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Democracia não é sinônimo de inclusão.

A própria invenção de um sistema


democrático se faz a partir de uma experiência de exclusão. Para garantir suas posições de
sujeito e o acordo institucional, é historicamente perceptível que os governantes se blindem de
uma postura estratégica para que essa lógica não violente o seu exercício de poder. No que
tange às políticas feministas, é claro compreender que as evidências apontam para uma
história de exclusões, já que conforme Maria Del Carmen Feijó, há uma problemática na
relação entre o que ela chama de “formas tradicionais de democracia” face à experiência das
mulheres na construção de um movimento social. Nesse mote, como disse Dora Barrancos, a
relação entre feminismos e democracia não pode ser presumida.
Apesar de, como apresenta Ruth Cardoso, os movimentos libertários dos quais os
feminismos fazem parte sejam movimentos que pensem uma lógica democrática, é
fundamental que nos atentemos para não confundir e associar diretamente o alcance pleno de
uma democracia às lutas feministas que ainda hoje assistimos. Não é possível presumir,
automaticamente, que a democracia como se estabeleceu esta noção conseguiu solucionar
todas as problemáticas no que tange as demandas por igualdade, liberdade e constituição de
um espaço que não excluísse modos de vida que fossem distintos do “universal/tradicional”.
Nesse sentido, se observarmos o contexto do estado de exceção de 1964, é possível
notar que às mulheres foi relegado um papel bastante delimitado de ação: guardiãs do lar e da
honra da família. O estado de exceção tenta desterritorializar essas mulheres, de modo que
elas passem a atuar como instrumento panóptico institucional. A vigilância e o controle do
regime se faz também por meio delas. Contudo, no momento mesmo que tomam consciência
dessa identidade e do que a identidade (mulheres/guardiãs dos lares e dos filhos) carrega em
seu bojo, essas mulheres fazem usos do gênero a fim de criar estratégias para lidar com o
regime, sem que fossem percebidas como ameaças em potencial. Ou seja, paradoxalmente, o
espaço relegado a essas mulheres e o papel estabelecido a elas tornou-as potentes para operar
margens de manobra dentro do regime. Nesse sentido é possível falar de uma “política dos
jogos de gênero”. O enfrentamento se dá, precisamente, no ponto paradoxal que se residia a
condição feminina: o espaço privado tornar-se-ia o lócus de resistência das ditaduras para os
feminismos.
Com efeito, assistiremos aos desdobramentos desses movimentos que perpassam o
estado de exceção e apresentam sua clivagem fulcral no momento de transição a que se
seguiria a (re)democratização dos países do chamado Cone Sul. Desse modo, as políticas
feministas têm uma dupla problemática: o enfrentamento e tentativa de fissura ao estado de
exceção e a tentativa de afirmação de seus domínios e práticas, para que fosse possível entrar
no que Maria del Carmen chama de “agenda legítima” de problemáticas e demandas que se
desdobram dos acontecimentos. À exemplo do caso argentino, é possível notar que a
dimensão do movimento de mulheres pela democracia alcança níveis inimagináveis, já que
produz um rompimento significativo no modo de pensar a própria constituição democrática
do país. Até mesmo na democracia há, claramente, um modelo de humanidade que representa
a quem é garantido o privilégio de falar, de atuar e de estabelecer suas questões enquanto
legítimas. Com efeito, a democracia, que se pretende progressista, desenvolvimentista,
humanitária e inclusiva se ergue nas bases de uma cultura colonialista, que produz as
diferenças, sobretudo no tocante às relações de gênero.
Ou seja, o que se faz presente é o seguinte: compreendendo a potência e força política
que as mulheres adquirem no período de (re)democratização, os partidos políticos usam, de
modo bastante oportuno, a posição política dessas mulheres, a fim de garantir que a
representatividade seja legítima, já que as demandas sociais agora reorientam os olhares para
novos sujeitos políticos. Contudo, se fizermos uma análise mais cuidadosa desse tipo de
estratégia, é possível notar que essas posições políticas ocupadas por mulheres, nada mais são
do que modos de reforçar seu papel subordinado e bastante marcado nas relações sociais.
Relegadas à posição de “apêndices” políticos, o uso simbólico da representatividade do
discurso dessas mulheres é mais uma das facetas do modus operandi de uma lógica
masculinista/heterocentrada e binária de conduzir essas relações entre os sujeitos, que nada
mais é do que a própria lógica institucional e como ela opera.
O desdobramento destas reflexões nos possibilita inferir que as instituições têm o
papel de regular as práticas sociais, estabelecendo critérios e em quais níveis se dão essas
relações. Assim, a questão que salta aos olhos é a seguinte: até que ponto e em que medida
essa cultura política “democrática” é passível de ser rompida, no sentido de pensar os ‘jogos
de gênero’, dadas as condições e possibilidades que as mulheres, enquanto sujeitos políticos
dispõe, não apenas como subterfúgios para a manutenção dessa tradição masculinista, mas
como possibilidade de constituir uma própria experiência/existência política feminina? E
ainda, estendendo a questão a outros modos de vida, como é possível escapar das relações de
submissão que as instituições conseguem impor aos sujeitos da práticas sociais?
Os limites da cooptação:
O aborto também se constitui um ponto chave para reflexão sobre pensar a associação
e as tensões entre movimento de mulheres (femininos), movimentos feministas e democracia.
Movimentos sociais- ênfase no coletivo-não é o mesmo que a noção de democracia
ocidental grega. Questão da identidade nos movimentos sociais. A noção de partidos não está
dentro desse sentido de democracia que compreendemos na Grécia antiga.
Antigona- O estado x família- Cumprimento do papel doméstico- da família- Jogos de
gênero como último recurso quando o estado não permite uma articulação política. Busca
elementos na longa duração e usam como articulação política.
A política dos afetos- Filosofia política. Espinosa. A ética dos afetos. Uma ética
política dos relacionamentos entre sujeitos.

Criar pra si um corpo sem órgãos.


A política dos afetos entre Helena de troia e Aquiles na série Troia: a queda de uma
cidade. A relação entre ética e filosofia política. A política dos afetos se dá, conforme
Espinoza, pela supressão de qualquer tipo de interferência moral teológica(normativa) no
processo de elaboração da reflexão sobre a vida ética e as práticas políticas da sociedade.

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