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O VALE DO PARAÍBA É DO SAMBA E DA MACUMBA, MALUNGO!

A
TRAJETÓRIA DE TATA TI INKICE NO BRASIL DO PÓS-ABOLIÇÃO

Diego Uchoa de Amorim1

RESUMO:
No presente trabalho vamos apresentar os primeiros passos da pesquisa Tata Ti Inkice: O
Genal da Banda no Brasil do Pós-Abolição ligada ao Programa de Pós-Graduação em
História da Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO-Niterói). O objetivo geral do
projeto é analisar a trajetória de Tancredo da Silva Pinto (1904-1979), nascido na cidade
de Cantagalo, Noroeste do estado do Rio de Janeiro, conhecido como Tata Ti Inkice, Tata
Tancredo ou Papa Negro da Umbanda. Compositor de música popular, sacerdote
religioso, sambista, articulador político e colunista de grandes periódicos entre as décadas
de 1940 e 1970. Sua caminhada ligada às raízes da formação histórica, social e cultural
do mundo do samba urbano carioca, além de composições importantes dentro do gênero
que marcaram estilos inéditos como o samba-de-breque, e atrelada ao universo das
religiões mediúnicas, principalmente a Umbanda, marcou a história do país. Durante sua
vida no século XX do Brasil republicano, suas movimentações comunitárias, relações de
identidade, articulações políticas, atuações institucionais, vivências religiosas e
produções culturais, enfim, serão alvo das nossas análises e reflexões buscando mais
informações e possibilidades de entendimento da trajetória de Tancredo da Silva Pinto
sob às luzes das dinâmicas da modernidade ocidental marcada pelas experiências da
diáspora africana e do Atlântico Negro no Pós-abolição.
PALAVRAS-CHAVE: Tancredo da Silva Pinto, Pós-Abolição, História da Umbanda,
História Social do Samba.

"As histórias importam. Muitas histórias importam. As histórias foram usadas para espoliar e caluniar,
mas também podem ser usadas para empoderar e humanizar. Elas podem despedaçar a dignidade de um
povo, mas também podem reparar essa dignidade despedaçada."
(O Perigo de Uma História Única. Chimamanda Adichie)

Umbandista, sambista, compositor de música popular e um dos grandes nomes da


luta pela liberdade religiosa na história do Brasil no século XX. Nosso objetivo principal
nesta pesquisa de pós-graduação consiste em analisar a trajetória de Tancredo da Silva
Pinto, conhecido dentro do mundo religioso afroameríndio como Tata Ti Inkice ou Papa
Negro da Umbanda. O prisma de observação e análise utilizado é pautado pela influência

1
Bacharelado e Licenciatura em História (Universidade Federal Fluminense, UFF-Niterói/RJ).
Especialista em Educação das Relações Étnico-Raciais no Ensino Básico (Ererebá-CPII, RJ).
Mestrando em História (Universidade Salgado de Oliveira, UNIVERSO, Niterói/RJ).
Integrante do Laboratório de Estudos de Política e Ideologia (LEPIDE-UNIVERSO)
Grupo de Pesquisas e Estudos Nacionais e Estratégicos – Moniz Bandeira (Rio de Janeiro/RJ).
Professor de História e Membro do Departamento de Turismo do Colégio Realengo (Realengo, RJ)
Educador popular no Pré-Vestibular Social Paróquia São Januário e Santo Agostinho (São Cristóvão, RJ).
e-mail: uchoa.amorim@gmail.com
dos migrantes e seus descendentes da região do Vale do Paraíba (RJ, SP, MG) assentada
na experiência cafeeira, memórias do cativeiro e seu repertório cultural formado pelos
jongos, calangos, folias de reis, congadas e suas religiosidades, recheadas de bantuísmos2,
no mundo do samba urbano e da umbanda do Rio de Janeiro nas primeiras décadas do
século XX no contexto do Pós-Abolição3 (SLENES, 1999; ABREU; PEREIRA, 2014).
O estudo da vida de Tancredo da Silva compõe o argumento qualitativo do arsenal
cultural destacado em diálogo íntimo com os dados quantitativos que explicitam através
dos registros a presença dessa população em mobilidade espacial e seus descendentes
como protagonistas da formação e composição do mundo do samba e da umbanda na
Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Um dos caminhos pelo qual chegamos a sua
trajetória está ligado à atuação como bolsista no projeto CNPq/PIBIC Territórios
jongueiros no Rio de Janeiro – século XX entre os anos 2014/2016 durante os tempos de
graduação na Universidade Federal Fluminense (UFF)4, com a intenção de investigar a
construção da história social do samba a partir de livros de folcloristas, historiadores,
memorialistas, entrevistas, letras de músicas, enfim, procurando relações entre a cultura
dos migrantes do Vale do Paraíba (RJ, SP, MG) e o samba urbano carioca (ABREU;
PEREIRA, 2014; AMORIM, 2017).
Com o desenvolver das pesquisas e o aprofundamento na historiografia e nas
produções memorialistas, algumas conclusões parciais foram se consolidando e acabaram
se tornando, também, um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) finalizado em 2017.
Sobre o mapeamento, o que se constatou foi a recorrência de quatro principais temáticas
nas inúmeras narrativas analisadas: 1) A questão da discriminação e repressão ao samba
e aos sambistas nas primeiras décadas do século XX; 2) A questão das diferenças entre a

2
A base da produção da Vila de São Pedro de Cantagalo, instância administrativa criada em 1814, estava
sob os braços de trabalhadores africanos escravizados em sua maioria chegados na América pelos portos
da região Centro-Ocidental conhecida como Congo-Angola e de Moçambique, na África Oriental
(SLENES, 1999; FARIA, 2018).
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Nos últimos anos, uma série de pesquisas buscaram resgatar aspectos da organização, modos de agir e
trajetórias individuais das populações negras no contexto do Pós-abolição. Desde a década de 1980, quando
as demandas dos movimentos negros e a preocupação com a ação social dos sujeitos pela academia
fomentaram uma mudança na historiografia da escravidão, chaves explicativas importantes das relações
raciais no país têm sido revistas devido à emergência de estudos que buscam historicizar as diversas
experiências da população de ascendência africana, resgatando, assim, os(as) negro(as) como sujeito da sua
própria história. De maneira bem similar aos anos 1980 para a historiografia da escravidão, os anos 2000
significaram importantes mudanças na consolidação de um campo de estudos específicos sobre o Pós-
abolição. A influência e o diálogo com pesquisadores do tema de outros países, a realização de eventos
acadêmicos, a demanda por parte de movimentos sociais, e o incentivo à pesquisa acabaram energizando
ainda mais o campo. Reflexo disso são os inúmeros grupos de pesquisa que surgem nos programas de pós-
graduação pelo país que se debruçam sobre as questões do Pós-abolição e a formação, finalmente, do GT
Nacional de Emancipações e Pós-Abolição durante o XXVII Simpósio Nacional da ANPUH, realizado em
2013 na cidade de Natal, coordenado por Giovana Xavier e Wlamyra Albuquerque além de reunir nomes
de peso como Hebe Mattos, Martha Abreu, Flávio Gomes, Maria Helena Machado entre outros. Para mais
informações sobre o GT Nacional. Cf.
http://www.anpuh.org/gt/view?ID_GT=45#.Uz1m_O5eSVU.facebook (Acesso em 15/06/2021)
4
O convívio e diálogo com colegas de universidade fortemente ligados ao mundo do samba como Nathália
Sarro, Vinícius Natal, Leandro Silveira e Erickson dos Anjos, por exemplo, também contribuiu para o
processo de aproximação com o objeto em questão. Não podemos esquecer que estes graduandos e pós-
graduandos contaram com as orientações essenciais e enriquecedoras da Professora Titular de História do
Brasil da Universidade Federal Fluminense (UFF) Martha Campos Abreu.
geração de sambistas da Pequena África5 e aqueles da Zona do Mangue, do Estácio; 3) A
Era Vargas (1930-1945) e as relações dos sambistas e escolas de samba com o projeto
nacional do Estado varguista; 4) e, por último, a centralidade da Diáspora Baiana e suas
Tias Baianas nas histórias do “surgimento” do samba na cidade carioca. Identificou-se,
paralelamente, o principal silenciamento: a importância do universo cultural (jongos,
caxambus, calangos, folias de reis, congadas, religiosidades) dos migrantes e
descendentes do Vale do Paraíba no mundo do samba no contexto do Pós-Abolição e
modernização do então Distrito Federal (ABREU; PEREIRA, 2014; AMORIM, 2017).6
Cabe lembrar que a grande herança cultural do Vale do Paraíba na formação do
mundo do samba e das religiosidades cariocas, com seus sujeitos e símbolos, vinha sendo
lembrada por nomes como Haroldo Costa, Martha Campos Abreu, Luiz Antonio Simas e
Nei Lopes pelo menos desde a década de 1980. Este último, bacharel em Direito,
compositor, poeta, pesquisador da área de cultura negra, sambista e intelectual nascido
no subúrbio de Irajá, em livros como Partido-alto: Samba de bamba (2005) e O negro e
sua tradição musical no Rio de Janeiro (1992) demonstrou o peso dessa ancestralidade
através dos seus estudos sobre as trajetórias de sambistas, entrevistas e trechos de cantigas
e refrões da música popular urbana e rural. Não podemos esquecer dos LPs lançados com
suas interpretações e composições durante a Ditadura Civil-mitar responsáveis pela
divulgação da importância desse patrimônio cultural do Vale no mundo do samba e da
música popular brasileira no século XX7 ultrapassando os limes das universidades
(ABREU; PEREIRA, 2014; AMORIM, 2017; COSTA, 1984; LOPES, 1992).
Essa pesquisa contribui, dessa forma, para a construção de uma história do Pós-
Abolição que abarque com profundidade os destinos, escolhas e estratégias de atuação
das populações libertas ou descendentes de escravizados que migraram do Vale do
Paraíba em direção ao Distrito Federal no início do século XX buscando seu lugar ao sol.
Ao mesmo tempo, mostra interesse e atenção às origens desses indivíduos, em sua maioria

5
Termo de reconhecida autoria do sambista, compositor e artista plástico Heitor dos Prazeres (1898-1966)
e difundido desde a década de 1990 pelo jornalista e historiador Roberto Moura em suas obras sobre a
região que envolvia os bairros atuais da Praza Onze, Gamboa, Saúde, Praça Mauá, Santo Cristo, entre outras
áreas vizinhas nos anos finais do século XIX e primeiras décadas do século XX do então Distrito Federal.
Espaço marcado pela potência da circulação cultural de origens diversas dos migrantes que chegavam à
época ao Rio de Janeiro, vindo da Europa e do Brasil de regiões como o Nordeste, principalmente
Pernambuco e Bahia, e do interior do Vale do Paraíba Cafeeiro. Conhecida pela centralidade das culturas
de origem africana e pelas marcas ligadas aos produtos e às memórias do cativeiro, suas ruas e residências
eram sedes de casas de zungu, barracões de candomblés, associações carnavalescas, sindicatos, irmandades
religiosas, enfim, espaços nos quais as populações negras criavam e reinventavam suas experiências,
identidade e atuações enquanto sujeito histórico numa realidade marcada pelo racismo e violência cotidiana
(MOURA, 1995; 2004).
6
Estas conclusões parciais foram apresentadas em comunicação no evento Prêmio Vasconcellos Torres –
Agenda Acadêmica na Universidade Federal Fluminense (Niterói, 2014). Para acesso ao caderno de
resumos, ver: http://www.revistapibic.uff.br/images/imagens/HUM.pdf (Acesso em 09/04/2021). Além
disso, foram desenvolvidas com mais densidade no estudo monográfico do autor deste texto em: AMORIM,
Diego Uchoa de. O Vale também samba, Malungo! A Trajetória de Tata Ti Inkice e a Cultura dos Migrantes
e Seus Descendentes do Vale do Paraíba no Mundo do Samba Carioca. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Martha
Campos Abreu. Niterói: UFF/ICHF, 2017. Monografia (Bacharel em História).
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Entre os lançamentos nos quais podemos identificar forte presença da valorização do patrimônio cultural
destacado estão as obras: A Arte Negra de Wilson Moreira e Nei Lopes (EMI/Odeon, 1981), Negro Mesmo
(Lira/Continental, 1983) e O Partido Muito Alto de Wilson Moreira e Nei Lopes (EMI/Odeon, 1985).
de origem africana, e às suas práticas culturais como os jongos, calangos, caxambu, folias
de reis, congadas, cultos de matriz bantu e afroameríndios, enfim, tentando complexificar
o universo cultural negro-popular do Rio de Janeiro essencialmente lembrado pela
centralidade da Diáspora Baiana e pela matriz cultural iorubana jeje-nagô cuja
metonímia mais conhecida é a figura das Tias Baianas8 (MUSSA; SIMAS, 2010;
GOMES, 2003; LOPES, 1992, HALL, 2003).
Neste agitado segundo semestre de 2021, recheado de instabilidades políticas e
crises econômicas, através do Mestrado em História Política, Movimentos Sociais e
Memória que integra o Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Salgado
de Oliveira (UNIVERSO-NI), os passos iniciais da pesquisa em andamento com previsão
de conclusão em 2023 serão apresentados de maneira a servir como uma apresentação
breve da trajetória de Tancredo da Silva Pinto, um dos personagens de destaque das redes
de articulações políticas e culturais negras no Brasil no século XX com destaque nos
universos do samba e da umbanda. De origem humilde e ligado à ancestralidade africana
latente na antiga região do Vale do Paraíba Fluminense, nasceu na pacata cidade de
Cantagalo, Noroeste do estado do Rio de Janeiro. Inicialmente almejada por seu potencial
minerador e depois reconhecida pelas suas terras férteis, ficou conhecida como “Celeiro
da terra fluminense” nos tempos dos cafezais que inundaram o comércio internacional do
século XIX sob a exploração da mão-de-obra escravizada (SANTOS, 2019; FARIA,
2018):
Recenseamento de 1872, em Cantagalo habitavam
29.453 pessoas, 57% delas (16.805), escravas. O
município de Paraíba do Sul, considerado por João
Fragoso um dos mais povoados do Vale do Paraíba
fluminense e de elevada concentração de população
escrava nas mãos de uma poderosa elite, tinha 37.461
habitantes, 46% deles, escravos, proporção menor do que
a de Cantagalo, do que se supõe que Cantagalo estava
entre as principais regiões de cafeicultura escravista e
mercantil de grande porte. Em praticamente todas as
pesquisas e trabalhos que tratam da história agrária do
Vale, entretanto, somente alguns mencionam, de
passagem, a cafeicultura em Cantagalo, com algumas
exceções, como as dissertações de Gelsom Rozentino de
Almeida e Eliana Vinhaes.” (FARIA, 2018, p. 3)

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“As condições históricas da vinda maciça de iorubanos para o Brasil, do fim do século XVIII aos primeiros
anos da centúria seguinte, fizeram com que a língua desse povo se transformasse numa espécie de língua
geral dos africanos na Bahia e seus costumes gozassem de franca hegemonia. Esse fato, aliado,
posteriormente, ao trabalho de reorganização das comunidades jeje-nagôs empreendido principalmente pela
ialorixá Mãe Aninha, Obá Biyi (1869-1938) e pelo babalaô Martiniano do Bonfim, Aji Mudá (1858-1943),
na Bahia, em Recife e no Rio de Janeiro, fez com que os iorubás passassem a ser vistos como a principal
referência no processo civilizatório da diáspora africana no Brasil.” LOPES, Op. Cit., s/p. Paradigma
reforçado recentemente no Rio de Janeiro com os investimentos da Prefeitura do Rio de Janeiro e do
Governo do Estado do Rio de Janeiro no Projeto Porto Maravilha em projeto aprovado por lei (Lei
Complementar nº 102/2011) que abarcaram a região da Pequena África e fomentaram o turismo e pesquisas
ligadas às comunidades afro-brasileiras na região. Site Oficial Porto Maravilha, disponível em:
https://portomaravilha.com.br/ (Acesso em 26/20/2021)
Antes de entrarmos com mais detalhes nos episódios ligados à vida de Tancredo
da Silva, apontaremos algumas questões teóricas e metodológicas envolvidas no trabalho
com biografias ou trajetórias dentro da área de História. Afinal, não temos a pretensão de
escrever a verdadeira história de Tata Tancredo ou mesmo uma minuciosa descrição da
sua passagem por este mundo. Neste espaço e nos próximos produtos ligados à pesquisa,
assim, vamos revisar momentos da vida do nosso objeto de estudo orientados pelas
proposições do sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002) e do o antropólogo
brasileiro Gilberto Velho (1945-2010): buscando fugir dos perigos da ilusão biográfica
que nos afastam da compreensão plena das potencialidades e expectativas do sujeito
analisado e, explicitando a todo o momento, os campos de possibilidades de atuação e
articulação que emergem em determinados contextos históricos vividos pela nossa
personagem (BOURDIEU, 2002; VELHO, 1994):

O sujeito e o objeto da biografia (o investigador e o


investigado) têm de certa forma o mesmo interesse em
aceitar o postulado do sentido da existência narrada (e,
implicitamente, de qualquer existência). Sem dúvida,
cabe supor que o relato autobiográfico se baseia sempre,
ou pelo menos em parte, na preocupação de dar sentido,
de tornar razoável, de extrair uma lógica ao mesmo
tempo retrospectiva e prospectiva, uma consciência e
uma constância, estabelecendo relações inteligíveis,
como a do efeito à causa eficiente ou final, entre os
estados sucessivos, assim constituídos em etapas de um
desenvolvimento necessário. E é provável que esse
ganho de coerência e de necessidade esteja na origem do
interesse, variável segundo a posição e a trajetória, que
os investigados têm pelo empreendimento biográfico.
Essa propensão a tornar-se o ideólogo de sua própria
vida, selecionando, em função de uma intenção global,
certos acontecimentos significativos e estabelecendo
entre eles conexões para lhes dar coerência, como as que
implica sua instituição como causas ou, com mais
frequência, como fins, conta com, a cumplicidade natural
do biógrafo, que, a começar por suas disposições de
profissional da interpretação, só pode ser levado a aceitar
essa criação artificial de sentido (BOURDIEU, 2002, p.
S/N).
Nascido em 1904, era filho do casal Belmiro da Silva Pinto e Edwirges de Miranda
Pinto. Sua família tinha influência na vida cultural da cidade como mostra a ação do avô
materno que fundou alguns dos blocos carnavalescos pioneiros como o Avança, Treme-
Terra e Cordão Místico. Seu pai era reconhecido como um dos melhores tocadores de
violão da redondeza, sua mãe era corista da Igreja Católica e sua tia Olga da Mata, mãe
de santo que já teve casa aberta na cidade de Duque de Caxias (RJ), era famosa por sair
nos cordões de Cantagalo fantasiada de Rainha Ginja.9 Já no Rio de Janeiro dos tempos

9
SIMAS, Luiz Antonio. As flechas invisíveis. Artigo publicado no jornal O Globo em 28 de dezembro de
2017. Disponível em: https://oglobo.globo.com/cultura/as-flechas-invisiveis-22234025. (Acesso em
19/01/2021)
de modernizações do Distrito Federal, é no Morro do São Carlos, localizado no bairro
Estácio de Sá, onde fez sua morada e iniciou uma caminhada bastante influente
integrando um seleto grupo até hoje cristalizado na memória coletiva dos sambistas. Um
ponto importante: essa mobilidade espacial da população liberta ou descendente dos
cativos no contexto do Pós-abolição (Brasil) não é uma característica nacional apenas,
mas sim, parte do conjunto de experiências de homens e mulheres de origem africana nas
Américas (VELLOSO, 2010; SANTOS, 2019; BRANCO, 2014; GIESTA, 2018).
O pesquisador Gabriel Valladares Giesta, em pesquisa de doutoramento em
História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) na qual se
dedicou ao estudo das semelhanças e diferenças entre as histórias sociais do Blues (EUA)
e do Samba (Brasil), destaca a questão das migrações dos descendentes de africanos das
últimas regiões centrais da escravidão nas Américas para as grandes cidades que se
modernizavam nas primeiras décadas do século XX. Encontramos, assim, paralelos entre
as movimentações da população do Vale do Paraíba cafeeiro em direção ao Rio de Janeiro
e São Paulo com os homens e mulheres que deixavam o coração algodoeiro do Delta do
Mississipi no Sul dos Estados Unidos da América para as cidades de Nova York e
Chicago (GIESTA, 2018):

No caso do Blues, o Delta dos rios Mississipi e Yazoo


são vistos como locais de origem na memória histórica
do gênero, tendo muitos folcloristas que remontam ao
“deep south” em busca de uma série de músicas e letras
que nos primeiros anos de 1900 já soavam “more or less
like what would come to be called blues” [mais ou menos
como o que será chamado de blues]. Porém, um dos
maiores fatores para a ascensão do gênero nacionalmente
foi a grande migração da população negra e sulista em
direção a cidades como Nova York e Chicago,
principalmente, que serão polos dos primeiros artistas a
fazerem sucesso com o Blues. A “mãe” e o “pai” do
Blues, Ma Rainey e W. C. Handy são migrantes -
músicos os quais a importância na indústria fonográfica
veremos mais a frente. A primeira, nascida na Geórgia
em 1886, e o segundo no Alabama em 1873. Ambos
migraram para o norte, passando por Chicago em busca
de suporte da indústria fonográfica da cidade (GIESTA,
2018, p. 106-107).

O caminho trilhado por Tancredo da Silva Pinto e sua família, dessa maneira, não
foi um produto aleatório das relações sociais no Brasil. Chegando ao Estácio, ao lado de
Ismael Silva (1905-1978), Alcebíades Barcelos (Bide, 1902-1975), Rubem Barcelos
(Mano Rubens, 1904-1927), Armando Marçal (1902-1947), Nilton Bastos (1899-1931),
Benedicto Lacerda (1903-1958), entre outros, fundou a “primeira escola de samba do
Brasil”10: o Deixa Falar (1928-1932). A geração marcou sua identidade na musicalidade

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Há muitos debates em relação ao título de primeira escola de samba do Brasil para o Deixa Falar do
Estácio. Suas características organizativas e estéticas ligadas às tradições dos ranchos são acionadas por
muitos autores para afirmar que a instituição nunca teria sido de fato uma escola de samba – mas sim um
racho carnavalesco. Para nossa pesquisa, encaramos a Deixa Falar como a primeira escola de samba
do samba urbano carioca. Estudos de fôlego como o do etnomusicólogo pernambucano
Carlos Sandroni e dos historiadores João Máximo e Carlos Didier chamam de o
paradigma do Estácio ou o samba de sambar11. Escreveu seu nome no hall dos bambas
do mundo do samba após compor Jogo Proibido (1936)12, considerado por muitos o
primeiro samba-de-breque13, e General da Banda (1949)14, música que alcançou um
sucesso enorme na voz de Otávio Henrique de Oliveira (Blecaute, 1919-1983) no carnaval
de 195015 (PEREIRA, 2008; FRANCESCHI, 2010; SANDRONI, 2001; MÁXIMO;
DIDIER, 1990).
As gravações fonográficas utilizadas na pesquisa, especificamente as músicas de
composição de Tancredo da Silva e suas parcerias, em sua maioria, estão disponíveis no
site do Instituto Moreira Salles (IMS)16 e no Instituto Memória Musical Brasileira
(IMMuB)17. Pensando a questão do método e metodologia, alertamos que a interpretação
por parte dos cantores, reações ou apropriações dos públicos durante a execução das
músicas, comentários realizados por músicos ou pelo intérprete durante as apresentações,
enfim, todos esses detalhes estão suscetíveis à análise crítica e minuciosa por parte do
historiador no trato com as fontes:
Nessa perspectiva, entendo que interpretar é também compor,
pois quem interpreta decompõe e recompõe uma composição,
podendo investi-la de sentidos não imaginados ou mesmo
deliberadamente não pretendidos pelo seu autor. Disso decorre
que não é suficiente tomar abstratamente uma canção resumida à
peça fria da letra ou da partitura. Sua realização sonora, do

procurando nos aproximar da memória e legitimidade construídas pelo mundo do samba e pelos
pesquisadores ligados ao tema. Mais detalhes do debate, ver: (MUSSA; SIMAS, 2010), (SIMAS; LOPES,
2015), (SANDRONI, 2001), entre outros.
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“Esta ampliação de perspectiva torna possível pensar a mudança de estilo acontecida no samba dos anos
1930 como um verdadeiro ponto de inflexão na música popular: o fim de uma etapa que não teria durado
só de 1917 a 1930, mas que teria se estendido pelo século XIX. Assim, ao longo do trabalho nos
defrontamos não com um, mas com dois ciclos de transformações: um ciclo curto, que conduziu do estilo
antigo ao estilo novo de samba, e um ciclo longo, que conduziu do paradigma do tresillo ao do Estácio”.
(SANDRONI, 2001, p. 218)
12
Jogo Proibido, composição de Tancredo Silva, Davi Silva e Ribeiro Cunha, gravada por Moreira da Silva
e lançada pela Continental em 1936.
13
“Importante subgênero do samba, de caráter humorístico, sincopado, com paradas repentinas, nas quis o
cantor introduz comentários falados. O primeiro grande sucesso nesse estilo foi ‘Acertei no Milhar’,
assinado por Wilson Batista e Geraldo Pereira e lançado pelo cantor Moreira da Silva, em 1940.Mas,
segundo a versão difundida pelo próprio cantor, a criação dos breques (do inglês break, interrupção, pausa)
data de 1937, quando o samba ‘Jogo Proibido’ (de Tancredo Silva, Davi Silva e Ribeiro Cunha) foi cantado
em um espetáculo popular, com grande efeito histriônico. Moreira da Silva celebrizou-se, então, como o
grande nome dessa vertente, na qual também se destacou o cantor Jorge Veiga”. (LOPES; SIMAS, 2005,
256)
14
General da Banda (1949), parceria com Sátiro de Melo (1900-1957) e José Alcides (1918-1978). A
canção, além de ter sido um sucesso no Carnaval de 1950 na voz de Blecaute, teve inúmeras regravações
por artistas reconhecidos na música popular brasileira. Linda Batista (1950), Elis Regina (1973), Sargentelli
(1977), Astrud Gilberto (1972), Paulo Moura (1971), Os Diagonais (1969), Ivan Lins (1999) entre outros.
15
Buscando tratar da influência dos militares de alta patente na vida política brasileira, a historiadora
Heloisa Murgel Starling publicou um ótimo texto no site da Revista Serrote nº 29 partindo da composição
em questão e relacionando-a com os episódios recentes da história institucional brasileira. Cf.
https://www.revistaserrote.com.br/2018/09/general-por-heloisa-m-starling/ (Acesso em 19/01/2021)
16
Acervo “Música” do site do Instituto Moreira Salles, disponível para consulta em:
https://ims.com.br/acervos/musica/ (Acesso em 21/01/2021)
17
Acervo do IMMuB disponível no site: https://immub.org/p/o-instituto (Acesso em 27/01/2021).
arranjo à performance vocal, tudo é portador de sentidos
(PARANHOS, 2007, p. 190-191).

A contribuição importante do historiador inglês Paul Gilroy, pensando o aspecto


metodológico da pesquisa a partir do acervo musical dos sujeitos e grupos que constituem
o Atlântico Negro, não será negligenciada no momento de análise críticas das músicas
que serão consultadas durante o processo:

Ela também fornece um modelo de performance que pode


complementar e parcialmente deslocar o interesse da
textualidade. Para compreendê-las é necessário realizar uma
análise do conteúdo das letras e das formas de expressão musical,
bem como das relações sociais ocultas nas quais essas práticas de
oposição profundamente codificadas são criadas e consumidas
(GILROY, 2001, p. 93).
Essas preocupações são parte intrínseca do processo de pesquisa e análise da
trajetória de Tata Tancredo no mundo do samba e suas articulações religiosas, culturais e
políticas nas décadas do século XX no Brasil do Pós-Abolição. A ideia é demonstrar como
sua trajetória é inteligível aos seus pares contemporâneos, embora não possamos diminuir
suas singularidades e excepcionalidades, tornando possível compreendê-lo a partir da
percepção coletiva do fenômeno histórico quando o aproximamos a nomes como Eloy
Anthero Dias (Mano Elói, 1888-1971)18, Paulo Benjamin de Oliveira (Paulo da Portela,
1901-1949)19, Martinho José Ferreira (Martinho da Vila)20 e Darcy Monteiro (Mestre
Darcy do Jongo, 1932-2001)21, ambos homens com atuações centrais para uma
compreensão das agências das populações negras no século passado buscando afirmação

18
Os(as) historiadores(as) Alessandra Tavares e Sormani Silva têm publicado nos últimos anos trabalhos
importantes sobre a vida, obra e movimentação de Eloy Anthero Dias, outro filho do Vale do Paraíba,
colocando-o dentro das redes de atuação, negociação e conflito que envolviam as agências da população de
origem africana no Pós-abolição no século XX de grandes cidades como o Rio de Janeiro, ver: (TAVARES,
2020) e (SILVA, 2015).
19
O documentário lançado no centenário do grande sambista e articulador político carioca Paulo da
Portela: o teu nome não caiu no esquecimento (Demerval Neto, 2001) proporciona um bom contato com a
trajetória do portelense e explicita a sua agência entre os mundos culturais, políticos e religiosos. Disponível
gratuitamente para acesso no canal do Youtube Acervo CULTNE (Acervo Digital de Cultura Negra):
https://www.youtube.com/watch?v=KDRxlxD45Ms (Acesso em 15/11/2021)
20
O pesquisador Adelcio Camilo Machado tem se dedicado à trajetória de Martinho da Vila buscando tanto
apresentar seus trânsitos e obras no universo do samba quanto colocá-lo como um dos principais pilares
das complexas relações diplomáticas entre Brasil e o mundo lusófono africano, principalmente, com Angola
em tempos bastante difíceis de Guerra Fria (1945-1989) e Ditadura Civil-militar no Brasil (1964-1985),
ver: (MACHADO, 2013) e (MACHADO, 2011). Um bom material audiovisual sobre a trajetória de
Martinho da Vila é o documentário O Pequeno Burguês: Filosofia de Vida (Edur Mansur, 2001), disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=6gT1WeXJczM (Acesso em 16/11/2021).
21
Um dos grandes mestres da cultura afro-brasileira, Mestre Darcy do Jongo agiu intensamente na
divulgação e construção de redes que tornaram conhecida a manifestação cultural de origem africana típica
do Sudeste brasileiro chamada Jongo/Caxambu. Além disso, fomentou aproximações com o mundo
universitário aumentando as pesquisas sobre a cultura ancestral presente na comunidade do Morro da
Serrinha, localizada na região de Madureira, Zona Norte do Rio de Janeiro, onde hoje em dia temos o centro
cultural Casa do Jongo. Entre os materiais audiovisuais disponíveis gratuitamente para conhecer a
personagem, sua obra e seus legados temos o documentário Salve o Jongo! (Pedro Simonard, 2005),
disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6fg05DHO9fA (Acesso em 16-11-2021)
social e resistência frente a realidade dura que enfrentavam em seus cotidianos no país
(VALENÇA; VALENÇA, 1981; SILVA, 2015; BARBOSA; 2015, PEREIRA, 2013).
Tecendo relações entre a sua produção cultural e seus agenciamentos nos quadros
do Pós-abolição, a versão divulgada mais amplamente no mundo do samba sobre a
história da composição General da Banda e a criação da instituição Confederação
Umbandista do Brasil (1950) nos dão condições de apreender algumas nuances da atuação
de Tata Tancredo no amaranhado complexo do Brasil republicano dos Novecentos, ao
mesmo tempo, em que o aproxima de outros(as) personagens que flutuaram entre os
campos da religião, política e cultura em suas existências como sujeitos da diáspora
africana nas Américas. Nei Lopes, em texto sobre a presença africana na música popular
brasileira, traz a passagem (HALL, 2003; GILROY, 2001):
... esse episódio passou-se na casa da minha tia Olga da
Mata. Lá arriou Xangô, no terreiro São Manuel da Luz,
na Avenida Nilo Peçanha, 2.153, em Duque de Caxias.
Xangô falou: - Você deve fundar uma sociedade para
proteger os umbandistas, a exemplo da que você fundou
para os sambistas, pois eu irei auxiliá-lo nesta tarefa.
Imediatamente tomei a iniciativa de fazer a
Confederação Umbandista do Brasil, sem dinheiro e sem
coisa alguma. Tive uma inspiração e compus o samba
General da Banda, gravado por Blecaute, que me deu
algum dinheiro para dar os primeiros passos em favor da
Confederação Umbandista do Brasil (Apud LOPES,
2005).
A citação explicita a complexidade da interação de Tancredo da Silva entre os
mundos do samba, das religiões afroameríndias e das suas articulações políticas-
institucionais. Nos aproximamos, assim, da concepção reforçada por pesquisadores como
Paul Gilroy, Stuart Hall, Martha Campos Abreu e Luiz Antonio Simas, entre outros, na
qual a visão de mundo de ascendência africana não se encaixa nos moldes modernos
ocidentais da pretensa separação das esferas entre arte, religião, educação e política.22
Sobre a mesma composição, sucesso que marcou o século passado tendo boa repercussão
no exterior, há outra versão menos conhecida para a origem da sua inspiração encontrada
nas memórias do Carlão do Peruche, o Cardeal do Samba ícone entre os bambas de São
Paulo, publicadas em livro recentemente pelo jovem historiador Bruno Sanches Baronetti
(GILROY, 2001; HALL, 2003; ABREU; DANTAS, 2020):
A turma dos engraxates era muito boa na tiririca. Tinha
também o Café e o Cafezinho, dois irmãos que eram
difíceis de serem derrubados. Além da Sé, a gente ia para
a Praça da República. Armávamos roda de tiririca e roda
de samba. Uma das quadrinhas que cantávamos durante
essas rodas ficou famosa. O Blecaute pegou essas
quadrinhas de tiririca e fez a música “General da Banda”.
Foi um sucesso no carnaval. Era assim: “Chegou o
general da banda ê, ê/ Chegou o general da banda, ê á/

22
“A separação, afinal, entre sagrado e profano simplesmente não é pertinente para as concepções de mundo
e saberes afro-brasileiros”. SIMAS, Luiz Antonio. A Gramática dos Tambores. Disponível em:
http://www.pedromigao.com.br/ourodetolo/2015/07/a-gramatica-dos-tambores/. Acesso em 01/04/2016.
Mourão, mourão/ Vara madura que não cai/ Mourão,
mourão/ Catuca por baixo que ele vai” (BARONETTI,
2019, p. 48)

As querelas envolvendo suas andanças, histórias e composições demandariam


páginas e páginas. A intenção não é se alongar, afinal, o ilustre filho de Cantagalo tem
pés e mãos em momentos marcantes da história da música popular brasileira, na
caminhada pela liberdade de culto e na história das instituições culturais durante o século
passado no Brasil. Além de tudo, manteve durante mais de vinte anos uma coluna no
jornal O Dia (RJ), articulada junto ao jornalista e cacique político Chagas Freitas (1914-
1991), fundou a Revista Mironga e contribuiu para outros periódicos entre as décadas de
1950 e 1970. Como uma porcentagem significativa das fontes consultadas serão
periódicos impressos, vamos dialogar com trabalhos do campo da História da Imprensa
no Brasil assim como suas proposições teóricas e metodológicas acerca do processo de
análise crítica desses documentos (ZICMAN, 1985; SANTOS, 2019; AMORIM, 2017):

Contrariamente à tendência geral destes trabalhos,


acreditamos que o estudo mais atento dos órgãos de
Imprensa tomados como fonte do conhecimento
histórico deve ser um pressuposto necessário de todo
trabalho que utiliza este tipo de fonte documental.
Partimos da hipótese geral que a Imprensa age sempre no
campo político-ideológico e portanto toda pesquisa
realizada a partir da análise de jornais e periódicos deve
necessariamente traçar as principais características dos
órgãos de Imprensa consultados. Mesmo quando não se
faz História da Imprensa propriamente dita – mas antes
o que chamamos História Através da Imprensa – está-se
sempre ‘esbarrando’ nela, pela necessidade de
historicizar os jornais (ZICMAN, 1985, p. 90).
No processo de pesquisa, lidaremos com uma diversidade de fontes históricas.
Entrevistas já realizadas com sambistas e mediadores importantes no mundo do samba
disponíveis nos acervos do Museu da Imagem e do Som (MIS)23, disponibilizadas em
filmes, documentários, periódicos, sites, blogs e outros veículos, enfim, serão consultadas
para o acesso às narrativas dos sujeitos envolvidos nas novelas diárias do universo do
samba e da umbanda. Além disso, Tancredo da Silva deixou mais de vinte livros
publicados sobre o universo religioso afroameríndio e mediúnico brasileiro disponíveis
para consulta através do cadastro da Biblioteca Nacional (BN) 24. O trabalho de consulta
à sua obra já teve início e procura compreender as estratégias de articulação de suas
responsabilidades e preceitos frutos da posição hierárquica dentro do Omolokô, seus
pares de debates intelectuais como W. W. Matta e Silva (1916-1988) e os ecos das
andanças no mundo do samba urbano carioca e no universo cultural brasileiro25.

23
Site Oficial do Museu da Imagem e do Som (MIS), ver: https://www.mis.rj.gov.br/ (Acesso em
27/01/2021)
24
Site Oficial da Biblioteca Nacional, ver: https://www.bn.gov.br/ (Acesso em 27/01/2021)
25
Até hoje sua produção circula entre os povos do axé no Brasil como A Origem da Umbanda
(Espiritualista, 1971), Eró da Umbanda (Eco, 1968), Cabala Umbandista (Espiritualista, 1971),
Fundamentos de Umbanda (Editora Souza, 1956), Camba de Umbanda (Aurora, 1957), As Mirongas da
Politicamente, construiu diálogos com prefeitos, governadores, jornalistas e
artistas visando criar condições para o legítimo direito de exercer seu trabalho, sua cultura
e sua fé. Nomes caros da época como o governador do estado da Guanabara Carlos
Lacerda (1914-1977), o deputado federal pela União Democrática Nacional (UDN) nos
anos 1950 e 1960 e dono do jornal popular A Luta Democrática Tenório Cavalcanti (O
homem da capa preta, 1906-1987); o radialista e jornalista conhecido por sua luta em
defesa dos interesses umbandistas Átila Nunes Pereira e sua esposa vereadora pelo Rio
de Janeiro por dezesseis anos Bambina Bucci (1920-2009); um dos homens fortes dos
governos da ditatura civil-militar no Brasil Golbery do Couto e Silva (1911-1987); os
deputados federais pelo Movimento Democrática Brasileiro (MDB) Marcelo Medeiros
(1945-2009)26 e Valdemiro Abdalla Teixeira (Miro Teixeira, 1945); entre outros sujeitos
influentes, compunham a rede de movimentações acionada por Tancredo Silva em vários
episódios de acordo com as demandas de cada situação (VERSIANI, 2007; SANTOS,
2019).
Em plenos anos de chumbo da Ditadura Civil-militar (1964-1985), observamos a
Congregação Espírita Umbandista do Brasil (CEUB) se movimentando na luta por
políticas públicas e/ou ações legislativas que garantissem a liberdade religiosa. No dia 02
de Dezembro de 1972, o jornal O Dia (RJ) publicou uma notícia cobrindo uma das
primeiras reuniões no processo de criação de um novo projeto de lei federal referente à
Lei do Silêncio (Decreto-Lei nº 112, 12 de Agosto de 1969), que buscasse o livre
exercício dos cultos umbandistas e candomblecistas no Rio de Janeiro, cujo idealizador
seria o deputado Marcelo Medeiros. Um momento de estabelecer e fortalecer alianças
para a conquista de uma demanda política central dos povos do axé no início dos anos
1970. Tancredo da Silva estava na reunião, fortalecendo sua posição como dirigente e
articulador, aparecendo no texto como Presidente do Conselho Deliberativo da CEUB
(SANTOS, 2019):
Em reunião realizada na residência do Secretário do
Conselho Deliberativo da CEUB, Sr. Mamede José
D’Ávila a qual estavam presentes o Deputado Marcelo
Medeiros, Sr. Tancredo da Silva Pinto, Presidente do
Conselho Deliberativo da CEUB, Dr. Emanuel Cruz,
Diretor do Departamento Jurídico da CEUB, Sr.
Martinho Mendes Ferreira, Presidente Executivo da
CEUB e o Sr. Geraldo de Freitas Assunção, 1º Secretário
da CEUB, foi tratado assunto referente à regulamentação
que dispõe sobre o exercício de cultos religiosos. A
finalidade dessa reunião, em tão boa hora levada a efeito
pelos dirigentes da CEUB, é pôr fim a [agressões de que
têm] sido vítimas os fiéis que praticam ritual de

Umbanda (Espiritualista, 1957), Yaô (Espiritualista, 1975), Umbanda: Guia e Ritual para Organização de
Terreiros (Eco, 1972), Minas Sob a Luz da Umbanda (G. Holdman Ltda, 1971), entre outros.
26
“O ex-acessor [sic] de imprensa do ex-governador Negrão de Lima nasceu em Juiz de Fora, cidade de
estado de Minas Gerais, em setembro de 1945. Medeiros exerceu quatro mandatos de deputado federal pelo
Rio de Janeiro.” (SANTOS, 2019, p. 115); “Outro mote importante do discurso político de Marcelo
Medeiros é demonstrar solidariedade para com os grupos religiosos. A partir de uma aliança com o deputado
estadual Átila Nunes, por exemplo, Medeiros incorpora a defesa dos interesses umbandistas, passando a ser
considerado, por esse grupo, na Guanabara, um representante e defensor” (VERSIANI, 2007, p. 179).
umbanda, não só na Guanabara, como em outros Estados
com muito maior frequência (O DIA, 02 DE
DEZEMBRO, 1972).27
Outros momentos importantes da história política e cultural do Rio de Janeiro e
do Brasil no século passado foram protagonizados por Tata Tancredo. Afora a criação da
referência Deixa Falar (1928), esteve entre os fundadores da União das Escolas de Samba
(1934) e da Federação Brasileira das Escolas de Samba (FBES, 1947) 28, também estava
na organização e articulação de instituições centrais da luta pela liberdade religiosa no
país como a Confederação Espírita Umbandista (CEU, 1950), a Federação Espírita
Umbandista (FEU, 1952), inaugurou eventos afro-religiosos em todo o país como Festa
de Iemanjá (RJ), Yaloxá (MG)29, Festa de Xangô (PE) e a Festa de Preto Velho (Inhoaíba,
RJ), comandou a cerimônia ecumênica de fusão dos estados da Guanabara e Rio de
Janeiro na Ponte Rio-Niterói em 1975, enfim, entre outros episódios de destaque no
século XX brasileiro (SIMAS; LOPES, 2015; TURANO, 2017; SANTOS, 2019;
BAHIA; NOGUEIRA, 2018).
Acerca das justificativas sociais e políticas desta pesquisa, em sua maioria estão
relacionadas ao processo de silenciamento das trajetórias de indivíduos negros(as)
imprescindíveis dentro da vida política, cultural e social do Brasil durante o século XX.
Nomes como Abdias Nascimento (1914-2011), Zózimo Bulbul (1937-2013), Mercedes
Baptista (1921-2014), Zezé Motta, Solano Trindade (1908-1974), Antônio Candeia Filho
(1935-1978), Joel Rufino dos Santos (1941-2015) e o próprio Tancredo da Silva,
dedicaram suas vidas ao enriquecimento da cultura popular e do patrimônio material e
imaterial da nação brasileira lutando dia a dia por um país melhor como legado às
próximas gerações. As suas diversas estratégias, linguagens e atuações em espaços, meios
institucionais, manifestações culturais e religiosas, sem dúvida, nos permitem afirmar
cada vez mais a agência desses homens e mulheres negros(as) enquanto sujeitos
modernos nos quadros da diáspora africana, do Atlântico Negro e do Pós-abolição no
Brasil, ambas experiências históricas estruturantes da modernidade ocidental (HALL,
2003; GILROY, 2001; PEREIRA, 2013, SANTOS, 2019).
Vamos nos despedindo deixando apenas a ponta do iceberg do que os próximos
passos de análises de fontes, consultas bibliográficas e diálogo com os pares ainda
prometem. Assim, a proposta do estudo é encontrar confluências e afastamentos das
experiências desses homens e mulheres, negros em sua maioria, muitos dos quais foram
personagens importantes na consolidação do que se tornou o mundo do samba e do
universo religioso afroameríndio no Brasil do Pós-Abolição. Desta forma, pretende-se
investigar e construir uma história dos sambistas e umbandistas afastando-se dos

27
Apud SANTOS, 2019, p. 116.
28
A Manhã publicado em 10 de dezembro de 1950; A Manhã publicado em 11 de agosto de 1951; A Manhã
publicado em 22 de agosto de 1951; Tribuna Popular publicado em 24 de Janeiro de 1947 (Hemeroteca da
Biblioteca Nacional).
29
Em Minas Gerais, Tata Tancredo foi uma das pessoas que esteve presente no processo de elaboração e
luta para a realização da Festa de Preto Velho em Belo Horizonte. Não viu em vida a inauguração dos
festejos, porém, alguns de seus filhos de santo estavam entre os primeiros organizadores como Tata Wamy
Guimarães e Sônia Vilela. O mais antigo festejo afro-religioso realizada nas ruas da capital foi a Festa de
Iemanjá, celebrado pela primeira vez em 1958 sob a coordenação da Federação Espírita Umbandista de
Minas Gerais (FEUMG) fundada em 1956 – foi reconhecido como patrimônio imaterial do município em
2009. A federação em questão fazia parte da rede de Tancredo da Silva (FRANÇA; SILVA, 2019).
parâmetros e vícios da ideologia da democracia racial e do discurso do samba e da
umbanda como exemplos culturais e religiosos do mito da mestiçagem das três raças,
construídos socialmente e enraizados até hoje no imaginário nacional brasileiro.
Percorreremos episódios da vida desse homem de muitas histórias, memórias e
movimentações buscando colocá-lo em seu tempo e espaço, afinal, este é o ofício do
historiador: humanizar (MUNANGA, 1999; GUIMARÃES, 2003; AMORIM, 2013).

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