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O dispositivo da

sexualidade
Michel Foucault
O que vemos ao estudar a História da
sexualidade?
• O poder e o perigo do discurso
• E que nós somos os... “Nós, os vitorianos”. Ele escreveu isso em 1975
De lá pra cá muita coisa mudou, mas, sem dúvida alguma, nós éramos
século XIX e ainda restou muito em nós do século XIX.
• Direito e poder sobre a vida e controle das formas de existir e das
formas de subjetivação
• Não fale nem mostre nada sobre sexo (segredos, tabus), fale e mostre
indefinidamente tudo sobre sexo!
A INVENÇÃO DA SEXUALIDADE
1. A sexualidade, tal como a percebemos, a vivemos e, sobretudo, a
teorizamos, é uma criação da cultura ocidental.
2. Os discursos sobre a sexualidade aparecem em momentos sócio-
históricos precisos como uma tentativa de normatizar as práticas
sexuais de acordo com os padrões da época, pois o controle da via
social e política só poderia ser alcançado pelo controle do corpo e
da sexualidade
3. A sexualidade é uma construção, uma invenção, inseparável do
discurso e do jogo de poder dentro dos quais ela é constituída e, ao
mesmo tempo, se constitui.
A SEXUALIDADE COMO QUESTÃO
INSTITUCIONAL
• A regulamentação do sexo sempre foi um assunto INSTITUCIONAL,
das elites dominantes e da religião, é necessário para compreender
tal categoria entender como a "moral" de cada uma destas instâncias
cria tanto o discurso sobre a regulamentação da sexualidade quanto
os dispositivos que visam regulá-la, controlá-la ou mesmo curar as
manifestações da sexualidade "desviantes" .
O que é um dispositivo?
• 0 conceito de "dispositivo" aparece em Foucault nos anos 70 e designa
inicialmente os operadores materiais do poder, isto é, as técnicas, as
estratégias e as formas de assujeitamento utilizadas pelo poder. A partir do
momento em que a análise foucaultiana se concentra na questão do poder,
o filósofo insiste sobre a importância de se ocupar não "do edifício jurídico
da soberania, dos aparelhos do Estado, das ideologias que o acompanham,
mas dos mecanismos de dominação: é essa escolha metodológica que
engendra a utilização da noção de "dispositivos". Eles são, por definição, de
natureza heterogênea: trata-se tanto de discursos quanto de práticas, de
instituições quanto de táticas moventes: é assim que Foucault chega a falar,
segundo o caso, de "dispositivos de poder", de "dispositivos de saber", de
"dispositivos disciplinares", de "dispositivos de sexualidade" etc
Ampliando a compreensão do conceito...
• Funções estratégicas, com base em relações de poder e saber, de
redes discursivas (tratados, leis, proposições filosóficas etc.;
instituições, estruturas arquitetônicas). Em Vigiar e Punir, de 1975, e,
mais propriamente, na obra posterior, História da Sexualidade, vol. 1
(1976), o autor apura a respeito das tecnologias diversas edificadas
para a construção da subjetivação moderna, criticando,
oportunamente, a tradição de análise dos discursos, que não
compreendida os discursos a partir da noção de enunciado e, mais
amplamente , de noção de disciplina. Dispositivo ajustar-se-ia, pois,
enquanto termo-chave para compreender as insuficiências da análise
dos discursos, abrindo novas e originais configurações de estudos
empíricos
Deslocamento para pensar o poder
• Foucault percebeu que o sexo e, portanto, a própria vida, se tornaram
alvos privilegiados da atuação de um poder disciplinar que já não
tratava simplesmente de regrar comportamentos individuais ou
individualizados, mas que pretendia normalizar a própria conduta da
espécie, bem como regrar, manipular, incentivar e observar
microfenômenos como as taxas de natalidade e mortalidade, as
condições sanitárias das grandes cidades, o fluxo das infecções e
contaminações, a duração e as condições da vida, etc. A partir do
século XIX, já não importava mais apenas disciplinar as condutas, mas
também implantar um gerenciamento planificado da vida das
populações...
A sexualidade, tal como a entendemos,
é efetivamente uma invenção histórica,
mas que se efetivou progressivamente
à medida que se realizava o processo
de diferenciação dos diferentes campos
e de suas lógicas específicas.
Pierre Bourdieu (La domination masculine. Paris: Seuil, 2002)
Pierre Bourdieu
Teses presentes em História da sexualidade
• Repressão – expressão
• Segundo Foucault (1985, p.137), desde o século XVIII o sexo ocupou
um lugar central que passou a definir tanto o sujeito quanto a
população. E no século XIX, a sexualidade foi esmiuçada em cada
existência individual
• Biopolítica e sexualidade
• Quanto se regula e como se regula bem por meio dos dispositivos da
sexualidade?
Repressão x expressão
• “É necessário deixar bem claro: não pretendo afirmar que o sexo não tenha
sido proibido, bloqueado, mascarado ou desconhecido desde a época
clássica; nem mesmo afirmo que a partir daí ele o tenha sido menos do
que antes. Não digo que a interdição do sexo é uma ilusão; e sim que a
ilusão está em fazer dessa interdição o elemento fundamental e
constituinte a partir do qual se poderia escrever a história do que foi dito
do sexo a partir da Idade Moderna. Todos esses elementos negativos —
proibições, recusas, censuras, negações — que a hipótese repressiva
agrupa num grande mecanismo central destinado a dizer não, sem dúvida,
são somente peças que têm uma função local e tática numa colocação
discursiva, numa técnica de poder, numa vontade de saber que estão longe
de se reduzirem a isso”. A Vontade de saber
• “Em vez da preocupação uniforme em esconder o sexo, em lugar do
recato geral da linguagem, a característica de nossos três últimos
séculos é a variedade, a larga dispersão dos aparelhos inventados
para dele falar, para fazê-lo falar, para obter que fale de si mesmo;
para escutar, registrar, transcrever e redistribuir o que dele se diz. Em
torno do sexo toda uma trama de variadas transformações em
discurso, específicas e coercitivas? Uma censura maciça a partir das
decências verbais impostas pela época clássica? Ao contrário, há uma
incitação ao discurso, regulada e polimorfa”. A Vontade de saber
Regras, normas, mandamentos acerca da
• Gravidez e aborto
• Casamento e família
• Castidade e quantidade de parceiros (moral)
• Normal e patológico (envolvendo um amplo escopo de restrições)
• Controle das mulheres
• Controle dos gêneros não-masculinos
• Conduta sexual das classes
• Tabus diversos (virgindade, menstruação, desejos...)
Leituras:
Deste encontro:
• Foucault, Michel. História da sexualidade, volume 1.
• Duarte, A. Reler Foucault à luz de Butler... Revista Dois pontos

• Para o próximo encontro:


Foucault, M. O poder psiquiátrico.
https://monoskop.org/images/0/06/Foucault_Michel_Resumo_dos_cu
rsos_do_College_de_France_1970-1982.pdf
O programa – para reconstruir o caminho
1. A caixa de ferramentas de Foucault
2. Há perigo no discurso: discurso, saber e poder [A ordem do discurso]
3. Razão e desrazão: a invenção da doença mental [História da loucura]
4. Poder disciplinar, sociedade e subjetividade [Vigiar e punir]
5. Biopolítica: a população como alvo do poder e o conceito de governamentalidade [Em defesa da
sociedade]
6. Conceitos: discurso, saber, poder, episteme, dispositivo, micropoder
7. O dispositivo da sexualidade [História da sexualidade]
8. Sobre o poder psiquiátrico [O poder psiquiátrico]
9. Não seguir Foucault; abrir e usar a caixa de ferramentas para diagnosticar e intervir no presente.
10. Tira-dúvidas

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