Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SALVADOR, BAHIA.
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
A CULTURA POLÍTICA DOS VEREADORES DA CIDADE DE
SALVADOR, BAHIA.
RESUMO: Este trabalho teve como objetivo estudar a cultura política dos vereadores
do poder legislativo de Salvador entre membros da décima quinta e décima sexta
legislatura. Para tal utilizamos como fonte e técnicas de pesquisa entrevistas
semiestruturada aplicada a vinte e edis vereadores com vista a compreender os seus
valores, dando ênfase à concepção de democracia atribuía por eles e as especificidades
dos partidos pertencentes à díade direita-esquerda. Também buscou-se compreender as
atitudes e os valores estabelecidos na relação entre representantes e representados, a
partir da ótica dos primeiros. Resultados apontam diferenças quanto aos valores em
relação a esses espectros, como também diferenças na concepção de democracia, uma
fraca adesão aos princípios democráticos, como a existência de valores autoritários em
determinado grupo entrevistados.
INTRODUÇÃO
Para além das instituições, que funcionam bem segundo as análises, a democracia
brasileira enfrenta difíceis dilemas. Dentre estes, a carência de legitimidade é um
aspecto ressaltado por Moisés (2008) em recente estudo. Segundo o autor, as pesquisas
1
Universidade Federal da Bahia, mariana.isozaki@gmail.com, mestranda
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
do Latinobarômetro apontam que grande parte da população brasileira almeja por uma
democracia suas características fundamentais, o legislativo e os partidos. Apesar de
aderir aos valores democráticos, a população brasileira não está satisfeita com o
funcionamento das intuições democráticas.
Esse artigo se insere dentro dessas inquietações. Acreditamos que essa falta de
legitimidade da democracia brasileira, que também é fruto da das esperanças frustradas
que foram imputadas ao regime em sua instauração, relaciona-se com déficits da
representação política formal. A representação política é um mecanismo característico
da democracia moderna, apesar do seu nascimento não coincidir com a mesma. Com a
expansão do sufrágio ela passou a ser vista como depositário da soberania popular.
Porém, a sua situação nas democracias contemporâneas se encontra submersa em um
contexto que anuncia a existência de déficits na representação formal. As evidências
(diminuição do número de votantes, desconfiança da população em relação às
instituições representativas) apontam para um caminho descontinuado entre
representantes e representados.
Para Baquero (2001) a literatura sobre déficits da representação tem se afastado das
causas reais do problema ao dar um enfoque à participação como panaceia. Dessa
forma, ele enfatiza a necessidade de atentar para a representação em si mesma,
observando a influência das condicionantes históricos-sociais. Segundo o autor as
relações sociais de caráter paternalista, personalista e clientelista foram reforçadas ao
longo da história brasileira, e se constituem como um forte empecilho para a
consolidação democrática e um fator de relevância para acentuar traços autoritários na
cultura política. Compreender quais os valores dos nossos representantes sobre a
democracia e sobre o relacionamento com seus representados pode dizer-nos bastante
sobre como estado e sociedade interligam-se. O universo valorativo desses atores
políticos significativos pode iluminar caminhos para a compreensão dos dilemas da
democracia brasileira.
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
tornando o elo entre ambos mais visível. Ao contrário dos deputados federais e
estaduais que dividem sua base ao longo de um território mais amplo, o vareador, além
de mais acessível, vivencia as atividades cotidianas no mesmo espaço que seus eleitores.
Assim, esse artigo tem como objetivo compreender as concepções sobre a democracia
presente no universo valorativo desses vereadores e bem como observar qual a natureza
dos valores e atitudes presentes na percepção dos edis sobre a relação entre
representantes e representados.
Contudo, na década de 60, é com a obra The Civic Culture de Almond e Verba
(1963), que a cultura política é trazida para o centro da análise da democracia,
assumindo um caráter determinístico, em que a variável cultural é tomada como
independente. Porém, é nesse trabalho pioneiro, que pela primeira vez o conceito de
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
cultura política é delimitado, referindo-se “às orientações especificamente políticas, às
atitudes com respeito ao sistema político, suas diversas partes e o papel dos cidadãos na
vida pública”, conceito clássico com o qual nos baseamos nesse trabalho. Através de um
estudo comparativo entre os Estados Unidos, México, Inglaterra, Alemanha e Itália,
Almond e Verba (1963) notaram nos países que mais se aproximavam de uma cultura
cívica – padrão político-cultural que combina uma cultura pluralista de caráter
moderado, no qual as mudanças ocorrem de modo gradual, mesclando participação (na
escolha dos governantes), com aceitação e consentimento das massas em relação às
autoridades – as democracias se mostravam mais estáveis. Dessa forma, Almond e
Verba (1963) analisam a relação entre cultura e estrutura política, apontando para o
aspecto cognitivo como pilar da democracia.
Entretanto, a complexa relação entre cultura e estrutura política tem sido tratada
pelos cientistas políticos de forma irreconciliável, em que o foco ora recaí somente
sobre a dimensão valorativa, ora apenas na dimensão institucional. Almond e Verba
(1963) foram alvos de duras críticas ao afirmarem a relação de causalidade entre cultura
política e estabilidade democrática, o que tornaria impossível a democracia para países
com legado autoritário. Não obstante, a experiência histórica da ex-Alemanha Federal
que apesar do passado nazi-fascista conseguiu, a partir de mudanças na estrutura
política, tornar a democracia possível e exitosa, gerando mudanças nos padrões culturais
dos cidadãos alemães, mostrou que, a estrutura política também exerce forte influência
na cultura política. Porém, as experiências de democratização nos países latino-
americanos e comunistas também são evidências importantes para o peso da dimensão
cultural, em que a ausência de valores democráticos se reflete no funcionamento e
organização das instituições democráticas. O que se torna patente, a partir de tais fatos,
é que a dualidade trazida por diversos autores, em que uma dimensão se sobrepõe a
outra, apenas obscurece a complexa relação de mútua determinação entre as variáveis
institucionais e valorativas, no qual se perdem as particularidades culturais e contextos
onde as instituições assumem sua forma e operam. Entendemos que a democracia não é
um pacote de procedimentos e regras disponíveis, e sim “uma resposta a certos desafios
e possibilidades históricas. Não é, pois, um processo construído a priori, mas ‘vivido’ à
luz de circunstâncias estruturais e valorativas de cada sociedade” (Massemberg, 2006).
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
Assim, seguindo essa linha argumentativa, Regina Laisner (2000), através de
uma revisão na literatura, reitera a necessidade de uma teoria democrática mais
balanceada. Desta forma, a autora recupera os elementos que sustentam uma
democracia, sendo que o primeiro deles, encarnado pela teoria da modernização, são os
fatores econômicos, que através do desenvolvimento, distribuição de renda, acesso da
população à educação e aos bens públicos, aumenta a probabilidade de manutenção da
democracia. O segundo fator, trazido pela tradição da cultura política, são os valores e
crenças, no qual a estabilidade e legitimidade democrática estão estreitamente ligados.
O terceiro fator são as regras, e procedimentos, trazidos pela teoria institucional, que
afirma que as variáveis institucionais são fundamentais já que torna a democracia
factível, em que por meio das instituições os conflitos, interesses, lutas políticas serão
processadas. Desta forma, Laisner (2000) mostra que cada teoria traz uma variável
importante da democracia, afirmando que a compreensão da democracia só será
completa se todos forem levados em consideração, atribuindo às dimensões
econômicas, institucionais e valorativas o mesmo grau de importância.
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
CONCEPÇÕES DE DEMOCRACIA
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
comum não sabe decidir, pois só consegue compreender o que está diretamente ligado a
sua realidade pessoal. Além disso, tal autor afirma que a “vontade” na verdade é
fabricada, apontando para a influência dos meios de comunicação de massa.
Contudo, não vamos nos ater apenas a contribuição desses teóricos, pois, como
afirma Castagnolla (1986), a participação, com a complexificação das sociedades, se
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
refere a uma infinidade de interações. Dessa forma, iremos trazer alguns outros
elementos importantes no que tange a participação. A exemplo de Habermas (1995) que
ao propor o modelo deliberativo de democracia traz uma contribuição importante para a
temática da participação e para teoria democrática, enfatizando o poder gerado
comunicativamente através de um espaço público, vigoroso e autônomo que é por
excelência espaço da sociedade civil. Dessa forma, em seu trabalho, o autor mostra a
essencialidade da comunicação em uma sociedade democrática, o recolocando-a na
sociedade civil, não somente na sociedade política, sendo esse poder dialógico a fonte
geradora da soberania popular, da autodeterminação dos indivíduos.
Contudo, uma crítica pertinente é feita por Chantal Mouffe (2005) ao afirmar
que Habermas dá bastante ênfase em um consenso alcançado por via da razão dialógica.
A autora sustenta que o poder é constituído por relações sociais que carrega consigo
uma dimensão antagônica e irreconciliável. Mouffe (1995) distingue o “político”, que
se refere ao antagonismo inerente a natureza humana, e a “política” se refere às
instituições e práticas em que se organizam a coexistência humana e o “político”.
Segundo a autora, a forma como se trata o “político” é o que diferencia a democracia.
Nela, o antagonismo, que se caracteriza pela relação amigo-inimigo, é recolocado em
termos de agonismo, em que a relação nós-eles é vista como a de adversários.
Diferentemente do inimigo, que é visto como alguém que tem que ser destruído, na
relação agonista o adversário é visto como um inimigo legítimo, alguém em que se
partilha de princípios e valores comuns, referentes à democracia liberal. O que entra em
embate são posições em relação à implementação dos princípios, e não o “outro”.
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
ampliação de espaços participativos, o antagonismo, as diferenças, e a importância dos
movimentos sociais e da sociedade civil organizada.
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
marcado por um laço pessoal de solidariedade entre agentes desiguais, em que o cliente
estava um passo da penúria e miséria, e o patron que é o ator que tem contato com o
mundo exterior, é possuidor de acessos a recursos dos quais depende os clientes. Para
compreender como ocorre essa relação, Nunes traz o conceito de troca generalizada,
mostrando que a relação clientelista se baseia em uma rede em que as trocas são feitas
com base numa relação anterior, que inclui a expectativa futura de troca, em que a troca
e o que se troca vincula-se a condição do grupo. A família é a unidade básica para
compreender a relação clientelista, que se baseia em um vínculo pessoal. Essa
gramática, de acordo com o autor, está enraizada na sociedade brasileira, e apesar da
industrialização, convive com uma sociedade que tem se tornado cada vez mais
moderna. Essa capilaridade do clientelismo ocorre segundo Edson Nunes, devido a
centralidade da instituição familiar na sociedade brasileira, que impregnou de
personalismo as diversas instituições, a qual não está fadada a acabar, pois apesar das
tentativas de sobrepô-la com o universalismo de procedimentos e o insulamento
burocrático, ela convive com todas as gramáticas e corta transversalmente a sociedade
brasileira. Portanto, caracterizamos por clientelismo a relação entre estado e sociedade
baseada na de apoio politico e lealdades por benefícios e incentivos materiais ou
simbólicos, de caráter particularista. Como afirma D’Ávila (2010),
A PESQUISA
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
A coleta de dados desse trabalho ocorreu entre de julho de 2008 à julho de 2010,
período em que esta aluna participou como voluntária e posteriormente como bolsista
do Programa PIBIC. Para realizarmos o nosso estudo,utilizamos a observação intensiva,
que segundo Durverger (1981), se caracteriza por dirigir-se a pequenos grupos, ou
indivíduos, com fins a um maior aprofundamento do tema proposto. Dentro dessa forma
de observação, utilizamos como técnica de coleta de dados a entrevista de opinião, que
segundo o autor, busca compreender opiniões e atitudes das pessoas interrogadas. A
presente pesquisa está baseada em uma entrevista semiestruturada que buscou
aprofundar sobre questões relacionadas à democracia, representação e relacionamento
com seus eleitores.
PRÉ-REQUISITOS DA DEMOCRACIA
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
aspectos levantados pelos vereadores em três categorias: procedimental, participativa,
substantiva e outros. Compondo a concepção procedimental estão caracteres
relacionados à liberdade, eleições, instituições, competição entre grupos, direitos.
Quando a concepção participativa, ressaltamos aspectos ligados à democratização e
participação da sociedade em diversos âmbitos, seja no campo do diálogo, do debate,
através das interfaces entre Estado e sociedade. Por fim, a concepção substantiva de
democracia está embasada em questões relacionada à redistribuição, igualdade de
oportunidades, acesso a bens fundamentais, justiça, inclusão, igualdade. Segue abaixo o
quadro de respostas:
QUADRO 01
Procedimental Participativa Substantiva Outros
V1 (PT) Liberdades
V2 (PT) Instituições Democratização Acesso a emprego
funcionando, dos meios de e renda
respeito às comunicação
Instituições.
V3 (PT) Liberdade Diálogo,
discussão
V4 (PT) Participação
V5 (PT) Liberdade Diálogo
V6 (PT) Instituições Bem-estar do povo,
funcionando, igualdade de
liberdades oportunidades
V7(PC do B) Liberdades Participação Acesso a bens e
serviços
fundamentais,
diminuir
desigualdade
V8 (PC do B) Não respondeu a questão – falta de tempo
V9 (PMDB) Liberdade e Igualdade em
igualdade jurídica direitos sociais
V10 (PMDB) Direito de ir e vir Acesso a serviços
(Liberdade fundamentais –
negativa), respeito à saúde, trabalho e
propriedade educação
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
V11 (PDT) Direitos iguais Oportunidade para
todos
V12 (PSC) Livre arbítrio –
liberdade
V13 (PTB) Cidadania – saber
seus direitos e
deveres
V14 (PRB) Democrata é “Na Democracia
aquele que sabe tem que respeitar e
ouvir ter hierarquia”,
“tem que saber
quem é que
manda”
V15 (PMN) Saúde e segurança
V16 (DEM) Desprendimento de
interesses próprios
– parlamentares
aderirem a voz do
povo
V17 (PSDB) Educação
V18 (PPS) Instituições
funcionando
V19 (PR) Administrar a Disciplina – “eu
diferença, respeitar acho que a gente
oposição deveria mesclar um
pouco de
democracia com
um pouco de
disciplina”
V20 (PR) “O povo como
prioridade”
V21 (PSDB) Liberdade Participação Igualdade social
V22 (PTC) Discutir, debater
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
forma, fica evidente, como presente na fala do vereador V1 (PT): “Fundamentalmente, a
democracia é a liberdade, liberdade de expressão, liberdade de pensamento, liberdade
religiosa, liberdade de comunicação, liberdade de circulação, isso é democracia.”
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
Apesar de constituir um número pequeno, acredito que a respostas de dois
vereadores são dignos de ressalva. Sabemos que, ao longo de sua história, temos dois
valores norteadores tanto da teorização e prática da democracia, motivos de luta e
reivindicação, que é a igualdade e liberdade. Esses dois princípios são constitutivos
desse sistema, e orientam as suas instituições, leis, pois, como afirma Bobbio (2003), a
referência a valores está presentes na escolha de determinados procedimentos em vez de
outros, a exemplo do sufrágio universal, inspirado no ideal da igualdade. Então, ao
questionar os vereadores sobre quais seriam os pré-requisitos de um sistema
democrático, dois vereadores responderam valores que orientam sistemas autoritários:
a disciplina e hierarquia, valores opostos, aos que deram origem ao sistema
democrático, liberdade e igualdade.
BANDEIRAS
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
QUADRO 08 – BANDEIRAS DO MANDATO
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
V9 (PMDB) Desenvolvimento da cidade,
inclusão, que as pessoas
tenham “uma vida digna”,
saúde, esporte
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
ambiente e defesa dos
animais
V22 (PTC) Esporte
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
DEMANDAS ATENDIDAS
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
V3 (PT) Categorias profissionais
(legislação específica)
V6 (PT) Demanda de
infraestrutura das
comunidades
carentes
V7(PC do B) Demandas de
infraestrutura
feitas por
lideranças para a
comunidade
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
possui uma clinica
médica
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
focando a questão
individual particular
de cada eleitor.”
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
Dentre as demandas paroquiais está presente a demanda por infraestrutura em
diversos bairros, em que são solicitadas para os vereadores iluminação pública,
asfaltamento, construção de encostas, escadarias, etc. Os vereadores agem
encaminhando requerimentos que serão atendidos ou não dependendo do parecer do
prefeito. Citaram demandas paroquiais dez vereadores (V1, V4, V5, V6, V7, V8, V9,
V12, V18, V19, V20). Desses dez vereadores seis são do espectro político ideológico da
esquerda, e é interessante ressaltar que, apesar de atuarem mandando requerimentos, a
maior parte deles enfatizam que esses são pedidos difíceis de serem aceitos por esses
atores fazerem parte da oposição ao prefeito, como explana a vereadora V7:
Quanto ao atendimento de segmentos específicos, oito (V2, V3, V4, V5, V10,
V12, V16, V19), dos vinte e um vereadores, sendo quatro pertencentes a esquerda, o
que evidencia uma maior proximidade com segmentos organizados. Os quatro
vereadores restantes tem um vínculo maior com a igreja, pertencentes a segmentos
religiosos e suas organizações.
[...] obviamente que a gente procura privilegiar aquelas ações coletivas já que
o papel do vereador é fiscalizar os atos do executivo, participar da elaboração
do orçamento público, leis que possam estar beneficiando a cidade. [...]Todo
tipo de demanda que aparece no mandato a gente tenta encaminhar, algumas
a gente consegue ter sucesso outras não conseguem ter sucesso, mas, assim, o
centro da nossa intervenção é mostrar para o cidadão, para a cidadã, que a
atuação parlamentar não substitui a necessidade da organização, da
mobilização em grupo para ter acesso às reivindicações. (V2)
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
O que vai determinar um pouco isso ai é a pressão popular da comunidade. É
por isso que nós pautamos esse debate, a gente trabalha muito essa questão da
participação e do empoderamento, e a cidade, no caso, nós como somos PT,
PCdoB, aqui nós somos oposição ao governo. Então, ainda é mais difícil
ainda. [...]Aparece muita demanda individual. Tem essa cultura também, que
muitos dos políticos tem isso de atender o favorzinho, o bilhetinho, o exame
médico, do emprego, do carnaval, a vaga pra você trabalhar, então essa é uma
cultura que já vem anos e anos aqui, [...] o que nós lutamos, o que nós, ao
longo desse percurso lutamos, tanto ao nível, nas três esferas do governo é o
que, que tenha, a regulação de fato funcione pra que qualquer cidadão que
tenha direito à saúde vá lá e tenha seu acesso e não precise de um médico que
é vereador... (V4)
Quanto às demandas universalistas, ela foi citada apenas por um vereador (V1),
apesar de essa bandeira ter aparecido na entrevista de nove vereadores. Apesar de fora
das categorizações, ressaltamos a demanda por legislação em dois vereadores (V4 e
V8). Também achamos importante ressaltar que não é apenas a prática particularista
que se caracteriza como clientelismo, de acordo com Diniz (1982). Segundo a autora,
existe também o clientelismo de categorias, o qual mobiliza questões substantivas
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
ligados a interesses específicos como corporativos, religiosos, profissionais. Mesmo
referindo-se a coletividades, os objetivos clientelistas de categorias giram em torno de
questões tópicas, limitadas, específicas. Assim, a atuação da esquerda, de acordo com
essa visão, também estaria pautada pelo clientelismo, na medida em que atende
demandas paroquiais, e ao mobilizar segmentos específicos de forma clientelista.
Algumas demandas, contudo, apesar de articuladas com segmentos específicos,
expressam também o universalismo, na medida em que expressa o direito do cidadão
em exigir providencias públicas. Também vale ressaltar que apesar de atenderem
demandas paroquiais, nem todos os vereadores guiam seu mandato de forma paroquial,
ou seja, colocando-se como representante de um localidade específica.
CONCLUSÃO
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
espaço público os anseios do representado, o que aprofunda a crise da representação
política formal. Para compreender um pouco essa situação de clientelismo generalizado,
retomamos a análise de Maria do Carmo de Souza Campello (1975). Para entender essa
questão, a autora busca no estudo de Theodore Lowi as distinções sobre as arenas
decisórias. Desta maneira ela conclui que, dado a centralização decisória do executivo,
que concentram as decisões do tipo redistributiva, ao legislativo não sobra outro espaço
senão atuar na área clientelística (a política distributiva e regulatória). É através deste
tipo de política que reside sua força e fraqueza. O clientelismo se constitui em um
campo onde o legislativo procura gerar poder e se consolidar como instituição, porém,
ela não gera legitimidade por se tratar de uma política muito individualizada. A autora
mostra através dos aspectos acima citados que, o legislativo não possui de fato uma
função governativa consolidada, o qual não atua em questões cruciais para a política
nacional, resultando na sua não institucionalização, atuando de forma ineficaz no
sistema político.
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
impasse, já que o tipo de atuação verificado esvazia o espaço público e não desemboca
em mudanças estruturais, o que gera mais déficits de representação, descontentamento e
insatisfação. O Brasil tem o maior número na América Latina de ambivalentes
(indivíduos que mesclam posições autoritárias e democráticas) como aponta Moisés
(2006), além de estar entre os piores índices de satisfação com a democracia (média de
22% de 1996-20002) como mostra Zovatto (2002). Observamos, contudo, diferenças na
forma de lidar com o político (Mouffe, 2005), visto que a cultura política de membros
pertencentes ao PT e PC do B guardam diferenças, principalmente na perspectiva de
valores da democracia, que abarca um sentido mais universalista, como também uma
cultura política mais participativa, ao dirigirem sua atuação com vistas a fortalecer a
participação e a autonomia locais. Porém, longe de fazer previsões, acreditamos que a
democracia brasileira não está à beira de um colapso, mas também não tem quadro
minimamente animador.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
8. D’AVILA Filho, Paulo M.; JORGE, Vladimyr Lobardo, LIMA, Paulo Cesar G.
C. Produção Legislativa e Intermediação de Interesses na Câmara
Municipal do Rio de Janeiro. VII Encontro da ABCP, Recife, 2010, p. 2 -24
9. FRASER, Nancy. Da Redistribuição ao Reconhecimento? Dilemas da Justiça
na Era Pós-Socialista" in SOUZA, J. (org) Democracia Hoje. Brasília, ed. UNB,
2001
10. FARRANHA, A.C. . Democracia: problematizando os elementos do
conceito. ABCP, 2000.
11. GURZA LAVALLE, A. ; HOUTZAGER, P. P. ; CASTELLO, G. Democracia,
Pluralização da Representação e Sociedade Civil. Lua Nova. Revista de
Cultura e Política, v. 67, n. 67, p. 49-103, 2006.
12. HOLANDA, Sérgio Buarque de; CÂNDIDO, Antônio; MELLO, Evaldo Cabral
de. Raízes do Brasil. 26. ed. Rio de Janeiro, RJ: Companhia das Letras, 2009.
219p
13. LAISNER, Regina Claudia . Visões da democracia: o debate entre tradições e o
caminho para um novo modelo. Revista de Estudos e Pesquisas sobre as
Américas, v. 2, p. nº 2, 2008.
14. LEYDET, Dominique. Crise da representação: O modelo republicano em
questão. In: CARDOSO, Sérgio (org.) O retorno ao republicanismo: Belo
Horizonte, Editora UFMG, 2004.
15. MANIN, B. As metamorfoses do governo representativo. Revista Brasileira
de Ciências Sociais, São Paulo, n. 29, 1995, p. 5-34.
16. 10; MASSETTI, Astor; GOMEZ, Marcelo. Los movimientos sociales dices:
conversaciones con dirigentes piqueteros sobre el proyecto nacional y
Latiniaméricano. Buenos Aires: Nurva Trilce, 2009
17. MASSEMBERG, Débora. A elite parlamentar brasileira: um recorte
sociocultural. Rev. Sociol. Polit., Curitiba, vol.16, no.30, p.17-28, Jun, 2008
18. MIGUEL, Luis Felipe. Impasses da Accountability: dilemas e alternativas da
19. representação política. Revista. Brasileira de Sociologia Política, Curitiba, n.
25, nov. 2005.
20. MOISÉS, José Álvaro . Cultura Política, Instituições e Democracia: lições da
experiência brasileira. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, v. 23,
p. 11-43, 2008
21. __________________. Os Brasileiros e a Democracia. São Paulo, Editora
Ática, 1995
22. MOUFFE, Chantal. Por um modelo Agonístico de democracia. Ver.
Sioc.Polít., Curitiba, n. 25, p. 11-23, 2005
24. NUNES, Edson. A gramática política do Brasil: clientelismo e insulamento
burocrático. Rio de Janeiro; Jorge Zahar; 1997
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
25. PATMAN, Carole. Participacão e teoria democrática. Paz e terra, Rio de
Janeiro, 1992.
26. REIS, Elisa; CHEIBUB, Zairo. Valores Políticos das Elites e Consolidação
27. Democrática. Dados – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, vol. 38, n. 1,
p. 37 – 56, 1995.
28. REIS, Rosana R. Direitos humanos e a política internacional. Rev. Sociol.
Polit. Curitiba, pag. 33-42, 2006
29. SARTORI, Giovanni. A teoria da democracia revisitada. São Paulo, SP:
Ática, vol. I e II 1994.
30. SCHUMPETER, Joseph A. Capitalismo, Socialismo e Democracia Rio de
Janeiro: Editora Fundo de Cultura, 1961.
31. TOCQUEVILLE, A. de. A democracia na América. In: Federalistas.São Paulo:
Abril Cultural, pp. 185-285, Coleção Os Pensadores nº 29, 1973
32. URBINATI, Nadia. O que torna a representação democrática? Lua Nova,
São Paulo, 67, p.191-228, 2006
33. ZOVATTO, Daniel. Valores, percepciones y actitudes hacia la democracia.
Una visión comparada latinoamericana: 1996-2002. América Latina Hoy,
Salamanca, 2002.
ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.