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O feminismo tem a ver com a transformação social das relações de género. A teoria é ela
própria transformadora mas não suficiente para a transformação social e política. Para além da
teoria, é necessário fazer algo mais, como intervenções a nível social e político que envolvam
acções, trabalho sustentado e prática institucionalizada.
A questão da vida está, de certa forma, no centro de grande parte da teoria feminista O que é a
vida boa? A questão da própria sobrevivência. Como é que decidimos quando é que a vida
começa e acaba? O facto de perguntar como organizamos a vida, implica que precisemos de
normas para viver, e para viver bem. Por vezes, somos também constrangidos por normas que
nos violam e às quais, por razões de justiça social, nos devemos opor. A normatividade tem
este duplo sentido:
Mesmo que não possamos passar sem elas, as normas, também não podemos aceitá-las tal
como são. O modelo de cultura, tanto no seu modo patriarcal como feminista, pressupunha a
constância da diferença sexual, e havia aqueles de nós para quem “o problema do
género” era a contestação da própria diferença sexual. : o“problema de género” é não serem
as categorias de género apenas eram cópias de uma heterossexualidade mais originária, mas
estes originais, homens e mulheres no quadro heterossexual, são construídos de forma
semelhante, estabelecidos performativamente.
A fantasia é o que nos permite imaginarmo-nos a nós próprios e aos outros de outra forma: o
possível para além do real, mostrando-nos como as noções contemporâneas de realidade
podem ser questionadas e novos modos de realidade instituídos.
Filosofia da liberdade:
Mas o comum, se é que alguma vez existiu, residirá na abordagem ampla e auto-limitadora da
diferença como caminho mais importante para a não-violência. É preciso tomar decisões
substantivas sobre o que será um futuro menos violento, o que será uma população mais
inclusiva.
Quando perguntamos o que torna uma vida vivível, estamos a perguntar sobre
certas condições normativas que devem ser cumpridas para que a vida se torne
vida. Viver é viver uma vida politicamente, em relação ao poder, em relação aos outros, no ato
de assumir a responsabilidade por um futuro coletivo.
A responsabilidade por um futuro não é conhecer totalmente a sua direção, e então requer
uma certa abertura ao desconhecimento, conhecer a incógnita no âmago do que a nossa
capacidade de transformação social se encontra precisamente na nossa capacidade de
mediar entre mundos, de nos empenharmos na tradução cultural e de passarmos, através da
experiência da língua e da comunidade, pelo conjunto diversificado de ligações culturais que
fazem de nós aquilo que somos. Permanecer no limite do que sabemos, pôr em causa as
nossas próprias certezas epistemológicas e, através desse risco e abertura a outra forma de
saber e de viver no mundo, expandir a nossa capacidade de imaginar o humano.
O sujeito unitário é aquele que já sabe o que é, que entra na conversa da mesma forma que
sai, que não põe em risco as suas próprias certezas epistemológicas no encontro com o outro, e
por isso permanece e guarda o seu lugar, que se torna emblema da propriedade e do território,
recusando a autotransformação. Outra forma de viver exige um mundo em que se encontrem
meios colectivos para proteger a vulnerabilidade do corpo sem a erradicar: normas que
ninguém possuirá, normas que terão de funcionar não através da normalização ou da
assimilação racial e étnica, mas tornando-se locais coletivos de trabalho político contínuo.