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1- Nós Vitorianos
Neste capítulo inicial, Foucault aponta no que concerne às teorias que colocam o sexo em
discurso, um caráter a interpretá-lo como uma história de crescente repressão, ou “uma
hipótese repressiva”. Questionar, passar em revisão os discursos que sustentam essa hipótese
e principalmente identificar os mecanismos de poder e estratégias sob as quais estão aliados,
são as tarefas que Foucault se propõe.
Neste capítulo, Foucault dá continua as respostas das questões dada no capítulo anterior,
apresentam a origem da hipótese repressiva como não sendo exclusiva
da idade moderna, como o sexo ganha uma “explosão discursiva” e como esta incitação se
estende para outros campos de saberes, eclodindo na verdade sobre o sexo uma ferramenta de
investigação do indivíduo, cujas sexualidades marginais ganham status de perversidades.
A partir do século XVII, tempo em que se coloca um inicio da repressão ao sexo, Foucault
reconhece que a necessidade de recolhimento circunscreveu todo o discurso relacionado ao
sexo em lugares específicos.
Uma política da linguagem, caracterizada pelas redistribuições sociais, mas no nível dos
domínios de discursos houve uma verdadeira incitação discursiva, uma incitação do exercício
de poder de ouvir e fazer falar, identificar e detalhar.
Essa incitação, para Foucault, encontra evidências históricas em dois grandes momentos que
se interligam: as práticas confessionais exigidas pela pastoral crista e o desenvolvimento de
uma literatura erótica, como a de Sade.
Foram a partir das exigências inculcadas pela igreja católica na Contra-Reforma, que
incluíam técnicas para realização de confissões a partir de um detalhamento e uma
vigilância sobre seu cotidiano, suas paixões e controle de desejos.
Regras encontradas dentro do trabalho ascético monástico, mas que serviriam como
determinação à todo cristão.
A discursividade a partir desse detalhamento é uma técnica que não está ligada apenas a
um destino de espiritualidade cristã, ela encontra relação com a literatura erótica como
incitação de dizeres.
E é quando se torna objeto de preocupação pública que nasce uma política a falar do
sexo, uma investigação que subtrai a moralidade e soergue a racionalidade em seu
encalço.
Tudo que não corresponde a uma sexualidade pré-estabelecida ganha um novo vocabulário e
novos personagens.
O que não quer dizer que não existiam, mas se esses eram categorizados como
“desvirtuados”, agora recebem uma multiplicidade de papéis que os excluem e os
determinam dentro do cotidiano da sexualidade, tornando objetos de abjeção pública e ação
jurídica.
O corpo vigiado é condenado a ganhar uma história: hábitos, sensações, gestos são objetos de
medicina e saber.
Foucault exemplifica relatando o caso de um jovem camponês francês, que ao praticar uma
brincadeira de cunho sexual, freqüente até
então, se torna objeto de interferência jurídica e investigação médica e psiquiátrica.
3- scientia sexualis
Neste capítulo Foucault explana que apesar da proliferação discursiva da verdade sobre o
sexo, ela só se realiza através da delimitação dos despropósitos sexuais.
Aparelho que se cria ao multiplicar discursos sobre o sexo ganha, no século XIX, um
estatuto de ciência, mais comprometido com a ingenuidade do discurso evolucionista e
consequentemente com os de racismo político.
4- O dispositivo da sexualidade
Neste capítulo, antes de dar continuidade ao tema central do livro, Foucault expõe o seu
entendimento de poder, postulando alguns princípios metodológicos para o entendimento ou
refutação de sua análise.
Seu objeto de análise não perpassa em estabelecer relações entre a lei e o desejo ( e
estas geralmente são feitas com a temática de um poder-repressor, uma instância
jurídica que se imprime como constituidora interna ou externa do desejo), mas sim como se
articulam o poder e o desejo.