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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS – UFAL

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS, COMUNICAÇÃO E ARTE

– ICHCA

CURSO: HISTÓRIA LICENCIATURA

DISCIPLINA: HISTÓRIA SOCIAL

PROFESSOR: DRA. PAULA PALAMARTCHUK

ALUNO: INGRID STEFANNY

Introdução

O presente trabalho surge a partir de indagações oriundas dos debates em


sala de aula, da disciplina História Social que, versou a respeito da História do
Feminismo no Brasil e os direitos humanos. Nesse sentido, a disciplina buscou apontar
a produção historiográfica e os principais paradigmas teóricos que norteiam a discussão,
buscando apreender os fenômenos intrínsecos a esse processo.

Ante o que fora supracitado, o ensaio irar focar em uma concepção de


“histórias” do feminismo, considerando que o mesmo se configura como campo político
em disputa, não só pelas mulheres, como também por outros espectros sociais. Nessa

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perspectiva, se debruça no debate bibliográfico sobre o tema, indagando quais atores
sociais vão emergindo nessa construção histórica e seus impactos na reformulação das
teses feministas e dos sujeitos que as integram.

Dessa forma, debateremos como alguns pontos de vista sobre a origem e o


desenvolvimento do feminismo não contemplam outras formas de análise além do
gênero e, como tal posicionamento desconsiderou a formação social brasileira e seus
desdobramentos na vivência da mulher brasileira. Portanto, o que se pretende, é uma
concepção de feminismo plural, que abranja também questões de raça e classe,
compreendendo as contradições, descontinuidades e avanços do movimento.

Há uma linearidade na história do feminismo?

Existe uma miríade de estudos que demarcam os variados movimentos do


feminismo por meio de “ondas”. Nesse sentido, o trabalho de Pinto (2003) se enquadra
nesse tipo de periodização, onde o mesmo buscar consolidar e sagrar marcos
hegemônicos de cada período, desembocando em uma concepção de linearidade do
movimento que é encaixado em fases bem delimitadas. Pinto (2003) considera que o
movimento feminista brasileiro emerge na classe média, durante o período da ditadura
militar no Brasil, onde este último condicionou a experiência feminista brasileira.

Outrossim levantado por Pinto (2003) refere-se ao ano de 1975 ser


considerado um divisor de águas no âmbito feminista do Brasil, pois as Nações Unidas
designou como o ano internacional da mulher. Ou seja, a autora condiciona não só o
movimento feminista a uma institucionalização através do reconhecimento de um órgão
internacional, como relega ao apagamento histórico as mulheres que antecederam às
supostas pioneiras do feminismo brasileiro.

Considerando o que fora supracitado, podemos notar que há uma exclusão


das mulheres comunistas, anarquistas, negras e até mesmo das que compunham o que se
designou “movimento de mulheres”, como setores da luta feminista. Ante esse fato,
cabe a indagação: o fato dessas mulheres não se intitularem feministas as tornam menos
feministas? Nesse sentido, Alves (2020) sublinha que o conceito de feminismo sofre
alterações de sentido, sendo reflexos de conflitos sociais e políticos, portanto, não
devem ser enjaulado em significados estáticos e categorias rígidas e abstratas.

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Feminismo, um campo em disputa

Fracarro (2018) problematiza a periodização por meio de ondas, como


também aponta o movimento feminista como um campo político, divergindo da tese
aventada por Pinto que, considera o feminismo como um campo a parte. Aqui avalio
como um ponto fundamental dessa discussão, a compreensão do feminismo enquanto
campo político. Ao levar esse fato em consideração, podemos compreende-lo como um
campo em disputa por diversos setores sociais.

Nesse sentido, o trabalho de Fracarro (2018) demonstra que entre os anos de


1917-1937 a presença das mulheres no mercado de trabalho, em especial, na indústria
têxtil paulista, não pode ser deixada de lado. A luta por hegemonia entre a União dos
Operários em Fábricas de Tecidos (UOFT) versus PBC teve que incorporar pautas
femininas em seus programas, o primeiro teve que congregar em seu programa geral a
licença maternidade, cumprimento de férias e salário igual entre homens e mulheres. Já
o segundo, a partir de 1930 as mulheres obtiveram um programa que tratava da
igualdade e dos direitos relativos às trabalhadoras, onde o PCB passou a aventar que a
burguesia estava buscando alijar as trabalhadoras da luta de classes, usando
reivindicações neutras e criando associações femininas especiais (FRACARRO, 2018).
Portanto, nota-se que a disputa do campo feminista/feminino já era contundente a ponto
de organizações importantes mudarem seus programas para incorporar a pauta das
mulheres.

Ao apreender o feminismo como campo político em disputa, podemos levar


em consideração outros sujeitos que emergem problematizando o seu apagamento
dentro do movimento feminista e o reivindicando. À vista disso, temos a obra “ Por um
feminismo afro-latino-americano”, escrito por Lélia Gonzalez, onde de forma singular,
a autora sublinha as lacunas e o desparecimento da mulher negra no debate feminista.
Nesse sentido, algumas reflexões são mais que necessárias, pois considerando o passado
colonial e nosso modo de produção que por séculos baseou-se na mão de obra
escravocrata, e, posteriormente a sujeição da mulher negra aos mais precários postos de
trabalho na sociedade capitalista na periferia dos mercados, se mostra como uma
questão basilar de qualquer debate sobre mulheres.

Gonzalez (2020) pontua que, “ na medida em que existe uma divisão racial e
sexual do trabalho, não é difícil concluir sobre o processo de tríplice discriminação

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sofrido pela mulher negra (enquanto raça, classe e sexo), assim como seu lugar na força
de trabalho” (GONZALEZ, 0000, p.48). Nesse âmbito, é comum alguns discursos de
emancipação feministas apontarem a luta das mulheres em adentrar ao mercado de
trabalho, de sua emancipação, talvez esses mesmos discursos esqueçam que a mulher
negra é antes de tudo, força de trabalho, desde os tempos coloniais até a
contemporaneidade. Dessa forma, “ a mulher negra anônima é sustentáculo econômico”
(GONZALES, 2020, p.55), ou seja, é sempre bom lembrar que, a libertação da mulher
branca se deu às custas da prestação de serviços domésticos das negras. E que esse fato,
desemboca em questões de gênero, raça e classe como força motriz desse debate
“emancipatório”.

Outra presença que se soma ao campo feminista, refere-se ao trasfeminismo


que segundo Coacci (2014), apesar de historicamente pessoas trans frequentarem
espaços feministas brasileiros, é recente as tentativas da constituição de um feminismo
transgênero. A emergência desse último põe em cheque o suposto “progressismo” e
abertura do movimento feminista. Nesse ponto, Coacci (2014) salienta que os
questionamentos e preconceitos que emergem à participação das mulheres trans nos
espaços feministas “implica dizer quem e quais corpos podem ou não podem ser
feministas e falar pelo feminismo [...] quem pode ou não ser mulher” (COACCI, 2014,
p.136). Portanto, refletir sobre o que fora aludido em relação ao trasfeminismo, perpassa
por romper com o essencialismo biológico, ou seja, não condicionar o “termo gênero
como sinônimo de diferença sexual calcada em aspectos biológicos e universalizantes”
(COACCI, 2014, p.153).

Considerações Finais

Em linhas gerais, o presente ensaio buscou a partir de discussão teórica


questionar a linearidade do feminismo brasileiro, preferindo pensa-lo como movimento,
onde tal ponto de vista abre espaço para a pluralidade e democratização do debate,
adotando a perspectiva que a história do feminismo no Brasil dever ser entendido como
um movimento que não se encaixa em etapas bem delimitas.

Outrossim, buscou-se levantar a tese do feminismo brasileiro se constituir


como um campo político, nos quais foram -e ainda são- travadas disputas que integram
em si diferentes projetos de emancipação. Ao encara-lo como campo político se pode
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compreender porque certos sujeitos sofrem um apagamento histórico dentro do
movimento, como também a emergência de “novos” atores sociais que demandam por
reconhecimento e contrapõe os discursos hegemônicos no seio do feminismo nacional.
Assim, podemos compreender o feminismo como um movimento heterogêneo, que está
em permanente processo de construção e sem um modelo exclusivo, onde o mesmo
abarca contradições intrínsecas a qualquer espectro social.

Bibliografia

ALVES, C. I. Feminismo entre ondas: mulheres, PCB e política no Brasil. Tese


(doutorado) - Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2020.

COACCI. T. Encontrando o transfeminismo brasileiro: um mapeamento preliminar de


uma corrente em ascensão. História Agora, n° 15, p.134-161, 2014.

FRACARRO, C, C. G. Uma história social do feminismo: diálogos de um campo


político brasileiro (1917-1937). Estudos Históricos Rio de Janeiro, vol 31, nº 63, p. 12-
26, janeiro-abril 2018.

GONZALEZ. L. Por um feminismo afro-latino-americano. Zahar Editora, 2020.

PINTO, J, R. C. Uma história do feminismo no Brasil. – São Paulo: Editora Fundação


Perseu Abramo, 2003.

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