.2- PRODUCCIÓN “VIGO”.

Los recipientes producidos por estos alfares, son igualmente identificados y


diferenciables por los claros rasgos que presentan. Siguiendo la misma pauta descriptiva
caracterizaremos los detalles de fábrica. Aquí las pastas parecen tener una mayor
granulometría, en parte consecuencia de una proporción más elevada de desgrasante
-aunque irregularmente repartido- y su desigual tamaño –gránulos de cuarzo gris o blanco
que superan 1mm-, y la abundante presencia de cristales de mica, en especial sobre la
superficie externa.

Fig. 6- Características de la producción “Vigo”.

La gama de tonalidades, deja clara una cocción en ambientes reductores, abarcando


desde el gris claro y ocre-grisáceo, al gris oscuro y el negro. Cuando es posible discernirlo,
el levantamiento en torno bajo, parece lo habitual, proporcionando unos acabados
superficiales externos bastante regulares en los abundantes casos en que no se aplica

271
ningún proceso de alisamiento suplementario. Las superficies internas, ennegrecidas,
pueden presentar cierto brillo por procesos de frotado o incluso bruñido.
Determinar el repertorio morfológico de esta producción, resulta bastante más
complejo que en el caso de la “Cíes”, ya que no solo aparece en numerosos y muy diversos
recipientes, además comparte formas con algunas otras producciones. Con todo es posible
destacar unos grupos de ollas globulares, si no totalmente exclusivos, si de una preferencia
casi absoluta:
a. Ollas globulares con formatos medio-grandes, con un característico borde exvasado
curvado al exterior. Su carga decorativa se reduce casi al mínimo, basada en elementos
plásticos simples pero definidos y protuberantes - cordones horizontales de sección
triangular y mamelones cónicos puntiagudos -; a mayores algunos círculos impresos, y
especialmente unas series de incisiones verticales por todo exterior del borde -efecto que
caracteriza las piezas de los grupos siguientes-.
b. Ollas globulares, en casos casi esferoidales, con módulos medianos o más reducidos,
con bordes reforzados por cordón integrado bajo el labio, cuya denominación da nombre
a toda esta producción dada su representatividad. En el aspecto estético, su apariencia es
muy desigual, mientras en muchos recipientes predomina la sobriedad funcionalista, que
se restringe al borde exterior, otros presentan una banda decorativa en la mitad superior
del cuerpo, incluso algunos motivos lineales se prolongan casi hasta el fondo, con claro
predominio de las aplicaciones plásticas.
c. Ollas globulares, de aspecto, perfil general, formato y decoración similar a las del
grupo anterior, pero con tal cantidad de formas en bordes y labios, que llevan a considerar
una concepción adaptada a un fin muy específico o por solicitud particular del cliente.

Fig. 7 - Formas de prod. “Vigo”.

272
De los elementos morfológicos, sólo cabe mencionar algunas de las pocas asas
documentadas. Suelen insertarse en el borde y en el lomo, por lo que dada la ausencia de
cuello sumada a la pronunciada abertura de sus cuerpos masivos, tienen escasa longitud.
En las secciones siempre aplanadas, resaltan las protuberancias de las nervaduras que
recorren el dorso, o los perfiles circulares o semicirculares en las asas polilobuladas.
Además de los predominantes recipientes de los grupos anteriores, como los más
representativos de la alfarería “Vigo”, sus productos están presentes en otros tipos o grupos
morfológicos de menor difusión. Entre otros, los grandes recipientes de borde aplanado
–los “aristados” de Rey Castiñeira- sustitutos locales de los dolios6, y ciertas tapaderas,
en especial un tipo concreto, con asas exteriores verticales y en cinta, donde todos los
ejemplares identificados pertenecen exclusivamente a esta producción7.
Dejando aparte la sobriedad el primer grupo morfológico -A-, el principal rasgo a
destacar en lo que a decoración atañe, es su particular gusto y sensibilidad, que
caracteriza a esta producción tanto o más que fábrica y morfología. Aunque no faltan
motivos incisos o impresos en las composiciones, son los elementos aplicados -cordones
diversos, perlitas y botones- los preferidos, pero además tratados y dispuestos con
acentuada plasticidad y movilidad -arcos o guirnaldas, cordones curvados o lineales pero
no exactamente rectos- muy distinta de la rigidez de trazo y la angulosidad presentes en
otras producciones.
A modo de conclusión, parece adecuado tratar de explicar y dar significado a la
presencia de estas dos producciones destacadas, aunque tan sólo pueda hacerse de un
modo somero. Lo primero sería destacar su representación cuantitativamente mayoritaria,
que no siendo absoluta, apunta a una amplia aceptación de sus productos, sea por
su idoneidad morfológica o estética para el uso habitual al que se destinan, o por las
facilidades de adquisición; por ello, la proximidad entre centros de producción y lugares
de consumo - y las fáciles comunicaciones- es determinante. La misma materia prima,
pero sobre todo unas tradiciones alfareras arraigadas, distinguen los alfares que trabajan

6
Mientras las mayores ollas de los grupos destacados, presentan diáms. de boca entre 25-30 cms,
excepcionalmente hasta 40, en estos contenedores de almacenamiento superan los 50.
7
Estas tapas, con dicho tipo de asas, hasta ahora, no figuran en el repertorio morfológico de la cerámica
indígena protohistórica. Con todo no es esta la ocasión para detenerse en su particularidad, ya que ello llevaría
aparejado comentar interesantes aspectos funcionales derivados de ciertos elementos metálicos complementarios.

273
según unas u otras, y aunque aún ni siquiera puede determinarse si todos los talleres se
concentran en torno a un centro especializado, o producen separadamente en un área más
extensa, pero asumiendo conjuntamente oferta y demanda, o si simplemente pequeños
alfareros siguiendo las técnicas y gustos de su zona, se dirigen a los mercados con sus
productos. De una manera u otra son talleres productores en una o más zonas de la franja
costera de las Rías Baixas.
El encuadre crono-temporal, se presenta más problemático que el geográfico.
La producción “Cíes” parece comenzar en fases medio-tempranas de la Cultura
Castrexa, las referencias de otros yacimientos se ven confirmadas en A Cidá donde están
presentes ejemplares con rasgos característicos (bordes engrosados, labios escalonados,
engobe blanco, espatulados verticales,..). Por el contrario, los productos Vigo, cuya
ausencia es absoluta en éste último castro, hacen su aparición, o su difusión se generaliza,
ya en momentos avanzados o tardíos de aquella cultura. Así se deduce por su notable
presencia en contextos coetáneos de otros yacimientos en toda esta área costera.
Completan el registro cerámico de ambos yacimientos otras muchas formas y tipos
con variada representación cuantitativa, en el caso de Montealegre. Desde los abundantes
tipos de “borde aristado” -horizontal u oblicuo-, pasando por aquellos con menor presencia,
como los primitivos vasos “Neixón (o Torroso) I”, los cuencos/tapas de asas exteriores
horizontales, las jarras “Toralla” y las diversas tacitas ansadas, hasta algunas bastante
escasas o incluso singulares, como los tipos “Forca”, las cazuelas de asas interiores, los
variados recipientes de acabado negro brillante con decoración bruñida8, o los pequeños
envases que se tratan a continuación, entre otros9. De todas estas piezas, en el castro da
Cidá, únicamente los del tipo “Neixón I” están representados, junto con otras formas algo
más evolucionadas, con perfiles de curvas más pronunciadas y bordes exvasados simples
con labios redondeados, ollas esferoidales con borde recto vertical, o de lomo escalonados
por suaves acanaladuras modeladas –secciones de línea ondulada al exterior10-.

8
Desde ollas de tamaño medio, con pie realzado troncocónico, a pequeñas jarritas o vasos ansados,
adaptados para los nuevos hábitos de mesa, verdaderos vasa potoria, pero dentro aún de la tradición alfarera
indígena.
9
Gran parte de estos tipos o grupos formales, presentan fábricas, acabados y estéticas diferenciales, que
parecen indicar otras producciones alfareras específicas.
10
Todos estas formas arcaizantes, también se documentan en MA, pero en muy escaso número, en
oquedades o al fondo de rellenos y derrumbes, con carácter residual.

274
II.-PRODUCCIONES MINORITARIAS

Al acometer el estudio general de estas cerámicas, se diferenciaron una serie de


apartados para estructurar y manejar el gran volumen de material. Uno de ellos incluía
todos aquellos ejemplares de pequeño tamaño, finas paredes (espesor desde 2-3 mm
hasta 4-5 en las partes más gruesas), pastas depuradas y acabados muy cuidados. Con
cocciones reductoras, suelen presentar tonos grisáceos, llegando hasta el negro, que
predomina sobre todo en su apariencia superficial. El mimo de su elaboración, acentuado
por la concisión, la precisión de sus perfiles y el detalle y delicadeza de su limitada parte
decorativa, los hace destacar como una especie de objetos preciosos. Todo en ellos,
fábrica, morfología y decoración, incluso su escasa, o mínima, presencia, los hace ajenos
al contexto alfarero, no ya al de los dos castros excavados, si no a los de toda esta zona.

Fig. 8 - Grupos morfológicos de algunas producciones minoritarias: A) Formas con carena; y B) Formas con
decoración “especial”.

En cuanto a la morfología se refiere, estos pequeños envases, de cuerpo globular, el


rasgo más destacable es su cuello cilíndrico y alto, con una marcada arista para separarlo
el hombro, y que se prolonga hasta el mismo borde, sin indicios de ningún labio. También,
el reducido formato, con diámetros máximos por debajo de los 15 cms y menos de 11-12
de altura, contribuye a su identificación. Otros detalles morfológicos, apoyados por fábrica y
estilos decorativos muy alejados, conllevan a distinguir, por lo menos, dos grupos:
a. Vasos carenados. Este detalle morfológico del perfil, la carena, que delimita y resalta
la parte del lomo/hombro, del resto del cuerpo, organizando en sus márgenes la simple y
sobria composición decorativa. Esta zona superior, delimitada por la acusada arista que
genera el arranque del cuello, está surcada por líneas horizontales incisas paralelas, y
conforman dos estrechas bandas rellenas de trazos oblicuos impresos -¿ruedecillla?-,
enmarcando la carena.

275
b. Vasos con decoración especial. A falta de mejor denominación, sirva ésta para aludir
a aquellas otras piezas que apenas ofrecen detalles morfológicos que se aparten del ya
descrito aspecto global; tan solo cabe aludir a un mínimo cambio del perfil, consecuencia
de un leve cambio en las proporciones del borde/cuello (reducen su diámetro de boca -7
a 8/9 cms- y ganan altura -3’2 a 3’5 cms-).
La decoración, como es habitual, ocupa la mitad superior de sus cuerpos globulares,
pero con bastante frecuencia queda limitada en una estrecha banda sobre el lomo.
La composición, estructura y motivos empleados, requieren una atención y, sobre
todo, un espacio que aquí no está disponible. En todo caso, lo “especial” de la decoración
(término que titula a este grupo de formas), no proviene de estos puntos omitidos, si no de
las técnicas escogidas y la manera en que se aplican. Sirvan para ejemplarizar lo dicho, las
dos piezas presentadas:
Una, con decoración plástica, con espinas modeladas a pellizcos, o más probable,
gotitas de barbotina. La otra, con triángulos incisos invertidos rematados por grupos
de estampillas circulares a modo de medallones. En esta segunda pieza, lo realmente
destacable es el relleno de los triángulos, a base de curvas concéntricas opuestas que
se encuentran en el vértice central, que a primera vista parecen realizadas a peine. No
obstante, una observación macroscópica revela que se trata de líneas cordadas impresas,
elaboradas con un método difícil de deducir, considerando además la precisión geométrica
de los trazos11.
Estos recipientes, con una representación mínima, y únicamente en MA, también
parecen ausentes en otros asentamientos similares de los alrededores; tal vez algunos
fragmentos aislados pequeños e insuficientes para una identificación segura en la mayoría
de los casos12.
Todos estos pequeños vasos, no aparecen en los registros en cantidad relevante,
hasta los yacimientos del Valle Medio del Miño, y más concretamente en su margen norte,
Cameixa, Coto de Mosteiro y S.Cibrán das Lás. En algunos castros de la vertiente sur13,

11
Estas composiciones, identificadas en el Castro de Coto de Mosterio, fueron clasificadas como “estilo de
abanicos” por Orero Grandal, director de la intervención arqueológica.
12
Así y todo, la identificación de ciertos ejemplares parece confirmada: “carenadas” en Toralla, Pedramoura
y Troña (por confirmar en Vigo, Sta. Trega –casi seguro-, y Borreiros); y decoración de “abanicos” en Troña y
quizás Fozara.
13
En Castromao, alguno en Armeá y Lebosandaus-Bande, y nada en S. Millán o S. Tomé.

276
aunque se detecta su presencia, -sobre todo los decorados con estilo de “abanicos”- la
proporción es notablemente inferior.
Respecto a su encuadre cronológico, hay que señalar que solo aparecen en los escasos
niveles de más reciente ocupación, y las capas superiores de rellenos y arrastres de MA.
Y también hacia momentos avanzados o finales del mundo castrexo, apuntan las
referencias estratigráficas de los yacimientos de su supuesta zona de origen14.
Una última reflexión, sobre estas pequeñas y cuidadas piezas, la suscita su
funcionalidad. La gran consideración o aprecio que se les concedió, queda reflejada por
su misma demanda, que implica un transporte específico en pequeñas cantidades desde
una zona distante. Probablemente, siguiendo la gran vía fluvial del Miño, desde donde llega
a las cuencas tributarias septentrionales del valle bajo, para alcanzar la desembocadura,
y acabar llegando a las costas de la ría más próxima –Vigo-. Este interés específico no
parece justificado por un uso funcional cotidiano, que por descarte, soló podría destinarse
al consumo de bebidas15; pero según se pudo observar existen varios morfotipos más
adecuados y abundantes, tanto indígenas, como de vajillas importadas. El manejo delicado
que requiere su fragilidad, su mismo aspecto y suministro, lleva a valorar un probable
destino de carácter ceremonial o ritual.

III. LAS IMPORTACIONES COMO REFERENCIA CRONOLÓGICA

Las cerámicas importadas, ya sean contenedores de mercancías voluminosas o


las vajillas como recipientes de prestigio y complemento indispensable de los nuevos
hábitos sociales, permiten aproximar unas dataciones relativas. Sobre todo, cuando faltan
dataciones absolutas y las referencias estratigráficas son poco o nada resolutivas como es el
caso de MA.
Como se apuntó anteriormente, en CC, las analíticas de C-14 y una estratigrafía clara,
confirman un breve periodo de ocupación, centrado en los s. VI y V aC. Pero a pesar de

14
Como ejemplo seguro cabe citar el poblado minero romano de Barbantes, inmediato al castro de San
Cibrán das Lás.
15
Vasos y tazas con asa, a algunos ya aludimos como verdaderos vasa potoria.

277
su localización geográfica, en una de las rías de mayor y más temprano tráfico marítimo
para los navegantes del Estrecho y sus mercancías, el vacío de cerámicas foráneas puede
calificarse de absoluto.
Las importaciones más antiguas en MA tienen muy escasa representación, reflejo de
contactos esporádicos con cargamentos de escaso volumen. Corresponden a ánforas de
tipo púnico, T-8.2.2.1 “pre-bárcidas”, características de los talleres gadiritas que comienzan
a producirlas a princ. del s. IV aC., para después evolucionar rápidamente desde el último
tercio del III. Estos contenedores pudieron acompañarse de otros productos de la misma
procedencia, como las piezas que reproducen formas del repertorio helénico coetáneas en
los mercados (bordes de crátera –de cáliz y campana-, asas de esas y otras formas, pies
de copas y asas de codo elevado -¿kilix?-, etc.).16
Desde fin. del s.III aC. y a lo largo del siguiente llega otro tipo de ánfora, T-7.4.3.0
“antiguo”, que se acompaña de otras cerámicas indígenas de la costa mediterránea
–kalathos- o del valle del Guadalquivir –tinajas turdetanas pintadas-. Y entre finales
del II, hasta mediados del I aC., se suman productos itálicos –Dr.1A-, y piezas de tipo
campaniense, aunque con una representación meramente presencial.
En los tres o cuatro decenios antes del cambio de Era, el volumen de las importaciones
se incrementa progresivamente, para alcanzar su máximo hacia finales de la época
augustea y el reinado de Tiberio. Las ánforas béticas muestran un predominio absoluto,
primero con imitaciones de los tipos itálicos -Dr.1C-, luego las primeras formas propias –
LC67 y “ovoides”, en general- y al fin, las omnipresentes H70 –la mayoría en su variante
más clásica, correspondiente a los dos primeros emperadores julio-claudios-. También se
hace notar la representación de TSI, entre las que se cuenta alguna forma “precoz”, pero
con claro predominio de las “clásicas” y “avanzadas”.
Las importaciones parecen acusar una progresiva disminución, si bien continúan siendo
elevadas, sobre todo de ánforas H70 evolucionadas y de salazoneras del grupo Dr.7-11;
ahora acompañadas de sigillatas sudgálicas, con predominio del conjunto plato-taza Drag.18-
Drag.24/25 sobre el más tardío Drag.15/17-Drag.27. Todos los indicios tipológicos parecen
señalar al comienzo de la época Flavia, como momento final del tráfico de estas mercancías,
incluso el único sello de alfarero -Silv[anus]- localizado, no supera el reinado de Vespasiano.

16
Fragmentos de uno o dos askoi, se documentaron en campañas anteriores.

278
De todo lo expuesto, parece deducirse que el momento de mayor volumen de
importaciones se sitúa entre los últimos decenios del I aC. y los primeros del siguiente,
acorde con el panorama general del área galaica. Ello no implica que este baremo
comercial, haya de coincidir con el momento principal de ocupación; más aún cuando los
datos corresponden principalmente a una zona de acceso, remodelada en una fase tardía.
No obstante, ahí está la referencia, que por el momento supone el único marco cronológico
para el castro de Montealegre.

279
BIBLIOGRAFÍA

ABOAL FERNÁNDEZ, R., CASTRO HIERRO, V., (Coord.). 2006. O Castro de Montealegre, Moaña,
Pontevedra. Ed. Toxosoutos. Serie Keltia.
BERNAL CASASOLA, D., y RIBERA i LACOMBA, A., (eds.) 2008. Cerámicas hispanorromanas. Un estado
de la cuestión (Bernal Casasola y Ribera i Lacomba, eds.), XXVI Congreso Internacional de la Asoc. Rei
Cretariae Romanae Fautores, Univ. Cádiz.
LÓPEZ CUEVILLAS, F., y LORENZO FERNÁNDEZ, X., 1986. Castro de Cameixa. Campañas 1944-46.
Arqueoloxía / Memorias, Servicio de Arqueoloxía, Xunta de Galicia.
LOSADA DIÉGUEZ, A., 1927. Excavaciones en Montealegre (Domayo). Provincia de Pontevedra. Memoria
de los trabajos realizados y descubrimientos. Junta Superior de Excavaciones y Antiguedades, nº8. Madrid.
-1943. Objetos procedentes de las excavaciones de Montealegre (Domayo). El Museo de Pontevedra, nº II.
Pontevedra. (pp. 101-103). Rasgos principales y destacables del material cerámico.
ORERO GRANDAL, L., 1988. Castro Coto do Mosteiro. Campañas 1984/85. Arqueoloxía/Memorias 10,
Servicio de Arqueoloxía, Xunta de Galicia.
REY CASTIÑEIRA, J., 1990-91. Cerámica indígena de los castros costeros de la Galicia Occidental: Rias
Baixas. Valoración contexto general de la Cultura Castreña. Castrelos, 3-4. Vigo. 141-153.
REY CASTIÑEIRA, J., 1991. Yacimientos castreños de la vertiente Atlántica. Análisis de la cerámica
indígena. Tesis Doctoral microfilmada nº 185. Univ. de Santiago.

280
TERESA
SOEIRO
SANTO ESTÊVÃO DA FACHA: A (A)VENTURA DE APRENDER
EM COMUM

TERESA SOEIRO
U. Porto/Faculdade de Letras - CITCEM

RESUMO
Revisitação do importante espólio cerâmico recolhido em contexto durante as
escavações de 1978-80 no Castro da Facha e sublinhado da relevância daqueles
trabalhos tanto para o estudo diacrónico da cerâmica (e da cultura) castreja, como no
despertar dos investigadores para os testemunhos de interacção e presença de artefactos
do Mediterrâneo e Sul da Península no Noroeste.

PALAVRAS-CHAVE
Castro da Facha; cerâmica castreja; cerâmicas de importação meridionais; trocas
comerciais.

ABSTRACT
Revisitation of the prominent ceramic remains collected in context during the 1978-80
excavations at the Facha hill-fort (“castro”), highlighting the significance of those works
both for the diachronic study of the castreja ceramics (and culture) and for arousing the
researchers interest in the evidence of interaction and the existence of artifacts from the
Mediterranean area and the South of the Peninsula in the Northwest.

KEYWORDS
Facha hill-fort (“castro”); castreja ceramics; imported meridional ceramics; trade.

285
O Castro de Santo Estêvão da Facha (Almeida et al., 1980), na freguesia deste nome,
concelho de Ponte de Lima, está situado num pequeno alvéolo da margem Sul do rio
Lima, onde ocupa um outeiro (142m) sobranceiro à fértil veiga, com amplos horizontes e
bom acesso àquele importante eixo de ligação Atlântico/interior, distando da costa cerca
de 20km. Além das condições propícias à exploração agro-pecuária e silvícola, em cotas
e segundo sistemas diferenciados, existem nas imediações da Facha jazidas de ouro
e estanho, efectivamente exploradas no século XX, mas que recuarão pelo menos à
época romana, e certamente a tempos anteriores, como parecem denunciar fragmentos
de cadinho recolhidos em escavação e um exemplar completo publicado posteriormente
(Almeida, 1996:117).
O sítio arqueológico encontra-se visivelmente afectado devido à construção de um
templo dedicado a Santo Estêvão, reformulado na época Moderna, capela hoje conhecida
pela celebração da festa da Senhora da Rocha. Em seu redor foram-se agregando
equipamentos para o culto e o usufruto do lugar, como a torre dos sinos, a escadaria
de acesso, o coreto, o miradouro voltado ao vale do Lima e uma área de lazer, os quais
alteraram irremediavelmente todo o topo do monte.
Conhecido há décadas o seu interesse arqueológico, devido a achados esporádicos
de materiais cerâmicos na encosta, o Castro de Santo Estêvão da Facha viu a evidência
desta potencialidade reforçada na década de setenta do século XX, em consequência da
obra de electrificação da capela e trabalhos subsequentes, que deixaram a descoberto
uma construção circular castreja e importante espólio, ocorrência que chegou ao
conhecimento de C. Brochado de Almeida. Analisado sumariamente na FLUP, a
ampla diacronia que este material patenteava, de cerca de dois milénios, tornou-se
particularmente promissora e motivou, quase de imediato, uma intervenção arqueológica
planeada, cuja direcção foi atribuída a Carlos Alberto Ferreira de Almeida, então o mais
profundo conhecedor da arqueologia do Norte de Portugal, particularmente interessado
tanto em fazer avançar a investigação sobre castrejo, como em expandir a da arqueologia
medieval, que começa a leccionar em 1978-79, quando a disciplina foi inscrita pela
primeira vez como obrigatória na formação graduada em arqueologia.
Este projecto, iniciado em 1978, duraria até 1980, sendo prontamente (início de 1981)
publicados os surpreendentes resultados, pioneiros para a interpretação da Cultura

286
Castreja. De facto, o inovador conhecimento adquirido na escavação, que contou com
uma equipa de arqueólogos do Norte de Portugal e da Galiza e atraiu outros como
visitantes/participantes1, disseminou-se rapidamente, teve ampla repercussão e efeito
multiplicador, fez com que deixasse de parecer estranho surgirem em contextos castrejos
cerâmicas áticas, materiais “fenícios” e púnicos, vasos carenados, etc.2. De seguida, no
Noroeste, notícias de achados similares foram-se adicionando e complexificando3.
O espólio de Santo Estêvão da Facha, tutelado pela Câmara Municipal de Ponte de
Lima, está, esperemos que temporariamente, fora da vista do público. Agradecemos, por
isso, a possibilidade de o trazer à mostra que acompanhou o workshop sobre Cerâmica
Castreja no CCIT, para o expor e discutir com investigadores de diferentes gerações4.
A área intervencionada durante a escavação de 1978-80, com cerca de 180m2
efectivos, situa-se na vertente NW do monte, a que aparentava melhores condições de
preservação e ficava contígua ao local dos achados precedentes. Apesar de limitada,
revelou uma grande densidade de ocupações sobrepostas, o que favoreceu a almejada
leitura diacrónica, com uma amplitude que vai da transição Bronze Final/Idade do Ferro
à Idade Média, sendo particularmente relevante para a problematização dos horizontes
prístinos da Cultura Castreja. O relatório está publicado, resumiremos aqui algumas
das suas linhas fundamentais, cruzando estratigrafia, estruturas e materiais cerâmicos,
releitura para os fazer voltar à discussão5.

1
J. Sánchez Palencia recordou neste congresso como, após a presença na escavação, ficou encarregado de
levar as amostras de carvões e sementes para datação no CSIC.
2
Ouvíramos antes Carlos Alberto F. Almeida falar de eventuais fragmentos de cerâmica ática no acervo do
Castelo de Faria, de que deu conta a P. Rouillard, como este faz constar em nota ao seu trabalho publicado em
1975. Quando, com Brochado de Almeida, lhe mostrámos os vasos carenados recolhidos em Roriz (Barcelos),
depois apresentados no I Seminário, de 1979, disse-nos que também tinha um pequeno fragmento, apanhado à
superfície em Alvarelhos, que por ser único e descontextualizado não inserira no seu estudo Cerâmica Castreja
(1974). No inventário de sítios com cerâmica «Alpiarça» apresentado em 1973 por Marques & Andrade, o
ponto mais a Norte é o Castro da Senhora da Guia de Baiões, e porque havia sido apresentado naquele
mesmo congresso. Até aí chegara a arqueologia anterior a Abril de 74, a escavação da Facha enquadra-se
na avassaladora onda de investimento social e voluntarista em património que se lhe seguiu, coincidente com
novas metodologias e agentes.
3
Assim como se multiplicaram os materiais em contexto e a produção bibliográfica, tornando-se premente
a necessidade de rever os acervos depositados em museus, acção recentemente contemplada pelo projecto
«La ruta de las Estrímnides. Comércio mediterráneo e interculturalidad en el Noroeste de Iberia», dirigido por
Eduardo Ferrer Albelda (USC e U. Sevilla, 2016-2018).
4
Não conseguimos, porém, que também figurasse no seminário Fenícios & Púnicos, cujas sessões
decorreram um mês depois, na FLUP, onde poderia ter sido comparado com achados recentes do Norte
de Portugal e observado por especialistas de universidades do Sul da Península, o que certamente, por
reconhecimento ou exclusão, representaria um avanço no seu estudo.

287
Ultrapassamos os contextos medievais, que não são aqui pertinentes, mas devemos
lembrar que o corte abrupto da encosta, para formar um talude pronunciado, pode ser
desta época. Tal transformação da topografia, sensivelmente à cota 132,5m, fez com que
perdêssemos a relação com uma possível muralha ou muro estruturante para armação
do terreno, que sustentasse a plataforma horizontalizada onde estão as construções
castrejas.
Na mais recente destas ocupações (Facha-Castrejo IA), estas construções são todas
circulares, algumas com vestíbulo, tendo piso de saibro e parede em granito com a face
externa picada, por vezes parcialmente reforçada por uma couraça pétrea. Sem que na
parca área escavada se perceba qualquer ordenação em função de ruas, os edifícios
formam recantos, o mais bem preservado com chão lajeado, que leva a um espaço com
lareira, pia cavada no penedo e um pequeno forno. Algumas destas construções podem
ser reutilizações transformadas de casas erguidas em IB.
A tais estruturas corresponde um espólio cerâmico pelo menos do último terço do século
I d.C., com sigillata hispânica, bracarenses, cerâmicas pintadas afins e outras cerâmicas
comuns romanas, como anforetas e vasos fechados com aguada laranja no exterior, jarros,
panelas de lume, pratos de lume e com engobe, dólios, etc. Serão também em cerâmica
(tégula e ímbrex) algumas coberturas. Importa salientar que não vislumbramos, nesta área
restrita, que à novidade patenteada pelos artefactos equivalha a alteração da organização
do espaço do povoado e dos modos de construir e habitar (excepto o uso de telha), como
conhecemos em certas áreas dos grandes castros, pese embora também no interior destes
haja dinâmicas díspares (p.e. Castro de Monte Mozinho). O grafito alfabético num bojo
marca a posse por alguém que tem conhecimento da escrita.
O Castrejo IB (I a.C. - meados do I d.C.) tem de diferente um muro largo e recto, paralelo ao
declive, havendo ainda mais casas circulares com vestíbulo, de paramentos pétreos de face
picada, por vezes com reforço exterior, como em IA. Porém, uma destas construções apresenta,
à semelhança das mais antigas, ampla camada de saibro no exterior, que também preenche a
vala do alicerce, à cota do piso interno. Não recolhemos vestígios de telha.

5
Desta escavação foram também enviadas para Espanha, de imediato, sem que saibamos o destinatário
ou os resultados do estudo, 24 amostras com carvões (uma de tábua) e frutos e sementes isolados (entre eles
landes, trigos, painço (?) e favas), bem como sacos contendo terra onde estes e outros materiais estavam
presentes, e uma como pequena quantidade de ossos e fragmentos de cadinho com sinais de metalização.

288
Uma trintena de fragmentos de ânforas (Haltern 70, béticas costeiras e lusitanas),
cinco copos/púcaros em cerâmica cinzenta fina polida e cerâmica castreja feita a torno
caracterizam este horizonte, sendo que a produção castreja se distribui pelas habituais
formas especializadas, havendo variantes no fabrico e perfil: grandes dólios em pasta
arenosa micácea, de fundo reforçado, parede com toros aplicados e bordo inclinado
para o exterior, num caso com marca feita antes da cozedura, muito semelhante às de
Briteiros, Sanfins ou Padrão; tachos de asas interiores para colocar sobre o fogo, em
pastas micáceas, com a parede externa rugosa, preparada para resistir ao calor, e a
interna bem alisada, reduzindo a aderência; panelas de asas em orelha, também para
estar sobre o fogo; outras panelas/potes de perfil em S, tendo na face exterior fuligem.
São menos vulgares os pratos fundos, para usar na lareira; numerosas as copas e
pequenos púcaros, com asa de secção pentagonal ou rectangular, em pasta mais
apurada e com acabamento bem alisado ou polido, sem fuligem, por vezes decorados nos
ombros, com composições de faixas definidas por caneluras e preenchidas de incisões
oblíquas, em espinha e formando triângulos ou reticulado, ou de círculos concêntricos,
SS e escudetes estampados com matriz elaborada; tigela de parede arqueada, superfície
polida; dois testos; cossoiros modelados e recortados em fragmentos, bem como jogas.
Conjugada a topografia de base do terreno com a opção de preservar as estruturas
pétreas reconhecidas, verificou-se alguma dificuldade em continuar a aprofundar a
escavação, já que as duas fiadas de quadrículas em cota superior ficaram esgotadas, por
termos baixado até ao penedo, ou bloqueadas pelo imbricado de paredes medievais e de
I A e I B. Onde foi possível, fizeram-se sondagens em secções dos pisos destas casas.
A partir daqui, foram especialmente produtivas as quadrículas da terceira e quarta linhas,
com maior potência estratigráfica, protegida pelos extensos e espessos pisos de saibro do
interior e exterior das casas de II, que passamos a sumariar.
O Castrejo II preencherá (parte d)o séc. III e o II a.C., uma vez que imediatamente por
baixo foram recolhidos os fragmentos de cerâmica ática. Apenas em pontos excepcionais
se acumularam depósitos, a maior parte do espólio encontrava-se sobre os bons pisos
das grandes (±6m diâm.) casas circulares, construídas ou remodeladas neste momento,
que têm parede estreita (±30cm) e certamente baixa, interrompida para a porta, de duplo
paramento unido por argamassa de barro e saibro, aproveitando-se a clivagem da rocha

289
para a face. Os espessos pisos de saibro, com lareira central, prolongam-se para o
exterior. As coberturas seriam vegetais.
Muita cerâmica parece já feita à roda (não torno rápido) ou com outro suporte giratório,
enquanto alguns vasos de maior dimensão são de fabrico manual. Apresenta pastas
arenosas com muita mica acrescentada, que brilha nas paredes pouco espessas,
propositadamente trazida à superfície no alisamento, constituindo assim mais um
elemento decorativo. Prefere-se o perfil em S, com variadas dimensões, fundo plano
e asas de fita verticais, do bordo para os ombros, havendo também outras pequenas
asas aplicadas ao colo e pegas em moldura posicionadas nos ombros da peça. Estes
vasos fechados ostentam decorações no colo/bojo, incisas (bandas de espinhas e
triângulos sobrepostos, justapostos e alternados, preenchidos), estampadas com matrizes
complexas (círculos, SSS, escudetes) ou apenas puncionamentos, que chegam a
formar composições elaboradas. Num caso, as aplicações plásticas horizontais foram
transformadas numa sucessão de cabeças de cravo piramidais.
Os vasos de maior dimensão e parede mais robusta, feitos à mão, com bordo a tender
para o horizontal, apresentam uma ou mais aplicações plásticas de reforço no final do
colo, decoradas por incisões em espinha. Singular é a parede de um destes recipientes,
a que se acrescentou, no início dos ombros, uma larga fita aplanada da mesma pasta,
sendo que a composição decorativa de incisões fundas recobre a parede e a aplicação
plástica de uma forma integrada, ajudando à sua colagem. Os cossoiros são uns
modelados outros recortados em fragmentos cerâmicos. Em geral, na cerâmica ressalta o
cuidado na feitura, com bons acabamentos da superfície e o brilho da mica.
A diversidade formal dos vasos é pouca, mas não podemos descartar que esta situação
se fique a dever às condições de formação e preservação dos depósitos. Estávamos ainda
perante uma produção cerâmica conhecida de outros castros (p.e. Castelo de Faria), embora
sem que neles houvesse registo de contextos bem isolados à época destes trabalhos.
A escavação viria a tornar-se muito mais aliciante quando passámos aos níveis do
horizonte subsequente, Facha-Castrejo IIIA, no topo dos quais foram recolhidos 23
fragmentos de cerâmica ática de figuras vermelhas, produção de meados do IV a.C.,
pertencentes a quatro formas diferentes (crátera, pelike, kylix e, pelo menos, outra
não identificada)6, peças de excelência nesta região, ao que parece, todas partidas/

290
abandonadas em intervalo temporal pouco dilatado. O número de recipientes deu
consistência ao testemunho do contacto, mesmo que pontual e indirecto, com produtos do
Mediterrâneo. Por outro lado, tais artefactos estavam a ser pela primeira vez registados
em escavação e integrados numa série estratigráfica de diacronia longa, que ajudaram a datar7.
A cerâmica castreja de IIIA é toda manual, diferenciando-se técnica e morfologicamente
da encontrada em II. Predomina o pote/púcaro, de diferentes tamanhos, muitas vezes
com colo vertical e bordo, ou lábio espessado, horizontal. O arco descrito pelas asas
verticais reduz-se e há muitas anelares, sobre a pança.
Duas casas circulares de pedra, feitas como referido em Castrejo II, apresentam pisos
de saibro que extravasam para o espaço exterior, selando as construções e unidades
estratigráficas mais antigas. Num recanto, encostada ao penedo, área coberta, havia
uma lareira muito bem preservada, sucessivamente refeita, com superfície avermelhada
pela combustão, alisada e brilhante por causa da mica, decorada com linhas rectas
impressas usando um fio torcido e pequenos círculos simples a preencher todo o
espaço. Dos níveis de carvão sob a última superfície desta lareira (QXIII(10)) foi retirada
a amostra CSIC 499, om data 2160±20BP, que calibrada (2 sigma) será 362-88 cal. a.C.
(95%). A segunda amostra, CSIG 500, com data 2210±50BP (394-164 cal. a.C. (99%)),
aponta para um intervalo menor, entre o início do séc. IV e meados do II a.C. Provém
do nível mais recente da ocupação de uma casa pétrea (QXXVII(8)) imediatamente
anterior, IIIB8. Admitimos, pela posição estratigráfica, que: os vasos áticos foram partidos
e descartados antes da construção da grande casa de II (nº 25) e respectivos pisos;
certamente adquiridos ao tempo da habitação nas casas de IIIA (nº 26); depois da grande
transformação que condenou casas de IIIB (p. e. a nº 30). Ou seja, o horizonte IIIA
preencheria a segunda metade do séc. IV e, eventualmente, parte do III a.C.

6
Revisão em curso por Daniela Ferreira. Estiveram presentes, juntamente com um vaso castrejo de II,
decorado com círculos concêntricos dispostos em triângulo, na exposição De Ulisses a Viriato. O primeiro
milénio a.C. (De Ulisses,1996: 282 e 296).
7
Conheciam-se produtos forâneos, por exemplo do Castro do Neixón (Acuña,1976:330) e na Lanzada
(Excavaciones 1973), identificados por companheiros de jornada, mas os resultados das escavações estavam
por sistematizar e publicar (Súarez & Fariña, 1990). Surgiram, em simultâneo, produções áticas por exemplo
na Cidade de Caneiro, Castromao, Castro de Elviña e, depois, no Castro da Forca, onde também foi recolhida
cerâmica púnica (Carballo Arceo, 1987:111). Para o estado da questão no final da década de 80, veja-se
Naveiro Lopez, (1991).
8
Resultado publicado à pressa (Almeida et al 1982:79), logo corrigido em Soares & Cabral (1984: 191-194) e
posteriormente sujeito a sucessivas interpretações.

291
Abaixo desta ocupação, a Facha IIIB1 (parte do V- IV a.C.) continua a ter casas
circulares de pedra, não tão grandes (±5m diâm.) e com pisos mais finos, onde se
reconhecem as lareiras em posição central, havendo outras em recantos exteriores, para
onde se prolonga a superfície aplanada de saibro/barro compactado. Não encontrámos
cerâmica forânea, com excepção de um cossoiro que reaproveita um fragmento. Como
em níveis anteriores e posteriores, há contas vítreas, algumas oculadas. A olaria castreja
é feita à mão, as formas e o fabrico micáceo são idênticos a IIIA, nas decorações
faltam as realizadas com matrizes elaboradas. Predomina nos vasos médios/grandes
a decoração plástica de cordões aplicados, sobre os quais se fazem incisões, e nos
demais os padrões geométricos de linhas incisas sobre a parede e puncionamentos,
por vezes combinados com aquelas. Fabricavam os vasos de asa interior, com parede
de pouca espessura, recta, semelhantes (p.e.) aos do Castelo de Faria ou de S. Julião
(Martins,1990:143). Assinala-se a presença, escassa, de taças carenadas, de pasta mais
apurada e com as superfícies polidas, próprias do horizonte mais antigo.
Continuando a aprofundar, a área disponível tornou-se mínima e descontínua
porque, como explicado, todas as paredes permaneceram. Designámos estes níveis por
Castrejo IIIB2, são camadas de habitação onde existem pisos, lareiras e depósitos com
detritos, mas não reconhecemos qualquer estrutura que as abrigasse, pétrea ou não,
permanecendo a dúvida, como salientado na publicação (p. 65), quanto a estas, uma vez
que existe um apontamento de muro no fundo da casa 31.
A cerâmica apresenta as características que vemos em toda a olaria castreja antiga
da Facha, sendo indissociável das produções recolhidas em IIIB1 e IIIA. É manual, usa
pastas arenosas e bastante micáceas e na superfície alisada dos vasos de maiores
dimensões, com cozedura que deixa tons do castanho ao avermelhado, brilham partículas
de mica com vários milímetros. As formas parecem pouco especializadas, basicamente
potes e púcaros de diversos tamanhos, com fundo plano, por vezes levemente reforçado/
expandido, paredes pouco espessas, colos sobre o vertical, bordos esvasados com
tendência a horizontais e asas verticais, a partir do bordo, ou de curva fechada, aplicadas
nos ombros, de secção sub-rectangular, moldurada (até quadrilobadas) ou pentagonal.
Em muitos vasos médios, a parede remata apenas no lábio, boleado, de onde arrancam
asas de fita, simples ou molduradas, com curvatura bastante fechada; em outros, ao colo

292
segue-se uma pequena aba perpendicular ou oblíqua, com a transição bem marcada.
Existiam já vasos de asas interiores, sendo estas de secção circular e muito reduzida
abertura. Por invulgar, chamamos a atenção para um fundo castrejo com pé alto aplicado,
de pasta micácea, alisada, de tom castanho, que lembra modelos de urnas de outras
áreas da Península e da Europa além Pirinéus.
As decorações abundam nestas vasilhas, em todos os tamanhos. Os toros plásticos,
rematados em cordão e espinha depois de aplicados, surgem em grandes vasos, no
ângulo colo/pança. Exemplares de idêntica dimensão receberam sobre os ombros
decoração profundamente incisa, formando faixas de reticulado; outros de médio porte,
superfícies acastanhadas alisadas e sem fuligem, mostram triângulos preenchidos
justapostos e alternados ou composições mais elaboradas, usando simultaneamente
reticulado, triângulos e rombos preenchidos. Sem perfis completos, não conseguimos
leituras para a composição das decorações.
Concentra-se em IIIB2 a ocorrência minoritária de um tipo de vasilhas com fabrico
certamente regional, em extinção, distinto da cerâmica castreja. São as taças carenadas,
abertas ou altas, de pastas relativamente finas e homogéneas, escassa mica, que
praticamente não se vê nas superfícies bem polidas de tom castanho ou escuro. Um
destes exemplares apresenta asa mamilar perfurada sobre a carena. Seguem tradição do
Bronze Final, como também o é aquela em se enquadra um vaso fechado (LOPES, 1993:
127), púcaro de pasta arenosa com grãos brancos visíveis na observação macroscópica,
cozedura homogénea, superfície cinzenta bem alisada e com decoração grafitada antes
da cozedura, padrão que vai do exterior do lábio às linhas horizontais paralelas na parte
inferior da pança, composto por triângulos opostos unidos pelo vértice e preenchidos com
linhas verticais, cerâmica tipificada no grupo Baiões/Santa Luzia (Kalb, 1978:115, Abb 2
nº 9-10; Lopes, 1993: 165,182), recorrente em sítios arqueológicos do Bronze Final no
Norte e Centro de Portugal.
Alheias ao Noroeste parecem duas outras produções não muito afastadas das boas
peças carenadas. Um grupo de vasos (13 frags) apresenta pasta arenosa homogénea e
bem cozida, superfície interior castanho-clara e a exterior bem espatulada e vermelha.
Em outro pequeníssimo fragmento, com superfície exterior castanha, bem polida, vê-se
um traço de pintura azul-escuro.

293
Ainda mais difícil tem sido vislumbrar (e receber sugestões9) paralelos para um vaso
pintado, forma fechada feita à roda, em pasta arenosa fina e homogénea, com diminutas
partículas de mica, superfície interna acinzentada e áspera e face externa coberta por
pintura, em que o tom alaranjado das linhas contrasta com o negro. A composição cobre
todo o bojo, iniciada pela linha que assinala o ângulo colo/bojo, seguida por motivo
geométrico com métopa (?) e triângulos preenchidos por reticulado de linhas paralelas
aos lados, formando losangos, para terminar numa banda horizontal de losangos
resultantes de linhas oblíquas cruzadas em campo definido por duas horizontais.
Do Sul chegaram à Facha, certamente em conjunto e trazidos no âmbito do comércio
marítimo, vasos feitos à roda, de cozedura oxidante. Temos um bordo, com cerca de 20cm
de diâmetro, em pasta laranja fina, recoberto por engobe vermelho-ocre, muito aderente.
Apesar da pouca dimensão e, sobretudo, da falta da parede, deixamos a hipótese de ser
o bordo de uma ânfora R1 (ARRUDA, 2005a). Pela tipologia e valorizando a proximidade
geográfica, bem como a cronologia proposta, poderá tratar-se de uma vasilha com origem
na área do «centro-atlântico», tipo 1C ou tipo 3 do Tejo, produzidos no séc. VI e por todo
o V, com variante engobada (Olaio, 2018). Apresentam também revestidos de engobe os
exemplares tardios da T.10.1.2.1 da Alcáçova de Santarém (Bargão, 2013:750), algo mais
antigos. Com datação bem posterior à da Facha, já foi equacionada (Sousa & Pimenta,
2014:313) a possibilidade das ânforas do Castro de Montalegre (Gonzélez Ruibal & al.,
2007) provirem do estuário do Tejo.
O caminho rumo a Norte poderia ser fruto, segundo Almagro-Gorbea e Torres Ortiz,
mais do que da efectiva presença de fenícios ocidentais (Arruda, 2005b; 2005c), de uma
colonização externa tartéssica na costa atlântica, a qual originaria o estabelecimento de
feitorias na área do Tejo e Sado no séc. VII a.C. e, a partir daí, de «factorías secundarias
hasta la desembocadura del Duero y, probablemente, hasta Galicia, con el fin de controlar
las rutas comerciales del estaño y el oro» (Almagro-Gorbea & Torres, 2009:121). Esta rota
teve, no segundo quartel do I milénio a.C., um importante ponto de apoio no Mondego

9
Como referido na publicação (p.75), foi na ocasião consultado M. Almagro Gorbea, que não identificou o
achado com quaisquer materiais da Meseta ou Estremadura e Sul da Península, onde cerâmicas pintadas são
recorrentes desde o Bronze Final. Também não se assemelha com materiais, poucos, de outros «castros»,
que entretanto têm sido publicados. Esta era uma questão em aberto no final do milénio, com cada vez mais
ocorrências não demasiado distantes e de cronologias afins (Álvarez-Sanchis, 1999:81).

294
- Santa Olaia, que decresce de relevância apenas no final do séc. V ou início do IV a.C.
(Pereira, 1993 e 1996:63; Torres, 2005:201). Ali próximo, o Crasto de Tavarede forneceu,
entre variado espólio, ânforas deste último período (De Ulisses,1996: 207). Já Conimbriga
tem materiais orientalizantes anteriores (Correia, 1993: 256-257). Próximo do Douro,
ânforas semelhantes foram recolhidas em níveis antigos do Castro de Romariz e das
escavações na Sé do Porto (Pereira, 2011:113).
Também devem pertencer a grandes contentores dois fragmentos de parede de vaso
fechado em pasta alaranjada, mostrando no exterior faixas de espesso engobe vermelho-
ocre. Outros cinco fragmentos, como apontou Gabriel Pereira (2011), são de taça em
calote esférica, de bordo levemente espessado, em pasta arenosa laranja, com as
paredes cobertas por espesso engobe vermelho-ocre, da forma C4b de Huelva (Rufete,
1989:379), estabelecida por Rufete Tomico, que nos diz «no son usuales en el repertorio
de los yacimientos fenicios... en cambio, se encuentran en los poblados autóctonos»
(1988-1989:29). Datada, na variante b, a partir da primeira metade do séc. VI a.C., está
representada parcamente em Almaraz e mais significativamente, por exemplo, em Castro
Marim (Freitas, 2005:913 e 917). Um prato de idêntico fabrico pertencerá à forma P3b?
(Rufete, 1989: 378), difícil de definir pois apenas se recolheu o fundo côncavo. Estes tipos
e formas, segundo a autora, surgem em contextos da segunda metade do século VII e no
VI a.C. Recipientes de mesa com engobe vermelho acompanham frequentemente tanto
as ânforas oriundas da área do estreito, como as produzidas no estuário do Tejo, sirvam
de exemplo os conhecidos acervos de Lisboa (Sousa, 2014) e, na outra banda, da Quinta
do Almaraz (Olaio, 2018).
Deixamos, pois, em aberto a possibilidade de gente da terra que se fixou na Facha, um
castro do vale do Lima a uma vintena de quilómetros da desembocadura no Atlântico, ter
entrado, ainda no séc. VI ou início do V a.C.10, em contacto com comerciantes vindos do Sul,
que com eles traziam produtos exóticos em contentores anfóricos, vistosas louças vermelhas,
contas coloridas em vidro e talvez outros artefactos novos e diferenciadores que não se
perderam aqui (p. e. jóias áureas). Esta situação parece esporádica à luz das informações
colhidas na pequena área escavada, mas muito falta para conhecer neste povoado.

Em 1980, quando o estudo da presença fenícia na costa ocidental atlântica era ainda muito limitado,
10

propusemos para este horizonte, atendendo à estratigrafia e aos diferentes artefactos recolhidos em conjunto,
uma datação no séc. VI ou mesmo no VII a.C. (Almeida et al. 1980:89).

295
Décadas volvidas e em outro contexto histórico, os contactos podem ter-se repetido,
por forma a que uma posterior geração de habitantes da Facha pudesse adquirir os
exemplares de cerâmicas áticas, tão exóticas quanto as anteriores, mas tratando-se agora
de uma situação menos incomum, dado o número de ocorrências similares11.
Que tinham os habitantes da Facha para dar em troca e motivar os empreendedores da
viagem? Duvidamos, ainda que a envolvente próxima permita repetir o móbil consabido
- acesso a metais (ouro e estanho). Qual o impacto imediato e directo da presença dos
artefactos cerâmicos exóticos mais antigos na produção local? Atendendo ao espólio
recolhido, aparentemente nenhum, o que não significa ignorar outros significados sociais
e transferências (Correia, 2005).
Focando a nossa atenção nas cerâmicas regionais, diríamos que o primeiro
horizonte de ocupação da área escavada na Facha (repetimos, não necessariamente
de todo o castro) se pode colocar em paralelo com o apontado por Manuela Martins
(1990:125ss,142ss) e Ana Bettencourt (1999: 1024,1029ss,1158ss) para o tão próximo
vale do Cávado -S. Julião Id, com datação proposta dos séc. VII-VI a.C. ou VI-V a.C.12,
respectivamente, coincidente com o enunciado de 1980, que sairá reforçado se a
identificação dos produtos mediterrânicos e do Sul peninsular for confirmada.
Os materiais cerâmicos recolhidos em IIIB2 enquadram-se no momento de transição
entre o final do Bronze Final e a Idade do Ferro/Cultura Castreja, estando o primeiro
significativamente representado pelos vasos carenados polidos e os que ostentam
decoração aparentada ao grupo Baiões/Santa Luzia, produtos elaborados segundo
padrões que vinham de trás, claramente distintos do patenteado pela larga maioria do
vasilhame em circulação, expressão do novo gosto e das maneiras de fazer e usar que
conferiram identidade à cerâmica castreja meridional desde o dealbar do seu longo
percurso, representado na excepcional sequência de Santo Estêvão da Facha.

11
Como também se tornam cada vez mais diferenciadas, numerosas e disseminadas as evidências púnicas,
para que já tinham chamado a atenção, entre outros, Armando Coelho Ferreira da Silva (SILVA, 1986) e, duas
décadas depois, González Ruibal (2006-2007), nas respectivas teses de doutoramento. Esta problemática
encontra-se em intensa revisão, como ficou indicado na nota 3.
12
Revisto para «entre os séculos VII e os finais do V/inícios do IV a.C.» (BETTENCOUT, 2005:31).

296
297
REFERÊNCIAS

ACUÑA CASTROVIEJO, F. (1976) - Excavaciones en el castro de «O Neixon». Campaña de 1973.


Noticiario Arqueologico Hispanico: Prehistoria, 5, 324-330.
ALMAGRO-GORBEA, M.; TORRES ORTIZ, M. (2009) - La colonización de la costa atlántica de Portugal:
¿Fenicios o Tartesios? Acta Palaeohispanica X - Paleophispanica, 9, 113-142.
ALMEIDA, C. A. B. (1996) - Povoamento romano do litoral minhoto entre o Cávado e o Minho, vol. 1 -
Inventário arqueológico do concelho de Ponte de Lima. Porto: FLUP (tese de doutoramento).
ALMEIDA, C. A. F. et al. (1980) - Escavações arqueológicas em Santo Estêvão da Facha. Arquivo de
Ponte de Lima, 3, 3-90.
ALMEIDA, C. A. F. et al. (1982) - Duas datações de C14 para o Castro de Santo Estêvão da Facha.
Arqueologia, 6, 79.
ARRUDA, A. M. (2005a) - Ânforas R1 em Portugal. In Ati del V Congresso Internazionale di studi finici i
punici (vol. 3, p. 1311-1318). Palermo: Univ. Palermo,.
ARRUDA, A. M. (2005b) – Orientalizante e pós-orientalizante no sudoeste peninsular: geografia e
cronologias. In CELESTINO PÉREZ, S.; JIMÉNEZ ÁVILA, J. (ed.) - El periodo orientalizante (p. 277-303).
Mérida: CSIC.
ARRUDA, A. M. (2005c) – O 1º milénio a.n.e. no Centro e no Sul de Portugal: leituras possíveis no início
de um novo século. O Arqueólogo Português, 4ª série, 23, 9-156.
ÁLVAREZ-SANCHIS, J. R. (1999) - Los Vettones. Madrid: Real Academia de la Historia.
BARGÃO, P. (2013) - As ânforas pré-romanas da Alcáçova de Santarém. In ARRUDA, A. M. (ed.) -
Fenícios e púnicos, por terra e mar (vol. 2, p. 748-755). Lisboa: UNIARQ.
BETTENCOURT, A. M. S. (1999) - A paisagem e o homem na bacia do Cávado durante o II e o I milénio
AC. Braga: Universidade do Minho (tese doutoramento).
BETTENCOURT, A. M. S. (2005) - O que aconteceu às populações do Bronze Final do Noroeste de
Portugal, no segundo quartel do I milénio AC, e quando começou, afinal, a Idade do Ferro. Penafiel. Cadernos
do Museu, 11, 25-40.
CAEBALLO ARCEO, L. X. (1987) - Castro da Forca. Campaña 1984. Xunta de Galicia, Arqueoloxía/
Memórias 8.
CORREIA, V. H. (1993) - Os materiais pré-romanos de Conimbriga e a presença fenícia no baixo vale do
Mondego. Estudos Orientais, 4, 229-283.
CORREIA, V. H. (2005) - A presença orientalizante a Norte do Tejo e a ourivesaria arcaica do território
português. In CELESTINO PÉREZ, S.; JIMÉNEZ ÁVILA, J. (ed.) - El periodo orientalizante (p. 1215-1224).
Mérida: CSIC..
Excavaciones (1973) - Excavaciones. A Lanzada (Sanxenxo, Pontevedra) 1972. El Museo de Pontevedra,
27, 63-64.
FREITAS, V. T. (2005) - Observações preliminares sobre as cerâmicas de engobe vermelho do Castelo de
Castro Marim. In CELESTINO PÉREZ, S.; JIMÉNEZ ÁVILA, J. (ed.) - El periodo orientalizante (p. 911-918).
Mérida: CSIC.

298
GONZÁLEZ RUIBAL, A. (2006-2007) - Galaicos. Poder y comunidad en el Noroeste de la Península
Ibérica (1200 a.C. - 50 d.C.). Brigantium, 18 e 19.
GONZÁLEZ-RUIBAL, A. & al.. (2007) - Comércio mediterráneo en el Castro de Montalegre (Pontevedra,
Galicia). Siglo II A.C. - inicio del siglo I D.C. Archivo Español de Arqueología, 80, 43-74.
KALB, P. (1978) - Senhora da Guia, Baiões. Madrider Mitteilungen, 19, 112-138.
LOPES, A. B. (1993) - A cerâmica do Castro da Senhora da Guia (Baiões). Tecnologia e morfologia. Porto:
FLUP (dissertação de mestrado).
MARTINS, M. (1990) - O povoamento proto-histórico e a romanização da bacia do curso médio do Cávado.
Braga: Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho.
MARQUES, G.; ANDRADE, M. - Aspectos da Proto-história do território português. 1 - Definição e
distribuição geográfica da cultura de Alpiarça (Idade do Ferro). In Actas do III Congresso Nacional de
Arqueologia (p. 125-148). Porto: MEN/JNE.
NAVEIRO LOPEZ, J. L. (1991) - El comercio antiguo en el N.W. Peninsular.Lectura historica del registro
arqueológico. A Coruña: Museu Arqueolóxico.
OLAIO, Ana (2018) - O povoado da Quinta do Almaraz (Almada, Portugal) no âmbito da ocupação
no Baixo Tejo durante o 1º milénio a.n.e.: os dados do conjunto anfórico. SPAL. Revista de Prehistoria y
Arqueología. Universidad de Sevilla, 27.2. (http://dx.doi.org/10.12795/spal.2018i27.18).
PEREIRA, G. R. (2011) - Dinâmicas culturais e influências meridionais no NW Peninsular: intercâmbio
púnico entre os séculos VI e III a.C. Porto: FLUP (dissertação de mestrado).
PEREIRA, I. (1993) - Figueira da Foz. Santa Olaia. Estudos Orientais, 4, 285-304.
PEREIRA, I. (1996) - Santa Olaia. In De Ulisses a Viriato. O primeiro milénio a.C. (p. 60-65). Lisboa:
Ministério da Cultura/Museu Nacional de Arqueologia.
RUFETE TOMICO, P. (1988-1989) - Las ceramicas con engobe rojo de Huelva. Huelva Arqueológica,
10-11 (3), 9-40.
RUFETE TOMICO, P. (1989) - La cerámica con barniz rojo de Huelva. In Tartessos. Arqueología
protohistórica del Bajo Guadalquivir (p. 375-394). Sabadell: Editorial AUSA.
SILVA, A. C. F. (1986) - A cultura castreja no Noroeste de Portugal. Paços de Ferreira: Câmara Municipal/
Museu Arqueológico da Citânia de Sanfins.
SOARES, A. M.; CABRAL, J. M. P. (1984) - Datas convencionais de radiocarbono para estações
arqueológicas portuguesas e a sua calibração: revisão crítica. O Arqueólogo Português, série 4, 2, 167-213.
SOUSA, E. (2014) - A ocupação pré-romana da foz do estuário do Tejo. Lisboa: UNIARQ
SOUSA, E. ; PIMENTA, J. (2014) - A produção de ânforas no Estuário do Tejo durante a Idade do Ferro. In
MORAIS, R.; FERNÁNDEZ, A.; SOUSA, M. J. (ed.) (2014) - As produções cerâmicas de imitação na Hispania
(p. 303-315). Porto: FLUP.
TORRES ORTIZ, M. (2005) - ¿Una colonización tartésica en el interfluvio Tajo-Sado durante la Primera
Edad del Hierro?. Revista Portuguesa de Arqueologia, 8, 193-213.

299
ANTÓNIO
DINIS
CERÂMICAS DA IDADE DO FERRO DO CRASTOEIRO, MONDIM
DE BASTO (VILA REAL)

ANTÓNIO PEREIRA DINIS *

RESUMO
De entre os materiais exumados nas escavações arqueológicas, os recipientes
cerâmicos assumem especial valor enquanto testemunhos tecnológicos e sócio-
económicos, indicadores relevantes das comunidades que os produziram e utilizaram, além
de servirem como importantes elementos de datação dos contextos onde ocorrem.
No âmbito do projeto CRASBASTO, têm vindo a ser estudados os espólios recolhidos
nas escavações do Crastoeiro, nomeadamente nas realizadas em 2005, 2016 e 2017.
Relativamente às cerâmicas, os resultados obtidos vieram confirmar a síntese escrita em
2001 sobre o sítio.

ABSTRACT
Among the materials exhumed in archaeological excavations, ceramic containers
assume special value as technological and socio-economic testimonies, relevant indicators
of the communities that produced and used them, besides serving as important elements to
date the contexts where they occurfor.
As part of the CRASBASTO project, the materials collected at Crastoeiro excavations
have been studied, in particular those carried out in 2005, 2016 and 2017. Relatively to
ceramics, the results obtained confirmed the synthesis written in 2001 about the site.

PALAVRAS CHAVE
Cerâmicas, Idade do Ferro, Crastoeiro, Mondim de Basto, Vila Real.

KEYWORDS
Pottery, Iron Age, Crastoeiro, Mondim de Basto, Vila Real.

* Lab2PT – Universidade do Minho / Câmara Municipal de Mondim de Basto; Coordenador do projeto CRASBASTO

303
INTRODUÇÃO

Como escreveu Carlos Alberto Ferreira de Almeida, no texto em que procurou


estabelecer uma primeira tipologia da cerâmica castreja, “a cerâmica é um dos melhores
reflexos da evolução de qualquer civilização passada, uma criação onde os antigos sempre
deixaram expressos os seus gostos, as suas modas, e até a sua economia e alimentação”
(Almeida 1974, 171). Mesmo que as peças ocorram excessivamente fragmentadas e
pertençam a panças a maior parte dos cacos recolhidos, o que torna difícil, ou mesmo
impossível, a aproximação às respetivas formas, a observação das diferentes partes da
morfologia dos vasos (bordos, lábios, bases, etc.), dos elementos de preensão, da cor
e acabamento das superfícies e das decorações quando existam, a par da análise das
pastas e das técnicas de modelagem e de cozedura, fornecem dados relevantes para o
conhecimento das comunidades que os produziram e utilizaram.
Representando mais de 90% do espólio exumado no Crastoeiro, a cerâmica assumiu-se
fundamental no estabelecimento da sequência temporal de ocupação do sítio e na datação
relativa dos contextos onde ocorre, os quais associam as estruturas e os demais materiais
encontrados, associação que permitiu apontar três fases distintas na ocupação sidérica do sítio.

A CERÂMICA DO CRASTOEIRO

O Crastoeiro localiza-se no lugar de Campos, na freguesia de São Cristóvão de Mondim


de Basto, concelho de Mondim de Basto, distrito de Vila Real.
Implantado sobre um pequeno esporão, na vertente oeste do Monte Farinha, com
domínio visual privilegiado sobre o vale do Tâmega, o sítio possui defesa natural na maior
parte do seu perímetro, proporcionada por encostas acentuadas e por grandes batólitos
graníticos, sendo o acesso mais favorável a partir do lado nascente.
A presença mais antiga do homem no Crastoeiro deve situar-se no IV-III milénio a.C.,
relacionando-se com meia centena de afloramentos gravados com covinhas, círculos
simples e concêntricos, espirais, sulcos, pontos, etc. Outros testemunhos desta primeira
utilização do morro são fragmentos de cerâmica pré-histórica e uma ponta de seta, de

304
quartzo, encontrados descontextualizados.
A ocupação permanente do sítio, que ocorre durante a Idade do Ferro, é atestada por
estruturas em negativo e fundos de cabana, articulados com lareiras e buracos de poste.
Designada neste texto por Fase I, esta ocupação está datada, radiometricamente, do
séc. IV a.C.
A petrificação do Crastoeiro, a que atribuímos a denominação de Fase II, terá ocorrido
pelo séc. II a.C., com a construção de uma muralha, de paramento duplo e, posteriormente,
das primeiras casas em granito, predominantemente circulares.
Edifícios de planta retangular, relacionados com uma Fase III, assinalam a romanização
deste sítio, que terá sido abandonado, durante o século I d.C..

FASE I

A cerâmica da Idade do Ferro do Crastoeiro, na sua expressão mais antiga, caracteriza-


se por uma assinalável homogeneidade técnica e morfológica. De fabrico exclusivamente
manual, revela um certo arcaísmo na composição das pastas, no geral incorporando
desengordurantes constituídos por grãos de quartzo e micas, de pequeno e médio calibre,
por vezes mal distribuídas1. As cores dominantes são escuras, dentro dos tons castanhos
e cinzentos, características consentâneas com cozeduras em ambiente redutor, e as
superfícies apresentam acabamentos alisados, registando-se alguns exemplares com o
exterior vassourado.
O conjunto de formas é muito reduzido, o que poderá sugerir a multifuncionalidade da
louça neste período. Na amostra até agora estudada, apenas se identificaram recipientes
fechados, potes, (designados genericamente de forma 1) e púcaros ou potinhos (forma 2),
sendo a percentagem dos primeiros bastante superior. De perfil maioritariamente em S,
evidenciam-se, nos potes, os bordos em aba soerguida e, nos púcaros, os bordos
esvasados, sendo os lábios preferencialmente boleados. A presença de bordos em aba
horizontal é bastante discreta, da mesma forma que os lábios em bisel ou retos.

1
A classificação dos fragmentos como produção manual baseia-se na ausência total de marcas de roda,
a espessura das paredes e sua irregularidade, bem como a sua textura média/grosseira, condicionada pelo
tamanho dos desengordurantes, especialmente o quartzo.

305
As bases são, essencialmente, de fundos planos simples, havendo algumas poucas de
fundos planos alargados.
As asas, de secção triangular, retangular ou semicircular, são bastante raras e
pertencem, invariavelmente, a recipientes da forma 2.
A aderência de fuligem na superfície exterior dos potes prova que a maioria destes
recipientes esteve em contacto com o fogo, provavelmente ligados à confeção de
alimentos. As exceções foram interpretadas como recipientes de contenção de água e
armazenagem de alimentos.
As decorações têm pouca expressão, contemplando a técnica da incisão, simples ou

Fig. 1 - Formas de cerâmica. Fase I.

em associação com a plástica e a impressa. Além de sulcos horizontais e linhas incisas,


dispostas de forma a configurarem triângulos, regista-se a presença de pontilhados,
motivos foliáceos, subcirculares e reticulados, séries de SSS e cordões com incisões
formando “espinha”.

306
Fig. 2 - Decorações. Fase I.

FASE II

A produção cerâmica caracteriza-se, nesta fase, por uma maior variedade técnica e
formal, assistindo-se ao aparecimento de recipientes modelados à roda. As pastas, por
vezes ainda com grãos de quartzo, incorporam palhetas de mica de calibre variável,
sendo notório que as muito micáceas, com palhetas de grande calibre, apresentam,
genericamente, um acabamento menos cuidado. As cores dominantes são escuras,
dentro das tonalidades castanhas e cinzentas, se bem que os recipientes das formas 2,
3 e, principalmente, 5 revelem preferência por tonalidades mais claras, apontando para
melhores cozeduras em ambiente oxidante.
Além dos potes e púcaros ou potinhos, únicos recipientes identificados na fase anterior,
aparecem, agora, os recipientes abertos, nomeadamente as malgas (forma 3), os tachos

307
com asas interiores (forma 4) e as talhas (forma 5), assim como as panelas de asas em
orelha (forma 6), todos com percentagens pequenas dentro do conjunto. Regista-se, ainda,
a presença de testos de perfil em calote.
Os potes continuam a dominar, se bem que em proporção menor. Os bordos em aba
soerguida suplantam, consideravelmente, os esvasados e os em aba horizontal.
Ao contrário, os púcaros acusam preferência pelos bordos esvasados. Nas bases, os
fundos planos simples continuam a ser maioritários mas aumenta a variabilidade com a
presença, se bem que em número pouco significativo, de fundos ligeiramente côncavos,
tanto simples como alargados. Os elementos de preensão aparecem em número reduzido,
mas com uma maior panóplia de tipos de asas, desde as de secção retangular ou
semicircular às pequenas pegas e às asas de secção pentagonal.
As malgas e os tachos com asas interiores estão ainda pouco representados. Parece
terem sido modelados manualmente e apresentam alisamento fruste. Os bordos, no
prolongamento da pança, rematam em lábio arredondado ou desenvolvem uma aba
soerguida ou horizontal, algumas vezes espessada.
As talhas apresentam alguma homogeneidade técnica e formal. As pastas são bem
depuradas, com pouca percentagem de mica, superfícies alisadas e boas cozeduras.
Os bordos em aba soerguia rematam em lábio arredondado com espessamento. As
bases destes recipientes são fundos planos alargados.
As panelas de asas em orelha foram reconhecidas em alguns poucos fragmentos
graças ao alteamento do bordo e existência de um orifício, sendo a forma com menor
representatividade no conjunto.
Alguns potes e púcaros receberam decoração, prioritariamente na ligação do colo com
o bojo, com motivos incisos, simples ou em associação com a impressão. Aos motivos
utilizados na fase anterior, juntam-se círculos simples ou concêntricos, meias luas,
escudetes e besantes.

308
Fig. 3 - Formas de cerâmica. Fase II.

309
Fig. 4 - Decorações. Fase II.

FASE III

A cerâmica da fase III revela uma produção local, essencialmente feita à roda,
integrando muito poucos materiais romanos.
A louça apresenta, maioritariamente, pastas com menor quantidade de mica, em
palhetas de pequeno e médio calibre, cozeduras boas ou razoáveis, alisamento das
superfícies e cores castanhas de tonalidades mais claras. Esta regularidade é, no entanto,
aparente já que se evidenciam dois tipos de fabrico, um, mais grosseiro, integrando

310
recipientes da forma 1 e outro, mais fino, constituído essencialmente por exemplares da
forma 2, com bons acabamentos, por vezes polidos.
Dominam, no conjunto, os recipientes de ir ao lume característicos pela grande
quantidade de fuligem que possuem nas suas paredes exteriores, assinalando-se, também,
a presença de grandes recipientes para armazenagem de provisões ou de água.
Morfologicamente, contabilizam-se potes, púcaros ou potinhos, malgas, tachos de asas
interiores e talhas.
Os potes continuam a ser os recipientes mais representados se bem que tenham
perdido ligeiramente para as outras formas. Os bordos em aba soerguida, por vezes
longos, com os lábios arredondados ou biselados destacam-se significativamente, mas
regista-se um aumento dos bordos em aba horizontal. Os púcaros mantêm uma presença
assinalável e, como anteriormente, apresentam bordos preferencialmente esvasados com
lábios boleados. Nota-se o aumento percentual das formas 3, 4 e 5 ostentando, no geral,
superfícies menos cuidadas de tonalidades claras dentro do castanho.
As bases dos recipientes repartem-se entre os fundos planos simples e alargados, os
primeiros com uma percentagem significativa de exemplares com vestígios de utilização
sobre o fogo, os segundos claramente vinculados a recipientes da forma 5. Também
se regista a presença de um fundo côncavo alargado, igualmente relacionado com
uma talha. As asas parece terem sofrido certa retração tanto quantitativa como formal.
Maioritariamente de secção retangular, algumas vezes com moldura, serviriam recipientes
das formas 1 e 2. Identificaram-se asas da forma 4, de secção circular.

311
Fig. 5 - Formas de cerâmica. Fase III.

No conjunto dos fragmentos decorados registaram-se as técnicas de incisão, a mais


representada, a impressão e a plástica, aplicadas, principalmente, a recipientes de
pequenas dimensões se bem que nas talhas assuma algum significado.
Os temas decorativos, variados, incluem para o primeiro caso, sulcos horizontais ou
meandros, quer simples quer agrupados, por vezes delimitando espaços preenchidos com
outros motivos incisos e impressos. Destaca-se a decoração de um recipiente de grande
porte, de cor castanha escura, com uma banda horizontal constituída por dois meandros,
obtidos por incisão com ponta romba, ostentando uma hipotética marca de oleiro composta
por um retângulo, com as linhas diagonais acentuadas.
A utilização da decoração plástica é frequente mas restringe-se, praticamente, a molduras
simples. A impressão está presente num pequeno número de fragmentos registando-se
as séries de SSS, os círculos concêntricos, os pontilhados, os escudetes e os motivos

312
foliáceos. Regra geral, estes motivos aparecem em bandas delimitadas por incisões,
horizontais, integrando-se, algumas vezes, em esquemas complexos que articulam vários
motivos estampilhados.

Fig. 6 - Decorações. Fase III.

313
BIBLIOGRAFIA

Almeida, C.A.F. (1974). Cerâmica Castreja, Revista de Guimarães, 84, (1-4), Guimarães, pp. 171-197.
Dinis, A. (2005). A ocupação do Crastoeiro (Mondim de Basto, Norte de Portugal) no Ferro Inicial, Colóquio
“Castro um lugar para habitar”, Cadernos do Museu, 11, Penafiel, pp. 75-87.
Dinis, A. (2001). O Povoado da Idade do Ferro do Crastoeiro (Mondim de Basto, Norte de Portugal),
Cadernos de Arqueologia - Monografias, 13, Braga.

314
JOSÉ
FLORES
GOMES
CIVIDADE DE TERROSO
EVOLUÇÃO DA PRODUÇÃO CERÂMICA

JOSÉ MANUEL FLORES GOMES

A Cividade de Terroso foi uma das primeiras estações arqueológicas da Cultura Castreja
em Portugal a ser escavada. Com efeito, em 1906, Rocha Peixoto - na altura Diretor da
Biblioteca e Museu Municipal do Porto - vai congregar um conjunto de indivíduos: políticos;
um capitalista; um fotógrafo; um arquiteto e mesmo um clérigo, entre outros, num projeto de
escavação de um povoado castrejo, já identificado, mas nunca intervencionado. Tratava-se
da Cividade de Terroso, localizada numa colina com 150 metros de altitude, primeiro relevo,
na sequência de 5 quilómetros de uma larga planície litoral. A região, rica em água e solos

319
férteis, contribuiu, certamente, para a fixação deste amplo povoado que se estendia por
mais de 10 hectares, no momento de expansão máxima.
As escavações contaram com o trabalho braçal de 25 homens, mulheres e mesmo
crianças, desde maio de 1906 até outubro do mesmo ano.
Os trabalhos deveriam ser retomados no ano seguinte, mas a oposição dos proprietários
dos terrenos e algum mal-estar local inviabilizaram os mesmos.
Desta iniciativa resultou a escavação quase total da plataforma superior da Cividade
e seu perímetro defensivo, bem como a execução de uma excecional planta da área
escavada, realizada pelo arquiteto camarário Gonçalo Artur Cruz, o qual, com absoluto
rigor, desenhou a Cividade: muros; ruas, calçadas e núcleos familiares.

Fig. 2 - Beneméritos da Arqueologia. Primeira página do artigo de Rocha Peixoto na Portugália em que faz o
elogio daqueles que contribuíram para o sucesso das escavações na Cividade. Promete ainda a publicação de
um relatório que nunca foi publicado.

Rocha Peixoto publicou, na Portugália1, apenas um pequeno texto de agradecimento


a todos os que o ajudaram a levar por diante esta empresa, prometendo a realização de
um vasto estudo sobre a Cividade. Diversos artigos publicados nas páginas dessa revista

1
Beneméritos da Arqueologia. As explorações da Cividade de Terroso e do Castro de Laundos no concelho
da Póvoa de Varzim. Portugália. Porto: Portugália, tomo II, nº 4 (7 Setembro 1908), p. 677-680.

320
vão revelar os desenhos e imagens da Cividade, a sua escavação e, acima de tudo, as
cerâmicas encontradas, em curiosos e originais desenhos do arquiteto Artur Cruz. Assim,
sabemos que surgiram cerâmicas “em forma de chapéu invertido”2, ou, mais corretamente,
cerâmicas de largo bordo horizontal, associadas à Idade do Bronze Final, bem como uma
grande variedade de motivos decorativos nas superfícies das cerâmicas.

Fig. 3 - Desenho de fragmentos de cerâmica castreia da autoria de Gonçalo Artuz Cruz.

No entanto, pouco tempo depois, Rocha Peixoto adoece com tuberculose e morre
em 1909. Com ele expira, também, um projeto inovador, como era a Portugália. O
pequeno núcleo de investigadores, que constituíam a essência da revista, dispersam-se e
desinteressam-se da investigação.
Os mais de 50 caixotes de cerâmicas e materiais obtidos nos trabalhos conheceram
um futuro agitado e muitos deles vão mesmo perder-se. Sabemos que os metais vão ser

2
FORTES, José, Vasos em Forma de Chapéu Invertido, Portugália, vol. II, Porto.

321
recolhidos e preservados no Instituto de Antropologia da Faculdade de Ciências do Porto,
onde ainda se encontram, e as pedras gravadas e esculpidas terão sido levadas para o
Museu de Soares dos Reis juntamente com as preciosas joias de Laundos e da Estela,
encontradas em 1907, no concelho da Póvoa de Varzim. As abundantes cerâmicas da
Cividade ingressaram, mais tarde, no Museu de Etnologia do Porto, em S. João Novo.
Dispersos os materiais, alguns anos depois, um jovem e promissor engenheiro, de
nome Ruy de Serpa Pinto interessou-se por eles e, depois de os estudar, publica um texto
exemplar sobre a cultura castreja, centrado na Cividade de Terroso3. A sua precoce morte,
com apenas 25 anos, interrompe uma fulgurante carreira na investigação. No seu texto saiu
publicada, pela primeira vez, a planta da Cividade elaborada no decurso das escavações.

Fig. 4 - Planta da Cividade de Terroso (com a orientação invertida) da autoria do Arquiteto Gonçalo Artur Cruz.

Entretanto, a Cividade atravessou um período de destruição e o abandono. A área


escavada foi, de novo, coberta de terra e a floresta apossou-se do monte.

3
Pinto, R. Serpa, A Cividade de Terroso e os Castros do Norte de Portugal, “Revista de Guimarães”, Vol.
XLII, 1932.

322
Em 1980, o Município da Póvoa de Varzim convidou o Professor Dr. Armando Coelho
a retomar as escavações do povoado e nós tivemos a honra de participar nos trabalhos,
então realizados, e a que ficamos ligados até hoje. O Professor encontrava-se a preparar
o seu Doutoramento e os resultados dos trabalhos da Cividade constituíram um importante
contributo para a mesma.
Depois das intensas campanhas de escavação e recuperação de 1980, 81 e 82 e de
outros trabalhos, já nos primeiros anos da década 90, foi-se tornando clara a evolução do
povoado principalmente evidente nas suas ricas coleções de cerâmicas. A descoberta, no
interior das habitações – circulares, ou outras - de pisos de saibro perfeitamente nítidos e
selados pela colocação de novas camadas, permitiu observar as sequências estratigráficas
que acompanhavam a evolução da Cividade desde as suas origens até ao abandono.

Fig. 5 - Estratigrafia do interior da “casa” VII.

Assim, já nos inícios da década de noventa, na escavação da designada “casa” VII,


constatou-se a existência de uma perfeita e linear estratigrafia que permitia o estudo da
ocupação e evolução do núcleo familiar em que se inseria. Esta estratigrafia era resultante

323
de perto de duas dezenas de estratos, parte dos quais constituídos por pisos de saibro bem
elaborados e compactados. A particularidade desta escavação é que, além de corresponder
a uma ocupação extremamente prolongada no tempo, praticamente todos os estratos
possuíam fragmentos de cerâmica, o que permitiu dispor de uma leitura cronológica da
evolução da cerâmica desde a Idade do Bronze final até aos inícios da romanização. Tudo
isso em pouco mais de um metro de estratigrafia.
As cerâmicas mais antigas, encontradas no local, sobre a rocha mãe do povoado, são
espessas, com cerca de 8 a 10 mm, indiciando serem provenientes de peças de formas
quase cilíndricas, feitas à mão, de tamanho médio, com as superfícies interior e exterior
alaranjadas ou rosadas, mas com cernes negros ou cinzento escuro. As micas são raras,
sendo usado, como desengordurante, grãos de areia bem visíveis.
Estas cerâmicas foram encontradas no mesmo contexto - imediatamente acima da rocha
mãe - em vários pontos da “acrópole” do povoado, local de origem do mesmo. Armando
Coelho data-as de inícios do primeiro milénio antes de Cristo, num contexto de Bronze Final.
Na casa VII este nível apresentava buracos de poste indicando, claramente, uma
ocupação anterior à petrificação do povoado.
As cerâmicas dos estratos superiores são diferentes: mais finas; passam a incluir a mica
como desengordurante (por vezes em partículas bastante grandes e em quantidade).
As formas presentes aproximam-se das típicas castrejas: perfis em S; fundo plano;
superfícies alisadas e, por vezes, brunidas; coloração escura – cinzenta ou negra -
indiciando a cozedura em soenga ou, pelo menos, em ambiente redutor. As dimensões dos
vasos são variáveis, com peças de tamanho médio, ocasionalmente maiores ou maiores, a
outras com dimensão significativamente mais pequena.
Esta estratigrafia permitiu compreender a evolução do povoado, nomeadamente a sua
petrificação concretizada entre os séculos V e IV a.C. Nesta altura surgem as primeiras
construções em pedra de forma circular, com paredes edificadas com duas fiadas de pedra,
sendo estas simplesmente partidas, aproveitando muitas vezes as clivagens naturais.
Os estratos inferiores - constituindo pisos e níveis de ocupação -, são finos e neles
encontram-se cerâmicas feitas à mão, com superfícies, por vezes alisadas e brunidas, e,
ocasionalmente, com decorações geométricas incisas.
Estes pisos são encimados por uma espessa camada de terra - com cerca de 20 cm-,

324
composta, em boa parte, por cinzas e carvões, claramente resultado de um incêndio, que
tem vindo a ser identificado com a passagem de Decimo Junio Bruto, entre 138 e 136 a.C.
Mesmo que esta identificação não seja exata, é um facto que houve um grande incêndio,
percetível por toda a cividade e, acima deste nível, as cerâmicas passam a ser feitas à roda
e a serem, maioritariamente, cozidas em ambiente oxidante.
Na sequência deste nível de incêndio, a Cividade conhece uma profunda alteração
urbanística com frequentes sobreposições de estruturas e mudanças profundas nos
núcleos familiares. A própria tipologia da construção muda, sendo caracterizada por
paredes mais espessas e sólidas, continuando a ser construídas com duas fiadas de pedra,
mas sendo estas preparadas com a utilização do pico de ferro. Emprega-se amplamente
argamassas de saibro e pequenas pedras, conferindo uma composição sólida dos muros.
Neste nível surgem, ainda, estruturas habitacionais com planta quadrangular, atestando a
crescente romanização do povoado.
Será este o padrão da construção usado na última fase de construção na acrópole do
povoado, muito embora, nas várias plataformas envolventes, a qualidade da construção
seja, na generalidade, muito mais fruste.
Considerando que o propósito deste artigo é ilustrar a evolução e particularidades
da Cerâmica da Cividade de Terroso, apresentamos, de seguida, alguns exemplares
marcantes, quer pela qualidade e interesse das peças, quer pela particularidade dos
contextos em que surgiram.
Uma das originalidades da Cividade de Terroso - referida desde os primeiros escritos
na imprensa local de então, quer nas menções de diversos autores, com Ruy de Serpa
Pinto - foi o aparecimento de umas estruturas em pedra existentes no interior dos núcleos
familiares e que tinham, no seu interior, vasos cerâmicos intactos. O desenho destas
estruturas figura na planta de Gonçalo Artur Cruz que, inclusivamente, indica o local de
aparecimento das mesmas com a atribuição de umas ténues letras.

325
Fig. 6 - Pormenor da Planta de Gonçalo Artur Cruz ilustrando as supostas sepulturas de incineração
descobertas nas escavações de Rocha Peixoto.

Na altura, estas complexas estruturas e os vasos no seu interior, foram referidos como
sendo sepulturas de incineração e o achado de algumas joias no interior de vaso em nicho
semelhante em Laúndos - castro localizado no monte de S. Félix-, parecerá confirmar este
contexto local ou, quanto muito, regional em que as joias seriam ofertas funerárias4.
A inexistência, na generalidade dos povoados do Noroeste, de quaisquer vestígios de
enterramentos, praticas funerárias, ou mesmo de culto aos antepassados, fez redobrar o
interesse por este sítio quando, em 1980, se encontrou, dentro de uma estrutura de pedras
formando uma caixa - que foi identificada como sendo uma sepultura de incineração - um
vaso, que serviria como reservatório das cinzas, ou como oferta ritual. Esta construção
surgiu no lado norte de uma estrutura circular designada por XXIII, integrada num núcleo
familiar, o que poderia indiciar praticas funerárias locais da Idade do Ferro. No entanto,

Neste caso, no entanto, o facto de aparecer um bolo de prata com marcas de corte o que sugeriria um
4

depósito de fundidor.

326
o facto de o interior da caixa se encontrar revestido por pedaços de tegula, atesta o
caracter tardio desta estrutura no contexto da cultura castreja. O vaso encontrado no
interior da “caixa” é um pequeno exemplar carenado, feito à roda, com superfícies e
pasta alaranjadas e bordo lançado para o exterior. Tem semelhanças com o vaso em
que surgiram as arrecadas de Laúndos. Pela sua reduzida dimensão dificilmente seria
suficiente para a guarda das cinzas de um individuo.

Fig. 7 - Sepultura encontrada em 1980 com o vaso in situ.

Outro bom exemplo da cerâmica da Cividade é-nos dado pelo achado, no interior da
construção VII e sob as camadas superficiais, de um vaso resultante, provavelmente, de
uma ocultação sob o pavimento. Embora no seu interior nada se encontrasse (exceto terra
saibrenta e algumas pedras) supomos que tivesse funcionado como pequena reserva de
valores familiares oculta no piso. Trata-se de uma forma clássica da cerâmica castreja, de
perfil em “S”, feita à roda e com decoração incisa de pequenos traços oblíquos sobre uma
linha horizontal, igualmente incisa. Tratar-se ia de uma bolsa criada ao nível do estrato (02)
e que penetrou até ao (05). O piso mais superficial do (01) cobria integralmente a área do

327
edifício, não permitindo o acesso ao vaso, pelo que este já teria perdido a sua função na
fase final da ocupação do povoado.

Fig. 8 - Vaso in situ, observado no perfil da “casa” VII.

Fig. 9 - Estratigrafia lado este da “casa” VII. Notar no lado esquerdo a bolsa onde se encontrou o vaso.

328
REPARAÇÃO DE CERÂMICAS COM GATOS DE BARRO

Fig. 10 - Fragmento de bordo de vaso de cerâmica castreja reparado com gato de barro.

Apresentamos dois fragmentos da mesma peça de cerâmica encontrados praticamente


no mesmo local, mas que, curiosamente, sofreram diferentes contextos pós-deposicionais,
atendendo que um mantem a coloração castanha habitual das cerâmicas castrejas e, o
outro, está enegrecido pelo contacto com o fogo. No entanto, pertencem à mesma peça
e, para além de colarem um com o outro, ilustram uma prática existente de reparação de
peças com “gatos”, neste caso, cerâmico, mas que também se encontram em metal. Neste
caso, a peça ter-se-á quebrado na sequência de algum acidente de uso e foi reparada
realizando dois orifícios, um em cada parte da fratura, depois preenchida com barro e,
novamente, cozida. Esta circunstância, bem como a análise macroscópica da pasta do
remendo, que em tudo parece idêntica à da peça, poderá reforçar a convicção da produção
local da cerâmica. Com efeito, só assim se explicaria que a reparação apresentasse essas
características.

329
DECORAÇÃO DE CERÂMICA

Fig. 11- Fragmento de pança de vaso com decoração incisa, puncionada e brunida.

Uma das características da cerâmica castreja da Cividade de Terroso é o facto de dispor


de uma vasta gramática decorativa usada ao longo das centenas de anos de ocupação.
Com efeito, Armando Coelho ilustra mais de 140 motivos decorativos presentes nas
cerâmicas resultantes das campanhas até 1986, às quais acrescentamos mais de 60, nos
trabalhos de campo posteriores.
A cerâmica tem, com frequência, decoração: incisa, de formas muito variáveis;
estampilhada; brunida; puncionamento; bem como decorações plásticas, com aplicação de
cordões que podem, por sua vez, ter incisões.
Com a introdução da roda de oleiro surgem novos motivos decorativos: como as
depressões; linhas rigorosamente paralelas e novas técnicas, como a roleta.
Esta diversidade confere à cerâmica da Cividade de Terroso um carácter de grande
originalidade - pois outros povoados estudados não possuem tal diversidade - que se
manterá nas cerâmicas já romanizadas dos princípios da Era.

330
POLIDORES OU BRUNIDORES DE CERÂMICA EM SEIXOS EOLIZADOS

É frequente que as superfícies das cerâmicas castrejas da Cividade apresentem sinais


de terem sido brunidas ou “gougadas5” com a utilização de um instrumento duro.
Na olaria popular portuguesa, amplamente estudada por etnógrafos e antropólogos,
estes apresentam esse trabalho como sendo feito com um godo, gougo, gogo, ou seja,
um seixo rolado o qual, pressionado contra a superfície da peça, vai criar decorações
geométricas, curvilíneas, ou outras.

Fig. 12 -Seixos eolizados encontrados na Cividade de Terroso e que terão servido para realização de decoração
brunida na cerâmica.

Após o cozimento da peça, essas linhas vão dar um ar distinto à peça e foram usadas,
com frequência, na decoração de cerâmicas castrejas de Terroso. Os achados de vários
polidores de seixo no interior de alguns núcleos familiares, destacam a possível pratica

5
A designação gougada é usada por oleiros referindo-se ao uso do “gougo” ou godo, ou seja, seixo rolado
para brunir nas superfícies da cerâmica a decoração

331
da olaria, mesmo dentro dos mesmos. Destacamos um conjunto de três pequenos seixos
eolizados, de forma lanceolada, que surgiram nas designadas casas I e II e que terão sido
usados como polidores. Estes seixos que, pelas suas características, quase parecem ter
sido feitos por polimento artificial humano, na realidade são resultado de um processo
de eolização ocorrido há milhares de anos, quando foram expostos por longos períodos,
aos fortes ventos costeiros e à ação das areias por eles transportados6. Encontram-se,
naturalmente na zona baixa de Amorim, próximo dos limites com Aver-o-Mar e junto à
atual A 28 - em grande número, com tamanhos e formas variáveis; mas distinguem-se
pelas suas formas lanceoladas ou aplanadas sempre dos fenómenos erosivos fluviais ou
marítimos.

RELA DE OLEIRO

Fig. 13 - Fragmento de rela de roda de oleiro em anfibolite.

6
Soares de Carvalho, G. (1982) – Notícia sobre eolização durante o Quaternário no litoral minhoto
(Portugal). Cadernos de Arqueologia, nº 2: Estudos do Quaternário do litoral minhoto, pp. 5- 20.

332
Encontrou-se um fragmento de rela de oleiro, em anfibolito, profundamente desgastado
pelo intenso trabalho a que terá sido submetido, permitindo-nos constatar aspetos
marcantes da vida da Cividade de Terroso. A rela é um elemento imprescindível da roda de
oleiro - por constituir a base em que pousa o eixo da mesma -e, sem ela seria impossível
a sua utilização. Neste caso, a utilização continuada terá provocado o seu desgaste e,
consequente fratura.
O seu achado regista, sem qualquer dúvida, a existência de produção local de cerâmica
que, muito provavelmente, sempre acompanhou a evolução do povoado.
Por outro lado, o aparecimento da rela e, consequentemente, da roda de oleiro, indicia a
introdução da nova forma de produção e modelação da cerâmica, provavelmente resultante
da presença romana e contemporânea da mudança do estilo e forma da cerâmica do
povoado.

UM ROSTO CASTREJO

Fig. 14 - Fragmento de vaso com figuração de rosto humano.

333
Não são frequentes as representações de animais ou humanos na arte dos castros
do Noroeste, se excetuarmos, as conhecidas esculturas dos guerreiros galaicos surgidas
em castros da região e algumas gravuras rupestres de maior ou menor figuração
antropomórfica. O achado na plataforma cimeira do povoado, deste rosto esquemático num
fragmento de vaso reveste-se, por isso, de especial interesse.
Representa um rosto visto de frente, feito com o dedo no barro fresco, de não mais
que 7 cm., onde, claramente, se identificam os dois olhos, o nariz e a boca, tudo rodeado
por um círculo na parte superior e um círculo mais pequeno e mais marcado envolvendo
a boca. Esta figuração levantará provavelmente diversas questões que procuraremos
oportunamente explorar.
Em jeito de conclusão pudemos, nesta comunicação, apresentar alguns dos exemplares
marcantes das cerâmicas da Cividade de Terroso e esperamos ter contribuído para o
conhecimento da diversidade e evolução deste povoado.

Fig. 15 -Vitrina com materiais da Civicidade de Terroso.

334
TERESA
SOEIRO
CASTRO DE MONTE MOZINHO E NECRÓPOLE DE MONTEIRAS
(PENAFIEL): A CERÂMICA CASTREJA EM ÉPOCA ROMANA

TERESA SOEIRO
U. Porto/Faculdade de Letras - CITCEM

RESUMO
Sumariamos os resultados obtidos nas escavações do Castro de Monte Mozinho e da
necrópole de Monteiras, focando-nos na sua relevância para a interpretação do percurso da
cerâmica castreja já em época de domínio romano, transição com a duração aproximada
de um século, entre a quase exclusividade dos fabricos locais e a diluição desta tradição
oleira na nova dinâmica romana das produções (regionais) padronizadas e para o mercado
e do comércio a uma escala alargada.

PALAVRAS-CHAVE
Museu Municipal de Penafiel; Castro de Monte Mozinho; necrópole romana de
Monteiras; cerâmica castreja.

ABSTRACT
An overview of the data gathered in the excavations of the Monte Mozinho hill-fort
(castro) and of Monteiras necropolis, emphasizing their importance to the interpretation
of the castreja ceramics evolving already under Roman rule. This transition, that lasted
for about a century, between the local ways of making and the fading away of this pottery
tradition into the new Roman dynamics of (regional) standardized productions for the market
and the large-scale commercial trade.

KEYWORDS
Municipal Museum of Penafiel; Castro of Monte Mozinho; Roman necropolis of
Monteiras; castreja ceramics.

339
A reabertura dos trabalhos arqueológicos no Castro de Monte Mozinho, em 1974, sob
a direcção de Carlos Alberto Ferreira de Almeida, permitiu um significativo avanço no
conhecimento e interpretação das etapas recentes da Cultura Castreja, quando o território
do Noroeste estava já sob efectiva administração romana (Almeida, 1974; 1977; 1980).
Desde então, o Museu Municipal de Penafiel tem promovido/apoiado outras intervenções
arqueológicas no espaço concelhio, as quais ajudaram a ampliar e melhor contextualizar
estes resultados. Assim sucedeu, por um lado, com a escavação da necrópole de
Monteiras (Bustelo), onde, provavelmente em meados do século I d.C., as mais antigas
incinerações ainda incluíam cerâmicas de tradição castreja (Soeiro, 2009-10); por outro
lado, a escavação de emergência na Suvidade de Recezinhos (Soeiro,1985-86) e as
recolhas de superfície resultantes da prospecção para a Carta do Património, realizada
por Maria José Ferreira dos Santos em 2000, identificaram cerâmica castreja bem mais
antiga do que a de Mozinho em três outros castros, o primeiro bastante alterado, os demais
ainda por escavar.
Não nos vamos alongar sobre a caracterização dos sítios arqueológicos nomeados no
título, uma vez que ambos foram alvo de várias publicações. Lembraremos apenas que
o Castro de Monte Mozinho (Oldrões/Galegos) (Soeiro, 2019, com bibliografia) é um sítio
fortificado de altura, localizado sobre a importante via natural que acompanha a depressão
de direcção Norte-Sul, até à confluência dos rios Tâmega e Douro, em
Entre-os-Rios (Penafiel). Pelo que sabemos, foi ocupado em época romana, da
mudança de Era à Antiguidade Tardia, parecendo atingir a maior extensão e densidade
do edificado para habitação até meados do séc. I d.C. No interior da muralha da coroa, a
qualidade do espólio permitiu uma boa sequenciação dos níveis, de Augusto à época flávia,
e até aos antoninos.
A necrópole de Monteiras (Bustelo) (Soeiro 2009-10), pertencente a um povoado aberto
(por escavar) implantado nas terras baixas da veiga do rio Sousa, exemplifica a mudança
do habitat, materializada em meados do século I d.C. pela disseminação das gentes e
diversificação das características dos lugares de residência, pela diferente exploração
dos recursos e relação com o território e, na comunidade, com o assumir das prescrições
legais/culturais sobre separação dos espaços de vivos e mortos e das práticas funerárias
conhecidas no quadro do império romano.

340
1. NOTA SOBRE A CERÂMICA DOS CASTROS ANTERIORES A MONTE MOZINHO

Estaríamos em melhor posição para interpretar a cerâmica castreja de Monte Mozinho


se dispuséssemos de informação sobre os locais de habitação que imediatamente
o precederam e de onde pode ter sido atraída/deslocada a população que nele se
concentrou. Mas, como indicámos, a investigação ainda não se focou nestes outros sítios,
pelo que apenas podemos deixar notas esparsas sobre a questão.
Neste momento, temos documentada a presença de cerâmicas castrejas anteriores
ao século I a.C. em três ocorrências, sendo que um caso, então já bastante alterado, foi
alvo de escavação de emergência, em 1985. Trata-se da Suvidade de Recezinhos, uma
pequena elevação de planta elíptica (160x80m), que se destaca dos campos em redor
apenas cerca de 10m. Está situada num corredor natural, percorrido pelo rio Odres,
afluente da margem direita do Tâmega, que conduz a Canaveses, local de travessia em
barcas, e em ponte na época romana. O sítio foi profundamente afetado quanto à topografia
e estruturas construídas, mas o espólio atesta ocupações desde o Calcolítico. Há ainda
níveis atribuídos ao Bronze Final, Castrejo e época romana, até à Antiguidade Tardia.
Na Idade Média, a sua posição continuava marcante na memória do território, pelo que
as Inquirições de Afonso III é referido um «mons qui vocatur Civitas fuit muratus et fuit
castrum ex veteris» (PMH-Inq.,1897:602). Infelizmente para a sua preservação, este cabeço,
que flanqueia a estrada para o Tâmega, teve elevado valor estratégico na Guerra Peninsular
e na Guerra Civil, e suporta um nó rodoviário recente.
A cerâmica castreja, resultante da escavação, é essencialmente de fabrico manual,
em pastas escuras e com as superfícies bem alisadas ou polidas, agrupando-se em duas
formas dominantes, os vasos de perfil em S de vários tamanhos, muitas vezes com o bordo
a rematar em pequena aba horizontal, e os vasos de asa interior, com parede fina, lábio
pouco pronunciado e asas de secção circular. A este contexto pertencerá um fragmento
de bordo de ânfora, produção da área do Estreito ou do Sul da costa atlântica peninsular,
material com presença no Noroeste desde a transição para o castrejo (ver S. Estêvão da
Facha, nestas actas). A pouca segurança dos contextos, como explicado na publicação,
limita as ilações.

341
342
Num outro pequeno e pouco elevado castro da margem do Tâmega, o de Condessa
(Luzim), foi recolhido em prospecção um bordo de dólio, em pasta castanha com
grãos brancos até 1mm, mas razoavelmente homogénea e bem cozida, ostentando um
acabamento manual que tornou as superfícies bem alisadas, macias e, sobretudo na
interior, com o brilho de inúmeras pequenas palhetas de mica.
O Castro da Abujefa (Galegos), no vale do rio Cavalum, está sobranceiro a outro caminho
natural muito usado ao longo da história, que leva à travessia do Sousa. Serviu de referência
casteleira na documentação medieval e, antes, teve ocupação em época romana, pelo menos
do século I ao IV/V d.C. Também em prospecção de superfície, forneceu cerâmica castreja
antiga, de fabrico manual, com irregularidades no perfil, de que salientamos: fragmento de
pote com colo vertical e bordo quase horizontal, em pasta arenosa (grãos até 3mm) compacta,
que não se desagrega como a de Mozinho, com superfícies bege/acastanhado, bem alisadas;
pote/púcaro, colo em S rematado por lábio irregular extrovertido, pasta arenosa compacta,
superfícies escuras e alisadas, com muita mica miúda.

2. A CERÂMICA CASTREJA EM MONTE MOZINHO

As primeiras gerações de habitantes do Castro manteriam certamente em uso muita da


cultura material tradicional, desenvolvida nos lugares de origem. É pelo cambio de Era que,
à cerâmica indígena, castreja quanto a morfologia e técnica, vem juntar-se um bom número
de louças importadas e os contentores anfóricos de diferentes produtos oriundos da Bética
e Lusitânia, ou da Itália. Mas, tanto estas ânforas como alguns dólios e almofarizes das
mesmas proveniências que as acompanham, ou mesmo a baixela de mesa e artefactos
para iluminação, são completamente distintos das produções locais.
O facto de terem chegado a este povoado em quantidade assinalável sugere
disponibilidade económica de quem aqui habitava e a integração nos circuitos do comércio
regional e do império. O significado social e simbólico de possuir/ostentar/consumir tais
bens não será menos impactante, embora, como já mostrámos, a dispersão por toda a
área escavada em contínuo da coroa do Castro não denuncie grandes disparidades até às
décadas centrais do século I d.C., assim como não se manifestam na organização urbana

343
e arquitectura doméstica, asserção que não é válida para o último quartel da centúria,
quando a diferenciação se torna evidente.
Foi discutido, por diversos autores, o facto de na área escavada não terem sido
identificados níveis de habitação anteriores à época de Augusto, pelo que o contributo para
o estudo da cerâmica em causa se limita a etapas avançadas, estando em falta materiais
comparáveis com os referidos no ponto 1, muito embora o Castro da Abujefa, com
exemplares de fabrico manual, fique quase contíguo a Mozinho. Assim, a cerâmica castreja
aqui recolhida é levantada a torno, predominando uma pasta característica, mais arenosa
do que micácea, que se desagrega com facilidade talvez pela pobreza da componente
plástica. Esta é uma área de granitos em que não se conhecem bons barreiros, nem
centros oleiros em tempos medievos e modernos.
Nos níveis mais antigos, verifica-se uma maior presença de pastas micáceas,
com palhetas trazidas à superfície no alisamento, o que conferiria a estas vasilhas -
maioritariamente potes, púcaros e copos - um brilho particular, que bem poderia valorizar
o produto final, até porque o investimento em decoração, que se executou com técnicas
variadas - aplicação plástica, brunido, incisão, puncionamento, estampagem, etc. - é
bastante contido. Provém igualmente das ocupações das primeiras décadas um outro
fabrico, caracterizado pela maior dureza e compacidade das pastas e distinto também pelo
bom acabamento, muito alisado ou polido, de que resultam superfícies macias de tons
escuros ou negras. Encontramos este tratamento sobre o bordo de pequenos dólios e raros
vasos de asas interiores, embora seja mais comum nas formas pequenas de perfil em S,
dando-lhes qualidade técnica e visual.
Porém, os vasos de pastas arenosas, com cozedura homogénea e superfícies alisadas,
em tons de castanho e cinzento claro, são a imensa maioria, tendo servido tanto para o
fabrico de peças muito pequenas (algumas tacinhas, copos e copas), como para as escassas
taças de bico/almofarizes, ou os abundantíssimos púcaros e potes de diversos tamanhos,
panelas sem asa, de asas exteriores ou em orelha, e os sempre presentes vasos de asas
interiores e dólios. Este espólio está em grande parte publicado, com indicação do respectivo
contexto (Almeida, 1974; idem, 1977; Soeiro, 1984). Temos em estudo o sector D, o último
a ser por nós escavado, a propósito do qual faremos a revisão monográfica da cerâmica
castreja do Castro de Monte Mozinho. Na mostra integrada no workshop do Congresso e

344
para esta breve apresentação seleccionámos formas ilustrativas, quase todas do fabrico
dominante, não sendo viável descrever e caracterizar detalhadamente os materiais. Por isso,
optámos por algumas observações que nos pareceram mais interessantes.

345
346
Já referimos um primeiro aspecto, o da relativa homogeneidade quantitativa e qualitativa
na distribuição dos materiais recolhidos em níveis sincrónicos, até à época flávia. Contudo,
ao longo deste lapso temporal, que mal chegará a um século, há diferenças com valor
diacrónico reconhecíveis quanto a fabricos, tipos e sua morfologia. Também elas se
verificam sensivelmente ao mesmo ritmo por toda a área escavada e permitem a elaboração
de cronologias mais finas, sendo particularmente vincada a transformação e grau de
padronização da época de Cláudio-Nero, um ponto de viragem. Considerar os materiais do
I a.C. - I d.C. como um bloco único, não tem sentido em Mozinho.
Valorizamos igualmente como muito significativos os casos de apropriação evidente,
como nas imitações de lucernas, sigillata e paredes finas, fabricadas nas pastas arenosas
locais, por vezes com as superfícies recobertas por aguadas vermelho-alaranjadas. Aliás, a
substituição do gosto pelos tons escuros e acabamento polido por cores quentes e claras,
bem como a tentativa de melhorar pastas e cozeduras foram então uma constante, que
certamente agradou e criou clientes. Acompanha o multifacetado processo de adopção e
produção regional de cerâmicas comuns romanas, nomeadamente para cozinha e mesa,
com a correspondente alteração do habitus de preparação, apresentação e consumo dos
alimentos.
Apontamos a possibilidade da cerâmica castreja de Mozinho ser uma produção local - de
pouca qualidade, diga-se - uma vez que nos faltam aqui alguns bons fabricos difundidos
na primeira metade do século I d.C. pelo Entre-Douro-e-Minho, os quais criam pontes entre
castros como Briteiros, Sanfins, Padrão, Alvarelhos, etc., chegando por exemplo a Santo
Estêvão da Facha e Vieito, no Lima. Já para os níveis flávios e posteriores, as produções
comuns parecem exteriores ao sítio (regionais), aspecto alvo para o estudo analítico em
curso, embora perdurem formas características do castrejo, nomeadamente o tão peculiar
vaso de asas interiores para suspensão sobre o lume, agora muito menos numeroso.
No limite da área escavada de D foi encontrado um pequeno forno circular de duas câmaras
sobrepostas, possivelmente para fabrico de cerâmica. Aproveita a diferença de cota entre
plataformas e está parcialmente embebido no penedo, que para tal foi partido, criando
assim condições favoráveis à concentração do calor, como também sucedia, por exemplo,
nos fornos de Lucus Augusti (Alcorta, 2001:410ss). A estrutura remataria em falsa cúpula,
foi construída em aparelho irregular de pequenas pedras graníticas, unidas e parcialmente
cobertas por um traço de barro/saibro. Voltava para a plataforma inferior a boca, estando
a área fronteira escavada em pequena extensão, onde ainda não surgiram caqueiros.

347
A separar as câmaras apresenta grelha radial apoiada sobre pilar central, ambos feitos
com pedras de secção circular, como que troços de “cabides”. Outra pedra, irregular,
de secção circular mais reduzida, serve de “padieira” da boca, através da qual tanto se
chegava à câmara de combustão, inferior, para colocação de lenha (em análise a amostra
remanescente), como à câmara de cozedura (diâm. máx. 0,95m, alt. ±0,60m), sobre a
grelha, para colocação das peças, limitadas a tamanhos pequenos e médios dado o volume
da estrutura. Trata-se de um modelo de forno conhecido na Europa (Swan, 1984: 30, 55),
também aparentado aos exemplares púnicos do Sul peninsular, circulares/elípticos com
pilar central e grelha radial de adobe ou mesmo feita com ânforas. Mas, em Mozinho não
apresenta praefurnium, do que resultaria uma diferente relação entre a fonte de calor e a
cerâmica (Bernal & Jímenez -Camino, 2004:591; Bernal et al., 2004:607ss).
Apesar de fixo e construído em granito, a capacidade da câmara não difere muito da
apresentada pelos fornos portáteis “tipo Castromao”, que reencontrámos na escavação da
Pastoria (Chaves). Muita outra cerâmica poderia ser cozida, por exemplo, em soenga, no
exterior do povoado (Naveiro, 1991:83-85).
Ao lado deste, havia outro forno, da mesma dimensão e também encostado ao penedo,
de que resta o lastro circular em barro bem calcado, com pequenas pedras ao alto a
delimitá-lo.
Por vezes, deparámos com os volumosos dólios, assim como (fundos de) ânforas,
instalados em recantos dos pátios, o que ajuda a resolver o problema logístico que
representariam se estivessem todos dentro de habitações e anexos fechados, mas também
os há. A situação potenciou o excepcional achado de um exemplar completo e in situ de
dólio castrejo, anichado junto de um penedo que o protegeu. À altura dos ombros ostenta
uma marca em meandro incisa no barro fresco, sinal com paralelos em vários castros,
sobre dólios com fabrico diferente deste (Silva, 1986 :131, est. LVI e LXIII). Na casa flávia
do sector c, com compartimentos mais espaçosos, um dólio castrejo tardio estava na
cozinha, apresentando o tramo inferior enterrado no piso para maior estabilidade. Também
na casa A do casal romano da Bouça do Ouro (Boelhe) havia um dólio na cozinha (Soeiro,
1998:6).

348
3. A CERÂMICA CASTREJA TARDIA NA NECRÓPOLE DE MONTEIRAS

Em meados do século, o povoado aberto ou aldeia de Monteiras (Bustelo) tem


o seu espaço funerário definido (Soeiro, 2009-10). Os enterramentos mais antigos
são depósitos secundários de cremações realizadas no ustrinum, em redor do qual
se distribuem, apresentando-se como covachos pouco fundos, por vezes mal definidos,
preenchidos com os restos da combustão (incluindo esquírolas de osso calcinadas),
sobre os quais se pousam as oferendas. Os vasos, que também serviram de urna,
fabricados na tradição castreja, constituem todo o mobiliário (como em MONT95 S.83,
com dois pequenos púcaros, um carenado e decorado e um cossoiro também decorado1),
ou encontram-se lado a lado com cerâmicas finas de origem forânea e novas formas de
comum romana regional. Em Mozinho ainda não foram escavados enterramentos com
idênticas características/cronologia.
Assim, este caso torna-se importante por vários motivos, nomeadamente como alerta
para uma apressada classificação simplista de sítios arqueológicos como “castrejos”
apenas por neles se encontrarem artefactos (ou edificado) desta tradição, uma leitura
ainda mais inquietante se estivermos perante enterramentos, enigma por resolver
satisfatoriamente na Cultura Castreja. Monteiras será, pelas suas características e relação
com o território, bem como pela separação do espaço funerário e prática assumida neste
domínio, um produto da nova vivência rústica da romanidade provincial. Lembremos que
mesmo na capital conventual - Bracara Augusta - também há enterramentos antigos que
encerram espólio idêntico a este (Morais et al., 2013), como seria de esperar.
Atendendo especificamente à cerâmica, a necrópole tem a vantagem de nos fornecer
vasos castrejos completos ou com perfis reconstituíveis, que existiram em simultâneo, alguns
deles já na fronteira do fabrico romano- pelas pastas, qualidade da cozedura e acabamento
com aguada alaranjada- ainda que a morfotipologia remeta para o passado-presente.
São púcaros pequenos e médios, copos, copas/tigelas e uma jarra. A etapa seguinte,
tanto no Castro de Monte Mozinho, como no casal romano da Bouça do Ouro, ou na
necrópole de Monteiras, será de presença avassaladora das cerâmicas romanas, sobretudo
a partir da época flávia.

1
Na publicação relativa a esta escavação houve, no inventário, uma troca entre o vaso 2 da MONT94 S.40 e
o vaso 1 da MONT95 S.83, que no restante texto, bem como no estudo antropológico de Filipa Cortesão Silva e
Ana Luísa Santos, no mesmo volume, estão bem contextualizados, tendo sido publicada (p. 20) a fotografia do
enterramento S.83, que levámos à mostra do CICCIT e aqui replicamos.

349
350
REFERÊNCIAS

ALCORTA IRASTORZA, E. J. (2001) - Lvcvs Avgvsti. II Cerámica común de cocina y mesa hallada en las
excavaciones de la ciudad. Pontevedra: Fundación Pedro Barrié de la Maza.
ALMEIDA, C. A. F. (1974) - Escavações no Monte Mozinho (1974). Penafiel: Centro Cultural Penafidelis.
ALMEIDA, C. A. F. (1977) - Escavações no Monte Mozinho II. 1975-1976. Penafiel: Centro Cultural
Penafidelis.
ALMEIDA, C. A. F. (1980) - O templo do Mozinho e seu conjunto. Portugalia, nova série, 1, 51-56.
BERNAL, D.; JÍMENEZ-CAMINO, A. (2004) - El taller de el Rinconcillo en la bahía de Algeciras. El factor
itálico y la economía de exportación (ss I a.C.- I d.C.). In BERNAL, D & LAGÓSTENA, L. - Figlinae Baeticae.
BAR International Series 1266, 589-606.
BERNAL, D. et al. (2004) - Los hornos púnicos de praefurnium escalonado (ss.III y II a.C.). Reflexiones a
raíz del alfar de La Milagrosa (San Fernando, Cádiz). In BERNAL, D & LAGOSTENA, L. - Figlinae Baeticae.
BAR International Series 1266, 607-620.
MORAIS, R.; FERNÁNDEZ, A.; BRAGA, C.V. B. (2013) - Contextos cerâmicos de la transición de Era y de la
primera mitad del s. I provenientes de la necrópolis de la vía XVII de Bracara Augusta (Braga, Portugal).
In SFECAG, Actes du Congrès d’ Amiens, 313-326.
NAVEIRO LOPEZ, J. L. (1991) - El comercio antiguo en el N.W. Peninsular.Lectura historica del registro
arqueológico. A Coruña: Museu Arqueolóxico.
Portugaliae Monumenta Historica - Inquisitiones (1897). Lisboa, 1 (3-4).
SILVA, A. C. F. da (1986) - A Cultura Castreja no Noroeste de Portugal. Paços de Ferreira: Câmara
Municipal/Museu Arqueológico da Citânia de Sanfins.
SOEIRO, T. (1984) - Monte Mozinho. Apontamentos sobre a ocupação entre Sousa e Tâmega em época
romana. Penafiel. Boletim Municipal de Cultura, 3ª série, 1, 5-323.
SOEIRO, T. (1985-86) - A Suvidade de S. Mamede de Recezinhos: campanha de escavações 1985.
Penafiel. Boletim Municipal de Cultura, 3ª série, 2/3, 15-32.
SOEIRO, T. (1998) - O sítio romano da Bouça do Ouro, Boelhe. Cadernos do Museu, 4, 5-62.
SOEIRO, T. (2009-10) - Necrópole romana de Monteiras (Bustelo-Penafiel). Cadernos do Museu, 12/13,
5-221.
SOEIRO, T. (2019) - Castro de Monte Mozinho: roteiro. Penafiel: Museu Municipal.
SWAN, V. G. (1984) - The pottery kilns of roman Britain. London: H.M.S.O.

351
TERESA PIRES DE
CARVALHO

ANDRÉ NASCIMENTO

LAURA SOUSA
O CASTELO DE GAIA: A CERÂMICA DOS CONTEXTOS CASTREJOS1

TERESA PIRES DE CARVALHO


ANDRÉ NASCIMENTO
LAURA SOUSA

RESUMO
O Castelo de Gaia é um pequeno monte sobranceiro ao rio Douro, a 3,5 km da foz,
dominando a desembocadura do rio, provavelmente relacionado com o morro da Sé na
margem norte, desde épocas recuadas. A intervenção arqueológica levada a cabo entre
os anos 1999 e 2002 teve como objetivo determinar o potencial arqueológico ameaçado
por empreendimentos construtivos que ali tiveram lugar. O local escavado encontra-se na
encosta nordeste do Monte, que estava dividida em plataformas artificiais de 4 m ou 5 m de
altura descendo até ao rio.
Os trabalhos de investigação arqueológica permitiram percecionar ocupações humanas
neste local numa sucessão cronológica mais ou menos contínua desde épocas muito
recuadas até aos nossos dias.
Apresenta-se um estudo das cerâmicas exumadas do período castrejo (Idade do
Ferro/ romanização) contextualizadas em duas casas castrejas, descobertas em duas das
plataformas artificiais do Monte, procurando-se estabelecer as suas características e os
contextos estratigráficos em que apareceram.

PALAVRAS-CHAVE
Castelo de Gaia; cerâmica castreja; cronologias; contextos estratigráficos.

1
Este artigo contou com a inestimável colaboração da Laura Esteves (da Empatia-Arqueologia e Património),
Filipa Guimarães e Filipe Torre (da CG&LSC Arquitetos, Lda.), no desenho das peças, no tratamento dos
desenhos de campo e na paginação das imagens, num trabalho de paciência e resistência inesgotáveis, a
quem muito agradecemos.

355
ABSTRACT
The Gaia Castle Hillfort is a small hill overlooking the Douro River, 3.5 km from the
mouth, which it dominates, probably related to the Morro da Sé on the north bank, since
ancient times. The archaeological intervention carried out between 1999 and 2002 aimed
to determine the archaeological potential threatened by constructive undertakings that
would take place there. The excavated site lies on the northeastern slope, which was
divided into artificial platforms 4m or 5m high down to the river.
Archaeological research has allowed us to perceive human occupations in this place in
a more or less continuous chronological succession from very early times to the present
day. We present a study of the exhumed ceramics of the “castrejo” period (Iron Age
/ Romanization) contextualized by two houses, discovered in two of the hill’s artificial
platforms, trying to establish their characteristics and the stratigraphic contexts in which
they appear.

KEYWORDS
Gaia Hillfort; Iron Age Pottery; Chronologies; stratigraphic contexts.

356
INTRODUÇÃO

O Monte do Castelo de Gaia, situado numa posição estratégica que lhe permitia
controlar, do lado sul, o meandro do rio Douro já muito perto da sua foz e em estreito
contacto com o Morro da Sé, do outro lado do rio, desfrutava de uma localização
privilegiada no comércio marítimo e fluvial de bens.
Trata-se de uma zona de grande sensibilidade histórica e arqueológica, como o
comprovam a vária documentação (Barros 1919) e as escavações efetuadas no cimo
da colina (Silva 1984) e na Igreja do Bom Jesus de Gaia em local vizinho ao local da
escavação (Guimarães 1995).
A zona de intervenção localizou-se na encosta nordeste, que descia até ao rio em
plataformas artificiais formando socalcos de 4 m de altura. O local designado situava-se em
duas das plataformas, a superior à cota média de 36.40 m e a inferior a 32.20 m. Depois
da escavação, verificou-se que o perfil topográfico era muito declivoso, com diferenças de
cotas na ordem dos dois metros, o que provocou, ao longo das várias épocas de ocupação
(sobretudo a partir da castreja) vários trabalhos de aterros para nivelamento do solo, que
se sobrepuseram ao longo dos séculos.
A intervenção arqueológica foi uma medida de minimização de operações urbanísticas
a desenvolver no local, uma vez que ali iriam ser construídos edifícios para escritórios da
empresa Taylor’s Fonseca2. Na plataforma superior realizámos uma sondagem no exterior
de uma casa dos anos 50 do séc. XX, paralela ao muro de suporte de terras, que forneceu
vestígios de uma casa castreja com vestíbulo, apesar de ser uma área exígua e com fortes
constrangimentos de espaço. Na inferior, após a realização de uma sondagem (A) para
averiguar do potencial arqueológico da zona e que proporcionou a descoberta de uma
lareira estruturada (séc. V – III a.C.) no estrato acima do substrato granítico, passou-se
a uma metodologia diferente, de escavação em área, tendo-se localizado a única casa
castreja quase completa exumada, associada à lareira anteriormente descoberta, mas
afastada desta.
É objetivo deste trabalho dar a conhecer uma pequena amostra de cerâmicas castrejas
contextualizadas na escavação de uma casa castreja.

2
Os trabalhos desenvolveram-se entre 1999 e 2002.

357
CONTEXTOS ESTRATIGRÁFICOS

A estratigrafia dos socalcos artificiais do monte era constituída, nos estratos superiores
(Sondagem A), por camadas de grande potência, com muros de suporte construídos em
várias épocas (Fig. 1). A sucessão estratigráfica comum das duas plataformas começava
com três camadas de depósitos das eras contemporânea e moderna (UE 001 a 003, com
entulhos, restos de construções, muitos materiais misturados: tachos de asa interior,
pratos de engobe vermelho, um machado de pedra polida, fundo de ânfora, cerâmica
vidrada séc. XVIII / XIX, garrafas atuais, entre muitos outros), seguidas de várias fases de
ocupação e abandono de várias épocas. À medida que nos aproximavamos dos estratos
mais antigos, a potência ia diminuindo e as camadas mostravam-se sensivelmente
homogéneas.

Fig. 1 - Corte da Sondagem A com o piso associado à casa castreja.

358
A UE 004, de derrube, marca uma diferença grande no espólio das que lhe estão
inferiores. Segue-se uma camada maioritariamente de materiais romanos (005), alguns
tardios misturados com castrejos e raras incursões de vidrados de época moderna.
A seguinte, (006), numa zona restrita, está sobre um piso e só apresenta material
romano alto imperial e castrejo, correspondendo a uma ocupação castreja já romanizada.
Segue-se uma camada de ocupação anterior (008) que, juntamente com a 006 e o piso
terão cortado a camada mais antiga (007), de um período castrejo correspondente à
primeira ocupação da casa, que aqui apenas forneceu materiais castrejos e que antecedia
o afloramento granítico onde assentava a lareira.
A primeira casa castreja descoberta, situada na plataforma superior, foi o resultado de uma
sondagem bastante pequena, no local onde ia ser implantada uma sapata relacionada com
o restauro da casa do séc. XX. Mostrava uma aparelho irregular, mas sólido, constituído por
pedras aparelhadas, unidas por argamassa, fruto já de uma época tardia castreja, ao longo
do séc. I a.C com arranque de muro de vestíbulo (Fig. 2). A exiguidade do espaço tornou
impossível o alargamento da escavação e a perceção do perímero total da casa.

Fig. 2 - Alçado da casa castreja com arranque de Fig. 3 - Casa castreja da plataforma inferior.
vestíbulo.

A segunda casa, a poucos metros desta, revelou momentos distintos de ocupação,


patentes em dois pisos sobrepostos (o mais antigo muito destruído e fragmentado),
separados por uma camada de incêndio a que se seguiu a reconstituição do aparelho
da casa: a anterior, com aparelho constituído por pedra míuda (obtida por clivagem sem
vestígios de pico de ferro na primeira fase), alternada com outra de médias dimensões,
irregular e de juntas secas, com várias etapas de ocupação de pisos finos. Esta construção
foi reformada no tempo da romanização que reforçou alguns paramentos dos muros,

359
mas mantendo um aparelho totalmente
diferente da casa com vestíbulo (Fig. 3).
Sob o piso da casa mais antiga, exterior
a ela e numa zona em que se encontrava
destruída, apareceu uma lareira
(Sondagem A), que não sabemos se de ar
livre ou se integrada em alguma habitação
de estrutura perecível (Fig. 4).
Posteriormente, no decurso da
escavação em área, exumámos uma
muralha romana, com 2 m de espessura,
que rodearia o povoado, envolvendo
todo o monte, aqui a uma altitude que
Fig. 4 - Planta da lareira no exterior da segunda casa
varia entre os 26 e 27 m, escavada numa castreja.

extensão de cerca de 45 metros. De construção habitual neste tipo de estrutura dos inícios
do séc. I, apresenta uma largura média de 2,20, construída em dois paramentos laterais
com o interior preenchido por pedra média disposta irregularmente.
Cronologicamente, o elemento construído mais antigo é a lareira estruturada
com pedras à volta e piso argiloso compactado, com vestígios de carvões e fuligem,
relacionada com fragmentos cerâmicos feitos manualmente ou a torno lento com
acabamentos manuais, de paredes relativamente finas e perfil em S, de pastas arenosas,
com muitos elementos não plásticos (enp), nomeadamente quartzo, em grãos mal
calibrados e com alguma mica, sobretudo no exterior.
Num outro estrato, já associado à primeira ocupação da casa castreja, que datamos entre
os séc. IV-II a.C., a cerâmica é semelhante à anteriormente descrita aparecendo, também,
fragmentos decorados com círculos concêntricos e triângulos pontilhados atribuíveis ao
mesmo horizonte cronológico (Almeida, 1975, p. 185-86; SILVA, 1986, p. 122 - 125).
A fase seguinte reflete já contactos romanos, talvez sugerindo dois momentos, um
mais incipiente e outro mais romanizado, onde se registou a segunda ocupação da casa
castreja redonda, que continuou a não apresentar material lítico com vestígios de pico de
metal. Pensamos que esta “casa” teve utilização permanente até à segunda ocupação,

360
Fig. 5 - Contextos estratigráficos da cerâmica castreja.

361
fornecendo espólio maioritariamente castrejo associado a alguns fragmentos romanos, tal
como anforas. O material exumado desta fase é o habitual conjunto de cerâmica micácea
castreja, com fragmentos de anforas Haltern 70, sigillatas sudgálicas, cinzenta fina polida,
jarros, bilhas e púcaros em pasta comum, constituíndo o espólio mais disperso por toda a
área da escavação se descontarmos as camadas de entulho moderno.

ELEMENTOS DE ESTUDO DA CERÂMICA

O espólio objeto de análise é oriundo, na sua maior parte, de unidades relacionadas


com ocupação castreja e romana, embora se refiram alguns exemplares considerados
significativos das camadas superiores, exumados dos níveis estratigráficos que
contextualizam as casas castrejas intervencionadas. O estado fragmentário das cerâmicas
não permitiu a reconstituição global de nenhuma forma. No entanto, podemos percecionar
púcaros, de vários tamanhos e espessuras, potes, panelas, algumas com vestígios de
fuligem, taças de paredes finas e os dolia, muito polidos. A maioria dos perfis são em S,
mais ou menos alongado, sendo raros os bordos em aresta. As decorações são as
características desta cerâmica, com técnica incisa e de estampagem, em séries de
ssss verticais ou horizontais, círculos concêntricos, triangulos, linhas incisas simples ou
formando “espinha de peixe”, em composições decorativas variadas. Os acabamentos das
superfícies dividem-se globalmente em duas técnicas: a do alisamento, mais ou menos
intenso, que nas peças da época romanizada se apresentam cheias de mica, pressupondo
um alisamento não muito intenso e o polimento, que confere às peças um brilho metálico.
A técnica é manual, ou de torno lento com finalização manual, essencialmente nos estratos
mais antigos.
As dificuldades de atribuição cronológica da periodização da cerâmica castreja são
visíveis na tabela delineada por González Ruibal (2007: 59), onde se registam as
diferentes propostas evolutivas da cultura castreja, com base na cerâmica, de C.A. Ferreira
de Almeida (1983), A.C. Ferreira da Silva (1986), Manuela Martins (1990), Peña Santos
(1992), posteriormente acrescentada por Adolfo Fernández (2008: 222), que incluiu
a periodização daquele autor (González Ruibal 2007). De facto, só na última fase, da

362
romanização, é que os vários autores concordam, estabelecendo o período entre os fins do
séc. II aC e primeira metade do séc. I dC, como uma fase relativamente padronizada quer
nas formas, quer nos fabricos.
Quanto à definição de uma tipologia, como diz Josefa Rey Castriñeira (2014: 289),
“so há uma tipologia estética”, visualmente percebida, pois, segundo aquela autora, “não
é possível falar de tradições técnicas, uma vez que ainda estão por analisar” todos os
atributos que concorrem para uma definição tipológica: fabrico, com todas as implicações
tecnológicas de elaboração das pastas e tratamento de superfícies, associado à forma,
com o devido enquadramento cronológico. Assim, pensamos que todos os contributos de
análise e apresentação de conjuntos cerâmicos, associados a cronologias tão finas quanto
possível, são dados a acrescentar para o concurso de tal desígnio.
Também no que toca às “regiões oleiras”, não há convergência, esgrimindo-se dados
contraditórios, entre uma atribuição a três áreas oleiras (Rey Castiñeira 1991: 185; 2014:
290), ou a oito (González Ruibal 2007: 458), ficando a área que compreende o noroeste
português um pouco à margem destas definições ou, no caso do último autor, analisando o
caso português só a partir dos finais do séc. II aC, já em fase de romanização.
Torna-se, assim, difícil integrar a pequena amostra da escavação da Taylor’s Fonseca no
quadro geral mais lato dos conjuntos analisados e distintivos referidos por aqueles autores.
A característica mais individualizadora deste grupo cerâmico é a variabilidade das
pastas, mais do que das formas. As pastas variam muito, quer na composição, quer nos
enp nomeadamente no seu calibre. As cores são globalmente escuras, fruto de cozedura
redutora, mas também as há rosadas, da “cor da terra”. Os acabamentos, por vezes mal
alisados, outras fruto de bom polimento.
Na definição das formas também há variações grandes quer na nomenclatura
(a atribuição de “jarras” a pequenos pucarinhos baixos e por vezes bojudos, cuja ideia,
para nós, remete para uma peça alta), quer no conceito de forma que, por vezes tem o
mesmo nome para desenhos diferentes (a indistinção entre “potes” e “panelas”) ou, ainda,
na escolha da funcionalidade como argumento tipológico na consideração das dimensões
(Caso de Rey Castiñeira 2014: 297, que discorda da atribuição de panela de cozinha
referente à forma de vaso “tipo Cameixa” por considerar que o seu pequeno tamanho,
fabrico e cuidado tratamento final a afastam de um uso culinário de ir ao lume).

363
Posto isto, consideramos o reportório formal a partir da convenção estabelecida por
C.A.F. de Almeida, mas reduzindo o número de formas para se adaptarem à realidade
estudada, cuja fragmentação das amostras não permite a verificação de atributos nem de
perfil completo. Uma das características a assinalar é o tamanho de razoáveis proporções
da maioria das peças, rareando as de pequenas dimensões.
Começando pelos púcaros (Fig. 6), apresentam-se com perfis e dimensões variados
(“não há dois vasos castrejos verdadeiramente iguais”, Almeida 1975: 172), pouco ou
muito esvasados, mas sempre com perfil em S, mais ou menos alongado. As pastas são
relativamente finas, nem todas homogéneas na cor e alisadas ou polidas. Os exemplares
que apareceram na camada mais antiga de ocupação, nesta seleção, apresentam pastas
e formas mais homogéneas na cor e textura, mas com acabamentos diferentes: ora
fortemente alisadas, quase polidas, ou rugosas e foi a única forma que apareceu nesta
camada (nº 4 e 7). Os restantes números desta forma encontravam-se em estratos de
ocupação castreja pré-romana, mas também em ocupações perto da mudança de era.
Há, de seguida, um pequeno conjunto de taças – formas abertas com bordo em aba
soerguida ou plana, e paredes verticais ou ligeiramente inclinadas, com o mesmo tipo de
pastas dos púcaros. Em termos de dimensões são mais homogéneas que os púcaros,
mas sempre de paredes relativamente finas (nº 9 a 11). Uma delas, n.º 11 proveio de uma
camada de ocupação pré-romana, tendo uma pasta laranja, fina, com poucos, mas grandes
grãos de quartzo mal calibrado, superfície muito polida, escura.
Na figura 7, apresentamos um conjunto heterogéneo na forma mas de dimensões
afins, que apontamos como panelas (as que têm vestígios de fuligem), mas cujos perfis
parecem ser de grandes taças, onde impera a variabilidade formal, mas com alguns traços
semelhantes: paredes resistentes e relativamente espessas e abertas. Há um exemplar
referido por Gozález Rubial (2007: 469, Fig. 4.135), uma malga do tipo “Corredoiras”
aparecido em Castrovite (NW de Pontevedra), cuja forma e dimensões se assemelham
ao nº 16 e que funcionaria para cozinhar e servir alimentos. Poucas são as peças cujo
perfil se repete e também as pastas são diferentes: umas são mais grosseiras, com
desengordurantes grandes, umas fraturas são laminadas, outras onduladas irregulares,
outras muito compactas. As cores também variam entre o cinzento, o castanho e o
avermelhado. Provêm na sua maioria de ambientes castrejos romanizados, exceto

364
o nº 13, cujo perfil se assemelha mais a um grande púcaro sendo o que apresenta a pasta
mais grosseira, com grandes grãos de quartzo a espreitar e que se relaciona com uma fase
de ocupação anterior.
A peça 18 é uma peça muito peculiar que faz vagamente lembrar a forma 21 da tabela
de C.A.Ferreira de Almeida (Almeida 1975: 196) a que A. C. Ferreira da Silva chama taça
(Silva, 1986: p. 603, 7).
Os dolia (Fig. 8) são bastante padronizados, alguns com excelente acabamento muito
polido, de pastas curiosamente finas ou médias, bem amassadas e calibradas. Aparecem
em ambiente romanizado.
Os potes também são padronizados, de pasta mediana, pouco regular, de acabamentos
alisados, com bordo em aba curta e colo bem pronunciado (nº 8, da fig. 5 e nº 22, 23 e possi-
velmente o fundo 21). Os nº 21 e 23 apareceram numa camada de ocupação pré-romana.
Terminamos esta apresentação com um conjunto de fundos de paredes finas,
provavelmente associados aos púcaros.
Em termos de funcionalidade, podemos inferir que a população que aqui habitava, tinha
uma panóplia razoável de recipientes, embora faltassem os tamanhos pequenos, como os
pucarinhos. A função de beber podia ser satisfeita pelas tacinhas (que também serviriam
para comer) ou algum púcaro mais pequeno. Para armazenar e cozinhar, dispunham de
vários recipientes de perfis variáveis.
No capítulo das decorações, também este lote cerâmico se afigura variado (Fig. 9).
Sendo impossível apresentar contabilizações da percentagem de fragmentos decorados
no conjunto estudado, uma vez que não corresponde ao total de fragmentos castrejos da
escavação, é de notar o número relativamente elevado de exemplos decorados, cerca de
21% da amostra (na região Rías Baixas-Minho, que González Ruibal considera ser uma
mesma região oleira, o autor estabelece os 15% de cerâmica decorada como uma média
para os castros dessa zona, González Ruibal 2007, p. 472). Estes, variam nas pastas,
nos acabamentos e nas escolhas decorativas, sendo um bom referente as camadas
estratigráficas em que apareceram.
Relativamente às técnicas usadas, encontramos quase em igual número a incisão e
a estampagem, estando ausente, na amostra em estudo, a plástica. A incisão aparece
simples, apenas uma banda de linhas diagonais, ou em espinha de peixe, em ziguezague,

365
geralmente separadas por caneluras. Um dos fragmentos mais interessantes é o nº 11, que
expressa uma composição de linhas curtas em direções diferentes, separadas por finas
caneluras horizontais ou diagonais. A pasta é cinzenta e apareceu no nível de abandono
da casa castreja. O fragmento com decoração em espinha de peixe, nº 6, tem um
fortíssimo polimento exterior e é manual, parecendo antigo, mas apareceu numa camada
de ocupação castreja romanizada. Há ainda um fragmento de aspeto muito antigo (nº 12),
cor de laranja, pasta fina, mas de superfície muito degradada, que apresenta um motivo
pontilhado, do mesmo fabrico de outro com círculos concêntricos, as duas decorações
muito frustres. As estampadas, seguem vários padrões organizativos, desde bandas de
circulos concêntricos simples, formando triangulos (nº 13 e nº 3, cujo desenho parece
formar um triângulo de círculos, ambas de desenho semelhante a exemplares de Romariz,
cfr. Silva 2007, Est. LXIX, 591, Est. LXIX, 582), ou associados a triângulos de vértices
confrontados (nº 9, motivo mais uma vez semelhante a Romariz , cfr. Silva 2007, Est. LXIX,
613), séries de SSS quase horizontais divididas por caneluras (nº5, 10).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O espólio cerâmico castrejo do Castelo de Gaia, apesar de ser uma amostra muito
reduzida do enorme manancial de fragmentos que esta escavação proporcionou,
restringindo-se aos contextos de uma casa castreja, permite percecionar alguns pontos
interessantes.
Apesar de ser um castro fortemente romanizado (como atestam a grande quantidade de
cerâmica romana de várias épocas, de importação, local ou regional e as estruturas a elas
ligadas), as formas castrejas não refletem grande influência do gosto romano, mantendo-
se nos perfis mais tradicionais desta cerâmica, não apresentando, por exemplo, os bordos
mais trabalhados e elaborados ou formas como panelas de asa em orelha.
O conjunto abordado, salvo algumas exceções, tem um sabor antigo, anterior à
romanização, não se vendo os pratos tão típicos dos castros do noroeste, nem as formas
de imitação romana com pasta castreja. Parece que a romanização do castro, talvez muito
marcada por relações comerciais intensas, foi mais incisiva a nível dos materiais do que

366
noutros sítios. As relações comerciais existiam, comprovadamente, em tempos anteriores,
como o atestam os fragmentos de cerâmica púnica ou de tradição púnica cuja importação
terá ocorrido entre os séc. V - III a.C. (SILVA, 1984, p. 46), descobertos no alto da colina.
O único fragmento que nos parece ser de importação é o nº 16 da fig. 9, que possui uma
pasta fortemente laranja, fina, coberto de engobe escuro e decoração constituída por duas
caneluras horizontais que limitam ténues linhas em ziguezague, mas apareceu em estratos
de muito remeximento, sendo impossível de contextualizar cronologicamente.
A grande variabilidade formal e de fabrico coloca interrogações sobre quem fazia estes
recipientes. O facto de se situar num local propício para comércio fluvial e marítimo,
associado à proximidade de outros castros (logo à partida, o Morro da Sé, mas também
Guifões, na foz do Leça, Mafamude, do lado sul do rio, ou, um pouco mais longe, Ovil
ou mesmo Romariz), faz supor uma intensa troca comercial, mesmo em cerâmica de
cariz local/regional (Fernãndez 2008, p. 236). Ou haveria no castro várias tradições
oleiras, amassando o barro de maneiras distintas com diferentes associações de
desengordurantes. É um facto que as maiores variações se encontram em peças de
épocas já de contactos romanos, numa altura em que as formas tendem a alargar-se para
se adaptarem a funções e usos diferentes, perdendo o uso doméstico local.

367
Fig. 6 - Púcaros e tacinhas. Fig. 7 - Panelas, taças grandes.

Fig. 8 - Dolia, Potes e fundos. Fig. 9 - Fragmentos decorados.

368
Referências bibliográficas:

Almeida, C.A.F. de (1974): Cerâmica Castreja. Revista de Guimarães 84 (1-4), pp. 171-197.
Barros, J. de (1919). Geographia d’entre Douro e Minho e Tras-os-Montes. Porto: Biblioteca Pública
Municipal do Porto. (Manuscritos inéditos; 5).
Carvalho, T. P. de, & Fortuna, J. (2000). Muralha Romana Descoberta no Castelo de Gaia. Al-madan, II.ª
Série, n.º 9 (Outubro 2000). Almada: Centro de Arqueologia de Almada, 158, 160 e 162.
Carvalho, T. P. de (2003). As ocupações no Castelo de Gaia – problemas de Arqueologia Urbana. Revista da
Faculdade de Letras – Ciências e Técnicas do Património, I Série vol. 2. Porto: FLUP-DCTP, 823-841.
Cobas Fernández, I.; Prieto Martinez, Mª. P. (1999): “Introducción a la Cerámica Prehistórica y
Protohistórica en Gallicia”, TAPA 17, LAFC, USS, Santiago de Compostela.
Fernández Fernández, A. (2008): “Cerámicas del mundo castrexo del NO Pninsular. Problemática y
principales producciones”. In Bernal e Ribera (eds. Científicos), Cerámicas hispanorromanos. Un Estado de la
cuestión. XXVI Congreso Internacional Rei cretariae Romanae Fautores. Pp. 221-243.
González Ruibal, A. (2006): “Galaicos. Poder y comunidad en el noroeste de la Península Ibérica (1200 a.C
- 50 d.C.)”. Brigantium, vol. 18.Museo Arqueolóxico e Histórico Castelo de San Antón
A Coruña.
Guimarães, J. G. (1995): Gaia e Vila Nova na Idade Média. Arqueologia de uma área ribeirinha,
Universidade Portucalense, Porto.
Lemos, F.S. (2008): “A Cultura Castreja no Minho. Espaço nuclear dos grandes povoados proto-históricos
do Noroeste peninsular”. Minho - Traços da Identidade, Universidade do Minho, pp.122-213.
Martins, M. (1990): “O povoamento proto-histórico e a romanização da bacia do curso médio do Cávado”.
Monografias. Cadernos de Arqueologia. Braga.
Rey Castiñeiras, J. (1990-91): “Cerámica indígena de los castros costeros de la Galicia Occidental: Rías
Bajas. Valoración dentro del contexto general de la Cultura Castreña”, Castrelos 3-4, pp. 141-163.
Rey Castiñeiras, J. (2014): “A olaria castreja de tradição Minho”, Monografias ex Officina Hispana II, Tomo I,
pp. 289-302.
Silva, A. C. F. da (1984): “Aspectos da Proto-história e romanização no Concelho de Vila Nova de Gaia e
problemática do seu povoamento”, Gaya, 2, p. 39 – 58.
Silva, A. C. F. da (2007): A Cultura Castreja no Noroeste de Portugal, Museu Arqueológico da Citânia de
Sanfins (2.ª Edição).

369
JORGE F.
SALVADOR

ANTÓNIO
MANUEL
S. P. SILVA
CERÂMICA DA IDADE DO FERRO DO CASTRO DE OVIL
(ESPINHO, AVEIRO)

JORGE FERNANDO SALVADOR1


ANTÓNIO MANUEL S. P. SILVA2

Arqueólogo. Câmara Municipal de Espinho. jfmdsal@gmail.com


1

Arqueólogo. Investigador integrado do CITCEM - Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e


2

Memória (UP); Centro de Arqueologia de Arouca; amspsilva@hotmail.com

RESUMO
O castro de Ovil é um pequeno povoado da Idade do Ferro da fachada atlântica
da península, objeto de escavações arqueológicas entre 1981 e 2006. Apresentam-
se as cerâmicas proto-históricas do povoado, a par de algumas importações, com
especial incidência nos materiais da fase mais antiga de ocupação (séculos IV-III a.C.),
descrevendo-se as formas representadas e a sua proporção relativa. Ao longo da
existência do castro (até aos começos do século I d.C.) observa-se notória estabilidade
e aparentemente pouca diversificação das formas e decorações da cerâmica indígena.

PALAVRAS-CHAVE
Castro de Ovil, Cerâmica Proto-histórica, Cerâmica castreja. Ânforas.

ABSTRACT
Castro of Ovil is a small Iron Age hillfort of the Atlantic seaboard of the peninsula, object
of archaeological excavations between 1981 and 2006. The text presents the proto-historic
ceramics of the site, as well as some imports, with a special focus on materials from the
earliest stage of occupation (IV-III centuries BC), describing the forms represented and their
relative proportion. Throughout the castro’s life-span (up to the beginning of the 1st

373
century A.D.) there is remarkable stability and apparently little diversification of forms and
decorations of indigenous pottery.

KEYWORDS
Castro of Ovil; Proto-historic pottery; Castros’ pottery; Amphorae.

374
O CASTRO DE OVIL

O Castro de Ovil situa-se na freguesia de Paramos, concelho de Espinho, distrito de


Aveiro3. Situado actualmente a 2.400 metros do mar, o castro assenta numa pequena colina
de 52,8 metros de cota máxima que integra o primeiro cordão orográfico que se sucede à
planície litoral, encaixado sobre o meandro da ribeira de Riomaior. Trata-se de um pequeno
povoado da Idade do Ferro, com uma área de ocupação a rondar os 1,2 ha.
Do ponto de vista hidrográfico, a região é atravessada por um pequeno conjunto de
ribeiros, paralelos entre si, que escapam às bacias do Douro e Vouga correndo em direção
ao oceano. É o caso da ribeira de Riomaior que contorna as vertentes Sul e Oeste do
Castro de Ovil, assumindo-se como elemento preponderante na estruturação defensiva do
povoado (Fig. 1). Esta ribeira constitui assim o limite Sul e Oeste do recinto. O leito cavado
pela ribeira (de nível hidrostático mais elevado atualmente pela construção de um açude)
e os afloramentos rochosos constituem-se em defesa suficiente e aparentemente única
naqueles sectores.
A Norte e a Este do povoado, o menor declive do terreno obrigou à construção de um
sistema defensivo constituído por um profundo fosso, com cerca de quinze metros de
desnível e uma largura que ronda os oito metros, e que ocorre duplicado em parte da sua
extensão (Fig. 1). Este sistema defensivo não parece ter sido complementado por qualquer
estrutura de delimitação em pedra ou terra, sendo a este propósito um caso aparentemente
singular na região do Entre Douro e Vouga litoral, já que a generalidade dos povoados
coevos associa os fossos a linhas de muralha, como sucede nos castros de Sandim e
Monte Murado (Vila Nova de Gaia), Ossela (Oliveira de Azeméis) e tantos outros (Silva,
1994; 2005; Silva & Pereira, 2020).
Os trabalhos arqueológicos, desenvolvidos de forma intermitente entre 1981 e 2006
(Ferreira & Silva, 1984; 1985; Salvador & Silva, 2000, 2004, 2010; Silva & Salvador, 2008),
incidiram em diversos sectores do povoado (Fig. 1) e vieram a revelar que as origens do
povoamento do Castro de Ovil remontam ao final do século IV ou ao início do século III a.C.,
considerando os materiais recolhidos e uma datação por radiocarbono (Salvador & Silva,

3
As coordenadas geográficas de um ponto central são: 40º 58’ 45’’ N; 8º 37’ 15’’ W (Carta Militar de Portugal,
folha 143, Espinho, escala 1:25.000).

375
2010).

Fig. 1 - Áreas escavadas no Castro de Ovil (1981-2005). Levantamento: C. M. Espinho.

376
O horizonte de ocupação dos primeiros habitantes do povoado evidencia-se em diversas
estruturas do sector B (Fig. 1), designadamente num fundo de construção sub-retangular
talhada no afloramento (est. XIII) e em duas construções de planta circular (IX e XI).
A localização do povoado numa área de xisto veio condicionar os materiais construtivos,
já que o xisto local é uma rocha branda e com alto grau de desagregação. As estruturas
habitacionais circulares encontram-se definidas por muros de aparelho irregular em xisto
e a pedra unida por terra argilosa. No sector F corresponderá a este período a estrutura
circular XXV. Os restos de madeira carbonizada da ombreira da porta desta construção
foram datados por 14C obtendo-se a data de 390-180 calBC (Sac 2019), apontando assim
para o século IV a.C. (ou, com menor probabilidade, para o séc. III a.C.)4.
A fase intermédia de ocupação do povoado, entre os séculos III e II a.C., foi identificada
nos sectores B, E e F. Entre outros aspectos, parece corresponder, em diversos sectores a
um momento em que edificações circulares anteriores são dotadas de vestíbulos, podendo
também interpretar-se como particularmente típica desta fase uma evidente nuclearização
das construções em torno de pátios lajeados comuns. No sector F, uma amostra de carvões
recolhida nos níveis de incêndio e destruição da estrutura XXIV foi datada por radiocarbono
e calibrada para o séc. II a.C.5, e no sector E, de certa forma apoiando esta cronologia,
identificamos ânfora gaditana integrada no conjunto das produções do séc. III/II a.C. da
Baía de Cádiz6.
A fase final de ocupação do povoado terá ocorrido entre os séculos II e I a.C. e encontra-
se perfeitamente documentada na ampliação do núcleo habitacional do sector B (estruturas
I, II e III) e, provavelmente, noutras zonas do castro. Ao nível artefatual, este horizonte de
ocupação do sector B forneceu material anfórico do tipo Dressel 1, Oberaden 83 e Lusitana
da época de Augusto7 e ainda um exemplar de fíbula anular romana, permitindo supor que
o abandono deste núcleo e do próprio povoado terá ocorrido entre o final do século I a.C. e
o início da centúria seguinte.

4
A data convencional de radiocarbono (2200+-40) foi calibrada, fazendo uso da curva de calibração IntCal04
(Reimer et al., 2004) e do programa OxCal v4.1.03 (Ramsey, 2001), por A. M. Monge Soares, do Instituto
Tecnológico e Nuclear, entidade onde foram realizadas as datações e a quem agradecemos a amável e
competente colaboração.
5
Ou, com menor probabilidade para a última metade do séc. III ou primeira metade do séc. I a.C. Calibração
e comentário à data convencional de radiocarbono (Sac-2020 - 2120+-40) por A. Monge Soares. Cfr. nota anterior.
6
Agradecemos a J. García Fernánde e A. Sáez Romero (Univ. de Sevilla) a classificação destas peças por
ocasião da reunião de trabalho do Proyecto Estrímnides no Museu do Mar (Vigo), em 16.06.2016.
7
Classificação de R. Morais (Univ. do Porto), a quem agradecemos a gentil colaboração.

377
CONTEXTOS ARQUEOLÓGICOS E CERÂMICA DA OCUPAÇÃO INICIAL

As cerâmicas agora analisadas mais em detalhe são provenientes dos contextos


arqueológicos mais antigos, ou seja, das primeiras gerações de habitantes do castro de Ovil.
Entre 1997 e 1998 realizamos intervenções arqueológicas no, sector B, que permitiram
identificar os contextos da fase inicial de ocupação deste núcleo habitacional. Nestes
contextos salientamos as Unidades Estratigráficas (UE) 220 e 236, níveis de ocupação que
cobrem o afloramento nas áreas das estruturas circulares IX e XI, fornecendo um pequeno
mas significativo conjunto cerâmico.
No sector F, as intervenções realizadas no âmbito do estudo de impacte do então
projetado Centro Interpretativo do castro (Salvador, Silva & Sárria, 2005a; 2005b)
identificaram vestígios do alicerce da estrutura circular XXV, datada do século IV a.C. e
testemunhando a ocupação mais antiga do local. Esta estrutura encontrava-se articulada
com as UE 2006 e 2033, finas mas extensas camadas de ocupação assentes sobre o
afloramento xistoso. Para além das formas cerâmicas aqui analisadas, estas unidades
forneceram alguns fragmentos de ânfora de importação meridional, três contas de colar
em pasta vítrea e uma fíbula de tipo Sabroso/Ponte 22a, peça com uma cronologia ampla,
entre a segunda metade do séc. VII e o séc. III a.C. (Ponte, 2006, pp. 218-224).
Revendo e atualizando a quantificação e a seriação tipológica da olaria mais antiga do
castro verificámos que neste subconjunto dos perto de 47 000 fragmentos recolhidos em
todas as campanhas, contabilizado em cerca de 4 500 fragmentos, os morfotipos da Fase I
de ocupação identificados com alguma segurança ascendem a 71 vasilhas (contra 164 da
fase intermédia e 92 da fase final de ocupação)8, podendo distribuir-se por cinco grandes
tipos (Fig. 2), que adiante se descrevem.

8
A distribuição morfológica do material cerâmico decorre da quantificação dos tipos após a sua reconstituição,
correspondendo por isso, de um modo geral, ao “Número Mínimo de Indivíduos”.

378
Fig. 2 - Formas cerâmicas identificadas nos contextos de ocupação inicial.

PANELAS

As panelas constituem uma das formas mais representadas em Ovil (Fig. 5). Estes
recipientes destinavam-se à cozedura de alimentos ou aquecimento de líquidos, função
que se encontra claramente documentada pelos recorrentes vestígios de exposição ao
fogo nas superfícies exteriores. Nos contextos da ocupação inicial foram caracterizadas 24
panelas que apresentam geralmente um perfil em S mais ou menos acentuado (o diâmetro
do bordo varia entre os 120 e os 160 mm.) e paredes finas. As bases analisadas sublinham
a predominância de fundos rasos em aresta com diâmetros entre os 110 e os 140 mm.
As pastas, arenosas e micáceas, são maioritariamente de textura relativamente
compacta e homogénea. As tonalidades situam-se entre o castanho e o castanho
avermelhado e, mais raramente, escuras. As superfícies encontram-se regularizadas e
apresentam os característicos sinais de exposição ao fogo no exterior, como se disse. As
cozeduras variam entre o razoável e o deficientes, em ambiente oxidante e, raramente, em
ambiente redutor. Registamos diversos exemplares manuais mas também peças montadas
em torno. As panelas raramente surgem decoradas. Mas por vezes podemos observar
linhas incisas (Fig. 3, nº 422) ou, mais raramente, cordões plásticos.

379
Fig. 3 - Panelas da fase mais antiga do castro de Ovil (escala 1:3).

PÚCAROS

Os púcaros teriam como função o serviço de mesa durante a refeição, para servir
líquidos. No horizonte de ocupação primitiva do povoado foram classificados dez púcaros
caracterizados essencialmente por um perfil em S de colo alongado e paredes finas.
O diâmetro dos bordos oscila entre os 90 e os 140 mm. Nesta caracterização 30% dos
exemplares estudados correspondem a asas com arranque ao nível do bordo e que ligam à
parte superior da pança (Fig. 4, números 2001 e 2005). Os fundos são rasos, em aresta ou
em bolacha, e apresentam diâmetros entre os 65 e os 100 mm.
As pastas são homogéneas com presença uniforme de elementos não plásticos de calibre
médio. As tonalidades das pastas variam entre o castanho e o castanho avermelhado.
As superfícies exteriores são regularizadas ou alisadas. As cozeduras classificáveis
como razoáveis ou boas. Registamos exemplares montados a torno e outros que indiciam
um fabrico manual.
Na fase intermédia e final da ocupação do povoado identificamos um conjunto de
púcaros com maior variedade formal, nomeadamente asas que ligam a parte superior à
média da pança, pastas relativamente depuradas, acabamentos mais cuidados e suporte
para diversas composições decorativas estampilhadas.

380
Fig. 4 - Púcaros da Fase I (escala 1:3).

POTES

Os potes têm uma função idêntica à das talhas, servindo igualmente para guardar
alimentos sólidos e líquidos. Mas se quanto à funcionalidade estão próximas das talhas,
a sua morfologia encontra maiores afinidades com as panelas. Na fase inicial, as doze
formas estudadas apresentam geralmente um perfil em S ou, mais raramente, um corpo
oval, e paredes relativamente finas. Os bordos, lançados para o exterior e por vezes com
vestígios de aplanamento interno, têm um diâmetro entre os 180 e os 260 mm (Figuras 5 e
6). Classificamos nesta tipologia dois fundos em aresta e um com ligeiro alargamento com
diâmetros compreendidos entre os 110 e os 210 mm.
As pastas são de textura compacta e homogénea. Possuem geralmente abundantes
partículas de areia e mica de dimensão média (0,5 a 1 mm). As tonalidades situam-se
entre o castanho e o castanho avermelhado. As superfícies encontram-se maioritariamente
regularizadas ou, menos frequentemente, alisadas (2 exemplares). As cozeduras são
razoáveis ou, por vezes, deficientes. Identificamos exemplares montados em torno e outros
de produção manual. O estado fragmentado dos potes exumados poderá ter contribuído
para a escassa identificação de exemplares decorados. Todavia podemos referir uma peça
decorada por cordão.

381
Fig. 5 - Panelas (422 e 2161) e pote (2133) do castro de Ovil).

TALHAS

As talhas são contentores de grandes dimensões para armazenamento de produtos


alimentares sólidos e líquidos. As talhas da fase inicial apresentam bordos lançados para
o exterior com superfície interna plana ou côncava e lábio boleado. Apenas um exemplar
apresentava um bordo em aba horizontal. As peças estudadas apresentam uma grande
amplitude de diâmetros que poderão oscilar entre os 260 e os 360 mm. Os fundos podem
ser descritos como relativamente altos em aresta ou com alargamentos mais ou menos
significativos e diâmetros próximos de 260 mm.
A qualidade das pastas oscila entre o homogéneo e o grosseiro. A sua composição
integra numerosos elementos arenosos e micáceos de dimensão média (0,5 a 1 mm.)
e grande (superior a 1 mm.). Ao nível das tonalidades predomina o castanho e o castanho
avermelhado. No entanto, são frequentes as mudanças na tonalidade das pastas destes
contentores, denunciando cozeduras muito irregulares. As superfícies apresentam-se
regularizadas ou mesmo rugosas no exterior e, por vezes, com vestígios de alisamento
no interior.

382
Fig. 6 - Potes dos níveis mais antigos (escala 1:3).

Fig. 7 - Talhas da Fase I (escala 1:3).

Nestes contextos iniciais identificamos cinco exemplares decorados por diferentes


motivos e técnicas: SS, triângulos rematados nos ângulos por círculos, triângulos
internamente preenchidos por linhas paralelas incisas, linhas cruzadas em xadrez (Fig. 7,
nº 423), punções circulares ao nível do bordo (Fig. 7, nº 2169) e cordões.
Nas fases intermédia e final de ocupação as talhas apresentam uma maior diversidade
de formas e dimensões que poderão indiciar alguma diversidade funcional destes
contentores.

383
VASOS DE SUSPENSÃO

Os vasos de suspensão de asas interiores horizontais destinavam-se a ir ao lume sobre


a lareira, função confirmada pela sua morfologia e pela sistemática presença de sinais de
exposição ao fogo no exterior das peças.
Os vasos de asas interiores horizontais do Castro de Ovil podem ser descritos como
grandes recipientes, largos e abertos (diâmetro do bordo entre os 400 e os 500 mm.),
em tronco de cone relativamente baixo com paredes direitas ou ligeiramente arqueadas
espessando para o bordo e fundo raso. Nos contextos de ocupação inicial do povoado
foram exumadas cinco asas interiores de secção circular aplicadas na parte superior
das paredes com os arranques em plano horizontal. Apresentam pastas homogéneas
ou grosseiras com abundantes grãos de quartzo e mica de calibre médio (0,5 a 1 mm.)
ou grande (superior a 1 mm.). A tonalidade predominante das pastas é o castanho e o
acinzentado.

ASSADEIRA

A UE 2006 forneceu 9 fragmentos de uma assadeira rectangular de fundo raso e


paredes ligeiramente arqueadas e inclinadas para o exterior (Fig. 8, nº 2130)9.
Apresenta uma pasta de textura homogénea e compacta de tonalidade castanha
avermelhada com elementos não plásticos compostos por quartzo e mica de calibre médio
e cozedura razoável. A superfície exterior encontra-se regularizada e com vestígios de
exposição ao fogo. Na sua face interna são evidentes os vestígios de alisamento. Fabrico
manual.

9
Os desenhos das cerâmicas que ilustram este artigo são da autoria de Adriano Ferreira (Gabinete de
Arqueologia da C.M. Espinho).

384
Fig. 8 - Assadeira retangular da fase mais antiga de Ovil (escala 1:3).

CERÂMICAS DE IMPORTAÇÃO

A proximidade do povoado à antiga Lagoa de Ovil, actual Barrinha de Paramos/Esmoriz,


aberta ao mar até aos séculos XII/XIII, formando uma enseada que permitia a atracagem
de navios, terá favorecido o contacto com fluxos comerciais marítimos.
Talvez por essa razão, os estratos de ocupação inicial do castro de Ovil forneceram 14
pequenos fragmentos de ânfora de difícil descriminação, tendo sido um deles classificado
como pertencente à forma T-12.1.1.1. (Ramon Torres, 1995), ânfora de produção gaditana
de influência púnica10, de conteúdo piscícola, cuja circulação pelas costas atlânticas parece
inserir-se numa primeira fase de contactos com o noroeste peninsular, balizada entre

385
o segundo quartel do século IV a.C. e os começos do século I a.C. (Ramon Torres, 1995,
pp. 233-239; Sáez Romero, 2008, pp. 530-534; Mateo Corredor, 2016, pp. 26) mas que em
Ovil parece acusar uma presença relativamente antiga.

NOTA FINAL

Esta observação mais cuidada – mas não necessariamente definitiva – dos contextos
cerâmicos mais antigos do castro de Ovil propiciou que revisitássemos a louça utilizada
no povoado numa dupla perspetiva sincrónica e diacrónica. Talvez sem grande surpresa,
já que algo idêntico, parece ocorrer no vizinho castro de Salreu, Estarreja11, a imagem
que parece colher-se da olaria castreja de Ovil é essencialmente a de uma grande
homogeneidade e estabilidade temporal.
Entre a ocupação mais antiga (séculos IV-III a.C.) e a fase final do povoado (sécs. II a.C.
– inícios I d.C.) observa-se, naturalmente, um declínio da modelação manual, mas o elenco
formal e a panóplia ornamental mantêm-se relativamente comuns.
A partir da fase intermédia (séculos III-II a.C.) parece pressentir-se uma tendência
para uma maior variedade formal de púcaros e talhas e talvez uma maior complexidade
na organização decorativa, mas estes dados requerem ainda aprofundamento e só a
maior variabilidade dos materiais importados, com destaque para os anfóricos, assinala a
progressiva integração do castro de Ovil nas redes comerciais, na sua fase terminal já na
órbita romana. O abandono do povoado, por razões cuja discussão não interessa já a este
texto, impediu a sua romanização, restando hoje, entretanto conservado e valorizado, como
um arqueossítio-memória dos aldeamentos indígenas mais típicos da franja meridional da
designada «cultura castreja».

10
Mais uma vez agradecemos a A. M. Saéz Romero a classificação desta peça, por ocasião por workshop
Fenícios & Púnicos: reflexos do diálogo mediterrâneo-atlântico na arqueologia do noroeste (Porto, Flup, 10,
13.12.2018).
11
Cfr. texto neste mesmo volume.

386
REFERÊNCIAS

Ferreira, C. J. A. & Silva, M. A. (1984). Distrito de Aveiro. Espinho. Castro de Ovil. Informação Arqueológica,
4 (1981), pp. 41-43, Lisboa.
Ferreira, C. J. A. & Silva, M. A. (19853). Espinho: Castro de Ovil. Informação Arqueológica, 5 (1982-1983),
pp. 38-39, Lisboa.
Mateo Corredor, D. (2016). Comercio anfórico y relaciones mercantiles en Hispania Ulterior (s. II a.C. - II
d.C.). Colección Instrumenta nº 52, Barcelona: Universitat de Barcelona.
Ponte, S. (2006). Corpus Signorum das Fíbulas Proto-Históricas e Romanas de Portugal.
Coimbra: Caleidoscópio.
Ramon Torres, J. (1995). Las ánforas fenicio-púnicas del Mediterráneao central y occidental, Colección
Instrumenta 2, Barcelona: Universitat de Barcelona.
Ramsey, C. B. (2001). Development of the Radiocarbon calibration program OxCal. Radiocarbon. 43, pp.
355-63
Reimer, P.J.[et. al.] (2004). IntCal04 Terrestrial Radiocarbon Age Calibration, 0-26 cal Kyr BP. Radiocarbon.
46 (3), pp. 1029-58
Sáez Romero, A. M. (2008). La producción cerámica en Gadir en época tardopúnica (siglos -III/-I), BAR Int.
Ser. 1812, Oxford: Archaeopress; Universidad de Cádiz.
Salvador, J. F. & Silva, A. M. S. P. (2000). Da descoberta do Castro de Ovil à criação de um Gabinete
de Arqueologia. Al-Madan. 2ª Série. 9, pp. 169-73, Almada.
Salvador, J. F. & Silva, A. M. S. P. (2004). O Castro de Ovil e o povoamento da região de Espinho da proto-
história à romanização (OVESP). Relatório Final de Trabalhos Arqueológicos. Espinho: Câmara Municipal, policop.
Salvador, Jorge F. & Silva, A. M. S. P. (2010). O Castro de Ovil (Espinho, um povoado da Idade do Ferro.
In Pinto, F. M. S. (coord.), Arqueologia da Terra de Santa Maria: balanços e perspectivas, pp. 53-73, Santa
Maria da Feira: Liga dos Amigos da Feira.
Salvador, J. F.; Silva, A. M. S. P. & Sárria, C. A. (2005a). O Centro Interpretativo do Castro de Ovil (Espinho):
a construção de um espaço de memória. In Jorge, V. O. (coord.), Conservar Para Quê? 8.ª Mesa-redonda de
Primavera, pp. 303-326, Porto-Coimbra: Fac. de Letras da Universidade do Porto e Centro Est. Arqueológicos
das Universidades de Coimbra e Porto.
Salvador, J. F.; Silva, A. M. S. P. & Sárria, C. A.. (2005b). O Centro Interpretativo do Castro de Ovil
(Espinho).
In Silva, A. M. S. P. (coord.), Cartas Arqueológicas: do inventário à salvaguarda e valorização do património.
Actas das Jornadas realizadas em Arouca em 2004, pp. 61-68, Arouca: Câmara Municipal.
Silva, A. M. S. P. (1994). Proto-história e Romanização no Entre Douro e Vouga Litoral. Elementos para uma
avaliação crítica. Dissert. de Mestrado apresentada à Fac. de Letras da Universidade do Porto. 2 vols.
Silva, A. M. S. P. (2005). Povoamento proto-histórico no Entre Douro e Vouga Litoral: a estruturação do
habitat. I – Arquitectura dos castros. In Castro, um lugar para habitar. Colóquio [Cadernos do Museu, 11], pp.
167-188, Penafiel: Museu Municipal.

387
Silva, A. M. S. P.; Pereira, G. R. (2020) – Walls and Castros. Delimitation structures in the Proto-historic
settlements of Entre Douro and Vouga region (Center-North of Portugal). In Delfino, D.; Coimbra, F. Cardoso,
D.; Cruz, G. – Late Prehistoric Fortifications in Europe: Defensive, symbolic and territorial aspects from the
Chalcolithic to the Iron Age. Proceedings of the International Colloquium ‘FortMetalAges’, Guimarães, Portugal.
Oxford: Archaeopress, p. 215-228
Silva, A. M. S. P. & Salvador, J. F. (2008). Castro de Ovil (Espinho, Aveiro). In Vilaça, R.; Cunha-Ribeiro, J. P.
- Das primeiras ocupações humanas à chegada dos Romanos à Beira Litoral/From the first human occupations
to the arrival of the Romans to Beira Litoral, pp. 173-181, Tomar: CEIPHAR.

388
SARA
ALMEIDA
E SILVA

ANTÓNIO
MANUEL
S. P. SILVA
A CERÂMICA DA IDADE DO FERRO DO CASTRO DE SALREU
(ESTARREJA, AVEIRO). ESTUDO PRELIMINAR

SARA ALMEIDA E SILVA1


ANTÓNIO MANUEL S. P. SILVA2

1
Projeto de investigação arqueológica PROBA - Proto-história da Bacia do Antuã. Centro de Arqueologia de
Arouca. saralmeidasilva@gmail.com
2
Coordenador do Projeto de Investigação Arqueológica PROBA – Proto-história da Bacia do Antuã. Centro
de Arqueologia de Arouca; investigador do CITCEM-UP. amspsilva@hotmail.com

RESUMO
O texto apresenta a metodologia e os primeiros resultados do estudo preliminar da
cerâmica proveniente do Castro de Salreu, Estarreja (Aveiro, Portugal), iniciado pela
observação macroscópica das pastas argilosas, definição de grupos cerâmicos e posterior
análise química de composição das amostras. Com quatro campanhas de trabalhos
arqueológicos e mais de vinte mil recolhas de cerâmica, estas primeiras notas apresentam
os grupos cerâmicos considerados, reportório formal e padrões decorativos, destacando-se
em particular os materiais mais antigos, associados a um contexto dos séculos IV/III a.C.

PALAVRAS-CHAVE
Castro de Salreu, Cerâmica Proto-histórica, Cerâmica castreja.

ABSTRACT
The text presents the methodology and the first results of the preliminary study of pottery
from the Castro of Salreu, Estarreja (Aveiro, Portugal), initiated by macroscopic observation
of the clay, definition of ceramic groups and subsequent chemical analysis of the samples’
composition. After four campaigns of archaeological work and more than twenty thousand
collections of ceramics, these very first notes feature ceramic groups considered, formal
repertoire and decorative patterns, highlighting in particular the older material, associated to
a context of IV/III centuries B.C.

KEYWORDS
Castro of Salreu; Proto-historic pottery; Castros’ pottery

393
O CASTRO DE SALREU, UM POVOADO ATLÂNTICO

Situado na área mais meridional da «cultura castreja», o Castro de Salreu localiza-


se na freguesia homónima do concelho de Estarreja (Aveiro, Centro-Norte de Portugal),
implantado numa pequena colina situada num meandro do rio Antuã, um afluente do rio
Vouga, a uma altitude de 54 metros (Fig. 1). Este relevo apresenta escarpas declivosas,
com exceção da vertente Sudeste, e possui uma implantação privilegiada no litoral
atlântico, considerando a hipotética reconstituição da linha de costa e a maior amplitude do
estuário do Antuã durante o primeiro milénio a.C. (Silva & Pereira, 2010; pp. 190-193; Silva,
Pereira, & Lemos, 2012, pp. 49-50).
O sítio estrutura-se num sistema de três plataformas/taludes e fosso (Silva, Pereira, &
Lemos., 2012, pp. 52-3), numa área estimada de dois hectares. Os trabalhos arqueológicos
realizados no local desde 2011, num total de quatro campanhas de escavação
arqueológica, no âmbito do projeto PROBA – Proto-história da Bacia do Antuã (Silva,
Pereira, Tavares, Lemos & Almeida e Silva, 2016) tiveram financiamento exclusivo do
município de Estarreja. As sondagens incidiram nas diferentes plataformas, mas apenas na
segunda e respetivo talude foram identificados vestígios arqueológicos, relacionados com
estruturas de delimitação do sítio e com uma estrutura habitacional (Silva Pereira, & Lemos,

2012; Silva, Pereira, Lemos, & Almeida


e Silva, 2016; Silva, Pereira, Almeida
e Silva, & Lemos, 2017; Silva, Pereira,
Lemos & Almeida e Silva, 2017; Almeida
e Silva, Silva, Pereira, & Lemos, 2018).

Fig. 1 - Localização do sítio arqueológico. Base


cartográfica: Excerto da Carta Militar de Portugal,
folhas nº 163 e 164. Escala 1.25 000 (reduzida).

O período de ocupação do povoado estima-se entre o século IV-III a.C. e os finais do


século I a.C./inícios do século I d.C., considerando os resultados de uma datação efetuada
nos níveis basais do sector A (D-AMS 8678, 358-278 calBC) e a presença de muito raros
materiais de cronologia romana (Silva, Pereira, Lemos, & Almeida e Silva 2016, p. 44).

394
O CONJUNTO CERÂMICO DE SALREU

O estudo da cerâmica do Castro de Salreu, ainda numa fase incipiente e preliminar,


tem privilegiado uma abordagem tecnológica, através da observação macroscópica (a
olho nu ou com lupa convencional) das características físicas e litológicas das pastas e
superfícies dos vasos. Desta forma foram definidos diversos grupos de pastas, dos quais
se selecionaram amostras para análises da composição química das pastas (MEV), a fim
de confirmar, afinar ou desmentir os conjuntos macroscopicamente definidos, segundo
a proposta metodológica de Teixeira e Dordio (1998). Por outro lado, considerou-se a
abordagem morfológica, verificando-se o tipo de recipientes presentes e os seus padrões
decorativos. Na linha daqueles autores, seguir-se-á depois uma abordagem cultural,
propondo os usos e funções das peças, a sua sequência cronológica, valor simbólico e
proveniência em termos de fabrico (Fig. 2).
No que respeita ao reportório formal da cerâmica indígena, estão presentes as formas
tradicionais e mais comuns da fase final da Idade do Ferro (Silva, 1987), nomeadamente
potes de diferentes dimensões e tipos de bordo, panelas, vasos de asa interior, potinhos
e pequenos púcaros asados e, pelo menos, duas assadeiras (Fig. 3). Entre as ausências
mais evidentes merece registo a não identificação de qualquer recipiente de asa em orelha.

Fig. 2 - Esquema metodológico para o estudo da cerâmica do castro de Salreu.

395
A cerâmica proto-histórica de Salreu apresenta uma coloração predominantemente
acastanhada, seguindo-se tons cinzentos e, também, alguns mais alaranjados, escala
cromática para a qual concorrerão a composição das pastas argilosas e, em especial, a
natureza dos processos de cocção, aqui sempre mais ou menos oxidante. Da observação
macroscópica dos tipos de pasta, apoiada também nos critérios propostos por Manuela
Martins (1987), resultou a definição de cinco grupos cerâmicos, tendo sido em alguns
casos, em função do melhor tratamento de superfícies e maior depuração das pastas
distinguidos subgrupos. Este ensaio preliminar será depois confrontado com os resultados
das análises químicas das pastas3.
São predominantes as cerâmicas micáceas e areno-micáceas, apesar de surgirem
pastas de matriz arenosa. No caso destas últimas (Grupo A), apresentam como principal
mineral visível o quartzo, por vezes de grandes dimensões, surgindo em grandes
quantidades; ocasionalmente verificam-se exemplares onde é visível o emprego de
chamota (barro já cozido, moído) como desengordurante. As superfícies são, por norma,
alisadas e a cozedura regular. Este fabrico parece estar associado a recipientes mais
espessos e de maiores dimensões.
Com bastante expressão surgem a seguir os fabricos areno-micáceos (Grupo B),
apresentando como constituintes o quartzo, em muita quantidade, e a mica, surgindo a
chamota de forma mais ocasional. Os fabricos são medianamente homogéneos, com
cozedura regular. As superfícies são, por norma, alisadas e, muito raramente, bem alisadas
ou brunidas.

3
Os resultados destas análises, realizadas pelo laboratório da TecMinho (UM), não podem, por limitações
editoriais, ser objeto de discussão neste texto, pelo que os reservamos para ulterior publicação.

396
Fig. 3 - Formas cerâmicas identificadas na olaria proto-histórica do castro de Salreu.

397
Seguem-se depois os fabricos em que o principal constituinte é a mica (Grupo C), que
surge em grande quantidade. A maioria da cerâmica micácea apresenta constituintes
de pequena a média dimensão, fabrico medianamente homogéneo, cozedura regular e
superfícies alisadas. Pelas suas especificidades, distinguiram-se dois subgrupos dentro da
cerâmica micácea – um apresentando pastas medianamente depuradas, com constituintes
de pequenas dimensões, onde se destaca o tratamento de superfície, que é mais cuidado,
apresentando-se as superfícies bem alisadas ou polidas; um outro subgrupo distingue-
se pelas suas pastas muito depuradas, homogéneas e superfícies polidas, muitas vezes
surgindo com engobe negro, com boa cozedura e cernes rosados ou acinzentados.
Um outro grupo (D), de reduzida expressão quantitativa, inclui cerâmicas de pastas
cinzentas no cerne e superfícies, muito depuradas, homogéneas e de boa cozedura.
Este grupo parece traduzir a presença de cerâmicas de importação, provenientes de
áreas mais a sul4. Finalmente, no grupo E incluímos por agora os raríssimos fragmentos
de ânfora e um conjunto de algumas dezenas de fragmentos de cerâmicas de pastas
tendencialmente arenosas, pouco espessas, apresentando como constituinte quartzo de
pequenas e médias dimensões. Esta cerâmica é normalmente cinzenta, homogénea e de
boa cozedura, surgindo com a superfície externa alisada.
No que concerne às técnicas e padrões decorativos, a cerâmica de Salreu apresenta
decoração incisa e impressa, embora também surjam exemplares com decoração em
relevo. O grau de grande fragmentação do espólio não permite quaisquer considerações
relativamente à organização decorativa. A decoração surge sobretudo sobre a pança dos
recipientes, à exceção dos sulcos incisos, que podem ocorrer na passagem do colo para a
pança, no bordo ou junto ao bordo ou mesmo sobre este. Apenas em três exemplares se
regista decoração na superfície interna das peças, imediatamente abaixo do lábio.
Quanto aos motivos decorativos (Fig. 4), assinalam-se com maior frequência os sulcos
ou linhas incisas, seguidos das caneluras/estriados5, os padrões geométricos, motivos em

4
Sugerimos em trabalhos anteriores a origem meridional, porventura mesmo mediterrânea, destas
cerâmicas (Silva, Pereira, & Lemos, 2012, p.76; 2016, p.52), não parecendo todavia confirmar-se proveniência
tão distante, pelo que haverá que procurar paralelos, porventura, ao longo da fachada atlântica até às bacias do
Tejo e Sado.

398
espinha, aspa, pontilhado, círculos concêntricos (o motivo impresso mais comum), ovais,
escudetes, motivos sub-triangulares, em SS, ondulados, círculos em baixo relevo e ainda
bandas em alto relevo estão também presentes entre os padrões decorativos registados.

Fig. 4 - Motivos decorativos mais comuns na cerâmica do castro de Solreu.

Podendo naturalmente discutir-se se todas elas resultam de uma intenção clara de ornamentação ou
5

apenas da aplicação de determinado tratamento de superfície.

399
O CONJUNTO CERÂMICO DOS DEPÓSITOS [51], [54] E [114]

Os depósitos [51], [54] e [114], equivalentes entre si, correspondem aos níveis basais
identificados no sector A, datáveis dos séculos IV/III a.C.6, constituindo, portanto, os
contextos mais antigos do Castro de Salreu. Estes depósitos estão associados ao
nivelamento para construção na segunda plataforma, onde se identificaram os vestígios
de uma estrutura habitacional, de planta ovalada; mas também à construção, no segundo
talude, da estrutura de delimitação.
No total das quatro campanhas, as recolhas cerâmicas no povoado ascendem a
cerca de 21 400 fragmentos, sendo 50,4% desses materiais provenientes do sector A e,
desses, 22% dos depósitos em análise. A dificultar o estudo dos materiais surge a grande
fragmentação da cerâmica, já que 20% dos fragmentos recolhidos nesses depósitos
apresentam dimensões inferiores a 15 mm. Este lote cerâmico representa um número
mínimo de indivíduos de 120 vasilhas (127 fragmentos de bordo e 42 fragmentos de fundo);
as asas são apenas 17, enquanto os fragmentos de pança com decoração são 106.
Neste conjunto estão representados todos os tipos de pastas, com exceção do grupo
onde integramos os materiais de influência romana. Destacam-se os fragmentos de
cerâmica micácea, alguns com melhor acabamento e os fragmentos de cerâmica areno-
micácea. Embora representados, são residuais os fragmentos de pasta arenosa e os
fragmentos de cerâmica cinzenta de importação.
No que toca ao reportório formal da olaria presente nestes níveis, não há a registar
grandes diferenças em relação aos demais depósitos, notando-se por enquanto a ausência
da forma assadeira, que aliás não foi ainda identificada neste sector. Identificam-se
recipientes de grandes dimensões, como talhas ou potes, destinados ao armazenamento,
mas mais comuns serão os fragmentos de potes e panelas, muitos deles apresentando
vestígios de uso no fogo; seguindo-se os recipientes de menores dimensões e/ou melhor
acabamento, como os potinhos, púcaros e recipientes com arranque de asa. Quanto aos
fundos, surgem muito fragmentados, apesar de indicarem a presença de diferentes tipos
de vasilhas e são, ordinariamente, planos. As asas, apesar de escassas, são diferenciadas.

6
Correspondente à data a que aludimos anteriormente, tendo sido obtida através da datação de sementes
de favaceae provenientes do depósito [51].

400
Regista-se também a presença de asas interiores (de secção sub-retangular) e, nas
exteriores, surgem secções de tipo sub-circular, sub-retangular e sub-triangular.
A gramática decorativa destes depósitos é, à semelhança do que se regista nos demais,
dominada pela presença de sulcos ou linhas incisas (40%, sendo 34% decorados com
apenas um sulco e os restantes com vários sulcos paralelos). As caneluras e estriados
estão representadas com 16,5%, havendo três exemplares integráveis no conjunto
das importações. No campo das decorações impressas, os círculos concêntricos são
dominantes (14,5%), aparecendo isolados (6), em banda delimitada por sulco(s) (5), em
banda, delimitada por sulcos, com múltiplas fiadas de círculos concêntricos (2) ou ainda em
conjugação com outros motivos, verificando-se a presença de várias bandas decorativas,
delimitadas por sulcos, preenchidas por círculos e motivo em aspa (2). Relativamente
frequentes são os padrões geométricos (7,8%) e também o motivo aspa/gota (6,9%),
surgindo em banda delimitada por sulco(s) ou, em menor número, com várias bandas
paralelas. As bandas em alto relevo surgem simples (4) ou decoradas com motivo em S
(1). Menos frequentes, mas também representados, estão motivos como banda delimitada
por sulco de círculos impressos, em baixo relevo (1), escudetes (1), banda delimitada por
sulco, com motivo em S (2), banda(s) delimitadas por sulcos, preenchidas com impressões
triangulares (2), oval tripartido (1), incisões verticais (1) e pontilhado (1). Com exceção de
um exemplar, decorado na superfície interna, junto ao bordo, a decoração surge sempre
sobre a pança do recipiente.

NOTAS FINAIS

O estudo cerâmico aqui apresentado, ainda muito incipiente, visou sobretudo apresentar
a metodologia de abordagem que vimos ensaiando para a olaria proto-histórica do
castro de Salreu, trabalho que será futuramente afinado, nomeadamente em função dos
resultados das análises à composição química das pastas.
Nos três depósitos analisados em maior pormenor procurámos eventuais diferenças
entre esses níveis mais antigos de ocupação com as cerâmicas subsequentes do povoado,
sem que todavia se observasse distinção particular, salvo a natural ausência do grupo

401
de materiais que consideramos relacionar-se com uma fase mais tardia, já denotando
influência romana. Todavia, foram identificados, embora em número reduzido, fragmentos
passíveis de integrar o grupo cerâmico das importações (D), confirmando a cronologia
destas louças alógenas.
Assim, no cômputo geral, o vasilhame de Salreu é dominado por pastas argilosas de
matriz areno-micácea e micácea, de tonalidades acastanhadas e com superfícies alisadas,
embora se distingam fabricos mais cuidados, de pastas mais depuradas e melhores
tratamentos de superfície, parecendo registar-se ocasionalmente a tentativa de imitar os
fabricos e as decorações dos materiais cinzentos de importação.
Por agora, os quatrocentos anos de ocupação do povoado de Salreu traduzem na
cerâmica grande uniformidade, quer nas pastas (com as exceções já assinaladas), quer
nas formas. Quanto aos padrões decorativos, há presenças e ausências que se registam,
mas encaramo-las com prudência, uma vez que muitos dos motivos estão representados
apenas por um exemplar7. Geralmente, a decoração surge através do emprego de apenas
um motivo, embora se vão registando, cada vez mais, exemplares de maior complexidade
ornamental.
Com naturais semelhanças com povoados vizinhos da zona meridional da cultura
castreja, este conjunto cerâmico oferece a possibilidade, com o aumento do volume de
material e o aprofundamento dos estudos, de analisar o modo como este tipo de evidência
material reflete, ou não, eventuais circunstâncias de diversificação no quadro sociocultural
das comunidades da Idade do Ferro da fachada atlântica.

7
Apenas a título identificativo, notamos a presença no sector A de círculos concêntricos sobrepostos,
motivos ondulados e em espinha, que não surgem representados nas unidades basais; por outro lado, num
outro sector de escavação, o K, surgem círculos segmentados em quatro partes, motivo não representado no
setor A.

402
BIBLIOGRAFIA PRINCIPAL

Almeida e Silva, S.; Silva, A. M. S. P.; Pereira, G. R.; & Lemos, P. A. P. (2018). Trabalhos arqueológicos
no Castro de Salreu – Breve crónica da intervenção de 2018. Terras de Antuã – Histórias e memórias
do concelho de Estarreja, 12, pp. 31-49. Estarreja.
Martins, M. (1987). A cerâmica proto-histórica do Vale do Cávado: tentativa de sistematização. Cadernos
de Arqueologia, série 2, nº 4, pp. 35-77. Braga.
Silva, A. M. S. P. & Pereira, G. R. (2010). Povoamento proto-histórico na fachada atlântica do Entre Douro
e Vouga. Paleoambientes e dinâmica cultural. In Bettencourt, A. M. S.; Alves, M. I. C. & Monteiro-Rodrigues,
S. (eds.), Variações paleoambientais e evolução antrópica no Quaternário do Ocidente Peninsular,
(pp. 189-203). S.l.: APEQ/CITCEM.
Silva, A. M. S. P.; Pereira, G. R.; Almeida e Silva, S. & Lemos, P. A. P. (2017). Uma aldeia de há dois mil
anos. Um sítio arqueológico e a sua investigação. Terras de Antuã – Histórias e memórias do concelho de
Estarreja, 11, pp. 15-29. Estarreja.
Silva, A. M. S. P.; Pereira, G. R.; & Lemos, P. A. P. (2012). O Castro de Salreu (Estarreja): Resultados
da primeira campanha de escavações arqueológicas. Terras de Antuã – Histórias e memórias do concelho
de Estarreja, 6, pp. 47-89. Estarreja.
Silva, A. M. S. P.; Pereira, G. R.; Lemos, P. A. P., & Almeida e Silva, S. (2016). Trabalhos arqueológicos de
2016 no Crasto de Salreu, Estarreja. Breve notícia. Terras de Antuã – Histórias e memórias do concelho de
Estarreja, 10, pp. 39-57. Estarreja.
Silva, A. M. S. P.; Pereira, G. R.; Lemos, P. A. P., & Almeida e Silva, S. (2017). Uma aldeia de há dois mil
anos. Arqueologia no Castro de Salreu. Estarreja: Câmara Municipal.
Silva, A. M. S. P.; Pereira, G.R.; Tavares, J. T.; Lemos, P. A. P.; Almeida e Silva, S. (2016). Proto-história
da Bacia do Antuã (2011-2015) - um projeto de investigação arqueológica em rede. Patrimónios de OAZ. Nº 0
(pp. 77-96). Oliveira de Azeméis.
Silva, A.C.F. (2007). A Cultura Castreja no Noroeste de Portugal. 2ª ed. [rev. e atualiz.]. Paços de Ferreira:
Câmara Municipal/MACS.
Teixeira, R.; Dordio, P. (1998). Como pôr ordem em 500 000 fragmentos de cerâmica? Ou Discussão
da metodologia de estudo da cerâmica na intervenção arqueológica da Casa do Infante (Porto). Olaria - Estudos
arqueológicos, históricos e etnológicos, 2. pp. 115-124. Barcelos.

403
Conferência
de encerramento
MARÍA
DOLORES
DOPICO
LA IMPLANTACIÓN ROMANA EN CALLAECIA: VALORACIÓN
DE SUS CONSECUENCIAS1

THE ROMAN SETTLEMENT IN CALLAECIA: AN ASSESMENT


OF HIS CONSEQUENCES

Mª DOLORES DOPICO CAÍNZOS (USC)

RESUMEN
En los últimos decenios se ha producido un cambio significativo en el concepto de
romanización aplicado al Noroeste peninsular que ha modificado nuestra perspectiva sobre
las transformaciones de las comunidades indígenas. En este trabajo se pretende analizar,
en primer lugar, la cronología de ese cambio, mostrando la especial importancia que ha
tenido la etapa imperial respecto al período republicano. En segundo lugar se hace una
valoración del impacto que, para los indígenas, supuso su integración en el imperio.

ABSTRACT
In the last decades a significant change has taken place in the concept of romanization
applied to the Northwest of Hispania, which has modified our perspective on the
transformations of the indigenous communities. In this paper I will first analyze the
chronology of this change, showing the special importance that the imperial period has had
with regard to the republican one. Secondly, I will give an assesment of the impact that the
integration in the Roman Empire means for the indigenous communities.

PALABRAS CLAVE
Romanización, conquista del Noroeste, Augusto, Callaecia.

KEYWORDS
Romanization, conquest of Northwestern Hispania, Augustus, Callaecia.

1
Este trabajo ha sido realizado dentro del Proyecto de investigación del MINECO/FEDER HAR2017‑82202‑P.

407
Entiendo que mi comunicación de cierre de este Coloquio, al igual que otras que me
han precedido, debe ser un balance tanto de las consecuencias de la implantación romana
en Callaecia, como de los cambios y avances de la investigación en los últimos decenios,
que es notable. No pretendo, como es obvio, realizar un análisis pormenorizado de las
transformaciones del Noroeste, que, en general, son bien conocidas, pero me parece
importante hacer una valoración de sus consecuencias y de lo que ha supuesto, para las
comunidades indígenas, la integración en el imperio, porque creo que en muchos casos se
ha perdido la perspectiva sobre este proceso. Me detendré en tres aspectos, el primero de
los cuales será una breve alusión al progreso de la investigación desde finales de los años
80 del siglo pasado. Abordaré a continuación la datación de la conquista romana para, por
último, valorar su impacto.

1. LA INVESTIGACIÓN SOBRE EL NOROESTE: EL CAMBIO DE PERSPECTIVA2

En una monografía de autoría colectiva, publicada en 1976 y titulada La romanización de


Galicia, se afirmaba en su presentación:
“Cuando nos disponemos a cerrar este Cuaderno nos asalta la sospecha de no ser
dueños de una verdadera idea significativa de la romanización de Galicia (…) los valiosos
conocimientos que aportan los autores que en él han intervenido marcan el nivel de los
conocimientos que hoy tenemos sobre este problema y también las lagunas que existen.”
Después de reconocer de esta manera la complejidad de la cuestión, de sugerir que
la causa de la conquista podría estar vinculada a la riqueza minera del Noroeste y unir
la mítica batalla del monte Medulio con la defensa de ese oro “gallego” la introducción
concluía con la siguiente afirmación:
La falta de teatros, circos, templos y suntuarias residencias nos ofrecen una imagen de

2
La intensificación de la investigación sobre el Noroeste ha sido notable en los últimos decenios desde
la publicación del trabajo de Tranoy (1981). No es mi objetivo hacer un estudio general sobre la misma, me
detendré aquí especialmente en la cuestión de la romanización.

408
una Galicia, más que civilizada, expoliada por Roma como un antiguo designio determinante
de la suerte que llega hasta nuestros días3.
Probablemente casi nadie recordará hoy esta monografía ni la usará en sus
investigaciones y, sin embargo, esta reflexión final nos es bien conocida por ser casi una
paráfrasis de Estrabón (3.3.8). La descripción que hace el geógrafo de Amasia de los
pueblos del Noroeste muestra unas comunidades tan alejadas del mundo romano física y
culturalmente que los indígenas aparecen “cosificados” ya que habían perdido, literalmente,
la sociabilidad y la humanidad. Desde luego no tenían nada que ver con los del otro
extremo de la península, los turdetanos de la Bética, que tenían unas formas de vida
prácticamente idénticas a las romanas y ni siquiera mantenían ya su propia lengua sino
que hablaban latín (Strab. 3.2.15). Esta idea, impregnada de los característicos prejuicios
de la etnografía griega4, pervivió, en algunos de sus aspectos, hasta nuestros días,
como muestra la citada monografía de 1976. La conquista romana apenas había tenido
incidencia en Callaecia puesto que los indígenas mantenían la tipología prerromana de los
asentamientos y seguían viviendo en los mismos castros, sus formas de vida permanecían
inalteradas, el hábito epigráfico era limitado y la mayoría de las inscripciones eran bastante
toscas, en suma, no había elementos “visibles” de la acción romana o eran mínimos. Por
recordar los más conocidos conservados en la Callaecia lucense, apenas quedaba el faro
denominado “torre de Hércules” (A Coruña), las murallas de la ciudad de Lugo del s. III
dC. o un pequeño puente sobre el río Bibei (P. de Trives, Ourense), datado probablemente
en época de Trajano. Es indudable que ningún emperador, filósofo o poeta procedía del
Noroeste, a diferencia de lo ocurrido en la Bética, así que todo esto parecía confirmar la
verdad del análisis de Estrabón y, con otras palabras y ligeramente suavizada, tal idea
persistió en la historiografía tradicional.
A partir de mediados de los años 80 esa idea de romanización fue objeto de una revisión
a fondo que cambió radicalmente nuestra visión de la misma y supuso el abandono del
concepto tradicional y de los criterios usados para medirlo. Esto tuvo, como consecuencia,
la reorientación de la investigación sobre las transformaciones del Noroeste hacia nuevos

3
La obra es una compilación de artículos de diferentes especialistas (Acuña et al., 1976), pero en ella no se
indica quién es el autor de la breve introducción (pp.7-8). El subrayado del texto es mío.
4
Para el análisis de los conceptos etnográficos utilizados por este autor para los pueblos del norte y su crítica
vid. Bermejo Barrera (1983a; 1983b).

409
ámbitos, por lo que ahora podemos enumerar y analizar una significativa cantidad de
cambios estructurales que no se detienen en aspectos únicamente materiales. El cambio
de este concepto en el Noroeste se produjo a partir de los trabajos de G. Pereira Menaut,
entonces catedrático de Historia Antigua de la USC. Bastará citar tres de sus artículos
para entender la profundidad del cambio: “La formación histórica de los pueblos del
norte de Hispania. El caso de Callaecia como paradigma” (1984), “Cambios estructurales
versus romanización convencional. La transformación del paisaje político en el norte de
Hispania” (1988), o “Aproximación crítica al proceso de etnogénesis: la experiencia de
Callaecia” (1992). El simple análisis de los títulos nos deja entrever conceptos novedosos
que hasta entonces no habían sido considerados por la investigación: la importancia del
paisaje entendido como resultado de decisiones históricas y políticas, la creación romana
de la región histórica de Callaecia y el análisis de la etnogénesis -entendiendo así las
comunidades como el resultado de procesos dinámicos frente a las visiones estáticas
tradicionales- la nueva articulación de las comunidades indígenas con la formación de
civitates y la reinterpretación de la C invertida de los registros epigráficos (Pereira Menaut,
1978; Pereira Menaut & Santos Yanguas, 1980). Esta última cuestión nos recuerda
que no solo se partía de unos presupuestos teóricos diferentes, sino de un riguroso y
exhaustivo estudio de las tres principales fuentes disponibles. Las más utilizadas hasta
entonces, y también las más escasas, eran las literarias, pero a ellas se añadieron nuevos
planteamientos en el caso de las otras dos. Para las arqueológicas no puedo dejar de
mencionar aquí el feliz y fecundo intercambio con nuestros colegas portugueses, los Dres.
C.A.F. de Almeida (1983) y la Dra. T. Soeiro (1984; 2005) que en los años 80 nos
descubrieron una nueva perspectiva sobre las comunidades castrexas gracias a sus
rigurosos trabajos en Monte Mozinho. La vinculación de este asentamiento, tanto en su
creación como en su evolución, con la implantación romana cambiaba radicalmente la
imagen que hasta entonces se tenía de los castros como modelos típicos de la vida de
los pueblos del Noroeste. Mostraba, de manera ejemplar, cómo había sido ese proceso
tan intenso de transformación. En cuanto al tercer tipo de fuentes, las epigráficas, fueron
objeto de una revisión en profundidad. Quiero recordar que Pereira Menaut fue responsable
de la edición de dos volúmenes del Corpus de Inscricións romanas de Galicia (Pereira
Menaut, 1991; Baños, 1994) dedicados a las provincias de A Coruña y Pontevedra, que se

410
añadieron al volumen entonces recientemente publicado de las inscripciones de la provincia
de Lugo (Arias Vilas, Le Roux & Tranoy, 1979). La revisión de un número significativo de
epígrafes y su relectura -recordemos la de la C invertida- permitió comprender aspectos
clave de las sociedades indígenas y de su nueva articulación territorial en civitates.
El resultado de todo ello supuso valorar no tanto la imitación de lo romano, como la
profundidad de las transformaciones sufridas, considerando elementos estructurales que
no dejan, necesariamente, una huella material. El cambio del concepto de romanización
dejaba atrás la visión tradicional de un Noroeste prácticamente inmutable en favor de
otro profundamente transformado y abrió el camino para otros análisis sobre los cambios
jurídicos, administrativos o la implantación urbana que permitieron cambiar la visión de
la historia antigua de Galicia, como ahora veremos. La aparición de nuevos documentos
epigráficos extraordinariamente relevantes como la tabula Lougeiorum (Dopico, 1988) y el
Edicto del Bierzo (Costabile & Licandro, 2000; Sánchez Palencia & Mangas, 2000; Grau &
Hoyos, 2001) impulsó, en unos casos, y confirmó, en otros, la investigación que se había
empezado a realizar.
No olvido, por supuesto, otro intenso debate suscitado en los últimos años - que supera
el marco del Noroeste- sobre el uso y la utilidad del término romanización. Las tesis más
extremas defendidas por historiadores como D. Mattingly, S. Alcock o P. van Dommelen
llegan a proponer casi una “damnatio memoriae”, la total desaparición de la terminología
utilizada por los historiadores5. Naturalmente mantengo la misma visión de G. Pereira
Menaut (2008), o, por mencionar otro investigador que ha trabajado intensamente sobre el
NO, P. Le Roux (2004). Creo que sigue siendo un concepto operativo y útil y, de hecho, esta
ponencia no es más que un análisis de algunos elementos de la romanización del Noroeste.

5
La bibliografía es tan numerosa que sería imposible recogerla en este trabajo. Recuerdo que la tesis del Dr.
T. Crespo Mas, leída en la Universidad de Alicante en el 2008, que analiza las distintas teorías de este término,
supera las 700 páginas y solo recoge la visión de este concepto a partir de Mommsem.

411
2. EL PROCESO DE CONQUISTA DEL NOROESTE

A partir de estos trabajos podemos analizar, como ya he señalado, numerosas


transformaciones, pero antes de abordarlas me quiero referir a otra revisión historiográfica
que ha cobrado fuerza en los últimos años sobre la datación de la conquista de Callaecia.
Advierto que no es mi objetivo tratarla aquí en todo su desarrollo, ha sido revisada a
fondo en numerosos trabajos en los últimos años, aunque todavía, en algunos aspectos,
seguimos sin respuestas definitivas. Al menos aquellas aparentes verdades inmutables
establecidas por A. Schulten en su clásico libro de 1943 o el trabajo más breve, de 1970, de
R. Syme han sido discutidas con intensidad y en algunos aspectos totalmente corregidas,
como puede verse en el trabajo de Villanueva del 2016. No trataré pormenorizadamente la
conquista porque no interfiere en lo que pretendo mostrar aquí, pero la cuestión temporal
a la que me refiero no es solo un matiz cronológico y requiere por ello un análisis más
detenido. Me estoy refiriendo a la propuesta que ha cobrado fuerza en los últimos años
de una conquista o dominación de gran parte del Noroeste que habría tenido lugar antes
de la época de Augusto. A modo de ejemplo significativo creo que bastará con recordar la
reciente publicación del 2016, Ad nationes ethnous kallaikon, fruto del coloquio realizado
en Braga con motivo del bimilenario de Augusto organizado, al igual que éste, entre otros
por los Dres. R. Morais y T. Soeiro (Morais, Bandeira & Sousa, 2016). En esta monografía
se multiplican los trabajos de colegas como los Dres. R. Centeno, R. Morais, A. Orejas, A.
Morillo y F. Calo -quien de hecho fue el primero en mantener esta tesis- que hablan de un
temprano control del territorio del Noroeste, muy anterior a la época de Augusto. Haré una
breve síntesis de las principales conclusiones sobre esta cuestión.
Las fuentes utilizadas, en este caso, son únicamente las literarias y arqueológicas,
teniendo en cuenta la carencia de inscripciones en este período para todo el Noroeste.
A partir de la reinterpretación en un sentido más amplio de algunos testimonios literarios
sobre las campañas republicanas previas a la de J. César y a la reorganización de
territorios conquistados, se podría deducir que éstas afectan a Callaecia (Orejas 2016,
p. 125), pero es la evidencia arqueológica la que mostraría con más claridad este control.
Se dejaría ver en la intensidad de las transformaciones de los asentamientos, con la
aparición de los oppida del sur de la Callaecia, como S. Cibrán de Las o Briteiros, los

412
cambios en el paisaje (hábitat fuera de los castros), la reorientación económica, el aumento
de los intercambios comerciales con materiales de importación romanos y púnicos/
neopúnicos, la aparición de personas ajenas a las sociedades indígenas que dirigen este
comercio, los negotiatores, además de cambios en la plástica castrexa, entre otros. En
suma, se documentaría una mayor apertura hacia el exterior, lo que llevaría a cambios
internos en las estructuras de habitación y en la propia sociedad con una evolución de las
élites indígenas. En cuanto a las consecuencias de esta temprana intervención romana,
se establece un paralelismo con el control conocido para otros territorios provinciales, y se
supone que supondría exacciones fiscales aunque no regulares, exigencias ocasionales de
tropas, botín, etc, Recuerdo, sin embargo, que nada de esto está documentado de manera
fehaciente en textos literarios referidos al Noroeste. En cuanto a la datación exacta de este
proceso, es todavía objeto de discusión. Las propuestas actuales van desde una conquista
temprana, que sería llevada a cabo por Décimo Junio Bruto en el 138 aC., momento a partir
del cual se empezarían a desarrollar los cambios atestiguados por la arqueología, hasta la
que tiene un mayor apoyo entre los investigadores que sería la de J. César en el 61 aC.
Creo que actualmente se han asumido gran parte de estas propuestas. Nadie mantiene
actualmente la antes citada idea estraboniana del mundo aislado y salvaje del Noroeste,
el testimonio de la arqueología con intercambios comerciales bien conocidos lo desmiente
con claridad. Creo que tampoco nadie duda ya de que el enfrentamiento militar de época
de Augusto no iba dirigido contra los galaicos a los que ya hemos despojado del mito del
monte Medulio, tan celebrado por la historiografía gallega del s. XIX y que persistió durante
gran parte del s. XX, como se puede ver en el trabajo de Torres incluido en la monografía
sobre romanización citada al principio (Acuña et al., 1976, p. 29). Lo que ya no me parece
tan claro es qué significa exactamente, porque, además de pacificados, ¿qué implicaría que
desde César estemos ya dominados/conquistados y formemos parte del imperio romano
dentro de una provincia hispana?.
Para que se entienda mejor, voy a poner un paralelo con Britannia, que, como es
bien sabido, también fue atacada por J. César en el 54 aC. con el fin de cortar la ayuda
que prestaban los britanos a los galos que vivían al otro lado del canal. En este caso
tenemos más fuentes, que son más claras, sobre esta incursión. Cicerón nos transmite
una información directa obtenida de su propio hermano, que también participaba en

413
esta incursión, y del propio César, en la que se dice que éste, una vez terminada la
campaña, retiró pronto al ejército, después de tomar rehenes e imponer tributo, aunque
no había conseguido botín6. César, en su De Bello Gallico, añade un dato más sobre las
consecuencias de su intervención, al mencionar su injerencia en los asuntos internos de
varias comunidades, obligándolas a no enfrentarse entre ellas7. Además de estas noticias
contemporáneas y transmitidas por los propios protagonistas de este hecho, disponemos
de otras valoraciones que, ya con la perspectiva del tiempo transcurrido, matizan la
trascendencia de estas incursiones. Dion Casio (39.53.1-2) asegura que, en realidad, César
no había conseguido nada para el Estado romano ni para él mismo, excepto su propia
gloria, aunque había dado grandes esperanzas a los romanos de lo que podrían conseguir
en el futuro. Es una valoración similar a la de Tácito cuando le reconoce a César el mérito
de ser el primero en llevar un ejército que le permitió controlar la costa pero parece que
no legó esa conquista a sus sucesores8. No es de extrañar, por esta razón, que también
Dion asegure que Augusto había tenido la intención de someter a los britanos -de lo que
se deduce que realmente no lo estaban- pero se lo impidió la sublevación de los dalmacios
que lo obligó a dirigir su atención en otra dirección (DC 49.38.2-3; 53.22.5). Finalmente
podemos recordar la inscripción que conmemoraba las campañas de época del emperador
Claudio en la que se le alaba por ser el primero que conquistó los pueblos situados más
allá del océano9.
La investigación parece concordar con estas últimas interpretaciones, pues a pesar de
que la terminología utilizada por César, la deditio o la “creación” de un sistema impositivo,

6
A Quinto fratre et a Caesare accepi a. d. VIIII Kal. Nov.litteras datas a litoribus Britanniae proximae a. d. VI
Kal. Oct. confecta Britannia, obsidibus acceptis, nulla praeda, imperata tamen pecunia exercitum e Britannia
reportabant (Att. 4.18.5).
7
Cassivellaunus hoc proelio nuntiato, tot detrimentis acceptis, vastatis finibus, maxime etiam permotus
defectione civitatum, legatos per Atrebatem Commium de deditione ad Caesarem mittit. Caesar, cum
constituisset hiemare in continenti propter repentinos Galliae motus, neque multum aestatis superesset atque id
facile extrahi posse intellegeret, obsides imperat, et quid in annos singulos vectigalis populo Romano Britannia
penderet constituit; interdicit atque imperat Cassivellauno ne Mandubracio neu Trinovantibus noceat. Obsidibus
acceptis exercitum reducit ad mare…(BG, 5.22.3-5).
8
Igitur primus omnium Romanorum divus Iulius cum exercitu Britanniam ingressus, quamquam prospera
pugna terruerit incolas ac litore potitus sit, potest videri ostendisse posteris, non tradidisse (Tac., Agric. 13.3).
9
Ti(berio) Clau[dio Drusi filio) Cai]sari / Augu[sto Germani]co / pontific[i maximo trib(unicia) potes]tate
XI / co(n)s(ili) V im[p(eratori).XXII cens(ori).patri pa]triai / Senatus Po[pulusque] Ro[manus q]uod / reges /
Brit[annorum] XI d[evictos sine] / ulla iactur[a in deditionem acceperit] / gentesque b[arbaras trans Oceanum] /
primus in dici[onem populi romani redegerit] (CIL VI 920=ILS 216, Roma, año 51-52 dC.). Sobre la conquista del
emperador Claudio, vid. Frere & Fulford, 2001; Birley, 2008).

414
parece dar a entender que se ha conquistado Britannia e integrado en el imperio,
estamos ante una estructura endeble, que probablemente solo se mantuvo en tanto los
protagonistas indígenas y el propio César vivieron, y que se diluyó posteriormente con
rapidez (Frere, 1978, p. 55). El que no haya provincia propiamente dicha no implica, sin
embargo, que las consecuencias sean irrelevantes. En palabras de Birley (2008) cuando
se produce la incursión de época de Claudio “the island had been within Rome’s orbit for
almost a century, since Caesar first invaded” (179). Los restos materiales nos muestran, al
igual que en el Noroeste hispano, cómo, a partir de ese momento, hay intensos contactos
comerciales entre ambos lados del canal. También está bien documentada una creciente
intervención política romana en los asuntos internos de los pueblos indígenas, que no se
acaba con César, como recuerda el propio Augusto cuando dice haber acogido algunos
reyes de Britannia refugiados en Roma10. Las transformaciones en las élites son evidentes,
por citar solo una podemos recordar la adopción de títulos del sistema de poder romano
por parte de algunos indígenas. Es el caso bien conocido de Cunobelino de los Trinovantes
que era Britannorum rex según Suetonio (Cal. 44.2.2), título que aparece en las leyendas
de algunas monedas acuñadas en Britannia, demostrando que no era una simple
interpretación del autor11. Además estas monedas muestran por sí mismas la influencia
romana, pues parte de la iconografía es clásica, con imágenes o símbolos de divinidades
romanas y las leyendas están escritas en latín.
Es cierto que no hay, pues, conquista de una nueva provincia, ni una transformación
profunda de sus estructuras, ni hay control administrativo efectivo, ni evidencia de impuesto
regular. Creo que ésta es una situación idéntica a la que se produce en el pacificado Noroeste.

10
A supplices confugerunt reges (…) Britannorum Dumnoblellaunus et Tincommius (RG 32).
11
Morris (2013) con la mención rex (p.40). No es el único que realiza este tipo de acuñaciones, como puede
verse en Birley (2008, p. 183, con las distintas hipótesis sobre su significado) pero las de Cunobelino han
sido especialmente estudiadas, entre otras razones por su elevado número (las de bronce superan los 2600
ejemplares, vid. Morris, 2013, las de plata las 300, vid. Jersey, 2001, para las de oro vid. Allen, 1975), se
extienden por numerosas localidades y permiten entender los cambios previos a la conquista de Claudio en un
área especialmente importante como es Camulodunum, futuro emplazamiento de la primera colonia fundada
tras la conquista.

415
3. LA IMPLANTACIÓN ROMANA Y SUS TRANSFORMACIONES

Los grandes cambios, que fueron inducidos por el Estado a una escala como hasta
ahora no se conocía, se producen a partir de la época de Augusto, cuando se completa la
integración de todo el Noroeste y se puede proceder a una transformación cuidadosamente
planificada, algo impensable en época republicana y quiero recordar que la incursión de
César se produce antes de que controle el Estado de forma efectiva. Es cierto que ya
antes vemos algunos cambios pero no podemos atribuirlos, o al menos todos ellos, a la
acción directa del poder, ni datarlos con exactitud ni precisar a qué áreas, comunidades
o individuos afectan, porque hasta ahora solo conocemos casos singulares. Lo que
acontece a partir de Augusto se aleja radicalmente de esto. El principio de actuación es
muy sencillo y ya había sido expuesto con claridad por Cicerón a finales de la República,
cuando contrapone la vida salvaje, primitiva, a la civilizada. La primera se caracteriza por
la violencia, la segunda por la utilización del derecho: vim volumus exstingui, ius valeat
necesse est (Pro Sest. 92).
El derecho, su implantación y su aplicación, manifiesta la dominación del Estado
romano, un dominio que no se puede basar únicamente en la fuerza, requiere la
pacificación, la transformación y la adaptación de las comunidades a la nuevas formas
de civilización que encarna Roma. Así que ahora se adoptan decisiones políticas
y se aplican normas jurídicas que afectan a elementos estructurales de todas las
comunidades indígenas sin excepción. En contra de lo que sostenía la visión tradicional,
ya comentada al inicio, de unos indígenas que continuaban viviendo según sus formas
tradicionales de vida sin apenas cambios, basta con detenerse en una sola de estas
reformas, la administrativa, para comprender el enorme impacto que debió suponer. Me
estoy refiriendo a cambios bien conocidos, por lo que no es necesario que los explique
pormenorizadamente, me detendré, como ya he comentado al inicio, en la valoración de
sus consecuencias.
La nueva organización jerarquizada, provincia-conventus-civitates, no sólo es más
compleja que las simples estructuras indígenas, sino que manifiesta con claridad la
transformación de su status jurídico y, con él, la fuerza de la dominación romana.
Los indígenas se convierten en peregrini, siguen siendo hombres libres, pero alejados

416
de la ciudadanía romana y de sus privilegios. Carecen de independencia política y de los
poderes o funciones asociados a ella, y todas las decisiones políticamente relevantes son
decididas por un gobernador provincial, con todo lo que esto supone. El segundo escalón
administrativo, con la implantación de conventus iuridici de carácter permanente y estable
acerca y, al tiempo, hace más visible ese poder y permite, igualmente, un mejor control
de las comunidades indígenas, como vemos en el documento conocido como Tabula
Lougeiorum (fig. 1, Dopico, 1988 y 2013)12. No obstante es, sin duda, la última de estas tres
instancias administrativas en las que se inserta ahora el Noroeste, la civitas, la que refleja
una intervención más intensa. Estas son las comunidades que gestionan de forma más
directa la vida de los indígenas, sus propiedades, sus impuestos, su gestión cotidiana local,
que se supone autónoma, y sobre todo esto actúa directamente el Estado. En primer lugar
lo hace uniformizando las estructuras, las civitates son los elementos inferiores utilizados
en todas las provincias occidentales, lo que supone, en nuestro caso, modificar esa antigua
organización en castella/populi específica de Callaecia en favor de otra que se encontraba
en pueblos tan diferentes como son los del resto de Hispania o de las Galias.
La transformación es evidente pues se convierten en comunidades con límites fijos,
estables y oficiales, nuevas funciones y una mayor cohesión. Estas nuevas funciones no
obedecen a una tradición indígena sino a las necesidades del nuevo poder: la obligada
asunción de tareas que palían la falta de burocracia del imperio romano (el cobro de
impuestos), la aportación de soldados y, eventualmente, la realización de trabajos públicos.
Esta transformación profunda en las comunidades culminará con los Flavios, cuando el
sistema prerromano de las subcomunidades o castella, que estaban integrados hasta
entonces en las civitates se abandone (Pereira Menaut, 1984 y 1988). No es necesario
que me refiera aquí a los cambios territoriales o poblacionales, que también son
considerables, pues ya han sido tratados en otras ponencias de este mismo Coloquio.
No sabemos cómo se realizó esa uniformización administrativa, cómo se fijaron los
límites o se eligieron sus centros políticos ni hasta qué punto se respetó o no la base
prerromana sobre la que se actuaba. Como es bien sabido, conocemos los nombres

12
C(aio) Caesare Aug(usti) f(ilio) L(ucio) Aemilio Paullo co(n)s(uibus) / Ex gente Asturum conventus Arae/
August(a)e / civitas Lougeiorum hospitium fecit cum / C(aio) Asinio Gallo libereis postereisque eius / eumque
liberos posterosque eius sibi libe/reis postereisque suis patronum cooptarunt / isque eos in fidem clientelamque
suma suo/rumque recepit/ Egerunt legati / Silvanus Clouti / Noppius Andami.

417
de los pueblos, su descripción y su situación geográfica a partir de los textos de época
romana, principalmente de Estrabón (3.3.5) y de Plinio el Viejo (3.28; 4.111 ss), por lo que
no podemos realizar una comparación con la realidad previa. Tan solo disponemos de un
documento en el que se menciona expresamente un cambio de límites, el Edicto del Bierzo
(fig.1)13.
El cambio de los Allobrigiaecini de la civitas de los Gigurri a los Susarri supone, entre
otros, modificar los recursos humanos y materiales de ambas comunidades, el ámbito de
actuación de los poderes locales y la transformación de sus límites (Alföldy, 2001,
p. 21). Por razones de la propia práctica administrativa no parece probable que los límites
fueran modificados sistemáticamente, pero el Edicto nos muestra que tal decisión estaba
en manos del Estado romano que podría ejercerla si así lo consideraba conveniente para
sus intereses. Nos muestra, en suma, su capacidad de intervención y en manos de quién
está la soberanía efectiva. En cualquier caso, aunque en la mayoría se mantuvieran límites
similares a los de época prerromana, esto no evitaría un ingente trabajo de mensuración

Fig. 1 - A la izquierda, el Edicto del Bierzo (fotografía del Museo de León) y a la derecha Tabula Lougeiorum
(fotografía M. Provincial de A Coruña).

13
Imp(erator) Caesar Divi fil(ius) Aug(ustus) trib(unicia) pot(estate)/ VIIII et pro co(n)s(ul) dicit /
Castellanos Paemeiobrigenses ex /gente Susarrorum desciscentibus / ceteris permansisse in officio cog/
novi ex omnibus legatis meis qui / Transdurianae provinciae prae/fuerunt itaque eos universos im/munitate
perpetua dono quosq(ue) /agros et quibus finibus possede/runt Lucio Sestio Quirinale leg(ato) / meo eam
provinciam optinente{m} / eos agros sine controversia possi/dere iubeo./ Castellanis Paemeiobrigensibus
ex / gente Susarrorum quibus ante ea(m) / immunitatem omnium rerum dede/ram eorum loco restituo
castellanos / Allobrigiaecinos ex gente Gigurro/rum volente ipsa civitate eosque/ castellanos Allobrigiaecinos
om/ni munere fungi iubeo cum /Susarris.
Actum Narbone Martio / XVI et XV k(alendas) Martias M(arco) Druso Li/bone Lucio Calpurnio ·
Pisone/ co(n)s(ulibus).

418
y delimitación, que no se pudo hacer sin un buen conocimiento del territorio, de los
recursos humanos y materiales disponibles, de lo cual tenemos otros indicios como son la
elaboración del censo.
El trabajo, ya clásico, de Nicolet (1988), mostró la importancia que en época de Augusto
tuvo el control del espacio y las diversas maneras en que se realizó. Una de ellas, como
es bien sabido, fue la realización de censos provinciales, como el de las Galias, del que
nos informa Dion Casio, pero debido a la ambigüedad del texto de este autor no sabemos
si a continuación se llevó a cabo también en Hispania (DC. 53.22.5). En cualquier caso,
el censo se realizó bien ahora bien unos años más tarde, y Plinio (3.28) que fue, no lo
olvidemos, un procurator de la Citerior, nos da las cifras exactas de los censados en
los tres conventus del Noroeste, las únicas conocidas en Hispania14. Es evidente que
estas cifras se obtenían a nivel local ya que precisamente ésta era una de las tareas
encomendadas a las civitates y en el Noroeste disponemos de un documento que ha sido
interpretado como un censo de esta naturaleza. Fue hallado en un castro de reducidas
dimensiones conocido como el Castro de Pelou, cercano a Grandas de Salime en Asturias,
probablemente un “castro minero”, lo que nos lleva, una vez más, a la intervención romana
en la creación o transformación de las comunidades indígenas15. Se trata de un texto
epigráfico realizado sobre material local, una placa de pizarra, en lugar del bronce o la piedra
habitualmente utilizados en los documentos oficiales romanos, pero no cabe duda de que su
naturaleza era esta, la oficial, pues todavía conserva evidencias de que estaba colgada en
algún lugar público. El texto es un listado de nombres, incompleto, ya que sólo conservamos
parte del soporte, que ha sido interpretado como tabula censualis de los individuos sometidos
a contribución por el Estado romano16. El cambio en la fiscalidad, con la consiguiente
obligación de pagar impuestos a Roma, es otro instrumento de control del Estado que se
implanta en este momento, al igual que lo es el cambio en la propiedad de la tierra.

14
Sobre la datación del censo de Plinio, vid. Le Teuff-Oudot, 2017, especialmente pp. 276 ss. con las
diversas hipótesis sobre esta cuestión.
15
No sólo están identificadas varias minas en el entorno del castro, además se documentan técnicas
características del trabajo minero empleadas en su fortificación, de ahí la clasificación como tal (Villa, De
Francisco & Alföldy, 2005, p. 272).
16
Col. I: Flavinus, Antio++vs, Flavus; Col. II: ¿ Torgalinus?, Lucius, Antonius, Fullonius, Qvintin [- - -], Frontinv,
Fronto, ¿Mussora?, Quintus, Quintinus, Lucianus, Septumus; Col. III: Pambanus, Pontius, Flavianus, Duanus (o
Duavus), et filius posuerunt frugem, Sempronius, Lucius, Ursinianus, Gemelus, Beduna, Maritumus, Maritumus,
Flucinus (o Fluvinus), Antonius Capito, Calpurnius, Aemilius, Sextus.

419
El texto que aparece en el Digesto es bien claro: Dominium Populi Romani est vel
Caesaris in solo provinciali (Caius Inst. II.7). Ciertamente este principio no es una novedad
de época imperial, sabemos que la tierra conquistada, la itálica primero y la provincial
después, eran consideradas ager publicus, es decir propiedad del Estado romano, como
bien recuerda el conocido texto de Apiano (BC 1.7) y eso significa que podía disponer de
ella libremente. A diferencia del derecho de propiedad pleno, optimo iure, característico de
los ciudadanos, los indígenas tan solo tenían la possessio, como aparece bien reflejado en
una de las escasas inscripciones del Noroeste que podemos datar en la primera mitad del
s. I dC., situada en Remeseiros17. Probablemente, en la práctica, los indígenas continuarían
trabajando esas tierras pero, al igual que hemos visto en el caso de las civitates, esa
situación podría cambiar en el momento en que el Estado romano así lo decidiese, ya que
la propiedad eminente era suya y, sobre todo, su consideración fiscal era ahora diferente.

Fig. 2 - Tabula del Caurel (fotografía del MPL).

17
Allius Reburri rogo deu(m) adiutorem in (h)a(e)c conducta conservanda si q(u)is in (h)a(e)c conducta
p(ossessionem) mici aut meis involaverit si r. quecunquae res at (?) mii ++a+s si l. siquit ea res v.s.l.v.f. Danceroi
(CIL II 2476). La inscripción fue realizada sobre una roca natural de un tamaño considerable (1.25 m de alto,
2.60 m de ancho y con un tamaño de sus letras que alcanza los 7.5 cm) y se encuentra a unos 20 km de
Chaves, la antigua Aquae Flaviae, para su interpretación vid. Dopico &Pereira Menaut, 1993.

420
El ager publicus es ager vectigalis, es decir, deben pagar el impuesto o vectigal fijado por
Roma para atender, como es lógico, sus necesidades, no las de los indígenas.
Hay una última cuestión que no quiero dejar de mencionar y es la que se refiere al
gobierno de esas civitates, que quedaría, probablemente, en manos de las élites ya
existentes. No estamos ante comunidades privilegiadas que deban asumir las magistraturas
e instituciones ya conocidas (IIviri, aediles, Curia), pero la influencia romana puede tener,
ya desde el principio, una cierta importancia. Tan solo disponemos de un texto que nos
deja entrever esa influencia, es la Tabula del Caurel (fig.2). Al final del pacto de hospitalidad
se menciona a dos indígenas que sancionan el pacto y son denominados magistratus en
lo que parece ser un claro paralelo con los dos cónsules, los epónimos, que aparecen al
principio18. Puede ser un indicio de una progresiva adaptación, al menos en algunos casos,
a las nuevas formas políticas.
Sólo en este nivel, el de las civitates, como he dicho, el que afecta más directamente
la vida de los indígenas, hemos visto cambios en la propiedad de la tierra, que deja de
ser privada, imposición de una nueva fiscalidad, para lo que se establece un control de
los recursos, transformaciones administrativas que dejan a las comunidades sólo con
autonomía local pero con la obligación de asumir funciones nuevas en beneficio del
Estado romano, (re)definición de su dimensión territorial y un nuevo estatuto jurídico de
los indígenas, el de peregrinus. Todos estos cambios están documentados, se realizan en
época de Augusto y no pueden ser comparables en sus dimensiones ni consecuencias con
las posibles transformaciones apuntadas en época republicana. Ahora afectan a todas las
comunidades sin excepción. Por supuesto los cambios no se acaban con este emperador.
Algunos iniciados en este momento, como son el desarrollo de las ciudades, las vías, la
imposición de la administración provincial, entre otros, debieron de ser continuados por sus
sucesores, especialmente, por el más inmediato, el emperador Tiberio. No podemos olvidar,
tampoco, un segundo momento crucial para la transformación del Noroeste como fue el de
la dinastía Flavia, con la ya mencionada aplicación del ius latii y las consecuencias que esto

18
Appio Iunio Silano P(ublio) Silio / Nerva co(n)s(ulibus) / Tillegus Ambati f(ilius) Susarrus / (castello)
Aiobrigiaeco hospitium / fecit cum Lougeis castellanis / Toletensibus sibi uxori libe/ris posterisque suis eumq/ue
uxorem liberosque eius / in fidem clientelamque sua/m suorumque in perpetuo cas/tellanei Toletensis receperunt
/ Egit Tillegus Ambati ipse / mag(istratibus) Latino Ari (filio) et Aio Temari (filio) (IRPLugo 55, 28 dC.). Sobre
este paralelo, vid. Arias Vilas et al., 1979, p. 78).

421
tuvo en las civitates, en la integración de los castella y el desarrollo de formas de gobierno
locales similares a las de cualquier otra ciudad romana, entre otros (vid. supra p.417).
Hemos visto una intensa transformación a partir del gobierno de Augusto, planificada
y dirigida por el Estado, pero estos no son los únicos cambios que se producen en este
momento y en los inmediatamente posteriores, en el s. I aC. ya que no podemos olvidar
ar los asumidos voluntariamente por los indígenas, tal y como nos muestran algunas
inscripciones. Es bien sabido que el hábito epigráfico se extiende por las provincias
precisamente a partir de esta época, pero el número de textos de esta naturaleza
conservados en el Noroeste es muy escaso. Ya hemos visto aquí tres de ellos, el edicto
del Bierzo, la Tabula Lougeiorum y la del Caurel (figg. 1 y 2) que junto con otro pequeño
número, entre los que destacan los de P. Fabio Máximo halladas en Lugo y Braga, forman
parte de lo que con acierto han sido denominados epígrafes “políticos” (Pereira Menaut,
1995). Son textos que emanan directa o indirectamente del poder, en algunos casos
auténticos documentos públicos que reflejan las nuevas realidades administrativas y
medidas de consolidación del nuevo sistema político. A ellos se añaden un grupo muy
reducido, pero muy significativo, de inscripciones que pueden ser datadas con certeza en
el s.I aC. y que muestran la asimilación de formas romanas por parte de los indígenas.
Por razones de espacio me voy a referir, de forma somera, solamente a las conservadas
en el conventus lucensis.
Las dos primeras que analizaré a continuación muestran la atracción de las élites
locales, que, como bien sabemos, fueron habitualmente utilizadas por el Estado romano
para controlar unas comunidades tan jerarquizadas como son las indígenas. Es significativo
que ambas inscripciones procedan de Lucus Augusti o de su entorno. Es la única ciudad
romana del conventus, sede temporal del gobernador durante su recorrido conventual,
con un urbanismo, formas de vida o cultura material totalmente ajenas a las indígenas.
Su influencia se deja ver en ambos epígrafes, que son funerarios.

422
Fig. 3 - Inscripción de los principes Copororum (fotografia del MPL).

En el primer caso está dedicada a dos individuos cuya onomástica es claramente


indígena, aunque ha sido latinizada (fig.3)19. Este es el único elemento indígena, a partir
de aquí todo el resto es “romano”, empezando por la propia elaboración del texto con
una cuidada letra capital cuadrada. Los dedicantes se han preocupado de que aparezcan
cuidadosamente recogidas las nuevas instancias administrativas a las que pertenecen
los fallecidos, castellum – populus – provincia. Estamos ante élites locales que se han
trasladado a vivir a Lucus Augusti en una época muy temprana –allí están enterrados-,
probablemente en la primera mitad del s. I dC. y que asimilan, voluntariamente, usos
y costumbres ajenos a sus sociedades, incluso en su autodenominación. Ambos son
principes, término que, como es bien sabido, no refleja un título oficial pero los asimila, de
alguna manera, a las nuevas formas del poder (Mangas & Martino, 1997; Rodríguez Neila,
1998, p. 117; Pitillas, 2003).
La segunda inscripción ha sido hallada fuera de la ciudad, a unos 20 km de distancia, en
el lugar de Crecente, junto a la via XIX que comunicaba Lucus Augusti con Iria Flavia

19
[Vec]ius? Verobli F(ilius) Prince[ps…/ ex Hisp(ania)] Cit(eriore] ) Circine(nsi) An(norum) LX [et /Vecc]o ¿ Veci
Filius) (...) Princeps Co[pororum ? / An(norum? H(ic) S(iti) Sunt Heredes sib[i et suis / F(aciendum) c(uraverunt)
(IRPLugo 34).

423
y cerca de otro conocido monumento romano, Santa Eulalia de Bóveda (fig.4). Es de nuevo
una inscripción funeraria con onomástica plenamente indígena, tanto la del dedicante
Apanus, como la de la fallecida, su hermana Apana y de nuevo se menciona la origo, el
castellum Miobri, y el populus en el que se integraría (Celtica/ Supertam(arica), es decir, las
nuevas realidades administrativas20.

Fig. 4 - Estela de Crecente con ele detalle de su parte superior (fotografia del MPL).

Aquí no tenemos una ordinatio tan cuidada como la de la anterior inscripción, la letra no
es capital cuadrada ni se menciona título alguno, pero tiene otros elementos que se salen de
lo común, empezando por sus dimensiones. La estela mide 2.80 m de altura por 71 cm de
ancho, por tanto estaba pensada para atraer la atención de cualquiera que pasara por ese
entorno rural, pero hay además otras razones por las que es extraordinariamente llamativa.
En la parte superior hay un relieve con varios individuos que no podemos identificar con
certeza pero podemos suponer que deberían ser la familia de la difunta y quizás ella misma.
Jurídicamente son peregrini como bien nos ha indicado su onomástica, pero encargan

20
[ Apana Ambo/lli F(ilia) Celtica/ Supertam(arica)/ (castello) Miobri/ An(norum) XXV H(ic) S(ita) E(st)/ Apanus
Fr(ater) F(aciendum) C(uravit) (AE 1997, 863= HEp 7, 1997, 397.

424
que se les retrate como si fueran romanos. El ropaje, el calzado, los adornos de algunos
de ellos o el peinado, son idénticos a los que llevaría un ciudadano, no un indígena del
Noroeste peninsular. Estamos, de nuevo, ante una autorepresentación, en este caso no
en el texto sino en la iconografía, de unas élites que demuestran su interés por emular la
nueva cultura.
Evidentemente esta asimilación de lo romano no fue algo exclusivo de las élites
urbanas, como nos muestra una inscripción alejada de este ambiente. En torno a Cícere
(Santa Comba) se han encontrado cinco inscripciones y, excepto una, todas son del s. II y
presentan onomástica latina. La única que puede ser datada en fecha más temprana es un
epígrafe más tosco que los anteriores, carece de una ordinatio cuidada y no tiene ningún
elemento decorativo, pero nos muestra una asimilación de lo romano a través de unos
cambios muy significativos en su onomástica. En el texto, de nuevo funerario, aparece la
secuencia de tres generaciones familiares, el padre, Cadroiolo, el hijo Caeleo y finalmente
el nieto Caesarus21. Todos ellos son peregrini pero la tercera generación ya ha latinizado
su nombre de forma muy significativa. Esta tendencia a la latinización de la onomástica
indígena es muy temprana, ya aparece tanto en la Tabula Lougeiorum como en la del
Caurel (vid. supra).
Las tres inscripciones analizadas son privadas pero debemos recordar una última
pública pero también de ambiente indígena. Es una dedicación que hace el castellum
Aviliobris a la máxima representación divina del Estado romano, a Júpiter Optimo Máximo,
mencionada con los epítetos capitolinos completos (fig.5)22.

21
Caeleo Cadroiolonis f(ilius) / Cilenus (castello) Berisamo / an(norum) LX et Caesarus Caeleonis f(ilius)
an(norum) XV h(ic) s(iti) s(unt) (IRPCoruña 52).
22
I(ovi) O(ptimo) M(aximo) / (castellum ) Av/iliob/ris pr(o) s(alute) (CIRG I , 66, Cores, Ponteceso).
Probablemente otra inscripción datada igualmente en el s. I y dedicada al Genius Castelli por una indígena de
nombre Bloena (Genio / Caste/lli Bl/oena / Sabin/i (filia) v(otum) l(ibens) s(olvit), CIRG I, 67, Cores, Ponteceso),
se refiera a la misma comunidad.

425
Fig. 5 - Inscripción del castellum Aviliobris (Archivo G. Pereira Menaut).

Todas las inscripciones han sido realizadas en latín, con los soportes y las fórmulas
características de la epigrafía en esta lengua. Todo esto ya sería significativo en sí mismo,
pero a esto hay que añadir la información que nos proporcionan sobre la adaptación social
de las élites, su papel en los centros urbanos y la imitación de titulaturas romanas, a lo
que se añade -inmediatamente después de la integración en el imperio- la asimilación
de algunos indígenas de la onomástica, los cultos y formas de vida ajenas. Es cierto que
son escasas, la mayoría de la población no cambiaría tan rápidamente, pero si añadimos
esta información a los cambios que he mencionado anteriormente de naturaleza jurídica,
administrativa o fiscal, creo que podemos comprender las importantes consecuencias que
tuvo la integración plena en el imperio romano y sus diferencias con un control previo de
etapa republicana.

426
BIBLIOGRAFÍA

Acuña, F., Arias Vilas, F., Balil, B., Díaz, M. C., Freixeiro, B., Mañanes, C., & Varela, V. (1976).
La romanización de Galicia. Sada: Ediciones del Castro.
Alföldy, G. (2001). El nuevo edicto de Augusto de El Bierzo en Hispania. In Grau Lobo, L. A., & Hoyas Díez,
J. L. (Coords.) (2001). El Bronce de Bembibre: un edicto del emperador Augusto del año 15 a. C. (17-25).
Valladolid: Junta de Castilla y León, Consejería de Educación y Cultura.
Allen, D.F. (1975). Cunobelin’s gold. Britannia, 6, 1–19.
Almeida, C.A.F. de (1983). O castrejo sob o dominio romano: a sua transformaçao. In G. Pereira Menaut
(Ed.). Estudos de cultura castrexa e de historia antiga de Galicia (pp. 187-198). Santiago de Compostela:
Universidad de Santiago de Compostela.
Arias, F., Le Roux, P., & Tranoy, A. (1979). Inscriptions romaines de la province de Lugo. Paris: Diffusion de
Bocard (= IRPLugo).
Baños, G. (1994). Corpus de inscripcións romanas de Galicia II. Provincia de Pontevedra. Santiago de
Compostela: Consello da Cultura Galega.
Bermejo Barrera, J.C. (1983a). El erudito y la barbarie: La construcción de la realidad etnográfica galaica
prerromana en la Geografía de Estrabón. In I Xornadas de Historia de Galicia (3-21). Ourense: Diputación
Provincial de Orense.
Bermejo Barrera, J.C. (1983b). Etnografía castreña e Historiografía Clásica. In G. Pereira Menaut (Ed.),
Estudos de cultura castrexa e Historia Antigua de Galicia (129-146). Santiago de Compostela:
Universidad de Santiago de Compostela.
Birley, A. (2008). Britain: the Caesarian and Claudian invasions. In I. Piso (Ed.). Die Römischen Provinzen.
Begriff und Gründung (Colloquium Cluj-Napoca) (179-192). Cluj-Napoca: Mega.
Costabile, F. & Licandro, O. (2000). Tessera Paemeiobrigensis. Un nuovo editto di Augusto della
“Transduriana provincia” e l’imperium proconsulare del princeps, Roma: L’Erma di Bretschneider.
Dopico Caínzos, Mª D. (1988). La Tabula Lougeiorum. Estudios sobre la implantación romana en Hispania,
Anejos de Veleia, Vitoria: Servicio Editorial Universidad País Vasco.
Dopico Caínzos, Mª D. (2013). Nuevas formas de administración, nuevas formas de control: la fundación de
Lucus Augusti y su conventus. Portugalia Nova Série, 34, 83‑100.
Dopico Caínzos, Mª D. & Pereira Menaut, G. (1993). La gran inscripción de Remeseiros (CIL II 2476). Sobre
la forma jurídica de tenencia de la tierra entre los indígenas bajo dominio romano. In Actas del II Congreso
Peninsular de Historia Antigua (633-642). Coimbra: Instituto de Estudos Clássicos e Instituto de Arqueología da
Faculdade de Letras de Coimbra.
Frere, S. (1978). Britannia: a history of roman Britain. Londres: Routledge and Kegan Paul.
Frere, S. & Fulford, M. (2001). The Roman Invasion of A. D. 43. Britannia, 32, 45-55.
Grau Lobo, L. A. & Hoyas Díez, J. L. (Coords.) (2001). El Bronce de Bembibre: un edicto del emperador
Augusto del año 15 a. C. Valladolid: Junta de Castilla y León, Consejería de Educación y Cultura.
Jersey, Ph. De. (2001). Cunobelin’s Silver. Britannia, 32, 1-44.
Le Roux, P. (2004). La romanisation en question. Annales. Histoire, Sciences Sociales, 59, 287-311.

427
Le Teuff-Oudet, B. (2017). Les recensements provinciaux en Hispanie au Ie siècle de notre ère. In P.
Ciprés (Ed.). Plinio el Viejo y la construcción de Hispania Citerior (273-292). Vitoria-Gasteiz: Servicio Editorial
Universidad País Vasco.
Mangas, J. & Martino, D. (1997). Princeps Cantabrorum en una nueva inscripción. Gerión, 15, 321-339.
Morais, R., Bandeira, M. & Sousa, Mª J. (2016). Celebração do bimilenário de Augusto. Ad nationes ethnous
Kallaikon. Braga: Cámara Municipal de Braga.
Morris, F.M. (2013). Cunobelinus’ Bronze Coinage. Britannia, 44, 27 – 83.
Nicolet, Cl. (1988). L’Inventaire du monde: géographie et politique aux origines de l’Empire Romain. París:
Fayard.
Pereira Menaut, G. (1978). Caeleo Cadroiolonis f. Cilenus, Berisamo et al. Centuria or castellum? : a
discussion. Hispania antiqua, 8, 271-280.
Pereira Menaut, G. (1983). Los castella y las comunidades de Callaecia. In Actas del II Seminario de
Arqueología del Noroeste (pp. 167‑192). Madrid: Ministerio de Cultura, Dirección General de Bellas Artes y Archivos.
Pereira Menaut, G. (1984). La formación histórica de los pueblos del Norte de Hispania. El caso de Gallaecia
como paradigma. Veleia, 1, 271-288.
Pereira Menaut, G. (1988). Cambios estructurales versus romanización convencional. La transformación del
paisaje político en el Norte de Hispania. In Estudios sobre la Tabula Siarensis, Anejos de AEArq IX (245-260).
Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Científicas.
Pereira Menaut, G. (1991). Corpus de inscricións romanas de Galicia I. Provincia de A Coruña. Santiago de
Compostela: Consello da Cultura Galega.
Pereira Menaut, G. (1992). Aproximación crítica al estudio de etnogénesis la experiencia de Callaecia.
In G. Ruiz Zapatero, & M. Almagro Gorbea (Eds.) Paleoetnología de la Península Ibérica (35-44). Madrid:
Editorial Complutense.
Pereira Menaut, G. (1995). Epigrafía ‘política’ y primeras culturas epigráficas en el Noroeste de la P. Ibérica.
In F. Beltrán (Ed.). Roma y el nacimiento de la cultura epigráfica en Occidente (183-196). Zaragoza: Institución
Fernando el Católico.
Pereira Menaut, G. (2009). O moderno debate sobre a romanización. In Mª D. Dopico Caínzos, M.
Villanueva Acuña, & P. Rodríguez Álvarez (Eds.). Do castro á cidade: a romanización na Gallaecia e na Hispania
indoeuropea (15-29). Lugo: Diputación de Lugo.
Pereira Menaut, G. & Santos Yanguas, J. (1980). Sobre la romanización del Noroeste de la Península
Ibérica. Las inscripciones con mención del origo. In Actas del I Seminario de Arqueología del Noroeste
Peninsular, vol. III (117-137). Barcelos: Sociedade Martins Sarmento.
Pitillas Salañer, E. (2003). El papel del “princeps” como elemento de enlace entre Roma y los pueblos
indígenas. Hispania antiqua, 27, 81-94.
Rodríguez Neila, J. F. (1998). Hispani Principes. Algunas reflexiones sobre los grupos dirigentes de la
Hispania prerromana. Cuadernos de Arqueología, 6, 99-137.
Sánchez-Palencia, F. J. & Mangas, J. (Coords.) (2000). El Edicto de El Bierzo. Augusto y el Noroeste de
Hispania. Ponferrada: Fundación Las Médulas.
Schulten, A. (1943). Los Cántabros y Astures y su Guerra con Roma. Madrid: Espasa-Calpe.

428
Soeiro, T. (1984). Monte Mozinho. Apontamentos sobre a ocupação entre Sousa e Tâmega em época
romana. Boletim Municipal de Cultura Penafiel 3.ª série, 1.
Soeiro, T. (2005). Monte Mozinho: Sítio arqueológico. Penafiel: Museo Municipal de Penafiel.
Syme, R. (1970). The Conquest of North‑West Spain. In Legio VII Gemina (79-108). León.
Torres, C. (1976). La conquista romana de Galicia. In Acuña, F., Arias Vilas, F., Balil, B., Díaz, M. C.,
Freixeiro, B., Mañanes, T., Torres, C., & Varela, V. La romanización de Galicia (9-30). Sada: Ediciones del
Castro.
Tranoy, A. (1981). La Galice romaine. Recherches sur le nord-ouest de la péninsule Ibérique dans l’Antiquité.
París: Ediciones De Boccard.
Villa, A., De Francisco, J. & Alföldy, G. (2005). Noticia del hallazgo de un epígrafe altoimperial en el lugar
de Pelóu, Grandas de Salime (Asturias). AEspA 78, 257-260.
Villanueva Acuña, M. (2016). A conquista do Noroeste. In Mª D. Dopico Caínzos, & M. Villanueva Acuña
(Eds.). Clausus est Ianus. Augusto e a transformación do Noroeste hispano. Philtáte 1. (59-72). Lugo:
Diputación de Lugo.

429

Você também pode gostar