1) O documento discute a crítica de Judith Butler à noção de "mulheres" como categoria do feminismo, argumentando que tal categoria pressupõe uma falsa unidade.
2) Ele também examina como Butler desconstrói a dualidade sexo/gênero, mostrando que o gênero é culturalmente construído em vez de naturalmente determinado pelo sexo.
3) O documento explora como Butler vê a identidade como um efeito das relações de poder ao invés de algo essencial ao sujeito.
Descrição original:
Título original
O gênero e a identidade como ferramentas problemáticas para análise social à luz de
1) O documento discute a crítica de Judith Butler à noção de "mulheres" como categoria do feminismo, argumentando que tal categoria pressupõe uma falsa unidade.
2) Ele também examina como Butler desconstrói a dualidade sexo/gênero, mostrando que o gênero é culturalmente construído em vez de naturalmente determinado pelo sexo.
3) O documento explora como Butler vê a identidade como um efeito das relações de poder ao invés de algo essencial ao sujeito.
1) O documento discute a crítica de Judith Butler à noção de "mulheres" como categoria do feminismo, argumentando que tal categoria pressupõe uma falsa unidade.
2) Ele também examina como Butler desconstrói a dualidade sexo/gênero, mostrando que o gênero é culturalmente construído em vez de naturalmente determinado pelo sexo.
3) O documento explora como Butler vê a identidade como um efeito das relações de poder ao invés de algo essencial ao sujeito.
O gênero e a identidade como ferramentas problemáticas para análise social à luz de
“Problemas de gênero”- Judith Butler.
-Mulheres como sujeito do feminismo: Vamos pensar o conceito de gênero como o
pilar das teorias feministas. Melhor, a divisão sexo/gênero constitui o maior fundamento desta teoria. Ou seja, o sexo como um dado natural e o gênero como atributo das construções culturais do sexo. Na verdade, pensar as mulheres como sujeito do feminino implica, necessariamente questionar a dualidade sexo/gênero. Pensar o desfacelamento conceitual do gênero diz respeito a desmontar uma equação em que o gênero seria compreendido em um sentido ontológico, substancial, categorias que só se tornariam inteligíveis dentro da metafísica que também se fez passível de reflexão. Vejam bem, a ideia aqui é desmontar a dualidade sexo/gênero, fazendo a crítica ao feminismo como uma categoria que funciona de fato dentro do Humanismo, pensando uma tradição que se volta para o Homem (Universal) e a condição humana. Ao pensarmos a desconstrução na perspectiva que propõe Jacques Derrida, os conceitos passariam por uma espécie de desmontagem ou decomposição de alguns elementos discursivos, a fim de que possamos compreender quais termos são capazes de interditar certas condutas. Isso não significa uma destruição completa do termo. É justamente a tentativa de desmontar o significante, os significados e a unidade do signo, com o intuito de criticar a metafísica e as próprias filosofias do sujeito. Nesse sentido, repensar teoricamente a identidade, já que Butler percebe uma incoerência quando afirma que as mesmas estruturas de poder que reprimem estes sujeitos são usadas para emancipa-los. Isso acontece uma vez que é requerida certa visibilidade no campo de atuação político. Assim, a tática escolhida pelos feminismos, durante muito tempo, foi a representação/ representatividade. Contudo, para ser expandida a representação, as qualificações do ser sujeito devem ser atendidas. É sabido que as relações de poder, muito mais do que limitar e proibir, produz. Neste caso, produz sujeitos, que passam a representar. É assim que Butler dá seu pontapé inicial para a crítica da categoria Mulheres, uma vez que as estruturas produzem sujeitos com marcas de gênero que são compreendidas como pré- estabelecidas, nesse sentido que dão significado a um tipo específico de sujeito. Isso porque o termo mulheres passaria a denotar uma identidade comum, portanto na análise de Butler, algo problemático. Se alguém “é” algo, certamente isso não se resume unicamente a ser Homem e/ou Mulher (p.21). Esse sujeito que o feminismo quer representar, portanto, não existe. Desse modo, essa reflexão decorre de uma leitura radicalmente contestadora ao debate acadêmico que circulou por volta dos anos de 1980/1990 e expandiu os horizontes críticos das teóricas feministas. Uma das estratégias mais interessantes para tentar mapear as problemáticas da constituição dos sujeitos femininos foi lançar mão da crítica ao modelo binário de organização e leitura da realidade, a fim de aplicar às construções das diferenças sexo/gênero. (p.22). A noção binária de F/M é uma estrutura exclusiva para tornar o sentido de M e F inteligível. Deste modo, os feminismos estariam totalmente descontextualizados de outros elementos que formariam o sujeito (raça/etnia-classe), elementos também constituintes da “identidade comum que se almeja” (p.23/24/25). Butler já problematiza as teóricas e epistemologias feministas e pressiona a reflexão acerca de uma análise interseccional/entrecruzada. O conceito de gênero, por sua vez, enquanto um constructo social, distinto de sexo, pensado e percebido enquanto algo natural, à priori, são a base argumentativa para a defesa de premissas “desnaturalizadoras”, sob as quais se dava, grosso modo, a associação do feminino à submissão e fragilidade e que fixou sentidos de modo tão firme que, até hoje, são evocados para produzir desigualdades. Butler persegue, então, a ideia da descontinuidade radical entre corpos sexuados e gêneros culturalmente construídos. “Nesse caso, não a biologia, mas a cultura torna-se o destino”. A fim de contestar características entendidas como naturalmente femininas, era necessário colocar o sistema “sexo-gênero” em xeque (p.26/27/28). Embora as epistemologias feministas considerem que haja esta unidade fictícia na categoria mulheres, criam paradoxalmente uma cisão no sujeito do feminismo. Desconstruir a ideia de a noção de gênero vem da ideia de que ele decorra, diretamente, do sexo, na medida em que esta distinção se torna automática (natural) é o primeiro passo para a crítica de Butler. É preciso atenção às teorias feministas que não problematizam outro elemento considerado também como algo natural e coerente: o desejo. Até que ponto é possível estabelecer uma analogia à crítica de Derrida do caráter arbitrário do signo como falsa unidade e a analítica de Butler do sistema sexo/gênero? “Talvez o sexo sempre tenha sido gênero, de tal modo que a distinção entre eles revela-se absolutamente nenhuma”. O indicativo de que o sexo é tão construído quanto o gênero aproxima Butler da desconstrução proposta por Derrida. Não há nada em sua explicação que garanta que o ser que se torna mulher seja necessariamente uma fêmea. A problemática de se pensar a identidade comum baseada no gênero está na obliteração da aproximação entre gênero e essência, substância. Aceitar o sexo como um dado natural e o gênero construído, implica considerar que o gênero representaria um certo tipo de essência do sujeito. Desse modo, Butler escarafuncha um pouco mais e chega ao nível das representações ocidentais hegemônicas e da metafísica da substância, que até então estruturava a própria noção de sujeito. A metafísica, resumidamente, se traduz no próprio conceito de ontologia, ou seja, vem da lógica aristotélica de que A é =A. Ou seja, o sujeito é igual ou pelo menos deveria ser igual à sua essência/subjetividade. Portanto, a identidade significaria a coerência entre sexo-gênero- corpo- desejo. A grande questão é justamente a tentativa de mapear quando acontece a construção do gênero. Então o esquema contestado se resume em: Sexo = sexo. Gênero = atributo essencial de indivíduo.
Ao contrário desse esquema, pensemos então:
Se o gênero fosse inconstante e contextual, não denotando um ser substantivo, “mas um ponto relativo de convergência entre conjuntos específicos de relações, culturais e historicamente convergentes”, não seria uma chave de leitura mais interessante? Aqui nós chegamos em um ponto realmente interessante: A crítica foucaultiana ao sujeito constituído/fundante, portanto uno. Não se trata de recusar completamente a noção de sujeito, mas justamente a proposta de pensar o gênero como efeito de relações de poder em vez de pensar um sujeito de gênero centrado. Ser um “gênero” é um efeito. Isso nos leva à outra acertiva, de que a identidade e a essência são propriamente expressões da linguagem e não um sentido em si do sujeito. Como é possível conhecer uma coisa? Determinar sua natureza? Marcar uma essência? Qual é o interesse de transformar a pura dispersão da vida no tempo em um conceito unitário? A essência, por si só, não está sujeita a ideia de movimento. Portanto, pode ser apropriada/colonizada por outras instâncias. Assim, é possível “conhecer” a natureza de algo. E então, por quais motivos os indivíduos colocam sua própria existência em risco? Justamente por que o ser humano acha que é capaz de conhecer as coisas. Assim, os rearranjos múltiplos dos modos de vida tornam-se uma coisa só, homogênea. O sujeito, por sua vez, pensado nessa lógica, boicota os próprios modos de existência para ter a sensação de segurança, certo de que há, racionalmente um desfecho histórico, imaginado teleologicamente. Assim, o terror em imaginar de que modo vamos nos orientar e nos compreender diante de um percurso em que essa finalidade da vida humana não existe impregna toda a ideia do sujeito fundante/ constituído. Pensar é algo muito mais largo do que conhecer, já que o conhecimento não dá conta dessas condições e possibilidades de vida. A vida, portanto, acaba sendo reduzida a um conceito por que ela se multiplica. Há tantas formas de pensar e conhecer quanto as formas de vida. “Há tantos gêneros quanto pessoas.” Se é que ainda é possível falar nisso. O pensamento, assim como o sujeito, é uma potência, um processo de profunda desterritorialização. Na medida em que Judith Butler problematiza esse modo de vida “mulheres”, enxerga a normatização da própria categoria. Isso por que ao se constituir enquanto um sujeito mulher, se perde toda singularidade. Por isso as instituições, em seu incessante exercício de poder se impõe no sentido de nomear sujeitos para identifica-los. Dessa maneira, regulam as práticas sociais e estabelecem os níveis em que se dão essas relações, em sua maioria, assimétricas, desiguais e excludentes. A tônica dos movimentos feministas foi também elaborada nessas estruturas da mecânica institucional. “Se não existe sujeito, a quem vamos emancipar?” A fim de fazer legítima esta posição fixa como possibilidade de representação política. Afirmar que a política exige um sujeito estável é afirmar que não pode haver oposição política a essa assertiva. O paradoxo dessa perspectiva reside justamente na inviabilidade de novas formas de vida e reforço de subjetividades cativas e identitárias (p.24-25). A unidade é necessária para ação política efetiva? Depende de para quem isso é útil (p.40-41). Então, o que é a identidade? O que a constitui como algo idêntico a si e organiza uma coerência interna? De que modo isso contamina as identidades de gênero? 1- Supor que há uma identidade geral antes de uma identidade de gênero é um equívoco, já que o reconhecimento do sujeito é generificado. Então, reformularemos o modo de pensar: O modo como as práticas reguladoras de formação e divisão do gênero, constituintes da identidade, coerência do sujeito e status autoidêntico da pessoas se articulam no campo do saber/ poder são o ponto nodal da crítica feita por Judith Butler (p.43).