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Judith Butler:

Relatar a si mesmo:
crítica da violência ética
Judith Butler
Filosofa nascida em 24/02/1956 em Cleveland, Ohio, numa família de ascendência judaica e de
origem russa e húngara,
a maior parte da família de sua avó materna pereceu no Holocausto
Aos 14 anos começou a frequentar aulas de ética como castigo da escola hebraica em que estudava
por ser"muito falante na aula"

Desde 1993 é professora na


Universidade de Berkley – California (EUA)

É responsável pela Cátedra Hannah Arendt


2015: Notes Toward a Performative Theory of Assembly (no prelo, lançamento
previsto para Novembro)
2015: Senses of the Subject
2013: Dispossession: the performative in the political (com Athena Athanasiou)
2012: Parting Ways: Jewishness and the Critique of Zionism
(Caminhos Divergentes: Judaicidade e crítica do sionismo)
2009: Frames of War: When Is Life Grievable?
(Quadros de Guerra: quando a vida é passível de luto?)
2007: Who Sings the Nation-State?: Language, Politics, Belonging (com Gayatri
Spivak)
2005: Giving An Account of Oneself
(Relatar a si mesmo: Crítica da violência ética)
2004: Undoing Gender
2004: Precarious Life: The Powers of Mourning and Violence
2003: Women and Social Transformation (com Elisabeth Beck-Gernsheim e Lidia
Puigvert)
2000: Contingency, Hegemony, Universality|Contingency, Hegemony, Universality:
Contemporary Dialogues on the Left (com Ernesto Laclau e Slavoj Žižek)
2000: Antigone's Claim: Kinship Between Life and Death
(O clamor de antígona: parentesco entre a vida e a morte)
1997: The Psychic Life of Power: Theories in Subjection
1997: Excitable Speech: A Politics of the Performative
1993: Bodies That Matter: On the Discursive Limits of "Sex"
1990: Gender Trouble: Feminism and the Subversion of Identity
(Problemas de Gênero: Feminismo e subversão da identidade)
1987: Subjects of Desire: Hegelian Reflections in Twentieth-Century France
METODOLOGIA E PROBLEMA
GERAL DE PESQUISA
Metodologia: Trata-se de entender os mecanismos pelos quais o que é
considerado um problema social ganha status de problema

(Isso permite a Butler transitar sua análise ampliando seus objetos empíricos,
que se estendem desde pessoas queers, palestinas apátridas ou mesmo os
prisionerios de Guantánomo)

Problema geral: (construcionismo social)

Pensar uma teoria da ação cujo o efeito são sujeitos reflexivos


Para Butler subjetividade se baseia numa noção de materialidade

- Papel da Linguagem na produção de uma facticidade enquanto


realidade dada
- Descartes, Hussel e Sartre = distinção ontológica entre
alma(consciência e mente) e corpo
- linguagem = situação e acontecimento histórico
- noção de materialidade = crítica a metafísica da substância
A matéria é um processo em curso, materializar-se é investir-se de
poder
A matéria [é sempre materializada:

Para tanto é preciso pensar uma teoria da ação que produz


materialidades

“ Todo o esforço de se referir a materialidade se dá através de um


processo significante que, na sua fenomenalidade, é desde sempre
material. Nesse sentido, então, linguagem e materialidade não se
opõem,, pois a linguagem tanto é quanto se refere àquilo que é
material, e o que é material nunca escapa do processo pelo qual é
significado”
RELATAR A SI MESMO
Pensa a produção dos sujeitos a partir do ato do reconhecimento

A partir de um diálogo com Adorno, Foucault, Laplanche, Lévinas, Nietzche e


Hegel, é possível pensar que a exigência de relatar a si mesmo diz respeito a
compreender ao mesmo tempo a formação do sujeito e sua relação com a
responsabilidade (sujeito reflexivo = sujeito ético)
* Tese de doutoramento: (1984)
Subjects of Desire: Hegelian Reflections in Twentieth-Century France

Conceito hegeliano de desejo

*O Desejo (Begierde) surge no livro IV da Fenomenologia do Espírito


(Phänomenologiedes Geistes) como um dos momentos essenciais do desenvolvimento da
consciência de si (Selbstbewusstsein) na formação do homem.
“Em certo sentido, todos os meus trabalhos permanecem no interior da orbita de um certo
conjunto de questões hegelianas: o que é a relação entre desejo e reconhecimento e como
a constituição do sujeito implica numa relação radical e constitutiva à alteridade?
( Butler,1987:7)
DESEJO EM HEGEL
Seria aquilo que fratura um eu metafisicamente integrado (...) um modo interrogativo
de ser, um questionamento corporal de identidade e lugar

Uma fratura ontológica que faz do que meu ser o espaço de um questionamento
contínuo a respeito do lugar que ocupo e da identidade que me define
(Safatle, 2012)
O sujeito se constitui pelo exercício da interpelação;
Sujeito é = Trata-se de uma entidade relacional para a qual, há uma relação radical e
constitutiva à alteridade

“o desejo é a operação de autoposição da consciência: através do desejo a consciência


procura se intuir no objeto, tomar a si mesma como objeto”
DESEJO E DESPOSSESSÃO
O desejo funda a concepção de alteridade:

* Em Hegel, o que a consciência procura no Outro não é a reiteração de um sistema


de interesses e necessidades, ela procura o reconhecimento da natureza negativa
(falta);

Portanto, implica em encontrar no Outro a opacidade da infinitude que me constitui


ao mesmo tempo que me escapa e a respeito da qual só posso volta a ter alguma
experiência à condição de me aceitar ser despossuído.
GÊNERO E DESPOSSESSÃO
Em Butler:

A teoria de gênero não será apenas uma teoria da produção de identidades.


Ela será uma astuta teoria de como, através da experiência de algo no interior da
experiência sexual que não se submete integralmente ás normas de identidades,

Ter um gênero é um modo de ser despossuído, daquilo que me desfaz a partir da


relação com o Outro
DIALÉTICA DO
RECONHECIMENTO
Ato de reconhecer:

“O reconhecimento se torna o processo pelo qual eu me torno outro diferente do que


eu fui e assim deixo de ser capaz de retornar ao que eu era. (...) o eu é transformado
pelo ato do reconhecimento (...) o ato altera a organização do passado e seu
significado ao mesmo tempo que transforma o presente de quem é reconhecido (...) o
encontro com o outro realiza uma transformação de si mesmo na qual não há
retorno” (Butler, 2015:41)
VIOLÊNCIA ÉTICA
Caráter histórico mutável da investigação moral
O contexto não é externo ao problema: ele condiciona a forma que o problema vai
assumir. As questões que caracterizam a investigação moral são formuladas ou
estilizadas pelas condições históricas que as suscitam (p. 16)

Quando o “eu” busca fazer um relato de si mesmo, pode começar consigo, mas
descobrirá que esse “si mesmo” já está implicado numa temporalidade social que
excede suas próprias capacidade de narração (p. 18)

O “eu” não tem história própria que não seja a história de uma relaão
O ATO DA INTERPELAÇÃO
Genealogia da Moral: o ato do castigo como criação de uma memória

“ Ao perguntarmos se somos os causadores do sofrimento, um autoridade


estabelecida nos pede não apenas para admitir a existência de uma ligação entre
nossas ações e o sofrimento resultante, mas também para assumir a responsabilidade
por essas ações e seus efeitos (p.21)

Relatamos a nós mesmos porque somos interpelados...


Nietzche acertou muito bem quando disse que só começamos a contar uma história
de nós mesmos frente a um “tu” que nos pede que o façamos
RELATAR E CONTAR UMA
HISTÓRIA
A diferença entre relatar a si e contar uma história ...

O ato de relatar a si mesmo adquire uma forma narrativa, que não apenas depende da
capacidade de transmitir eventos, mas também recorre a uma autoridade narrativa,
cujo objetivo é persuadir o público

Em Nietzsche, a cena da interpelação provocada por um sistema de punição é que


vai constituir o sujeito reflexivo
NIETZSCHE VERSUS FOUCAULT
A explicação nietzschiana de castigo foi fundamental para Foucault explicar sobre o poder disciplinar
na prisão

Porém, diferente de Nietzsche para quem a moral surge como resposta aterrorizante ao castigo, em
Foucault investe na ideia de “má consciência como um meio para a criação de uma ética e de
valores”.

Foucault o que se produz são códigos de conduta, e não códigos de castigo


Modos de subjetivação:
Não há criação de si fora de um modo de subjetivação (p. 30)
SUJEITOS FOUCAULTIANOS
A constituição de si, ou os termos que possibilitam o reconhecimento de si são dados por
um regime de verdade

Regimes e verdade e modos de engendramento de si

“o próprio ser do si-mesmo é dependente não só da existência do outro em sua


singularidade, mas também da dimensão social da normatividade que governa a cena de
reconhecimento”
CONDIÇÃO CORPORAL DO
RELATO NARRATIVO
1. Exposição
A exposição, como a operação da norma, constitui as condições do meu próprio
surgimento como ser reflexivo, um ser dotado de memória, um ser de quem se
poderia dizer que tem uma história para contar (p. 55)
2. Relações primárias
Irrecuperáveis que formam impressões duradouras da minha história de vida
3. História que estabeleça opacidade parcial comigo mesma
Densidade como sujeito singular
4. Normas
Que fazem de mim substituível no momento que conta da minha singularidade

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