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Resumo
A partir da letra da música “De dentro do ap”, da cantora Bia Ferreira, iremos realizar
uma análise acerca dos protestos contra o movimento feminista pontuando os conflitos
sociais e rachaduras identificados dentro do movimento feminista O objetivo é fazer
algumas considerações acerca das práticas sociais e históricas das problemáticas que
geram conflito acerca das diferenças entre as pautas das mulheres negras e brancas.
Fazendo uso metodológico da análise de discurso como ponta de partida, iremos apontar
conceitos teóricos que dialoguem com os fenômenos, resultando em algumas notas sobre
os conflitos sociais e midiáticos que circulam dentro do feminismo mediante a
midiatização de suas especificidades e ramificações.
Introdução
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Trabalho apresentado na DT 5 – Comunicação Multimídia do XX Congresso de Ciências da Comunicação na Região
Sul, realizado de 20 a 22 de junho de 2019.
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Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Informação da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS), e-mail: joselaine.caroline@ufrgs.br
“O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil
(CAPES) - Código de Financiamento 001”
“This study was financed in part by the Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil
(CAPES) - Finance Code 001”
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O sagrado feminista
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Mulherismo é termo desenvolvido por Alice Walker em “In search of Our Mother`s Garden” (1983),
onde ela apresenta diversas definições para um movimento de feministas negras universalistas.
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E quer ir lá dizer
Que entente sobre lutas de classes
Eu só sugiro que cê se abaixe
De dentro do apê
De dentro do apê
De dentro do apê
De dentro do apê (FERREIRA, 2019)
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CÂMARA DOS DEPUTADOS. Elemento servil : parecer e projeto de lei apresentado à Câmara dos
Deputados em 1870. Rio de Janeiro : Typographia Nacional, 1874.
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O trecho “Vai pro rolê com o carro que ganhou do pai/ Pra você vê, não sabe o
que é trabái/ E quer ir lá dizer/ Que entende de lutas de classe” remete à uma crítica à
forma como as mulheres brancas de classe média e alta atuam dentro do movimento
feminista, e também em relação ao sistema de classes que privilegiou-as ao longo da
percurso histórico e que atualmente é um dos pontos mais citados nas contestações
teóricas, econômicas e sócio-políticas. As questões de classe estão atravessadas nos
campos, e devido ao fato de que “não é a consciência que determina a vida, é a vida que
determina a consciência” (MARX e ENGELS, 2009), as mulheres que estão dentro de
seu apartamento, possuem carro, militando através do computador, dificilmente
conseguirão enxergar seus privilégios de fato. Uma vez que essas mulheres,
majoritariamente brancas, possuem seus problemas particulares, suas ambições, ao
mesmo tempo que precisam enfrentar a cultura do estupro, assédio sexual, desigualdades
salariais, entre outras questões feministas, dificilmente elas conseguem compreender que
o sucesso profissional e acadêmico delas é mais fácil de ser atingido devido ao fator da
cor de suas peles e com o privilégio de classe que elas obtém somente por serem brancas.
De acordo com Soares (1994), "o movimento de mulheres no Brasil foi (e ainda
é) muito heterogêneo" e "geralmente estavam marginalizados da análise da realidade
social". E, Azeredo (1994) aponta sobre o fato do movimento feminista estar sempre
relacionado às mulheres brancas e intelectuais, e por muito tempo o que se viu foi um
movimento lutou para obter direitos e igualdade de gêneros, uma vez que "é preciso
considerar gênero tanto como uma categoria de análise quanto como uma das formas que
relações de opressão assumem numa sociedade capitalista, racista e colonialista"
(AZEREDO, 1994).
O autor Stuart Hall fala sobre a unificação dos membros da sociedade afim de
criar uma identidade nacional, mas questiona o fato de a grande família nacional
apresentar problemas a partir do momento em que anula e subordina a diferença cultural
dos indivíduos, pois assim como a problemática que Hall identifica acerca da cultura
nacional, podemos dizer que o feminismo “nunca foi um simples ponto de lealdade, união
e identificação simbólica. É também um ponto de poder cultural” (HALL, 2006).
Entretanto, através de múltiplos campos sociais elas buscam construir uma
identidade e um posicionamento através de um processo de desenvolvimento e ascensão
social, uma vez que “a interseccionalidade é vista como uma das formas de combater as
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Acreditamos que todo ser humano através de sua própria história, objetivos e
individualidades, possui problemas nas construções de suas relações exteriores com a
sociedade. Ainda que haja dificuldade de reconhecer seus próprios privilégios as
mulheres brancas também possuem suas ambições sociais, econômicas e políticas.
Entretanto o que se reivindica é que o feminismo na contemporaneidade dê lugar às
urgências de mulheres que nunca foram exaltadas e que por muito tempo têm sido
humilhadas pela sociedade.
Considerações finais
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Referências
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