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ALTA FLORESTA-MT
2022
MOVIMENTO FEMINISTA DECOLONIAL: UM ESTUDO SOBRE A
CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DA MULHER
RESUMO
O Movimento Feminista tem sido um dos movimentos sociais de maior eficácia no decorrer
da história. Fazendo nascer uma nova mulher, mais consciente dos seus direitos e disposta a
por eles lutar, é incontestável que o feminismo vem fazendo surgir novas possibilidades nas
relações sociais, elevando os espaços de conquista social feminina a um patamar de igualdade.
Nesse processo de (des)construção, as feministas têm desafiado as instituições sociais a
pensar e realizar reformas legais que abranjam a natureza feminina de acordo com a realidade
de opressão vivenciada. Com isso, o objetivo geral desta pesquisa é analisar o Movimento
Feminista como ação social para enfrentamento das desigualdades, sobretudo aquelas
perpassadas pelo discurso. Como objetivo específico, o trabalho se dispõe a demonstrar que o
Feminismo surge como uma linguagem transgressora que, questionando a sistemática, cria as
teorias feministas do direito e normas que disponham sobre os direitos das mulheres,
contribuindo inegavelmente para a concretização do ativismo. Para tanto, foi realizada uma
pesquisa de caráter bibliográfico, a partir levantamento teórico literário. Como resultado,
conclui-se que a linguagem feminista indica uma transformação social, impulsionando à
construção de teorias críticas que fazem refletir e operar um novo direito para além do
normativo, pensando-o a partir das relações sociais.
ABSTRACT
The Feminist Movement has been one of the most struggling social movements throughout
history. Giving birth to a new one, more aware of their rights and the women who conquer
them they fight, it is undeniable that feminism is giving rise to new possibilities in social
relations, raising women's social spaces to a level of equality. In this process of construction,
feminists have instigated experiences as female social institutions and carrying out legal
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reforms that embrace nature according to the reality of oppression. With this, the general
objective of this research is to analyze the Feminist Movement as a social action to face
inequalities, especially those permeated by discourse. As specific, the work proposes to
demonstrate that Feminism emerges as a transgressor and that it creates feminist theories
about women's rights that propose to promote activism both for, a bibliographic research was
carried out, from a literary theoretical survey . As a result, it is concluded that the feminist
language indicates a social transformation, encouraging the construction of critical theories
that reflect and operate a new law that goes beyond the normative, thinking it from the point
of view of social relations.
1 INTRODUÇÃO
É estranho perceber como até hoje a palavra feminismo tem sentido negativo
e não só nas nossas faculdades de direito. Suspeito que isso não decorra
simplesmente do fato do sufixo “ismo” estar presente em muitas palavras de
nossa língua como indicação de perversão ou adesão irrestrita a uma ideia. O
que assusta as pessoas é o potencial crítico do feminismo em relação ao que
é visto como evidente ou natural, e como tal indiscutível e imodificável.
“Não sou feminista, sou feminina”, dizem inclusive algumas mulheres, sem
parar para pensar no que isso realmente significa, sobretudo em termos de
identificação com um protótipo patriarcal. (RABENHORST, 2010, p.15).
Os diversos contextos de opressão vivenciados pelas mulheres ao longo da história
instituíram o “fazer pensar” o Movimento Feminista e sua amplitude de questões a partir do
campo, considerando a mutualidade de impacto existente entre o Feminismo e o Direito.
Diante disto, Dalton (1987) aduz que:
Assim, ressalta-se a Teoria Feminista Liberal por considerar que a luta das mulheres já
protagonizou conquistas significativas até aqui, tomando por articulação pressionar a
sistemática a se pensar nas necessidades do universo feminino a partir do momento que ele
formaliza a igualdade de direitos políticos, abrange as possibilidades de violência sexual e
reconhece as mulheres como sendo um gênero perseguido pelo machismo.
Dessa forma, resta percebível, e sentido, o fato de que hoje já não mais se observa tão
latente a figura da mulher cujo destino se restringia ao casamento, aliando diretamente o
sucesso a conseguir casar-se com um “cidadão de bem”, condicionando a vida e qualquer
mérito ao “pai de família”, abrindo mão da própria liberdade e autonomia. E é certo que o ato
das lutas feministas pensarem em reformas s foi determinante para essa libertação gradativa.
As Teorias Feministas propõem pensar o campo como ciência social que tem por
obrigação analisar o fenômeno da opressão sofrida pelas mulheres e dispor sobre os direitos a
elas referentes. Conforme estabelece Sousa (2015):
A luta das mulheres é, tem de ser, uma luta que se trava no campo do direito:
luta pelo reconhecimento da igualdade e da diferença, e dos arquétipos
políticos e métodos legais através dos quais a igualdade e a diferença se irão
acomodar. Luta por um direito novo, pensado de uma perspectiva nova, que
inclui as diferenças sem as sublinhar, e que não reforça as desigualdades.
Um direito que resolva o dilema da diferença. (SOUSA, 2015, p.13).
Assim, o Movimento Feminista, com a força da luta das mulheres, vem agindo na
história como criador de um discurso que transcende os meros papéis, as normas positivadas,
subvertendo a estrutura violenta que se tem através da propagação de uma linguagem tal que
alcança o direito brasileiro. A partir disso, provoca-o a promover o ativismo na medida em
que pressiona reformas no corpo que sejam capazes de perceber a linguagem de busca pela
igualdade de gênero trazida pelo Feminismo.
Destaca-se, nessa perspectiva de ativismo, destaca-se, por exemplo, a articulação
feminista antes da Constituição de 1988 para que fosse fundado um órgão que representasse
as mulheres perante o Governo Federal, sendo, assim, instituído o Conselho Nacional dos
Direitos da Mulher a partir da Lei 7.353/85. Formalizou-se, no art. 1º a intenção da luta para a
criação daquele órgão, que era a finalidade de promover, em âmbito nacional, políticas que
visem eliminar a discriminação da mulher, assegurando-lhe condições de liberdade e de
igualdade de direitos, bem como sua plena participação nas atividades políticas, econômicas e
culturais do país.
Ainda, se evidencia o novo tratamento dado aos crimes de violência sexual, que a
partir da Lei 12.015/09 altera o Código Penal e a Lei 8.072/90, que trata dos crimes
hediondos, de modo que o que antes era tido como crime contra os costumes passou a ser
considerado crimes contra a dignidade sexual. Eliminando-se os “bons costumes” e
enfatizando a dignidade das pessoas, não mais se abre margem para que o enquadramento no
crime considerasse o comportamento da vítima através dos termos conservadores com
“virgem” ou “mulher honestas”, excluindo da proteção mulheres não enquadradas em uma
determinada “moralidade” (FRANCO, 2012).
A criação da Lei do Feminicídio (Lei 13.114/15), que tipifica a perseguição e morte
intencional de pessoas do sexo feminino como homicídio qualificado e o inclui no rol de
crimes hediondos também pode ser considerado como um avanço da luta feminista através do
questionamento da sistemática.
Conforme o exposto, é certo que grandes nomes alavancaram o Movimento Feminista
no Brasil e tornaram reais a possibilidade de se pensar em transformar a sociedade a partir das
bases feministas. Nesse sentido, destaque se dá às escritoras feministas como Rose Marie
Muraro (1930-2014) que, afirmando que só o impossível cria (BOFF, 2016, apud MURARO
1999) e denunciando a pressão cultural, foi a pioneira a produzir as bases feministas no Brasil.
Rose possuía um sentimento do mundo agudíssimo: sofria com os dramas globais e celebrava
os poucos avanços” (BOFF, 2016).
Outra militante feminista brasileira de relevo que engrenou em produções sobre a
violência de gênero e patriarcado foi Heleieth Safiotti (1934–2010), que estabeleceu teorias
que expandiram as possiblidades para o desenvolvimento de uma sociedade igualitária e livre.
Sendo vozes fortes e resilientes, pode-se dizer que as escritoras feministas e suas
produções realizaram a Literatura Menor proposta por Kafka e interpretada por Gilles
Deleuze e Felix Guattary (1977), que representa em sua essência uma espécie de
desterritorialização cultural no âmbito da literatura maior - as leis e os costumes. Quebrando
as amarras e fazendo expandir os territórios da linguagem, acabaram abrindo espaço para as
questões que envolvem as mulheres, minorias na amplitude dos direitos do ser humano em
sociedade.
Diante do explicitado é evidente que as mulheres, organizadas, provocaram e
provocam uma profunda mudança nas relações de gênero presentes no nosso meio social, de
modo a desafiar o Direito a respeito da ilusão prática da sua sistemática. O Movimento
Feminista dispõe-se a “fazer da língua um salto, um diálogo com “o fora” driblando os
códigos, embaralhando, dificultando, confundindo para pensar (PETRONILIO, 2012) e, com
isso, leva o campo a pensar em novas possibilidades, paradigmas legais e prestativos em seu
desempenho.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de tudo o quanto foi exposto, é evidente perceber que o Movimento Feminista
tem sido, no decorrer dos tempos, o protagonista das experiências mais libertas das mulheres.
O direito de votar e ser votada, o direito a ser reconhecida como sujeito que sofre
desigualdade - e, diante disso, tem um suporte legal que, mesmo que vagaroso, propague a
linguagem que leve à reflexão de que não é normal, em termos humanos e não sociais, que
sejamos perseguidas até a morte - o direito à saúde reprodutiva, entre outros, são fruto de uma
incessante batalha de mulheres desconstruídas que não aceitam a degradação à que estão
submetidas.
A história das conquistas das mulheres mostra através dos exemplos discorridos
durante o estudo que o Direito está aberto às demandas das mulheres, ainda que leve um
tempo para que o objeto de luta seja sentido de forma factual. Vimos que o voto foi um
emancipador feminino e a luta por ele não findou em 1932, mas em 1965 quando as mulheres
lutaram até que todas as restrições fossem eliminadas do Código Eleitoral.
Para isso, que as instituições ousem, pelo bem da humanidade, falar em Feminismo e
incentivar produções teóricas a fim de proclamar o ideal do movimento, pois acredito no meio
acadêmico, na escrita, como uma forma de erradicar o pus dos golpes da opressão,
conscientizando gradativamente o operador do direito a se notar como sujeito que pode, de
fato, fazer justiça.
É certo que somos submetidas cotidianamente a experiências de perversão e que a
lição que o Feminismo nos deixa é a de que nenhuma vitória é permanente e todos os nossos
direitos são, assim, tão bons enquanto os mantivermos. E não podem nos fazer acreditar que
não é possível mudar o mundo, porque as Feministas das décadas passadas viram isso
acontecer, e hoje nós somos possuidoras de direitos porque elas mostraram que nós somos.
REFERÊNCIAS
BOFF, L. Rose Marie Muraro: a saga de uma mulher impossível. Disponível em:
<https://leonardoboff.wordpress.com/2014/06/22/rose-mrie-muraro-asaga-de-uma-mulher-
impossivel/>. Acesso em: 07 abr. 2022.
BRASIL, SENADO FEDERAL. Código Eleitoral de 1932. In: VADE Mecum. São Paulo:
Saraiva, 2021.
DELEUZE, G., Félix. Kafka: por uma literatura menor. Rio de Janeiro: Imago, 2002.
FRANCO, M. C. Teorias feministas: contribuições para uma análise crítica do direito como
instrumento de exercício de direitos. Brasília: Crítica do Direito, 2012.