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• Pensar

“Novos” Sujeitos, pós-


identidades e
diversidade
Aulas
Marlene Tamanini
Paul Preciado
PARA além de identidade fixa...
• Construção de identidade pela diferença
• Tecnologias e discursos constroem os corpos
em novos modelos e os modelos antigos
• Nos caminhos modernos a construção
contêm uma performatividade de um Estado
da Sociedade, da família, dos amigos, da
escola, da medicina,
• O corpo não é um gato passivo (Preciado).
• Fronteiras de raça, trans, outros corpos.
Heterossexualidade
X homossexualidade
Ação política na
identidade e
diferença
Farmacopornografia , capitalismo,
tecnologia, hormônio
• Gozar, consumir e se consumir.
• Teoria queer: uma
política pós-identitária
para a educação Guacira
Lopes Louro
• Seguindo o texto
Oncomouse híbridos,
biotecnologias
• Cyborgs filhos do capitalismo, do militarismo
X possibilidades de ressignificação das
realidades sociais, culturais, políticas,
• Transgressão das fronteiras.
• Tecnologias, discursos e ação política - a
diversidade precisa de Coalizações a
partir das diferenças (sem essências, sem
parte no todo, sem diferença como menor...)
(BRAH, Haraway, decolonial vai por aqui
também, mas para América Latina).
Ousando se expor a todas as formas de violência
e rejeição social, alguns homens e mulheres
contestam a sexualidade legitimada e se arriscam
a viver fora de seus limites. A ciência, a justiça, as
igrejas, os grupos conservadores e os grupos
emergentes irão atribuir a esses sujeitos e a suas
práticas distintos sentidos.

É mais do que opressão..............e


classe, ............o construído reitera e
abjeta...............
• A homossexualidade, discursivamente
produzida, transforma-se em questão social
relevante. A disputa centra-se
fundamentalmente em seu significado
moral. Enquanto alguns assinalam o caráter
desviante, a anormalidade ou a
inferioridade do homossexual, outros
proclamam sua normalidade e naturalidade
– mas todos parecem estar de acordo de
que se trata de um “tipo” humano
distintivo.
Esses são os discursos mais expressivos que
circulam nas sociedades ocidentais, pelo menos até
o início dos anos 1970. O movimento de
organização dos grupos homossexuais é, ainda,
tímido; suas associações e reuniões suportam,
quase sempre, a clandestinidade. Aos poucos,
especialmente em países como os Estados Unidos e
a Inglaterra, um aparato cultural começa a surgir:
revistas, artigos isolados em jornais, panfletos,
teatro, arte
• A afirmação da identidade supunha
demarcar suas fronteiras e implicava
uma disputa quanto às formas de
representá-la. Imagens homofóbicas e
personagens estereotipados exibidos na
mídia e nos filmes são contrapostos por
representações “positivas” de
homossexuais. Reconhecer-se nessa
identidade torna-se questão pessoal e
política.
Também no Brasil, ao fim dos anos 1970, o
movimento homossexual ganha mais força: surgem
jornais ligados aos grupos organizados, promovem-
se reuniões de discussão e de ativismo, as quais,
segundo conta João Silvério Trevisan, se faziam ao
“estilo do gay conscious raising group americano”,
buscando “tomar consciência de seu próprio
corpo/sexualidade” e construir “uma identidade
enquanto grupo social”
• Em conexão com o movimento político (não
apenas como seu efeito, mas também como
sua parte integrante), cresce,
internacionalmente, o número de
trabalhadores/as culturais e intelectuais que
se assumem na mídia, na imprensa, nas
artes e nas universidades.
• Contudo, essa definição
de identidade sexual,
aparentemente
indiscutível, poderia ser
posta em questão:
• Como a História da Sexualidade de Foucault
havia mostrado, tal escolha do objeto nem
sempre tinha se constituído a base para uma
identidade e, como
muitas vozes
discordantes sugeriam, esse não
era, inevitavelmente, o fator
crucial na percepção de toda e
qualquer pessoa sobre sua
sexualidade. ...
• Com esses contornos, a política de
identidade praticada durante os anos
1970 assumia um caráter unificador e
assimilacionista, buscando a
aceitação e a integração dos/das
homossexuais no sistema social. A
maior visibilidade de gays e lésbicas
sugeria que o movimento já não
perturbava o status quo como antes.
Mais do que diferentes prioridades políticas
defendidas pelos vários “subgrupos”, o que estava
sendo posto em xeque, nesses debates, era a
concepção da identidade homossexual unificada
que vinha se constituindo na base de tal política
de identidade. A comunidade apresentava
importantes fraturas internas, e seria cada vez
mais difícil silenciar as vozes discordantes.
O combate à doença também acarreta um
deslocamento nos discursos a respeito da
sexualidade – agora os discursos se dirigem menos
às identidades e se concentram mais nas práticas
sexuais (ao enfatizar, por exemplo, a prática do
sexo seguro).
•Ver dissertação de Otávio Costa defendida em
junho de 2021 sobrea Prep, mas que tem
importante discussão sobre HIV. Programa de
pós em sociologia da UFPR.
Especificamente em relação à sociedade
brasileira, João Silvério Trevisan comenta que,
devido à aids, foi ampliada a discussão a
respeito da homossexualidade. Diante da
expansão da doença e de sua associação com
a homossexualidade, “a metáfora – tantas
vezes empregada nas entrelinhas – de que a
homossexualidade pega quase deixou de ser
metáfora”.
• A homofobia mostrava-se em toda
a sua crueza. A partir desse
momento, segundo ele, além de se
tornar mais evidente o desejo
homossexual, ocorreu uma espécie
de “efeito colateral da epidemia
sexualizada”: a deflagração de uma
“epidemia de informação”.
O número de grupos ativistas no Brasil já estava,
então, consideravelmente ampliado; não apenas
de gays, mas também de lésbicas. Pelas
características políticas que o país vivia, o
movimento homossexual brasileiro via-se dividido
entre a possibilidade de se integrar aos partidos
políticos ou de continuar sua luta de forma
independente – e isso se constituía em mais uma
de suas tensões internas.
A nova dinâmica dos
movimentos sexuais e de
gênero provoca mudanças
nas teorias e, ao mesmo
tempo, é alimentada por elas
• A agenda teórica moveu-se da análise das
desigualdades e das relações de poder
entre categorias sociais relativamente
dadas ou fixas (homens e mulheres, gays e
heterossexuais) para o questionamento
das próprias categorias – sua fixidez,
separação ou limites – e para ver o jogo do
poder ao redor delas como menos binário
e menos unidirecional.
•UMA TEORIA E
UMA POLÍTICA
PÓS-IDENTITÁRIA
• Queer pode ser traduzido por estranho, talvez
ridículo, excêntrico, raro, extraordinário. Mas a
expressão também se constitui na forma
pejorativa com que são designados homens e
mulheres homossexuais. Um insulto que tem,
para usar o argumento de Judith Butler, a força
de uma invocação sempre repetida, um insulto
que ecoa e reitera os gritos de muitos grupos
homófobos, ao longo do tempo, e que, por isso,
adquire força, conferindo um lugar discriminado
e abjeto àqueles a quem é dirigido.
• Seu alvo mais imediato de oposição é,
certamente, a heteronormatividade compulsória
da sociedade; mas não escaparia de sua crítica a
normalização e a estabilidade propostas pela
política de identidade do movimento
homossexual dominante. Queer representa
claramente a diferença que não quer ser
assimilada ou tolerada e, portanto, a sua forma
de ação é muito mais transgressiva e
perturbadora
• A política queer está estreitamente
articulada à produção de um grupo de
intelectuais que, ao redor dos anos 1990,
passa a utilizar esse termo para descrever
seu trabalho e sua perspectiva teórica.
Ainda que esse seja um grupo
internamente bastante diversificado, capaz
de expressar divergências e de manter
debates acalorados, há entre seus
integrantes algumas aproximações
significativas.
• As condições que possibilitam a emergência do
movimento queer ultrapassam, pois, questões
pontuais da política e da teorização gay e lésbica
e precisam ser compreendidas no quadro mais
amplo do pós-estruturalismo. Efetivamente, a
teoria queer pode ser vinculada às vertentes do
pensamento ocidental contemporâneo que, ao
longo do século XX, problematizaram noções
clássicas de sujeito, de identidade, de agência, de
identificação.
As possibilidades de autodeterminação
e de agência também são postas em
xeque pela teorização de Althusser,
quando este demonstra como os
sujeitos são interpelados e capturados
pela ideologia. Conforme Althusser, ao
se entregar à ideologia, o sujeito realiza,
de forma aparentemente livre, seu
próprio processo de sujeição.
• Ao lado dessas teorizações que problematizaram
de forma radical a racionalidade moderna,
destacam-se os insights de Michel Foucault sobre
a sexualidade, diretamente relevantes para a
formulação da teoria queer. Conforme
Foucault, vivemos, já há mais de um século,
numa sociedade que “fala prolixamente de
seu próprio silêncio, obstina-se em detalhar
o que não diz, denuncia os poderes que
exerce e promete liberar-se das leis que a
fazem funcionar.”
• Ele desconfia desse alegado silêncio e,
contrariando tal hipótese, afirma que o sexo
foi, na verdade, “colocado em discurso”:
temos vivido mergulhados em múltiplos
discursos sobre a sexualidade, pronunciados
pela
Diz ele: assistimos a uma explosão visível das
sexualidades heréticas, mas sobretudo – e é esse
o ponto importante – a um dispositivo bem
diferente da lei: mesmo que se apoie localmente
em procedimentos de interdição, ele assegura,
através de uma rede de mecanismos
entrecruzados, a proliferação de prazeres
específicos e a multiplicação de sexualidades
disparatadas
A construção discursiva das
sexualidades, exposta por Foucault,
vai se mostrar fundamental para a
teoria queer. Da mesma forma, a
operação de desconstrução, proposta
por Jacques Derrida, parecerá, para
muitos teóricos e teóricas, o
procedimento metodológico mais
produtivo.
.
Derrida afirma que essa lógica poderia ser
abalada por um processo desconstrutivo que
estrategicamente revertesse, desestabilizasse e
desordenasse esses pares. Desconstruir um
discurso implicaria minar, escavar, perturbar e
subverter os termos que afirma e sobre os quais o
próprio discurso se afirma. Desconstruir não
significa destruir, como lembra Barbara Johnson,
mas “está muito mais perto do significado
original da palavra análise, que,
etimologicamente, significa desfazer”.
• Portanto, ao se eleger a desconstrução
como procedimento metodológico, está
se indicando um modo de questionar ou
de analisar e está se apostando que esse
modo de análise pode ser útil para
desestabilizar binarismos linguísticos e
conceituais (ainda que se trate de
binarismos tão seguros como
homem/mulher,
masculinidade/feminilidade).
• Judith Butler toma emprestado da
linguística o conceito de
performatividade para afirmar que a
linguagem que se refere aos corpos
ou ao sexo não faz apenas uma
constatação ou uma descrição desses
corpos, mas, no instante mesmo da
nomeação, constrói, “faz” aquilo que
nomeia, isto é, produz os corpos e os
sujeitos.
• Ainda que essas normas reiterem sempre, de
forma compulsória, a heterossexualidade,
paradoxalmente, elas também dão espaço para
a produção dos corpos que a elas não se
ajustam. Esses serão constituídos como sujeitos
“abjetos” – aqueles que escapam da norma.
Mas, precisamente por isso, esses sujeitos são
socialmente indispensáveis, já que fornecem o
limite e a fronteira, isto é, fornecem “o exterior
” para os corpos que “materializam a norma”,
os corpos que efetivamente “importam
UMA PEDAGOGIA E
UM CURRÍCULO
QUEER
• Como um movimento que se remete
ao estranho e ao excêntrico pode se
articular com a educação,
tradicionalmente o espaço da
normalização e do ajustamento? Como
uma teoria não propositiva pode
“falar” a um campo que vive de
projetos e de programas, de intenções,
objetivos e planos de ação?
• A teoria queer permite pensar a
ambiguidade, a multiplicidade e a
fluidez das identidades sexuais e
de gênero mas, além disso,
também sugere novas formas de
pensar a cultura, o conhecimento,
o poder e a educação.
Atenção......
• Uma pedagogia e um currículo queer se
distinguiriam de programas multiculturais bem-
intencionados, em que as diferenças (de gênero,
sexuais ou étnicas) são toleradas ou apreciadas
como curiosidades exóticas. Uma pedagogia e
um currículo queer estariam voltados para o
processo de produção das diferenças e
trabalhariam, centralmente, com a instabilidade
e a precariedade de todas as identidades.
• Ao colocar em discussão as formas como o
“outro” é constituído, levariam a questionar as
estreitas relações do eu com o outro. A
diferença deixaria de estar lá fora, do outro lado,
alheia ao sujeito, e seria compreendida como
indispensável para a existência do próprio
sujeito: ela estaria dentro, integrando e
constituindo o eu. A diferença deixaria de estar
ausente para estar presente: fazendo sentido,
assombrando e desestabilizando o sujeito.
• Ao colocar em discussão as formas como o
“outro” é constituído, levariam a questionar as
estreitas relações do eu com o outro. A
diferença deixaria de estar lá fora, do outro
lado, alheia ao sujeito, e seria compreendida
como indispensável para a existência do próprio
sujeito: ela estaria dentro, integrando e
constituindo o eu. A diferença deixaria de estar
ausente para estar presente: fazendo sentido,
assombrando e desestabilizando o sujeito.
• Dentro desse quadro, a polarização
heterossexual/homossexual seria
questionada. Analisada a mútua
dependência dos polos, estariam
colocadas em xeque a naturalização e
a superioridade da
heterossexualidade.
• O combate à homofobia – uma meta ainda
importante – precisaria avançar. Para uma
pedagogia e um currículo queer, não seria
suficiente denunciar a negação e o
submetimento dos/as homossexuais, e sim
desconstruir o processo pelo qual alguns
sujeitos se tornam normalizados e outros
marginalizados.
• Reinventar e reconstruir, como
prática pedagógica, estratégias e
procedimentos acionados pelos
ativistas queer, como, por
exemplo, a estratégia de “mostrar
o queer naquilo que é pensado
como normal e o normal no
queer”
Transferir a outras polaridades esse mecanismo
desconstrutivo, perturbando até mesmo o mais
caro binarismo do campo educacional, aquele que
opõe o conhecimento à ignorância. Seguindo o
pensamento de Eve Sedgwick, demonstrar, como
sugerem teóricas/os queer, que a ignorância não
é “neutra”, nem é um “estado original”, mas, em
vez disso, que ela “é um efeito – não uma
ausência – de conhecimento”. Admitir que a
ignorância pode ser compreendida como algo
produzido por um tipo particular de
conhecimento ou por um modo de conhecer.
• Assim, a ignorância da
homossexualidade poderia ser
lida como constitutiva de um
modo particular de conhecer a
sexualidade. Deborah
Britzman afirma:
• A “reviravolta epistemológica” provocada pela
teoria queer transborda, pois, o terreno da
sexualidade. Ela provoca e perturba as formas
convencionais de pensar e de conhecer. A
sexualidade, polimorfa e perversa, é ligada à
curiosidade e ao conhecimento. O erotismo pode
ser traduzido no prazer e na energia dirigidos a
múltiplas dimensões da existência.
• Uma pedagogia e um currículo
conectados à teoria queer teriam de
ser, portanto, tal como ela,
subversivos e provocadores. Teriam
de fazer mais do que incluir temas
ou conteúdos queer; ou mais do
que se preocupar em construir um
ensino para sujeitos queer.
• Como afirma William Pinar, “uma
pedagogia queer desloca e descentra; um
currículo queer é não-canônico”. As
classificações são improváveis. Tal
pedagogia não pode ser reconhecida
como uma pedagogia do oprimido, como
libertadora ou libertária. Ela escapa de
enquadramentos. Evita operar com os
dualismos que acabam por manter a lógica
da subordinação.
• Contrapõe-se, seguramente, à
segregação e ao segredo
experimentados pelos sujeitos
“diferentes”, mas não propõe
atividades para seu fortalecimento
nem prescreve ações corretivas
para aqueles que os hostilizam.
• Antes de pretender ter a resposta
apaziguadora ou a solução que encerra os
conflitos, quer discutir (e desmantelar) a lógica
que construiu esse regime, a lógica que
justifica a dissimulação, que mantém e fixa as
posições de legitimidade e ilegitimidade. “Em
vez de colocar o conhecimento (certo) como
resposta ou solução, a teoria e a pedagogia
queer (...) colocam o conhecimento como uma
questão interminável.”
• Vistos sob essa perspectiva, uma pedagogia e
um currículo queer “falam” a todos e não se
dirigem apenas àqueles ou àquelas que se
reconhecem nessa posição de sujeito, isto é,
como sujeitos queer. Uma tal pedagogia
sugere o questionamento, a desnaturalização e
a incerteza como estratégias férteis e criativas
para pensar qualquer dimensão da existência.
A dúvida deixa de ser desconfortável e nociva
para se tornar estimulante e produtiva.
A teoria que lhes serve de referência é
desconcertante e provocativa. Tal
como os sujeitos de que fala, a teoria
queer é, ao mesmo tempo,
perturbadora, estranha e fascinante.
Por tudo isso, ela parece arriscada. E
talvez seja mesmo... mas,
seguramente, ela também faz pensar.
BUTLER
De que novas teorias estamos
falando?
Sujeitos
Identidades
Experiências
Representações
Discursos
Queer, Pessoas..............
Esta posição fez a marcação de
gênero
• 1. Pela oposição
• 2. Pela diferença
• 3. Universalização da diferença e oposição
• Pensar sujeitos e
identidades nestes
processos todos
O sistema SEXO-GÊNERO, categoria lançada
por ela em 1975, se definia “como um
conjunto de acordos sobre os quais a
sociedade transforma a sexualidade biológica
em produtos da atividade humana, e nos quais
essas necessidades sexuais são satisfeitas” p.
17. Responde a SUBORDINAÇÃO - mostrando
a necessidade de desvelar a parte da vida
social que é o locus da opressão das mulheres.
Sistema sexo/gênero anos 70
30 de dezembro de 2012 - Nova Délhi
O estupro de Jyoti Singh Pandey provocou
manifestações por toda a Índia
ANOS 80
a. Diferença dentro da diferença (Mulher,
mulheres, geração, raça, etnia).
b.Variedade de métodos desconstrutivistas;
c.Variedade de olhares teóricos e políticos;
d. Arbitrariedade de olhares;
e. Foco na reflexividade e na experiência –
categorias instáveis se produz um
desenraizamento da categoria natureza X
cultura. f. Sexo conduz a gênero? Contraste
entre fatos biológicos e culturais.
Pergunta: é possível olhar o mundo
sem fazer dois? (HERETIER).
Uma identidade fixa?
......um insight obtido através de práticas pessoais
e da micropolítica da vida cotidiana das
mulheres – concede ao sujeito uma perspectiva
“ex/cêntrica”, menos pura, menos unificada e a
qual percebe a identidade como um lugar
de posições múltiplas e variáveis dentro
do campo social, ao mesmo tempo que
entende a experiência como o “resultado de
um conjunto complexo de determinações e
lutas, um processo de renegociações contínuas
das pressões externas e resistências internas”
(LAURETIS).
Questões
circundam o essencialismo e o antiessencialismo
• Indentidade essencialismo? Antiessencialismo?
• Segundo Linda Alcoff, a tentativa de fundamentar a
• política feminista na “mulher” foi considerada
“politicamente reacionária e equivocada em termos
ontológicos”, já que, no fim das contas, ela se apoiava
em uma concepção humanista do
sujeito feminino, centrada, unificada e autêntica,
amarrada a sua identidade essencial como mulher.
Uma saída consistiu na afirmação da diferença
total através de uma prática feminista negativa
ancorada
nos preceitos da desconstrução.
Mas se a mulher não existe o que
podemos exigir em seu nome?
Luta identitária? Diferença
essencializada? Coalisões ou pós -
identitárias
Noção
de interseccionalidade
• Essas camadas de subordinação ou eixos da
diferença encontram-se mutuamente
imbricados, onde cada categoria produz efeitos
articulatórios sobre as outras em contextos
históricos e geográficos específicos, viabilizando,
assim, posições a serem ocupadas pelos sujeitos
enquanto estabelecem agendas teóricas e
políticas. Noção de interseccionalidade, expande
significativamente o conceito de gênero
Reiteração e abjeção
Butler
Afirma que, se alguém “é” mulher, isso não é tudo que
tal sujeito é; o termo não é exaustivo, não porque uma
“pessoa” pré - gendrada transcende uma parafernália
específica do seu gênero, mas porque o gênero não é
sempre constituído de forma coerente e consistente nos
diferentes contextos históricos, e porque o gênero é
intersectado por modalidades raciais, étnicas, sexuais,
regionais e de classe das identidades discursivamente
constituídas. Como resultado, torna-se impossível
separar o “gênero” das intersecções políticas e culturais
através das quais ele é invariavelmente produzido e
mantido
Formulação de Butler
• Ao invés de dispormos uma categoria
paralelamente às outras ao projetar cartografias
do indivíduo, seria melhor se considerássemos
uma intersecção muito movimentada, na qual
vários vetores de diferença estão em
constante sobreposição, deslocando
uns aos outros, abrindo espaços
intermediários (in-between spaces) ou
interstícios nos
quais o sujeito se posiciona, não importando quão
provisoriamente.
Em termos dos discursos da diferença,
faz-se necessário enfatizar que esses interstícios
não devem continuar sendo percebidos
apenas como espaços ontológicos,
abstrações desconstrucionistas ou sinais da
Diferença pura. Sem
dúvida, eles também são o produto, o material e
os efeitos
simbólicos de desequilíbrios históricos.
Das abordagens pos - estruturalistas
e queer.
• Dos sujeitos e das identidades
(homens/mulheres, sexo definindo gênero
ou gênero sobre o sexo).
• Sujeitivação/objetivação;
• Dos arranjos e das políticas
Sujeitos/ identidades/ SUBJETIVIDADE
****Rigorosamente, subjetivação e objetivação não
são senão duas faces de um mesmo processo;
• Mudanças históricas não são universais, nem
fogem ao contexto de suas instituições. Se
produzem medida de sua institucionalização e do
engajamento do desejo em lhes corresponder.
• Aspectos da multiplicidade da diferença, da
singularidade e das contingências sócio-históricas
devem ser considerados. Os processos de
subjetivação igualmente assim se produzem.
O poder e a subjetivação não
são
• ....processos desde os quais simplesmente se
pode contrapor oprimidos e dominados.
• Seu caráter operativo é útil e uma forma
imediata de sua construção. Discursos e história
formam os sujeitos em gênero e operam como
efeitos de poder. (FOUCAULT, ).
• Gênero é uma forma de regulação social. (aspectos
legais, institucionais, militares, educacionais,
sociais, psicológicos e psiquiátricos ). São e foram
evocados no intuito de refletir sobre a maneira pela
qual tais regulações evidenciam duas posições
Posições binárias e contrapostas
Tende-se a pensar que existe uma separação entre
o poder da regulação – entendido como uma
estrutura unificada e autônoma – e o próprio
gênero, como se o poder agisse reprimindo-o e/ou
reproduzindo-o desde fora.
•Ou como a cultura trabalha sobre a natureza,
gênero sobre o sexo , ou como sexo esta para
gênero. (Anos 70) papeis sexuais, mulher X
homem, ahistórico.......? A tentativa de
trazer ...............o cultural, logo a história.......
ANOS 90
• Imaginário Fluido - ainda que não seja
transparente. Sujeitos estão construídos e
desestabilizados . Subjetividades
controvertidas, multiestratificadas e
internamente contraditórias – Contra uma
visão MOLAR e sedentária da MULHER.
Desconstrução fálica .
Consequências da norma
hetero
• Sequência queer, ......
• - a produção normativa de ontologia produz o
problema epistemológico de apreender uma
vida, o que por sua vez, dá origem ao problema
ético de saber que há que reconhecer, ou
melhor, que há que guardar contra a lesão e a
violência. - os sujeitos se constituem mediante
normas que, em sua reiteração, produzem e
trocam os termos mediante aos quais se
reconhecem. (BUTLER, Judith. Marcos de
Guerra: las vidas lloradas. Barcelona: Editora
Paidós, 2010).
• Essas condições normativas para a produção
do sujeito geram
uma ontologia
historicamente contingente, tal
que nossa capacidade de discernir e de
nomear o “ser” do sujeito depende de umas
normas que facilitam este reconhecimento [...]
BUTLER, Judith. Marcos de Guerra: las vidas
lloradas. Barcelona: Editora Paidós, 2010
http://www.leticialanz.org/o-corpo-da-roupa/ (dissertação de Leticia
Lanz)

BUTLER
–Butler dois?
Ciclos de violência naturalizados
a) HETEROSSEXUALIDADE;

B) INSTITUCIONALIZAÇÃO;
•Amores ou sexo que mata;
•Violência do Estado; (Estado laico, diversidade;
impunidades, fim de direitos sexuais e
reprodutivos, aborto criminalizado, assédios).
Representações
Pode-se falar de
violência de gênero
considerando-se:
1. A heterossexualidade tem sido o princípio
ordenador no direito, na medicina, nas
práticas sociais, em muitos campos – Nesse
sentido toda sexualidade é significada a
partir dessa matriz de inteligibilidade
heterossexual como principio ordenador que é
portanto, compulsória.
Ocorre no interior de um padrão de linearidade
entre sexo – gênero e desejo em que
elementos da cultura são definidos a partir a
conformação anatômica.
2. Consequências dessa matriz de
inteligibilidade universalizada
1. A heteronormatividade (especialmente, do
discurso médico no caso dos transexuais,
sobre lésbicas); 2. E a homofobia = prática de
discriminação com todos os estereótipos;
defesa do patriarcado (homens afeminados
são desqualificados), tem ligação estreita com
o sexismo - não se trata de um processo de
discriminação das minorias – está presente em
todas as partes em relação a muitas formas.
Todas as fobias (lesbofobia, transfobia.......).
3.
Tomada como padrão, a heterossexualidade pr
omove não apenas a violência física, mas tamb
ém a violência simbólica contra quem se desvia
da norma
Do que falamos quando
falamos em sexualidade?

Preconceitos X direitos
Os princípios de Yogyakarta,
• Princípios sobre a aplicação da legislação
internacional de direitos humanos em
relação à orientação sexual e identidade de
gênero estabelecidos na REUNIÃO DE ESPECIALISTAS
REALIZADA EM YOGYAKARTA, INDONÉSIA, ENTRE 6 E 9 DE NOVEMBRO DE 2006,

Todos os seres humanos nascem livres e


iguais em dignidade e direitos. Os seres
humanos de todas as orientações sexuais
e identidades de gênero têm o direito de
desfrutar plenamente de todos os direitos
humanos.
PRINCÍPIOS DE
YOGYAKARTA (2006)

PRINCÍPIOS SOBRE A APLICAÇÃO DA


LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL DE
DIREITOS HUMANOS EM RELAÇÃO
À ORIENTAÇÃO SEXUAL E IDENTIDADE DE
GÊNERO (
http://www.dhnet.org.br/direitos/sos/gays/principios_
de_yogyakarta.pdf
).
Os princípios de Yogyakarta, - referência
internacional destaca:
1) Compreendemos por identidade de
gênero a profundamente sentida
experiência interna e individual do
gênero de cada pessoa que pode ou
não corresponder ao sexo atribuído no
nascimento;
• 2) Isso inclui o senso corporal (que
pode envolver, por livre escolha,
modificação da aparência ou função
corporal por meios médicos,
cirúrgicos ou outros e outras
expressões de gênero, inclusive
vestimenta, modo de falar e
maneirismos.
Os Estados deverão:
RESPONSABILIZAÇÃO
(“ACCOUNTABILITY”)
• Toda pessoa cujos direitos humanos sejam
violados, inclusive direitos referidos nestes
Princípios, tem o direito de responsabilizar por
suas ações, de maneira proporcional à seriedade
da violação, aquelas pessoas que, direta ou
indiretamente, praticaram aquela violação, sejam
ou não funcionários/as públicos/as. Não deve
haver impunidade para pessoas que violam os
direitos humanos relacionadas à orientação sexual
ou identidade de gênero.
Combater a Homofobia
Uma questão de direitos
humanos, lesbofobia,
transfobia,
• O que é a homofobia?
HOMOFOBIA

A homofobia = dispositivo que mantém a ordem da


heteronormativa na vida social – e a escola é um dos
espaços prioritários para a garantia dessa ordem.
A escola promove os valores compartilhados e à
cidadania.
• HOMOFOBIA – De acordo com o II Relatório sobre
violência homofóbica no Brasil, produzido pela
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da
República em 2012, foram reportadas 27,34
violações de direitos humanos de caráter
homofóbico por dia no país, e 13,29 pessoas foram
vítimas deste tipo de violência por dia. No total,
foram registradas 3.084 denúncias de 9.982
violações relacionadas à população LGBT. Em
60% das denúncias as vítimas eram gays.
A homofobia viola a igualdade, impede o
reconhecimento, autoriza práticas de violação de
direitos humanos. Não há fundamento
moral ou ético possível e aceitável
para a homofobia. Um homófobo
precisa ser silenciado e suas práticas
reprimidas.......
CRIMINALIZAÇAÕ DA HOMOFOBIA
• Paradoxo para quem acredita na educação como um
dos principais sistemas de promoção da igualdade. Não
há sistema de crença que legitime a homofobia, isso
não é de Deus,, - nenhuma religião autoriza o discurso
do ódio, muito menos na escola".
• Não não há como se apelar à expressão religiosa
para justificar o discurso homofóbico como
expressão da liberdade de crença. Religião não
autoriza ou legitima o discurso do ódio. E menos
ainda nas escolas, onde ensino religioso é ainda
pouco regulamentado pelo MEC.
Quem são os homofóbicos?
Os homófobos podem ser os professores, os
diretores das escolas, os pais das crianças.
A resistência homofóbica e heteronormativa ronda
as ações de igualdade sexual. Ex: a controvérsia
dos vídeos educativos sobre sexualidade, os kit
anti-homofobia do MEC.
****Inclusão de conteúdos sobre orientação sexual e diversidade
de gênero nos currículos escolares e na formação de professores é a
principal reivindicação do movimento LGBTT para o Plano Nacional
de Educação (PNE - PL 8035/10).
Em discussão no Congresso, o PNE estabelece metas para o setor no
período de 2011 a 2020.
Só tem um jeito de se viver?
• Simplesmente romper o silêncio já parece
insuportável para a moral
heteronormativa que se mantém por um braço
violento – a homofobia – e por um braço
opressor silencioso – a hetenormatividade
compulsória que falsamente supõe o
acoplamento pênis-vagina como destino da
reprodução social e biológica da humanidade.
Criminalização da Homofobia
• Representa um instrumento de garantia da
igualdade.
• 318 homossexuais foram mortos no Brasil em
2015 (Grupo Gay da Bahia (GGB) - mais antiga
entidade do gênero do Brasil - Desse total de
vítimas, o GGB diz que 52% são gays, 37%
travestis, 16% lésbicas, 10% bissexuais. Em 2014
foram anotados 326 assassinatos.
• 2016 - já se contam 151 mortos.
O mais idoso, um renomado médium do Rio de
Janeiro, 74 anos, encontrado morto amordaçado,
com marcas de tortura e espancamento,
identificado como homossexual pela ex-esposa", diz
um trecho do relatório, acrescentando que
"predominam as mortes de LGBT menores de 29
anos (58%), pessoas portanto, na flor da idade
produtiva. Menores de 18 anos representam 21%,
sugerindo a precocidade da iniciação homoerótica e
grande vulnerabilidade, sobretudo das jovens
travestis e transexuais profissionais do sexo".
Destinos fora da norma heterossexual

Só há dois destinos aos fora da norma


heterossexual: serem vítimas da violência
homofóbica ou serem refugiados de sua patrulha
moral.
( Antropóloga,
Professora da Universidade de Brasília e
pesquisadora da Anis – Instituto de Bioética, Direitos
Humanos e Gênero. Apresentação na Audiência Pública Homofobia nas Escolas. Camara dos
Deputados. Novembro de 2011).
HOMOFOBIA E NÃO Bullying ???
Segundo Diniz - Bullying é um neologismo com
origem na língua inglesa que diz algo como
“provocação”. A provocação entre crianças é parte
de uma socialização naturalizada – se provoca para
se reconhecer os limites e se definir frente ao
outro como um espelho. Mas há outra raiz no
conceito de bullying: quem provoca e agride é o
“valentão”. Há desigualdade de força e de potência
no sujeito que atua pelo bullying.
O ator do bullying é alguém que sabe que tem
força – e aqui é força física. Ele atua sozinho ou em
grupo.
Diniz diz:
Alguns dizem que o bullying sempre existiu. Sim,
me lembro do meu tempo de escola – sempre
havia provocações contra os gordinhos, as meninas
vesgas ou as crianças com deficiência. Me lembro
também do sofrimento dessas crianças. Em geral,
eram crianças solitárias. Tento imaginar as
consequências dessas provocações injustas para os
adultos de hoje.
Elas foram refugiadas da fúria contra a diferença
marcada no corpo.
Elas são sobreviventes do bullying escolar, de um
tempo em que o neologismo não nos socorria para
expressar a indignação pela provocação injusta.
Bullying - é uma violência contra o corpo fora da
norma - Aqui está a chave do bullying...............
Segue - Vejam que não falo em normal, pois norma e
normal se confundem para a imposição das regras sob o
corpo.
O corpo que foge da regra – seja nos olhos da menina
vesga, nas pernas do menino cadeirante, ou no cabelo da
menina negra – é matéria suficiente para ação do indivíduo
ou do grupo provocador.
Por isso, estranho o uso do neologismo de bullying para algo
tão antigo e persistente ao universo escolar, e com tantas
ramificações na discriminação.
A discriminação pelo corpo acompanhou a socialização de
todos nós nesta sala e acompanha a vida de todas as
crianças. Vivemos em uma ordem social que discrimina e
oprime a diferença no corpo.
BULLYING NOS PERMITIU ESCREVER ALGO
SILENCIOSO
•O bullying é um neologismo paradoxal. Ao mesmo tempo potente, pois
nos permitiu entrar na escola e descrever algo silencioso: a homofobia
nas práticas de provocação entre crianças ou entre
professores e crianças.

•Também esconde seu próprio fundamento na


sexualidade: retiramos a sexualidade do bullying, não falamos em
homofobia.

•A naturalização do bullying como algo comum e permanente à infância e à


escola esconde sua matriz heternormativa. O bullying não é espontâneo
nas crianças, não pode ser natural à socialização das crianças.
•A origem do bullying que nos interessa hoje é a homofobia, um
conceito poderoso e que precisa ser potencializado na escola.
https://www.facebook.com/
casamentoigualitario/photos/
CRIMINALIZAÇAÕ DA HOMOFOBIA
• Paradoxo para quem acredita na educação como um
dos principais sistemas de promoção da igualdade. Não
há sistema de crença que legitime a homofobia, isso
não é de Deus,, - nenhuma religião autoriza o discurso
do ódio, muito menos na escola".
• Não não há como se apelar à expressão religiosa
para justificar o discurso homofóbico como
expressão da liberdade de crença. Religião não
autoriza ou legitima o discurso do ódio. E menos
ainda nas escolas, onde ensino religioso é ainda
pouco regulamentado pelo MEC.
https://www.facebook.com/
casamentoigualitario/photos/
Quem são os homofóbicos?
Os homófobos podem ser os professores, os
diretores das escolas, os pais das crianças.
A resistência homofóbica e heteronormativa ronda
as ações de igualdade sexual. Ex: a controvérsia
dos vídeos educativos sobre sexualidade, os kit
anti-homofobia do MEC.
****Inclusão de conteúdos sobre orientação sexual e diversidade
de gênero nos currículos escolares e na formação de professores é a
principal reivindicação do movimento LGBTT para o Plano Nacional
de Educação (PNE - PL 8035/10).
Em discussão no Congresso, o PNE estabelece metas para o setor no
período de 2011 a 2020.
Só tem um jeito de se viver?
• Simplesmente romper o silêncio já parece
insuportável para a moral
heteronormativa que se mantém por um braço
violento – a homofobia – e por um braço
opressor silencioso – a hetenormatividade
compulsória que falsamente supõe o
acoplamento pênis-vagina como destino da
reprodução social e biológica da humanidade.
Destinos fora da norma heterossexual

Só há dois destinos aos fora da norma


heterossexual: serem vítimas da violência
homofóbica ou serem refugiados de sua patrulha
moral.
( Antropóloga, Professora da Universidade de Brasília e pesquisadora da Anis – Instituto de Bioética,
Direitos Humanos e Gênero. Apresentação na Audiência Pública Homofobia nas Escolas. Camara dos Deputados. Novembro de 2011).
Criminalização da Homofobia
• Representa um instrumento de garantia
da igualdade.
• Todos os anos, mais de 100 homossexuais são
barbaramente assassinados no Brasil, vítimas
de crimes homofóbicos: 1 assassinato a cada 3
dias, em média
• 2.802 homossexuais assassinados no Brasil
entre 1980 e 2007 (Fonte: GGB)
Destinos fora da norma heterossexual

Só há dois destinos aos fora da norma


heterossexual: serem vítimas da violência
homofóbica ou serem refugiados de sua patrulha
moral.

( Antropóloga,
Professora da Universidade de Brasília e
pesquisadora da Anis – Instituto de Bioética, Direitos
Humanos e Gênero. Apresentação na Audiência Pública Homofobia nas Escolas. Camara dos
Deputados. Novembro de 2011).
HOMOFOBIA E NÃO Bullying ???
Segundo Diniz - Bullying é um neologismo com origem na língua inglesa
que diz algo como “provocação”. A provocação entre crianças é parte de
uma socialização naturalizada – se provoca para se reconhecer os limites e
se definir frente ao outro como um espelho. Mas há outra raiz no conceito
de bullying: quem provoca e agride é o “valentão”. Há desigualdade de
força e de potência no sujeito que atua pelo bullying.
O ator do bullying é alguém que sabe que tem força – e aqui é força física.
Ele atua sozinho ou em grupo. Alguns dizem que o bullying sempre existiu.
Sim, me lembro do meu tempo de escola – sempre havia provocações
contra os gordinhos, as meninas vesgas ou as crianças com deficiência. Me
lembro também do sofrimento dessas crianças. Em geral, eram crianças
solitárias. Tento imaginar as consequências dessas provocações injustas
para os adultos de hoje.
Elas foram refugiadas da fúria contra a diferença marcada no corpo.
Elas são sobreviventes do bullying escolar, de um tempo em que o
neologismo não nos socorria para expressar a indignação pela provocação
injusta.
BULLYING NOS PERMITIU ESCREVER ALGO
SILENCIOSO
•O bullying é um neologismo paradoxal. Ao mesmo tempo potente, pois
nos permitiu entrar na escola e descrever algo silencioso: a homofobia
nas práticas de provocação entre crianças ou entre
professores e crianças.

•Também esconde seu próprio fundamento na


sexualidade: retiramos a sexualidade do bullying, não falamos em
homofobia.

•A naturalização do bullying como algo comum e permanente à infância e à


escola esconde sua matriz heternormativa. O bullying não é espontâneo
nas crianças, não pode ser natural à socialização das crianças.
•A origem do bullying que nos interessa hoje é a homofobia, um
conceito poderoso e que precisa ser potencializado na escola.
Bullying - é uma violência contra o corpo fora da
norma - Aqui está a chave do bullying...............
Segue - Vejam que não falo em normal, pois norma e
normal se confundem para a imposição das regras sob o
corpo.
O corpo que foge da regra – seja nos olhos da menina
vesga, nas pernas do menino cadeirante, ou no cabelo da
menina negra – é matéria suficiente para ação do indivíduo
ou do grupo provocador.
Por isso, estranho o uso do neologismo de bullying para algo
tão antigo e persistente ao universo escolar, e com tantas
ramificações na discriminação.
A discriminação pelo corpo acompanhou a socialização de
todos nós nesta sala e acompanha a vida de todas as
crianças. Vivemos em uma ordem social que discrimina e
oprime a diferença no corpo.
O bullying na escola é uma expressão
primária e permanente da homofobia em
nossa vida social.
O neologismo bullying é palatável às escolas, às famílias, à moral heterossexual.
Não falamos em crianças e adolescentes e suas práticas sexuais fora da norma.
Falamos em “provocações” e protegidas por um neologismo que a distância
lingüística não nos provoca diretamente. Sentimos diferentemente, como se
fosse, falsamente, um novo fenômeno. Não é.
A homofobia está na escola, assim como na Avenida Paulista. O bullying na escola
é uma expressão primária e permanente da homofobia em nossa vida social.

A recomendação de Diniz, que compartilho é que reconheçamos a força


política do conceito de homofobia. Não falamos de bullying apenas, mas de
crianças e adolescentes refugiado pela fúria homofóbica, que precisamos proteger
para que não se transformem em vítimas da homofobia no futuro ou mesmo na
escola.
Quem são as vítimas de bullying?
O menino que se tranveste,
a menina que gosta de outras meninas,
o transexual que não sabe que banheiro usar na escola.
Com raras exceções de uma política inclusiva à violência
corporal, raramente ouve-se falar em bullying contra as
crianças obesas ou com impedimentos corporais.
Quando os gordinhos aparecem, são como um apêndice da
diversidade no bullying.
O alvo são os fora da norma heterossexual.
Quando o tema é a cor da pele, não falamos em bullying.
Temos um nome para o bullying com fundamento na cor da
pele: racismo.
O bullying sexual tem um nome, homofobia.
Mudanças Históricas importantes
• Em 1985, o Conselho Federal de Medicina,
antecipando-se à Organização Mundial de
Saúde, tornou sem efeito a
classificação da homossexualidade
como doença, até então denominada
‗desvio ou transtorno sexual‘.
UFPE ver se possível
https://www.facebook.com/diretorialgbtufpe?fref=ts
Para tal penso que é preciso
considerar
• O lugar da instituição;
• O lugar do masculino;
• Como pensar a instituição do
masculino - seu sentido subjetivo e sua
estruturação na cultura mais geral e
dentro das instituições? O lugar do
Estado
HIBRIDOS
• Pensar representações
hibridas
• Olhar, escutar e visibilizar
a experiência das
pessoas.
• Essa bicategorização é apenas uma construção
social do dado biológico, que pode ser
essencialmente outra, que passa a ser também
compreendida e representada de outro
modo, na medida em que são construídos
novos métodos de análise e modificados os
enfoques epistemológicos dos estudos
sobre sexo, impeditivo da problematização
sobre o que é assumido como natural.
(LAQUER, Thomas. La construccion del sexo.
Cuerpo y género desde los griegos hasta Freud.
Madrid: Ediciones Cátedra, 1994. p. 15 – 53).
• No prefacio do livro El gênero en disputa: El
feminismo y la subversión de la identidad versão
española de BUTLER, Judith. Problemas de
gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio
de Janeiro: civilização brasileira, 2003, a autora,
diz que seu objetivo é revisar de forma critica o
vocabulário básico do pensamento.
• Em 1989, quando a autora começou a escrever
pretendia criticar um suposto heterossexual
dominante na teoria literária feminista. O texto
pretendia destruir os discursos de “verdade”
para deslegitimar as práticas minoritárias.
BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo
e subversão da identidade. Rio de Janeiro:
civilização brasileira, 2003.
• Gênero em disputa tende a interpretar juntos,
por uma via sincrática às várias e vários
intelectuais francesas. (Levi-Strauss, Foucault,
Lacan, Kristeva, Wittig).

• O livro foi um longo caminho de apropriação


de muitas linguagens.
• O texto apresenta como as práticas sexuais
não normativas questionam a estabilidade de
gênero?
• Como certas práticas sexuais exigem a
pergunta: que é uma mulher? Que é um
homem?

• Será justo que a sociedade defina


o destino de uma pessoa
exclusivamente a partir do seu
órgão genital?
• Se o gênero já não se entende como algo que
se consolida através da sexualidade normativa
então, há uma crise de gênero em disputa que
se propôs a entender o medo e a ansiedade
que algumas pessoas experimentam ao vir a ser
gay.
• Medo de perder seu lugar no gênero, medo de
não saber que terminará sendo, se dorme com
o mesmo gênero.
• Isto cria uma certa crise na ontologia
experimentada no nível da sexualidade e da
linguagem.
• Esta questão foi se agravando à medida em
que se foi refletindo sobre várias formas de
pensar o gênero – surgidas a luz dos
transgêneros e das transsexualidades, a
paternidade e a maternidade lésbicas e gays e
as novas identidades lésbicas masculina e
feminina.
Está posição coloca imediatamente a pergunta:
para que gênero como construção cultural, se o
próprio sexo não é mais fixo? Segundo Butler,
ao contrário de precipitadamente responder que
gênero não faz mais sentido, é preciso dizer
que olhar para a desconstrução da
categoria sexo só agrega a gênero a
confirmação daquilo que ele sempre
expressou. As realidades constroem-se na
cultura, na história e nas relações. Desse modo,
constroem-se também a materialidade dos
corpos, assim como a linguagem e os
instrumentos tecnológicos.
• Esse processo de construção é um dos pontos
chave do texto de Judith Butler – mas ela o faz,
mais para pensar a própria categoria
construção questionando deste modo, o
processo da própria construção como
contraposto a fixidez.
• Se contrapõe a ideia de uma identidade fixa,
presente no indivíduo, ou em um referencial
teórico analítico do qual emergem todas as outras
definições.
Na abordagem essencialista
• A convicção de que as diferenças biológicas entre
os sexos, são irredutíveis à construção social e
que elas enviam em última instância à uma
dicotomia natural é particularmente persistente.
Ela estrutura o senso comum que vê dentro da
diferença entre pênis e vagina a
prova tangível de uma fronteira biológica
absoluta entre dois e somente dois sexos.
Para Butler
• a materialidade do sexo não é
um simples fato biológico é efeito
dissimilado do poder, das normas regulatórias
heterossexistas (sexismo e norma
heterossexual). Existe uma construção
discursiva das diferenças materiais entre os
sexos, porém, não significa jamais uma simples
repetição e nem que o discurso seja a causa.
• A ideia de um sexo “nu” pré - discursivo que
poderia escapar a marca social é problemática,
na medida em que ele pressupõe um limite
biológico resistente a construção social.
• É este resíduo biológico que persiste como
referente material do termo sexo.

(PEYRE,E.;WIELS,J.;FONTON,M. Sexe Biologique et Sexe Social. In: HURTIG, C.;KAIL M.;


ROUCH, H. (coordonné). Sexe Biologique et Sexe Social. Paris:CNRS Editions, 2002;
KRAUSS, Cynthia. La bicatégorisation par sexe à l’ épreuve de la science”. Le cas des
recherches en biologie sur la détermination du sexe chez les Humains. In: GARDEY, D.;
LOWY, I. . L’invention du naturel. Paris: Éditions des archives contemporaines, 2000.
Département de rhétorique, Université de Californie, Berkeley: États – Unis.
2) Repensar a natureza como um
conjunto de interelações dinâmicas
• A sociedade tolera, muito mal a
ambiguidade, e para viver feliz, médicos e
psicólogos consideram necessário ter uma
identidade sexual bem definida, como atestam
os graves problemas das crianças pseudo –
hermafroditas, onde o aparelho genital não está
de acordo com suas gônadas (ovários ou
testículos) e seu sexo cromossômico( os
verdadeiros hermafroditas, muito raros, tem
um duplo aparelho sexual, macho e fêmea).
• Os médicos têm assim proposto tomar uma decisão mais ou menos arbitraria no
nascimento de uma criança pseudo – hermafrodita e de decretar que esta criança é
uma verdadeira menina, ou um verdadeiro menino, depois o submetem a um
tratamento medico cirúrgico, reparador, ou hormonal, afim de transforma-lo em um
Assim uma criança que
indivíduo desprovido da ambiguidade sexual.

tem todas as características sexuais de um


menino (formula cromossômica XY, a presença
de testículos) mais que possui um pênis muito
pequeno será transformada em menina. A
essência da masculinidade é com efeito
seguidamente definida como a capacidade de
penetrar uma mulher, e é mais fácil tirar um
órgão imperfeito do que criar um outro em
seu lugar ( FAUSTO STERLING, 1997).
3) Provoca a revisão a partir da qual o social
atua unilateralmente sobre o natural e o
investe com seus parâmetros e seus
significados porque essa forma de
compreender que a natureza tem história (que
não é apenas social). O próprio sexo é, ele
próprio, um terreno conflagrado, formado
• A suposição segundo a qual a
humanidade é dividida em dois
sexos bem definidos não tem sempre
encontrado confirmação dentro das
atividades de pesquisa.
Primeira questão é que
• A natureza comporta bicategorização em gônadas sob as
diferenças que se constituem em genitália masculina e feminina,
“lidas” pela sociedade como normalidade, classificando-se,
portanto, todo o resto por anomalia.
Mas essa
dicotomização não expressa todos os outros
níveis constitutivos das correspondências (no
mesmo corpo) entre gônadas, cromossomos,
genes e fenótipos não correspondentes. Ela
expressa somente a da leitura da genitália; não se trata,
neste caso, de comportamento, mas de níveis físicos, de
corpo masculino ou feminino, que são traduzidos em
gênero.
• O sexo não é simplesmente
aquilo que alguém tem, ou uma
descrição estática = ele é uma
norma através da qual alguém
se torna viável – é o que
qualifica um corpo.
• Ela propõe - sair do debate entre
construcionismo e essencialismo para poder
perceber a desconstrução – retornar à
noção de matéria, não como local ou
superfície, mas como um processo
de materialização que se estabiliza
ao longo do tempo para produzir o
efeito de fronteira, de fixidez e de
superfície – daquilo que chamamos
de matéria.
• O abjeto designa aquelas zonas “
inóspitas” e inabitáveis da vida
social – que são habitadas por
aqueles que não gozam do status de
sujeito – mas que habitam sob o
signo do inabitável – é necessário
para que o domínio do sujeito seja
circunscrito.
• O sujeito é constituído através da força da
exclusão e da abjeção.
• A formação do sujeito exige uma
identificação com o fantasma
normativo do sexo. Essa
identificação ocorre através de um
repúdio que produz um domínio
de abjeção, num repúdio sem o
qual o sujeito não pode emergir.
• A materialização de um dado sexo
diz respeito, à regulação de
práticas identificatórias de forma
que a identificação com a
abjeção do sexo será
persistentemente negada.
Construção como posições de
sujeitos
• princípios organizadores embutidos de
práticas materiais e institucionais;
• esse eu é pensante e falante;
• pensar os corpos diferentemente é parte de
uma luta conceitual e filosófica
• 1. a construção não como um marco singular,
nem como um processo causal iniciado por um
sujeito, culminado em um conjunto de efeitos
fixos. Ela própria é temporal – processo que
atua através da reiteração de normas – o sexo
é produzido e, ao mesmo tempo
desestabilizado no curso dessa reiteração por
fissuras e fossos – por instabilidades e
possibilidades de rematerialização.
2. a remodelação da matéria dos
corpos como efeito de uma
dinâmica do poder, de tal forma
que a matéria dos corpos será
indissociável das normas
regulatórias que governam e sua
materialização e a significação
daqueles efeitos materiais;
• 3. a performatividade não é ato
pelo qual o sujeito traz à
existência aquilo que ela ou ele
nomeia, mas, ao invés disso,
como aquele poder reiterativo do
discurso para produzir os
fenômenos que ele regula e
constrange;
• 4. a construção do sexo não mais
como um dado corporal sobre o
qual o construto de gênero é
artificialmente imposto, mas
como uma norma cultural que
governa a materialização dos
corpos;
• 5. repensar o processo pelo qual uma
norma corporal é assumida,
apropriada, adotada: vê-la não como
algo, que se passa com o sujeito,
mas, ao invés disso, que o sujeito, o
eu falante, é formado em virtude de
ter passado por esse processo de
assumir um sexo;
• 6. uma vinculação desse
processo de “assumir” um sexo
com a questão da identificação e
com os meios discursivos pelos
quais o imperativo heterossexual
possibilita certas identificações
sexuadas e impede ou nega
outras identificações.
• Esta matriz excludente pela qual os
sujeitos são formados exige, a produção
simultânea de um domínio de
seres abjetos, aqueles que ainda
não são sujeitos, mas que formam o
exterior constitutivo relativamente ao
domínio do sujeito.
Identidade
• O processo de construção como contraposto
a fixidez como um apriori que se contrapõe a
ideia de uma identidade fixa, presente no
indivíduo, ou em um referencial teórico
analítico do qual emergem todas as outras
definições. Este suposto fundamento para
gênero é colocado aqui em perspectiva para
percorrer o caminho da sua própria
desconstrução.
• Butler se pergunta: se gênero é
uma construção – quem executa
essa construção?
• Normalmente, para responder a essa questão é
preciso pressupor um agente que precede e
desempenha a atividade no ato de construir.
Caso contrário seria impossível explicar a
motivação e a direção da construção sem esse
sujeito.
• O eu e o nós – não precede, nem
segue o processo dessa generificação
– apenas emerge no interior das
próprias relações de gênero e como
matriz dessas relações. Trata-se mais
de um lugar de disputa política, do
que de uma postura fundamentalista.
• O sujeito que se faz a si mesmo, é sempre de
alguma forma o eu que seleciona dentre
inúmeras possibilidades e que é constituído
por elas.
Desse ponto de vista o eu não é
situado - mas segundo Butler:
• Constituído por posições e essas posições
não são meros produtos teóricos, mas são
princípios organizadores totalmente
embutidos de práticas materiais e arranjos
institucionais, aquelas matrizes de poder e
discurso que me produzem como sendo viável.
Com efeito, esse eu não seria um eu pensante e falante se não
fosse pelas próprias posições a que me oponho, pois elas, as que
sustentam que o sujeito deve ser dado de antemão, que sustentam
que o discurso é um instrumento ou reflexão desse sujeito, já
fazem parte do que me constitui. (BUTLER, 1998, p.24).
• Pensadoras como Judith Butler e Chantal Mouffe defendem de forma
explícita que desconstruir o sujeito não é declarar sua morte. Ou seja, com
a desconstrução da categoria 'mulher', as autoras não estão propondo o
abandono da categoria, mas sua re-significação.
• Para Judith Butler, a ideia de identidade de gênero tem sempre um caráter
normatizador, porque implica que se construa algum tipo de unidade, e a
busca da unidade é em si mesma normatizadora e excludente, reificando
as noções de sexo e de gênero. Desse modo, para a autora, a crítica da
política identitária e do fundamentalismo como política de exclusão é uma
questão central para o feminismo.
• Isso, porém, para Butler, não representa riscos para a política feminista.
Ao contrário, é sua própria possibilidade.
• Nessa perspectiva, a política de identidade apresenta limites para a
mobilização da política feminista na medida em que a tentativa de
unificação acaba por produzir resistências e formação de facções no
interior do feminismo. Assim, Butler rejeita a identidade como ponto de
partida para a política feminista e defende que desconstruir o sujeito do
feminismo não é declarar a sua morte, mas libertá-lo de seu caráter
normativo e fixo, que mantém e reproduz subordinação.
• (Mariano, Rev. Estud. Fem. vol.13 no.3  Florianópolis Sept./Dec. 2005
Parece que a teoria postula fundamentos sem
cessar e forma comumente compromissos
metafísicos implícitos, mesmo quando busca se
prevenir contra isso; os fundamentos funcionam
como o inquestionado e o inquestionável em
qualquer teoria. Todavia, esses “fundamentos”,
isto é, as premissas que funcionam como base
autorizante, não são eles mesmos constituídos
mediante exclusões que, se levadas em conta,
expõem a premissa fundamental como uma
suposição contingente e contestável?
Quantas “universalidades” existem e em que
medida o conflito cultural pode ser
compreendido como o choque de um conjunto
de “universalidades” presumidas e
intransigentes, um conflito que não pode ser
negociado recorrendo a uma noção
culturalmente imperialista do “universal”, ou
antes, que só se resolverá por esse recurso ao
custo de violência?
Anunciar essa noção então como o
instrumento filosófico que negociará entre
conflitos de poder é exatamente
proteger e reproduzir uma posição de poder
hegemônico instalando-a no
lugar metapolítico da máxima normatividade.
Pode parecer, a princípio, que estou simplesmente
pedindo uma “universalidade” mais concreta e
internamente diversificada, uma noção mais
sintética e inclusiva do universal, e dessa forma,
comprometida com a própria
noção fundamental que procuro solapar. Mas
creio que minha tarefa é
significativamente diferente daquela
que articularia uma universalidade
abrangente.
Em primeiro lugar, uma tal noção totalizadora só
poderia ser alcançada ao custo de produzir
novas exclusões.
O termo “universalidade”
teria de ficar permanentemente aberto,
permanentemente contestado,
permanentemente contingente, a
fim de não impedir de antemão
reivindicações futuras de inclusão.
Com efeito, de minha posição e de
qualquer perspectiva historicamente
restringida, qualquer conceito totalizador
do universal impedirá, em vez de autorizar,
as reivindicações não antecipadas
e inantecipáveis que serão feitas sob o signo
do “universal”.
Nesse sentido, não estou me desfazendo da
categoria, mas tentando aliviá-la de seu peso
fundamentalista, a fim de apresentá-la como
um lugar de disputa política permanente.
• Nenhum sujeito é seu próprio ponto de partida;
e a fantasia de que o seja só pode desconhecer
sua relações constitutivas refundindo-as como o
domínio de uma externalidade
contrabalançadora. Com efeito, pode-se levar
em conta a afirmação de Luce Irigaray de que o
sujeito, entendido como uma fantasia de
autogênese, é sempre já masculino. Do ponto de
vista psicanalítico, essa versão do sujeito é
constituída por meio de uma espécie de
rejeição ou mediante a repressão primária de
sua dependência do maternal.
E tornar-se
um sujeito com base nesse modelo não é, com
certeza, um objetivo feminista.
A crítica do sujeito não é uma negação ou
repúdio do sujeito, mas um
modo de interrogar sua construção como
premissa fundamentalista ou dada
de antemão.
• Em certo sentido, o sujeito é constituído
mediante uma exclusão e diferenciação, talvez
uma repressão, que é posteriormente
escondida, encoberta, pelo efeito da
autonomia.
Nesse sentido, a autonomia é a consequência
lógica de uma dependência negada, o que
significa dizer que o sujeito autônomo pode
manter a ilusão de sua autonomia desde que
encubra o rompimento que a constitui.
Essa dependência e esse rompimento já são
relações sociais, aquelas que precedem e
condicionam a formação do sujeito.
Em consequência, não se trata de uma relação em
que o sujeito encontra a si mesmo, como uma das
relações que formam sua situação. O sujeito é
construído mediante atos de diferenciação
que o distinguem de seu exterior
constitutivo, um domínio de alteridade
degradada associada convencionalmente ao
feminino, mas não exclusivamente.
Minha sugestão é que a capacidade de agir
pertence a um modo de pensar sobre as pessoas
como atores instrumentais que confrontam um
campo político externo. Mas se concordarmos
que política e poder já existem no nível em que o
sujeito e sua capacidade de agir estão articulados
e tornados possíveis, então a capacidade
de agir pode ser presumida somente ao custo da
recusa de inquirir sobre sua
construção.
Considere que a “capacidade de agir” não tem
existência formal ou, se a tem, não tem relação
com a questão em discussão. Em certo sentido, o
modelo epistemológico que nos oferece um
sujeito ou agente dado de antemão
se recusa a reconhecer que a capacidade de agir é
sempre e somente uma prerrogativa política.
Enquanto tal, parece essencial questionar as
condições de sua possibilidade, não a tomar por
uma garantia a priori.
Ao contrário, precisamos perguntar que
possibilidades de mobilização são produzidas com
base nas configurações existentes de discurso e
poder.
Onde estão as possibilidades de retrabalhar a
matriz de poder pela qual somos constituídos, de
reconstituir o legado daquela constituição, e de
trabalhar um contra o outro os processos de
regulação que podem desestabilizar regimes de
poder
existentes?
Pois se o sujeito é constituído pelo poder, esse
poder não cessa no momento em que o sujeito é
constituído, pois esse sujeito nunca está
plenamente constituído, mas é sujeitado e
produzido continuamente. Esse sujeito não é
base nem produto, mas a possibilidade
permanente de um certo processo de re-
significação, que é desviado e bloqueado
mediante outro mecanismo de poder, mas
que é a possibilidade de retrabalhar o
poder.
Para que o sujeito seja um ponto de partida prévio
da política é necessário adiar a questão da
construção e regulação política do próprio sujeito,
pois é importante lembrar que os sujeitos se
constituem mediante a exclusão, isto é, mediante
a criação de um domínio de sujeitos
desautorizados, pré-sujeitos, representações de
degradação, populações apagadas da vista
• Ler o texto : FUNDAMENTOS
CONTINGENTES: O FEMINISMO E A
QUESTÃO DO “PÓS-MODERNISMO”*
• JUDITH BUTLER** Cadernos pagu (11) 1998,
p.11-42
Regulação, cultura, natureza ,
diferenças.
• No texto “Regulações de gênero”, Judith Butler
(2006, p. 57-73) considera que vários trabalhos
realizados no campo dos estudos feministas
ou dos estudos de gays e lésbicas partem do
pressuposto de que o gênero é uma forma de
regulação social.
Estrutura unificada de dominação?
BUTLER, 1997, p.1-31
Não haveria uma regulação anterior ou autônoma em relação ao
gênero, pois, ao contrário, o sujeito gendrado só passa a existir na
medida de sua própria sujeição às regulações .
As regras que governam a identidade inteligível são parcialmente
estruturadas a partir de uma matriz que estabelece a um só tempo
uma hierarquia entre masculino e feminino e uma
heterossexualidade compulsória.
Nestes termos o gênero não é nem a expressão de uma essência
interna, nem mesmo um simples artefato de uma construção
social. O sujeito gendrado seria, antes, o resultado de repetições
constitutivas que impõem efeitos substancializantes. Com base
nestas definições, a autora chega a afirmar que o gênero é ele
próprio uma norma. (BUTLER, 2006, p. 58).
Formulação de Butler
• Ao invés de dispormos uma categoria paralelamente às
outras ao projetar cartografias do indivíduo, seria melhor
se considerássemos uma intersecção muito
movimentada, na qual vários vetores de diferença
estão em constante sobreposição,
deslocando uns aos outros, abrindo espaços
intermediários (in-between spaces) ou interstícios
nos quais o sujeito se posiciona, não importando quão
provisoriamente. Em termos dos discursos da
diferença, faz-se necessário enfatizar que esses
interstícios não devem continuar sendo percebidos
apenas como espaços ontológicos, abstrações
desconstrucionistas ou sinais da Diferença pura . Sem
dúvida, eles também são o produto, o material e os
efeitos simbólicos de desequilíbrios históricos.
Estrutura unificada de dominação?
BUTLER, 1997, p.1-31
Não haveria uma regulação anterior ou autônoma em relação ao
gênero, pois, ao contrário, o sujeito gendrado só passa a existir na
medida de sua própria sujeição às regulações .
As regras que governam a identidade inteligível são parcialmente
estruturadas a partir de uma matriz que estabelece a um só tempo
uma hierarquia entre masculino e feminino e uma
heterossexualidade compulsória.
Nestes termos o gênero não é nem a expressão de uma essência
interna, nem mesmo um simples artefato de uma construção
social. O sujeito gendrado seria, antes, o resultado de repetições
constitutivas que impõem efeitos substancializantes. Com base
nestas definições, a autora chega a afirmar que o gênero é ele
próprio uma norma. (BUTLER, 2006, p. 58).
Efeitos constitutivos de subjetividades......
As regulações de gênero não são apenas mais um
exemplo das formas de regulamentação de um poder mais
extenso, mas constituem uma modalidade de regulação
específica que tem efeitos constitutivos sobre a
subjetividade.

.........subjetivado pelo gênero, o “eu”


nem precede, nem segue o processo dessa “criação de um
gênero”, mas apenas emerge no âmbito e como a matriz
das relações de gênero propriamente ditas
(BUTLER, 1993, p. 7).
A identidade não é pré-existente
Se os atributos de gênero são performativos e não
uma identidade pré-existente, a postulação de um
“verdadeiro sexo” (FOUCAULT, 1994) ou de uma
“verdade sobre o gênero” revela antes uma ficção
reguladora.

****Esta ficção permanece pela repetição


reiterativa,
podemos pensar que a aproximação de um ideal de
gênero – masculino ou feminino – nunca é de fato
completa, e que os corpos nunca obedecem
totalmente às normas pelas quais sua materialização
é fabricada. (BUTLER).
Instabilidade e Desidentificação
• A instabilidade das normas gênero eo fato de
estarem abertas à necessidade de repetição pode
instituir processos de reaproveitamento
• DESIDENTIFICAÇÃO - crucial para a rearticulação da
contestação democrática tanto da teoria queer,
quanto a política feminista – podem ser mobilizadas
através práticas que enfatizam a desidentificação
com aquelas normas regulatórias pelas quais a
diferença sexual é materializada.
• Identificar quase os corpos que pesam e quais devem
emergir. Processos de reiteração, abjeção,
desidentificação........
• Tensão com modelos estruturalistas
• http://www.leticialanz.org/passando-como-m
ulher/
Identificações múltiplas ....
• Os desvios coerentemente heterossexualizados requerem que as identificações
se efetuem sobre a base de corpos similarmente sexuados, e que o desejo se
desvie através da divisão sexual para membros do sexo oposto.

Mas, se um homem pode identificar-se com sua mãe e desejar


partindo dessa identificação, de algum modo, ele já confundiu a
descrição psíquica do desenvolvimento de gênero estável. E se
esse mesmo homem deseja outro homem ou uma mulher, será
que o seu desejo é homossexual, heterossexual ou mesmo
lésbico?E o que significa restringir qualquer
indivíduo dado a uma única identificação?
(BUTLER, 1993, p.99).
 
 
Butler
Afirma que, se alguém “é” mulher, isso não é tudo que tal
sujeito é; o termo não é exaustivo, não porque uma
“pessoa” pré - gendrada transcende uma parafernália
específica do seu gênero, mas porque o gênero não é
sempre constituído de forma coerente e consistente nos
diferentes contextos históricos, e porque o gênero é
intersectado por modalidades raciais, étnicas, sexuais,
regionais e de classe das identidades discursivamente
constituídas. Como resultado, torna-se impossível separar
o “gênero” das intersecções políticas e culturais através
das quais ele é invariavelmente produzido e mantido
• No prefacio do livro El gênero en disputa: El
feminismo y la subversión de la identidad versão
española de BUTLER, Judith. Problemas de
gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio
de Janeiro: civilização brasileira, 2003, a autora,
diz que seu objetivo é revisar de forma critica o
vocabulário básico do pensamento.
• Em 1989, quando a autora começou a escrever
pretendia criticar um suposto heterossexual
dominante na teoria literária feminista. O texto
pretendia destruir os discursos de “verdade” para
deslegitimar as práticas minoritárias.
.

***Seriam os binários de gênero tão


monstruosos e tão terríveis que por
definição se afirme que qualquer intento
de desconstrução seja impossível?
• A autora afirma que ao mesmo tempo em que
descartou o heterossexismo do núcleo do
fundamentalismo da diferença sexual, também
tomou as ideias do pós-estruturalismo Francês
para elaborar suas posições.
• Assim gênero em disputa é um trabalho de
tradução cultural – “não se tratava, porém, de
aplicar o pós-estruturalismo ao feminismo –
sim de expor essas teorias a uma reformulação
especificamente feminista (BUTLER, 2010, p.9).
• Gênero em disputa tende a interpretar juntos,
por uma via sincrática as várias e vários
intelectuais francesas. (Levi-Strauss, Foucault,
Lacan, Kristeva, Wittig).

• ***Tensão entre o eurocentrismo para a


perspectiva americana e para a França a
ameaça da americanização. O livro foi um
longo caminho de apropriação de muitas
linguagens.
• Enquanto na década de 1980 muitas feministas
assumiram que o lesbianismo se unia no feminismo
lésbico.
• Gênero em disputa tratava de enfrentar a ideia de
que a prática lésbica materializa a teoria feminista e
estabelece uma relação mais problemática entre os
termos.
• Neste texto o lesbianismo supõe um regresso ao que
é mais importante a respeito de ser mulher.
Tampouco, consagra a feminidade, nem mostra um
mundo ginocêntrico.
O lesbianismo não é assumido como
realização erótica de uma série de
crenças políticas. Ao contrário, o texto
apresenta como as práticas sexuais não
normativas questionam a estabilidade de
gênero? Como certas práticas sexuais
exigem a pergunta: que é uma mulher?
Que é um homem?
• Se o gênero já não se entende como algo
que se consolida através da sexualidade
normativa então, há uma crise de gênero em
disputa que se propôs a entender o medo e
a ansiedade que algumas pessoas
experimentam ao vir a ser gay. Medo de
perder seu lugar no gênero, medo de não
saber que terminará sendo, se dorme com o
mesmo gênero.
• Isto cria uma certa crise na ontologia
experimentada no nível da sexualidade e da
linguagem. Esta questão foi se agravando à
medida em que se foi refletindo sobre várias
formas de pensar o gênero – surgidas a luz
do transgênero e da transsexualidade, a
paternidade e a maternidade lésbicas e gays
e as novas identidades lésbicas masculina e
feminina.
Está posição coloca imediatamente a pergunta:
para que gênero como construção cultural,
se o próprio sexo não é mais fixo? Segundo
Butler, ao contrário de precipitadamente
responder que gênero não faz mais sentido, é
preciso dizer que olhar para a desconstrução
da categoria sexo só agrega a gênero a
confirmação daquilo que ele sempre
expressou. As realidades constroem-se na
cultura, na história e nas relações. Desse
modo, constroem-se também a
materialidade dos corpos, assim como a
linguagem e os instrumentos tecnológicos.
• Esse processo de construção é um dos pontos
chave do texto de Judith Butler – mas ela o faz,
mais para pensar a própria categoria
construção questionando deste modo, o
processo da própria construção como
contraposto a fixidez. Se contrapõe a ideia de
uma identidade fixa, presente no indivíduo, ou
em um referencial teórico analítico do qual
emergem todas as outras definições. Este
suposto fundamento para gênero é colocado
aqui em perspectiva para percorrer o caminho
da sua própria desconstrução.
• Para Butler a materialidade do sexo – longe de
ser um simples fato biológico é efeito
dissimilado do poder, das normas regulatórias
heterossexistas (sexismo e norma
heterossexual). Existe uma construção
discursiva das diferenças materiais entre os
sexos, porém, não significa jamais uma simples
repetição e nem que o discurso seja a causa. O
sexo é uma categoria normativa que produz,
circunscreve e regula o corpo permitindo ou
interditando certas identificações para produzir
um corpo sexuado, culturalmente inteligível.
Campo queer
• Tarefa – considerar a ameaça de perturbação não
como um questionamento permanente das normas
sociais condenando ao fracasso – mas como um
recurso critico na luta para articular os próprios termos
da legitimidade e da inteligibilidade simbólica.
DESIDENTIFICAÇÃO - crucial para a rearticulação da
contestação democrática tanto da teoria queer,
quanto a política feminista – podem ser mobilizadas
através práticas que enfatizam a desidentificação
com aquelas normas regulatórias pelas quais a
diferença sexual é materializada. Identificar quais os
corpos que pesam e quais devem emergir. (BUTLER).
1. Diferença sexual quando evocada como
questão referente as diferenças materiais é
simultaneamente marcada e formada por
práticas discursivas;
2. Afirmar que a diferença sexual é
indissociável de uma demarcação discursiva
não é a mesma coisa que afirmar que o
discurso causa a diferença;
3. O sexo produz a norma. Ele próprio é parte
de uma prática regulatória que produz os
corpos que ele governa;
4. A força regulatória manifesta-se como poder
produtivo – demarca, faz, circula, diferencia os
corpos;
5. A materialização do sexo ocorre ou não
através de certas práticas altamente
reguladas = construto ideal, forçosamente
materializado no tempo. Não é um fato fixo
em um corpo. É um processo pelo qual as
normas regulatórias materializam o sexo e
produzem esta materialização através de uma
reiteração forçada das normas.
• Como o gênero relaciona a noção de performatividade
de gênero com essa concepção de materialização?

• Primeiro caso - a performatividade não é um ato


singular pois ela é sempre uma reiteração de uma norma
ou um conjunto de normas.
Logo o resultado da reformulação da performatividade de
gênero não pode ser teorizada separadamente da prática
forçosa e reiterativa dos regimes sexuais regulatórios,
nem separadamente da explicação da agência
condicionada por aqueles próprios regimes de
discurso/poder, não pode ser confundida com o
voluntarismo ou o individualismo, muito menos com o
consumismo, e não pressupõe de forma alguma um
sujeito que possa escolher.
• A performatividade não é assim, um ato
singular, pois ela é sempre uma reiteração de
uma norma ou um conjunto de normas.

• O regime da heterossexualidade atua para


circunscrever e contornar a materialidade do
sexo e, essa materialidade é formada e
sustentada através de – e como – ocorre uma
materialização de normas regulatórias –
hegemonia sexual.
“[N]ão há identidade de gênero por
trás das expressões de gênero;
essa identidade é
performativamente constituída,
pelas próprias ‘expressões’ tidas
como seus resultados”. Judith Butler
O regime da heterossexualidade atua para
circunscrever e contornar a materialidade do
sexo e, essa materialidade é formada e
sustentada através de – e como – ocorre uma
materialização de normas regulatórias –
hegemonia sexual. As normas regulatórias
trabalham para materializar o sexo do corpo,
materializar a diferença sexual a serviço da
consolidação do imperativo heterossexual.
• A materialização de normas exige aqueles
processos identificatórios pelos quais as
normas são assumidas ou apropriadas, e essas
identificações precedem e possibilitam a
formação de um sujeito, mas não são,
estritamente falando, executadas pelo sujeito;
os limites dos construcionismo ficam expostos
naquelas fronteiras da vida corporal, onde
corpos abjetos ou deslegitimados deixam de
contar como corpos.
“Os corpos carregam discursos como
parte de seu próprio sangue.”
Judith Butler
• Para Butler se o eu e o nós emergem dentro
das próprias relações de gênero é preciso
perguntar-se sobre quais são as condições da
emergência e da operação do sujeito? Não se
trata de que essa generificação seja um ato ou
uma expressão humana intencional - trata-se
de uma matriz de gênero que é anterior à
emergência do humano - isso que ela chama
de condição possibilitadora.
• Segundo - o próprio sexo será compreendido
em sua normatividade. A materialidade do
corpo não pode ser pensada
separadamente da materialização daquela
norma regulatória.
• O sexo não é simplesmente aquilo que alguém
tem, ou uma descrição estática = Ele é uma
norma por meio da qual alguém se torna
viável - É o que qualifica o corpo.
• Para fugir a essas armadilhas dos a prioris da
heterossexualidade a autora propõe um retorno a
noção de matéria – não como local ou superfície,
mas como um processo de materialização que se
estabiliza ao longo do tempo para produzir o
efeito de fronteira, de fixidez e de superfície.
Deste modo ela desloca a questão de como
gênero é constituído - como e através de –
para pensar através de que normas
regulatórias o próprio sexo é
materializado. E porque é que tratar a
materialidade do sexo como um dado pressupõe e
consolida as condições normativas da sua própria
emergência.
Para isso se faz necessário pensar:
1. A construção não como um marco singular,
nem como um processo causal iniciado por um
sujeito, culminado em um conjunto de efeitos
fixos. Ela própria é temporal – processo que
atua através da reiteração de normas – o sexo
é produzido e, ao mesmo tempo
desestabilizado no curso dessa reiteração por
fissuras e fossos – por instabilidades e
possibilidades de rematerialização.
2. A remodelação da matéria dos corpos é efeito
de uma dinâmica do poder, de tal forma que a
matéria dos corpos será indissociável das
normas regulatórias que governam a sua
materialização e a significação daqueles
efeitos materiais;
3. A performatividade não é ato pelo qual o
sujeito traz à existência aquilo que ela ou ele
nomeia, mas, ao invés disso, como aquele
poder reiterativo do discurso para produzir os
fenômenos que ele regula e constrange;
• Gênero nunca pode ser estável: há sempre
subversões, transgressões
“Mulher-macho”
Mulher feminina....ufa que
conforto....
4. A construção do sexo não mais como um
dado corporal sobre o qual o construto de
gênero é artificialmente imposto, mas como
uma norma cultural que governa a
materialização dos corpos;
5. Repensar o processo pelo qual uma norma
corporal é assumida, apropriada, adotada: vê-
la não como algo, que se passa com o sujeito,
mas, ao invés disso, que o sujeito, o eu
falante, é formado em virtude de ter passado
por esse processo de assumir um sexo;
6. Uma vinculação desse processo de “assumir”
um sexo com a questão da identificação e com
os meios discursivos pelos quais o imperativo
heterossexual possibilita certas identificações
sexuadas e impede ou nega outras
identificações. Esta matriz excludente pela
qual os sujeitos são formados exige, a
produção simultânea de um domínio de seres
abjetos, aqueles que ainda não são sujeitos,
mas que formam o exterior constitutivo
relativamente ao domínio do sujeito
• A escolha de assumir certo tipo de corpo, viver ou
usar o corpo de certo modo, implica um mundo de
estilos corporais já estabelecidos. Escolher um gênero é
interpretar normas de gênero recebidas de um modo
que elas se reproduzem e organizem de novo. Menos
um ato radical de criação, o gênero é um projeto
tácito para renovar a história cultural nas nossas
próprias condições corpóreas; não é uma tarefa
prescritiva de que devamos nos esforçar por fazer,
mas aquela em que estamos nos esforçando sempre
desde o começo... a opressão não é um sistema auto
contido que confronta os indivíduos como objetivo
teórico ou nos gera como joguetes culturais. É uma
força dialética, que exige participação individual em
larga escala, a fim de manter sua vida maligna
(BUTLER, 1987).
• Butler (1987), por sua vez, questiona a
naturalização do sexo, mostrando, através de
Beauvoir, Wittig e Foucault, que o gênero é
uma construção em que a identidade natural
não corresponde à identidade de gênero. O
devir gênero ocorre, por um lado, no corpo
culturalmente construído, em um contexto
de sanções, tabus e prescrições, e, por
outro, na possibilidade de interação, a
partir do que é recebido. Ou seja, não somos
apenas culturalmente construídos, como, em
certo sentido construímo-nos a nós mesmos.
Simultaneamente
• Produz-se seres abjetos = aqueles que ainda
não são sujeitos - que formam o exterior
constitutivo relativamente ao domínio do
sujeito.
• O abjeto designa aquelas zonas inóspitas e
inabitáveis da vida social – que são habitadas
por aqueles que não gozam do status de
sujeito - mas cujo habitar sob o signo do
inabitável é necessário para que o domínio do
sujeito seja circunscrito.
O sujeito é constituído ...
a. Através da força da exclusão e da abjeção. A
formação do sujeito exige uma
identificação com o fantasma
normativo do sexo.
b. Essa identificação corre através de
um repúdio que produz um domínio
de abjeção, um repúdio sem o qual o
sujeito não pode emergir.
c. A materialização de um dado sexo diz respeito,
a regulação de práticas identificatórias de
forma que a identificação com a abjeção do
sexo será persistentemente negada.
Instabilidade e Desidentificação
• A instabilidade das normas gênero e o fato de
estarem abertas à necessidade de repetição pode
instituir processos de reaproveitamento
• DESIDENTIFICAÇÃO - crucial para a rearticulação da
contestação democrática tanto da teoria queer,
quanto a política feminista – podem ser mobilizadas
através práticas que enfatizam a desidentificação
com aquelas normas regulatórias pelas quais a
diferença sexual é materializada.
• Identificar quase os corpos que pesam e quais devem
emergir. Processos de reiteração, abjeção,
desidentificação........
• Tensão com modelos estruturalistas
• Identificar quais corpos que pesam e quais
devem emergir.

• Para tal faz-se necessário superar o próprio


processo que vai da Construção à
materialização.
Como pensar?

Construção como resultado de


apagamentos e exclusões que recusam a
articulação cultural;
• 1. Construção de gênero atua através de
meios excludentes, de forma que o humano é
não apenas produzido sobre e contra o
inumano, mas através de um conjunto de
apagamentos radicais, aos quais se recusa a
possibilidade de articulação cultural. Não é
suficiente falar que o humano é construído,
pois a construção é uma operação
diferenciada que produz o mais e o menos
humano, o inumano, o humanamente
impensável.
• Construção como posição de sujeitos : a)
PRINCÍPIOS ORGANIZADORES de práticas e
instituições; b) Esse eu é pensante e
falante; c) Os binários são contingentes,
portanto, a norma de gênero em sua
necessária temporalidade esta aberta ao
esfacelamento e a sua necessária
subversão desde o seu interior.
• O sujeito que se faz a si mesmo, é sempre de
alguma forma o eu que seleciona dentre
inúmeras possibilidades e que é constituído
por elas.
• Desse ponto de vista o eu não é situado - mas
segundo Butler: Constituído por posições e
essas posições não são meros produtos
teóricos, mas são princípios organizadores
totalmente embutidos de práticas materiais e
arranjos institucionais, aquelas matrizes de
poder e discurso que me produzem como
sendo viável
Com efeito, esse eu não seria um eu pensante e
falante se não fosse pelas próprias posições a
que me oponho, pois elas as que sustentam
que o sujeito deve ser dado de antemão, que
sustentam que o discurso é um instrumento ou
reflexão desse sujeito, já fazem parte do que
me constitui. (BUTLER, 1998, p.24).
• BUTLER, Judith. Fundamentos contingentes: o feminismo e a questão do pós-
modernismo. In: BESSA, Karla Adriana Martins (orga). Cadernos Pagú.
Campinas:Núcleo de estudos de Gênero/UNICAMP, v.11, p. 11- 42,1998.
Sujeitos? Escolhas
• Tornar-se ato propositivo apropriativo.
Trata-se de assumir o significado
corpóreo culturalmente
conhecido? Como resolver a
questão da escolha e da
interpretação cultural e da
identidade de gênero?
Se gênero é o lugar dos
significados....
• Então uma teoria de gênero
seria 1) a que tenta dar sentido
cultural as escolhas; 2) Gênero
como o lugar dos significados
culturais tanto recebidos como
inovados.
ESCOLHA
• Processo corpóreo de interpretação no sei
de uma rede de normas culturais.

• Ora - então se o corpo é constituído como


um lugar cultual de significados de gênero .
Torna-se obscuro que aspectos desse corpo
são naturais ou isentos de marca cultural.
l
• O corpo pré-existe à sua interpretação
cultural?
• Se o gênero é determinado na dialética entre
cultura e escolha então, a que papel o sexo
serve?
• Se estamos sempre já dotados de gênero,
imersos em gênero, que sentido tem dizer que
escolhemos o que já somos?
• Há um EU cartesiano fora das escolhas - Um
que escolhe antes do seu próprio gênero
escolhido?
• Antes da linguagem e da vida cultural?
• Como trabalhar com as questões linguísticas
e os arbítrios pessoais?
• Que uma atuação pessoal é requisito lógico
para assumir um gênero não pressupõe que
essa ação seja desencarnada - Nós nos
tornamos nossos gêneros - NÃO NOSSOS
CORPOS?
• A) Para Sartre - O corpo não é fenômeno
estático idêntico a si mesmo, mas um modo
de intencionalidade........
• Uma força direcional e um modo de desejar =
realidade referencial. É vivido como contexto e
meio para todos os esforços humanos. Nesse
sentido da busca por possibilidades ainda não
realizadas - o corpo para Sartre só existe
como um tornar-se = condição de ser
ultrapassado.
Butler
• Butler problematiza o tornar-se de Beauvoir
para dizer a origem de gênero não é
atemporalmente descontinua porque gênero
não é originado de repente (p. 142).
• Escolhemos mas não de uma distância, que
assinale uma posição ontológica entre o agente
optante e o gênero escolhido - Como entender
a escolha?
BEAUVOIR
• Vê o gênero como um projeto incessante, um
ato diário de reconstrução e interpretação -
conforme SARTRE escolher é um escolher
pré-reflexivo. Ato espontâneo e tácito. Escolha
que fazemos e que vamos entender mais
tarde. Nestes sentido segundo Butler para
Beauvoir torna-se gênero é um processo
impulsivo, embora cauteloso, de interpretar a
realidade plena de sanções, tabus e
prescrições
• 1. A escolha de assumir certo tipo de corpo,
viver ou usar o corpo de certo modo, implica
um mundo de estilos corporais já
estabelecidos . 2. Escolher um gênero é
interpretar normas de gênero recebidas de
um modo que as reproduzam e que se
organizem novamente. 3. Menos um ato radical
de criação - gênero é um projeto tácito para
renovar a história cultural nas nossas próprias
condições corpóreas.
• 4. Não é reiterar a norma prescritiva - é
atarefa para a qual estamos nos esforçando
sempre . No seu potencial emancipatório
essa teoria – pensa a opressão como uma
força dialética que exige participação
individual. ***Porém, a medida em que
a existência social exige uma
insofismável afinidade de gênero, não é
possível existir num sentido socialmente
significativo fora das normas
estabelecidas.
Tensão entre prescrição e escolha?
• Beauvoir oferece uma alternativa para a
polaridade de gênero CORPO COMO
SITUAÇÃO. P. 145. BUTLER- ACEITAR o
corpo como situação cultural é também
colocar sob suspeita a noção de corpo
natural.
• Se gênero é um modo de existir no próprio
corpo, e se essa corpo é uma situação, um
campo de possibilidades a um tempo
recebidos e reinterpretados, então gênero e
sexo são questões culturais.
Recorrendo a WITTIG....
• Quando designamos diferença de sexo, nós a
criamos, restringimos importantes partes
sexuais àquelas que ajudam no processo de
reprodução e com isso tornamos a
heterossexualidade uma necessidade
ontológica. O processo de isolamento e de
distinção valoriza certos aspectos e outros
não.
Estrutura unificada de dominação?
BUTLER, 1997, p.1-31
Não haveria uma regulação anterior ou autônoma em relação ao
gênero, pois, ao contrário, o sujeito gendrado só passa a existir na
medida de sua própria sujeição às regulações .
As regras que governam a identidade inteligível são parcialmente
estruturadas a partir de uma matriz que estabelece a um só tempo
uma hierarquia entre masculino e feminino e uma
heterossexualidade compulsória.
Nestes termos o gênero não é nem a expressão de uma essência
interna, nem mesmo um simples artefato de uma construção
social.
O sujeito gendrado seria, antes, o resultado de
repetições
constitutivas que impõem efeitos
substancializantes. Com base
nestas definições, a autora chega a afirmar que o
gênero é ele
próprio uma norma. (BUTLER, 2006, p. 58).
Efeitos constitutivos de subjetividades......
As regulações de gênero não são apenas mais um
exemplo das formas de regulamentação de um poder mais
extenso, mas constituem uma modalidade de regulação
específica que tem efeitos constitutivos sobre a
subjetividade.

.........subjetivado pelo gênero, o “eu”


nem precede, nem segue o processo dessa “criação de um
gênero”, mas apenas emerge no âmbito e como a matriz
das relações de gênero propriamente ditas
(BUTLER, 1993, p. 7).
A identidade não é pré-existente
Se os atributos de gênero são performativos e
não uma identidade pré-existente, a
postulação de um “verdadeiro sexo”
(FOUCAULT, 1994) ou de uma “verdade sobre o
gênero” revela antes uma ficção reguladora.

****Esta ficção permanece pela repetição


reiterativa,
podemos pensar que a aproximação de um
ideal de gênero – masculino ou feminino –
nunca é de fato completa, e que os corpos nunca
obedecem totalmente às normas pelas quais sua
materialização é fabricada.
Produção positiva de identidades?
Como?
• Ser positivamente produzidas nas margens, nos
space-off e nos interstícios das estruturas e dos
discursos dominantes;
• Para isso, certamente precisamos de uma teoria
da diferença “cujas geometrias, paradigmas e
lógicas estejam fora dos binarismos, das
dialéticas e dos modelos de natureza/cultura
de qualquer espécie”
Possibilidades de sujeitos
Dessa forma, não seria fundamentalmente contra o
poder que nascem as possibilidades de resistência, seja ela
singular ou coletiva, mas contra certos efeitos de poder
num espaço paradoxalmente aberto na própria estratégia
de sua constituição.

Se o gênero é uma norma, não podemos deixar de lembrar


o que há de frágil na sua incorporação pelas subjetividades.

Há sempre uma possibilidade de deslocamento que é


inerente à repetição do binarismo masculino-feminino.
Identificações múltiplas ....
• Os desvios coerentemente heterossexualizados requerem que as
identificações se efetuem sobre a base de corpos similarmente
sexuados, e que o desejo se desvie através da divisão sexual para
membros do sexo oposto.

Mas, se um homem pode identificar-se com sua mãe e desejar


partindo dessa identificação, de algum modo, ele já confundiu a
descrição psíquica do desenvolvimento de gênero estável. E se
esse mesmo homem deseja outro homem ou uma mulher, será
que o seu desejo é homossexual, heterossexual ou mesmo
lésbico? E o que significa restringir qualquer indivíduo dado a uma
única identificação? (BUTLER, 1993, p.99).
 
 
Extensa gama de discursos
• Haveria um esvaziamento da materialidade?
• A heterogeneidade interna não fragmentou nem
enfraqueceu a importância política do feminismo.
. Necessidade de construção de articulações entre as
diversificadas posições de sujeito, o que por sua
vez compõe a força específica do feminismo
diante dos outros movimentos ou discursos sociais.
• Articulação que possibilita ao sujeito algum espaço
de agenciamento e resistência.
• Pensadoras como Judith Butler e Chantal Mouffe
defendem de forma explícita que desconstruir o
sujeito não é declarar sua morte. Ou seja, com a
desconstrução da categoria 'mulher', as autoras
não estão propondo o abandono da categoria, mas
sua ressignificação.

• (Mariano,
Rev. Estud. Fem. vol.13 no.3  Florianópolis Sept./Dec. 2005
Para Judith Butler
• a ideia de identidade de gênero tem sempre um caráter normatizador,
porque implica que se construa algum tipo de unidade, e a busca da
unidade é em si mesma normatizadora e excludente, reificando as
noções de sexo e de gênero.
• Desse modo, para a autora, a crítica da política identitária e do
fundamentalismo como política de exclusão é uma questão central para
o feminismo.
• Isso, porém, para Butler, não representa riscos para a política feminista.
Ao contrário, é sua própria possibilidade.
• Nessa perspectiva, a política de identidade apresenta limites para a
mobilização da política feminista na medida em que a tentativa de
unificação acaba por produzir resistências e formação de facções no
interior do feminismo.
• Assim, Butler rejeita a identidade como ponto de partida para a política
feminista e defende que desconstruir o sujeito do feminismo não é
declarar a sua morte, mas libertá-lo de seu caráter normativo e fixo, que
mantém e reproduz subordinação.
PRECIADO, Beatriz. Multidões queer: notas para uma
política dos anormais. Estudos feministas, Florianópolis,
CFH/CCE/UFSC, v.19, n.1, p. 11-20, 2011
 
• A sexopolítica é uma das formas dominantes da ação biopolítica no
capitalismo contemporâneo. Com ela, o sexo (os órgãos chamados
“sexuais”, as práticas sexuais e também os códigos de masculinidade e de
feminilidade, as identidades sexuais normais e desviantes) entra no cálculo
do poder, fazendo dos discursos sobre o sexo e das tecnologias de
normalização das identidades sexuais um agente de controle da vida.

• Reporta-se a Foucault que ao distinguir as “sociedades soberanas” das


“sociedades disciplinares”, chama a atenção sobre a passagem, que se
fez na época moderna, de uma forma de poder que decide e ritualiza a
morte para uma nova forma de poder que calcula tecnicamente a vida, em
termos de população, de saúde ou de interesse nacional.
• Preciado compreende os corpos e as identidades
dos anormais como potências políticas, e não
simplesmente como efeitos dos discursos sobre o
sexo.
Isso significa que à história da sexualidade iniciada por
Foucault devemos acrescentar vários capítulos.
1. A evolução da sexualidade moderna está
diretamente relacionada com a emergência disso que
podemos chamar de novo “Império Sexual” O sexo
(os órgãos sexuais, a capacidade de reprodução, os
papéis sexuais para as disciplinas modernas...) é
correlato ao capital. 2. A sexopolítica não pode ser
reduzida à regulação das condições de reprodução da
vida nem aos processos biológicos que se “referem à
população”.
• 3. O corpo straight é o produto de uma divisão do trabalho da
carne, segundo a qual cada órgão é definido por sua função.
Uma sexualidade qualquer implica sempre uma
territorialização precisa da boca, da vagina, do ânus.
É assim que o pensamento straight assegura o lugar estrutural
entre a produção da identidade de gênero e a produção de
certos órgãos como órgãos sexuais e reprodutores. Capitalismo
sexual e sexo do capitalismo. O sexo do vivente revela ser uma
questão central da política e da governabilidade.

4. O século XX é mais do que disciplina sobre os corpos -


produz a proliferação de muitas tecnologias medicalização e
tratamento das crianças intersexos, gestão cirúrgica da
transexualidade, reconstrução e “aumento” da masculinidade
e da feminilidade normativas, regulação do trabalho sexual
pelo Estado, boom das indústrias pornográficas.
... Assistimos nos anos 1950 a uma ruptura no regime
disciplinar do sexo .
• Anteriormente, e em continuidade com o século XIX, as disciplinas biopolíticas
funcionaram como uma máquina de naturalizar o sexo. Política de identidade.
Mas essa máquina não era legitimada pela “consciência”. Ela o será por médicos
como John Money, que começa a utilizar a noção de “gênero” para dar conta da
possibilidade de modificar cirúrgica e hormonalmente a morfologia sexual das
crianças intersexos e das pessoas transexuais. Money é o Hegel da história do
sexo. Essa noção de gênero constitui um primeiro momento da reflexividade (e,
portanto, uma mutação irreversível em relação ao século XIX). Com as novas
tecnologias médicas e jurídicas de Money, as crianças “intersexuais”, operadas
no nascimento ou tratadas durante a puberdade, tornam-se as minorias
construídas como
• “anormais” em benefício da regulação normativa do corpo da massa straight.
Essa multiplicidade de anormais é a potência que o Império Sexual se esforça
em regular. 5) O Império dos Normais, desde os anos 1950, depende da
produção e da circulação em grande velocidade do fluxo de silicone, fluxo de
hormônio, fluxo textual, fluxo das representações, fluxo de técnicas cirúrgicas,
definitivamente, fluxo dos gêneros.
Políticas das multidões queer
• 1. De noção posta ao serviço de uma política da reprodução da vida sexual,
o gênero se torna o indício de uma multidão. O gênero não é o efeito de
um sistema fechado de poder nem uma ideia que recai sobre a matéria
passiva, mas o nome do conjunto de dispositivos sexopolíticos (da
medicina à representação pornográfica, passando pelas instituições
familiares) que serão o objeto de uma reapropriação pelas minorias
sexuais.
• 2. A sexopolítica torna-se não somente um lugar de poder, mas,
sobretudo, o espaço de uma criação na qual se sucedem e se justapõem os
movimentos feministas, homossexuais, transexuais, intersexuais,
transgêneros, chicanas, pós-coloniais... As minorias sexuais tornam-se
multidões.

Desontologização .......O monstro sexual que tem por nome multidão torna-
se queer. 3. Preciado explora as vantagens teóricas e políticas da noção
de multidão - Seu status é diferente da noção de diferença sexual. O
corpo da multidão queer aparece no centro de um trabalho de
“desterritorialização” da heterossexualidade
• Uma desterritorialização que afeta tanto o espaço
urbano (é preciso, então, falar de desterritorialização
do espaço majoritário, e não do gueto) quanto o
espaço corporal. Esse processo de
“desterritorialização” do corpo obriga a resistir aos
processos do tornar-se “normal”. EMBORA, existam
tecnologias precisas de produção dos corpos
“normais” ou de normalização dos gêneros DISTO não
resulta um determinismo nem uma impossibilidade
de ação política......, a multidão queer tem também a
possibilidade de intervir nos dispositivos
biotecnológicos de produção de subjetividade sexual.
***pensar a reflexividade que se conecta ao
global e a intimidade (GIDDENS).
Duas armadilhas conceituais a ser
evitadas
• : 1) Evitar a segregação do espaço político que faria da multidão queer
um tipo de margem ou de reservatório de transgressão.

• 2) Não precisamos cair na armadilha da leitura liberal ou


neoconservadora de Foucault que nos levaria a pensar as multidões
queer em oposição às estratégias identitárias, tendo a multidão como
uma acumulação de indivíduos soberanos e iguais perante a lei,
sexualmente irredutíveis, proprietários de seus corpos e reivindicando
seus direitos ao prazer inalienável. A primeira leitura objetiva uma
apropriação da potência política dos anormais numa ótica de progresso;
a segunda ignora os privilégios da maioria e da normalidade
(hétero)sexual, não reconhecendo que esta última é uma identidade
dominante. É preciso admitir que os corpos não são mais dóceis.
“Desidentificação” (para retomar a formulação de DeLauretis),
identificações estratégicas, desvios das tecnologias do corpo e
desontologização do sujeito da política sexual
• Desidentificação surge das “sapatas” que não são mulheres, das
bichas que não são homens, das trans que não são homens nem
mulheres. As identificações negativas como “sapatas” ou
“bichas” são transformadas em possíveis lugares
• de produção de identidades resistentes à normalização, atentas
ao poder totalizante dos apelos à “universalização”. Sob o
impacto da crítica pós-colonial, as teorias queer dos anos 1990
contaram com enormes recursos políticos da identificação
“gueto”; identificações que tomariam um novo
• valor político, já que, pela primeira vez, os sujeitos de enunciação
eram as “sapatas”, as “bichas”, os negros e as próprias pessoas
transgêneros.
• A ameaça de guetização, os movimentos e as teorias queer
respondem por meio de estratégias ao mesmo tempo
hiperidentitárias e pós-identitárias. Fazem uma utilização
máxima dos recursos políticos da produção performativa das
identidades desviantes.
Que corpos?

• Os corpos da multidão queer são também as


reapropriações e os desvios dos discursos da
medicina anatômica e da pornografia, entre outros,
que construíram o corpo straight e o corpo
desviante moderno. A multidão queer não tem
relação com um “terceiro sexo” ou com um “além
dos gêneros”. Ela se faz na apropriação das
disciplinas de saber/poder sobre os sexos, na
rearticulação e no desvio das tecnologias
sexopolíticas específicas de produção dos corpos
“normais” e “desviantes”.
•  
• A política da multidão queer não repousa sobre uma
identidade natural (homem/mulher) nem sobre uma
definição pelas práticas (heterossexual/homossexual),
mas sobre uma multiplicidade de corpos que se levantam
contra os regimes que os constroem como “normais” ou
“anormais”: são os drag kings, as..., as mulheres de
barba, os transbichas sem paus, os deficientes ciborgues...
• O que está em jogo é como resistir ou como desviar das
formas de subjetivação sexopolíticas.
•  
• Essa reapropriação dos discursos de produção de
poder/saber sobre o sexo é uma reviravolta
epistemológica.
• Desontologização do sujeito da política sexual.
Nos anos 1990, uma nova geração emanada dos
próprios movimentos identitários começou a
redefinir a luta e os limites do sujeito político
“feminista” e “homossexual”.
• No plano teórico, essa ruptura inicialmente
assumiu a forma de uma revisão crítica sobre o
feminismo, operada pelas lésbicas e pelas pós-
feministas americanas. A crítica radical do sujeito
unitário do feminismo, colonial, branco,
proveniente da classe média alta e
dessexualizado foi posta em marcha.
É contra esse essencialismo e essa normalização da
identidade homossexual que as minorias gays, lésbicas,
transexuais e transgêneros têm reagido. Algumas vozes
se levantam para questionar a validade da noção de
identidade sexual como único fundamento da ação
política e para opor uma proliferação de diferenças (de
raça, de classe, de idade, de práticas sexuais não
normativas, de deficientes).
2. A política das multidões queer emerge de uma
posição crítica a respeito dos efeitos normalizantes e
disciplinares de toda formação identitária, de uma
desontologização do sujeito da política das
identidades: não há uma base natural (“mulher”, “gay”
etc.) que possa legitimar a ação política.
• Ela se opõe às políticas paritárias derivadas de uma noção
biológica da “mulher” ou da “diferença sexual”. Opõe-se às
políticas republicanas universalistas que concedem o
“reconhecimento” e impõem
• a “integração” das “diferenças” no seio da República. Não existe
diferença sexual, mas uma multidão de diferenças, uma
transversalidade de relações de poder, uma diversidade de
potências de vida. Essas diferenças não são “representáveis”
porque são “monstruosas” e colocam em questão, por esse
• motivo, os regimes de representação política, mas também os
sistemas de produção de saberes científicos dos “normais”.
Nesse sentido, as políticas das multidões queer se opõem não
somente às instituições políticas tradicionais, que se querem
soberanas e universalmente representativas, mas
• também às epistemologias sexopolíticas straight, que dominam
ainda a produção da ciência.
O que é a contra-sexualidade?

1. Não é a criação de uma nova natureza.

Em primeiro lugar é uma análise crítica da diferença de gênero e de sexo, produto do


contrato heterocentrado, cujas performances estão inscritas nos corpos como verdades
biológicas. 2. Em segundo lugar a contra-sexualidade aponta para substituir este contrato
social que denominamos natureza por um contrato contra-sexual.

Neste marco os corpos se reconhecem a si mesmos não como homens e mulheres, mas
como corpos que falam – com possibilidades de aceder a muitas posições de enunciação.
Renunciam a uma só identidade. O sexo e a sexualidade são tecnologias sócio-políticas
complexas.

 
•PRECIADO, Beatriz. Manifesto contra-sexual. Madrid: Pensamento Opera Prima, 2002.p.16-
117.
•.BENSUSAN, Hilan. Observações sobre a política dos desejos: tentando pensar ao largo dos
instintos compulsórios. Estudos Feministas. Florianópolis, CFH/CCE/UFSC, v. 14, n.2, p. 445-
479, 2006. Disponível em: <www.scielo.br >.
Por último devo dizer que:
O lugar da compreensão engajada e preocupada
em afirmar a diversidade sexual exige a
construção de condições para questionar a
hegemonia de um único modelo de
sexualidade, de um único modelo de
vínculo amoroso, a fim de que as pessoas
tenham direito a sua dignidade e a fim de que se
compreenda que produzir novas subjetividades
na diversidade é produzir uma nova política sobre
a vida, os corpos e a sexualidade.
PRINCÍPIOS DE
YOGYAKARTA (2006)

PRINCÍPIOS SOBRE A APLICAÇÃO DA


LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL DE
DIREITOS HUMANOS EM RELAÇÃO
À ORIENTAÇÃO SEXUAL E IDENTIDADE DE
GÊNERO (
http://www.dhnet.org.br/direitos/sos/gays/principios_
de_yogyakarta.pdf
).
PRECIADO, Beatriz. Multidões queer: notas para uma
política dos anormais. Estudos feministas, Florianópolis,
CFH/CCE/UFSC, v.19, n.1, p. 11-20, 2011

 
• A sexopolítica é uma das formas dominantes da ação biopolítica no capitalismo
contemporâneo. Com ela, o sexo (os órgãos chamados “sexuais”, as práticas
sexuais e também os códigos de masculinidade e de feminilidade, as identidades
sexuais normais e desviantes) entra no cálculo do poder, fazendo dos discursos
sobre o sexo e das tecnologias de normalização das identidades sexuais um
agente de controle da vida.

• Reporta-se a Foucault que ao distinguir as “sociedades soberanas” das


“sociedades disciplinares”, chama a atenção sobre a passagem, que se fez na
época moderna, de uma forma de poder que decide e ritualiza a morte para uma
nova forma de poder que calcula tecnicamente a vida, em termos de população,
de saúde ou de interesse nacional.
• Preciado compreende os corpos e as identidades
dos anormais como potências políticas, e não
simplesmente como efeitos dos discursos sobre o
sexo.
Isso significa que à história da sexualidade iniciada por
Foucault devemos acrescentar vários capítulos.
1. A evolução da sexualidade moderna está diretamente
relacionada com a emergência disso que podemos
chamar de novo “Império Sexual” O sexo (os órgãos
sexuais, a capacidade de reprodução, os papéis
sexuais para as disciplinas modernas...) é correlato ao
capital. 2. A sexopolítica não pode ser reduzida à
regulação das condições de reprodução da vida nem
aos processos biológicos que se “referem à
população”.
• 3. O corpo straight é o produto de uma divisão do trabalho da
carne, segundo a qual cada órgão é definido por sua função.
Uma sexualidade qualquer implica sempre uma territorialização
precisa da boca, da vagina, do ânus.
É assim que o pensamento straight assegura o lugar estrutural
entre a produção da identidade de gênero e a produção de
certos órgãos como órgãos sexuais e reprodutores. Capitalismo
sexual e sexo do capitalismo. O sexo do vivente revela ser uma
questão central da política e da governabilidade.

4. O século XX é mais do que disciplina sobre os corpos -


produz a proliferação de muitas tecnologias medicalização e
tratamento das crianças intersexos, gestão cirúrgica da
transexualidade, reconstrução e “aumento” da masculinidade e
da feminilidade normativas, regulação do trabalho sexual pelo
Estado, boom das indústrias pornográficas.
... Assistimos nos anos 1950 a uma ruptura no regime

disciplinar do sexo .
• Anteriormente, e em continuidade com o século XIX, as disciplinas biopolíticas
funcionaram como uma máquina de naturalizar o sexo. Política de identidade.
Mas essa máquina não era legitimada pela “consciência”. Ela o será por
médicos como John Money, que começa a utilizar a noção de “gênero” para
dar conta da possibilidade de modificar cirúrgica e hormonalmente a
morfologia sexual das crianças intersexos e das pessoas transexuais. Money é
o Hegel da história do sexo. Essa noção de gênero constitui um primeiro
momento da reflexividade (e, portanto, uma mutação irreversível em relação
ao século XIX). Com as novas tecnologias médicas e jurídicas de Money, as
crianças “intersexuais”, operadas no nascimento ou tratadas durante a
puberdade, tornam-se as minorias construídas como
• “anormais” em benefício da regulação normativa do corpo da massa straight.
Essa multiplicidade de anormais é a potência que o Império Sexual se esforça
em regular. 5) O Império dos Normais, desde os anos 1950, depende da
produção e da circulação em grande velocidade do fluxo de silicone, fluxo de
hormônio, fluxo textual, fluxo das representações, fluxo de técnicas cirúrgicas,
definitivamente, fluxo dos gêneros.
Políticas das multidões queer
• 1. De noção posta ao serviço de uma política da reprodução da vida sexual, o
gênero se torna o indício de uma multidão. O gênero não é o efeito de um
sistema fechado de poder nem uma ideia que recai sobre a matéria passiva, mas
o nome do conjunto de dispositivos sexopolíticos (da medicina à representação
pornográfica, passando pelas instituições familiares) que serão o objeto de uma
reapropriação pelas minorias sexuais.
• 2. A sexopolítica torna-se não somente um lugar de poder, mas, sobretudo, o
espaço de uma criação na qual se sucedem e se justapõem os movimentos
feministas, homossexuais, transexuais, intersexuais, transgêneros, chicanas,
pós-coloniais... As minorias sexuais tornam-se multidões.

Desontologização .......O monstro sexual que tem por nome multidão torna-se
queer. 3. Preciado explora as vantagens teóricas e políticas da noção de
multidão - Seu status é diferente da noção de diferença sexual. O corpo da
multidão queer aparece no centro de um trabalho de “desterritorialização” da
heterossexualidade
• Uma desterritorialização que afeta tanto o espaço
urbano (é preciso, então, falar de desterritorialização
do espaço majoritário, e não do gueto) quanto o
espaço corporal. Esse processo de
“desterritorialização” do corpo obriga a resistir aos
processos do tornar-se “normal”. EMBORA, existam
tecnologias precisas de produção dos corpos
“normais” ou de normalização dos gêneros DISTO não
resulta um determinismo nem uma impossibilidade
de ação política......, a multidão queer tem também a
possibilidade de intervir nos dispositivos
biotecnológicos de produção de subjetividade sexual.
***pensar a reflexividade que se conecta ao
global e a intimidade (GIDDENS).
Duas armadilhas conceituais a ser
evitadas
• : 1) Evitar a segregação do espaço político que faria da multidão
queer um tipo de margem ou de reservatório de transgressão.

• 2) Não precisamos cair na armadilha da leitura liberal ou


neoconservadora de Foucault que nos levaria a pensar as
multidões queer em oposição às estratégias identitárias, tendo a
multidão como uma acumulação de indivíduos soberanos e
iguais perante a lei, sexualmente irredutíveis, proprietários de
seus corpos e reivindicando seus direitos ao prazer inalienável.
A primeira leitura objetiva uma apropriação da potência política
dos anormais numa ótica de progresso; a segunda ignora os
privilégios da maioria e da normalidade (hétero)sexual, não
reconhecendo que esta última é uma identidade dominante. É
preciso admitir que os corpos não são mais dóceis.
“Desidentificação” (para retomar a formulação de DeLauretis),
identificações estratégicas, desvios das tecnologias do corpo e
desontologização do sujeito da política sexual
• Desidentificação surge das “sapatas” que não são mulheres, das
bichas que não são homens, das trans que não são homens nem
mulheres. As identificações negativas como “sapatas” ou
“bichas” são transformadas em possíveis lugares
• de produção de identidades resistentes à normalização, atentas
ao poder totalizante dos apelos à “universalização”. Sob o impacto
da crítica pós-colonial, as teorias queer dos anos 1990 contaram
com enormes recursos políticos da identificação “gueto”;
identificações que tomariam um novo
• valor político, já que, pela primeira vez, os sujeitos de enunciação
eram as “sapatas”, as “bichas”, os negros e as próprias pessoas
transgêneros.
• A ameaça de guetização, os movimentos e as teorias queer
respondem por meio de estratégias ao mesmo tempo
hiperidentitárias e pós-identitárias. Fazem uma utilização máxima
dos recursos políticos da produção performativa das identidades
desviantes.
Que corpos?
• Os corpos da multidão queer são também as
reapropriações e os desvios dos discursos da
medicina anatômica e da pornografia, entre outros,
que construíram o corpo straight e o corpo
desviante moderno. A multidão queer não tem
relação com um “terceiro sexo” ou com um “além
dos gêneros”. Ela se faz na apropriação das
disciplinas de saber/poder sobre os sexos, na
rearticulação e no desvio das tecnologias
sexopolíticas específicas de produção dos corpos
“normais” e “desviantes”.
•  
• A política da multidão queer não repousa sobre uma
identidade natural (homem/mulher) nem sobre uma
definição pelas práticas (heterossexual/homossexual),
mas sobre uma multiplicidade de corpos que se levantam
contra os regimes que os constroem como “normais” ou
“anormais”: são os drag kings, as..., as mulheres de
barba, os transbichas sem paus, os deficientes
ciborgues...
• O que está em jogo é como resistir ou como desviar das
formas de subjetivação sexopolíticas.
•  
• Essa reapropriação dos discursos de produção de
poder/saber sobre o sexo é uma reviravolta
epistemológica.
• Desontologização do sujeito da política sexual.
Nos anos 1990, uma nova geração emanada
dos próprios movimentos identitários
começou a redefinir a luta e os limites do
sujeito político “feminista” e “homossexual”.
• No plano teórico, essa ruptura inicialmente
assumiu a forma de uma revisão crítica sobre
o feminismo, operada pelas lésbicas e pelas
pós-feministas americanas. A crítica radical do
sujeito unitário do feminismo, colonial,
branco, proveniente da classe média alta e
dessexualizado foi posta em marcha.
É contra esse essencialismo e essa normalização da
identidade homossexual que as minorias gays, lésbicas,
transexuais e transgêneros têm reagido. Algumas vozes
se levantam para questionar a validade da noção de
identidade sexual como único fundamento da ação
política e para opor uma proliferação de diferenças (de
raça, de classe, de idade, de práticas sexuais não
normativas, de deficientes).
2. A política das multidões queer emerge de uma
posição crítica a respeito dos efeitos normalizantes e
disciplinares de toda formação identitária, de uma
desontologização do sujeito da política das identidades:
não há uma base natural (“mulher”, “gay” etc.) que
possa legitimar a ação política.
3. A noção de multidão queer se opõe
decididamente àquela de “diferença
sexual”, tal como foi explorada tanto
pelo feminismo essencialista (de Irigaray
a Cixous, passando por Kristeva) como
pelas variações estruturalistas e/ou
lacanianas do discurso da psicanálise
(Roudinesco, Héritier, Théry...).
• Ela se opõe às políticas paritárias derivadas de uma noção
biológica da “mulher” ou da “diferença sexual”. Opõe-se às
políticas republicanas universalistas que concedem o
“reconhecimento” e impõem
• a “integração” das “diferenças” no seio da República. Não existe
diferença sexual, mas uma multidão de diferenças, uma
transversalidade de relações de poder, uma diversidade de
potências de vida. Essas diferenças não são “representáveis”
porque são “monstruosas” e colocam em questão, por esse
• motivo, os regimes de representação política, mas também os
sistemas de produção de saberes científicos dos “normais”. Nesse
sentido, as políticas das multidões queer se opõem não somente
às instituições políticas tradicionais, que se querem soberanas e
universalmente representativas, mas
• também às epistemologias sexopolíticas straight, que dominam
ainda a produção da ciência.
O que é a contra-
sexualidade?
1. Não é a criação de uma nova natureza.

Em primeiro lugar é uma análise crítica da diferença de gênero e de sexo, produto do


contrato heterocentrado, cujas performances estão inscritas nos corpos como verdades
biológicas. 2. Em segundo lugar a contra-sexualidade aponta para substituir este contrato
social que denominamos natureza por um contrato contra-sexual.

Neste marco os corpos se reconhecem a si mesmos não como homens e mulheres, mas
como corpos que falam – com possibilidades de aceder a muitas posições de enunciação.
Renunciam a uma só identidade. O sexo e a sexualidade são tecnologias sócio-políticas
complexas.

 
•PRECIADO, Beatriz. Manifesto contra-sexual. Madrid: Pensamento Opera Prima, 2002.p.16-
117.
•.BENSUSAN, Hilan. Observações sobre a política dos desejos: tentando pensar ao largo dos
instintos compulsórios. Estudos Feministas. Florianópolis, CFH/CCE/UFSC, v. 14, n.2, p. 445-479,
2006. Disponível em: <www.scielo.br >.
Por último devo dizer
que:
O lugar da compreensão engajada e
preocupada em afirmar a diversidade sexual
exige a construção de condições para questionar a
hegemonia de um único modelo de sexualidade,
de um único modelo de vínculo amoroso, a fim
de que as pessoas tenham direito a sua
dignidade e a fim de que se compreenda
que produzir novas subjetividades na
diversidade é produzir uma nova política
sobre a vida, os corpos e a sexualidade.
Sexualidade:

Refere-se às
elaborações culturais
sobre os prazeres e os intercâmbios
sociais e corporais que compreendem desde o
erotismo, o desejo e o afeto até noções relativas à
saúde, à reprodução, ao uso de tecnologias e ao
exercício do poder na sociedade.
• A sexualidade é um aspecto central do
ser humano longo da vida e engloba
sexo, identidade e papel de gênero,
orientação sexual, erotismo, prazer e
reprodução.
• A sexualidade é vivida, expressada em
pensamentos, fantasias, desejos,
crenças, atitudes, valores,
comportamentos, práticas, papéis e
relacionamentos.
As definições atuais da sexualidade
abarcam, nas ciências sociais, significados,
ideais, desejos, sensações, emoções,
experiências, condutas, proibições,
modelos e fantasias que são configurados
de modos diversos em diferentes contextos
sociais e períodos históricos. Trata-se, portanto,
de um conceito dinâmico que vai evolucionando e que
está sujeito a diversos usos, múltiplas e contraditórias
interpretações, e que se encontra sujeito a debates e a
disputas políticas.
• A sexualidade é influenciada por uma
interação de fatores de ordem
biológica, psicológica, social,
econômica, política, cultural, ética,
histórica, religiosa e espiritual (OMS).
Os princípios de Yogyakarta, - referência
internacional destaca:
1) Compreendemos por identidade de
gênero a profundamente sentida
experiência interna e individual do
gênero de cada pessoa que pode ou
não corresponder ao sexo atribuído no
nascimento;
• 2) Isso inclui o senso corporal (que
pode envolver, por livre escolha,
modificação da aparência ou função
corporal por meios médicos,
cirúrgicos ou outros e outras
expressões de gênero, inclusive
vestimenta, modo de falar e
maneirismos.
• Muitos modos de
viver a experiência
com a sexualidade-
conceitos X
diversidade
• No prefacio do livro El gênero en disputa: El
feminismo y la subversión de la identidad versão
española de BUTLER, Judith. Problemas de
gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio
de Janeiro: civilização brasileira, 2003, a autora,
diz que seu objetivo é revisar de forma critica o
vocabulário básico do pensamento.
• Em 1989, quando a autora começou a escrever
pretendia criticar um suposto heterossexual
dominante na teoria literária feminista. O texto
pretendia destruir os discursos de “verdade” para
deslegitimar as práticas minoritárias.
.

***Seriam os binários de gênero tão


monstruosos e tão terríveis que por
definição se afirme que qualquer intento
de desconstrução seja impossível?
• A autora afirma que ao mesmo tempo em que
descartou o heterossexismo do núcleo do
fundamentalismo da diferença sexual, também
tomou as ideias do pós-estruturalismo Francês
para elaborar suas posições.
• Assim gênero em disputa é um trabalho de
tradução cultural – “não se tratava, porém, de
aplicar o pós-estruturalismo ao feminismo –
sim de expor essas teorias a uma reformulação
especificamente feminista (BUTLER, 2010, p.9).
• Gênero em disputa tende a interpretar juntos,
por uma via sincrática as várias e vários
intelectuais francesas. (Levi-Strauss, Foucault,
Lacan, Kristeva, Wittig).

• ***Tensão entre o eurocentrismo para a


perspectiva americana e para a França a
ameaça da americanização. O livro foi um
longo caminho de apropriação de muitas
linguagens.
• Enquanto na década de 1980 muitas feministas
assumiram que o lesbianismo se unia no feminismo
lésbico.
• Gênero em disputa tratava de enfrentar a ideia de
que a prática lésbica materializa a teoria feminista e
estabelece uma relação mais problemática entre os
termos.
• Neste texto o lesbianismo supõe um regresso ao que
é mais importante a respeito de ser mulher.
Tampouco, consagra a feminidade, nem mostra um
mundo ginocêntrico.
O lesbianismo não é assumido como
realização erótica de uma série de
crenças políticas. Ao contrário, o texto
apresenta como as práticas sexuais não
normativas questionam a estabilidade de
gênero? Como certas práticas sexuais
exigem a pergunta: que é uma mulher?
Que é um homem?
• Se o gênero já não se entende como algo
que se consolida através da sexualidade
normativa então, há uma crise de gênero em
disputa que se propôs a entender o medo e
a ansiedade que algumas pessoas
experimentam ao vir a ser gay. Medo de
perder seu lugar no gênero, medo de não
saber que terminará sendo, se dorme com o
mesmo gênero.
• Isto cria uma certa crise na ontologia
experimentada no nível da sexualidade e da
linguagem. Esta questão foi se agravando à
medida em que se foi refletindo sobre várias
formas de pensar o gênero – surgidas a luz
do transgênero e da transsexualidade, a
paternidade e a maternidade lésbicas e gays
e as novas identidades lésbicas masculina e
feminina.
Está posição coloca imediatamente a pergunta:
para que gênero como construção cultural,
se o próprio sexo não é mais fixo? Segundo
Butler, ao contrário de precipitadamente
responder que gênero não faz mais sentido, é
preciso dizer que olhar para a desconstrução
da categoria sexo só agrega a gênero a
confirmação daquilo que ele sempre
expressou. As realidades constroem-se na
cultura, na história e nas relações. Desse
modo, constroem-se também a
materialidade dos corpos, assim como a
linguagem e os instrumentos tecnológicos.
• Esse processo de construção é um dos pontos
chave do texto de Judith Butler – mas ela o faz,
mais para pensar a própria categoria
construção questionando deste modo, o
processo da própria construção como
contraposto a fixidez. Se contrapõe a ideia de
uma identidade fixa, presente no indivíduo, ou
em um referencial teórico analítico do qual
emergem todas as outras definições. Este
suposto fundamento para gênero é colocado
aqui em perspectiva para percorrer o caminho
da sua própria desconstrução.
• Para Butler a materialidade do sexo – longe de
ser um simples fato biológico é efeito
dissimilado do poder, das normas regulatórias
heterossexistas (sexismo e norma
heterossexual). Existe uma construção
discursiva das diferenças materiais entre os
sexos, porém, não significa jamais uma simples
repetição e nem que o discurso seja a causa. O
sexo é uma categoria normativa que produz,
circunscreve e regula o corpo permitindo ou
interditando certas identificações para produzir
um corpo sexuado, culturalmente inteligível.
A sexopolítica é uma das formas dominantes da ação biopolítica no
capitalismo contemporâneo. Com ela, o sexo (os órgãos chamados
“sexuais”, as práticas sexuais e também os códigos de masculinidade e
de feminilidade, as identidades sexuais normais e desviantes) entram no
cálculo do poder, fazendo dos discursos sobre o sexo e das tecnologias
de normalização das identidades sexuais um agente de controle da vida.

(PRECIADO, Beatriz. Multidões queer: notas para uma política dos anormais.
Estudos feministas, Florianópolis, CFH/CCE/UFSC, v.19, n.1, p. 11-20,
2011).

*
COURTINE, Jean- Jacques. Decifrar o corpo:
pensar com Foucault. Petrópolis: Vozes, 2011.
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______. A História da Loucura na Idade Clássica.
São Paulo: Perspectiva, 1997.
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AMORÓS, Celia; MIGUEL Ana de. (EDS). La diferencia
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ECHANDÍA, Claudia Luz Piedrahita. Subjetivaciones
políticas y pensamiento de la diferencia. Bogotá:
Universidad Distrital Francisco José de Caldas: Consejo
Latinoamericano de Ciencias Sociales, 2015. p. 17-50.
Disponível em:<
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• SOLEY-BELTRAN, Patrícia. Transexualidad y la matriz
heterosexual: un estúdio crítico de Judith Butler. Barcelona:
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• PRECIADO, Beatriz. Multidões queer: notas para uma política
dos anormais. Estudos Feministas, Florianópolis, CFH/CCE/UFSC,
v.19, n.1, p. 11-20, 2011
• BIDASECA, Karina. Cartografías Descoloniales de los
Feminismos del Sur .CONICET – Universidad Nacional de San
Martín Universidad Nacional de Buenos Aires/CLACSO. Estudos
Feministas, Florianópolis, v.22, n.2, p. 585-591, maio-agosto,
2014. Ver também
http://www.idaes.edu.ar/papelesdetrabajo/paginas/Document
os/N8/17_ENT_Bidaseca.pdf
.
• Genealogías críticas de la colonialidad en América Latina,
África, Oriente. Livro online.

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