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Aula 12 – 28/05 - A epistemologia feminista

e de gênero
Documentário ONU: igualdade

Joan Scott https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/185058/mod_resource/content/2/G


%C3%AAnero-Joan%20Scott.pdf

Marilyn Strathern - O gênero da dádiva

Margareth Mead: Sexo e temperamento lido como na chave de gênero

Para Bourdieu a ideia de natureza humana é uma ideologia.


Há uma iniciativa interessada em ocultar os processos de dominação.

Subjetividade diz respeito àquilo que somos.

FEMINISMO LIBERAL: busca igualdade nas leis. Foco na liberdade individual, p.ex., meu corpo
minhas regras
FEMINISMO INTERSECCIONAL: mulheres negras, assumem particularidades, as pautas serão
diferentes. Passa a olhar para o coletivo.
FEMINISMO RADICAL: BUSCAR A ORIGEM DAS OPRESSÕES. Entendeu a raiz do problema do
machismo e propõe a sua erradicação.

Margareth Rago (1998), quando afirma que o feminismo não somente produz uma forte crítica
ao modo dominante de produção do conhecimento científico, como propõe modos
alternativos de operação na esfera cognitiva.

epistemologias feministas, pelo


Ainda conforme Rago (1998, p. 6), se há várias
menos dois pontos lhes parecem comuns, quais sejam: a) o valor de
inserção do feminismo nos moldes críticos à cultura, em vista da pretensão de
universalidade de certas categorias dominantes, que não se permitem pensar em seu campo
sexualizado, mas apenas sob uma lógica da identidade; b) a viabilidade de novas propostas
teóricas que levam as formas de conhecimento a se repensarem a si mesmas por meio de
diferenças e do conjunto de dados cognitivos repelidos, justamente por resistirem a um
modelo hierarquizado de referências previamente normatizadas.

Além dos pontos indicados por Rago, um terceiro aspecto merece ser destacado, pois se
assenta nos modelos epistemológicos da atualidade e versa pontualmente sobre as
possibilidades interpretativas acerca do sujeito feminino ou da mulher
como sujeito do feminismo. Trata-se da consideração desse sujeito bastante oscilante
e variado que não mais se incorpora nos moldes de uma dicção unitária, de um “nós” feminino
compelido a dizer-se apenas dentro das divisas de um gênero identitário, uno e pleno, sem a
via da performatividade, das variantes da sexualidade e das novas análises das teorias da
linguagem.
a originalidade do pensamento de Butler se deve ao seu viés crítico e interpretativo de novas
possibilidades das abordagens filosóficas. Butler é detentora de um discurso radical, no sentido
de que vai “às raízes desta „realidade‟ construída, que se individualiza não na natureza, mas
na cultura, na ideologia, na linguagem, nos códigos comportamentais” (RESTAINO, 2002, p.66-
67).

Butler analisa Beauvoir: o alcance de uma epistemologia da diferença


constituída sobretudo pela filosofia de Beauvoir, em especial com novas abordagens sobre os
conceitos de sexo e gênero Beauvoir mantém certo dualismo entre corpo e mente,

ASPECTOS EPISTEMOLÓGICOS Beauvoir


Se o feminismo se realça em sua dimensão epistemológica por meio de uma nova
proposta relacional entre teoria e práticas de ação , certamente passa a
demonstrar que esse novo agente epistêmico, como o nomeia Rago (1998, p.7), não
poderia se sustentar separado do mundo, como um filósofo átopos, voltado apenas para o seu
processo de contemplação e julgamento das vicissitudes do mundo. Trata-se ora de um
sujeito que recusa qualquer padrão de neutralidade face ao
conhecimento, mas que sabe se encontrar imerso e envolvido na
produção de conhecimento por meio de interação e diálogo, de
indagações e contínuas reconstruções temporalizadas de si e do
meio em que vive em situações específicas de seu quotidiano

Butler: OBJETIVO DA TEORIA: gerar mais liberdade e aceitação à multiplicidade de


expressões de gênero e sexualidades. Em decorrência da frequência com que pessoas que não
se enquadram nas normas de gênero sofrem violências.
Não existe nada fora ou anterior à linguagem, discurso como prática. No
livro, Butler vai desconstruir e desnaturalizar as categorias de sexo,
gênero, desejo, identidade, sexualidade, inserindo-as dentro dos regimes
de poder e práticas discursivas que as produzem, dotando-as de
inteligibilidade dentro de uma sociedade, uma cultura em determinado
contexto histórico e social e, posteriormente, as naturaliza e as postula
como premissas a priori, como fatores pré-discursivos, fundamentos da
própria cultura que buscam criar e legitimar, em um ciclo. O que a autora
vai fazer no livro é se voltar para os regimes de poder e práticas
discursivas que produzem, naturalizam, normatizam e hierarquizam essas
categorias. FILOSOFIA, LINGUÍSTICA, PSICANÁLISE
Luce Irigaray (1932), uma das protagonistas do feminismo psicanalítico francês e que,
junto de Hélène Cixous e Catherine Clément, esboçou o “Movimento da escrita
feminina”. Em seu trabalho, dialoga com um vasto campo: da filosofia pré-socrática à
pós-estruturalistas, da psicanálise de Freud a Lacan, dentre outros.

Se participam do desfalque causado à mulher conjunturas econômicas, sociais, morais


e legais, Irigaray dá enfoque ao processo de dominação masculina
retratado no plano da linguagem, e que acaba por entrar em jogo na
edificação de nossa ordem social de cunho patriarcal. O homem assume a economia
do Mesmo e o pensamento simétrico, nos termos de Irigaray, regido
pela razão, proporção, previsão, clareza e coerência. À mulher, o
avesso: irreflexão, desmedida, insensatez, mistério e desnexo. Ao
homem concerne o nobre mundo das ideias e as rédeas da zona
discursiva, ao passo que o terreno dela é o corpo indócil que
compete à natureza. Mas Irigaray sustenta que a ideia de uma
predeterminação “ahistórica” deste cenário é fruto de uma
estratégia política em vias de perpetuar o poder na mão dos
homens: destitui-se a mulher do acesso a uma dignidade ontológica em seus
próprios termos – ela é o que o homem diz que ela é e o que deve fazer; é sua verão
negativa, à medida que funciona como a exclusão constitutiva da instituição varonil.
Dai Irigaray apontar que nossa cultura só concebe um sexo, o masculino – a mulher é
o outro sem integridade, o sexo que não é um.

coincidência com o pensamento foucaultiano


ao pensar o discurso como criador de
indivíduos (FOUCAULT, 2007)?

MÉTODO: ANÁLISE DO DISCURSO


Não se deve buscar, portanto uma confirmação, ou validação do dado colhido, mas de
estabelecer uma análise descritiva que permita-nos estabelecer elos de entendimento das
noções teóricas às vivenciais.

JUDITH BUTLER
Estudos Feministas, Florianópolis,
14(2): 549-571, maio-agosto/2006
 Butler aponta a falsa estabilidade da categoria mulher
e propõe buscar um modo de interrogação da
constituição do sujeito que não requeira uma
identificação normativa com o ‘sexo’ binário.

grande equívoco de Butler é pensar que Beauvoir seria


uma leitora e seguidora acrítica da
fenomenologia e metafísica sartreana

 crítica mais contundente que Butler faz a Beauvoir é a da


crença na existência de uma metafísica da
substância, ou seja, que há um sujeito prévio ato da escolha
de gêneropossível(umproto-sujeito)

A diferença fundamental entre ambas é que, enquanto


Beauvoir trabalha com a idéia de dimorfismo
sexual, Butler acredita que não só a anatomia não dita mais
o gênero como também a anatomia não põe limite
algum ao gênero (a anatomia já não é o destino). No
entanto, Butler ressalva que, ao apontar a natureza do
corpo somente como superfície de uma
invenção cultural, Beauvoir abriu portas para
uma interpretação radical de gênero – que
não chegou a explorar.
Sexo e gênero são intercambiáveis para Butler, pois
ambos estão imbricados nas marcas dos constructos sociais.
Dizer que o gênero existe é pensar e aceitar as
normas culturais que governam a interpretação dos
próprios corpos. Nesse sentido, expõe que Beauvoir possui
uma concepção biologicista do gênero que não a
deixa trabalhar com outras possibilidades além dehomeme
mulher.ParaButler,osistemasexual binário impõe
modelos dados de existência corporal (gerados
pela metafísica da substância)   e manter essa divisão
só tem significado porque háinteresseculturalnisso
Então não há identidade de gênero anterior as suas performances.
Sóoque há é o disciplinamento do desejo que direciona
a ‘lógica’ de uma atração binária dos ‘opostos’. Se for
desarticulado o caráter natural do binarismo sexual, os
sexos/gêneros podem manifestar-se performativamente pois
o corpo já não será mais um dado biológico irredutível e sim
um aporte subsidiário

as mulheres não devem pleitear o ingresso na categoria de


sujeito (já que, como Foucault, acredita que o poder
cria os sujeitos que o vêm representar) e sim transgredir os
critérios dessa regulação política e de
representação. No entanto, reconhece a
necessidade estratégica de manter a categoria mulheres,
por imperativo da política feminista

Butler defende que a noção moderna de sujeito está


tão vinculada à noção de dualismo sexual que só se pode
falar significativamente em nome de sujeito masculino. A
autora segue a linha foucaultiana ao manter
que o discurso é constitutivo, produtivo
e performativo na medida em que o corpo recebe uma
insígnia de sexuado emumdeterminadomomentohistórico,de
modo a sustentar os modos institucionalizados do
controle, principalmente através do controle do desejo.
A saída para não ficarmos presos/as nessa lógica é proliferar as
mais diversas paródias em relação ao
sexo/gênero/sujeito/desejo, o que resultaria em corpos
dinâmicos e instáveis, que seriam o produto de uma fantasia –
entendida por Butler como liberdade. Butler trabalha com a
idéia de sujeito como uma categoria lingüística, como uma
estrutura em formação. Para ela, nenhum indivíduo torna-se
sujeito se não foi antes sujeitado ou passou pelo processo de
subjetivação.

A identidade é, para Butler, um ideal


normativo, um conjunto de características que
estabelecem uma continuidade através do
tempo, a partir de práticas regulatórias que marcam
a divisão sexo/gênero, a coerência interna dos
sujeitos e a auto-identidade da pessoa.

criticaa posição ‘estreita’ e ‘revisável’ de Butler, para a qual


só parece existir possibilidade de
transformação na ordem social a partir de um campo
que não esteja ligado às categorias homem e
mulher.
Queer é o exemplo de ruptura, ressignificação e
transformação política que nos traz a norte-americana.
A política queer refere-se a uma corrente de
pensamento para a compreensão da diversidade
de sexualidades e expressões culturais que tem na
resistência a um enquadramento identitário seu foco de
estudo

Sartre “A existência precede a essência”,


influenciou Simone de Beauvior. O homem era
livre, nada pre determinado, para se criar.
Angústia daquele que não sabe se criar.
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-83332014000200507
Retomando a questão dos modos pelos quais a identidade,
sobretudo a de gênero/sexual, é construída no e pelo discurso,
Butler postula um sujeito como sempre em processo, que se
constrói no discurso pelos atos que executa. Assim, a identidade de
gênero é conceituada como uma sequência de atos sem ator ou
autor preexistentes. A identidade, por exemplo, de mulher, é um
devir, um construir sem origem ou fim. A identidade, portanto, está
aberta a certas formas de intervenção e de ressignificação
contínuas, porquanto seja uma prática discursiva.

Uma vez que o sexo e o gênero podem apresentar-se como


naturais, a tarefa de desfazer esse engano torna-se mais
importante. Judith Butler procura fazê-lo por meio do que ela chama
uma genealogia da ontologia de gênero 2, em que ela investiga o
sujeito como efeito das relações de poder. As identidades de
gênero e de sexo acontecem no interior da lei, sendo por ela
conformada. Observe-se, como Sara Salih faz várias vezes, que
Butler trabalha com o modelo foucaultiano de poder, ou seja, como
múltiplo, proliferativo e potencialmente subversivo a si mesmo. A
liberdade de escolha individual no que concerne ao gênero e ao
sexo é limitada, porém existe. A filósofa expõe essa liberdade como
a possibilidade de interpretar as normas existentes de gênero,
organizando-as de uma nova forma. Entendido dessa maneira, o
gênero é um projeto tácito para renovar a história cultural do
indivíduo segundo seus próprios termos; uma tarefa na qual ele
está empenhado desde sempre. Porém, sempre com as limitações
impostas pelos dispositivos discursivos de poder, uma vez que a
filósofa postula que não há posição de liberdade para além do
discurso.
 Apropriando-se do modelo foucaultiano de inscrição, Butler
estabelece toda identidade de gênero como uma forma de paródia
produzida nas relações de poder. A lei é incorporada e, como
consequência, são produzidos corpos que significam essa lei sobre
o corpo e através do corpo. Logo, os gêneros são apenas efeitos de
verdade.
Para teorizar o sexo e o corpo como práticas discursivas, Butler
recorre a conceitos de vários pensadores, observando a construção
do sexo na linguagem por meio da interpelação (Althusser), da
performatividade (Austin), da significação (Freud e Lacan), da
construção (Foucault) e da recitação (Derrida).

LIVRO: Problemas de gênero publicado nos EUA em 1989 e a 1.ª


Edição no Brasil em 2003.

PRÊMIO
Judith Butler receberia o Prêmio Theodor W. Adorno por sua contribuição
extraordinária ao pensamento filosófico Concedida a cada três anos, a distinção
que traz o nome do filósofo e teórico alemão Theodor W. Adorno premia
desempenhos extraordinários nos campos da música, literatura, filosofia e cinema.
2012

ORELHA DO LIVRO A IDENTIDADE INTERROGADA


A obra é uma crítica a dos fundamentos do movimento feminista: a
identidade.
A proposta de SUBVERSÃO se refere à identidade de mulher.
Questiona a dimensão natural as diferenças anatômicas entre os
sexos.
Se opõe ao estruturalismo e problematiza o binário sexo (dado da
natureza) e o gênero (cultura e sociedade)
Para Butler SEXO categoria social e culturalmente construída
GÊNERO como categoria performativamente construída.
Discute a categoria da heterossexualidade.

PREFÁCIO
p. 8 – o poder parecia operar na própria produção dessa estrutura
binária em que se pensa o conceito de gênero.
p. 8 – O QUE ACONTECE AO SUJEITO E À ESTABILIDADE DAS
CATEGORIAS DE GÊNERO quando o regime epistemológico da
presunção da heterossexualidade é desmascarado, explicitando-o
como produtor e reificador dessas categorias ostensivamente
ontológicas?

p. 9 Para explicar as categorias de sexo gênero e desejo como


efeitos de uma formação específica de poder supõe uma
investigação crítica, que Foucault, ao reformular Nietzsche, chama
de GENEALOGIA.

p.10 compreende que a origem e causa dessas categorias de


identidade são efeitos de INSTITUIÇÕES, PRÁTICAS E
DISCURSOS, cujos pontos de origem são múltiplos e difusos.

p. 10 – DIRECIONA SUA CRÍTICA ao FALOCENTRISMO E A


HETEROSSUALIDADE COMPULSÓRIA

p. 10 – o capítulo 1 reconsidera o status da “mulher” como sujeito


do feminismo e a distinção de sexo/gênero.
A HETEROSSEXUALIDADE compulsória E O FALOCENTRISMO
são compreendidos como regimes de poder/discurso

p. 13 Parece que cada texto possui mais fontes do que pode


reconstruir em seus próprios termos.

P. 13. REGISTRA QUE ESSE LIVRO FOI FEITO EM VÁRIOS


MOMENTOS

p. 13. FÁBULAS DE GÊNERO a proposta é observar como essa


fábulas se estabelecem e fazem circular sua denominação errônea
de fatos naturais.

p. 13. TEORIA: pós estruturalismo


p. 13. PREDOMINÂNCIA DA FILOSOFIA

p. 13. A complexidade do conceito de gênero exige um conjunto


interdisciplinar e pós disciplinar de discursos, com vistas a resistir a
DOMESTICAÇÃO acadêmica dos estudos sobre gênero ou dos
estudos sobre as mulheres, e a radicalizar a noção de crítica
feminista.
a filósofa Judith Butler coloca em questão a identidade
como fundamento da ação política do feminismo.
as estruturas jurídicas contemporâneas engessam
categorias de identidade nos termos da coerência exigida
pela matriz heterossexual
reafirmar a identidade da “mulher” como sujeito do
feminismo não estaria justamente contribuindo para
manter a estabilidade das relações hierárquicas entre
masculino e feminino que se estabelecem no interior
nessa matriz?
o desmantelamento das relações de hierarquia deveria
focar não nas identidades – produtos ou efeitos do poder
– mas nos processos de produção dessas identidades e
manutenção das relações entre elas, empreendendo-se
uma pesquisa genealógica que analise os mecanismos de
poder que as tem como efeito
Foucault, o poder compreendido como prática ou como
exercício, que só existe em sua concretude, efetuado em
níveis variados em múltiplas direções no cotidiano, a
partir de instituições como a escola, a prisão, o hospício,
o quartel, a fábrica, os meios de comunicação e as
ciências
compreendido como uma rede de micro-poderes
articulados ao Estado e que atravessam a estrutura social
face produtiva do poder, expressa por meio de incitações,
induções e imperativos, que através de práticas
disciplinares objetivam corpos dóceis, úteis e produtivos,
necessários ao bom funcionamento da economia
O poder se articula intrinsecamente ao saber. O que
conhecemos, as formas pela qual conhecemos e mesmo o
sujeito que conhece são efeitos da implicação entre
poder e saber e suas transformações históricas
O que a genealogia de Foucault pretende é analisar os
mecanismos de poder nos termos descritos acima –
enquanto exercício e articulado ao saber – e que tem
como efeito o sujeito. Butler parte dessa ferramenta para
realizar uma crítica à categoria de identidade, mais
especificamente, à identidade do sujeito do feminismo
É nesse sentido que a crítica genealógica se torna útil no
pensamento de Butler: para denunciar a captura da
identidade nas redes de poder-saber e apontar a
necessidade de um novo tipo de política feminista.
É preciso, então, questionar a concepção de gênero, com o intento político de torná-lo um
instrumento eficaz na política feminista.
diferenças sexuais não são por si só determinantes das diferenças
sociais entre homens e mulheres, mas são significadas e
valorizadas pela cultura de forma a produzir diferenças que são
ideologicamente afirmadas como naturais.

Se entendermos o gênero como uma construção cultural,


que difere de sexo, um corpo que ao nascer tem vagina
ainda não é mulher. Mas justamente nesse ainda não
haveria um determinismo cultural que diz que quem
nascer com vagina será uma mulher? Se a biologia não é
destino, a cultura o seria?
diferenças sexuais não são por si só determinantes das
diferenças sociais entre homens e mulheres, mas são
significadas e valorizadas pela cultura de forma a produzir
diferenças que são ideologicamente afirmadas como
naturais.
Butler propõe um giro que consiste em afirmar que, assim
como o gênero, o sexo também é produzido
discursivamente. Ou seja, o sexo – tal como o gênero –
não é anterior ao discurso: é, em vez disso, um efeito do
discurso
Butler se opõe à metafísica da substância, ou seja, à
crença de que o sexo e o gênero são entidades naturais
A posição da autora nos leva a pensar que há uma razão
política para
afirmar o gênero e o sexo como substância/essência. É
preciso afirmar a substância dos gêneros dentro do
binarismo masculino-feminino para apontar sua
naturalidade e supor sua complementariedade, o que
afirma a suposta naturalidade do desejo entre “homens”
e “mulheres”. Com isso, o caráter compulsório da
heterossexualidade é mascarado e o regime de poder se
fortalece, já que não nos é apresentado como um regime,
como uma lei que é imposta, mas como um fato natural
da vida. Sendo natural, como questioná-lo? Estando sua
característica repressora oculta pela naturalização, como
questionar a opressão de um regime político se ele se
apresenta como uma lei natural ou nem mesmo como
uma lei, mas como um desejo natural

essas categorias – homem e mulher – dizem respeito a


uma produção discursiva, tem-se que a própria
identidade é uma produção discursiva, um efeito do
discurso. Nesse sentido, o sujeito não é anterior ao que
ele expressa, mas é justamente um efeito do que ele
expressa.

Para Butler, atos, gestos e atuações produzem o efeito de um


núcleo ou substância interna. Esses atos são performativos, no
sentido de que a identidade que pretendem expressar é fabricada
por eles, “[...] manufaturadas e sustentadas por signos corpóreos e
outros meios
discursivos.” (BUTLER, 2003, p.194). Eles criam a ilusão de um
núcleo interno e regular do gênero,o que serve ao propósito político
de regular a sexualidade nos termos da heterossexualidade
compulsória. Ao deslocar a origem ou causa do gênero para um
núcleo psicológico, impede-se a análise da rede de discursos na
qual o gênero é engendrado, já que esta é invisibilizada

denúncia do caráter produzido do gênero e a visualização de seus


atributos de forma descontínua nos faz questionar a artificialidade
da continuidade do que antes víamos como sólido e permanente

Butler parece sugerir que o “original” é na verdade o efeito de um


discurso originário, que contínua e historicamente se inscreve nos
sujeitos e nas relações entre eles, originando corpos que com o
passar do tempo adquirem o status de originais

denúncia realizada pelos corpos “incoerentes” ataca o próprio


sistema de poder-saber que nega sua inteligibilidade. Faz-se um
movimento inverso: denuncia-se a ininteligibilidade do sistema que
confere inteligibilidade, pois se determinados corpos “não cabem”
em seu esquema, ele não serve para explicar o gênero. Questionar
seu saber sobre o gênero implica em, ao mesmo tempo, questionar
seu poder. Quando o corpo extrapola as fronteiras que tentam
delimitá-lo e regulá-lo, acaba por implodir o sistema que tentava
capturá-lo, pois subverte sua lógica e denuncia sua impotência
explicativa. Diferentemente de uma política que afirma as
identidades produzidas no interior desse sistema, o questionamento
da coerência identitária ataca a própria ordem que tenta instituí-la,
embaralhando noções que sustentam mecanismos de poder
responsáveis pela produção de corpos dóceis

Butler, ao desenvolver a noção de gênero como ato performativo,


coloca a identidade como efeito desses atos que, com o tempo,
adquire a aparência de substância sujeito do feminismo pode ser
deslocado da identidade “mulher” para um não-lugar onde ele não
tem uma definição precisa, no sentido de que é constituído na
medida em que age, atua e luta contra engessamentos, imposições
e induções.
O não-lugar do sujeito do feminismo não o livra de ser engendrado
pelos mecanismos de poder, mas permite que “ele” tenha maior
liberdade de movimentos e maior potencial de resistência contra
aquilo que ao tentar defini-lo, o imobiliza

força criativa necessária ao escape de categorias identitárias e à


desorganização de sequências normatizadoras. Escapar à
categoria “mulher” como fundacional para o feminismo abre um
campo de manobra para combater uma matriz que encontra seu
potencial de “assujeitamento” justamente na imobilidade das
identidades.

CAPÍTULO 1 – SUJEITO DO SEXO/GÊNERO/DESEJO

MULHERES COMO SUJEITO DO FEMINISMO

p. 17/18 Inicia criticando o discurso feminista QUANTO À


COMPREENSÃO DO SUJEITO “MULHER”, que deixa de
apresentar termos estáveis ou permanentes.

p. 18 Há discordância sobre o que constitui ou deveria constituir a


categorias das MULHERES.

p. 18 Para representar tais categorias devem ser atendidas


qualificações quanto ao SER SUJEITO.

p. 18 Nesse sentido se baseia em Foucault dizendo que os


sistemas jurídicos de poder produzem os sujeitos que passam a
representar.

p. 19 Usa a palavra “fracasso” para alertar que o sujeito feminista é


construído a partir de um discurso e pelo próprio sistema político
que deveria promover a sua emancipação. E esse sistema produz
sujeitos com traços de gênero determinados em conformidade com
um eixo diferencial de dominação, ou os produz presumivelmente
masculinos.

p. 20 A crítica feminista deve compreender como a categoria das


mulheres, o sujeito do feminismo, é produzida e reprimida pelas
mesmas estruturas de poder por intermédio das quais se busca a
emancipação.

p. 20 “estado natural” FÁBULA fundamento fictício para legitimar o


exercício do poder.
p. 20 o termo “MULHER” ponto de contestação, uma causa de
ansiedade. Não estabelece uma IDENTIDADE COMUM.

p. 21 Isto porque se tornou impossível separar a noção de gênero


das interseções políticas e culturais em que invariavelmente ela é
produzida e mantida.

p.23. Sugere que as supostas UNIVERSALIDADE E UNIDADE do


sujeito do feminismo são de fato minadas pelas restrições do
discurso representacional em que funcionam.

p. 23 A insistência prematura num sujeito estável do feminismo,


compreendido como uma categoria UMA das mulheres, gera,
inevitavelmente, múltiplas recusas a aceitar essa categoria.

p. 23. Cria-se uma exclusão como consequências coercitivas e


reguladoras dessa construção.

p. 23 Por sua conformação às exigências da política


representacional de que o feminismo articule um SUJEITO
ESTÁVEL, o feminismo abre assim a guarda a acusações de
deturpação cabal de representação.

p. 23. As estruturas jurídicas da linguagem e da política constituem


o campo contemporâneo do poder.

p. 24 a tarefa é formular no interior dessa estrutura constituída, uma


crítica às categorias de identidade que as estruturas jurídicas
contemporâneas engendram, naturalizam e imobilizam.

p. 24 PERÍODO PÓS FEMINISTA: oportunidade de refletir, a partir


de uma perspectiva feminista sobre a exigência de se construir um
SUJEITO DO FEMINISMO.

p. 24. Propõe um novo tipo de política feminista: que tome a


construção variável da identidade como um pré-requisito
metodológico e normativo, senão como um objetivo político.

p. 25. QUAL A TAREFA DA GENEALOGIA FEMINISTA?


Determinar as operações políticas que produzem e ocultam o que
se qualifica como sujeito jurídico do feminismo.
É o processo de construção e não a identidade que deve ser o foco.
Isto porque a formação do sujeito ocorre no interior de um campo
de poder sistematicamente encoberto pela afirmação desse
fundamento.

Judith Butler surge nessa cena com uma proposta para as


teorias de gênero que desloca a discussão para o campo dos
efeitos do poder.
A ORDEM COMPULSÓRIA DO SEXO/GÊNERO;DESEJO

p. 26 Sexo parece intratável em termos biológicos, o gênero é


culturalmente construído.

p. 26 descontinuidade radical entre corpos sexuados e gêneros


culturalmente construídos

p. 26 quando o status construído do gênero é teorizado como


radicalmente independente do sexo, o próprio gênero se torna um
ARTIFÍCIO FLUTUANTE, com a consequência de que homem e
masculino podem, com igual facilidade, significar tanto um corpo
feminino como um masculino, e mulher e feminino, tanto um corpo
masculino como um feminino.

CRÍTICA A LEVI-STRAUSS ESTRUTURALISMO


p. 27. O gênero não deve ser meramente concebido como a
inscrição cultural de significado num sexo previamente dado (uma
concepção jurídica); tem de designar também o aparato mesmo de
produção mediante o qual os próprios sexos são estabelecidos.

p. 28 colocar a dualidade do sexo num domínio pré-discursivo é


uma das maneiras pelas quais a estabilidade interna e a estrutura
binária do sexo são eficazmente asseguradas. Essa produção do
sexo como PRÉ-DISCURSIVO deve ser compreendida como efeito
do aparato de construção cultural que designamos por gênero.

GÊNERO: AS RUÍNAS CIRCULARES DO DEBATE


CONTEMPORÂNEO
P. 28 A ideia de que o gênero é construído sugere certo
determinismo de significados de gênero, inscritos em corpos
anatomicamente diferenciados.

p. 29 quando a “cultura” relevante que “constrói” o gênero é


compreendida nos termos dessa lei ou conjunto de leis, tem-se a
impressão de que o gênero é tão determinado e tão fixo quanto na
formulação de que a biologia é o destino. Nesse caso, não a
biologia, mas a cultura se torna o destino.

Crítica à Simone de Beauvoir: gênero é construído, mas sob uma


COMPULSÃO CULTURAL a fazê-lo.

p. 29 Significado de construção: polaridade filosófica convencional


entre LIVRE ARBÍTRIO X DETERMINISMO.

p. 30 CORPO: mero instrumento ou é em si mesmo uma


construção?

p. 30 Sugere verificar os limites de uma experiência


discursivamente condicionada. Tais limites se estabelecem sempre
nos termos de um discurso cultural hegemônico, baseado em
estruturas binárias que se apresentam como a linguagem da
racionalidade universal. Assim, a coerção é introduzida naquilo que
a linguagem constitui como o domínio imaginável do gênero.

p. 31 Simone de Beauvoir (mulheres são designadas como o outro;


as mulheres são o negativo dos homens, a falta em confronto com a
qual a identidade masculina se diferencia) x Luce Irigaray (mulheres
como o sexo que não é uno, mas múltiplo; tanto o sujeito quanto o
outro são os esteios de ideia falocêntrica e fechada, com a
completa exclusão do feminino)

p. 32 CRÍTICA À METAFÍSICA DA SUBSTÂNCIA


p. 32 pessoa substantiva, portadora de vários atributos essenciais e
não essenciais. A posição feminista humanista compreenderia o
gênero como um atributo da pessoa.

p. 33 O gênero não denota um ser substantivo, mas um ponto


relativo de convergência entre conjuntos específicos de relações,
cultural e historicamente convergentes.
p. 33 Para Irigaray o feminismo jamais poderia ser a marca de
sujeito, como sugeriria Beauvoir.

p. 33 os discursos constituem modalidades da linguagem


falocêntrica.

p. 34 as divergências entre as autoras podem ser olhadas como a


problematização da localização e do significado do “sujeito” e do
“gênero” no contexto de uma assimetria de gênero socialmente
instituída.

p. 35 Teoria da CORPORIFICAÇÃO Beauvior: mantém o dualismo


MENTE/CORPO mesmo quando propõe uma síntese desses
termos. A preservação dessa distinção pode ser lida como
sintomática do próprio falocentrismo que Beavouir subestima.

p. 35 Platão, Descartes, Husserl e Sartre: distinção ontológica entre


corpo e alma sustenta invariavelmente relações de subordinação e
hierarquia políticas e psíquicas.

p. 36 as associações culturais entre mente e masculinidade, por um


lado, e corpo e feminilidade, por outro, são bem documentadas no
campo da filosofia e do feminismo.

TEORIZANDO O BINÁRIO, O UNITÁRIO E ALÉM

p. 37 Irigaray: economia significante masculinista, criticada pelo seu


alcance globalizante.
p. 37 Butler afirma que mais do que trabalhar as afirmações
totalizantes da economia significante masculinista, é preciso
permanecer autocrítica em relação aos gestos totalizantes do
feminismo.
p. 37 identificar o inimigo acaba por reforça-lo.

p. 38 debates feministas contemporâneos: outro olhar sobre a


universalidade da identidade feminina e da opressão masculina.

p. 39 a insistência sobre a coerência e unidade da categoria das


mulheres rejeitou efetivamente a multiplicidade das intersecções
culturais, sociais e políticas em que é construído o espectro
concreto das mulheres.
p. 39 Proposta de coalizão: mulheres diferentemente posicionadas
articulem identidades separadas na estrutura de uma coalizão
emergente.

p. 40 Faz parte dessa democratização aceitar divergências,


rupturas, dissensões e fragmentações.

p. 40 é preciso questionar as relações de poder que condicionam e


limitam as possibilidades dialógicas.

p. 40 seria errado supor de antemão a existência de uma categoria


de “mulheres”

p. 40 a hipótese de sua incompletude essencial permite à categoria


servir permanentemente como espaço disponível para os
significados contestados. A incompletude por definição dessa
categoria, poderá, assim, vir a servir como um ideal normativo, livre
de qualquer força coercitiva.

p. 41 se, a expectativa compulsória de que as ações feministas


devam instituir-se a partir de um acordo estável e unitário sobre a
identidade, essas ações bem poderão desencadear-se mais
rapidamente e parecer mais adequadas ao grande número de
“mulheres” para as quais o significado da categoria está em
permanente debate.

p. 42 o gênero é uma complexidade cuja totalidade é


permanentemente protelada, jamais plenamente exibida em
qualquer conjuntura considerada. Uma coalizão aberta, portanto,
afirmaria identidades alternativamente instituídas e abandonadas,
segundo as propostas em curso; tratar-se-á de uma assembleia que
permita múltiplas convergências e divergências, sem obediência a
um telos normativo e definidor.

IDENTIDADE, SEXO E A METAFÍSICA DA SUBSTÂNCIA

p. 43 Em sendo a “identidade” assegurada por conceitos


estabilizadores de sexo, gênero e sexualidade, a própria noção de
“pessoa” se veria questionada pela emergência cultural daqueles
seres cujo gênero é “incoerente” ou “descontínuo”, os quais
parecem ser pessoas, mas não se conformam às normas de gênero
da inteligibilidade cultural pelas quais as pessoas são definidas.
p. 43 Gêneros “inteligíveis” são aqueles que, em certo sentido,
instituem e mantêm relações de coerência e continuidade entre
sexo, gênero, prática sexual e desejo.

p. 44. A noção de que pode haver uma “verdade” do sexo, como


Foucault a denomina ironicamente, é produzida precisamente pelas
práticas reguladoras que geram identidades coerentes por via de
uma matriz de normas de gênero coerentes.

p. 44 a heterossexualização do desejo requer e institui a produção


de oposições discriminadas e assimétricas entre “feminino” e
“masculino”, em que estão são compreendidos como atributos
expressivos de “macho” e “fêmea”.

p. 44 ora, do ponto de vista desse campo, certos tipos de


“identidade de gênero” parecem ser meras falhas do
desenvolvimento ou impossibilidades lógicas, precisamente por não
se conformarem às normas de inteligibilidade cultural. Entretanto,
sua persistência e proliferação criam oportunidades críticas de
expor os limites e os objetivos reguladores desse campo de
inteligibilidade e, consequentemente, de disseminar, nos próprios
termos dessa matriz de inteligibilidade, matrizes rivais e subversivas
de desordem do gênero.

p. 44/45 Que matriz é essa?

p. 45 no espectro da teoria feminista e pós estruturalista francesa,


compreende-se que regimes muitos diferentes de poder produzem
os conceitos de identidade sexual.

p. 45 os vários modelos explicativos oferecidos aqui sugerem os


caminhos muito diferentes pelos quais a categoria do sexo é
compreendida, dependendo de como se articula o campo do poder.

p. 46 A noção de que o sexo aparece na linguagem hegemônica


como substância, ou, falando metafisicamente, como ser idêntico a
si mesmo, é central para cada uma dessas concepções. Essa
aparência se realiza mediante um truque performativo da linguagem
e/ou do discurso, que oculta o fato de que “ser” um sexo ou um
gênero é fundamentalmente impossível.

p. 49 A metafísica da substância é uma expressão associada a


Nietzsche na crítica contemporânea do discurso filosófico.
p. 51 discurso popular sobre a identidade de gênero, que emprega
acriticamente a atribuição inflexional de “ser” para gêneros e
“sexualidades”. Quando não problematizadas, as afirmações “ser”
mulher e “ser” heterossexual seriam sintomáticas dessa metafísica
das substâncias do gênero. Tanto no caso de “homens” como no de
“mulheres”, tal afirmação tende a subordinar a noção de gênero
àquela de identidade, e a levar à conclusão de que uma pessoa é
um gênero e o é em virtude do seu sexo, de seu sentimento
psíquico do eu, e das diferentes expressões desse eu psíquico, a
mais notável delas sendo a do desejo sexual.

p. 52 O gênero só pode denotar uma unidade de experiência, de


sexo, gênero e desejo, quando se entende que o sexo, em algum
sentido, exige um gênero – sendo o gênero uma designação
psíquica e//ou cultural do eu – e um desejo – sendo o desejo
heterossexual e, portanto, diferenciando-se mediante uma relação
de oposição ao outro gênero que ele deseja.

p. 52 paradigma naturalista que estabelece uma continuidade


causal entre sexo, gênero e desejo, seja como um paradigma
expressivo autêntico, no qual se diz que um eu verdadeiro é
simultânea ou sucessivamente revelado no sexo, no gênero e no
desejo.

p. 53 RAZÕES POLÍTICAS DA VISÃO DO GÊNERO COMO


SUBSTÂNCIA: a instituição de uma heterossexualidade
compulsória e naturalizada exige e regula o gênero como uma
relação binária em que o termo masculino diferencia-se do termo
feminino, realizando-se essa diferenciação por meio das práticas do
desejo heterossexual.

p. 53 o ato de diferenciar os dois momentos oposicionais da


estrutura binária resulta numa consolidação de cada um dos seus
termos, da coerência interna respectiva do sexo, do gênero e do
desejo.

p. 55 Se a noção de uma substância permanente é uma construção


fictícia, produzida pela ordenação compulsória de atributos em
sequências de gênero coerentes, então o gênero como substância,
a viabilidade de homem e mulher como substantivos, se vê
questionado pelo jogo dissonante de atributos que não se
conformam aos modelos sequenciais ou causais de inteligibilidade.
p. 56 Nesse sentido, o gênero não é um substantivo, mas tampouco
um conjunto de atributos flutuantes, pois vimos que seu efeito
substantivo é performativamente produzido e imposto pelas práticas
reguladoras da coerência do gênero. Consequentemente, o gênero
mostra ser performativo no interior do discurso herdado da
metafísica da substância – isto é, constituinte da identidade que
supostamente é.

p. 56 Não há identidade de gênero por trás das expressões do


gênero; essa identidade é performativamente constituída, pelas
próprias “expressões” tidas como seus resultados.

LINGUAGEM, PODER E ESTRATÉGIAS DE DESLOCAMENTO

p. 65 o movimento pró sexualidade no âmbito da teoria e da prática


feminista tem efetivamente argumentado que a sexualidade sempre
é construída nos termos do DISCURSO e do PODER, sendo o
poder em parte entendido em termos das convenções culturais
heterossexuais e fálicas.

p. 65 se a sexualidade é construída culturalmente no interior das


relações de poder existentes, então a postulação de uma
sexualidade normativa que esteja “antes”, “fora” ou “além” do poder
constitui uma impossibilidade cultural e um sonho politicamente
impraticável, que adia a tarefa concreta e contemporânea de
repensar as possibilidades subversivas da sexualidade e da
identidade nos próprios termos do poder.

p. 67 Em outras palavras, a “unidade” do gênero é o efeito de uma


prática reguladora que busca uniformizar a identidade do gênero
por via da heterossexualidade compulsória. A força dessa prática é,
mediante um aparelho de produção excludente, restringir os
significados relativos de “heterossexualidade”, “homossexualidade”
e “bissexualidade”, bem como os lugares subversivos de sua
convergência e ressignificação.

p. 68 A presunção aqui é que o “ser” de um gênero é um efeito,


objeto de uma investigação genealógica que mapeia os parâmetros
políticos de sua construção no modo da ontologia. Declarar que o
gênero é construído não é afirmar sua ilusão ou artificialidade, em
que se compreende que esses termos residam no interior de um
binário que contrapõe como opostos o “real” e o “autêntico”.
p. 69 Como genealogia da ontologia do gênero, a presente
investigação busca compreender a produção discursiva da
plausibilidade dessa relação binária, e sugerir que certas
configurações culturais do gênero assumem o lugar do “real” e
consolidam e incrementam sua hegemonia por meio de uma
autonaturalização apta e bem sucedida.

p. 69 Se há algo de certo na afirmação de Beauvoir de que ninguém


nasce e sim torna-se mulher decorre que mulher é um termo em
processo, um devir, um construir de que não se pode dizer com
acerto que tenha uma origem ou um fim. Como uma prática
discursiva contínua, o termo está aberto a intervenções e
ressignificações.

p. 69 O gênero é a estilização repetida do corpo, um conjunto de


atos repetidos no interior de uma estrutura reguladora altamente
rígida, a qual se cristaliza no tempo para produzir a aparência de
uma substância, de uma classe natural de ser.

p. 69 A genealogia política das ontologias do gênero, em sendo


bem-sucedida, desconstruiria a aparência substantiva do gênero,
desmembrando-a em seus atos constitutivos, e explicaria e
localizaria esses atos no interior das estruturas compulsórias
criadas pelas várias forças que policiam a aparência social do
gênero.

SCAVONE: referência importantíssima para o feminismo.


Joan Scott leitura obrigatória para epistemologia feminista.
Feminismo trabalha as mulheres, a ideia de gênero vem
posteriormente, nos anos 1970. Na década de 1990 o conceito de
gênero passa a tomar o espaço da categoria “mulheres”.
Quando trabalha o patriarcado a teoria de gênero consegue discutir
a ideia de mulher.
Safioti gênero deve ser pensado a partir do patriarcado.
São vários fragmentos, são várias teorias.

Butler: método Derrida, desconstrucionista, desconstruindo


categorias. Embora use Foucault.
Nancy Fraser é estudiosa de Habermas, na perspectiva feminista.
O mundo das mulheres Alan Tourein
Gayle Rubin: numa perspectiva epistemológica vai achar furos.
Melhor síntese do pensamento marxista em quatro páginas.
Marx: ideia da mais valia do trabalho doméstico.
Trecho das relações sociais: Marx trabalha conceito de escravo a
partir de determinadas relações. Somente na relação entre homem
e mulher que vai se entender a subordinação feminina.
Faz o movimento de ler o texto e identificar o que não está no texto.
Será que é possível escrever um capital de gênero?
A relação capitalista não pode acontecer sem a mulher, seja como
organizadora do espaço doméstico ou favorecimento sexuais.

Marx não explica o ambiente doméstico. Engels explica o ambiente


doméstico mas não explica a formação da família. Levi-Strauss
explica a formação da família. A psicanálise explica que a mulher se
conforma com a sua condição e subordinação.

Compartilhar o falo e não mais o falo ser dominante.


Deslocar as possibilidades de exercício do poder simbólico.

Não deve haver domínio simbólico de um em relação ao outro.

Como a ciência construiu o romance

Beth Fridan – A mística feminina: foram incentivadas para trabalhar


porque os homens foram para a guerra.

O que significa a questão de gênero no Brasil? Entender os


movimentos, essas estruturas, como estão ocorrendo os embates
ideológicos.

Identidade: coerência da vida dos indivíduos.


Identidade é performativo.

Butler: tornar-se mulher é objeto. Subverter é não poder ser


mapeado. Toda vez que que você é mapeado você é assujeitado.

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