Você está na página 1de 7

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS


CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

Participação e Representação Política na Democracia Brasileira

João Pedro Vieira Bites Leão


Maria das Dores Miquelino Silva
Rosa Maria

Goiânia
2023

Resumo
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

A principal pretensão para este trabalho será refletir um Brasil que tenha participação
política, representação efetiva possibilitando uma democracia realmente democrática, pondo
em importância a necessidade de superar as distinções e desigualdades materiais existentes,
perpetuados pelo nosso sistema político que é historicamente elitista, onde grupos dominantes
utilizam de diversos instrumentos, políticos e econômicos, para se manterem dominantes. Não
à toa que para tal pretensão será necessário a utilização das ferramentas teóricas da ciência
política, além do cuidado na observação empírica do Brasil recente. Buscando então uma
reflexão da democracia que temos, se nela há participação política da sociedade civil e se há
representação efetiva pelos políticos às vontades coletivas.
Para isso tentará se observar a realidade empírica da política brasileira, tentando ao
final pensar a teoria da ação comunicativa de Habermas. Também utilizando da análise de
Urbinati (2005) sobre Representação Democrática, pensar a representação política no Brasil e
conferir se é eficaz a ponto de contribuir para uma Democracia Deliberativa para a realidade
brasileira. Para situar a realidade brasileira usaremos as análises de Andressa Costa e Ana
Júlia Bernardi (2018) sobre a crise da representação política no Brasil, e das análises de Speck
e Peixoto (2022) sobre a participação eleitoral dos brasileiros nas últimas décadas.

Representação e Participação Política


A participação democrática na política possui diversos pontos de observação. É
necessário entender suas variações, bem como suas diferenças e semelhanças. Em sua obra,
Nadia Urbinati (2005) traz algumas reflexões acerca das representações democráticas e a
partir de suas observações é possível trazer esse ensaio.
É importante destacar que a democracia representativa consiste na participação do
cidadão de maneira indireta, isto é, escolhendo representantes que tomarão as decisões
políticas. Urbinati diz que a democracia representativa é um meio da democracia se recriar e
evoluir. Com a implementação do governo representativo duas escolas surgiram a fim de
estabelecer seus ideais e pensamentos. A primeira escola defende uma ótica a partir da junção
de padrões elitistas com as instituições políticas, baseada na divisão do trabalho em
colaboração com uma funcional seleção. Já a segunda escola as ideias estão pautadas
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

diretamente na democracia e tinha como interesse evitar a centralização do poder em


instituições estatais, bem como a regulação partir das opiniões e sentimentos populares. Ou
seja, esse grupo vê as eleições como uma forma de expressar o direito ao voto e a
participação, de alguma forma, na elaboração e execução das leis. Independente da escola
seguida, concorda-se que a democracia representativa estabelece o fim da famosa política de
sim ou não.
A instauração da democracia através das eleições trouxe atualizações para os meios
políticos, uma vez que houve um divisor de águas entre o Estado e a comunidade, isto é, a
relação entre sociedade e Estado deixa de ser apenas simbólica e passam a trabalhar quase que
a nível de simbiose. Essa mudança teve como resultado uma representação que não pode ser
tratada apenas como um contrato e muito menos como nomeações que agiriam na falta de um
legislador maior.
Ao observamos a trajetória dos governos representativos temos o surgimento de três
teorias da representação. Todas elas podem e devem ser usadas a fim de trazer uma definição
para democracia seja ela direta, eleitoral ou representativa, foram nomeadas como três visões
que fazem jus respectivamente: jurídica, institucional e política.
A teoria jurídica foi a primeira a surgir, a partir da sua criação foi possível elaborar o
modelo para a institucional. É baseada em um contrato privado de comissão, ou seja, autoriza
que alguém tome atitudes e exerça ações por outros. Muitos autores trabalharam em cima
dessa teoria, de modo que foi possível criar uma dualidade entre elas, com disparidade entres
pólos. O primeiro lado vem da delegação que defendida por Rousseau, enquanto o outro vem
da alienação por Hobbes. De maneira geral, o modelo jurídico nada mais é do que uma
relação entre o representante e o representado e tem como objetivo garantir o Estado de
Direito. Em seguida tem-se a teoria institucional que muito se assemelha a jurídica, visto que
foi consolidada tendo a jurídica como referência. Nessa teoria há uma forte relação entre a
permissão concedida pelo eleitor a um político visto como profissional.
A terceira teoria não seguiu os outros dois modelos, traz com ela a criação de um novo
modelo dinâmico. Dessa forma, a democracia deve se recriar constantemente, com processos
políticos baseado na dinamicidade. É uma teoria que reflete a evolução e mudança da
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

sociedade com o passar do tempo, rompendo padrões anteriormente seguidos. Assim,


entende-se que a relação entre a sociedade e o Estado não é apenas necessária e inevitável,
mas sim essencial.

Democracia e eleições
Com o passar do tempo foi possível observar da maneira clara que as eleições não
garantem que a sociedade terá sorte na escolha de bons políticos, bem como não existe
alguém que já tenha uma predisposição natural para ser um representante político. Ademais, a
eleição tem como função, além de escolher os legisladores, evitar guerras civis por opiniões e
vontades diferentes. Em decorrência disso, é notório que a eleição serve para dar poder a um
grupo seleto escolhido por uma maioria democrática e que a partir do momento que esses
governantes assumem suas escolhas não mais refletem inteiramente os interesses daqueles que
os elegeram. Assim, a sociedade abre mão da sua responsabilidade na tomada das decisões e
os governantes atuam de acordo com o que julgarem ideal para a comunidade. Em paralelo a
isso, quando esse político se afasta muito de sua proposta inicial e deixa de representar o povo
tem-se o chamado despotismo indireto.
O sistema democrático representativo é muito valorizado uma vez que permite e
valoriza as participações e as tendências ideológicas, de modo que a democracia direta não
faz. Além disso, é importante por assegurar a manutenção da estabilidade política.
Consoante a democracia representativa, é imperioso destacar a importância dela como
meio de transmissão e tradução dos anseios sociais para o viés político, inclusive com a
representação de grupos e identidades, assim formando e fortificando os partidos políticos.
Por outro lado, por mais que um determinado partido defenda pontos concernentes à pautas
específicas, ele não deixa de defender os interesses dos outros cidadãos que por vezes não
partilham dessa visão, sendo essa uma das principais características valorizadas dentro desse
modelo de governo.

Crise na participação e representação política


UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

O Brasil vive um momento turbulento da democracia, com ameaças as instituições e a


própria democracia. A ascensão do neoliberalismo e neofascismo, revestidos de bolsonarismo,
vêm abalando a construção de políticas públicas que vinham para minimizar as desigualdades
e preconceitos historicamente constatados na realidade brasileira.
Partindo da análise de Andressa Costa e Ana Julia Bernardi (2018) pesquisando o grau
de participação política no Brasil recente – 2014, 2015 e 2016 – podemos perceber que há
uma alta taxa de descrença do povo sobre a política, tanto nas instituições, nos nomes e
partidos políticos. A legitimidade necessária para que possa ter uma democracia harmoniosa e
funcional fica em carência na medida em que essa descrença cresce.

“A crise de credibilidade do sistema político é baseada em uma ampla competição


entre os partidos políticos, na qual o sistema de partidos perdeu a confiança pública, devido a
fatores como a sua captura pela mídia, a personalização de líderes, a manipulação, escândalos
políticos, entre outros. Assim, as expressões dos cidadãos e a opinião pública apresentam um
crescente desafeto pelos políticos e partidos” (BERNADI e COSTA, 2018, p. 159)

Fica claro também a importância da mídia na construção de uma sociedade civil de


cultura antipolítica, que seguem sendo influenciadas com a ideologia neoliberal, tentando ao
máximo individualizar as pessoas no campo econômico, social e cultural. Essa
individualização de todos os campos da vida pessoal, aumentam a falta de participação
política efetiva minando o sistema representativo o qual precariza o meio de transmissão e
tradução dos anseios sociais para o viés político, inclusive com a representação de grupos e
identidades.

Participação eleitoral no Brasil e Democracia


É tendo em vista novamente a importância da participação política efetiva da
população em massa, com um combate forte a ideia antipolítica, que podemos imaginar uma
democracia harmoniosa no Brasil. Para tal, não há como fugir das velhas eleições. O voto,
individual, periódico, consciente, é de extrema importância.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

“As taxas de participação eleitoral contribuem para legitimar os representantes eleitos,


ao mesmo tempo que determinam quem tem voz nas instâncias representativas. A mobilização
dos eleitores para participar da decisão nas urnas é lida como sinal de vitalidade da
democracia” (PEIXOTO e SPECK, 2022, p. 1)

Interessante dos estudos sobre a participação eleitoral no Brasil monstra que as


eleições locais, de município, tendem a ter maior participação. O tamanho da cidade também
interfere na votação. De maneira que vemos a descrença voltada principalmente aos grandes
(velhos) nomes da política, além da força midiática na participação. Quanto menor a cidade,
maior participação, ficando assim cada vez mais voltado a importância da mídia na decisão
das pessoas na política, principalmente em implantar a ideologia individualista e antipolítica.
Tendo de plano de fundo as reflexões sobre a representação política, a participação e a
realidade brasileira, a teoria da ação comunicativa de Habermas tende a ser algo chamativo a
pensar para a reversão do quadro brasileiro. Sonhando com um Brasil de democracia
harmoniosa, legitimada e representativa, deve se combater então a ideologia individualista, a
antipolítica, o neoliberalismo e neofascismo.

Habermas (1991) defende a democracia que:


“[...] apoia-se precisamente nas condições de comunicação sob as quais o processo
político pode ter a seu favor a presunção de gerar resultados racionais, porque nele o modo e o
estilo da política deliberativa realizam-se em toda sua amplitude.” (HABERMAS, 1991, p.45)

Não é outra coisa se não uma forte mobilização de comunicação, de comunicação


política, de conscientização, até de utilizar políticas que direcionem a mídia num intuito
positivo de motivar a politização, e não a polarização e antipolítica. Um refortalecimento dos
partidos políticos, possibilitando a real representação dos grupos culturais, econômicos e
sociais. Participação eleitoral tanto a nível municipal, estadual e federal, para dar legitimidade
aos governos, às instituições, a democracia e ao Brasil. Para então pensarmos um Brasil com
Participação e Representação efetiva e uma Democracia forte e harmoniosa.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

Referências bibliográficas

URBINATI, Nadia. O que torna a representação democrática? Lua Nova. São Paulo,
2006.
HABERMAS, Jurgen. Três modelos normativos de democracia. Lua Nova, N°36,
1995.
COSTA, Andressa Liegi Vieira. BERNARDI, Ana Julia Bonzanini. CRISE DE
REPRESENTAÇÃO E CULTURA POLÍTICA NO BRASIL: COMO PARTICIPAM OS
BRASILEIROS? Rev. Cadernos de Campo, Araraquara, n. 25, p. 157-179, jul./dez. 2018.
SPECK, Bruno Wilhelm. PEIXOTO, Vitor de Moraes. Participação eleitoral nas
disputas nacionais, estaduais e municipais no Brasil (1998-2020). Revista Brasileira de
Ciência Política, nº 39, p. 1-42, 2022.

Você também pode gostar