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1ª Edição
Rio de Janeiro
Instituto de Artes – Universidade do Estado do Rio de Janeiro
2009
Instituto de Artes III SPA – Semana de Pesquisa em Artes
Programação Visual
Mariana Maia
Catalogação na fonte
UERJ/REDE SIRIUS/CEHB
U58 Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Semana de Pesquisa em Artes (3. : 2009 : Rio de Janeiro)
Anais da III Semana de Pesquisa em Artes / Marcelo Campos e Vera Beatriz Siqueira,
Organização. – Rio de Janeiro : UERJ, Instituto de Artes, 2009. – 1.ed.
462 p. : il.
Bibliografia: p. 462
ISSN 2177-0433
CDU 7 (063)
Sumário
72 Marcelo Araújo
Por uma linguagem visual alternativa: discursos, interferências e a cidade como suporte
Identidades, alteridades
Leituras contemporâneas
Em seu trabalho intitulado Le must de Rembrandt1, o artista alemão Hans Haacke utiliza de
métodos investigativos para recompor relações sociais veladas por um poder simbólico. O texto
busca, no sistema indiciário analisado pelo antropólogo e historiador Carlo Guinzbourg e em
conceitos de percepções sociais do sociólogo francês Pierre Bourdieu, uma linha de leitura que
tal qual Haacke percorre pistas e sinais afim de evidenciar atitudes que discutem e renegociam
valores sociais.
The German artist Hans Haacke, in his piece of art Le Must of Rembrandt, uses investigative
methods to rearrange social relations hidden by a symbolic power. The text tries to reach,
through an evidence system analyzed by the anthropologist and expert in history Carlo
Guinzbourg and by the French sociologist Pierre Bourdieu’s concepts of social perceptions, a
guideline that, such as Haacke, goes through clues and signs evincing attitudes that discuss
and renegotiate social values.
descoberta, tão minucioso quanto o detetive que tenta mostrar sua pesquisa para
a verdade, tão objetivo e sutil quanto o paleontólogo que lustra a fios de pena seu
achado afim de, quem sabe um dia, trazer à luz algo que pode desviar minimamente
o curso de uma história. Sustentando os pilares Haacke escreveu os nomes das
empresas que são administradas pelo holding financeiro formado pela companhia
financeira suíça Richemont e pela Richemont S.A., de Luxemburgo. Dentre essas
13 art uerj III semana de pesquisa em artes
empresas estão o truste Rembrandt e a Cartier.
Todos na vitrine da loja: Les Must de Cartier, Grupo Rembrandt, Gencor,
Total South África, Trabalhadores Africanos. O comum de vários. O investigador
desembaralha as pistas expondo ao interessado na investigação as possíveis
relações inerentes aos seus atos. Carretel de notas de interesses.
Um mistério numa profusão de informações, formas, imagens. Pistas que
percorrem os continentes na exposição de um caso que amarra personagens
díspares. Pequenos mundos individuais sugados pelo particular interesse. O vestígio
de um efeito: borboleta, tubarão, dominó.
O giro no mundo, de volta ao interior da loja. Os mundos são um.
Les must = Coisa que deve ser ouvida, vista.
Scherlok Holmes e Freud liam as pistas fornecidas respectivamente por
criminosos e pacientes, uma vez resolvido o mistério os envolvidos se viam obrigados
a lidar com uma espécie de verdade antes velada, encoberta, que os possibilitava
viver de certa forma passíveis a certo tipo de ignorância. No entanto, com a resolução
do caso, aparece uma nova circunstância sob a qual aqueles antes envolvidos na/
pela investigação deverão viver. Seguindo um rigoroso paradigma indiciário Hans
Haacke recoloca num caminho possível esse saber cogniscivo. Um convite para
o raciocínio, um convite sobretudo para o olhar atento às relações sociais e às
maneiras em que seus valores estão sendo negociados, a começar pelo mundo
que comporta a loja. A associação das pistas integram a subversão da imagem, das
relações. Todas as da vitrine, todas na vitrine. De uma loja à outra. Da loja real à
loja real. O convite é certo. Entre na loja, compre uma exuberante experiência ideal,
olhe para o mundo. Decifrar os sinais pode ser apenas um passo para adquirir as
ferramentas necessárias para uma palpável transformação.
Bibliografia
GINZBOURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: Mitos, emblemas e sinais. Ed.
Companhia das Letras, São Paulo, 1989.
HAACKE, Hans e BOURDIEU, Pierre. Livre troca. Ed. Bertrand Brasil, 1995.
GRASSKAMP, Douglas e HAACKE, Hans. Hans Haacke. Ed. Phaidon, 1a edição, 2004.
BOURDIEU, Pierre. 1993. How can one be a sports fan? In: The Cultural Studies Reader, org. DURING,
Notas
1 O maior grupo africano de negócios é o truste Rembrandt que está na África do Sul. No entanto esse
truste tem ações financeiras controladas por uma companhia suíça de negócios que possui cotação nas
bolsas de valores de Genebra, Bale, Zurique e Johannesburgo. A Richemont S.A. permite a Rembrandt
escapar das sanções da África do Sul e defender seus interesses na União Européia. A financeira detém
a maioria das ações de empresas de tabaco, canetas Montblanc, 77,3% da Cartier Mundo (incluindo o
must Cartier), sem contar porcentagens menores como, por exemplo, em “maisons” de alta costura como
Valentido e Yves Saint-Laurent. O Grupo Rembrandt se beneficia de antigos acordos da antiga política do
Apartheid. Na África do Sul está fortemente ligado a setores de mineração, bancos, serviços financeiros,
alimentos, petróleo e exploração florestal. Ela submete seus trabalhadores a tratamentos brutais e ainda
os reprime politicamente repreendendo violentamente suas greves. Em 1986, esses abusos e negligências
de segurança mataram 177 mineiros negros. Como logomarca a empresa utiliza um auto retrato do artista
Rembrandt e apóia as artes plástica na África do Sul assim como a Cartier o faz na França.
2 GINZBOURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: Mitos, emblemas e sinais. Ed.
Companhia das Letras, São Paulo, 1989, pg. 152.
3 BOURDIEU, Pierre. O Capital Social: notas provisórias. In: Escritos de Educação, NOGUEIRA,
Maria Alice e CATANI, Afrânio. Ed. Vozes, Petrópolis, 1998, p.67.
4 GINZBOURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: Mitos, emblemas e sinais. Ed.
Companhia das Letras, São Paulo, 1989, pg. 152.
5 Perrin, Alain Dominique. Retirado de uma entrevista à Fabrice Bousteau no site da Fondation Cartier
pour l’art contemporain:. http://fondation.cartier.com/?_lang=fr
6 Expressão utilizada pelo próprio Perrin em sua entrevista.
7 HAACKE, Hans e BOURDIEU, Pierre. Livre troca, ed. Bertrand Brasil, 1995, pg.28
8 Id. Ibid, pg.29
9 Id. Ibid, pg.29
10 GINZBOURG, Carlo. Sinais: raízes de um paradigma indiciário. In: Mitos, emblemas e sinais. Ed.
Companhia das Letras, São Paulo, 1989, pg. 166.
This present research is focused in investigate the specificities of public art projects centered
in collaboration between artists and nonartists. In this relacional leveling, however, conflicts
and impredictable situations configure important processes, that put out ethics issues, both
in the presentation of records resulting from these processes in art´s circuits and in their own
execution.
1. Introdução
O presente texto irá dissertar sobre as especificidades de projetos de arte
pública centradas na colaboração entre artistas e não artistas. Tal procedimento não
é algo completamente novo, mas a forma como esta característica colaborativa vem
sendo empregada em diversos projetos ressaltam especificidades próprias. Dois
projetos atuais de arte pública serão trazidos para a discussão a fim de demonstrar
como tais pensamentos são articulados na prática. O primeiro foi o processo de
16
criação de uma rádio comunitária na cidade de Florianópolis (SC) e o segundo é a
experiência de construção coletiva de um parque e diversas atividades na cidade de
Hamburgo, na Alemanha, chamado Park Fiction. Estas reflexões dão continuidade as
discussões expostas na dissertação “Processos colaborativos, contaminações e jogos
de alteridade em arte pública: experiências na criação de uma rádio comunitária”
(2008)1, defendida na Universidade do Estado de Santa Catarina.
2. Colaborações e colaborações
Pode-se notar que dentro do campo da arte pública atualmente há muitos
projetos em desenvolvimento e, em diversos deles, a palavra “colaboração” surge
como um termo chave para a realização de tais práticas. A qualidade colaborativa
não é nova dentro da história da arte, e pode ser apontada desde a idade média
nas práticas de arte realizadas pelas escolas de artes e ofícios. O crítico Grant H.
Kester, no texto intitulado “Peças de conversação: colaboração e identidade artística”2
(2000), contextualiza este processo de colaboração enquanto um procedimento
comum entre artista (aquele que idealiza determinada obra de arte), e outros agentes
ao seu redor que interagem em diferentes graus para a confecção desta (ibidem,
sem página). Este fazer está distribuído em diversas escalas: desde os ajudantes
técnicos e artesões (como exemplo, podemos citar algumas práticas de gravura),
passando pelos agenciadores de espaços para a exibição e circulação das obras
e fomentadores financeiros, até chegar aos espectadores, que mesmo no fim da
cadeia, se apresentam como fundamentais para o funcionamento do todo. Neste
esquema, no entanto, os agentes que constituem este sistema maior, exercem papéis
e ações muito bem estabelecidos, formando assim campos de atuação próprios e
isolados e deixando que o contato aconteça em zonas de interação previamente
determinadas. Dessa forma, Kester aponta para formação de um estereótipo do
artista, que sai do anonimato das guildas medievais para se tornar o centro de uma
luta pelo seu sucesso e reconhecimento individual, ainda que esta batalha se dá
exatamente contra todos os conformismos de todas as diferentes sociedades. Surge
o caráter marginal do artista, que não se encaixa dentro de uma cultura, e, ao mesmo
tempo, necessita de algum grau de reconhecimento de sua genialidade.
Fotomontagem com
diversas atividades
(transmissão, shows e
oficinas).
Notas
1 WASEM, Marcelo Simon. Processos colaborativos, contaminações e jogos de alteridade em arte
pública: experiências na criação de uma rádio comunitária – Florianópolis, SC, 2008. Dissertação de
mestrado (Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais) – Universidade do Estado de Santa Catarina,
Florianópolis.
2 Nossa tradução para o título “Conversation Pieces: Collaboration and Artistic Identity”.
3 ibidem, p.21.
4 ibid., p.14-5.
5 ibid., p.15.
6 2006, p.43.
7 ibidem, p.9, grifo dos autores.
8 ibidem, p.6.
9 ix ibidem, p.41.
10 KESTER, Grant H. Colaboração, arte e subculturas, 2006, p.25.
11 LADDAGA, 2006, p.83.
12 Tradução nossa de “imágenes que marcan rutas, que son atractores em esas rutas que vinculan
espacios y están destinados a poner em contacto a grupos e individuos”, ibidem, p.88.
13 BOURRIAUD, 2006, p.23.
14 ibidem, p.33.
PPCIS – UERJ
From the middle of the decade of 40 to the beginning of the decade of 60, great transformations
were processed in the Brazilian artistic field. On that moment, the IBEU stood out for valuing no
consecrated artists and the avant-garde artistic currents. This work intends to investigate how
the speech of revealing new artists was mobilized by the institute to conquer cultural legitimacy.
27
consagrados e das correntes artísticas consideradas vanguardistas. Nesse sentido,
a galeria IBEU seria destacada enquanto um espaço destinado à propagação do que
havia de mais inovador no campo das artes, inserindo-se, assim, no intenso debate
em torno das diversas manifestações da arte moderna.
O IBEU, que foi inaugurado em 1937 e patrocinou sua primeira exposição em
1940, passou a contar com uma comissão de arte em 1944 e seus integrantes seriam
responsáveis pela escolha da programação cultural do instituto. Dentre os membros
dessa comissão, é importante ressaltar o trabalho de Marc Berkowitz, responsável
pela criação das exposições Alguns Novos e O Rosto e a Obra, mostras estas que
se tornaram uma marca registrada do instituto. De acordo com o próprio Berkowitz
(1985), a origem dessa comissão de arte, em substituição àquela que havia sido
criada em 1943, é explicada pela preocupação do primeiro presidente do instituto,
Afrânio Peixoto, em fazer a balança pender progressivamente para os grupos
vinculados à arte moderna. Além de Berkowitz, essa nova comissão contou com a
presença de Augusto Rodrigues e Alcides da Rocha Miranda.
No discurso dos membros da comissão de arte do instituto, o destaque garantido
aos artistas modernos só seria possível em um espaço cuja preocupação não fosse
apenas com o lucro. Somente a ausência de vínculos com o mercado ofereceria
liberdade suficiente para a escolha dos artistas mais antenados com as linguagens
contemporâneas da arte. Nesse sentido, Berkowitz ressaltou o caráter “puramente
cultural” da galeria IBEU, em contraste com as galerias mais comerciais, o que
possibilitou a criação de um espaço para as correntes artísticas mais inovadoras. Além
disso, para reforçar uma suposta despreocupação com o lucro, o instituto não cobrava
dos artistas uma comissão pela venda de suas obras, como acontecia em outras
galerias. Essa distinção entre dois tipos de galeria – uma cultural e outra comercial –
aparece nesse depoimento da atual curadora da galeria IBEU, Esther Emilio Carlos:
Hoje em dia o IBEU é considerado a única galeria que existe que lança a
arte contemporânea e que não cobra nada. Porque é uma galeria cultural
(...) A única coisa que eles pedem agora é uma obra para o IBEU, a
critério do artista2.
Em muitos casos, o discurso que priorizava os valores novos da arte não era
abandonado, mas surgia juntamente com o novo critério adotado, qual seja, aquele
que previa a qualidade das obras de arte expostas. No dizer de Berkowitz, por
ocasião da abertura do I Salão Nacional de Artes Plásticas do instituto:
Bibliografia
BAPTISTA, Anna Paola. Absolutamente modernos? A arte brasileira das Bienais e dos MAMs e os desafios
de uma coleção particular. Revista Brasileira de Museus e Museologia, Rio de Janeiro, n. 7, p. 67-78, 2007.
BECKER, Howard. Art Worlds. Berkeley e Los Angeles: University of California Press, 1982.
BERKOWITZ, Marc. 25 anos da galeria IBEU. Rio de Janeiro: IBEU, 1985. Catálogo de exposição.
______. 7 novíssimos. Rio de Janeiro: IBEU, 1968. Convite da exposição.
______. I Salão Nacional de Artes Plásticas do IBEU. Rio de Janeiro: IBEU, 1960. Folder.
______. Duas Exposições Norte-Americanas. O Globo. Rio de Janeiro: 09/04/1962.
______. Coletiva Brasileira. Rio de Janeiro: IBEU, 1966. Convite de exposição.
BUENO, Maria Lúcia. Artes plásticas no século XX: modernidade e globalização. Campinas: Editora
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DURAND, José Carlos. Arte, privilégio e distinção: artes plásticas, arquitetura e classe dirigente no Brasil,
1955/1985. São Paulo: Perspectiva: EDUSP,1989.
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MOULIN, Raymonde. O mercado da arte: mundialização e novas tecnologias. Porto Alegre: Zouk, 2007.
Notas
1 Em 1967, essa exposição passou a se chamar Novísssimos.
2 Depoimento de Esther Emilio Carlos. 26/08/1999. IBEU nas artes visuais 1940-2000. Rio de Janeiro:
IBEU, 2000.
3 A galeria foi projetada pelo arquiteto Wit Olaf Prochnick, e na época foi considerada um dos melhores
espaços de exposição da cidade.
4 Sobre a localização das galerias na cidade, Bueno escreve: “No rio, elas se estabeleceram na Zona
Sul, próximas a orla marítima, nos bairros de Copacabana e Ipanema, que concentravam a vida social da
burguesia, o fluxo turístico e parte do comércio de luxo” (Bueno, 2005: 388).
5 Sobre esse período, Roberto Pontual escreve: “A abertura da década de 1960 trazia mudanças
sensíveis no comportamento do mercado nacional de arte, sobretudo no eixo Rio-São Paulo. Incipiente e
ambíguo, mas ao menos operoso, ele começava a funcionar através de galerias condignas e marchands
de olho na contemporaneidade. A galeria Bonino, inaugurada no Rio em 1960, e a ação de Jean Boghici,
bem como de Franco Terranova, na mesma cidade, exemplificavam um novo estado de coisas” (Pontual,
1967, apud Durand, 1984: 182).
Alexandre Guimarães
PPGARTES – UERJ
The present research, inserted in the line art, cognition and culture of the program of Master in
Arts of the UERJ, search open field of understanding about the visual aspect and the character
mutant of the “Stairway Selaron”, articulating concepts and ideas of Aby Warburg, George Bataille
and Marcel Mauss. Situated in the Rio de Janeiro, interconnecting the Square of the Lapa and the
Santa Teresa´s slope, it referred urban intervention presents, beyond the fascinating colorful mosaic,
intriguing periodic substitution of tiles, conferring to the work differentiated outward appearance.
Art. 1º. Ficam tombados, provisoriamente, por seu valor cultural, nos
termos do art. 5º. Da Lei 166, de 27 de maio de 1980, a escadaria
A destruição de azulejos
Bibliografia
BATAILLE, Georges. La Part Maudite. Paris: Editions de minuit, 1967. “La notion de dépense”, 25- 48.
LEVI-STRAUSS, Claude. O pensamento selvagem. Campinas: Papirus, 1989.
MAUSS, Marcel. Dom, contrato, troca. In.: Ensaios de sociologia. São Paulo: Editora Perspectiva, 1999.
____________ . Ensaio sobre a natureza e a função do sacrifício. In.: Ensaios de sociologia. São Paulo:
Editora Perspectiva, 1999.
PANOFSKY, Erwin. Estudos de iconologia. Lisboa: Editorial Estampa, 1982.
PAZ, Octávio. Ver e usar: arte e artesanato. Convergências: ensaios sobre arte e literatura. Rio de Janeiro:
Rocco, 1991.
WARBURG, Aby. Imagens da região dos Índios Pueblo da América do Norte. In. Concinnitas: arte, cultura e
pensamento nº 08. Rio de Janeiro: UERJ/ DEART, 1997.
Notas
1 A atividade humana não é inteiramente redutível a processos de reprodução e de conservação,
e o consumo deve ser dividido em duas partes distintas. A primeira, redutível, é representada pelo
It’s very hard to find some characteristics that summarize the sound, the look and the esthetic
aspects of the Beatles. Great changes in a short time are a relevant factor. Those changes
leave very apparent the influence of the political, economic, social and cultural events of the
time of activity. It suggests, therefore, to analyze the strong influence of the historical context in
some aspects of the fab four career.
Introdução
Lembro-me da primeira vez que ouvi os Beatles. Foi na minha infância, junto
a grandes amigos. Um deles tinha conhecido através de seu pai e quis mostrar para
os demais. Help! e Yellow Submarine foram suficientes para que eu percebesse a
unicidade da banda. Foi a única experiência de amor a primeira vista que tive em toda
minha vida.
O tempo e a maturidade me fez atentar para a grandeza e a importância
51
dos Beatles na cultura ocidental do século XX. Como era considerável a sua
presença, mesmo depois de décadas do seu término, em nossa rotina. Mesmo
inconscientemente. Como a sua música influenciou grande parte – ou porque não
tudo? – que ouvimos hoje. Eu só não conseguia entender o porquê.
Partilho a idéia dos Beatles – isto vale para qualquer outra banda – como
resultado de duas forças notáveis: a conjuntura e o talento. Muitos falam de uma
terceira força. A propaganda, segundo alguns estudiosos, seria a causa de todo
fervor causado sobre e pela banda1. Porém, julgo insuficiente. Muitos artistas,
principalmente os mais atuais, têm um apelo comercial e mercadológico tão ou mais
intenso que os Beatles tiveram na década de 1960. Nenhum deles, no entanto,
chegou perto das cifras alcançadas por esta banda inglesa – pensando estritamente
no viés mercadológico e não considerando as questões mais voltadas para o social,
como quantidade de bandas cover, celebração de datas comemorativas, número de
fãs e de decibéis do grito coletivo delas2.
O talento da banda é inegável. Há um sem-número de literaturas retratando-o,
e como que a partir dele – habilmente utilizado para compor sucessos – os Fab Four
chegaram ao patamar de banda mais influente do século XX. A quantidade de hits
é tão grande – e em tão pouco tempo – que coube numa compilação de 27 faixas3.
Mais ainda, não era um talento coletivo – ou seja, fracos talentos individuais que,
juntos aos dos demais, formavam um todo forte. Eram quatro talentos particulares
e ímpares, que acharam caminhos para serem transpostos em notas musicais e
vocalizações impecáveis (em minha opinião, estes “caminhos” eram, na verdade, um:
George Martin4). Mas como o quesito “talento” já foi amplamente discutido em outros
trabalhos, ater-me-ei na outra força.
Inserir a obra no contexto do artista é, para nós, historiadores, essencial
para se ter uma análise, no mínimo, aceitável. Porém, nem todos os autores têm
esta preocupação. Como muito da literatura sobre a carreira dos Beatles é feita por
jornalistas ou produtores musicais, esta inserção não ganha a merecida atenção.
Estou longe de julgar se está errado ou certo. Se é ruim ou bom. Creio apenas que tal
exercício - ainda mais se tratando de um trabalho de cunho histórico - deixa o estudo
e suas análises mais fundamentadas e, conseqüentemente, completas.
A guerra do Vietnã
A investida norte-americana no Vietnã19 teve início a partir das diretrizes do
pós-II Grande Guerra, ou seja, com as premissas da Guerra Fria. Desta forma, o que
se priorizou inicialmente foi impor um regime clientelista no país - de maneira pacífica
– como forma de evitar a “contaminação” pelo “vírus” comunista20. O pacifismo, no
entanto, transformou-se em terror, e uma ditadura militar foi imposta, em 1963, (com
apoio dos Estados Unidos), em resposta a ineficiência do então presidente de conter
a ameaça vermelha21.
Quanto mais os comunistas do norte, em conjunto com os Viet Congs,
ganhavam território e apoio popular, mais soldados do exército norte-americano
eram mandados à guerra. Esta durou até 1972, quando os vietnamitas conseguiram
Acho que no fundo, qualquer que seja o problema, ele geralmente tem a
ver com o amor. Então, penso em All You Need Is Love como uma real
entidade. Não estou dizendo “você tem que fazer isso”, porque All You
Need surgiu no tempo da geração Flower Power. Ela não significa que
tudo que você tem que fazer é pôr um sorriso falso na cara e usar roupas
floridas e tudo estará bem. Amor não é só alguma coisa que você cola
em cartazes ou cola na traseira do carro ou prende na sua jaqueta ou no
emblema. Estou falando do verdadeiro amor, então ainda acredito nisso.
Amor é apreciação do próximo e o permite ser o que é. Amor é permitir
as pessoas serem elas mesmas e isso é tudo que precisamos26.
Conclusão
Vimos, a partir destas três fatos históricos/sociais, que os Beatles não estavam
isentos das forças conjunturais. Seja na formação da banda, na estética de um disco
ou na letra de uma canção, percebemos influências da História na história dos Fab
Four. Pois ao mesmo tempo em que um episódio pode influenciar toda sua geração,
ele não é livre das influências que marcam a sua época. Ou seja, ele influencia e é
influenciado concomitantemente. É ativo e passivo simultaneamente.
Porém, deixo claro que estes acontecimentos históricos são insuficientes para
explicar o fenômeno Beatles. Primeiramente, porque eles não foram os únicos; alguns
outros poderiam ter sido salientados27. Depois, conforme dito outrora, ela – a banda
– é composta por duas forças. E esta outra força – o talento – é tão valiosa quanto o
zeigeist dos anos 60. Por mais que esteja também inserida nas barreiras sociais, sendo
limitada pelas mesmas28, não se pode negar a sua peculiaridade no caso dos Beatles.
Tanto o é que nenhuma outra banda conseguiu alcançar o seu patamar. Até agora.
Bibliografia
CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Memória e Sociedade, 2002.
CHACON, Paulo. O que é Rock. São Paulo: Brasiliense. 1985.
CHOMSKY, Noam. Camelot: os anos Kennedy. São Paulo: Scritta Editorial, 1993.FRIEDLANDER, Paul.
Rock and Roll: uma história social. Rio de Janeiro: Editora Record, 2008.
GRAMSCI, Antonio. Literatura e vida nacional. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968, p.5.
HEYLIN, Clinton. Sgt. Pepper’s Lonely Heart Club Band: um ano na vida dos Beatles e amigos. São Paulo:
Editora Conrad, 2007.
KARNAL, Leandro; FERNANDES, Luiz Estavam; MORAIS, Marcus Vinícius; PURDY, Sean. História dos
Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Editora Contexto, 2007.
SPITZ, Bob. Beatles: a biografia. São Paulo: Larousse do Brasil, 2007.
PEREIRA, Carlos Alberto M. O que é contracultura. São Paulo: Editora Brasiliense, 1986.
Apêndice
Love, love, love, love, love, love, love, love, love.
There’s nothing you can do that can’t be done.
Notas
1 Cf. PESTANA, Marco M. Os Beatles revolucionam a música pop. Revista A Roda, n. 7. Universidade
Federal Fluminense, 2008, p. 20.
2 O Shea Stadium nunca mais foi o mesmo depois do dia 15 de agosto de 1965. Neste dia, os Beatles
realizaram o primeiro show num estádio aberto de os tempos. Além disso, bateram o recorde de público até
então: mais de 50 mil pessoas. Dizem os músicos – e quem mais estivesse lá – que o barulho oriundo da
platéia, sobretudo a feminina, era tão alto que eles não conseguiam se ouvir cantando nem tocando. Nem
os 50 amplificadores de 100 watts disponibilizados para o show deram vazão. SPITZ, Bob. The Beatles: a
biografia. São Paulo: Larousse, 2007, pp. 569-72.
3 Em 2000, foi lançado um álbum com todos os singles da banda que alcançaram o 1º lugar nas paradas
de sucesso. O nome é altamente sugestivo: “1”. São um total de 27 faixas, que abarcam toda a sua carreira.
4 Produtor dos Beatles desde o primeiro (Please Please Me, 1962) até o penúltimo álbum (Abbey Road,
1969). É considerado por muitos como o “quinto beatle” pela sua presença mais que notável nas músicas
da banda (além das normais de um produtor musical).
5 CHARTIER, Roger. A História Cultural: entre práticas e representações. Lisboa: Memória e Sociedade,
2002, p. 35.
6 Ibidem, pp. 36-38.
7 KARNAL, Leandro; FERNANDES, Luiz Estavam; MORAIS, Marcus Vinícius; PURDY, Sean. História
dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Editora Contexto, 2007, p. 219.
8 Ibidem, p. 218.
Arley Andriolo
Based on phenomenological research method, this paper intends to bring out the life-world of
graffiti artists themselves, as they seek to understand the experience of art and aesthetics. The
relevance of this work is the possibility to discuss the relationship between art and life from the
viewpoint of the artist himself.
Alguns autores afirmam que o graffiti não tem conteúdo nem mensagem.
Segundo Baudrillard (apud Gonçalves e Estrella, 2007), é justamente no vazio
do graffiti que está sua força, pois assim os mídia são atacados em seu modo de
produção e difusão, e através de uma intuição revolucionária, a ofensiva total sobre
a forma vem acompanhada por uma recessão dos conteúdos (p.106). Costa-Moura
(2005) afirma que o grafiteiro não empenha seu esforço na matéria verbal, mas na
decisão de escrever (no corpo da cidade e correndo todos os riscos). E essa escritura
não explora um saber, não veicula um sentido nem ilustra um tema. Sua força
não está no conteúdo ou na mensagem, mas no gesto que a produziu. (p.3) Cabe
investigar o quanto os jovens escolhem a forma e o conteúdo das marcas que deixam
pela cidade, e como compreendem o sentido disso, para além do gesto.
A partir da implicação arte e cidade, podemos pensar a estética como uma
forma específica de relações humanas com o mundo. Furtado e Zanella (2007, p.06)
salientam que essa forma de relação é tão importante como qualquer outra, sendo
muito importante para a constituição de todo e qualquer sujeito. Para os autores
olhar esteticamente a realidade amplia as possibilidades de relação com o mundo
em geral, incluindo nessas relações aquelas que estabelecemos conosco mesmos.
Para Gonçalves e Estrella (2007, p.99) a arte interessa menos pelo que expressa
e mais pelas marcas que pode deixar em nós, por seu poder de nos engajar em
processos de invenção; já a cidade, é importante menos em relação com a geografia
dos espaços produzidos e mais em sua relação com o tempo da experiência, ou seja,
pela qualidade das experiências subjetivas que seus espaços podem suscitar.
Metodologia
Para compreender quais são as repercussões da produção artística no cotidiano
de jovens grafiteiros, será utilizado como método a pesquisa fenomenológica, que se
caracteriza por ser qualitativa. Nesta perspectiva, a tarefa do pesquisador é desvelar
Figura 1: graffiti em
muro da cidade de São
Paulo, Setembro de
2009
Bibliografia
ANDRIOLO, A. (2006). O silêncio da pintura ingênua nos ateliês psiquiátricos. Psicologia: Teoria e
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Notas
1 O Projeto Quixote é uma OSCIP ligada à Universidade Federal de São Paulo, que atua desde 1996
e tem como missão transformar a história de crianças, jovens e famílias em complexas situações de risco,
através do atendimento clínico, pedagógico e social integrados, gerando e disseminando conhecimento.
Marcelo Araújo
This comunication discusses the graffiti walls assumed as artistic productions urban that
resignify visually this environment. I propose a self methodology for its interpretation, with
reference to the language functions established by Roman Jakobson. I intend to delineate a
theoretical contribution that put like a engine for its reading and related events in contemporary
public spaces.
“O que eu admiro no Picasso é o estilo que ele criou: ele ‘chutou o balde’. Se
esse cara fosse vivo, ele seria grafiteiro”.
(AKUMA, 15/06/2002)
72
sujeitando-as ao ritmo de nossa observação. Considerando sua especificidade, é
necessário lembrar que sua interpretação consiste mais na tarefa de intermediação
dos significados nelas presentes do que num processo de significação propriamente.
Nesse sentido, o espectador/intérprete faz existir a imagem.
Há, sem dúvida, na atualidade, uma linguagem visual de grande abrangência
compondo o espaço das cidades contemporâneas. Nesse sentido, a comunicação
por imagens é uma das principais características da vida moderna, sendo aspecto
essencial da experiência do ser urbano.
Enquanto linguagem urbana, o conjunto dos grafites pesquisados pode reunir
algumas funções que possibilitam uma aproximação analítica de sua aparição. Sua
linguagem conforma um canal alternativo de comunicação, cujas linhas básicas de
apresentação podem ser compreendidas através de uma perspectiva interpretativa
das pinturas em seu contexto.
Nesse prisma da comunicação, é possível estabelecer algumas características
das pinturas, a partir da observação de seus motivos temáticos, de suas cores e de
suas formas eleitas para a confecção. Assim, enquanto linguagem gráfica, urbana e
multicolorida, os grafites pesquisados podem ser discutidos a partir da abordagem de
funções específicas e restritas à linguagem comunicativa dos muros urbanos.
Figuras 1 e 2: muro
coletivo no bairro do
Barreto. Digitalizada
a partir do original do
autor.
urbanas. Eles primam pela significação mais básica possível da pintura sem deixar
de lado - e essa é a sua especificidade - o investimento de sua dose de criatividade.
Baseando-se numa orientação que privilegia o contexto, as imagens que
seguem a tendência ao referente, àquilo sobre o que está falando, não podem ser,
entretanto, isoladas da ocorrência concomitante de outras funções, mesmo estando
em grande quantidade no campo pesquisado.
As dimensões são aproximadamente 1,25m de altura x 3,10m de largura. A
riqueza de detalhes e a vivacidade das cores transformam a composição numa
reprodução bastante aproximada da realidade sensível, dos referenciais da natureza
para os quais a pintura se volta.
Além do realismo investido nas pinturas, o que parece também impressionar
é o recorte que separa uma parte da outra na pintura. O corte geométrico que as
separa assemelha-se às películas de filme fotográfico, que separam os quadros das
poses. A ‘fotografia’ dos elementos da natureza parece ser, a partir das reproduções
realistas que a pintura apresenta, o ideal buscado pelos grafiteiros. Fotografia
que, apesar de privilegiar o aspecto do real visível, não deixa de ter seus traços
impressionistas bem marcados pelas manchas que são impressas no fundo da
pintura, em ambas as partes.
76 art uerj III semana de pesquisa em artes
Juntam-se ainda aqui duas outras funções que se manifestam na composição
de modo também importante: a função conativa e a função poética. Na primeira,
o apelo ao espectador é uma forma de dirigir a preocupação quanto ao tema
tratado para as atitudes dos outros indivíduos. O foco no destinatário é a maneira
de os grafiteiros contribuírem, com sua pintura, para a conscientização quanto à
conservação dos bens naturais, aqui curiosamente objetivados na casa de shows,
que deve ser uma prática abrangente e constante.
Quanto à função poética, a valorização da própria produção (em suas palavras,
da arte), da poesia que as palavras contêm e o fato de valorizar diferencialmente o
suporte freqüentado pelos habituais usuários é invocada, quando da aliança entre
imagem e texto.
A função poética aqui investida lembra também a adequação entre o tipo de
pintura e a natureza do suporte em que ela se encontra. O caráter de entretenimento
da casa promove um hiper-dimensionamento do conceito de arte aplicado pelos
próprios grafiteiros, face não somente à sua visibilidade ampliada mas também pela
música ser uma forma de arte, sendo oportunamente complementada por uma outra,
a pintura.
Figuras 4: muro
coletivo no bairro do
Alcântara. Digitalizada
a partir do original do
autor.
Considerações finais
Esperando ter contribuído para uma possível forma de interpretação
destas imagens urbanas, este texto enfatiza, mais uma vez, que as opções
de enquadramento das imagens sob uma função da linguagem (visual) só
têm pertinência quando se reconhece que esta é uma postura arbitrária e
deliberadamente posicionada a partir de e por um propósito pedagógico e didático.
Para finalizar, quero advogar em benefício da utilização acadêmica das
imagens do grafite de muros na constituição de um campo que merece ser explorado,
uma vez que sua discussão se vale de elementos que ativam a interlocução entre
produção artística e sua moldagem plenamente social.
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ARGAN, Giulio Carlo. “O espaço visual da cidade”. In: História da arte como história da cidade, 3ª ed.,
Notas
1 JOLY (1996:50). Isto reforça o caráter artesanal do método, no sentido de sua adequação ao objeto,
que se torna uma ferramenta ad hoc no estudo da imagem, sobretudo das imagens visuais constantes do
espaço urbano.
2 Na acepção de JAKOBSON (1971), essas funções estão presentes em todo ato de comunicação e,
para tanto, a linguagem só pode ocorrer na presença de um contexto a que se refira, quando passível de
verbalização e quando possuir um canal físico para o contato. Ver também FRANÇOIS “Le langage et ses
fonctions”, in MARTINET (1970:3-19).
Isis Braga
The research aims to understand the process of conception and development of landscape
gardening of the Museum of Modern Art in Rio de Janeiro by Roberto Burle Marx in the 1950s.
Investigates the influence of the Concretismo and Neoconcretismo in the landscape gardening
project of the Museum of Modern Art in Rio de Janeiro (MAM-RJ). Concludes that the landscape
design by Burle Marx has trends of modern art, because he got join the project painting -
landscape- architecture to integrate Art and Science in the construction of modern landscape
gardening.
82
Introdução
A partir de observações e estudos baseados nos projetos de modernização
do espaço urbano da cidade do Rio de Janeiro, o jardim do Museu de Arte Moderna
do Rio de Janeiro (MAM-RJ) foi escolhido como tema por ser um jardim público que
faz parte da história nacional, exclusivamente pensado e projetado pelo arquiteto-
paisagista Roberto Burle Marx nos anos de 1950, que teve a ânsia de transferir a
imagem do nacional de suas telas pictóricas para o espaço urbano, introduzindo a
flora nativa no paisagismo.
O presente artigo tem como o enfoque a compreensão do processo de
concepção e desenvolvimento do projeto do jardim do Museu de Arte Moderna (MAM-
RJ). de Burle Marx na elaboração da planta de jardim.
Pretende-se aqui abordar o objeto de análise com o objetivo de delimitá-lo
dentro dos seguintes contextos:
• Identificar a influência do Concretismo e do Neoconcretismo no projeto do
jardim do MAM;
• Pontuar as linguagens e as técnicas gráficas e artísticas que Burle Marx
utilizou na elaboração da planta de jardim do MAM – RJ.
A metodologia baseia-se na investigação do uso do diálogo arte-ciência-técnica
na organização do espaço por Burle Marx, referente à elaboração da planta de jardim
do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ). O processo metodológico
está organizado nas seguintes etapas: (1) Levantamento e revisão bibliográfica
com a consulta em livros, dissertações, periódicos; (2) Levantamento de materiais
iconográficos como mapas, fotos, desenhos e projetos de arquitetura paisagística.
Conta-se também, a visitação a exposição “Roberto Burle Marx 100 Anos – A
Permanência do Instável” como fonte de consulta dos trabalhos realizados por Burle
Marx1; (3) Comparação, interpretação e análise dos dados e materiais selecionados;
(4) Pesquisa de campo; (5) Reprodução de imagens geradas durante a pesquisa.
1. A Arte e a Ciência na construção do paisagismo moderno de Burle Marx
O espaço moderno da cidade do Rio de Janeiro dos anos de 1950 situa-se no
período histórico de renovação e afirmamento da nacionalidade em todos os aspectos
Considerações Finais
Concluiu-se que as idéias paisagísticas de Burle Marx no projeto do MAM-RJ
foram influenciadas pelo Concretismo e pelo Neoconcretismo. Avaliou-se a Planta de
Figura 3 – Hélio
Oiticica. Magic Square
nº 5, Museu do Açude -
Rio de Janeiro.
Fonte:
Revista de História da
Biblioteca Nacional,
ano 4,nº39, 2008
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Notas
1 A exposição celebrou o centenário de Roberto Burle Marx (1909-1994) com os objetos, pinturas e
projetos paisagísticos. Foi realizada no Paço Imperial, RJ, no período de novembro de 2008 a abril de
2009, com a curadoria de Lauro Cavalcanti.
2 Com base na exposição do Paço Imperial sobre o centenário de Burle Marx, o termo citado por Planta
de Jardim refere-s à e denominação dos trabalhos paisagísticos de Burle Marx que apresentam a aplicação
da técnica de pintura sobre o desenho técnico do jardim.
Pós-Graduanda em Terapia pelo Movimento/ Angel Viana e Bacharel em Artes Cênicas – UNB
A pesquisa apresentada neste artigo busca observar e examinar a partir da tríade arquitetura,
imagem e movimento possibilidades de composição e investigação que estruturam a criação
de discursos na cena contemporânea, tendo por fundamento a análise dos elementos de
trabalho adotados pelo Projeto Ateliê Coreográfico 2009 na concepção e elaboração do
espetáculo Cidades Furtivas. Adotando como referências de estudo o tríptico O Jardim das
Delícias Terrenas de Hieronymus Bosch, trechos da obra Cidades Invisíveis de Ítalo Calvino e
a dupla experiência de percorrer e conviver no ambiente da Casa da Glória (cenário utilizado
para o desenvolvimento de ensaios, confecção e realização da performance) com propósitos
de familiarização, apoderamento e apreensão de sua complexidade estrutural, a pesquisa
propõe uma aliança entre os elementos promotores e articuladores da concepção coreográfica
engendrando e movimentando esforços para a apreensão do conteúdo artístico como
expressão de saberes coletivos e híbridos e, por consequência, como meio de construção para
alternativas de resolução de determinadas questões sociais.
This research tries to observe and examine the triad architecture, image and movement as
possibilities of composition and research that structure the speech creation in the contemporary
90
scenario, based on work elements analysis adopted by “Projeto Ateliê Coreográfico 2009” in
the creation of “ Cidades Furtivas”. Adopting as study references the triptych: “O Jardim das
Delícias Terrenas” by Hieronymus Bosch, parts from the book “Cidades Invisíveis” by Italo
Calvino and the double experience of visiting and cohabiting at “Casa da Gloria” (place used
to the rehearsal development, creation and performance action) for purposes of familiarization,
incorporation and understanding of its structural complexity, the research proposes an alliance
between the promoters and articulators elements of the choreographic creation, proposing and
moving efforts to the understanding of the artistic content as an expression of collective and
hybrids knowledge and as way to create alternatives to solve some social issues.
Introdução
A pesquisa proposta neste trabalho busca investigar as relações construídas
entre corpo e imagem na produção, elaboração e representação de discursos à cena
contemporânea, examinando traços compositivos que fundamentam a construção
da obra coreográfica Cidades Furtivas (Projeto Ateliê Coreográfico/ 2009) tais como
o descentramento do espaço cênico, a introdução do acaso no fazer artístico, a
não dependência estabelecida entre música e movimento, a autonomia do olhar na
apreensão da obra; propomo-nos, porém, simultaneamente, a promover um estudo
acerca dos arranjos simbólicos, elementos estruturais, que articulam-se à concepção do
espetáculo, quais o tríptico Jardim das Delícias Terrenas de Hieronymus Bosch, trechos
da obra Cidades Invisíveis de Ítalo Calvino e a experiência de trabalhar e (con)versar,
percorrer e (con)viver na Casa da Glória, desenvolvendo discussões e análises acerca
de seus valores e interferências no empreendimento criativo, situando-nos, desse
modo, na fronteira entre propostas coreográficas e abordagens conceituais.
A recomposição destas redes densas de significações e interações que tramam
a complexa unidade do processo de criação artística faz-nos apreender a relevância
de um estudo pautado no fenômeno dialógico dos elementos sensíveis e técnicos
para o levantamento de apontamentos que se desdobrem para além dos limites
de um debate que se circunscreva ou detenha a descrição de processos criativos;
exortando-nos, assim, não ao estabelecimento de testemunhos que resgatem
experiências, mas, sobretudo, a um caráter de imersão, pautado na análise do ato
91 art uerj III semana de pesquisa em artes
coreográfico, que possibilite-nos o encontro com a idéia de cientificidade e sua
aplicação em nossas propostas de estudo.
A pesquisa, assim, aproxima-nos de um processo de familiarização entre
ciência e arte, avizinhando-nos da produção de uma reflexividade mais consistente
nos procedimentos de análise de obras artísticas e revelando-nos, à medida que
nos possibilita reconhecer a parcialidade e provisoriedade constantes em todo
ato de investigação, a idéia de que a “totalidade de qualquer objeto de estudo é
uma construção do pesquisador, definida em termos do que lhe parece mais útil
para responder ao seu problema de pesquisa”1, o que nos faz perceber ser irreal
a pretensão que determinadas investigações sustentam de descrever e descobrir
a relevância teórica de todo o universo pesquisado. Por isso, partimos, aqui, da
perspectiva de que o trabalho proposto não abarca, de maneira alguma, o complexo
de questões e problematizações disponíveis em nosso setor de pesquisa, tampouco
liquida ou extingue todo o arcabouço metodológico e linhas de investigação
possíveis a um melhor e mais amplo entendimento da obra Cidades Furtivas;
entretanto, conquanto limitado, é a luz deste representativo nicho de pensamento
que nos propomos a contribuir com a elaboração e o desenvolvimento das formas
de organização do pensamento nos círculos do fazer coreográfico, dispondo-nos
a examinar o processo relacional entre corpo e imagem e avaliando a repercussão
de cada um dos fatores que estruturam a obra Cidades Furtivas, seus elementos
simbólicos e dimensões compositivas, na produção de discursos.
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Notas
1 GOLDENBERG, 2003:51
2 Trecho extraído de palestra concedida por Regina Miranda, em março de 2009, ao Projeto Ateliê Co-
reográfico.
3 Ítalo Calvino. Seis propostas para o próximo milênio.
4 JEUDY apud Albuquerque, 2008: 24.
5 CALVINO, 1990.
6 CALVINO, 1990: 38.
7 CALVINO, 1990: 57.
8 CALVINO, 1990: 62.
9 CALVINO, 1990: 83.
10 PELBART, 2003: 111.
Le chanteur chante les premiers vers. Pendant la scène, son rôle donne vie au poète véritable.
Un poète de la tradition. Ainsi, je refléchis sur le repente entant que des pratiques poètiques. Ou
soit, la pratique qui nous revèle une façon de présentation de l’artiste dont les nuances vocales,
les expressions corporales, les rires qui composent l’arsenal performatique de ce narrateur.
Apresentação
A performance do repentista constitui o elemento principal do cenário. Cria-se
uma atmosfera que propõe aludir às raízes e às tradições nordestinas, para isso,
todo um recurso verbal e gestual deve ser solicitado para conferir a dimensão de
“realidade nordestina” que a narrativa impele. A fim de reconstruir essa realidade, os
poetas seguem um conjunto de regras, como um roteiro a ser seguido pelo ator. A
atuação performática pressupõe exatamente isso, um manual de ações, um repertório
de práticas que configura o estilo do intérprete e que define a obra a ser apresentada.
Vejamos esta obra: o repente1. Seus versos veiculam informações importantes
101
na forma de metáforas sobre a vida social do próprio poeta e do público. Na
combinação de adjetivos e de intervenções verbais e não-verbais, o poeta aciona a
estreita conexão entre o vivido e imaginado. Como performer que é, ele seleciona os
elementos da cultura e emprega na trama contada. A narrativa transforma-se, portanto,
num produto estético, já que seus efeitos sobre a audiência se traduzem como a dança
e a música, por conseguinte, dois elementos parecem determinar a narrativa, são eles:
as imagens transmitidas à audiência e seu pando de fundo, a tradição (Scheub, 1977).
Digamos que a particularidade da história cantada é a de combinar um tempo
real com o tempo da narrativa, que recolhe a cronologia do passado e a atualiza
num tempo presente. Processos independentes que o cantador manipula de acordo
com o clímax da história. Nesta produção estética, o narrador combina todo o tempo
os elementos do mundo objetivo, real como o mundo da fantasia e suas imagens,
imagens artísticas num verdadeiro trabalho de arte, manuseando a matéria da vida
com o imaginário, o fantástico. Neste universo estético da narrativa, a performance
oral se manifesta por meio de mensagens também orais captadas pelas imagens mais
do que pelas palavras. A audiência reconhece as imagens, já que partilha de uma
experiência comum com o narrador, que recolhe da tradição os temas para contar sua
história como num mito. Esta integração se dá de maneira, sobretudo, simbólica.
Através do corpo do narrador, produz-se uma experiência estética no sentido de
sua sensualidade, de envolver o público ouvinte, neste contexto, o gesto é instrumento
total desta sensação a ser liberada. Evocando as imagens por um chamamento, uma
interpelação, o poeta convida a platéia a participar do universo de fantasia. Gestos
e movimentos estabelecem a conexão com as imagens verbais ambientadas num
contexto rítmico, de cadência, pela repetição. O corpo e a voz do artista são unificados
a fim de externalizar as ações narrativas. Gestos comunicando mesmo na ausência
das palavras. Os gestos falam ao mesmo tempo em que emudecem. A matéria da
performance são os sentimentos e as emoções, neste ambiente, a resposta emocional
da platéia é manipulada pelo artista. Todos os gestos, movimentos e imagens são
construções dos sentimentos humanos. Os membros da audiência estão imersos
nestas imagens evocadas pelo artista através desta narrativa mítica, de tradição.
Colocadas estas premissas, percebemos que a performance ─ do cantador,
O Palco
Assim, parto para o palco. Nele são mobilizados os instrumentos, a platéia e
os artistas que vão assegurar a apresentação da obra. Durante o dia, aquele cenário
é mais um dos vários que constituem a Feira de São Cristóvão, localizada no bairro
de mesmo nome no Rio de Janeiro. Ao final da tarde, um vídeo é apresentado
enquanto algumas figuras passam e o assistem por alguns minutos. Geralmente, os
trabalhadores da Feira se encontram naquele local para conversar, nada se alonga
por muito tempo, e todos voltam a circular. Mas é a partir das nove horas da noite,
nos dias de sexta e sábado, que a praça dos repentistas Catolé do Rocha, localizada
no interior da Feira, vai ganhando os contornos de cenário poético.
Os vendedores de cordéis são os primeiros a chegar. Começam a abrir suas
barracas (que são fixadas naquele local) e dispõem nos barbantes os folhetos de
cordel. Neste momento, um CD com músicas típicas nordestinas é colocado enquanto
Notas
1 Repente pode ser definido, sobretudo, como uma forma de cantoria improvisada. Os repentistas ao se
apresentarem em duplas competem na forma de pelejas, uma forma de combate, de duelo, no qual os poetas
travam uma discussão para ver quem se sai melhor na rima de improviso. Administrando um repertório
vasto, porém fixo, esses artistas se reapropriam de um estilo de poética, tendo na narrativa sua forma por
excelência, que há muito, originou-se nos trovadores por meio dos contos fantásticos, das donzelas e dos
romances de cavalaria.
Luciana Alvarenga
Rogério Medeiros
Registration imagery and narrative in social areas of the town of Itaúnas, located in the northern
state of Espírito Santo, a contextualized approach through the practice of visual anthropology,
photography and film, points out new perspective on the richness of the ethnographic process of
interaction and construction with the other through the image.
1. Introdução
Saindo de Vitória, capital do estado do Espírito Santo, leva-se três horas e
meia em direção ao extremo norte do estado. Praticamente na divisa com a Bahia,
chegamos à região conhecida como Sapê do Norte.
110
Um dos lugarejos do Sapê do Norte é a vila de Itaúnas - distrito de Conceição
da Barra -, que possui cerca de 2.400 habitantes (IBGE, 2009).
Este artigo apresenta uma reflexão sobre a etnografia (visual e descritiva)
desenvolvida na vila de Itaúnas no período de um ano de pesquisa de campo de
doutorado, tendo como foco a descrição e a análise do seu conjunto de cultura
material e imaterial classificados pela própria comunidade como tradicionais:
festas de cunho religioso, Ticumbi, Jongo, Alardo, Reis de Bois, além de processos
produtivos artesanais - a pesca e o extrativismo, a produção de cestos, de barcos, as
farinheiras, entre outros.
A narrativa fotográfica e descritiva do lugar, das pessoas, dos processos
produtivos, bem como das festas, apresentou-se como norteadora para o
entendimento da “construção social da tradição”, com o intuito de entender essas
formas de construção como meios de diferenciação de um grupo de pessoas em
relação a outros grupos.
A proposta deste guia é uma descrição minuciosa que vai dos cuidados
pessoais aos adornos, da arquitetura local ao cultivo de plantas, entre outros.
Este guia se apresentou como um importante instrumento para a tomada inicial de
imagens, onde alguns elementos foram acentuados, do olhar que segue relações
processuais ao objeto em si:
4. A interpretação
A escolha da imagética, tanto icônica quanto textual, para situar e construir
a hermenêutica partiu do princípio de que sempre haverá alguém interpretando
a realidade. Uma coisa é um signo, porque é interpretado como um signo por
um intérprete, ou seja, o signo só existe quando existem seres capazes de dar
significação às coisas.
Assim, o que se interpreta é o fluxo do discurso social e a interpretação
envolvida consiste em tentar salvar o “dito” num tal discurso da sua possibilidade de
extinguir-se e fixá-lo em formas pesquisáveis. A vocação essencial hermenêutica não
é responder às nossas questões mais profundas, mas colocar à nossa disposição as
repostas que os outros deram – e assim incluí-las no registro de consultas sobre o
que o homem falou. (GEERTZ, 1989).
E, interpretar é um ato criativo, é uma ação ativa, não é, portanto, uma mera
reprodução de significado transmitido pelo outro. O pesquisador constrói o significado
a partir do que o outro diz. Significados estes que o informante atribui.
Neste sentido, temos acesso apenas à representação das experiências dos
outros através da observação e das narrativas dos próprios sujeitos em determinados
contextos e situações. Isto não significa que estas observações e relatos devam ser
inviabilizados, mas sim relativizados através do contexto de observação e de quem
está narrando - o conhecimento implícito do informante é, por exemplo, relativo à sua
trajetória.
Além disso, posso afirmar que ao produzir a etnografia visual e descritiva
da vila de Itaúnas, estou tratando no que Sébastien Darbon (2005) denominou de
fabricação de significados: o uso de imagens se assenta sobre convenções relativas
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WERNER, J-F. Photographie et dynamiques identitaires dans lês sociétés africaines
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Este trabalho busca apresentar dois aspectos presentes em algumas assemblages produzidas
pelo artista Farnese de Andrade. O primeiro é o ato de profanar pequenas esculturas retiradas
do universo sagrado religioso. O segundo é a citação ao sincretismo umbandista por meio da
junção de distintos elementos.
This work presents two aspects of some assemblages produced by Farnese de Andrade. The
first one is the act of profaning small religious sculptures. The second one is the reference to the
religious syncretism in Umbanda through the combination of distinct elements.
Bruxo, mágico, vampiro, místico, estes são alguns dos nomes por meio dos
quais os críticos se referiram ao artista Farnese de Andrade, um homem recluso, de
hábitos estranhos e de idéias polêmicas, que produziu uma arte singular composta,
sobretudo, de assemblages nas quais elementos gastos, velhos e usados foram
sobrepostos na criação de objetos encharcados de morbidez e tristeza mescladas a
uma forte carga erótica e religiosa.
No exercício da leitura do que já foi escrito sobre a obra de Farnese, mais
especificamente sobre seus objetos, percebe-se uma explícita tendência daqueles
que abordam sua produção em conectá-la ao modo como o artista levava e
enxergava a vida. As crises depressivas, a morte dos irmãos antes mesmo de
117
ele nascer, a relação conturbada com a mãe, a oposição à procriação, a posição
favorável às explosões atômicas, somadas a tantos outros aspectos da vida de
Farnese, são lugares-comuns nesses escritos. Tal fato evidencia algo, como Charles
Cosac, um dos poucos amigos que o artista teve, afirma: “os que se interessam pela
história de Farnese se interessam pela sua obra; o caminho contrário também é
válido” (COSAC, 2005:17).
Nascido na cidade mineira de Araguari em 1926, Farnese iniciou sua formação
artística tendo aulas de desenho com Alberto da Veiga Guignard, na então Escola
Parque, em Belo Horizonte. Contraindo tuberculose, o artista mudou-se em 1948
para o Rio de Janeiro, onde alcançou a tão desejada saúde. Não demorou muito
e começou a trabalhar como ilustrador, atividade que desempenhou ao longo de
quase uma década, principalmente no jornal Correio da Manhã, no qual ilustrava
contos, poemas e novelas. Em 1959 começou a ter aulas de gravura em metal sob a
orientação dos gravadores J. Friedlander e Rossini Perez Museu de Arte Moderna do
Rio de Janeiro.
Simultaneamente às aulas no MAM, Farnese passou a freqüentar a Praia
de Botafogo, na época um grande receptáculo de lixo, em busca de pedaços de
madeira e borrachas maleáveis, com as quais fazia monotipias. Trazidos pelas águas
da Baía de Guanabara, elementos dos mais diversos, marcados pela passagem
do tempo, gastos pelo uso humano, pela água salgada e pelo sol, foram, aos
poucos, despertando a atenção do artista, que passou, então, a coletá-los. Mantidos
amontoados em sua casa-ateliê, esses materiais descartados, recolhidos graças ao
fascínio que suas qualidades estéticas causavam em Farnese, formaram o embrião
a partir do qual se desenvolveu mais tarde uma longa produção de assemblages.
Quase que por acaso, Farnese nos conta que, “um dia, a base de um possível
móvel em estilo antigo, um ovo de madeira daqueles de costura, uma cabeça de
santo de gesso e uma bola de gude se juntaram, e ‘aconteceu’ o meu primeiro
objeto” (ANDRADE in COSAC, 2005:181). A partir de então, as assemblages foram
crescendo em seu interesse, enquanto as gravuras perdiam sentido para ele.
A produção desses objetos era complexa e demandava em média um a dois
anos de exaustivo esforço mental. Curiosamente, por vezes, após dar a peça por
Em outro caso, Mott apresenta uma senhora, desta vez branca, que torturava
a imagem de Santo Antônio colocando-a deitada com a face para baixo e sob uma
pedra. A mulher justificava o ato ao afirmar que o próprio santo em vida havia optado
pelo martírio. Este ponto, o dos santos mártires, nos coloca uma nova via de acesso
ao processo criativo de Farnese. Este optou, talvez de modo inconsciente, sobretudo
por imagens de santos que, assim como Santo Antônio, são tidos como mártires,
Referências Bibliográficas
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Companhia das Letras, 1997.
Filmes:
ARAUJO, Olívio Tavares de. Farnese – Caixas, montagens, objetos. 1970.
A pesquisa proposta neste trabalho busca investigar as relações construídas entre elementos
representativos da esfera social que compõem o culto a São Gonçalo de Amarante, produzido no
povoado quilombola da Mussuca (Laranjeiras/SE): o sagrado e o profano, analisando estados de
hibridação que configuram a rede de códigos e o comportamento expressivo do ritual.
The investigation introduced in this article searches to exame relations established among
representative element that compose Amarante’s worship at Mussuca (Laranjeiras/ SE) like
devotion and amusement. It is an analysis of the manners that produce seam of codes and
express a plastic bahevior on ritual.
Introdução
Entre os acontecimentos e dramatizações de nossa cultura popular encontramos
a manifestação denominada Dança de São Gonçalo de Amarante: espécie de ritual
realizado todos os anos em várias regiões brasileiras com aspectos, motivos e
propósitos diferenciados e inconstantes. Caracterizada como um sistema que articula
diferentes tessituras e significações, a partir de seu contexto visual e cultural, como um
ato a revigorar-se a cada instante de atuação dos atores sociais, procuramos abordá-la
como uma estrutura não normativa e dinâmica, resultante de uma contínua produção
124
de signos. Para tanto, além da bibliografia básica, fazemos uso dos domínios da
semiologia e da etnografia a fim de compreendermos o ritual e seus elementos – que
fundem e recriam concepções de mundo, além de (re)apresentarem um acontecimento.
A partir destas linhas principais de investigação compreendemos a importância
de se suplementar o discurso estético do ritual com uma discussão profunda do seu
ambiente histórico e social, suplementar o discurso etnográfico com investigações a
respeito dos arcabouços estéticos, representações e mensagens visuais e, por fim,
compreendemos a necessidade de se perceber a natureza da expressão artística
numa perspectiva dialógica com a cultura.
Esta forma tão perigosa de pensar instaura nos agentes que geram os
bens populares um conservadorismo retrógrado e anacrônico, tornando os
costumes e saberes locais restos de uma estrutura social que caminha para a
descontextualização, como esclarece Bruno Leonardo3:
Por cima das calças usam anáguas e saias floridas que lhes chegam até
a altura dos joelhos, traje que é completado por uma blusa cavada de cor
branca, geralmente rendada. Um xale preto colorido enfeitado de fitas
atravessa-lhes o tronco em diagonal, sendo preso na cintura. Na cabeça
usam turbante branco enlaçado de fitas coloridas. Pulseiras, colares e
brincos servem-lhes de adornos (Dantas apud OTAVIO, 2004: 92-93).
Há, portanto, na vivência social dos devotos uma viagem do profano para o
sagrado e de retorno ao profano – de modo a mostrar a interpenetração de ambos
os reinos. A festa, pois, permeia organicamente a atitude religiosa a manifestar-se,
reunindo laços de atividades sagradas e profanas num único evento, colaborando
para que uma teia de significados seja elaborada por fios que se cruzam.
Tendo por sagrado aquilo “que vai além da compreensão e da explicação do
homem e o que ultrapassa sua possibilidade de mudá-lo” (CANCLINI, 2006A: 192), a
reunião destes laços representa uma tentativa, ou um grande esforço, para trazer ao
universo cotidiano, traços, formas, histórias, fenômenos inexplicáveis, o que faculta
uma maior aproximação entre fé e festa e, com isto, uma reorganização dos espaços
das imagens sagradas e profanas.
Não conseguimos dizê-lo com a ênfase e eloqüência de Cupertino (2006: 82):
Assim, podemos apreender que o que o homem é pode estar tão envolvido
com onde ele está, quem ele é e no que ele acredita que é inseparável dele. Esta
indissolubilidade permite-nos avaliar o cruzamento entre devoção e diversão como
produto de uma sociedade formada das mais diversas matizes culturais onde os
elementos da fé acompanham a festa, a diversão, o canto, a dança abrindo, desse
modo, novos roteiros e possibilidades de pesquisa em Estudos Culturais.
Á guisa de conclusão
Apesar dos inúmeros trabalhos realizados sobre a Dança de São Gonçalo de
Amarante é incontestável e evidente que a discussão acerca da questão do encontro
entre devoção e diversão no ritual foi negligenciada ou pouco desenvolvida por
muitos pesquisadores. A construção do pensamento sobre a análise do processo
de hibridação entre sagrado e profano não consome tanto o tempo de nossos
investigadores culturais quanto a descrição mecânica da dança ou do território em
que esta se efetua, o que fomenta uma lacuna que dissocia, por não relacionar, os
valores culturais à representação artística.
Partindo do pressuposto que só reconhecemos o que conhecemos, a função social
da análise da confluência entre devoção e diversão é relacionar práticas culturais cujos
suportes tendem a promover a dissociação; garantindo, assim, que o valor qualitativo das
obras seja reconhecido; sugerindo, desse modo, a arte não como um empreendimento
autônomo e sim como um subsistema pertencente a um sistema maior: a cultura.
Além disso, a possibilidade de os mestres ou artistas populares presentificarem-se
na Academia, expondo seus saberes e fazeres, através de ensaios teóricos e audiovisuais,
é de grande relevância para que compreendamos a cultura popular em um contexto mais
amplo do que o habitual e analisemos a arte não como privilégio de poucos, mas como
uma atividade global, comum ao conjunto humano e, por isso, acessível a todos tanto em
sua produção como em seu consumo, enfim,como uma representação cultural.
Ocorre-nos também que é nossa responsabilidade:
Referências Bibliográficas
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OTAVIO, Valeria Rachid. A Dança de São Gonçalo: Re-interpretação Coreológica e História. Campinas,
2004. Dissertação (Mestrado em Artes) – Universidade Estadual de Campinas, 2004.
Notas
1 Aqui, investigamos o ritual realizado no povoado quilombola de Mussuca, situado no município de
Laranjeiras (SE) por ser este parte do espetáculo “Pelos Mares da Vida” da Companhia Folclórica do Rio-
UFRJ a qual o pesquisador integrou, como Bolsista de Iniciação Artística Cultural, de 2004 a 2008, e por ser
um desdobramento de pesquisas realizadas a campo no ano de 2007 ao Encontro Cultural de Laranjeiras.
2 CANCLINI, 2006A: 21.
3 MORAIS, 2006: 17
4 LARAIA, 2006: 80
During the reign of D. Pedro II was formulated the project of construction of the Brazilian nation.
The pictures of History had been one of the ways to achieve this project. This work considers
the use of this art in the development of a methodology of teaching History, making possible to
the student to identify opposing theses and to elaborate a thought and a critical reading of the
society.
Com esse entendimento de processo pedagógico deve-se partir para uma educação
na qual o centro da construção do conhecimento é o aluno, que participa ativamente
com a colaboração da sua própria história.
Já a aplicação do método dialético propõe a problematização do objeto de estudo,
a partir dos diversos entendimentos que podem surgir com a sua análise. Ao fazer
uma análise pela compreensão de teses contrárias, o aluno chega ao conhecimento
Como avaliação será solicitado aos alunos que criem uma nova obra de arte,
de livre expressão, desde que envolva imagens. Elas devem representar algum fato
que esteja acontecendo no Brasil ou no Mundo atual. Algum fato que esteja presente
nas páginas dos jornais. Os trabalhos deverão ser apresentados à turma e, da
mesma forma que os quadros do século XIX foram desconstruídos durante a aula,
essas obras produzidas pelos grupos também o serão. Assim, conclui-se o ciclo que
formará a ideia de que a arte é a representação do fato e não ele próprio.
Essa metodologia que busca a utilização da criatividade visa a sublimação
de uma energia latente que não é utilizada em atividades normais do organismo.
Segundo Vigotski,
o que fica sem realização em nossa vida deve ser sublimado. Para o
que não se realiza na vida existem apenas duas saídas: a sublimação
ou a neurose. Assim, do ponto de vista psicológico a arte constitui
um mecanismo biológico permanente e necessário de superação de
excitações não realizadas na vida e é um acompanhante absolutamente
inevitável da existência humana nessa ou naquela forma. (Idem, 2004, p.
338).
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Conhecendo o ensino médio. Pesquisa de campo realizada pelos alunos da turma 340 para a disciplina
CSO 922 – Estágio II. Rio de Janeiro, 2008.
A partir da lei 11.645 procurou-se numa escola evidenciar as marcas africanas na cultura
brasileira, trabalhando com turmas de ensino fundamental aspectos artísticos destas
influências. Na disciplina Educação Física trabalhamos noções de cultura e vivências com
tradições populares. Já neste artigo tratamos de algumas tendências pedagógicas da área, as
tradições populares como objetos de estudo, aproveitando para avaliar a aplicação da lei e as
questões que surgiram na realização da proposta.
Based on the Law 11.645, there has been an effort to find evidences of the African presence in
the Brazilian Culture, through working side by side with Fundamental Level students on artistic
aspects influenced by this presence. In the course of Physical Education have been subject of
study notions of Culture and experiences with popular traditions. In this article, will be presented
some pedagogical trends of that matter, having the popular traditions as the main subject while
addressing the refered law impacts and the questions that have arisen during the mentioned
work.
Introdução
Desde 2008 alguns professores do Colégio Estadual Duque de Caxias, em
Duque de Caxias/RJ vinham pensando no desenvolvimento das questões referentes
à lei 10.639, ratificada pela 11.645, alterando a LDB de 1996 e incluindo no currículo
oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-
145
Brasileira e Indígena”.1 Já em 2009, no planejamento no começo de ano algumas
idéias tomaram a forma de um evento na escola, que fora intitulado “Paixão pela
nossa cor”, enquanto culminância de trabalhos realizados no segundo bimestre.
Primeiramente foi combinado com o turno da tarde (7º, 8º e 9º anos do ensino
fundamental), mas depois o turno da manhã (6º ano e ensino médio) aderiu. Para
cada turma, um professor ficou responsável por trabalhar questões de cultura africana
e afro-descendente (em especial) através da especificidade de cada disciplina.
Neste artigo estaremos relatando a nossa experiência e nossa percepção do
andamento do projeto, assim como sua culminância, sob a ótica de um professor de
Educação Física.
Afinal, “o que é Educação Física?” e “por que estamos aqui (na escola)?”
Em sala de aula desenvolvemos as possíveis respostas destas perguntas
(perguntas que foram feitas nos primeiros dias de aula e não foram respondidas
pelas turmas; quando sim, de forma reducionista, por exemplo: “é esporte” ou “é
recreação”!?), com o propósito de expor as turmas para a amplitude da área e as
formas que estas aulas podem tomar. Partindo delas, foram debatidas noções básicas
de cultura e natureza, características dos seres humanos (capacidade de aprender
peculiar, capacidade de reflexão, por exemplo) e seus aspectos biológicos e culturais,
formas de aprendizado, ensino formal e não-formal, pequena história da instituição
escolar e a noção de disciplinas, e uma mostra dos possíveis objetos de estudo da
Educação Física.
Com relação à área, decidimos adotar, por questões didáticas, a noção de
culturas corporais de movimento e/ou culturas de movimento; estas noções estão
problematizadas por Jocimar Daolio em “Educação Física e o conceito de cultura”.6
Parece que, mais uma vez, os debates sobre “nossa cor” ficaram no âmbito
dos planos. As exposições artísticas, que foram trabalhadas em todas as disciplinas
participantes, poderiam ter provocado as questões sugeridas pelas leis, mas ficaram
reduzidas a um trabalho acrítico “valendo nota”.
Notas
1 BRASIL. Presidência da República/Casa Civil. Lei n.10.639, de 9 de janeiro de 2003. disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.639.htm acesso em: 25 de agosto de 2009; BRASIL.
Presidência da República/Casa Civil. Lei n.11.645, de 10 de março de 2008. disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11645.html acesso em: 25 de agosto de 2009.
2 FINOCCHIO, José Luiz. A educação física no Brasil. In: CONGRESSO SUL-MATO-GROSSENSE
DE ATIVIDADE FÍSICA, 4., 2001. Campo Grande. Educação, saúde, cultura: educação física, educação
e sociedade. Anais... Campo Grande: Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, 2001. p. 28-33.
disponível em: http://www.boletimef.org/biblioteca/663/A-educacao-fisica-no-Brasil acesso em: 25 de agosto
de 2009.
3 COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino de educação física. São Paulo: Cortez, 1992.
4 Para uma breve análise de caso, ver o artigo de: VILAÇA, Murilo Mariano; MARQUES, Gabriel
Rodrigues Daumas. Educação Física desportivista: considerações críticas à prática, predominantemente
vigente, de Educação Física escolar. In: ENCONTRO FLUMINENSE DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR,
10., 2006, Niterói. Lazer e Educação Física escolar. Anais... Niterói: Departamento de Educação Física e
Desportos, Universidade Federal Fluminense, 2006.
disponível em: http://www.boletimef.org/biblioteca/1730/Consideracoes-criticas-a-pratica-predominante-de-
PPCIS – UERJ
Este trabalho tem como objetivo refletir sobre a formação de chorões na Escola Portátil
de Música (RJ). Pretende-se discutir questões relacionadas à formação do chorão e às
implicações que esse tipo de aprendizado estabelece. A Escola deve ser pensada como um
espaço formador a partir do qual compartilham-se gostos, apreendem-se regras e formam-se
redes de relações.
The aim of this study was analyze the formation of choro musicians in the Escola Portátil de
Música (EPM) of Rio de Janeiro. In this project of musical formation, which brings together
students interested in choro, we can see how the musicians share certain tastes and
preferences and how they undergo certain rules on how to play. The use of the skin tambourine
is one of the rules that increase the strengthening of the group. These rules, which are passed
by a group of teachers, directly or indirectly, to their students are captured and incorporated
to the daily of the School, strengthening the group identity. In short this work arises from the
attempt to evaluate the universe of rules that appears in the EPM, taking into account the
statement of identity from the difference.
Nesse sentindo, podemos perceber que Bourdieu vai valorizar uma estrutura.
Ele parte dela para entender a realidade social. Seu interesse é compreender como
os esquemas de pensamento se objetificam, se tornando a lógica a partir da qual
os campos se organizam. As estruturas se formam a partir de relações que se
estabelecem com e a partir do mundo real, onde se compartilham símbolos, regras
e significados. Trata-se, portanto de desvendar a constituição dos valores que
comandam o funcionamento do campo.
Em A distinção, Bourdieu trabalha com a noção do espaço social como
produto de uma construção, sobre a qual o pesquisador lança seu olhar. Segundo
Bourdieu “a questão desse espaço é formulada nesse mesmo espaço”. Nesse
contexto os agentes possuem posições diferenciadas, estas definem seus pontos
de vista sobre o espaço social, e seu interesse em transformá-lo ou conservá-lo. O
conceito de habitus é gerador e ao mesmo tempo diferenciador das práticas que
constituem o mundo social. Nesse sentido, podemos compreender que condições de
vida diferentes produzem habitus diferentes. A condição e a posição dos sujeitos no
interior dos campos se definem num universo relacional, que por sua vez é marcado
pelas diferenças. É a partir delas que as identidades sociais se definem.
“Os estilos de vida são, assim, os produtos sistemáticos dos habitus que,
percebidos em suas relações mútuas segundo os esquemas do habitus,
tornam-se sistemas de sinais socialmente qualificados – como “distintos”,
“vulgares”, etc. A dialética das condições e dos habitus é o fundamento
Notas
1 A Escola Portátil de Música (EPM) é um programa de educação musical voltado para a capacitação
e a profissionalização de músicos através da linguagem do choro. Localizada no Rio de Janeiro, a Escola,
oferece cursos de instrumentos como violão, cavaquinho, flauta, clarinete, saxofone, trompete, bandolim,
acordeom, piano, canto, pandeiro, percussão e bateria, além de possuir cursos teóricos sobre teoria e
percepção musical, harmonia, composição e história do choro. A EPM foi criada pelos músicos: Luciana
Rabello, Maurício Carrilho, Celsinho Silva, Pedro Amorim e Álvaro Carrilho. Site: http://www.escolaportatil.
com.br/SiteProfile.asp. (Acesso em: 21/01/2008)
2 Quando o professor se refere a “nós” ele está falando de uma grupo de pandeiristas muito influenciado
pela técnica de tocar de Jorginho do Pandeiro, também professor da Escola, que surge no cenário musical
na década de 50, quando tocava pandeiro no Regional de Benedito Lacerda. Jorginho desenvolveu um
estilo próprio de tocar que influenciou uma geração de novos pandeiristas, inclusive seu filho e seu neto,
também professores da EPM. (ver Cazes, 2005)
A presente comunicação traz a visão geral da contribuição do cenógrafo, figurinista e diretor teatral
Luiz Carlos Mendes Ripper para o ensino da cenografia e indumentária no panorama teatral do Brasil
atual. São abordadas suas iniciativas na formação de cursos, escolas e centros culturais, com especial
referência ao emprego dos registros de seu processo de criação como instrumento de ensino.
This communication brings an overview of the stage and costume designer and theatre director
Luiz Carlos Mendes Ripper contribution to the stage and costume design teaching, in the
present theatrical scene in Brazil. We approach his enterprising in the creation of schools and
cultural centers, in special reference on the application of the registers of his own creation
process as an instrument to the teaching.
Luiz Carlos Ripper; stage design teaching; stage design creation process.
Luiz Carlos Mendes Ripper foi um dos mais importantes cenógrafos brasileiros,
tendo recebido diversos prêmios, tanto por sua atuação no cinema, com seis Corujas
de Ouro, da Academia Brasileira de Cinema, quanto no teatro, onde recebeu um total
de 10 prêmios, como cenógrafo, figurinista e diretor.
Ripper foi diretor de arte dos filmes Xica da Silva e Quilombo, de Cacá
Diegues, de Azyllo muito louco e Fome de amor, de Nelson Pereira dos Santos, São
Bernardo de Leon Hirszman, dentre outros. No teatro, seu trabalho mais emblemático
foi a cenografia de Hoje é dia de rock, em 1971, onde realizou uma reestruturação
163
espacial no Teatro Ipanema, transformando o palco frontal em passarela, pela qual
recebeu o prêmio Governador do Estado. Outras atuações marcantes de Ripper no
teatro foram a direção, cenografia e figurinos de Avatar, Torre de Babel, El dia que me
quieras e Extra-vagância.
Podemos ver refletida a sua importância no cinema nacional com a criação pela
Secretaria de Audivisual do Ministério da Cultura, em 2001, do Prêmio Luiz Carlos
Ripper para a categoria direção de arte para o Grande Prêmio Cinema Brasil.
Desde a produção, direção, cenografia e figurinos de Avatar, espetáculo
ambientado na sala Corpo e Som do Museu de Arte Moderna, em 1974, Ripper
se interessou pelo ensino das artes cênicas. Ele conta, em entrevista ao Jornal da
Cidade, em Campo Grande, que a falta de apoio do governo para a continuidade
da existência do grupo, com o qual desenvolvia intensa pesquisa de linguagem, o
motivou a buscar outros caminhos para a formação de novos profissionais (dossiê
sobre Luiz Carlos Ripper – CEDOC – FUNARTE).
Ripper foi, desde então, responsável por cursos de cenografia em várias
cidades do Brasil, como Vitória, Campo Grande, Belém, Fortaleza, Brasília, convidado
ora pelo então Serviço Nacional de Teatro – SNT, ora por instituições de ensino locais.
No Rio de Janeiro, ministrou diversos cursos de cenografia no Instituto de Arquitetos
do Brasil – IAB e palestras e seminários sobre teatro, cenografia e construção de
espaços cênicos.
Por ocasião de um curso em Brasília, Ripper lembra, em entrevista, que a
cenografia depende dos meios de produção e da economia do teatro. Afirmando
que a economia do teatro vai mal, Ripper coloca que esta se vê constrangida pelos
aspectos financeiros de uma produção. “A nossa improvisação caracteriza nossa
cenografia e a falta de metodologia no teatro como um todo: não temos metodologia,
a gente improvisa (...)” (Dossiê Luiz Carlos Ripper – CEDOC - FUNARTE).
Ripper coloca que o fato, resultado do pouco cuidado com a educação artística,
acaba por ser um defeito, quando deveria ser uma qualidade. Em função disso,
vê como de suma importância os cursos de informação (não de formação, declara
Ripper), que vinha desenvolvendo pelo país. Os considera também importantes
para o seu trabalho, como forma de entrar em contato com as diferentes realidades
”Existe uma cultura nossa que está desaparecida, sem que nada seja
feito para conservá-la. As pessoas estão muito mais preocupadas em
copiar modelos externos do que conhecer o que elas têm mais próximo
de si, que cada dia morre um pouco”, disse Ripper.
Uma cenografia baseada na utilização dos elementos naturais ou
produzidos pelos artesãos do local onde o grupo teatral atua representa,
para Ripper, um engajamento da cena numa identidade esquecida do
brasileiro, e passa a ser uma opção dentro de um contexto precário.
Para Ripper, a cultura popular, (...), seria um objetivo dos grupos
jovens, e onde eles conceituariam e fundamentariam seu trabalho. O
nosso intuito, ao pesquisar a cultura popular, é se apropriar de um tipo
específico de tradição e comportamento, aproveitando sua experiência
cultural para efetuar a criação de um teatro brasileiro, feito com o povo e
para ele’. (Dossiê Luiz Carlos Ripper – CEDOC – FUNARTE)
Referências
Dossiê de Luiz Carlos Ripper, do Centro de Documentação – CEDOC, da FUNARTE.
Arquivo pessoal de Luiz Carlos Ripper, sob a custódia temporária do Laboratório de Investigações
Cenográficas – LINCE – UNIRIO.
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http://www.ceart.udesc.br/revista_dapesquisa/volume3/numero1/cenicas/prof_andre.pdf
Jornal Sidarta, 25 de maio de 2009. http://jornalsidarta.blogspot.com/2009/05/trinta-anos-da-geracao-80.
html, consultado em 01 de outubro de 2009.
Entrevista de Maria Carmen de Souza a Heloisa Lyra Bulcão, em 22 de julho de 2009.
Entrevista de J. C. Serroni a Heloisa Lyra Bulcão, em 18 de agosto de 2009.
Este trabalho foi desenvolvido com o objetivo de elaborar algumas questões referentes ao
ensino da arte, enfatizando e analisando a forma como é desenvolvido nas escolas, questões
nas quais não prestamos atenção cotidianamente por já fazerem parte constitutiva das relações
do sistema de ensino e do ensino da arte especialmente.
This study was developed in order to prepare some questions about the teaching of art,
emphasizing and analyzing how it is developed in schools, these we do not pay attention
to everyday for taking part of the educational system and especially art education. So when
we look at them, see them as anomalies that must be eliminated. These issues need to be
grasped, absorbed and modified by the negative character and power of exclusion they have.
They require urgent and effective action through art professionals in front of students and their
cultural contributions. Even if teachers are not the only responsible for them.
Bibliografia
BARBOSA, Ana Mae (org.). Inquietações e mudanças no ensino da Arte. São Paulo: Cortez, 2008.
_______________. Arte/ educação contemporânea: consonâncias internacionais. São Paulo: Cortez, 2005.
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DP&A, 2005.
Páginas da Internet
Grupo de pesquisa: Estudos Culturais em educação e arte. CNPQ: Diretório dos grupos de pesquisa do
Brasil. Acesso em: 19 de julho de 2009.
Disponível em:
http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.jsp?grupo=0211708X5E8HPY
Notas
1 http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.jsp?grupo=0211708X5E8HPY
2 TAYLOR, 2005, p. 70.
3 SMIERS, 2006, p. 196.
4 Idem.
5 FOUCAULT, 2008, p. 45.
6 TAYLOR, 2005, p. 27/28.
7 TOURINHO, 2008, p. 31.
8 FOUCAULT, 2008, p. 17/ 18.
186
de ligações conceptuais e metodológicas, ou seja, um consensualismo intelectual
que uniu “espiritualmente”, mas quase nunca fisicamente - daí a sua invisibilidade
- um grupo de pesquisadores norte-americanos, a partir de 1950, ao redor das
Universidades de Palo Alto e da Filadélfia, nos EUA.
Este grupo de acadêmicos contribuiu para uma nova leitura da comunicação
e do universo social. Com formação antropológica: Gregory Bateson, Erving
Goffman, Edward T. Hall e Ray Birdwhistell e, psiquiátrica: Don Jackson, Paul
Watzlawick e Albert Scheflen – eles são os precursores da superação da concepção
de comunicação do modelo shannoniano para a descoberta de uma outra, ainda
pouco explorada pelas ciências sociais tradicionais: “a concepção orquestral da
comunicação”. A definição de comunicação que compartilhavam foi indicada na
seguinte afirmação de alguns de seus membros:
Por meio das análises das canções do Chico Buarque da década de 1970, este trabalho
verifica como a produção musical do artista nesse período expressou e registrou as
características de uma identidade subterrânea (expressão usada por Pollak, 1989) que resistia
à ditadura no Brasil. As músicas mostram o desespero, a esperança e o sofrimento de todos
que faziam parte dessa identidade, essas também foram um meio de denunciar, relatar fatos
censurados e enviar notícias aos que se encontravam exilados.
Through the analysis of Chico Buarque’s song lyrics on the 1970’s, this paper verifies how the
artist’s musical production in this periode expressed and registered the characteristics of a
underground identity (expression used by Pollak, 1989) that resisted to the ditatorship on Brazil.
The songs show the despair, hope and suffering of all who were part of that identity, those also
were the means to denunciate, to report censored facts and to send news to exiles.
Introdução
Neste trabalho, analisaremos a construção de identidades coletivas dentro de um
período histórico brasileiro – o da ditadura militar no país, que durou de 1964 a 1984.
Relacionaremos algumas características da identidade oficial em contraposição às
características de uma identidade paralela que foi desenvolvida neste período, chamada
por Pollak (1989) de identidade subterrânea. A análise dessa identidade subterrânea se
200
fará principalmente através das canções compostas por Chico Buarque na década de 70.
Para se manter, o governo militar, além das ações repressivas a lideranças
e movimentos políticos e culturais contrários a ele, também buscava reforçar a
identidade coletiva nacional oficial através de um discurso nacionalista, numa
tentativa de deixar o mais estável possível o regime político que se instaurara através
de um golpe no país.
Para se construir uma identidade coletiva, é fundamental que os seus
integrantes acreditem que têm uma história em comum, é necessário criar um
laço afetivo, um sentimento de pertencimento que são desenvolvidos através de
elementos simbólicos, como os lugares da memória, personagens e fatos históricos,
elementos culturais, entre outros, construindo assim uma “comunidade afetiva”.
Muitas vezes, nos casos de construção de uma identidade nacional esses
elementos simbólicos nem são reais, são inventados, imaginados para criar essa
ligação afetiva e dar estabilidade a esta identidade. Essas “comunidades imaginadas”
– usando expressão criada por Anderson (apud SILVA, 2000, p.8) – são necessárias
porque “não existe nenhuma identidade natural em torno da qual se possam reunir as
pessoas que constituem um determinado grupamento nacional”.
Chico nos vingava com o domínio mais puro e perfeito da poesia que
nos parecia perdida. Depois nos vingou com suas provocações sutis
e inteligentíssimas ao regime militar que a todos nós oprimia. Não
tínhamos voz nem talento para o enfrentamento, Chico tinha. Estávamos
todos ali, com ele, por meio dele, também repetindo que o pior ia passar
e que amanha seria outro dia. E parece que Chico nos ouvia. Pois a
cada dia compunha mais, duelava mais, nos representava mais e melhor,
nos enchia de brios e esperanças. (PIMENTEL, 2006 p. 54)
Minha mãe visitante [em Portugal] me disse que tinha trazido do Brasil uma
carta do Chico. Pusemos a carta-cassete na vitrola e, pela primeira vez,
ouvimos “Meu caro amigo”, com Francis Hime ao piano. Falávamos de
tristeza, e ouvimos um canto de esperança. Chico resistia, aqui no Brasil,
escrevendo “Apesar de você” e “Vai Passar”, e nos ajudava a resistir, lá
fora, cantando sua amizade.” (BOAL, apud FERNANDES, 2004, p.45)
Conclusão
A canção registra a história sobre um ponto de vista subjetivo, através de
sensações e sentimentos, diferentemente dos livros e dos documentos de arquivo,
em que o registro é feito de forma pretensamente objetiva. Esse registro por meio
dos sentidos e das sensações aproxima o relato das vivências do receptor, que, por
tabela, os recorda ou os vivência (mesmo não tendo deles participado). Por meio das
canções de Chico Buarque, verificamos como os desejos e os sentimentos de uma
identidade coletiva e censurada estavam expressos nessas canções.
Constatamos, nas canções analisadas, que se pode apreender a distinção do que
Referências bibliográficas
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SOUZA, Tarik de. O som do Pasquim. Rio de Janeiro: Desiderata, 2009.
Giseli Ribeiro
Este trabalho procura fazer uma pequena análise da questão da Ética, da Alteridade e do
Outro, abordadas nos dois primeiros capítulos do livro Ética de Alain Badiou. As partes que
se seguem são dedicadas a Medéia, tragédia de Eurípides, representada no filme de Paolo
Pasolini, e sua relação com a questão da Alteridade.
This paper intends to make a simple analysis of the issue of Ethics, of Alterity and the Other,
concepts which are studied in the first two chapters of the book Ethics, by Alain Badiou. The
following parts are dedicated to Medea, the tragedy of Euripides, presented in the movie
directed by Paolo Pasolini, and its relation to the question of the Otherness.
É uma realidade bem assustadora, não há como resolver um problema sem levar
em consideração todo o seu contexto. O próprio rei ao quer afastar Medeia, achando
que isto resolveria o problema errou ao fazê-lo. Talvez conservar as coisas como elas
estão seja uma escolha acertada, ou, podemos seguir o caminho apontado por Badiou,
e lutarmos por um ideal de justiça e igualdade. Assim, corremos o risco de ir na direção
das revoluções e dos regimes totalitários, mas isto faz parte de uma outra discussão.
Bibliografia
BADIOU, Alain. Ética – um ensaio sobre a consciência do Mal. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1995.
CAIRUS, Henrique. Medeia e seus contrários. Fortaleza: Revista de Letras, nº27, 2005.
EURÍPIDES. Medeia. Trad. Maria Helena da Rocha Pereira. Coimbra: INIC, 1991.
FOUCAULT, Michel. O poder Psiquiátrico. São Paulo: Martins Fontes, 2006.
LACAN, Jacques. A ética da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1991.
Filme:
Medeia – A Feiticeira do Amor
Diretor: Píer Paolo Pasolini
Ano: 1969
País: Itália / Alemanha / França
Duração: 110 minutos
Notas
1 Este texto foi apresentado como avaliação final da disciplina Metodologia do Ensino da Arte III
ministrada pela professora Denise Espírito Santo.
2 FOUCAULT, Michel. O poder Psiquiátrico. Martins Fontes. São Paulo, 2006.
3 BADIOU, Alain. Ética - um ensaio sobre a consciência do mal. p.23
4 Ibid.p.25
5 Ibid.p.29
6 Ibid.p.30.
7 LACAN, Jacques. A ética da psicanálise. Jorge Zahar, 1991
8 A morte do irmão de Medeia por suas mão só aparece em algumas versões.
9 Filme: Medeia - A feiticeira do amor.1969.
Se pararmos para observar o cenário artístico atual, veremos que a arte contemporânea atingiu
uma intensa variedade de possibilidades criativas. Entretanto, essas possibilidades criativas
nem sempre são florescimentos inéditos, pois a arte contemporânea tem também o passado
como forte fonte de inspiração; como sugere essa pesquisa sobre a obra de Reismarques.
If we observe the current art scene, we’ll see that contemporary art has reached an intense
variety of creative possibilities. However, these possibilities aren’t always a bloom unpublished,
because contemporary art have the past as a strong source of inspiration, as suggested this
research about Reismarques artwork.
Introdução
Desde tempos passados o fazer artístico tem oscilado em diferentes
dicotomias: certo momento a obra de arte tende a ser elaborada em acordo com a
natureza, outros não; certo momento a obra de arte possui uma finalidade específica
fora do campo da arte, outros não; certo momento o produto artístico final importa
mais que as idéias que esse suscita, outros não, etc., como nos confirma Susan
Sontag (1): “... a arte, ela própria uma forma de mistificação, sofre uma sucessão de
crises de desmistificação; antigas metas artísticas são atacadas e, ostensivamente,
substituídas”... Com isso, vemos que o passado histórico da arte foi construído (e
222
desconstruído) seguindo diferentes tendências e, talvez, por esse motivo a arte
seja uma disciplina tão rica para ser estudada, pois permite um estudo voltado para
diferentes instâncias.
A arte contemporânea, como conseqüência de todo esse passado histórico,
não difere muito deste, podendo também abarcar para si a classificação de
dicotômica, fato que (apesar de trazer grande riqueza) dificulta bastante o estudo
desta. Através de uma simples pergunta como: - O que é arte atualmente? – podemos
perceber o quão complexa é a obra de arte nos tempos atuais. Se, conforme Ricardo
Basbaum (2), a arte contemporânea apresenta uma postura totalmente renovada
em relação ao passado, ou seja, não necessita de um espaço adequado que lhe
garanta um status de artes, não necessita ser elaborada manualmente pelo artista
e nem mesmo necessita que o espectador que a observa tenha consciência que
está diante de um objeto de arte; por outro lado, conforme Hans Belting (3), a arte
contemporânea é uma possibilidade dentre tantas possibilidades já exploradas
anteriormente, ou seja, apresenta uma postura (de alguma forma) ainda em
concordância com o seu passado.
Dessa maneira, acreditamos na incapacibilidade de se encontrar uma resposta
satisfatória para o que é que se possa ser a arte contemporânea, pois, segundo Hans
Belting (4), hoje quem se manifesta a respeito da arte ou até mesmo sobre a própria
história dessa, vê de antemão sua tese invalidada por outras: “Não é mais possível
assumir absolutamente nenhum ponto de vista que não tenha sido defendido de uma
forma ou de outra”.
Isso acontece, (primeiro) porque os próprios artistas e estudiosos mudam as
suas concepções conforme o tempo e a maturidade se dão (5), pois a arte é um
produto subjetivo que, consequentemente, vai (re) agir de acordo com a construção
pessoal de cada um que a vivencia (6), construção essa que não é eterna, pois se
encontra sempre em constante transformação. E, (segundo) porque é muito difícil
perceber e caracterizar uma mudança histórica estando como contemporâneo a
esta, dessa maneira, como poderemos afirmar qual é a tendência artística que se
estabelecerá no futuro nos livros de História da Arte para com o nosso momento se
ainda estamos vivenciando e construindo esse (7)?
O artista
A obra proposta como tema de estudo dessa pesquisa foi composta pelo artista
Robson Reis Marques (nome artístico: “Reismarques”). Robson nasceu na cidade
de Cabo Frio (RJ) e desde pequeno demonstrava interesse pelo universo artístico,
visto na facilidade (e no gosto) com a qual manuseava o lápis ao realizar desenhos
dos mais variados (9). Quando jovem mudou-se para o Rio de Janeiro para estudar e
se graduar no curso de pintura da Escola de Belas Artes na Universidade Federal do
Rio de Janeiro. Atualmente, é artista regular da feira hippie de Ipanema, onde expõe
e vende seus trabalhos todos os domingos e atua como artista plástico no circuito
artístico carioca, tendo participado de exposições como a “A Cara do Rio”, ocorrida
no Centro Cultural dos Correios no início do ano de 2009, na qual expôs a obra (sem
título) que pretendemos refletir nesse estudo.
Composição da obra
Falar de composição artística no período em que nos encontramos é algo
bastante complicado. Primeiro, porque é impossível destacar uma teoria compositiva
única que permeie toda a produção contemporânea, já que, conforme Arthur Danto
(10), a arte contemporânea é por demais pluralista em intenção e realização para se
permitir ser apreendida em uma única dimensão. Segundo, porque além das novas
técnicas desenvolvidas e empregadas nas composições artísticas temos as técnicas
desenvolvidas e empregadas no passado, que, de certa maneira, (também) se
apresentam como uma possibilidade construtiva para o artista (11).
Dessa maneira, como esse estudo pretende refletir a presença da tradição (e
da inovação) na obra de arte contemporânea, focando (nesse tópico) a composição
Tema
Sobre o tema, segundo Alberti (16), a pintura propõe aos seus espectadores
a construção de uma narrativa, que possibilita um prazer “em igual intensidade” à
leitura de um livro. Assim, para esse filósofo europeu do século XV, o resultado do
trabalho do pintor não difere muito do resultado do trabalho de um escritor, a única
diferença relevante estaria no fato de que o primeiro proporcionaria a construção de
uma narrativa a partir do pincel, enquanto o segundo proporcionaria a construção de
uma narrativa a partir das palavras.
Por possuir uma composição figurativa, onde um enredo está de fato
acontecendo (como em um livro), a obra de Reismarques nos convida a realizar
uma construção narrativa: “É um episódio doméstico. É um affair entre amantes
não casados... Como que por acaso, a mulher conhece o homem em um ambiente
social comum aos dois, e uma atração logo se concretiza. Um encontro é marcado,
mesmo que eles não saibam ao certo no que esse resultará: amor? Amizade? Ou
somente horas desperdiçadas? Após alguns goles de cerveja, o encontro resulta
em algo que talvez os dois, homem e mulher, já esperavam. Ela o convida para
mais um gole em seu apartamento, ele aceita sem questionar as suas segundas
intenções, afinal, era tudo o que desejava desde o primeiro esbarrão. E a noite se
desenrola. Beijos, abraços, toques, frases levianas, nada de reprovação, mas, pelo
contrário, tudo auxilia e engrandece o fogo do momento. Ao final só lhes resta uma
opção: um banho quente para que a limpeza dos corpos suados seja realizada e
a roupa possa ser colocada, voltando cada um para a sua rotina diária, apagando
do local a história que ali aconteceu. Na banheira, o rapaz cansado, mas ainda
excitado, pensa em se submeter a uma nova investida e desta maneira prepara-se
aguardando uma resposta. A mulher, feminina e determinada, já realizada, num gesto
de indiferentismo se levanta, vai à geladeira, pega mais uma cerveja, volta à banheira
e limita educadamente a investida de seu amante com um toque de carinho em seu
peito, realizado pelas pontas dos dedos de seu pé direito (momento em que o artista
Belmiro de almeida:
Arrufos, 1887.
Rio de Janeiro, óleo
sobre tela, 89 X 116 cm.
FONTE: http://www.
mnba.gov.br/2_colecoes
Conclusão
A partir da leitura do trabalho, é possível perceber que em uma mesma obra
de arte podemos encontrar tanto quesitos tradicionalistas como inovadores, pois,
mesmo quando uma sociedade artística apresenta uma vanguarda que clame por
novidades ou uma retaguarda que defenda a tradição; nunca teremos um objeto de
arte que traga em seu interior apenas conceitos inovadores ou apenas conceitos
tradicionalistas, já que a transição do “velho” para o “novo” não acontece de maneira
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Notas
1 SONTAG, Susan. A vontade radical. São Paulo: Cia. das Letras, 1987, p. 11.
2 BASBAUM, Ricardo. Além da Pureza Visual. Porto Alegre: Zouk, 2007,p.101.
3 BELTING, Hans. O fim da história da arte - uma revisão dez anos depois. 1. ed. São Paulo: Cosac e
Naify, 2006, p.177, 273-274.
4 IBIDEM, p.17.
5 Como aconteceu com a crítica e professora de arte Rosalind Krauss que no passado concordava e
defendia a teoria da planaridade lógica do cubismo (desenvolvida por Greenberg), mas que com o passar
do tempo “se deu conta que estava errada” (KRAUSS, Rosalind. Entrevista. In: Gávea, Rio de Janeiro,
set. 1995. número 13, p. 464), quando projetava aos seus alunos slides do quadro “Paysage à Horta da
O texto faz a análise de três Bólides de Hélio Oiticica sob a perspectiva de que eles constroem
um senso de adversidade através da materialidade utilizada pelo artista, especialmente no que
diz respeito às cores empregadas e ao uso de materiais retirados diretamente do cotidiano.
Compreendendo o adverso como fator estruturante e operativo, vê-se os Bólides como obras
abertas e propositivas de uma participação adversa, que é capaz de convidar o espectador e,
ao mesmo tempo, repeli-lo.
The text analyzes three Hélio Oiticica’s Bólides from the perspective that they build a sense of
adversity through the materiality chosen by the artist, especially regarding the use of colors and
objects directly taken from everyday. Understanding the adverse as a structural and operative
factor, we see the Bólides as open and operators of an adverse participation, which is capable
of inviting the observers and at the same time, repelling them.
233
O adverso se revela na participação áspera, inquieta e capaz de desestabilizar
o espectador/participador, através dos materiais rústicos e até mesmo “baixos”
escolhidos pelo artista. Fazendo um recorte em sua produção, trabalharemos com
o período compreendido entre os anos de 1963 e 1967 e com o desenvolvimento de
uma série de objetos que Hélio Oiticica chamou de Bólides, a partir da percepção de
que há neles uma acentuada dualidade, tornada evidente através da presença de
materiais rudes e brutos.
Entendendo o “baixo” aqui como o fator funcional da operação (KRAUSS,
2000: 249), pretendemos ver como e com quais elementos Hélio Oiticica assegura
essa condição operativa do adverso, trabalhando para além da temática do adverso,
também presente no conjunto da obra de Hélio Oiticica, através da figura do
marginal, do abjeto socialmente produzido e da própria idéia de adversidade como
marca cultural brasileira. Para tal, acreditamos ser necessário compreender, dentro
do conjunto da obra de Oiticica quais são as suas estratégias de formalização do
adverso, desvendando como a adversidade se mostra ao espectador, através do tipo
de participação proposta.
Os Bólides são objetos pensados para a manipulação, construídos na forma
de caixas de madeira ou de recipientes de vidro. Hélio parece ter pensado essas
construções como pequenas arquiteturas estruturais, pois são objetos que ainda
que se encerrem formalmente em si mesmos (são recipientes que contêm, que
delimitam, que ordenam) estabelecem diálogo tenso com o entorno. São objetos
cheios de luz – a cor é transformada em luz em seus interiores – emanada pelas
“paredes” de madeira pintadas com cores quentes (vermelhos, amarelos, laranjas)
dos Bólides-Caixa ou através dos próprios pigmentos coloridos contidos nos Bólides-
Vidro. Mas também são objetos cheios de matéria, pois a cor-luz ganha densidade
material, exposta como pigmento. Desta forma, a cor mostra-se como exterioridade,
ocupando o espaço real do mundo e da cultura. Oiticica cria um jogo de mediação
entre os Bólides e o espaço, valorizando no espaço a cor. Se os Bólides-Caixa
parecem pequenos faróis monocromáticos destacados no espaço, os Bólides-Vidro
revelam a cor a partir do centro do objeto, colocando em diálogo não apenas o objeto
e o espaço, mas também o próprio espaço interno do objeto e o entorno, através da
Agora não sinto necessidade de construir objetos, mas uma lata cúbica
vazia me deu vontade de colocar água nela e pronto: é para que se
olhe aquela lata com água, olhe-se como num espelho, o que já não é
apropriação como antes mas o objeto aberto essencial, que funcionará
conforme o contexto e a participação de cada um. (OITICICA, 1968).
O tratamento dado aos materiais reforça esse estranhamento. Oiticica opta por
não terminar o acabamento das tiras de madeira compensada que enquadram os
Bólides-caixa; o mesmo para a abertura de alguns recipientes de Bólides-Vidro. Se há
um convite à manipulação, parece haver também a noção de que esta manipulação
acontecerá de maneira comedida, numa negociação entre a forma do Bólide e o
participador. Por conta disso, o prazer advém de outra fonte que não a sensibilidade.
Surge da descoberta dos elementos contidos nos objetos, e talvez até mesmo da
percepção por parte do participador, de que, ao manipulá-los, se vê capaz de vencer
certa adversidade ou, pelo menos, certa resistência.
Não apenas a presença desses materiais nas obras garante a condição de
adversidade, também a maneira como eles são organizados conduz à sensação
de manipulação do adverso. O fato de Oiticica organizar nos Bólides os elementos
na forma de caixas ou recipientes de vidros faz com que cada obra constitua, de
maneira independente, um pequeno universo, que é ao mesmo tempo fechado e
passível de exploração. A própria morfologia (caixa ou pote de vidro) constitui tensão
e ambigüidade nesse aspecto: ela é e contém um ambiente pensado pelo artista,
sendo, de certa maneira, fechada. Por outro lado, ao entregá-la ao espectador, agora
Conclusão
Entendendo o abjeto como o adverso, Hélio Oiticica utiliza a adversidade
para estruturar a tensão das suas obras, potencializando as ambigüidades internas
delas. A partir da produção dos Bólides (1963-67), onde a idéia de construção de
ambigüidades que jamais se resolvem é bastante evidente, vimos que a herança
construtiva recebida por Oiticica não foi assimilada numa leitura conclusiva da obra,
nem para o espectador, nem para a forma, que se mostra aberta. A questão formal
acompanha o leitmotiv de não-resolução das obras e dá cor, corpo ou volume a ele.
Não se trata só de aparência visível inacabada, como se os Bólides fossem pequenos
canteiros de obras dotados de cor. Trata-se mesmo da não-conclusão como operação
do informe, sem nunca resolver a tensão inerente da obra.
A arquitetura do adverso para estruturar a não-conclusão reforça o sentido de
modernidade presente nos Bólides de Oiticica, na medida em que constrói uma forma
Referências
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vida (proposições e paradoxos). Rio de Janeiro: Contracapa, 2005. (pp. 32-36)
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_____________.Esquema Geral da Nova Objetividade in: Aspiro ao Grande Labirinto. Rio de Janeiro:
Rocco, 1986. (pp. 84-98).
_____________. Entrevista concedida a Ivan Cardoso. Rio de Janeiro, 31/01/1979.
Leidiane Carvalho
O artista Daniel Senise conta que teve sua formação “visual” a partir de imagens impressas e
sempre as utilizou para pensar seu trabalho, mesmo sendo elas de arte ou não. Neste artigo,
trabalho sobre este recorte – sua relação com a tradição pictórica, em que se afirma numa
posição de “gerador de símbolos”, tecendo relações com os conceitos de imagem envolvidos,
aliados à presença da memória – desde as impressões de livros às impressões dos ambientes
em que trabalha.
Daniel Senise tells that grows in contact with printed images and that always use them to think
his work, even though they were art or not. This article work on this cut - its relationship with the
pictorial tradition, which states him like a “generator of symbols,” building relationships with the
concepts of image involved, coupled with the presence of memory - from books prints to printing
the environments with which it works.
Estar em contato direto com um artista – seu discurso e sua obra - decerto é
de grande auxílio quando se pretende analisar seu trabalho. Entender o modo como
o artista opera abre novas possibilidades de leitura de seu trabalho, portanto acredito
ser este o primeiro ponto a ser observado neste artigo. Em seguida, é preciso pensar
a problematização de questões artísticas do passado reativadas – nas ditas “imagens
de segunda geração”, citação de imagens do consciente coletivo reapropriadas e
resignificadas por um olhar contemporâneo.
248
A relação de Daniel Senise com as imagens impressas é, também,
imprescindível para este trabalho. O próprio artista diz que toda sua formação foi
permeada pelo contato com impressões (de arte ou não) e que elas influenciaram
profundamente seu modo de ver o mundo e de trabalhar. Assim, a imagens
armazenadas no “banco de dados” da história não estão estáticamente disponíveis
para a apreensão, elas se transformam e ganham novos sentidos neste trânsito, são
um território onde residem as preocupações do artista. Estas relações, por fim, serão
tecidas num estudo de caso: a pintura “Reino I”, conjuga estes fatores antes citados e
os discute, apresentando algumas questões que permeiam a obra do artista.
Premissas
Daniel Senise pinta com a textura dos lugares que ocupa. Ele produz
monotipias a partir dos locais que ocupa para trabalhar. Seu atelier, sua casa, prédios
abandonados que lhe servem de “modelo”, enfim, tudo começa pela escolha deste
local. A escolha, entretanto, não se dá pela simples aparência do lugar. Antes, este
deve ter algum vínculo com o artista. Seu uso no passado, como uma escola em que
ele estudou quando muito jovem, da qual obteve uma monotipia antes que esta fosse
demolida, ou o piso da própria casa, com suas próprias marcas cotidianas.
Esta monotipia, então, se faz pela disposição de tecido no piso escolhido – o
cretone -, sobre o qual é espalhada uma grossa camada de cola PVA. Esta ação
grava na superfície do tecido a textura do chão. Mas não só isso: a superfície em si
por vezes se desprende do piso e se agrega ao tecido, uma imagem: imagem que
presentifica o ausente, imagem como morte e lembrança, imagem como aquilo que
não está lá, mas que se presentifica simbolicamente de outra maneira, porque o
ambiente gravado não está totalmente agregado ao tecido, mas, sim, nele presente
de forma parcial; e um registro de memória: registro do que era e do que estava
naquele lugar, vestígios da presença de pessoas e animais, lembranças do artista em
relação àquele ambiente, seus motivos para estar lá e para retornar.
Na obra, portanto, não existe apenas a evocação de um lugar, mas sua
presença física, de algum modo. Os vestígios se agregam e se tornam a superfície
pictórica, constituindo uma “tinta”. Utilizo o termo entre aspas porque são vários
Composição e espacialidade
Daniel Senise, como já dito, sempre trabalhou com imagens impressas. Passa
horas vendo e revendo livros (de arte ou não) dos quais extrai idéias para seus
trabalhos. “As apropriações da história da arte são mais que citações de imagens.
O artista aborda como questões e problemas estilísticos, que sabe serem também
dimensionados numa época que constituem”1. Trabalha com uma reapropriação e
resignificação destas imagens, trazendo-as para seu tempo, buscando entender seu
sentido no passado. Sobre o significado que estas imagens recebem, o artista declara:
Bibliografia
ADEAS, Dawn. Daniel Senise: vestígios. In: Daniel Senise – Ela que não está, Cosac & Naify Edições, São
Paulo, em 1998. [Catálogo]
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In: BASBAUM, Ricardo (org.). Arte Contemporânea Brasileira. Rio de Janeiro: Rios Ambiciosos, 2001.
FERREIRA, Glória. O vôo do bumerangue. In: Daniel Senise – Galeria Thomas Cohn Arte Contemporânea,
São Paulo, em 1999. [Catálogo]
HERKENHOFF, Paulo. Sudário e esquecimento. In: Daniel Senise – Galeria Camargo Vilaça, São Paulo,
1993. [Catálogo]
A presente comunicação pretende discutir a série Releitura da Bíblia, de León Ferrari, a partir
de aspectos pontuais da análise de suas colagens, de 1984 a 1990. Tratar-se-á de como
Ferrari utiliza reproduções de outras obras de arte, consagradas pela História da Arte e já
culturalizadas, como ícones para questionar a sociedade ocidental e cristã, numa releitura
crítica das narrativas bíblicas e da própria história da arte.
This communication intends to discuss the series “Re-readings of the Bible”, of León Ferrari,
starting from punctual aspects of the analysis of his collages, from 1984 to 1990. It will be
treated how Ferrari uses reproductions of other works of art, consecrated by the History of Art
and already culturalized as icons to question the occidental and Christian society, in a critical
re-reading of biblical stories and of history of art itself.
Visão e criação, evento primeiro que antecede o ato. Assim contam narrativas
bíblicas, narrativas históricas e biográficas sobre artistas. Abordar esses temas e
interligá-los a narrativas contemporâneas se coloca como proposta de compreensão
das três obras de León Ferrari a serem tratadas Incircuncisos [Fig.1], Helicóptero
[Fig.2] e Fecundação [Fig.3], da série Releitura da Bíblia.
O primeiro trabalho a ser abordado é Incircuncisos (1988). Neste, pode-se
verificar ao fundo, a imagem do Vaticano, cheio de fiéis, e a ela sobreposta, colada
em primeiro plano, a figura do Criador, retirada de uma reprodução do afresco
256
Fig. 1 – Incircuncisos,
1988, da série Releitura
da Bíblia, colagem
27x42,5 cm, León
Ferrari. Coleção León
e Alicia Ferrari, Buenos
Aires.
Mesmo que Michelangelo estude modelos e pense como produzir tais formas,
há um discurso que envolve a sua arte que o diviniza, que o coloca como artista
genial, deus criador e que aproxima seu trabalho, sua produção de uma noção
de uma visão divina, que o acomete e, nesse sentido, é intuição. Por não tomar a
arte como pura intuição, León Ferrari pode realizar este trabalho. Ele não expressa
através de seu pincel sua genialidade, fornecida por uma visão divina. A visão de
Deus apresentada por León Ferrari é fruto dos seus questionamentos, seu ato criador
faz parte de um entendimento das características formais aliada ao entendimento
Fig. 2 – Helicóptero,
1988, da série Releitura
da Bíblia, colagem
25x24 cm, León Ferrari.
Coleção León e Alicia
Ferrari, Buenos Aires.
Fig. 3 – Fecundação,
1988, da série Releitura
da Bíblia, colagem
30x47,5 cm, León
Ferrari. Coleção León
e Alicia Ferrari, Buenos
Aires.
Referências Bibliográficas
ARGAN, Giulio Carlo. História da arte italiana: De Giotto a Leonardo. Volume 2. São Paulo: Cosac Naify,
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ARGAN, Giulio Carlo. História da arte italiana: De Michelangelo ao futurismo. Volume 3. São Paulo: Cosac
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Oficial, 2006.
LONGHI, Roberto. Breve mas verídica história da pintura italiana. São Paulo: Cosac Naify, 2004.
Parto uma abordagem nostálgica utilizando como referente uma arte popular. Utilizo imagens
que correspondem à poética regional nordestina: a arte figurativa de Vitalino e da comunidade de
ceramistas do Alto do Moura (Caruaru/PE), na valorização da cultura visual e da estética do sertão.
O trabalho desenvolve um diálogo reflexivo e processos de experimentação plástica na utilização de
materiais de memória que procedem de referências anteriores, de onde podem ser definidos pela
preocupação com o tempo vivido e pelas novas significações que o passado potencialmente tem de
atuar no presente por meio da sua apropriação na combinação de objetos tradicionais e memórias
com ocorrências atuais. Neste sentido, levanto questões pertinentes como a relação entre o suporte
material da obra e a passagem do tempo, estabelecendo a construção de uma memória plural (fotos
de família) e a re-locação de traços de uma memória coletiva, tradicional, produzindo as caixas de
memórias, um novo trabalho artístico imbuído de reminiscências afetivas, imprimindo traços dos
lugares de onde foram recolhidos os fatos das minhas experiências de infância, na íntima presença
materna que se revela nos bordados e fotos, e que me levam, assim, ao território mais amplo das
minhas referencias culturais de origem, o Nordeste, as rendas e as cerâmicas.
I started by a nostalgic board, taking as reference popular art. It got images that refer to the
north-east regional poetic: the figurative art of Vitalino and the comunity of ceramic artisan of Alto
Moura (Caruaru/PE) to increase in value the backwoods visual culture and aesthetic.
The research develops a reflexive dialogue and process of plastic experimentation by using
memory material, that come from previous references, that can be defined as a concern about
the time gone and the new meaning of past in which it has to influence present by combining
traditional objects and memories to the current events. So, following this thought, I ask questions
such as the relation between material support of the work and passage of time, establishing the
building of a plural memory ( family pictures) and the re-location of traces of collective memory,
266
tradicional, making memory boxes, a new artistic work full of affectionate reminiscence, printing
traits of the places they were taken from, events of my childhood, in the very close presence of
my mother that can be seen on the embroidered and pictures, taking me, somehow to the largest
territory of my cultural references, the Noth-East, its laces and embroideredes.
Sobre as Séries
Cada série é constituída por três imagens onde se assemelham quanto
característica plástica e por ações trabalhadas.
Com a combinação do preto e branco a série Vultos/Sombras revela uma dimensão
impalpável da boneca de barro e ressalta também seu volume e contornos femininos.
Esta série estabelece uma conexão entre a apropriação dos bordados de
crochê juntamente com as fotografias, onde o comportamento traz cor e também
revela a delicadeza do trabalho feminino.
Neste momento procuro fazer cortes e é onde começa uma aproximação
das imagens, a recorte da foto 3X4 é o mesmo executado na fotografia da boneca.
Desloco a face e a deixo em evidência para revelar a expressão feminina.
Série 3: Recortes
Professor de História e Teoria da Arte da UFES e doutorando em História e Crítica da Arte pelo
Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da EBA – UFRJ
Being inseparable the ideas of space and time, painting and sculpture also eager to represent
time. Contemporary art not only asserts that the observation lasts, but brings out the flow of
time as a constituent element of the work. With the image-movement in filmic and videographic
records the time becomes fully representable.
Notas
1 Pierre Francastel, Arte figurativa, passim.
2 Nicolas Bourriaud, op. cit., p.66.
3 Gilles Deleuze, Imagem-tempo, p. 10.
4 Jacques Aumont, op., cit., p. 31.
5 Ibid.
6 Ibid., p. 32.
7 August Rodin, A arte [em] conversas com Paul Gsell, p. 62.
8 Ibid., p. 66.
9 Michael Rush, op. cit., 81.
Este texto consiste na análise do papel da fotografia no trabalho de Sophie Calle, partindo da
ação L’hôtel. A artista trabalhou como camareira num hotel em Veneza e fez fotografias dos
pertences dos quartos dos hóspedes. A fotografia como prova de uma ação, como quebra entre
os espaços privado e público.
This text consists on the analysis of the photography’s role in some works of the artist Sophie
Calle, with attention to the action L’hôtel. The artist worked as a chambermaid in a hotel in
Venice and took pictures of the guest’s possessions and their rooms. The photography is the
proof she had been there, it’s a signal of the non-limitation between public and private spaces.
279
acontecimentos autobiográficos ou ser inventados.
As fotos, na maioria dos trabalhos de Sophie Calle, funcionam como provas de
performances, vivências às quais ela se atira com o propósito definido de viver e fazer
arte. As obras de Calle giram em torno de regras que ela cria para a própria vida.
“Não tenho filhos para levar à escola, posso desaparecer por seis meses amanhã se
eu quiser. As regras me tranqüilizam.” – explica a artista1. Calle transformou a própria
vida numa sequencia de jogos.
Ela aproveita-se da condição da fotografia como documento representativo do
real para demonstrar atos performáticos; usa a foto como prova. Além da noção da
fotografia como índice, que mantém uma relação direta, física, com seu referente, há
também a possibilidade de criação do fotógrafo e do observador. Calle cria a partir
das fotos-registro e a cada olhar percebe-se um detalhe novo nos episódios narrados.
Ao se deparar com os textos elaborados a partir das fotos publicadas
em Histórias reais, o espectador é induzido a crer que os eventos realmente
aconteceram, principalmente pelo caráter de realismo inerente à fotografia. A foto
funciona como rastro de uma atividade que se apresenta como obra.
Os trabalhos de Calle são considerados Arte do Cotidiano. Neste movimento,
denominado por Philippe Dubois em O Ato Fotográfico, encaixam-se os artistas que
colocam seu corpo em cena sistematicamente, ou como acrescenta Dubois:
A obra L’hôtel realizada por Sophie Calle em 1986, em Veneza, com o intento
de elaborar um perfil característico dos hóspedes de um hotel na cidade durou três
semanas, durante as quais Calle empregou-se como camareira. Ela levava para suas
incursões diárias aos quartos, sua câmera fotográfica dentro do balde de limpeza e
um pequeno diário escondido onde registrava o que encontrava. O objetivo era criar
um imaginário sobre quem seriam aqueles hóspedes a partir dos pertences achados.
A artista se esquivou de conhecê-los pessoalmente para que suas elaborações não
se confundissem com as figuras reais. Interessavam resquícios de personalidades. As
imagens comprobatórias da passagem dela pelos aposentos permitem ao espectador
chegar a conclusões próprias a partir de outros objetos que não ganharam
importância nos escritos de Sophie Calle.
De acordo com Roland Barthes em A Câmara Clara, cada fotografia tem o que
ele chama de seu studium e de seu punctum. O studium seria aquilo que o fotógrafo
nos convida a ver, o que está relacionado muitas vezes a uma análise histórica ou
ao menos contextual da imagem. Já o punctum é o que cada espectador é pungido a
ver, aquilo que se relaciona com ele afetivamente e só com ele em particular.
primeira pessoa até o casamento e divórcio dos dois. O filme deixa claro que foi feito
para ‘salvar a relação’: o sonho de Greg Shephard era o de se tornar cineasta e o de
Sophie Calle de o acompanhar numa viagem de carro pelos Estados Unidos.
A riqueza dos detalhes da narrativa revela a obsessão por datas, precisão
de lugares e horários e pelos acessórios (Cadillac cinza/ frases entre aspas/ vinte
Ele (Alain Bois) lembra que, segundo Roland Barthes, a fotografia não
é ‘proustiana’, não rememora ou celebra o passado, ao contrário, faz-
nos ver o que ele chamava de “mistério simples da concomitância”,
tudo se reduzindo ao momento específico do clique fotográfico. Assim,
Sophie Calle também estaria usando o artifício e a memória dos detalhes
Calle faz a partir de fotografias do que antes era considerado tão ordinário
e indigno de um clique (como uma ida à padaria) uma tentativa de resgatar um
significado. É como se ela gritasse ao mundo que deve-se voltar os olhos às
possibilidades que objetos sem significância remetem. Da imagem de um referente
banal como uma xícara, experiencia-se um encontro “real”:
Assim como a maior relação de Calle com a fotografia é pelo afeto, é também a
de Roland Barthes:
Imagem do livro
Histórias Reais, de
Sophie Calle, p. 52 e
p.53
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DUBOIS, Philippe. O Ato Fotográfico e Outros Ensaios; tradução de Marina Appenzeller. Campinas, SP:
Papirus, 1993. – (Série Ofício de Arte e Forma)
MAMMI, Lorenzo e SCHWARCZ, Lilian Moritz (org.). 8x Fotografia: ensaios. São Paulo: Companhia das
Letras, 2008.
Notas
1 Sophie Calle em entrevista vídeo exposto em “Cuide-se”, Sesc-Pompéia, São Paulo, Setembro 2009.
2 DUBOIS, Philippe. O Ato Fotográfico e Outros Ensaios, tradução de Marina Appenzeller. – Campinas,
SP: Papirus, 1993. – (Série Ofício de Arte e Forma) Pág. 279.
3 AUSTER, Paul. Leviatã; tradução de Rubens Figueiredo. São Paulo: Companhia das Letras, 2001, p. 82.
4 IDEM, p. 88.
5 DUBOIS, Philippe. O Ato Fotográfico e Outros Ensaios; tradução de Marina Appenzeller. Campinas,
SP: Papirus, 1993. – (Série Ofício de Arte e Forma) Pág. 280
6 BENJAMIN, Walter, Petite histoire de la photographie (1931)e L’ouvre d’art à l’ère de sa reproductibilité
technique (1935), em L‘homme, le langage et la culture, Paris, Denöel/ Gonthier, col. Méditatiions, 1971.
7 CANONGIA, Ligia. Texto em(Cátalogo) Meias Verdades – Coleção Arte e Tecnologia Oi Futuro.
8 BARTHES, Roland. A Câmara Clara: nota sobre a fotografia; tradução de Júlio Castañon Guimarães.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984. Pág. 39
Breno Bitarello
João Queiroz
289
o primeiro ato de tatuar tenha sido acidental, resultado da perfuração de um material
que produziu uma marca permanente. No entanto, não se sabe ao certo quando e
como a tatuagem teria surgido. Vestígios foram encontrados em múmias, e o mais
antigo exemplar conhecido é Ötzi, o “homem de gelo”, que viveu a cerca de 5200
anos, encontrado na região dos Alpes, entre a Itália e a Áustria, com 50 marcas de
tatuagem no corpo (ARAÚJO, 2005).
De seus primórdios conhecidos até hoje, a tatuagem passou por inúmeras
mudanças de significados e estilos. No entanto, tais variações e mudanças
ocorreram, em sua maioria, no campo estilístico da imagem registrada.
De modo geral, a dermopigmentação pode ser comparada com eficácia a um
projeto de design, ou com a confecção de um artesanato. Trata-se de um adorno
corporal concebido para determinada parte do corpo, tratando-se, na maioria das
vezes, de uma ilustração. Obviamente há exceções. Muitos tatuadores acabam por
desenvolver estilos muito particulares. Mas é um fato que o que se observa hoje,
no campo da tatuagem, pode ser considerado “tedioso”, em termos de exploração
criativa, estilística, e de motivos tatuados. Entretanto, há potencialidades radicais
associadas ao uso de novos dispositivos tecnológicos, a novos materiais e novos
aplicativos científicos.
Referências
ARANTES, Priscila. Arte e mídia: perspectivas da estética digital. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2005.
ARAÚJO, leusa. Tatuagem, piercing e outras mensagens do corpo. São Paulo: Cosac & Naify, 2005.
DOMINGUES, Diana (org.). Arte, ciência e tecnologia: passado, presente e desafios. São Paulo: Editora
UNESP, 2009.
MAYR, Ernst. Biologia, Ciência Única. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
Notas
1 “Learning Tattoo” Tahttp://atattoo.blogspot.com/2008/05/learning-tattoo-captulo-1-fundamentos.html
2 “Dermatologia/Pele: Tatuagem, tintas e pele”, disponível em http://www.drashirleydecampos.com.br/
noticias/13072
3 “Electronic Tattoo”, disponível em: http://acriacao.com/2009/02/25/the-electronic-tattoo-by-philips/
http://www.design.philips.com/probes/index.page
4 “Programmable Tattoos: Digital displays for your body”, disponível em http://english.ohmynews.com/
articleview/article_view.asp?no=296497&rel_no=1
Bloco Bienal Vá de
Retro Abacaxi, 2009.
A vida nesse momento chora; por todas as formas de violência física e psicológica.
Somos responsáveis pela destruição da casa que nos acolhe, somos responsáveis por
nossa destruição mútua. Poderia então a arte, pretensiosamente, enxugar algumas dessas
lágrimas? Discutir questões do mundo acarretaria num enfraquecimento da produção
artística? Acredito que não, pelo contrário, enxergar o a vida pela lente pós-modernista é
perceber que o mundo constitui-se de camadas que se entrecruzam e crenças diversas
que se roçam impossibilitando qualquer tentativa de definição de conceitos isoladamente.
Consequentemente os artistas devem pautar suas produções no modo de se
relacionar com o mundo e com os habitantes desse mundo a que pertencem. Devem,
atentos aos pequenos movimentos cotidianos que nos são oferecidos, também
estar abertos à possibilidade de troca, percebendo o “ex-espectador” como alguém
que pode contribuir de maneira efetiva em suas produções artísticas, não só como
receptor de algo que o artista irá realizar como também como produtor de saberes
artísticos. Para Beuys todos somos artistas; façamos então como ele profetizou.
Numa certa tarde de domingo Bianca Bernardo, querida amiga, parceira, artista
visual e pesquisadora abriu as portas de sua casa para receber a visita de Cristina
Ribas, tão querida quanto e igualmente artista visual e pesquisadora. Como ótima
anfitriã que é, Bia preparou um chá de camomila para confortar a conversa que fluiu
agradavelmente, como de costume, em meio a livros de arte. Cris estava na casa de
Bia com o intuito de realizar um de seus trabalhos, denominado Troca de azulejos. Ela,
a “propositora” (autodenominação), troca um azulejo da casa do “participador” (como
ela mesma diz) por outro de cor azul, numa espécie de destruição criativa. A proposta
de Cris coloca em movimento uma engrenagem que origina um campo afetivo em que
a dimensão das palavras “artista” e “espectador” tornam-se sem importância. Bianca é
amiga de Cristina, mas não precisaria sê-la pois, como a mesma descreve na premissa
299 art uerj III semana de pesquisa em artes
Cristina Ribas, Troca de
azulejos, 2004-2008.
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Notas
1 Prof. Dr. Aldo Victório por e-mail.
2 FERREIRA, Glória; COTRIM, Cecilia. Clement Green Berg e o debate crítico. Rio de Janeiro: Editora
Jorge Zahar, 2001, p. 102.
3 HUYSSEN, Andreas. Memórias do Modernismo. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1997, p. 222.
4 GABLIK, Suzi. The Reenchantment of Art. Nova York: Thames and Hudson, 2002, p. 1.
5 Em suas conferências Joseph Beuys afirmava que qualquer mudança/revolução deveria ser
necessariamente iniciada na esfera das artes, cabendo ao artista realizar o processo de re-humanização
do homem.
6 GABLIK, Suzi. The Reenchantment of Art. Nova York: Thames and Hudson, 2002, p. 2.
7 Ibid., p. 3.
8 Ibid., p. 1.
PPGArtes – UERJ
A sistematização do meu processo artístico resultou nas Notas de Tempos Inconciliáveis, que
são fragmentos escritos em blocos. As Notas se aproximam do conceito dos hypomnemata
de Foucault, que se configurariam como um caderno de anotações sobre o fazer ou a ação,
e se afastariam da escrita de um diário ou “de uma narrativa de si mesmo”. Os hypomnemata
trabalham com um sistema fragmentário de anotações, mas não como um texto auxiliar da
memória, e sim, como um material que capta o já dito.
302
As diversas vozes contidas nas Notas e nos Diários se confundem e se
colam, pois a forma escrita das Notas e dos Diários, ora se aproximam da primeira
pessoa do eu-artista subjetivo, ora se distanciam como uma terceira pessoa objetiva
e crítica exigida num discurso teórico, e ora existem na segunda pessoa como um
distanciamento ou contra-ponto, que aguarda a possibilidade de troca efetiva com
a subjetividade ou objetividade do discurso empregado nos diários de bordo e nas
Notas de Tempos Inconciliáveis.
A invenção de um sistema é essencial para a criação artística, por isso,
pretendo apresentar neste trabalho as semelhanças e as diferenças entre a forma
das Notas de Tempos Inconciliáveis e dos diários de bordo, tomando como referência
o conceito de hypomnemata de Michel Foucault.
As Notas de tempos inconciliáveis e os diários de bordo trabalham com o
conceito dos escritos de hypomnemata, que são registros de memórias não subjetivos
que se tornam meditações diárias e disciplinas ascéticas de escrita que funcionariam
como juizes ou interlocutores da obra artística.
Apesar de as Notas e os Diários de bordo apresentarem semelhanças na
ordem disciplinada e acética de escrita, suas diferenças e contra-pontos de vozes são
significativos porque conseguem de maneiras distintas dar maior abrangência ao meu
discurso poético.
As Notas de Tempos Inconciliáveis são escritas na terceira e na primeira voz e
existe um distanciamento crítico provocado pelo exercício diário, apesar de as Notas
também trabalharem com discursos de subjetividades. Enquanto os diários de bordo
são quase ‘narrativas de si’ que trazem a voz para a primeira pessoa, subjetiva e
individual do artista que, no entanto, também trazem discursos teóricos mais densos.
Com a vontade de dar conta de um discurso mais amplo sobre os processos
artísticos envolvidos nas minhas colagens, optei pelas duas maneiras de escritas que
se interferem, se confundem e se complementam. Os diários de bordo são uma escrita
em estado bruto, enquanto as Notas de Tempos Inconciliáveis trazem passagens
objetivas ou subjetivas que foram decantadas mais lentamente. As Notas se aproximam
de um exercício de escrita de um diário, mas elas são feitas de forma mais demorada,
enquanto nos meus diários, a escrita é corrida e sistematizada pelos dias da semana.
1
A sistematização do meu processo artístico resultou nas Notas de Tempos
Inconciliáveis, que são fragmentos escritos em blocos. As Notas se aproximam do
conceito dos hypomnemata de Foucault, que se configurariam como um caderno de
anotações sobre o fazer ou a ação, e se afastariam da escrita de um diário ou “de
uma narrativa de si”. Os hypomnemata trabalham com um sistema fragmentário de
anotações, mas não como um texto auxiliar da memória, e sim, como um material que
capta o já dito e retorna o presente com a mesma intensidade do passado.
2
O fragmento de Schlegel tenta abarcar o todo, que é sempre inapreensível, por
isso o fragmento apenas tenta traduzir o todo. E é isso que busco com as notas que
são os fragmentos do todo.
3
Assim3, minha aspiração assim como a de Kurt Schwitters se torna
“criar relações entre todas as coisas do mundo”, como uma visão romântica do
conhecimento e sua tentativa melancólica de capturar o todo e traduzir os processos
artísticos em passagens textuais e subjetivas.
4
A invenção do problema se torna o sistema. Mas a obra é o sistema?
5
O problema não é o trabalho, mas o problema pertence ao trabalho, pois a
6
Os hypomnemata se diferenciam dos arquivos porque trazem a ação viva, e
não a idéia do arquivo morto, pois nos hypomnenata existem as diferenciações feitas
pelas escolhas afetivas. Entretanto, os arquivos colocam as coisas num mesmo nível
de sentido e significado, numa pluralidade informe da massa, enquanto a função do
artista é sempre buscar as pequenas e sutis diferenças e fornecer sentidos que estão
num mesmo emaranhado sem nexo.
7
A minha escrita funciona como memória, medo de esquecer, deixar passar, o
esquecimento e a memória são dois lados de uma mesma moeda, já dizia Freud os
diários e os cadernos são como remastigar, remoer e requentar tudo aquilo que já se
pensou antes.
8
A função das minhas colagens é dar sentido às coisas, então, eu as colo numa
moldura separada do mundo, em um quadrado metafísico e digo o que elas são. Não
é o deslocamento que eu provoco, e sim a apropriação de elementos domésticos e
privados causados pela minha angustia de dar formas às idéias.
9
Os hypomnemata são coleções de palavras que retornam com todo sentido
possível dentro da obra. Meus diários reforçam a idéia que foi buscada, ativada e
depois apagada. E volta a se apagar e se esvair.
11
Anselm Kiefer diz que falar sobre arte é rodear um buraco negro. A pintura de
Kiefer é a tentativa heideggeriana de colocar tudo dentro da obra, mas Wim Wenders
diz que a imagem é tudo que se deixa de fora dela.
12
La prose de transibérian pode ser considerada como a primeira obra em que
se falou de simultaneidade. Blaise Cendrars e Me Delaunay –Terk produziram uma
experiência única em simultaneidade, escrita em cores contrastantes a fim de levar
o olho a ler de um só golpe de vista as notas colocadas acima e abaixo da barra
do compasso, ou como se lêem como único golpe de visto os elementos plásticos
impressos num cartaz.
13
O jogo é a experiência do acaso, segundo Novalis. E o acaso para John Cage
é toda a possibilidade de acontecimento.
14
A indeterminação é empregada na música como um meio de ampliar o sistema
de opções que a obra oferece, porém há a preocupação em fixar-lhe limites. Para
Pierre Boulez, a indeterminação não pode vir de fora do jogo que a obra encerra,
por isso, Boulez aceita a indeterminação como aleatoriedade dentro do campo de
possibilidades. Porém, para Cage a indeterminação como o acaso só pode aparecer
no indeterminado puro que é o silêncio. O acaso e as possibilidades para Cage estão
para além do jogo.
16
Na colagem Merz de Kurt Schwitters há a necessidade de criar relação
entre todas as coisas do mundo. Exploro e fixo em notas de tempos inconciliáveis
dissonantes e volto a pensar nos fragmentos, nas partes, nas relações entre elas e no
que elas significam ou nada significam.
17
O sistema das Notas de Tempos Inconciliáveis são hypomnemata. Foucault em
seu livro O que é um autor? traça a diferença de um diário confessional surgido numa
época cristã e os hypomnemata, que seriam escritos que funcionariam como textos
‘pessoais, filosóficos e acontecimentos passados’. As minhas Notas não são diários
confessionais, e sim hypomnenata, que podem trazer à tona as vozes passadas,
corrompidas que haviam sido esquecidas, pois a ‘escrita de si’ não é uma confissão, é
a própria voz da coisa morta.
18
Nietzsche em “Além do bem e do mal’ diz que a metafísica cristã morreu. A
verdade é inventada. O mais baixo é sempre o mais alto. “Os filósofos- eles são todos
advogados que não querem ser chamados assim, e na maioria defensores manhosos
de seus preconceitos, que batizam de “verdades”.
19
A distância crítica e reflexividade moderna exigem que qualquer texto, mesmo
o de um artista tenha a distância da voz na terceira pessoa.
21
A sinestesia são os sentidos pelos olhos e pela boca. A cor dos cheiros, o
amarelo enjoativo, o vermelho temperado, o azul melado, mas poderiam existir
sinestesias mais interessantes, foi o que Wassily Kandinsky quis propor com um
azul expansivo e infinito que seria um tom fechado e redondo das escalas maiores, o
vermelho dissonante e quase laranja, com as sétimas diminutas e o amarelo retesado
como a quinta justa.
22
A diferença entre o acaso e o aleatório na obra dos dadaístas Duchamp e
Kurt Schwitters: O acaso é o encontro fortuito na concepção dos ready-mades de
Duchamp, mas ao mesmo tempo, os ready-mades deveriam ser escolhidos pelas
características não artísticas dos objetos, mas o acaso na obra de Kurt Schwitters
se processa de maneira afetiva, se encontra ao acaso aquilo que se procurava
intuitivamente. Podemos chamar de encontro fortuito na obra de Schwitters?
23
A aleatoriedade faz parte da concepção de Duchamp, da regra do jogo, de
escolher o primeiro objeto que não tenha característica artística, enquanto Kurt
Schwitters nunca escolhe, sem o acaso da paixão.
24
Na sua acepção cética, os hypomnemata podiam ser livros de contabilidade,
25
A pintura não como uma janela ou uma paisagem em perspectiva, mas como
um flatbed, sua tradição é escritural, como a dos pergaminhos e das iluminuras da
Idade Média.
Minhas colagens descendem da “tradição escritural” ou da “iluminação” dos
manuscritos.
26
Faca na água é uma boa sinestesia.
37
Hypomnemata: hypo é menos, menor, mnemata é memória. Os hypomnematas
‘armazenam menos memória”? Ou são como memórias anteriores?
Notas
1 Ver teoria do fragmento de Schlegel in SELIGMANN,Márcio Silva “Ler o livro do mundo”. pág. 41-42.
2 Formas aleatórias e combinatórias são paralelos conceituais que criei entre as colagens musicais e as
colagens plásticas.
3 Apesar das Notas de tempos inconciliáveis não terem uma sequencialidade do discurso narrativo, elas
podem formar nexos conceituais entre si, as Notas 1,2 e 3 poderiam ser uma única nota, mas optei por
separá-las para dar maior ênfase a cada uma em separado.
Reptília Tereftálica
Appropriating from industrial civilization residues, more specifically, the PET bottles and using
them as raw materials, I report the process of an open work construction, from the repetition of
the same module. The proposal is to raise a new way of looking to theses objects, giving them
one new artistical meaning.
Matéria de Poesia1
(Manoel de Barros)
Todas as coisas cujos valores podem ser
disputados no cuspe à distância
servem para a poesia
O homem que possui um pente
e uma árvore
serve para poesia
Terreno de 10x20, sujo de mato – os que
312
nele gorjeiam: detritos semoventes, latas
servem para poesia.
Um chevrolé gosmento
Coleção de besouros abstêmios
O bule de Braque sem boca
são bons para poesia.
As coisas que não levam a nada
têm grande importância
Cada coisa ordinária é um elemento de estima
Cada coisa sem préstimo
tem seu lugar
na poesia ou na geral
O que se encontra em ninho de joão-ferreira:
caco de vidro, garampos,
retratos de formatura,
servem demais para poesia
As coisas que não pretendem, como
por exemplo: pedras que cheiram
água, homens
que atravessam períodos de árvore,
se prestam para poesia.
Tudo aquilo que nos leva a coisa nenhuma
e que você não pode vender no mercado
como, por exemplo, o coração verde
dos pássaros,
serve para poesia.
As coisas que os líquenes comem
- sapatos, adjetivos -
tem muita importância para os pulmões
da poesia.
Tudo aquilo que a nossa
Introdução
O processo de realização desta obra teve início a partir do trabalho artesanal que
desenvolvo através da técnica de papel machê3. Neles, procuro sempre usar como estrutura,
embalagens e outros materiais descartados cotidianamente pela sociedade industrial.
Segundo Kandinski: “Tudo que está morto palpita. Não apenas o que
pertence à poesia, às estrelas, à lua, aos bosques e às flores, mas um
simples botão de calça a cintilar na lama da rua... Tudo possui uma alma
secreta que se cala mais do que fala”. (JAFFÉ, 1964: 254)
Sintético X Natural
Começo contrapondo o ‘sintético’ e o ‘natural’; a forma e a matéria-prima. Em
Reptilia Tereftálica, o primeiro nome faz referência à forma, (Reptilia: classe dos
répteis, onde se inclui a serpente), e o segundo, à matéria-prima, Poliéster Tereftálico
(vulgo PET).
A história da garrafa PET tem origem no plástico, que por sua vez, é um produto
no petróleo (fruto da decomposição de materiais orgânicos - plantas e animais - que
viveram nesse planeta há milhões de anos).
Há pouco mais de cem anos, ao se mencionar o termo “plástico”, entendia-se
como algo relativo à reprodução de formas ou às artes plásticas, já que a palavra deriva
do grego “Plastikos” que significa “adequado à moldagem”. No século XX, a descoberta
de um material sintético, que tinha essa mesma propriedade de se moldar, recebeu o
nome de polímero, no entanto, ficou universalmente conhecido como plástico. O PET
nada mais é que um plástico ultra-resistente.
Portanto, o material do qual a garrafa PET é feita, já foi parte de criaturas vivas
Acumulação e Repetição
No processo de construção desta obra, a forma foi se constituindo a partir
de ações combinadas de extração e acumulação. Extração, por se retirar do objeto
(garrafa PET), uma parte, um módulo (figura 1). Acumulação, por passar a construir
uma obra que cresce a cada dia. No início, era uma “coluna” de 2 (dois) metros, sendo
que cada metro contêm 30 (trinta) módulos (figura 2). Até o presente momento, já são
16 (dezesseis) metros, ou 480 (quatrocentos e oitenta) módulos (figura 3).
São centenas de módulos acoplados e encaixados, uma repetição modular que
pode continuar infinitamente. Monta-se tal qual a feitura de um rosário, uma enfiada
de contas dispostas de maneira sucessiva, em seqüência ininterrupta. Repetições
obsessivas, semelhantes a mantras. Como mesmo diz Gilles Deleuze:
“Não acrescentar uma segunda e uma terceira vez à primeira, mas elevar
a primeira vez à ”enésima” potência” (DELEUZE, 2006: 20)
Existe uma lenda que nasceu da obra do poeta grego Homero – Odisséia – onde
ele nos conta a história do “Tapete de Penélope”. Diz a lenda que Ulisses, rei de Ítaca
Ilustração 1 – O Módulo
Ilustração 3 – Obra em
processo (já com 16
metros)
Escolher e Recolher
Tais objetos são escolhidos e recolhidos. Ao escolhê-lo, faz-se necessário
definir suas características. A marca do refrigerante é importante, pois apresenta as
características necessárias – transparência, sem cor, uma grande resistência, maior
leveza e um brilho intenso. O tamanho é outro item de escolha, as de 1,5; 2,0 e 2,5 litros
foram as usadas, criando uma certa harmonia do conjunto. O recolher é um momento
pós, onde junta-se o que está disperso.
Todas essas características têm um sentido de ser para a obra. Quando me
propus a fazer esta escultura usando a garrafa PET, sabia perfeitamente que trabalhava
com um material com alto grau de resistência. Não é a toa que o artista plástico Ronald
Duarte4 a chama de “mármore de luxo”.
Apesar da resistência, o material é muito leve. É dessa leveza que me utilizo
para suspender a obra, tirando-lhe assim, o pedestal que a fixaria ao solo. Os módulos
são perpassados, pelos seus bucais, por um fio de nylon resistente, que por sua vez,
só é preso ao módulo primeiro. Ao suspendê-la, a obra ganha movimento, a “coluna”
gira sobre seu próprio eixo, em movimentos sinuosos, serpenteando... Assim nasce a
idéia de Reptilia1 como primeiro nome.
A serpente é um animal reverenciado em várias culturas, desde a pré-história. É
que vem das regiões mais obscuras e que se recicla periodicamente. Simboliza a força
regeneradora, ligada à fertilidade, à sensualidade, ao poder de morte e renascimento.
A energia que liga o mundo inferior ao superior, o céu à terra.
Na dimensão corporal, a serpente se mostra associada à coluna vertebral.
Referências Bibliográficas
ARCHER, Michel. Arte Contemporânea, uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
BAUDRILLARD, Jean. O sistema dos objetos. São Paulo: Perspectiva, 1968.
CHEVALIER, J., GEERBRANT, A. Dicionário de Símbolos. Mitos, sonhos, costumes, gestos, forma,
figuras, cores, números. Rio de Janeiro: José Olimpio, 1996.
DELEUZE, Gilles. Diferença e repetição. Rio de Janeiro: Graal, 2006.
JUNG, Carl Gustav. Símbolos da Transformação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1986.
JAFFÉ. Aniela. “O simbolismo nas Artes Plásticas.” In O Homem e seus símbolos. JUNG, C. Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1964.
KRAUSS, Rosalind E. A Escultura no Campo Ampliado. Revista Gávea - Revista do Curso de Especialização
em História da Arte e Arquitetura no Brasil da PUC/RJ, Rio de Janeiro, n. 1, 1984, p. 90.
KRAUSS, Rosalind, Caminhos da Escultura Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1983.
LEXIKON, Herder. Dicionário de Símbolos. São Paulo: Cultrix, 1997.
WOOD, Paul. Arte Conceitual. São Paulo: Cosac & Naify, 2002.
Notas
1 Gramática Expositiva do Chão (Poesia quase toda) - Manoel de Barros - Editora Civilização Brasileira
- edição 1990.
2 Originalmente conhecida com o nome francês Papier Mâchè que significa papel esmagado, picado.
Teve seu auge entre os séculos XVI e XIX, na França, contudo, os primeiros sinais de seu uso dotam do
termo da invenção do papel, na China, no século II A.C.
3 Ronald Duarte - Mestre em Linguagens Visuais pela UFRJ. Recebeu prêmio Marcantonio Vilaça.
Editor da revista Global e editor-executivo da revista Arte e Ensaios, do Programa de Artes Visuais da
UFRJ. Realizou várias interferências urbanas, como ‘Fogo Cruzado’, ‘O que rola você vê’ e ‘Nimbo Oxalá’,
entre outros. Fundador do grupo Imaginário Periférico. (http://www.museuimperial.gov.br/como_lugar/
nome_ronald.asp)
4 Reptilia, em latim científico, é o mesmo que répteis. Os répteis foram os primeiros vertebrados a
conquistarem, com sucesso e definitivamente, o ambiente terrestre e a serpente faz parte dessa classe.
Jimson Vilela
Nessa comunicação apresento os registros da instalação Até (2008) e alguns trabalhos da série
Espaços Negros (2008 – 20--), com o intuito de traçar paralelos entre a poética dos trabalhos
e a relações dos indivíduos com o espaço urbano. Analiso a imagem que se tem do espaço
urbano, e como essa é mediada até chegar ao indivíduo. Posteriormente, discorro sobre como
meus trabalhos alteram a percepção dessas imagens, através de novas mediações.
In the present communication records to the Até (2008) and some works from the series
Space Black (2008 - 20 -), in order to draw parallels between the poetic work of individuals and
relations with the urban space. Analyze the image one has of the urban space, and how this is
mediated to reach the individual. Later, I wonder about my work and change the perception of
these images, through new forms of mediation.
engarrafamento por conta da chuva, por exemplo, nesse momento por maior que seja
o nervosismo da quebra da rotina e do atraso, começamos a perceber onde estamos,
o que nos cerca e quem nos cerca.
Em suma, não nos permitimos ficar à deriva, alias creio ser difícil ficar a deriva
hoje em dia, percebendo o espaço e as pessoas. Em primeiro lugar pela quantidade
de poluição existente nos espaços, não me refiro apenas a detritos, mas a poluição
visual e sonora, me parece que não conseguimos chegar até aquilo que vemos ou
buscamos ver, tamanhas são as camadas de informação, por exemplo, ao observar
uma pessoa qualquer que nos atraia passando pela rua lemos a priori as roupas da
pessoa, se existem estampas qual é o estilo da roupa, qual é o caimento da roupa,
a quais convenções sociais se ligam esse modo de se vestir, se esta maquiada,
Até, 2008.
nada, as luzes da sala toda se apagam, silhuetas humanas começam a surgir nas
paredes, quando se pensava que nada seria visto, o observador se vê cercado.
A situação é criada pela inversão lógica de se ver as coisas na luz, no caso
se vê além da luz. O espectador que antes se localizava no papel de um detetive,
atrás de pistas que desvendassem esses fragmentos, agora é o objeto central de
uma situação ambígua, pois não se tem idéia de qual é o direcionamento dessas
figuras. Enquanto elas o cercam, elas o ignoram – o repelem, se afastam. Um
movimento fantasmagórico, no qual, a percepção do espectador sobre o espaço
é redimensionada a partir da relação do eu com o outro gerando a constante
interrogação quem é esse outro e em que momento eu me tornei esse outro. Essa
Bibliografia
CAUQUELIN, Anne. “A Invenção da Paisagem”. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
MERLEAU-PONTY, Maurice. “O Olho e o Espírito”. São Paulo: Cosac & Naify, 2004.
OITICICA, Hélio, “Hélio Oiticica: A Pintura Depois do Quadro”, São Paulo, Silvia Roesler Edições de Arte,
2008.
Jorge Langone
A scheme needs ATTENTION. Every scheme is turned to strategy, in other words, to the
symbolic construction of thought. On the contrary, the tactics are related to the experiences of
our quotidian. The challenge is to establish a dialogue between those fields, and use it with the
intention of schematizing the strategies that better fit to the Art teaching. ATTENTION.
Referências bibliográficas:
Foucault, Michel. A microfísica do poder. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1984.
______. A ordem do discurso. Paris: Gallimard, 1971.
Certeau, Michel de. A invenção do cotidiano, artes do fazer. Petrópolis: Vozes, 1998.
Hernàndez, Fernando. Cultura visual, mudança educativa e projeto de trabalho. Porto Alegre: Artmed,
2006.
Leandro Furtado
A proposta aqui seria uma problematização a trazer o Desenho como uma linguagem
ontológica. Pensar o Desenho como forma de inscrição no mundo, poética, mais do que
simples trazê-lo como uma forma visível (ou visualizável) através dos sentidos é, também,
questionar seu potencial como construtor de pensamento e Sentido.
The proposal here would be an inquiry to bring the Draw as an ontological language. Thinking
Draw as a form of registration in the world, poetic, more than just bring it as a visible (or
viewable) through the senses is also questioning its potential as a builder of thought and
Meaning.
337
Desenhar é de alguma forma vencer a opacidade.
O desenho é artifício de que o mundo dispõe para saber de si.”
Sérgio Fingermann. Desenho e Opacidade.
“Aceitar o desenho ampliado é correr este risco paradoxal. Não ter limites definidos.
Estancar a linha, sem achar a outra ponta. Perder os sentidos. A força dos paradoxos
reside em que eles não são contraditórios, mas nos fazem assistir à gênese da
contradição.”
Gilles Delleuze
A proposta aqui inicia abrindo uma problematização, qual, senão uma questão
historiográfica, um atentamento para uma ontologia do Desenho.
Este objeto de pesquisa de certa forma e por muito tempo dado na nossa
historiografia como um pré-condicionamento para uma obra de arte, um esboço
para as demais questões subsequentes das linguagens artísticas em especial das
artes plásticas, é realimentado como valor e classe em sua autonomia em primeiro
período modernista do século XX. Porém, na segunda metade do século XX alguns
questionamentos seriam inseridos a problematizar e a permitir novas inserções em
seus processos práticos.
Mais do que uma condição da História, esta que constrói a base, o plano
teórico a delimitar as possibilidades da linguagem, aqui será pensado uma
possibilidade outra. Talvez não sigamos o fluxo historiográfico em uma perspectiva já
traçada, caindo no risco das projeções contemporâneas. Talvez prefirimos o risco do
lançar - e de se permitir ser lançado - em aberturas que não tangenciam campos que
não da experiência própria DA arte, e não somente sobre a arte.
Talvez mesmo é preciso sair da imagem de um corredor para se criar novas
consciências, ou mesmo reacender algo que pressentimos existir fora desta suposta
segurança construída por uma historiografia.
Por fim, aqui seria um atentar à uma das possibilidades para um momento especial
que se passaria fora do que há de costume dentro de um interesse estético do lugar-
comum, partindo da cisão silenciosa criada por uma filosofia da arte, dentro do Desenho.
The research board, across by artistic process, the presence of photography in the
contemporary art. With the ephemeral of the performance art, the artistic object turn immaterial
give the place to body and the action like support of the work. Thinking the work like a action
into the city, the project expands the research around about the line like a route to walk, in
parallel with the flux of the city and them bodies. The result of project is a photography book,
each has the pictures of the performances into the urban space.
1- Introdução
O projeto de pesquisa Caminho Plural abordar através da construção de
uma poética, baseada na reflexão critica, teórica e prática de diferentes artistas e
pensadores teóricos, discutindo a desmaterialização do objeto artístico mediante a
efemeridade das ações performáticas. Em conseqüência ao vazio provocado pela
ausência do objeto, surge a fotografia como mediadora entre a criação artística, que
342
neste novo contexto não resulta em um objeto finito e acabado, e o espectador.
Agregando a reflexão teórica ao projeto, apresenta-se como defesa pela escolha
da cidade como campo de atuação a teoria de Brian O`Doherty1 publicada na ArtForum
na década de 70, na qual o autor investiga o efeito do contexto da galeria modernista
sobre o objeto artístico e sobre o visitante; e compara os locais de exposição de galerias
e museus do século XX com as igrejas medievais, ambos criam um espaço asséptico,
atemporal e sacralizado, distanciado das vicissitudes da vida cotidiana.
Para conduzir a linha de pesquisa prática, o projeto mira a Experiência nº.
2 de Flávio de Carvalho e Trouxas Ensangüentadas e 4 dias e 4 noites de Artur
Barrio, que consistem na ação de deslocamento pela cidade, dialogando a arte com
os corpos do coletivo e seus fluxos.
Em ambos os casos, as propostas artísticas exploram a efemeridade como
uma qualidade poética, utilizando como recurso de subsistência da obra os registros
textuais dos artistas. A ação é a força da obra, que inicia e encerra. Entretanto,
mesmo após o fim, a obra cria seus desdobramentos e suas extensões, que acabam
por somar-se à ação inicial.
Diante de um novo contexto, a fotografia confirma seu lugar no campo da
arte. O vazio provocado pela efemeridade das ações performáticas é ocupado pela
fotografia. Phillippe Dubois defende em seu livro, O ato fotográfico2, o argumento que
consiste em uma arte contemporânea fotográfica. As criações artísticas passam a
incorporar conceitos fotográficos no processo de criação.
Como resultado prático o projeto consiste em quatro ações dentro do espaço
urbano que consistem na construção de quatro linhas temporais e espaciais
constituída por quatro elementos distintos (barbante, troncos de 1,8 a 2 metros de
altura em forma de Y, folhas secas de amendoeira e sementes da mesma árvore),
que denomino ato-percurso. Associado a composição da linha surge o elemento
árvore. É através da tensão provocada entre a racionalidade das linhas da cidade e a
organicidade do mundo vegetal, cria-se o desenho espacial. As quatro linhas originam
e se manifestam a partida da/ pela/ com/ através da árvore. São quatro ações
que ocorrerão em quatro pontos distintos, aproximando e estabelecendo diálogos
possíveis entre a arte e o fluxo de corpos do coletivo da cidade.
3. Objetivos
“De uma cidade, não aproveitamos as suas sete ou setenta e sete
maravilhas, mas a resposta que dá às nossas perguntas.”
Ítalo Calvino7
AoLeo Memória de
Outono – Folhas
secas de amendoeira
enroladas ao corpo (Av.
Rio Branco mar-09
Notas
1 O`DOHERTY, Brian. – No interior do cubo branco: a ideologia do espaço da arte; trad Carlos S.
Mendes Rosa. – 1ª ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2002.
2 DUBOIS, Phillippe – O ato fotográfico e outros ensaios; trad. Marina Appenzeller. – Campinas SP:
Papirus, 1993.
3 KRAUSS, Rosalind E. “A escultura no campo ampliado”. In: Gávea- revista do curso de Especialização
em História da Arte e Arquitetura no Brasil, nº1. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica.
4 CARVALHO, Flavio de – Experiência número 2, São Paulo: Nau Editora, 2004.
5 LIGIÉRIO, Zeca – Flavio de Carvalho e a rua: experiência e performance. O percevejo, revista de
teatro, critica e estética. Programa de Pós-Graduação em Teatro UNI-RIO.
6 DUBOIS, Phillippe – O ato fotográfico e outros ensaios; trad. Marina Appenzeller. – Campinas SP:
Papirus, 1993.
7 CALVINO, Ítalo - Cidades invisíveis. Cia. das Letras, 2000.
8 FERREIRA, Glória; COTRIM, Cecília (org.) – Escritos de Artistas: anos 60/70, trad. Pedro Sussekind,
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. 2006
Situações limítrofes
Luana Aguiar
“Hyperventilation”, “Tribute to the Eye” and “How to avoid death” are performance practices of
my own that confront body and matter and evoke threshold situations. These are actions that
defy the first necessity of man: the breath. The purpose of this communication is to draw links
between the materialistic thought of Georges Bataille, philosopher of surrealism, and my artistic
practices.
353
Bataille e o surrealismo
O pensamento racional era o maior inimigo das vanguardas dadaístas e surrealistas
no contexto destrutivo da I Guerra Mundial. O que aqueles artistas pretendiam era se opor
à velha atribuição de identidades às coisas como forma de ordená-las, ou seja, pretendiam
atacar a maneira racional de enxergar o mundo sob modelos universais.
O movimento surrealista tem como base a desordem proclamada pelos
dadaístas, aliada ao poder do inconsciente descoberto por Freud. Existem, no entanto,
diferenças fundamentais entre o surrealismo de Bataille e o de André Breton. Segundo
Eliane Robert Moraes, Breton idealizava a figura da mulher, defendia passionalmente
o amor e visões sublimadas da realidade e buscava ultrapassar os horrores da
guerra com uma utopia redentora. Em contrapartida, Bataille, através da bestialidade,
propunha sustentar o insustentável e pensar o impensável. As imagens bestiais deste
é o que ele próprio chama de matéria baixa e que faz deslocar a atenção do sujeito de
um mundo ideal para o mundo cruel de vivências reais que se apresentam à sua volta.
Bataille e Breton ultrapassam os limites impostos pela razão, mas o primeiro
percebeu em Breton um surrealismo disfarçadamente idealista.
As revistas Documents e Minotaure (cujos responsáveis são respectivamente
Bataille e Breton) divulgam a partir da década de 30 imagens monstruosas referente
à sacrifícios, torturas e assassinatos, que representariam, além de uma reação à arte
fascista da época, uma tentativa de refletir sobre tudo que suscita o mal no homem
e uma referência à literatura libertina de Marquês de Sade. “O romance de Sade
oferece um sistema de pensamento que desafia a concepção de mundo proposta
pelos dois principais campos filosóficos no contexto da França pré-republicana:
o religioso e o racionalista”.1 O posterior interesse dos surrealistas pelas idéias
libertárias e permissivas de Sade foi também motivado pelo testemunho dessa
geração às atrocidades ocorridas durante a Primeira Guerra e em diante.
Bataille acredita no papel da crueldade em Sade para a consciência do homem
de que ele é o próprio responsável por sua revolta e Breton também acredita na lucidez
sadiana sobre as forças que agem no homem e no princípio do mal que reside em cada
um. Eliane Robert ressalta que esse princípio está na origem do desejo e que a potência
do desejo para Sade está relacionada à violência. Ela completa com as idéias de Michael
Luana Aguiar.
Homenagem ao olho,
2009. Performance
Considerações finais
Penso na arte como meio pelo qual o homem se permite tudo, inclusive morrer.
Meu interesse é abrir uma brecha no tempo para essa experiência de morte. É intrigante
observar que a morte é sem dúvida o fato mais natural ao homem e aquele mais difícil de
encarar, o mais doloroso. Me interessa essa dificuldade em encarar a morte em última
instância, mas também as outras coisas que podem remeter subliminarmente a ela, como
a idéia do grotesco nos pedaços de órgãos por exemplo. E esse grotesco, que representa
uma ofensa aos sentidos, pode estar relacionado à idéia de transitoriedade, à ação do
tempo sobre as coisas, o que nos faz lembrar a nossa condição perecível, portanto,
mortal. Isso explica a vertigem provocada pela visão dos órgãos.
Para Bataille é na morte que se percebe a dilaceração da natureza humana.
Enquanto vivos nos contentamos com um compromisso, uma realidade comum, “o eu
que morre abandona este acordo: ele verdadeiramente percebe o que o circunda como
um vazio; o eu que vive limita-se a pressentir a vertigem onde tudo acabará.”10 Esse ponto
remonta à lucidez sadiana e o papel da crueldade para o sujeito que deseja adquirir uma
maior consciência de si. Talvez seja essa a minha busca, ou seja, essa crueldade na
Referências bibliográficas
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Ática, 1992
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Eutomia, ano 1, número 2, dezembro. Pernambuco: EDUFPE, 2008, pp. 362-377
Notas
1 SERRAVALLE DE SÁ, 2008, p.362
2 BARTHES, 1964, p. 118
3 Ibid, p. 116
4 NIETZSCHE, 1873, p. 48
5 ROSSET, 1989, p.13
6 Apud, MORAES, 2002, p.198
7 Ibid, p. 203
8 BOIS, 1996
9 BATAILLE, 1944, p. 53
10 BATAILLE, 1944, p.77
11 id, 1949, p.121
Mariana Maia
Texto, imagem e corpo se congregam e fazem surgir diversas propostas artísticas. O presente
artigo tece questionando sobre a confluência do texto, da imagem e do corpo no contexto
performático; tendo a compreensão da Narrativa como fio que perpassa essa relação.
Estabelecendo relações entre a Literatura, as Artes cênicas e as Artes visuais, alvitrando
perceber o lugar do artista-performer.
Text, image and body congregate together and bring artistic proposals. The present article
question the confluence of text, image and body in the Performance Art, understanding
Narrative as a thread that permeates this relationship. Establishing relations between Literature,
the Theater Arts and Visual Arts, opining the place of the artist-performer.
Estas páginas fazem parte de uma série de estudos sobre “as artes de si mesmo”...1
Era uma vez, ou apenas foi, ou é, o princípio de uma narrativa, que, no entanto,
é também o fim. Saturno é o deus dos camponeses, também é Cronos, aquele que
empunhou a foice contra o pai. O destino é implacável mesmo para os deuses, pois
o Céu Estrelado, pai de Cronos, perece, não mais pode fecundar, e em uma noite
solar o filho tomou a grande tarefa do pai, temer seus próprios filhos, seus atos, o
destino inelutável. O oráculo desvenda o tecer das Moiras, irrevogável. A verdade
364
Saturno. Goya,
Francisco. Óleo sobre
muro, 146 x 83 cm,
c. 1820-1823, Museu
do Prado, Madri
(Espanha).
orácular nos mostra um destino inevitável, mas também mostra que o destino pode se
dar a ver. Sobre as verdades pronunciadas pelo oráculo são todas as obras de arte.
Saturno devora um filho. A criatura é decrépita se precipitando à morte, é também
disforme e agigantada. Ele segura com todas as forças algo que se assemelha a
um corpo humano. Dilacera com os dentes. Não é o ódio ou a fúria que move o
seu ato. Saturno tem medo no olhar, de fato, ele parece apavorado. O que deixaria
um deus titânico apavorado? Saturno não é divino, mas sim um velho, já cruzando
365 art uerj III semana de pesquisa em artes
o rio Estirpe; um velho com olhos esbugalhados de medo. Cronos, o tempo, nos
persegue desde o nascimento até a morte. Saturno devora seus filhos por medo
da morte e seus filhos jazem, fadados ao tempo, cronos, aquele que empulha a
foice. Condenados à morte, a mercê de forças titânicas, buscamos conhecimento. O
homem procura entender a vida, a existência, por medo, talvez, da morte.
para outra, possuíndo mesmo uma função utilitária, que consistiria em um ensinar
algo. Podemos perceber esses ensinamentos do ato de narrar como sendo
proposições de “verdade” sobre a existência. Nesse contexto podemos situar os mitos
trágicos. Benjamin ainda coloca que hoje as narrações não tem mais importância,
pois a sociedade atual dá ênfase a informação. Na Performance não parece haver
uma preocupação em informar, mas sim, propor questões dentro de um ato calcado
na narração.
Nas tragédias o destino do homem é narrado de forma visceral. Descobrimos
o que significa desafiar os deuses, ou o que acarreta a tentativa de abarcar a vida.
O homem vai de encontro ao seu destino. Ele só pode seguir a narração que o
destino lhe impõe, revelado pelos oráculos, revelado pelas histórias trágicas. Através
das narrações sabemos exatamente por onde vamos. O Ato de Narrar é a grande
revelação que potencializa a vida.
369 art uerj III semana de pesquisa em artes
A imagem é um quadro de vídeo realizado durante Performance em maio de
2009, na IFRJ. A performer entra vestida de preto enquanto um vídeo era projetado
na parede e uma roupa toda branca de onde saiam fios brancos estava depositada no
chão. O vídeo projetado mostrava uma imagem sem foco de uma mão que escrevia
alguma coisa. Nas roupas brancas pendiam fios e papeis com escritos. A performer
vestiu a roupa branca, distribuiu os fios para o público, ficando emaranhada na rede
que se formou; depois dava prosseguimento a ação de retirar os papeis e lê-los um a
um; findando os papeis ela desfez a rede de linhas e saiu do espaço de exposição.
A escrita é o personagem que permeia esse ato performático. De que forma
escrever, ler e ouvir pode significar performar, isto é, dar forma às coisas do mundo,
criando imaginários e estabelecendo uma narrativa. Escrever, ler e ouvir, atos, o
estabelecimento de um ritual imagético. Nesta proposta a Literatura se constitui no
limite com a Visualidade. Quando Joseph Kosuth realiza a obra “Uma e três cadeiras”,
em 1965, também ele caminhava pelos limites entre Literatura e Visualidade.
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2007. p.62.
Schopenhauer, Arthur. A metafísica do belo in “O mundo como vontade e representação”. São Paulo:
UNESP, 2003.
Notas
1 Foucault, Michel. p.129.
2 Nietzsche, Friedrich W. p.62.
3 Idem nota 1.
4 Schopenhauer, Arthur. A metafísica do belo in “O mundo como vontade e representação”. São Paulo:
UNESP, 2003.
5 Freud, Sigmund. O mal-estar na civilização. Rio de Janeiro: Imago, 1974.
6 Idem nota 1. p.32.
7 Cohen, Renato. Performance como linguagem. São Paulo: Perspectiva, 2007.
8 Idem nota 6. p.38.
9 Benjamin, Walter. O narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. Magia e técnica, arte e
política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994.
10 Kosuth, Joseph. p. 220.
Aproximações entre o trabalho de Santiago Sierra e o viés da política são sempre aplicadas a
partir de questões como o campo da ética. Neste trabalho proponho uma relação a partir de
questões como o mercado de trabalho, a globalização, a noção de indivíduo e individualização.
Propondo uma reflexão sobre a inserção dos projetos de Sierra nos campos da estética
relacional e arte pública.
Approaches between the work of Santiago Sierra and the political point of view are always
applied from questions like the ethical field. In this paper I intend a relation since questions like
job market, globalization, the idea of individual and individualization, the relation of overflowing
and insertion in the globalized art system and of the public sphere per se. I aim to a reflection
about the inclusion of the Sierra’s projects in fields like relational aesthetics and public art.
Arte Pública
A tentativa de definir e enquadrar propostas conhecidas pela relação com a
arte pública nos leva a questionar o que primeiro se definiria como arte pública, uma
vez que se nos referimos à história da arte este é um conceito que está em processo
de auto-reformulação.
A crítica coreana, radicada nos Estados Unidos, Miwon Kwon no texto Public
Art and Urban Identities, alerta para as mudanças ocorridas na arte pública no
374
contexto norte-americano nos últimos trinta, quarenta anos. Ainda neste texto, Kwon
esquematiza os três paradigmas que engendram a noção de arte pública. São eles:
Figura 1 Santiago
Sierra, pessoas pagas
para terem seus
cabelos tingidos de
loiro, Bienal de Veneza,
2001.
Bibliografia
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O estudo visa à coleta e análise de documentos do processo que antecedem a obra da artista
capixaba Nelma Pezzin, o estudo está centrado na investigação dos procedimentos que
envolvem o processo de criação e sua interface como fenômeno da produção artística, sendo
parte de um estudo sobre o processo de criação na arte contemporânea capixaba do ES. Foram
realizadas visitas ao atelier da artista, coleta de dados e o levantamento de todo o material por
meio de entrevistas informais, e registro fotográfico digital dos documentos apresentados.
The study aims at gathering and analyzing documents the creative process the work of artist
capixaba Nelma Pezzin, the study focuses on investigating the procedures that involve the
creation process and its interface as a phenomenon of the artistic production as part of a study
on the creative process in contemporary art capixaba ES. Visits were made to the studio of the
artist, data collection and removal of all the material through informal interviews, and digital
photographic record of the documents submitted.
Introdução
“Todo ato criador é ação da mão que pensa e sente...”.
(Cecília Salles)
387
documentos do processo da artista Nelma Pezzin; documentos primários que revelam
o gesto criador no frescor da ação criadora. Embora a produção artística no estado
do Espírito Santo não tenha muitos nomes de projeção nacional, conta- se com
uma tradição que remonta o período colonial, sendo capixaba uma das mais antigas
escolas de Belas Artes no Brasil1.
A investigação científica desse percurso gerativo que antecede a obra se
revela como uma tentativa de compreender o movimento gerador do processo
criativo. Quando olhamos uma obra de arte quase sempre não conseguimos detectar
os vestígios deixados pelo artista até concluir o seu projeto final. Seus gestos
muitas vezes inacabados são frutos de seu processo criativo, os rastros deixados
pelo artista oferecem meios para que o olhar científico possa captar fragmentos
de como funciona o seu pensamento criativo. Partindo deste pressuposto a crítica
genética vem acompanhar o modo como se dá a construção dessas imagens. Para
Cecília Salles2, nos rascunhos dos artistas, que são os documentos que vão sendo
arquivados pelo artista e acessados com freqüência por sua memória, existe uma
infinidade de possibilidades para tal obra que parece pronta aos olhos de quem a vê.
Figura 1-
Rascunhando,
pensando seu trabalho.
Figura 3 - Folha
de rascunho
avulso, anotando
procedimentos a seguir.
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criação. 1. ed. Belo Horizonte: C/Arte, 2009. v. 1. 213 p.
The present paper is a report of experience of the Project: Study of the documents of the
creation process of the contemporary artists from Espírito Santo, accomplished between
December 2008 and August 2009, focusing afterward in the studies on the artists Melina
Almada e Luciano Cardoso.
Introdução
O estudo do processo de criação, centrado nos documentos gerados pelo
artista durante a produção de sua obra está fundamentado na crítica genética.
Como tal, parte da constatação que uma obra é resultado de um trabalho exaustivo
de escolhas e reflexões que passam por transformações sucessivas. Ela, a obra,
surge a partir de investimento de tempo, dedicação e disciplina por parte do artista,
entretanto, passa por um processo de correções, pesquisas, esboços. Este período
e os documentos produzidos neste momento são o interesse da Crítica Genética,
395
movimento no qual está embasada esta pesquisa. Surgido na França no século XX,
a Crítica Genética (sendo assim batizada em 1979 pelo crítico Louis Hay) indaga a
obra de arte a partir de sua gênese. Seu objetivo é buscar compreender e elucidar
partes de como são criadas as obras de arte, através da investigação científica de
documentos de criação, vindos da mão do próprio artista.
Segundo Salles (1998) documentos do processo são todo tipo de vestígio
deixado pelo artista durante o processo de criação de uma obra ou de um conjunto
delas.
Assim, este estudo busca compreender nuances do processo de criação entre
os artistas contemporâneos do Espírito Santo e está vinculado ao Projeto MEMÓRIA
e CULTURA NO PROCESSO DE CRIAÇÃO: seleção, digitalização, transcrição e
análise crítica de documentos de processo de artistas capixabas e suas interfaces
com a arte contemporânea, coordenado pelo professor Doutor Aparecido José Cirilo.
Partindo de uma lista primeira de aproximadamente 40 artistas plásticos
atuantes na cena capixaba, foram realizados os primeiros contatos, onde se
confirmava a existência destes documentos em seu processo. Sendo cada contato
singular e por formas distintas (e-mail, telefone, conversas), partia-se então para
encontros onde eram registrados e/ou coletados o material disponibilizado.
Até a presente etapa, foram coletados documentos de processo dos seguinte
artistas: Nenna B, Luciano Cardoso, Melina Almada Sarnaglia, Jô Name, Juliana
Morgado, Mônica Nitz, Ricardo Maurício, Piatan Lube e João Wesley de Souza.
Abaixo segue listado abaixo uma caracterização do artista, a maneira de abordagem
e o teor e a quantidade de documentos coletados.
Nenna B: Artista atuante na cena capixaba desde a década de 70 foi um
dos primeiros a introduzir os conceitos da arte contemporânea no Espírito Santo.
Transitou por instalações, esculturas, vídeos, produção de eventos culturais etc. Em
1985 lancou o livro “Vereda Tropicália”, mesclando poesia com roteiro e em 2004
“Bíblia”, uma retrospectiva de sua obra.
Foram realizados dois encontros com o artista e a partir do contato com sua
produção foi feita a coleta de todo material disponibilizado: 23 arquivos digitais,
projetos futuros, divididos em 4 pastas: Escultura, Gravuras, Ocean Paik e R2010.
1.1 - Melina Almada: Artista capixaba, nascida em 1982 vem firmando seu
trabalho nos últimos anos. Já participou de inúmeras exposições coletivas em
Vitória e teve seu trabalho “Marí(n)timo” incluído na última Bienal do Mar (2008).
Possui um trabalho de caráter altamente conceitual, produzindo sempre a partir de
variados estudos, pesquisas, rascunhos, o que faz do estudo de seus documentos
de processo de criação, ferramenta fundamental para resgate e melhor compreensão
de sua poética. Formada em Artes Plásticas pela Universidade Federal do Espírito
Santo, cursa agora o Mestrado em Artes na mesma instituição.
Em uma primeira leitura, os documentos coletados da artista demonstram a
presença em sua produção deste caráter conceitual e fundamentalmente ligado a
escrita. Tratam-se em sua maioria de textos de projetos, reflexões sobre leituras e
também fotografias que mostram o processo de construção de trabalhos realizados.
Uma das características mais notáveis, em uma inicial leitura dos documentos
de processo, é a multiplicidade de meios utilizados pelo artista. Apesar de percebermos
uma forte influência da pintura e desenho nos documentos coletados, também é
Referências bibliográficas
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Sobre a importância das Brillo boxes para o conceito de arte de Arthur Danto
O filósofo Arthur C. Danto estrutura sua definição do conceito de arte a partir do problema da
indiscernibilidade entre obras de arte e objetos comuns. O presente trabalho busca investigar
as razões que o levaram a defender a originalidade das Brillo boxes de Andy Warhol como um
problema filosófico para o conceito de arte apesar da precedência dos readymades de Marcel
Duchamp.
Philosopher Arthur C. Danto structures his definition of the concept of art through the principle
of indiscernibility of works of art and common objects. The current work aim to investigate the
reasons that lead him to consider the originality of Andy Warhol’s Brillo Box as a philosophical
problem to the concept of art in spite of Marcel Duchamp’s readymades.
403
Ainda no início do que poderia vir a ser uma bem sucedida carreira como
pintor, Duchamp perde o interesse pela pintura por discordar da excessiva teorização
em torno de questões formais levada a cabo por artistas de vanguarda que, segundo
ele, com exceção dos surrealistas, ainda mantinham uma relação “retiniana” com
a pintura. Em 1913 realiza um trabalho formado por uma roda de bicicleta invertida
colocada sobre um banco. Mas havia ainda algo da “mão do artista” ao unir esses
objetos que Duchamp chamava de “readymade assistido”1. Em 1914 apresenta,
então, o Porta-garrafas, objeto pronto sem nenhuma intervenção do artista. A este
objeto sucederam uma pá de neve (1915) e, finalmente, a mais famosa e controversa
de suas obras, o urinol (1917) intitulado A Fonte. Segundo Duchamp, a escolha de
seus objetos era guiada pela “indiferença visual” e “ausência total de bom ou mau
gosto” com a intenção de não produzir nenhuma “emoção estética” 2. Assumia,
assim, uma postura de independência em relação aos movimentos da época, sendo
seus gestos comumente interpretados como ataques ao sistema de arte, desafios
aos juízos de gosto e de valor ou simples brincadeiras. Sua obra, no entanto, requer
uma participação criativa e imaginativa do espectador - o que seria explorado pelos
artistas conceituais meio século depois.
Nos anos 60 nos Estados Unidos surgem as neovanguardas, como a Pop Art,
o Minimalismo e a Arte Conceitual, que se inserem no debate sobre ampliação dos
limites da arte em oposição à teoria estética modernista desenvolvida em torno do
Expressionismo Abstrato, às idéias de especificidade do meio pictórico e de essência
da pintura e à associação desta com os estados de espírito do artista.
Alguns críticos e historiadores classificaram a Pop de neodadaísta. Para Harold
Rosenberg, a Pop sofria de uma “superficialidade congênita” que “resultou numa
monotonia qualitativa que até podia despertar algum interesse como piada, mas que
estava fadada a perder a graça de um dia para o outro” 3. Para Danto, ao contrário,
por trás do aparente “espírito de brincadeira” de Warhol havia uma seriedade que
“parecia ser quase de outro mundo” 4.
Danto começou a se “interessar pela arte pop depois de ver uma tela de Roy
Lichtenstein reproduzida no Artnews” 5, mas foi após o contato com as Brillo boxes de
Andy Warhol, na Stable Gallery de Nova Iorque em 1964, que ele formulou a questão6
O que afinal faz a diferença entre uma caixa de sabão Brillo e uma obra
de arte que consiste em uma caixa de sabão Brillo é uma certa teoria da
arte. É esta teoria que a leva ao mundo da arte, e impede que se desfaça
no objeto real que ela é (...). É claro, sem a teoria, é difícil vê-la como
arte, e com objetivo de vê-la como parte do mundo da arte, deve-se ter
domínio de teoria artística bem como de uma quantidade considerável
da história da pintura recente em Nova York. Isto não poderia ser arte
cinqüenta anos atrás. 29
Como as Brillo boxes não poderiam ser arte se Duchamp já havia provado que
qualquer coisa pode ser arte parece ser uma contradição. A justificativa de Danto se apóia
dentro de uma perspectiva histórica em que a arte evolui junto com a teoria artística,
sendo a década de 60 o período de “ruptura e descontinuidade”30 onde Warhol havia
demonstrado que “nenhum critério visual serviria ao propósito de definição de arte”31. A
partir daí, os artistas contemporâneos teriam “se transformado em pensadores visuais (...)
os filhos/herdeiros de Duchamp, que lhes mostrou como fazer filosofia fazendo arte” 32.
Notas
1 CABANNE, Pierre. Marcel Duchamp: Engenheiro do tempo perdido, 2008. p.92.
2 Ibid., p.80.
3 ROSENBERG, Harold. Objeto ansioso, 2004. p.31.
4 DANTO, Arthur C.. O filósofo como Andy Warhol, 2004. p.104.
5 Id. A transfiguração do lugar comum: uma filosofia da arte, 2005. p.15.
6 A procura pela resposta para essa questão o levou a publicação do ensaio The Artworld (1964) e dos
livros A transfiguração do lugar comum (1981) e Após o fim da arte (1984).
7 DANTO. Op. cit., 2005, p.16.
8 Id. Op. cit., 2004, p.111.
9 Ibid., p.100.
10 AITA, Virginia A.. Arthur Danto: narratividade histórica “sub specie aeternitatis” ou a arte sob o olhar do
filósofo, 2003. p.154.
Arte e História após o anúncio do “fim”, segundo Arthur Danto e Hans Belting
Objetiva-se apresentar os trabalhos de Arthur Danto e Hans Belting, tendo em vista o contexto
do qual emergem (o lugar do discurso) para, com isso, esclarecer o que entendem por “fim”,
elucidando pontos fundamentais do pensamento de ambos.
This article presents the work of Arthur Danto and Hans Belting, given the context in which they
arise (the place of speech) to thereby clarify what they mean by “end”, explaining main points of
their thoughts.
1. Da anunciação ao apocalipse
Em 1984, o crítico de arte e professor de filosofia Arthur Coleman Danto (1924)
publicou o ensaio The End of Art [O Fim da Arte] no livro The Death of Art [A Morte da Arte],
editado por Berel Lang1. Segundo Danto, este foi o primeiro de outros ensaios sobre o fim
da arte que escreveria nos anos que se seguiram. Um ano antes, no entanto, o historiador
da arte alemão Hans Belting (1935) já publicara Das Ende der Kunstgeschichte? [O fim
da história da arte?]. Sobre o sincronismo de percepção e abordagem do tema, Danto
justificará (anos depois que ele e Belting publicaram seus textos quase ao mesmo tempo –
ainda que ignorando totalmente o pensamento um do outro) que tal simultaneidade deveu-
se à percepção vívida que ambos tiveram de que alguma mudança histórica ocorrera nas
condições de produção das artes visuais (DANTO, 2006, pp.3-4).
415
Uma década depois, Hans Belting irá publicar uma edição revisada de Das
Ende der Kunstgeschichte?. Salienta o historiador no prefácio desta nova edição
a notável diferença entre a primeira e a segunda publicação: a supressão do sinal
de interrogação (o título original, Das Ende der Kunstgeschichte?, foi modificado
para Das Ende der Kunstgeschichte: Eine Revision nach zehn Jahre [O fim da
história da arte: uma revisão dez anos depois]). Belting esclarece que aquilo que
se apresentara anteriormente para ele como uma pergunta, tornou-se certeza com
o passar dos anos e a aproximação da virada do século XX. Contudo, o historiador
salienta: “não se trata de algumas palavras de ordem convincentes, mas de juízos e
observações que precisam de espaço onde se desenvolver e que, além disso, são
tão provisórias como, afinal, é provisório tudo o que hoje vem à baila” (BELTING,
2006, p.9).
Assim como Belting, após aproximadamente uma década da declaração
original, Danto publica After the end of art: contemporary art and the pale of history
[Após o fim da arte: a arte contemporânea e os limites da história], um tratamento
expandido da temática do primeiro ensaio, como uma tentativa de atualizar a idéia,
formulada outrora ainda de modo “um tanto vago”, sobre o fim da arte.
2. O lugar do discurso
a. Hans Belting e a tradição alemã
Belting relata no prefácio da edição revisada que o ensaio originário de Das
Ende der Kunstgeschichte? e de sua ulterior revisão (uma década após) tratava-se
de uma aula inaugural que empreendera “num gesto de revolta contra as tradições
falsamente geridas”, em ocasião dos primeiros anos que lecionara na Universidade
de Munique2. O historiador ressalta que uma série de mal-entendidos surgiram com
relação ao título (e continuam a surgir). Como agravante, acrescenta-se a irritação
do público justificada pela descrição da disciplina realizada no primeiro ensaio,
apesar de não ter sido seu objetivo “uma crítica abrangente da ciência ou do método.”
Salienta ainda que, no novo ensaio, a ciência da arte não é mais colocada no centro:
“Hoje meu interesse crítico cultural encontra-se mais nas condições que formam a
sociedade e as instituições” (BELTING, 2006, p.9).
3. Revisões e diálogos
Ao que tange a possibilidade de revisitar (em meados da década de 1990)
as idéias formuladas e os trabalhos publicados há uma década, Arthur Danto e
Hans Belting condizem no fato de conseguirem ter uma maior lucidez a respeito do
tema que outrora apenas tateavam. O distanciamento criou ainda condições que
favoreceram a retomada da tese outrora discutida já em diálogo um com o outro.
Belting afirma que o tempo permitiu estabelecer “um balanço dos débitos e créditos”
a partir da compreensão da situação presente em total contraste com a chamada
modernidade. Declara ainda que a aproximação do fim do século oportunizou “um
novo exame da arte e também de todas as narrativas com que a descrevemos”.
Referindo-se a possibilidade de diálogo com Danto, Belting toma a afirmativa do “fim
Notas
1 Segundo Arthur Danto, o ensaio era o principal na composição do livro, do qual o projeto era que
“vários autores fizessem sua réplica às idéias propostas no ensaio principal” (DANTO, 2006, p.3-nota 1)
2 Entre os anos de 1980 e 1993, Hans Belting leciona história da arte na Universidade de Munique,
onde ocupou a cadeira de Henrich Wölfflin (1864-1945) e Hans Selmayr (1896-1984).
3 Inaugurada em 1992, a escola centra-se na investigação e ensino interdisciplinar em New Media
e New Media Art. Em conjunto com Zentrum für Kunst und Medientechnologie [Centro de Arte e Mídia
Tecnológica], é um importante centro de discussão, produção e exposição de arte contemporânea e de
mídias tecnológicas emergentes.
Leandro Souza
A pesquisa tem como objetivos investigar a relação entre espectador e imagem, compreender
suas possíveis leituras, polissemia, potência e valores simbólicos, considerando seu contexto
e sua abrangência. A leitura de imagens é relevante na compreensão do ‘mundo’ e das artes
visuais, visto que são legíveis e ainda que complexas, comunicam seu espaçotempo.
La recherche a comme des objectifs enquêter la relation entre spectateur et image, comprendre
leurs possibles lectures, polysémie, pouvoir et valeurs symboliques, en considérant son
contexte et sa portée. La lecture d’image est importante dans la compréhension du ‘monde’
et des arts visuels, si on considére que les images sont lisibles et malgré leur complexité elles
communiquent son espace et son temps.
427
o que abrange até mesmo o mais simples rabisco. A criação de um símbolo não
ocorre por acaso ou acidentalmente. Sobre cada representação há uma diversidade
de elementos a serem relacionados. O caráter simbólico da obra, seus sentidos,
significados se dão como mostram os estudos sobre semiologia e gramática visual.
O símbolo é apresentado como algo que carrega um conceito anterior a si, dentro de
seu contexto; e este fator permite ao símbolo assumir diferentes possibilidades de
leitura.
Uma imagem é composta de uma sintaxe própria, uma gramática visual que
organiza a sua existência e conduz a sua compreensão. Para que esta se estabeleça,
então, são agrupados elementos, tais como ponto, que exerce uma visível e grande
atração sobre o olhar, raramente apresentado isoladamente, considerado o “átomo”
de toda expressão pictórica (idem, 2007, p. 07), a linha, que constrói as formas e
determina sua complexidade, e ainda o plano, a cor, a textura e o movimento, os
quais podem inscrever-se sobre os mais variados suportes. Todas as imagens,
da pintura à imagética virtual são constituídas e dependem da articulação destes
conceitos.
Os elementos visuais manifestam a capacidade humana de interpretar
e organizar o mundo. Desde os primórdios do que se entende por arte, esses
elementos são desenvolvidos a fim de representar as visões e as ideias dos criadores
de imagens.
Na produção estética da Pré-História percebemos nas imagens rupestres de
várias partes do mundo, as tentativas do homem de externar, de forma plástica, o
que via ao ser redor, criando assim uma gramática visual própria, uma linguagem, por
assim dizer. São exemplos desta criação, as cores a partir de pigmentos naturais, as
linhas simples e as formas estilizadas que representam realidades distantes.
Feita para ser vista (AUMONT, 1997, p.77), a imagem destaca o órgão da
visão, o qual não é neutro, simplesmente transmitindo dados de uma determinada
realidade, mas é o ponto de encontro do espectador com mundo e de como ele
será capaz de visualizá-lo e relacionar-se com ele. A cada movimentação do olhar a
imagem estará presente.
As imagens são relevantes, sobretudo, a partir do momento em que expressam
Referências Bibliográficas
ARCHER, Michael. Arte contemporânea: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1992.
AUMONT, Jacques. A Imagem. 10ª edição. São Paulo: Editora Papirus, 2002.
CHILVERS, Ivan. Dicionário Oxford de Arte. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2001.
DONDIS, Donis A. Sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
DUBOIS, Philippe. O ato fotográfico e outros ensaios. São Paulo: Papirus, 1993.
GOMBRICH, E. H. A História da Arte. 15° edição. LTC Editora. 2000.
GOMBRICH, E. H. Arte e Ilusão. 3ª edição. Editora Martins Fontes, 2007.
HAUSER, Arnold. História Social da Literatura e da Arte. São Paulo: Mestre Jou, 1972.
MARCONDES, Luiz Fernando. Dicionário de Termos Artísticos: com equivalências em Inglês,
Espanhol e Francês. Rio de Janeiro: Edições Pinakotheke, 1998.
PANOFSKY, Erwin. Significado nas artes visuais. São Paulo: Perspectiva, 2004.
Fernanda Marinho
This communication is about the L’Antirinascimento, written by Eugenio Battisti, and specifically
about the comprehension of its title: the antirenaissance manifestations on the Italian classical
tradition, specially during the XV and XVI centuries. Intending to analyze what Andre Chastel
called on the preface as the epistemology of the negative, represented by the fantastic
productions, profane, called anticlassical on a tradition extremely connected by the metrics of
perspective and formal harmonies.
437
Lombarda, a Società Italiana per Archeologia Industriale e a revsita Marcatrê. Um
historiador de intensas pesquisas de temas variados, interessou-se de Piero della
Francesca ao mundo da indústria e o trabalho, dedicou-se da tradição clássica à
arte contemporânea. A obra de aqui nos ocuparemos – Antirrenascimento – data a
primeira publicação de 1962, mas sua pesquisa já se anuncia no final da década de
50, com textos intodutórios a al assunto, como Mito e favola 1, Tragico e sublime 2,
Zoomorfiche e fitomorfiche figurazioni 3, Il mondo visuale delle fiabe italiane 4, Dal
totem all’allegoria 5, entre outras. Nesta mesma época, em 1963, fundou o Museo
Sperimentale d’Arte Contemporânea, em Gênova (hoje na Galleria Cívica d’Arte
Moderna de Turim), durante uma época de movimentadas manifestações culturais
que suscitavam radicais mudanças no cenário italiano incitadas por grupos de
críticos, historiadores e artistas constituídos por Edoardo Sanguineti, Nanni Balestrini,
Alfredo Giuliani, Umberto Eco, entre outros que formavam o neovanguarda Grupo
63. É, portanto, no fluxo destas atividades que se contextualiza o L’antirinascimento
e desta maneira, não parece absurdo ponderar a possibilidade de uma insurgente
postura política imbuída nesta obra frente os congelados esquemas teóricos
aplicados às produções de crítica e história da arte, nem tão pouco da vontade de
seu autor de uma renovação dos paradigmas artísticos frente o conservadorismo da
historiografia tradicional.
O título da obra já nos introduz a diversos questionamentos confrontantes à
definição do Renascimento. Trataria o autor deste período histórico sob outro prisma
ou se ocuparia de um novo conceito na crítica da arte? Na verdade, ambas as
propostas são acatadas. Os doze capítulos que dividem o livro anunciam o interesse
pelas manifestações artísticas culturais compreendidas principalmente entre os
séculos XV e XVI que não ocupam o proscênio deste palco.
Notas
1 BATTISTI, Eugenio. Mito e favola, in Enciclopedia Universale dell’Arte, Sansoni, Firenze, vol. IX, coll.
444-445, e 460-463.
2 BATTISTI, Eugenio. Tragico e sublime, in Enciclopedia Universale dell’Arte, Sansoni, Firenze, vol.
XIV, coll. 68-73.
3 BATTISTI, Eugenio. Zoomorfiche e fitomorfiche figurazioni, in Enciclopedia Universale dell’Arte,
Sansoni, Firenze, vol. XIV, coll. 902-914.
4 BATTISTI, Eugenio. Il mondo visuale delle fiabe italiane, in «Rivista di psicologia sociale», 6, n. 3,
luglio-settembre 1959, pp. 291-295.
5 BATTISTI, Eugenio. Dal totem all‘allegoria, in «Letteratura», 7, n. 41-42, settembre-dicembre 1959,
pp. 3-16.
O presente estudo busca analisar a história da arte através de uma perspectiva pouco
explorada até o momento, i.e., sob o olhar dos questionamentos suportados pelo vestuário nas
obras de arte. Assim, Primavera e O nascimento de Vênus, principais obras do pintor italiano
Sandro Botticelli, foram selecionadas para considerações mais atentas a respeito de suas
iconologias e das possíveis questões levantadas a partir do estudo de suas indumentárias.
This study must be understood as an attempt to analyze the history of art from a perspective not
so much explored until now, that is, under the gaze of questionings supported by the clothing
in the works of art. Thus, Primavera and The Birth of Venus, main works of the italian painter
Sandro Botticelli (1444/5-1510, were selected for a closer look regarding their iconology and
possible issues arising from the study of their costumes.
Referências Bibliográficas
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1998), p. 451-474.
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SHTEIR, Ann B. Flora primavera or Flora meretrix? Iconography, Gender, and Science. In. “Studies in
Eighteenth-Century Culture”, 36 (2007), p.147-68.
Le texte traite de question sûr l’architecture éclectique et ses incorporations allégoriques dans
les motifs egyptiens, en tant que mécanisme de décoration exotique et outil de production
du nouveaux. Seront analysés les bâtiments de grande importance au répertoire éclectique
carioca, ils sont, l´actuel École d´Arts Visuels du Parque Lage, la maison egipcizante de la rue
du Ouvidor, nº 116, e la maison «néo-égyptienne», toutes situées à la ville de Rio de Janeiro.
1. 2. Foto: Montagem –
Augusto Malta (acervo
Museu da Imagem e
do Som, sem data)
e Renato Menezes
Ramos, 2009.
Renato Menezes
Ramos. Fachada do
Sobrado “Neo-egípcio”.
2009
Sítios Visitados
www.dezenovevinte.com.br
www.vivercidades.org.br
Notas
1 Termo criado pelo arquiteto e teórico francês César Denis Daly (1811-1893).
2 Termo sugerido por Marcos Moraes de Sá em Ornamento e Modernismo (2005).
3 Palavra alemã que significa “espírito da época”
4 (PEREIRA, 2008: 57).
5 Termo alemão que significa “espírito do povo”
6 (COHEN, 2001: 84).
7 (RICCI, 2008)