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Educação e diversidade

Sexualidade, Gênero e Educação


Fundamentos do conceito de sexualidade
A sociedade cria uma série de normas, estabelecidas a partir de
verdades e saberes que dizem quem nós somos e como devemos ser
constantemente. Ou seja, ser homem e mulher acaba se tornando uma
estipulação determinada por uma série de saberes que normatizam os
corpos, orientando, a partir do signo criado pela identidade dos órgãos
genitais, como serão as regras para ser um menino e uma menina
socialmente aceitos (FAUSTO-STERLING, 2001).
A sexualidade é um dado da cultura, e não um dado da biologia.
Minha vida de João
Segundo Michel Foucault
• A sexualidade é como uma construção sexual mediada por relações
sociais que dizem o que pode ou não pode existir. Essa construção
está intimamente ligada às relações de poder que se estabelecem na
constituição de cada um em nossa sociedade.
• Para esse autor francês, a sexualidade serviu para o Ocidente no
sentido de trabalhar em função do insurgente sistema capitalista que
se consolidava como determinante. Era preciso dominar e tornar o
corpo dócil e útil de forma produtiva. Para isso, criou-se um aparato
que pudesse controlá-lo ao invés de suprimir ou reprimir sua
potencialidade.
Sexualidade e poder
Retome o exemplo dado sobre o acesso no banheiro a partir do que se determina para
homens e mulheres. O que temos aqui é um dispositivo da sexualidade que diz quem é quem,
regulado por um discurso que explica porque cada sexo anatômico determina a entrada em
algum dos banheiros, e se utiliza de uma explicação pressuposta da biologia, já que homens
teriam pênis e mulheres vulva, portanto, não podem estar num mesmo lugar para o uso de
um espaço como o banheiro.
Note que um lugar onde simplesmente serve para expelir processos biológicos naturais se
tornou um lugar de discurso social, com uma arquitetura própria (observe as diferenças entre
banheiros, quando muitos até mesmo não possuem espelho para o masculino, afinal, vaidade
não deve ser algo esperado de homens), leis que a instituem (como as regras de um shopping,
por exemplo) e saberes que validam verdades sobre essa divisão a partir do sexo biológico.
Daí a grande questão sobre, por exemplo, não existir fraldário no banheiro masculino, afinal, é
preciso manter o discurso sobre a mulher como mãe e cuidadora. E também as/ os
transexuais, que desejam utilizar banheiros segundo sua identidade de gênero, mas são
proibidos(as) por não serem “mulheres ou homens de verdade” (sic), já que escolheram viver
com um corpo o qual a sociedade não reconhece, já que rompe com a norma naturalizada de
que se nasce mulher sobre certas condições, assim como homens.
Sexualidade e Educação
Devemos entender que como educadores e profissionais, que tiveram
uma formação acadêmica, não basta utilizar do senso comum, saberes
práticos e das experiências que vivemos. É necessário construir outras
perspectivas para se explicar o que nos cerca, sempre pensando quais
sentidos são produzidos ao outro quando eu lido com esses saberes,
verdades e práticas discursivas sobre a sexualidade em nossa
sociedade.
Relações de Gênero
Para compreender a importância dessa questão, vale a pena ressaltar
que nos últimos anos da segunda década do século XXI, o poder
legislativo brasileiro – em todos os seus níveis – tem manipulado os
conhecimentos científicos vinculados às estratégias pedagógicas em
torno da questão de gênero para denominá-los como uma suposta
“ideologia de gênero”, associando gênero a termos como “pedofilia”,
“iniciação sexual” ou “cooptação para a homossexualidade”,
justificando erroneamente que essas são ideias direcionadas ao
ensino/estímulo da atividade sexual para crianças na escola.
O que é falar de gênero?
• Falar de gênero está no nosso cotidiano e às vezes nem nos damos conta disso. A
sociedade está o tempo todo classificando padrões para o que seria do universo
“masculino” e “feminino”.
• “Homem não chora”
• “Menina é mais sensível”
• “Menino veste azul e menina rosa”
• “loira burra”
• “Garanhão”
• “Mulatas sensuais”
• “Menino não brinca de boneca”
• “Futebol não é coisa pra menina”
• Falar de gênero envolve falar de nossas relações
sociais, e da forma como a sociedade constrói
essas relações e quais lugares são estabelecidos
para cada um dentro desse coletivo onde
vivemos.
• Falar de gênero é fazer um verdadeiro
enfrentamento de posições, de relações
hierarquizadas de controle e, sobretudo,
combater discursos machistas, misóginos e
excludentes.
Para refletir.....
• Onde as pessoas são colocadas nessas
situações? Quais relações de poder e
quais os efeitos dessas relações?
O Feminismo
• O feminismo procurou articular propostas que combatessem a discriminação e
também a intolerância no plano dos direitos e da equidade, afirmando que as
diferenças entre os sexos não poderiam gerar violência, exclusão e
intolerância. Para elas, o feminismo tratou de ser um movimento de caráter
sociopolítico na defesa dos direitos humanos das mulheres ao questionar o
tripé da exploração, discriminação e violência, combatendo enfaticamente o
tratamento biológico dado aos saberes que determinavam a inferioridade das
mulheres na hierarquia social.
• O tratamento biológico era tão comum que no século XIX, se uma mulher fosse
acometida de constantes enxaquecas, ela era diagnosticada como histérica e
internada compulsoriamente em manicômios, pois a medicina considerava tal
situação como patológica e “natural” da mulher.

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