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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

Setor de Ciências Humanas


Departamento de História
Disciplina: História do Brasil IV
Docente: Luiz Carlos Ribeiro
Discente: Fernanda Yumi Raddi Okamoto
GRR: 20190913
Data: 26/04/2022

O presente estudo tem como objetivo a análise do texto O movimento


feminista no Brasil: dinâmicas de uma intervenção política, de Ana Alice Alcântara
Costa, sob o prisma do movimento feminista trabalhado em discussões realizadas em
sala de aula e estudado através de outras leituras.
A autora possui graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal da
Bahia (1975), mestrado em Sociologia pela Universidad Nacional Autónoma de
Mexico (1981) e doutorado em Sociologia Política na mesma instituição (1996). Seu
pós-doutorado é em Estudos Feministas no Instituto de Estudios de la Mujer na
Universidad Autonoma de Madrir e atualmente é professora do Departamento de
Ciência Política na Universidade Federal da Bahia, integrando o Programa de Estudos
Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo. É experiente na área de
Ciência Política com ênfase em Aplicação do Enfoque de Gênero, atuando
principalmente em temas como gênero, cidadania, comportamento político e
feminismo.
O artigo compõe a revista acadêmica Gênero, um periódico organizado pela
Universidade Federal Fluminense e, segundo informações da própria autora, foi
escrito durante o seu estágio pós-doutoral no Instituto Universitario de Estudios de la
Mujer da Universidad Autonoma de Madrid, em 2004. É composto por quatorze
páginas e 5 subcapítulos que possuem como objetivo discorrer sobre a trajetória do
feminismo como movimento social de maneira sucinta e capaz de contemplar suas
principais conquistas e consequentes mudanças.
Nesse sentido, como supracitado, Costa desenvolve o assunto central do texto
construindo uma linha cronológica que engloba desde o nascimento do movimento até
os avanços observados na atualidade, buscando apresentar uma estrutura conjuntural
capaz de comprovar que o feminismo continua vivo e presente, contrapondo a
problemática do possível desaparecimento das lutas. Inicia retrocedendo para o início
do século XIX em busca das origens e das experiências do então emergente
movimento, e explica que, em seu alvorecer, ele se espalha em torno da demanda por
direitos sociais e políticos.
Em seguida, ocorre a exposição de um marco essencial para a compreensão do
movimento como um fenômeno que vai muito além do que é entendido como
igualdade de gênero: o início da concepção de que o “pessoal é político”. Essa ideia
rompe com a dicotomia do público-privado, a base do pensamento liberal, que
buscava respaldo na ideia de que o Estado se limitaria somente às questões políticas
que estivessem relacionadas às suas instituições e à economia, enquanto o privado se
voltaria para o ambiente doméstico, familiar e sexual, sendo alheio à política. Logo,
ao afirmar que o pessoal é político, o feminismo levanta uma bandeira que destaca
justamente o caráter político de sua opressão mascarado pela construção de uma
imagem feminina doméstica e matriarcal, iniciando então a reivindicação por
mudanças e ampliação de espaços no coletivo social.
A partir disso, inicia-se uma redefinição do poder político e da forma de
entendê-lo. Surge a necessidade de criação de novas condutas, novas práticas, e novos
conceitos específicos que incorporem a característica particular do movimento - a
defesa dos interesses de gênero de mulheres, que passam a questionar os sistemas
culturais e políticos construídos. O primeiro subcapítulo, então, trata das primeiras
manifestações no Brasil, Chile, Argentina, México, Peru e Costa Rica que aparecem
na primeira metade do século XIX e tem como principal veículo a imprensa feminina,
introduzida como forte aliada do movimento uma vez que representava o principal
veículo de divulgação. Costa desenvolve esse primeiro momento com a articulação da
emergência e do fortalecimento do pensamento feminista, sustentado por mulheres
inseridas no ambiente da força de trabalho, por congressos realizados visando a
demanda pela igualdade jurídica e o direito ao voto e, no Brasil, pela criação do
Partido Republicano Feminista, pela baiana Leolinda Daltro. A conquista do voto
feminino, de fato, foi diretamente relacionada à posterior desarticulação do
movimento na maioria dos países latino-americanos.
O segundo subcapítulo traz à tona a segunda onda nascente nos anos de 1970,
em um contexto autoritário e de práticas de repressão por parte dos regimes militares
dominantes. Ainda existia uma maior incorporação da mulher no mercado de trabalho
assim como a inauguração de uma nova fase composta por uma maior abrangência da
luta, uma organização mais eficiente, a criação de mais jornais e a articulação de um
inimigo em comum: o Estado. No entanto, como é discutido no terceiro subcapítulo,
essa última questão será alvo de discordâncias. O avanço do movimento atraiu
interesses partidários durante a década de 80 e ocorreu uma reorganização que
ameaçou descaracterizar suas práticas autônomas. Portanto, a institucionalização do
feminismo a partir da criação de mecanismos voltados para a implementação de
políticas para mulheres (criado pelo PMDB no governo de São Paulo) passou a ser
um processo difícil de ser assimilado no interior do movimento. É nesse momento
também que se fortalece a consciência de diferentes tipos de feminismo.
É importante ressaltar que a criação de conselhos como o Conselho Nacional
dos Direitos da Mulher, ONGs, entre outras organizações e identidades feministas
tiveram papel essencial para a consolidação e o alcance das conquistas. A autora
afirma que a Quarta Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada em Beijing, na
China, em 1995 foi um exemplo da tamanha expansão vivenciada pelo movimento
naquele período, dado que as reuniões preparatórias impulsionaram melhor
assimilação das demandas e suas decorrentes exigências (como exemplo, a
institucionalização). Além disso, expõe as tendências estudadas na política feminista
latino-americana fundamentais para a manutenção e ampliação do movimento no
Brasil e salienta que a partir dos anos 2000 alguns setores do feminismo brasileiro
começam a tomar consciência da necessidade de uma atuação conjunta e articulada no
sentido de garantir um compromisso por parte dos candidatos com as demandas das
mulheres.
São citadas diversas contribuições e melhorias dentro da política através de
comitês, conferências e debates que permitem que a autora chegue à sua conclusão: o
movimento feminista brasileiro, em específico, “foi além da demanda e da pressão
política na defesa de seus interesses específicos” (p. 13). Foi capaz de adentrar o
Estado e ao mesmo tempo continuar como movimento autônomo, enquanto
conquistou espaços e elaborou políticas que buscaram diminuir a gritante opressão
experienciada pelo gênero feminino. Entretanto, afirmar tais fatores não significa que
os desafios acabaram, pelo contrário, ainda existem campos da resistência
antifeminista no Brasil que precisam ser enfrentados, por mais que o consenso na
sociedade esteja longe de ser alcançado.
Por fim, é evidente que Ana Alice Alcantara Costa trabalha de maneira
resumida e eficaz do tema. Não é possível dissertar especificamente de cada período
em questão por se tratar de um artigo publicado em um periódico, no entanto foi
realizada uma abordagem do necessário para compreender a trajetória do movimento.
É possível inferir uma relação com a obra Do Cabaré ao lar: a utopia da sociedade
disciplinar e a resistência anarquista, de Margareth Rago, considerando que a esta
autora também trata da questão do pessoal ser, na verdade, também político. A
opressão da figura da mulher se dá através da busca por legitimação da função social
de genitora e mãe, nada mais. Não obstante, Céli Regina Jardim Pinto também
aprofunda questões relacionadas aos impasses do movimento a partir de seus
obstáculos enfrentados na política posterior vivenciada pelo Brasil. A leitura dos três
estudos em questão em diálogo possibilitou uma melhor reflexão e um melhor
entendimento dos pontos apontados por cada autora em sua individualidade.

COSTA, Ana Alice Alcântara. O movimento feminista no Brasil: dinâmicas de


uma intervenção política. Revista Gênero, v. 5, n. 2, 2005.

RAGO, Margareth. Do cabaré ao lar: a utopia da sociedade disciplinar e a


resistência anarquista (1890 – 1930). 4ª Ed. São Paulo: Paz e Terra, 2014.

PINTO, Céli Regina Jardim. Mulher e política no Brasil. Os impasses do


feminismo, enquanto movimento social, face às regras do jogo da democracia
representativa. Estudos Feministas, p. 256-270, 1994

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