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Nesse sentido, Rafael sublinha que além os clubes pretinho, morcegos, cor
de canela, se agitavam não somente porquê era véspera de carnaval, mas também “se
realizava uma das festas mais tradicionais promovidas pelos terreiros de Maceió, no
caso, a festa de Oxum [...] Um dos lugares de onde partia aquela ‘zoeira’ era a casa de
Chico Foguinho, um dos mais famosos e aclamados pais de santo de Maceió [...] Esses
festejos, abrilhantado por uma orquestração de adufos, chocalhos e, e que eram
integrados por devotos ardorosos e muito entusiasmados, já andaram incomodando o
sossego dos habitantes das ruas Barão de Maceió e Dias Cabral, antiga do Reguinho, na
qual situava aquele terreiro em que Chico Foguinho atuava, conforme denúncia feita no
jornal A Tribuna de 1903” (RAFAEL, 2012, p. 30).
Segundo autor, não era mais tempos tranquilos e a situação política era
instável, “já que o papa do Xangô alagoano, grande protetor daquelas casas se achava
afastado de suas funções governamentais” (RAFAEL, 2012, p.31). Nesse sentido,
quando foi deflagrado a Quebra aos terreiros, “o primeiro a ser atingido, pela
proximidade em que se encontrava, foi o terreiro de Chico Foguinho [...] Diversos
objetos sagrados, utensílios e adornos, vestes litúrgicas, instrumentos utilizados nos
cultos foram retirados dos locais em que se encontravam e lançados no meio da rua,
onde se preparava uma grande fogueira [...] Alguns objetos foram conservados para
serem exibidos depois na sede da Liga, outros em tom de zombaria no cortejo que se
armou em direção a outras casas de Xangô nas proximidades” (RAFAEL, 2012, p. 32).
Além dessa querela familiar, no seu segundo mandato houve uma nova
reforma na Constituição Estadual, que garantiu a sua reeleição, conservando o estilo
autocrático de fazer política. Nesse contexto aludido, a candidatura do Gen. Clodoaldo
da Fonseca contagiou inúmeros segmentos da sociedade que buscavam derrubar a
oligarquia Malta, atualizando em Alagoas sob o nome de “soberania”, o movimento que
a nível nacional chamava-se “salvação” (RAFAEL, 2012, p.93).
De acordo com Ulisses Rafael, outro capítulo singular no desgaste do
governo de Euclides Malta, foi o mistério que permaneceu a transação do empréstimo
externo. O empréstimo ocorre em meio “a falta de capital e a baixa dos preços dos
produtos agrícolas no Estado, já reclamados por Euclides Malta em sua primeira
mensagem dirigida ao Congresso alagoano, que se fez necessária a implementação de
uma medida administrativa que iria marcar toda a sua atuação política dali em adiante.
Trata-se do tal propalado ‘empréstimo externo’, operação que já nasceu sob o signo da
suspeita, razão pela qual foi desde o início atacada pela oposição, cuja exploração feira
do fato, resultou num dos motivos da destituição de Euclides Malta, sete anos depois”
(RAFAEL, 2012, p. 100). Assim, de acordo com autor, “pode-se afirmar com
segurança, que esse sumiço do secretário do interior e o grande mistério em que
permaneceu essa transação do empréstimo externo, se não foi a causa principal da
derrocada de Euclides Malta do poder, sem sombras de dúvidas concorreu para que isso
acontecesse mais rapidamente” (RAFAEL, 2012, p. 105).
Em linhas gerais, Ulisses Rafael pontua que dentre as principais causas dos
ataques aos terreiros de Xangô de Alagoas consiste no fato do governador Euclides
Malta, nos últimos anos de sua administração política, contraiu no seio da população um
tipo de insatisfação que extrapolou a sua destituição do cargo, afetando também seus
asseclas e as práticas religiosas associadas a ele, tal fato fica nítido na destruição de
peças dos terreiros que estava ligadas diretamente ao governador, pois o mesmo passou
a ser encarado como a personificação do mal.
Nesse sentido, o autor sublinha a ligação entre Euclides Malta e as religiões
de matriz africana do ponto de vista que “o que fica como questão é o fato de que, não
foi por esse tipo de aproximação que a revolta contra terreiros se desenvolveu, mas sim
por um tipo de ressentimento para com o político, de que e cuja ausência, as casas de
culto tornaram-se a mais pura representação” (RAFAEL, 2012, p. 57).