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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAPÁ

PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO


DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
COORDENAÇÃO DO CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS
PROFESSORA: ANA CRISTINA DE PAULA MAUES SOARES
DISCIPLINA: TÓPICOS DE ARTE, CULTURA, FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS I
DISCENTE: ÁGATA ABENASSIF SANTOS
Fichamento de pesquisa bibliográfica

Tipo: LIVRO
Assunto/Tema: feminismo; política; divisão sexual do trabalho.
Referência bibliográfica:
BIROLI, Flávia. Feminismos e atuação política. In: BIROLI, Flávia. Gênero e
desigualdades: limites da democracia no Brasil. Boitempo Editorial, 2018. cap. 5, p. 171-
204.
Resumo/Conteúdo de interesse:
O livro “Gênero e Desigualdades: os limites da democracia no Brasil”, escrito por
Flávia Biroli, é um material atual para quem busca saber mais sobre as conexões entre os
feminismos contemporâneos (e a atuação institucional desses movimentos), sobre a
democracia no Brasil, e sobre a democratização de direitos. De modo geral, a autora sintetiza
as principais demandas feministas durante as últimas décadas e as conexões com o Estado
brasileiro, sempre se pautando em dados fornecidos pelos Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), entre outros
relatórios de diferentes instituições, e debates atuais presentes na sociedade brasileira, como
as reações dos movimentos conservadores.
O quinto e último capítulo do livro é intitulado “Feminismo e Atuação Política”. Nele,
Flávia Biroli apresentou um panorama histórico acerca da participação política de mulheres,
das lutas por direitos e do feminismo brasileiro. Iniciou com as dificuldades e obstáculos
enfrentados na atualidade, passando pela conquista do direito ao voto em meados do século
XX, pela participação das mulheres nos movimentos de resistência à ditadura, pela
emergência do movimento feminista nos anos de 1970 e 1980 e pela intensificação da luta
por direitos dentro do Estado, a partir do Conselho Nacional de Direitos da Mulher (CNDM).
Neste último tema, a autora deu bastante destaque às emendas apresentadas na Assembleia
Constituinte de 1987, às conquistas e derrotas com a nova Constituição de 1988, e ao novo
capítulo - com avanços e retrocessos - com a eleição do PT ao governo federal a partir de
2003.
Citações: Página:
a) “...um entendimento mais complexo da permeabilidade seletiva das
democracias contemporâneas. No caso das mulheres, isso significa levar
em consideração as relações de gênero no cotidiano da vida social e os
obstáculos informais à participação nos espaços institucionais, tendo em 171
mente que sua posição não se esgota nas relações de sexo ou gênero, mas
é definida em conjunto com variáveis como classe, raça, etnia, sexualidade
e geração.”
b) “A história do espaço público e das instituições políticas modernas é a
história da acomodação do ideal de universalidade à exclusão e à 172
marginalização das mulheres e de outros grupos sociais subalternizados.”
c) “É necessário ir além das regras formais também porque a compreensão
dessas controvérsias demanda a incorporação de outras dimensões da
atuação política das mulheres. Ao explicar as barreiras à participação
política delas, as análises têm se voltado para sua ausência e para as 174
restrições à sua atuação; por outro lado, cabe lembrar que a ação organizada
das mulheres tem seguido cursos alternativos e produzido efeitos também
no âmbito estatal.”
d) “Em outras palavras, há diferença entre lidar com as formas de
silenciamento que constituem o ambiente político e definem suas fronteiras 175
e presumir algum tipo de silêncio, como se as vozes contestatórias não
fizessem parte do espaço público.”
e) “Os movimentos feministas têm atuado de ‘fora’ (exercendo pressão a
partir das ruas) e ‘dentro’ do Estado, participando da construção de
políticas e de novos marcos de referência para as democracias 175
contemporâneas no âmbito estatal nacional e em organizações e espaços
transnacionais.”
f) “Quando a contestação das mulheres não ganha espaço no debate público
mais amplo, a responsabilização desigual e a atribuição desvantajosa de 180
responsabilidades e competências podem aparecer como um segundo tipo
de natureza.”
g) “...os limites à participação política das mulheres e os conflitos em torno
das lutas feministas estão longe de ser problemas específicos de um grupo.
Trata-se de questões fundamentais para a democracia e seu futuro. A
permeabilidade relativa do Estado à atuação faz mulheres e à agenda 204
feminista remete a filtros que restringem a participação popular e, hoje, às
redefinições dos limites da democracia com o adensamento da lógica
econômica neoliberal.”
Considerações:
A Flávia Biroli traz em primeira análise a crítica de que apesar da mulher conquistar
o direito ao voto e de participação política no século XX na maioria dos países, é evidente
que no Brasil atual ainda não existe uma igualdade entre homens e mulheres na participação
política. A autora usa o termo obstáculo para caracterizar as dificuldades para as mulheres
atuarem na política brasileira. Além disso, vale ressaltar, que as poucas mulheres que chegam
ao poder são, em sua grande maioria, configuradas para seguir as mesmas ideias
conservadoras e machistas, quando não são transformadas para apresentar traços até mesmo
físicos dos homens. A figura da mulher sempre vista num prisma em que ocupa apenas o
espaço privado dificulta também sua ascensão e participação política. Em muitos ramos e
instituições ainda há a necessidade de quebrarmos esse paradigma. E em relação à
participação política é necessário que haja mais representação. O Brasil tem uma das taxas
mais baixas do mundo de presença de mulheres do Congresso Nacional.
Durante toda a leitura, pode-se reparar que não existe plenamente a igualdade de
gênero na sociedade brasileira. Na divisão sexual do trabalho, o cerne é a falta de equiparação
salarial atrelada a desvalorização do trabalho executado pelas mulheres. Além disso, as
responsabilidades que recaem sobre as mulheres seguem a lógica do cuidado do lar e da
criação dos filhos. A mulher ainda apresenta uma jornada dupla, onde exerce o papel de mãe
e o trabalho fora de casa. No que tange a autonomia sobre o corpo, aparece a questão de o
aborto ainda não ser amplamente descriminalizado, além de todo o preconceito e violência
sofridos no âmbito da sexualidade. Já o movimento feminista tem lutado por uma igual
possibilidade de atuação política. Sendo assim, portanto, é necessário que a luta pela
igualdade de gênero continue, pois somente assim, será possível a existência de uma real
democracia no Brasil.
Indicação da obra:
O livro visa claramente a um público pouco familiarizado com o tema. Ao promover
um diálogo entre temas clássicos da ciência política e as reflexões acumuladas ao longo das
últimas décadas pelo movimento feminista e estudos de gênero, esse livro contribui para um
olhar menos androcêntrico da política. Ele indica também caminhos para repensar a
separação entre teorias “gerais” e “particulares” ou “específicas”. Ultrapassar essa separação
é mostrar que o “gênero” não é uma variável, um campo ou uma teoria “específica”, mas sim
relações sociais que perpassam a sociedade e cuja invisibilização empobrece nossas
pesquisas e tem sérias consequências teóricas e políticas. Por isso, o livro “Gênero e
Desigualdades” é uma leitura obrigatória para quem busca entender o debate atual sobre a
democracia no Brasil.
Local:
https://drive.google.com/drive/mobile/folders/1-
BOAZce_Kh_U7nCC5UMpfxC3ZZ0TI4cF?usp=drive_open

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