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3 Direito de sufrágio é “um direito público subjetivo de natureza política, que tem o cidadão de eleger, ser eleito e de
participar da organização e da atividade do poder estatal” (SILVA, 2015, p. 353). É um direito tanto ativo (direito de
votar) quanto passivo (direito de ser votado). Enquanto o sufrágio é o direito político fundamental nas democracias,
o voto é a sua manifestação no plano prático, que constitui o seu exercício.
4 SPELMAN, Elizabeth. Inessential woman: problems of exclusion in feminist thought. Boston: Beacon Press, 1988.
Apesar de não ser possível falar que todas as mulheres, com suas posições
distintas na sociedade, possuam sempre os mesmos interesses e demandas,
Beatriz Sanchez (2017) observou empiricamente que, em alguns casos, há
uma atuação conjunta das parlamentares brasileiras em prol do mesmo obje-
tivo, a promoção da igualdade de gênero e o avanço dos direitos das mulheres.
A Lei Maria da Penha, por exemplo, foi aprovada a partir do engajamento de
toda a bancada feminina do Congresso Nacional. Todas as parlamentares
defenderam a aprovação do projeto de lei, independentemente de suas tra-
jetórias de vida e da ideologia de seu partido.
Entretanto, ao analisar uma proposta de legalização do aborto (PL 882/15),
Sanchez verificou que esta não foi defendida de forma unânime pela bancada
feminina. Parlamentares pertencentes às bancadas evangélica ou católica, e/
ou de partidos conservadores, frequentemente adotam posições contrárias
à legalização do aborto. Isto significa que, em algumas pautas em benefício
5 SPIVAK, Gayatri. In a Word. In: NICHOLSON, Linda J. (Org.). The Second Wave: A Reader in Feminist Theory.
Londres: Routledge, 1997. p. 356-378.
6 GILLIGAN, Carol. In a different voice: psychological theory and women’s development. Cambridge: Harvard
University Press, 1993.
7 RHODE, Deborah. Gender and the profession: an American perspective. In: SCHULTZ, Ulrike; SHAW, Gisela
(ed.). Women in the world’s legal professions. Oxford: Hart Publishing, 2003.
8 MACKINNON, Catherine. Feminism Unmodified: discourses on life and law. Cambridge: Harvard University
Press, 1987.
9 Accountability é um termo comumente traduzido como prestação de contas, contudo optamos por utilizar o conceito
em seu idioma original, por ser mais abrangente, se referindo “à capacidade que os constituintes têm de impor sanções
aos governantes, notadamente reconduzindo ao cargo aqueles que se desincumbem bem de sua missão e destituindo
os que possuem desempenho insatisfatório” (MIGUEL, 2005, p. 27)
Conclusão
Buscamos, no presente trabalho, compreender a obra de Anne Phillips e o
seu conceito de política de presença. Introduzimos o debate sobre o essen-
cialismo, isto é, a redução das mulheres a uma figura feminina essencial,
por meio da visão de que elas teriam interesses e preocupações universais a
todas. Questionamos se as representantes presentes atualmente na política
brasileira representam os direitos das mulheres, e observamos que, em pautas
sobre direitos das mulheres, outros marcadores sociais podem prevalecer em
relação ao gênero na atuação das parlamentares (SANCHEZ, 2017).
Desenvolvemos as categorias de política de presença e política de ideias, e
observamos que Phillips (1995) defende a utilização dos conceitos como comple-
mentares, não opostos. Por fim, apresentamos argumentos para a necessidade
de maior presença de mulheres nas instâncias legislativas, a partir da teoria de
Phillips e de autoras e autores da teoria política feminista. Constatamos que
Phillips busca evitar a adoção de uma perspectiva essencialista, e considera
imprescindível a existência de instrumentos de accountability.
ASSIS, Carolina de; FERRARI; Marília; LEÃO, Natália. Câmara dos Deputados
terá menos homens brancos e mais mulheres brancas, negras e 1ª indígena em
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