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A CULTURA POLÍTICA DOS VEREADORES DA CIDADE DE

SALVADOR, BAHIA.

Autor (a) Mariana Alves Isozaki , UFBA – CAPES


mariana.isozaki@gmail.com

ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
A CULTURA POLÍTICA DOS VEREADORES DA CIDADE DE
SALVADOR, BAHIA.

Autora: Mariana Alves Isozaki1

RESUMO: Este trabalho teve como objetivo estudar a cultura política dos vereadores
do poder legislativo de Salvador entre membros da décima quinta e décima sexta
legislatura. Para tal utilizamos como fonte e técnicas de pesquisa entrevistas
semiestruturada aplicada a vinte e edis vereadores com vista a compreender os seus
valores, dando ênfase à concepção de democracia atribuía por eles e as especificidades
dos partidos pertencentes à díade direita-esquerda. Também buscou-se compreender as
atitudes e os valores estabelecidos na relação entre representantes e representados, a
partir da ótica dos primeiros. Resultados apontam diferenças quanto aos valores em
relação a esses espectros, como também diferenças na concepção de democracia, uma
fraca adesão aos princípios democráticos, como a existência de valores autoritários em
determinado grupo entrevistados.

PALAVRAS-CHAVE: Cultura política; Representação; Democracia

INTRODUÇÃO

A democracia, além de se referir a modelos normativos, representa um fato. Ela é um


experimento histórico concreto e complexo, que sempre gerou uma manancial
inesgotável de estudos. Em se tratando do caso brasileiro e suas nuances por conta do
seu percurso histórico, as análises precisam dar conta de peculiaridades, elementos e
questões diferenciadas. Nesse sentido, a cultura política veem se somando a esses
esforços, com o crescente número de estudos (Moises, 1995, 2008; Baquero, 2008,
2011; Massembeg, 2008) nas Ciências Sociais brasileiras.

Para além das instituições, que funcionam bem segundo as análises, a democracia
brasileira enfrenta difíceis dilemas. Dentre estes, a carência de legitimidade é um
aspecto ressaltado por Moisés (2008) em recente estudo. Segundo o autor, as pesquisas

1
Universidade Federal da Bahia, mariana.isozaki@gmail.com, mestranda

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do Latinobarômetro apontam que grande parte da população brasileira almeja por uma
democracia suas características fundamentais, o legislativo e os partidos. Apesar de
aderir aos valores democráticos, a população brasileira não está satisfeita com o
funcionamento das intuições democráticas.

Esse artigo se insere dentro dessas inquietações. Acreditamos que essa falta de
legitimidade da democracia brasileira, que também é fruto da das esperanças frustradas
que foram imputadas ao regime em sua instauração, relaciona-se com déficits da
representação política formal. A representação política é um mecanismo característico
da democracia moderna, apesar do seu nascimento não coincidir com a mesma. Com a
expansão do sufrágio ela passou a ser vista como depositário da soberania popular.
Porém, a sua situação nas democracias contemporâneas se encontra submersa em um
contexto que anuncia a existência de déficits na representação formal. As evidências
(diminuição do número de votantes, desconfiança da população em relação às
instituições representativas) apontam para um caminho descontinuado entre
representantes e representados.

Para Baquero (2001) a literatura sobre déficits da representação tem se afastado das
causas reais do problema ao dar um enfoque à participação como panaceia. Dessa
forma, ele enfatiza a necessidade de atentar para a representação em si mesma,
observando a influência das condicionantes históricos-sociais. Segundo o autor as
relações sociais de caráter paternalista, personalista e clientelista foram reforçadas ao
longo da história brasileira, e se constituem como um forte empecilho para a
consolidação democrática e um fator de relevância para acentuar traços autoritários na
cultura política. Compreender quais os valores dos nossos representantes sobre a
democracia e sobre o relacionamento com seus representados pode dizer-nos bastante
sobre como estado e sociedade interligam-se. O universo valorativo desses atores
políticos significativos pode iluminar caminhos para a compreensão dos dilemas da
democracia brasileira.

Vislumbrando esse cenário, escolhemos como objeto empírico da nossa investigação o


representante no âmbito local. Consideramos esse foco relevante diante da constatação,
em campo, da proximidade do parlamentar com a população. Por uma questão espacial
e numérica, o vereador é o representante em maior contado com o representado,

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tornando o elo entre ambos mais visível. Ao contrário dos deputados federais e
estaduais que dividem sua base ao longo de um território mais amplo, o vareador, além
de mais acessível, vivencia as atividades cotidianas no mesmo espaço que seus eleitores.

Assim, esse artigo tem como objetivo compreender as concepções sobre a democracia
presente no universo valorativo desses vereadores e bem como observar qual a natureza
dos valores e atitudes presentes na percepção dos edis sobre a relação entre
representantes e representados.

DEMOCRACIA E CULTURA POLÍTICA

A relação entre fatores culturais e regime político é um tema que se estende em


todo o pensamento social, cujas origens se encontram na teoria política clássica.
Contudo, é a partir de Tocqueville no livro “Democracia na América” (1973), ao
ampliar o olhar para as raízes sociais da democracia, que os valores, crenças e costumes
adquirem um novo status para este sistema político. Observando o avanço inexorável
rumo à igualdade de condições, a qual definia o processo de democratização,
Tocqueville (1973) analisa a experiência francesa e da Nova Inglaterra, mostrando que
nesta última, livre de impedimentos, os princípios democráticos transplantados pelos
imigrantes europeus, pôde se desenvolver livremente nos costumes e nas leis.
Tocqueville (1973) conclui, a partir da experiência democrática no novo continente, que
dificilmente podem germinar traços aristocráticos e hierarquizantes em um terreno cuja
liberdade política e tolerância com o pluralismo foram semeados. Dessa forma, com
esse trabalho seminal de caráter etnográfico que busca compreender os hábitos e valores
do povo americano em relação as suas instituições sociais e políticas, Tocqueville
(1973) recupera a cultura como uma variável importante dentro de um sistema
democrático.

Contudo, na década de 60, é com a obra The Civic Culture de Almond e Verba
(1963), que a cultura política é trazida para o centro da análise da democracia,
assumindo um caráter determinístico, em que a variável cultural é tomada como
independente. Porém, é nesse trabalho pioneiro, que pela primeira vez o conceito de

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cultura política é delimitado, referindo-se “às orientações especificamente políticas, às
atitudes com respeito ao sistema político, suas diversas partes e o papel dos cidadãos na
vida pública”, conceito clássico com o qual nos baseamos nesse trabalho. Através de um
estudo comparativo entre os Estados Unidos, México, Inglaterra, Alemanha e Itália,
Almond e Verba (1963) notaram nos países que mais se aproximavam de uma cultura
cívica – padrão político-cultural que combina uma cultura pluralista de caráter
moderado, no qual as mudanças ocorrem de modo gradual, mesclando participação (na
escolha dos governantes), com aceitação e consentimento das massas em relação às
autoridades – as democracias se mostravam mais estáveis. Dessa forma, Almond e
Verba (1963) analisam a relação entre cultura e estrutura política, apontando para o
aspecto cognitivo como pilar da democracia.

Entretanto, a complexa relação entre cultura e estrutura política tem sido tratada
pelos cientistas políticos de forma irreconciliável, em que o foco ora recaí somente
sobre a dimensão valorativa, ora apenas na dimensão institucional. Almond e Verba
(1963) foram alvos de duras críticas ao afirmarem a relação de causalidade entre cultura
política e estabilidade democrática, o que tornaria impossível a democracia para países
com legado autoritário. Não obstante, a experiência histórica da ex-Alemanha Federal
que apesar do passado nazi-fascista conseguiu, a partir de mudanças na estrutura
política, tornar a democracia possível e exitosa, gerando mudanças nos padrões culturais
dos cidadãos alemães, mostrou que, a estrutura política também exerce forte influência
na cultura política. Porém, as experiências de democratização nos países latino-
americanos e comunistas também são evidências importantes para o peso da dimensão
cultural, em que a ausência de valores democráticos se reflete no funcionamento e
organização das instituições democráticas. O que se torna patente, a partir de tais fatos,
é que a dualidade trazida por diversos autores, em que uma dimensão se sobrepõe a
outra, apenas obscurece a complexa relação de mútua determinação entre as variáveis
institucionais e valorativas, no qual se perdem as particularidades culturais e contextos
onde as instituições assumem sua forma e operam. Entendemos que a democracia não é
um pacote de procedimentos e regras disponíveis, e sim “uma resposta a certos desafios
e possibilidades históricas. Não é, pois, um processo construído a priori, mas ‘vivido’ à
luz de circunstâncias estruturais e valorativas de cada sociedade” (Massemberg, 2006).

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Assim, seguindo essa linha argumentativa, Regina Laisner (2000), através de
uma revisão na literatura, reitera a necessidade de uma teoria democrática mais
balanceada. Desta forma, a autora recupera os elementos que sustentam uma
democracia, sendo que o primeiro deles, encarnado pela teoria da modernização, são os
fatores econômicos, que através do desenvolvimento, distribuição de renda, acesso da
população à educação e aos bens públicos, aumenta a probabilidade de manutenção da
democracia. O segundo fator, trazido pela tradição da cultura política, são os valores e
crenças, no qual a estabilidade e legitimidade democrática estão estreitamente ligados.
O terceiro fator são as regras, e procedimentos, trazidos pela teoria institucional, que
afirma que as variáveis institucionais são fundamentais já que torna a democracia
factível, em que por meio das instituições os conflitos, interesses, lutas políticas serão
processadas. Desta forma, Laisner (2000) mostra que cada teoria traz uma variável
importante da democracia, afirmando que a compreensão da democracia só será
completa se todos forem levados em consideração, atribuindo às dimensões
econômicas, institucionais e valorativas o mesmo grau de importância.

Assim, diante da relação complexa entre cultura e democracia, torna-se evidente


é que o enfoque institucional, não menos importante sem o qual a democracia não é
possível, não tem dado conta dos impasses existentes da democracia brasileira. As
interpretações clássicas da cultura brasileira colocam-na como obstáculo a construção
democrática, diante de um legado autoritário e patrimonialista, resultado da formação
do estado brasileiro e de aspectos étnicos-culturais herdados das raízes ibéricas. A
sociedade é vista como um ente amorfo, incapaz de organizar-se e de transformar a
estruturas tradicionais do estado. Apesar dos diagnósticos negativos sobre essa questão,
a democracia foi implementada. Porém, apesar das instituições gozarem de estabilidade,
no qual os procedimentos democráticos se solidificam cada vez mais, grande parte da
população não está satisfeita com o funcionamento dessa democracia, carecendo de
legitimidade. Assim, a cultura política se torna importante para a compreensão do
processo democrático brasileiro, visto seu papel nas novas democracias que coloca em
questão a natureza, permanência e ampliação do regime.

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CONCEPÇÕES DE DEMOCRACIA

Em a “Teoria da Democracia Revisitada”, Sartori (1994) traz à tona a


problemática da conceituação da democracia, que vem sofrendo uma contínua perda de
sentido. Segundo o autor, a democracia adquiriu um conteúdo político positivo, o que
não implica em um consenso quanto ao seu conceito ou ascensão de um ideal comum.
Na verdade, para ele, vivemos em uma era da democracia confusa, em que os mais
distintos regimes se intitulam democráticos, e nenhuma doutrina se apresenta como
antidemocrática. O que se verifica, então, é um obscurecimento do conceito de
democracia, e uma distorção terminológica e ideológica. Dessa forma, Sartori (1994)
afirma a necessidade de se ter clareza quanto ao que é democracia, pois o “nosso
comportamento político depende da nossa ideia do que a democracia é, pode ser e deve
ser.”

Assim, retomamos alguns conceitos de democracia para compreender em qual


direção caminha o universo valorativo dos vereadores. Seguiremos os moldes propostos
por Sartori (1994), com conteúdo abordado de forma diferente, e de modo bastante
simplificado. Tal autor separa a teoria democrática em grande duas vertentes, a
competitiva, a qual daremos ênfase ao aspecto procedimental, e a participativa.
Incluiremos, contudo, a democracia substantiva, diante da sua relevância para a
democracia brasileira, em que o ambiente de escassez material põe em questão a
problemática econômica. Ela não entra apenas na pauta política, mas em inquietações
teóricas sobre o rumo e qualidade da democracia em diversos autores brasileiros
(Baquero, 2011; Moises 2006).

Para uma delimitação mínima de uma concepção procedimental da democracia,


retomamos o fundador dessa vertente, Shumpter (1961). A teoria shumpeteriana,
através de críticas ao que ele denomina “teoria clássica da democracia”, se baseia em
pressupostos pessimistas sobre a natureza humana, e se intitula uma teoria descritivista.
Shumpeter (1961) demonstra que o “bem comum” é uma ficção, e que a “vontade da
maioria” toma o ser humano a partir de um ideal que na realidade não se concretiza.
Para ele, os homens são irracionais, principalmente quando se trata de assuntos
públicos, os quais eles descem um degrau na escalada rumo à racionalidade. O homem

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comum não sabe decidir, pois só consegue compreender o que está diretamente ligado a
sua realidade pessoal. Além disso, tal autor afirma que a “vontade” na verdade é
fabricada, apontando para a influência dos meios de comunicação de massa.

A democracia, nessa concepção, deixou de ser um fim a se alcançar e um meio


para concretizar o governo do povo, para ser um método (Pateman, 1992). De acordo
com as palavras de Shumpeter (1961), a democracia é “aquele arranjo institucional para
se chegar a decisões políticas, no qual os indivíduos adquirem o poder de decidir
utilizando para isso uma luta competitiva pelo voto do povo”. O importante a reter é
que, a concepção procedimental da democracia se centra no método eleitoral, e a que a
participação política fora das eleições é tida como indesejável, uma ameaça a
governabilidade e ao próprio sistema democrático. Quanto mais democracia, mais
demandas surgiram da população, e consequentemente menos eficiente será o sistema
político para responder a tais demandas. Algumas liberdades, entretanto, são
requisitadas, como a liberdade negativa. Esta liberdade é entendida como proteção do
indivíduo em relação ao estado, a possibilidade de agir sem restrição, a qual garante
eleições relativamente livres.

Para uma conceituação da concepção democracia participativa, utilizamos como


referência o livro de Carole Pateman, “Participação e Teoria democrática”. A autora
finca seus alicerces sobre três grandes autores para definir essa vertente teórica:
Rousseau, Mill e Coleman. Segundo a autora, o aspecto distintivo dessa corrente é a
centralidade que a participação ocupa no pensamento desses três teóricos participativos.
A sua função é muito maior do que apenas proteção do indivíduo através do voto. Ela é
pensada no bojo de suas instituições como forma de promover o desenvolvimento de
qualidades e atitudes condizentes com o sistema democrático. O indivíduo é educado,
dessa forma, a aprender a democracia, se preocupar com o público por meio da
participação nas diversas esferas em que está ligado. Assim, a principal contribuição
dessa corrente, é que a participação com seu efeito educativo não pode ser pensada
apenas como um momento, ela deve ser incentivada o máximo possível, nos mais
diversos espaços, para que de fato a democracia seja consolidada.

Contudo, não vamos nos ater apenas a contribuição desses teóricos, pois, como
afirma Castagnolla (1986), a participação, com a complexificação das sociedades, se

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refere a uma infinidade de interações. Dessa forma, iremos trazer alguns outros
elementos importantes no que tange a participação. A exemplo de Habermas (1995) que
ao propor o modelo deliberativo de democracia traz uma contribuição importante para a
temática da participação e para teoria democrática, enfatizando o poder gerado
comunicativamente através de um espaço público, vigoroso e autônomo que é por
excelência espaço da sociedade civil. Dessa forma, em seu trabalho, o autor mostra a
essencialidade da comunicação em uma sociedade democrática, o recolocando-a na
sociedade civil, não somente na sociedade política, sendo esse poder dialógico a fonte
geradora da soberania popular, da autodeterminação dos indivíduos.

Contudo, uma crítica pertinente é feita por Chantal Mouffe (2005) ao afirmar
que Habermas dá bastante ênfase em um consenso alcançado por via da razão dialógica.
A autora sustenta que o poder é constituído por relações sociais que carrega consigo
uma dimensão antagônica e irreconciliável. Mouffe (1995) distingue o “político”, que
se refere ao antagonismo inerente a natureza humana, e a “política” se refere às
instituições e práticas em que se organizam a coexistência humana e o “político”.
Segundo a autora, a forma como se trata o “político” é o que diferencia a democracia.
Nela, o antagonismo, que se caracteriza pela relação amigo-inimigo, é recolocado em
termos de agonismo, em que a relação nós-eles é vista como a de adversários.
Diferentemente do inimigo, que é visto como alguém que tem que ser destruído, na
relação agonista o adversário é visto como um inimigo legítimo, alguém em que se
partilha de princípios e valores comuns, referentes à democracia liberal. O que entra em
embate são posições em relação à implementação dos princípios, e não o “outro”.

Dessa forma, trazendo o tema da participação para a sociedades


contemporâneas, não se pode deixar de levar em consideração o conflito, o antagonismo
próprio do pluralismo das sociedades complexas. Assim, Castagnolla (1986) ao tratar da
participação na contemporaneidade expõe a importância dos movimentos sociais e da
sociedade civil organizada. Segundo o autor, esses segmentos são de fundamental
importância para a revitalização da democracia, pois inovam o debate político ao
redefinir constantemente o universo do político, que o autor define como aquilo que é
público. Assim, trouxemos esses autores por trazerem elementos importantes para a
questão da participação. Além do seu caráter educativo, reafirmamos nessa concepção a

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ampliação de espaços participativos, o antagonismo, as diferenças, e a importância dos
movimentos sociais e da sociedade civil organizada.

Apesar do socialismo e da democracia nem sempre trilharem caminhos


contíguos, os igualitaristas deixaram sua contribuição através do desenvolvimento de
uma concepção de democracia centrada na democratização nas relações de produção,
trazendo também um novo conteúdo para a mesma. Assim, a ênfase na questão
econômica como parte fundamental da emancipação humana é a contribuição dos
igualitaristas para a teoria da democracia. Como afirma Bobbio (2003), é através das
críticas dos socialistas aos princípios liberais, os quais afirmavam trazer apenas uma
liberdade parcial, cujo resultado era a garantia e proteção de uma sociedade econômica
desigual, que surgem as demandas por direitos sociais, que vão transformando o Estado.

Portanto, a concepção substantiva tem uma preocupação quanto ao conteúdo da


democracia, cuja base se assenta questões materialistas, em que um pré-requisito para a
verdadeira democracia perpassa por questões de ordem econômica. Assim, abarca-se as
preocupações como distribuição de renda, bem-estar social, pleno emprego, igualdade
econômica, saúde, educação, etc. A sua atenção se dirige para uma concepção finalística
da democracia, em que o foco recaí em um governo para o povo mais do que um
governo do povo.

CLIENTELISMO E UNIVERSALISMO DE PROCEDIMENTOS

Nessa sessão, para a discussão de como se estabelece a natureza da relação entre


representantes e representados, recuperamos de Edson Nunes (1994) alguns padrões
desse relacionamento através das gramáticas políticas, que ele conceitua como padrões
culturais institucionalizados que estruturam as relações entre estado e sociedade. O
autor cita quatro gramaticas políticas: o insulamento burocrático, o universalismo de
procedimentos, o clientelismo e o corporatismo. Abordaremos o clientelismo e o
universalismo de procedimentos já que estamos trabalhando com o poder legislativo.

Recuperando a trajetória do clientelismo, Edson Nunes mostra que o conceito


esteve intrinsecamente relacionado com as relações sociais que ocorriam no campo,

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marcado por um laço pessoal de solidariedade entre agentes desiguais, em que o cliente
estava um passo da penúria e miséria, e o patron que é o ator que tem contato com o
mundo exterior, é possuidor de acessos a recursos dos quais depende os clientes. Para
compreender como ocorre essa relação, Nunes traz o conceito de troca generalizada,
mostrando que a relação clientelista se baseia em uma rede em que as trocas são feitas
com base numa relação anterior, que inclui a expectativa futura de troca, em que a troca
e o que se troca vincula-se a condição do grupo. A família é a unidade básica para
compreender a relação clientelista, que se baseia em um vínculo pessoal. Essa
gramática, de acordo com o autor, está enraizada na sociedade brasileira, e apesar da
industrialização, convive com uma sociedade que tem se tornado cada vez mais
moderna. Essa capilaridade do clientelismo ocorre segundo Edson Nunes, devido a
centralidade da instituição familiar na sociedade brasileira, que impregnou de
personalismo as diversas instituições, a qual não está fadada a acabar, pois apesar das
tentativas de sobrepô-la com o universalismo de procedimentos e o insulamento
burocrático, ela convive com todas as gramáticas e corta transversalmente a sociedade
brasileira. Portanto, caracterizamos por clientelismo a relação entre estado e sociedade
baseada na de apoio politico e lealdades por benefícios e incentivos materiais ou
simbólicos, de caráter particularista. Como afirma D’Ávila (2010),

[...] o clientelismo se apresenta como estratégia moderna de obtenção de


benefícios por parte dos atores sociais minimamente organizados e desejosos
de auferir determinados benefícios patrimoniais, materiais ou simbólicos, de
seus patronus. (pág. 18)

Por universalismo de procedimentos, recuperando Nunes, compreendemos um


padrão de relacionamento entre estado e sociedade baseados em regras, normas, que
garantem a igualdade perante a lei, instituições que regulam o domínio público,
impessoalismo, ou seja, que os benefícios e encargos públicos baseados em regras e
procedimentos gerais e universais.

A PESQUISA

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A coleta de dados desse trabalho ocorreu entre de julho de 2008 à julho de 2010,
período em que esta aluna participou como voluntária e posteriormente como bolsista
do Programa PIBIC. Para realizarmos o nosso estudo,utilizamos a observação intensiva,
que segundo Durverger (1981), se caracteriza por dirigir-se a pequenos grupos, ou
indivíduos, com fins a um maior aprofundamento do tema proposto. Dentro dessa forma
de observação, utilizamos como técnica de coleta de dados a entrevista de opinião, que
segundo o autor, busca compreender opiniões e atitudes das pessoas interrogadas. A
presente pesquisa está baseada em uma entrevista semiestruturada que buscou
aprofundar sobre questões relacionadas à democracia, representação e relacionamento
com seus eleitores.

Como resultado do trabalho de campo obtivemos entrevistas de 5 vereadores da


15ª legislatura (exercício do período de 2005-2008), sendo que dentre estes, um não se
reelegeu para a legislatura seguinte, e entrevistamos mais 17 vereadores da 16ª
legislatura (exercício do período de 2009-2012). O objetivo inicial da pesquisa era a
realização das entrevistas com o universo de vereadores da 16ª legislatura, o que
equivalia a 41 edis. Porém, devido à pouca disponibilidade dos mesmos e dificuldades
com suas respectivas agendas, alcançamos o total de 22 vereadores. Como consequência
desses fatos, a aplicação dos questionários seguiu caráter aleatório já que, ao tentarmos
realizar as entrevistas com todos os vereadores da Câmara Municipal, obtivemos êxitos
apenas com os vereadores mais interessados e menos desconfiados em relação à
pesquisa, apesar de termos veementemente frisado o caráter acadêmico da mesma. A
amostra é não representativa, e portanto, não nos é permitido generalizações.

DESCRIÇÃO DOS DADOS

PRÉ-REQUISITOS DA DEMOCRACIA

Buscamos compreender a concepção dos vereadores sobre a democracia através de uma


assertiva, a qual questionamos: “Quais são os pré-requisitos da democracia?” Assim, a
partir das respostas, de acordo com as concepções de democracias, agrupamos os

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aspectos levantados pelos vereadores em três categorias: procedimental, participativa,
substantiva e outros. Compondo a concepção procedimental estão caracteres
relacionados à liberdade, eleições, instituições, competição entre grupos, direitos.
Quando a concepção participativa, ressaltamos aspectos ligados à democratização e
participação da sociedade em diversos âmbitos, seja no campo do diálogo, do debate,
através das interfaces entre Estado e sociedade. Por fim, a concepção substantiva de
democracia está embasada em questões relacionada à redistribuição, igualdade de
oportunidades, acesso a bens fundamentais, justiça, inclusão, igualdade. Segue abaixo o
quadro de respostas:

QUADRO 01
Procedimental Participativa Substantiva Outros
V1 (PT) Liberdades
V2 (PT) Instituições Democratização Acesso a emprego
funcionando, dos meios de e renda
respeito às comunicação
Instituições.
V3 (PT) Liberdade Diálogo,
discussão
V4 (PT) Participação
V5 (PT) Liberdade Diálogo
V6 (PT) Instituições Bem-estar do povo,
funcionando, igualdade de
liberdades oportunidades
V7(PC do B) Liberdades Participação Acesso a bens e
serviços
fundamentais,
diminuir
desigualdade
V8 (PC do B) Não respondeu a questão – falta de tempo
V9 (PMDB) Liberdade e Igualdade em
igualdade jurídica direitos sociais
V10 (PMDB) Direito de ir e vir Acesso a serviços
(Liberdade fundamentais –
negativa), respeito à saúde, trabalho e
propriedade educação

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V11 (PDT) Direitos iguais Oportunidade para
todos
V12 (PSC) Livre arbítrio –
liberdade
V13 (PTB) Cidadania – saber
seus direitos e
deveres
V14 (PRB) Democrata é “Na Democracia
aquele que sabe tem que respeitar e
ouvir ter hierarquia”,
“tem que saber
quem é que
manda”
V15 (PMN) Saúde e segurança
V16 (DEM) Desprendimento de
interesses próprios
– parlamentares
aderirem a voz do
povo
V17 (PSDB) Educação
V18 (PPS) Instituições
funcionando
V19 (PR) Administrar a Disciplina – “eu
diferença, respeitar acho que a gente
oposição deveria mesclar um
pouco de
democracia com
um pouco de
disciplina”
V20 (PR) “O povo como
prioridade”
V21 (PSDB) Liberdade Participação Igualdade social
V22 (PTC) Discutir, debater

Um aspecto que chamou a atenção na fala de alguns deles foi a associação da


democracia com as liberdades. Essa resposta esteve presente em nove dos vinte e um
vereadores entrevistados, de ambos os espectros ideológicos, sendo cinco deles
pertencentes a partidos de esquerda. O vínculo entre esse sistema e a liberdade, dessa

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forma, fica evidente, como presente na fala do vereador V1 (PT): “Fundamentalmente, a
democracia é a liberdade, liberdade de expressão, liberdade de pensamento, liberdade
religiosa, liberdade de comunicação, liberdade de circulação, isso é democracia.”

A concepção procedimental, na qual o tema da “liberdade” foi inserido, é a


concepção de democracia que os vereadores que mais destacam, estando presente na
fala de quatorze dos vinte e dois vereadores entrevistados. Segue aí a concepção de
democracia substantiva, que aparece na concepção em nove vereadores. Vale ressaltar,
contudo, que dois vereadores que citam aspectos substantivos de forma pontual, como
segurança e emprego presentes na fala de um, e educação por outro, mostrando que os
aspectos socioeconômicos não foram compreendidos como uma totalidade. É
interessante ressaltar que, ao que se refere às bandeiras que guiam o mandato (quadro
que é apresentado posteriormente), a grande maioria dos vereadores remetem a algum
aspecto socioeconômico. Contudo, ao tratar-se de democracia, esse não é o aspecto que
mais aparece na fala dos vereadores. Observamos a partir daí, que a concepção dos
parlamentares está mais pautada na forma (procedimental) do que no conteúdo
(substantiva), já que eles associam a democracia à aspectos formais, apesar dos aspectos
socioeconômicos se constituírem como um fator importante, materializado na atuação
dos vereadores, visto que através das bandeiras do mandato podemos observar tanto a
ação quanto a escolha valorativa desses atores. Assim, a democracia é a forma cujo
conteúdo está em disputa. Em último lugar, aparece a concepção participativa presente
na fala de nove edis, em que dois deles coloca a participação no âmbito da escuta e não
o do diálogo, o que remete a concepção de representação espelhamento, em que se
visualiza a intensão de aderir os interesses do povo.

De acordo com o quadro, observamos também vereadores pertencentes aos


partidos PT e PC do B possui uma visão mais completa de democracia, em que cinco
dos sete membros desse espectro ideológico que responderam a questão apontam como
pré-requisito da democracia aspectos que remetem a duas ou mais concepções de
democracia. Dentre os sete, seis responderam aspectos que remetem a concepção
procedimental, cinco levantaram também questões que remetem a concepção
participativa, e três a democracia substantiva.

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Apesar de constituir um número pequeno, acredito que a respostas de dois
vereadores são dignos de ressalva. Sabemos que, ao longo de sua história, temos dois
valores norteadores tanto da teorização e prática da democracia, motivos de luta e
reivindicação, que é a igualdade e liberdade. Esses dois princípios são constitutivos
desse sistema, e orientam as suas instituições, leis, pois, como afirma Bobbio (2003), a
referência a valores está presentes na escolha de determinados procedimentos em vez de
outros, a exemplo do sufrágio universal, inspirado no ideal da igualdade. Então, ao
questionar os vereadores sobre quais seriam os pré-requisitos de um sistema
democrático, dois vereadores responderam valores que orientam sistemas autoritários:
a disciplina e hierarquia, valores opostos, aos que deram origem ao sistema
democrático, liberdade e igualdade.

BANDEIRAS

Ao questionar os vereadores sobre as bandeiras do mantado, buscamos


compreender quais valores estes parlamentares guiam para a sua atuação política. Dessa
forma, através dessa questão, tem-se em vista perceber a relação entre crenças e atitudes
desses atores. Agrupamos as respostas dos vereadores em dois grandes eixos temáticos
que se repetiram constantemente nas entrevistas dos mesmos. Por bandeiras
socioeconômicas relacionamos temas que remetem a desenvolvimento socioeconômico,
igualdade, questões que envolvem o bem-estar material dos indivíduos. Quanto ao
reconhecimento, relacionamos bandeiras que enfocam no combate a da injustiça cultural
ou simbólica, ou seja, como trazido por Frazer (1997), a injustiça arraigada nos padrões
sociais de representação, interpretação e comunicação, pautando-se na questão da
diversidade, identidade e minorias. Vale ressaltar que como afirma a autora, a injustiça
cultural ou simbólica está interligada com a injustiça socioeconômica, já que padrões de
não-reconhecimento são institucionalizadas e se refletem no âmbito econômico e
político, impossibilitando igualdade na construção cultural e participação na esfera
pública. Segue abaixo o quadro de respostas dados a essa questão:

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QUADRO 08 – BANDEIRAS DO MANDATO

Vereadores Socioeconômicas Reconhecimento Outras

V1 (PT) Resgate a cidadania – saúde, Políticas públicas paras


educação. pessoas deficientes,
homossexuais, mulheres
Desenvolver a cidade
V2 (PT) Agenda de Saneamento a questão da inclusão dos
Ambiental – universalização segmentos mais oprimidos
do abastecimento da água, da sociedade – população
do serviço de esgotamento negra;
sanitário, da coleta de lixo,
drenagem
V3 (PT) Defesas sociais: educação,
saúde e segurança.
V4 (PT) “A questão da mulher, da
questão racial, do LGBT, E
da questão também da
participação que tem esse
seguimento, e do direito à
cidade, do planejamento...”

V5 (PT) Busca a sociedade mais combater a desigualdade


igualitária, combater as negra, de mulheres negras, a
desigualdades desigualdade racial.

V6 (PT) Igualdade de direitos; Meio ambiente


GLBT, questão das
mulheres; questão racial;
alguns seguimentos (idosos,
portadores do vírus HIV,)
V7(PC do B) Saúde como um direito Deficientes físicos, Meio Ambiente
social. violência contra a mulher,
bandeira das mulheres.
V8 (PC do Democratização de Salvador Bandeira contra o racismo,
B) – democratização dos “então nós fazemos a luta
equipamentos públicos, contra o racismo e que o
saneamento básico, cultura, poder público chegue a essa
educação população”

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V9 (PMDB) Desenvolvimento da cidade,
inclusão, que as pessoas
tenham “uma vida digna”,
saúde, esporte

V10 (PMDB) Saúde, esporte, praças.


V11 (PDT) Atuação na área social de
acordo com observações da
necessidade da população.
V12 (PSC) A proximidade com as
pessoas.
V13 (PTB) Saúde; bem-estar;
Saneamento básico.
V14 (PRB) Construir um posto de saúde
– cidade baixa (jardim das
margaridas)
V15 (PMN) esporte, rodoviários,
trabalho social que faz – dia
dos pais, dia das mães. A
principal bandeira é
emprego (conseguindo
empregos) e educação.

V16 (DEM) Bandeira social Mulheres


V17 (PSDB) Eliminar a hanseníase em
Salvador; Universidade
Comunitária em Cajazeiras;
transporte público de
qualidade; educação e saúde
gratuita e eficiente.

V18 (PPS) assistência social, educação, Princípios e valores


pesca cristãos, “a defesa da
família
principalmente”,
“promoção do bem
comum”
V19 (PR) Trânsito Idosos
V20 (PR) GLBT, idosos O povo carente,
V21 (PSDB) Planejamento urbano Defesa do meio

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ambiente e defesa dos
animais
V22 (PTC) Esporte

A partir desse quadro percebemos que o tema do reconhecimento está


fortemente vinculado a setores de esquerda, em que sete dos oito vereadores desse
espectro ideológico entrevistados apontam como bandeira de seu mandato temas que se
vinculam a essa questão. Vale ressaltar que quatro dentre esses sete têm bandeiras
relacionadas a múltiplos segmentos que sofrem com a injustiça cultural ou simbólica.
Observa-se também que nesse espectro ideológico a questão do reconhecimento está
fortemente relacionada com o tema da redistribuição, em que entrevistas desses
vereadores aparece as palavras “políticas públicas para”, “inclusão”, “participação e
direito à cidade”, “combater a desigualdade”, “democratização da cidade” que remetem
a essas temáticas de forma integrada. Além dos vereadores que se situam no espectro
ideológico da esquerda, mais outros três citam segmentos que sofrem injustiça cultural e
simbólica.

Quanto ao tema socioeconômico, dezoito dos vinte e dois vereadores citam


bandeiras que se relacionam com a questão, mostrando a força que aspectos materiais
têm no mandato dos vereadores diante de um quadro socioeconômico brasileiro de
desigualdade crônica. Desses dezoito vereadores, doze citam questões econômicas de
forma segmentada, e algumas vezes de forma bastante particularista a exemplo da
bandeira citada que se refere a distribuição de empregos (V15), revitalização de praças
(V10), construção de um posto de saúde (V14). Vale ressaltar que muitos vereadores
que afirmam sua bandeira ser a saúde (V9, V10, V13 e V21) se relaciona com uma
atuação particularista de atendimento médico gratuito nas comunidades, que veremos
quando tratarmos de demandas atendidas.

Observamos bandeiras universalistas, que expressam direitos dos cidadãos


presentes nas bandeiras em nove (V1, V2, V4, V5, V6, V7, V8, V10 e V21) dos vinte e
dois vereadores entrevistados, sejam elas bandeiras de reconhecimento ou
socioeconômica. Desses nove vereadores sete são de esquerda, mostrando o vinculo
desse segmento com bandeiras mais universais.

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DEMANDAS ATENDIDAS

Identificamos os principais pleitos atendidos através da questões “Quais as


principais demandas de seu mandado e de onde elas provêm? Elas puderam ser
colocadas em prática?”, porém também buscamos ao longo das entrevistas demandas
que os vereadores não citaram mediante questionamento. Assim, o nosso intuito a partir
desse tema compreender quais são as atitudes e natureza das relações estabelecidas com
os representados. Categorizamos as demandas atendidas em quatro temáticas,
paroquiais, segmentos específicos, particularistas e universais. As demandas paroquiais
nós as relacionamos com questões ligadas às comunidades, bairros, localidades
específicas. As demandas de segmentos específicos são referentes às parcelas
organizadas da cidade; as particularistas enfocam demandas individuais dos cidadãos
difusos e as demandas universais são relativas as defesas dos direitos dos cidadãos.
Segue abaixo o quadro:

QUADRO 09 – DEMANDAS ATENDIDAS

Paroquiais Segmentos específicos Particularistas Universalistas

V1 (PT) Atendimento de Demandas da


demandas da questão da
comunidade acessibilidade,
através de da defesa da
requerimentos – cidadania
iluminação,
asfalto, posto de
saúde.

V2 (PT) Categorias profissionais


(intermediação com poder
público e políticas
publicas específicas) e
movimentos sociais que
requerem estrutura do
mandato para lutas

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V3 (PT) Categorias profissionais
(legislação específica)

V4 (PT) Demanda de Movimento de Mulheres,


infraestrutura nos movimento popular
bairros populares

V5 (PT) Demanda de Demandas por projetos de


infraestrutura segmentos organizados

V6 (PT) Demanda de
infraestrutura das
comunidades
carentes

V7(PC do B) Demandas de
infraestrutura
feitas por
lideranças para a
comunidade

V8 (PC do B) Demandas de por projetos de lei –


infraestrutura nos LGBT, Movimentos dos
bairros populares Sem-Teto, Bibliotecários,
Mulheres, movimentos
ligados a cultura

V9 (PMDB) Demandas faz atendimentos


atendidas através gratuito como médico,
de visitas ao no Hospital SOMED
bairro às quartas e sextas.

V10 (PMDB) Segmentos religiosos demanda por emprego,


demandam equipamentos, consulta médica e
“facilidades de acesso” exames, atendimento
gratuito como médico,
fez um centro
comunitário que faz
diversos atendimentos

V11 (PDT) Faz atendimento


médico gratuito,

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possui uma clinica
médica

V12 (PSC) “eu tenho um Segmentos religiosos - . Emprego


trabalho aqui com “E nós temos aqui uma
as lideranças infraestrutura, nós temos
comunitárias, que ônibus, carro de som, trio
ai abrange todos, elétrico. A igreja católica
todos, líder quer fazer uma
comunitário, manifestação, a igreja
professor, jovens evangélica quer fazer, eu
de escola de cedo... ai eu to próximo, a
bairro e tal.” comunidade está me
vendo

V13 (PTB) Faz atendimento


comunitário aos
domingos; tem uma
equipe médico a
serviço (4 ou 5
médicos) para trabalho
social.

V14 (PRB) Emprego - algumas


vezes conseguiu
empregar alguém na
área privada.

V15 (PMN) Emprego – “Desde de


1980 eu dei muito
emprego, dei mil
emprego no mínimo,
hoje eu tenho de de
600 a 700 pessoas
empregadas[...]”

V16 (DEM) Mulheres Saúde, alimentação -


“A gente vai vendo as
questões, saúde,
depois a gente olha
uma outra que é o
alimento. E as outras
por fim a gente vai
administrando, mas é a
prioridade, mas isto

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focando a questão
individual particular
de cada eleitor.”

V17 (PSDB) possui um Instituto


que dá assistência
médica gratuita e
cursos a preço de
custo.

V18 (PPS) Demandas por


infraestrutura das
comunidades

V19 (PR) Demandas dos Parceirias com igrejas - Atendimento jurí


bairros por infra- cursos de capacitação – atendimento jurídico –
estrutura “umas seis vezes eu “Temos três
mandei os profissionais advogados que não
daqui ir lá na igreja dão conta do serviço”;
católica oferecer esses cursos de capacitação
cursos – “umas seis vezes eu
mandei os
profissionais daqui ir
lá na igreja católica
oferecer esses cursos”.

V20 (PR) Afirma ajudar as


comunidades

V21 (PSDB) Faz o possível para


atender demanda de
emprego – “tenho um
cadastro aqui no meu
banco de dados e pela
relação que eu fiz eu
tenho empresários
amigos (...) eu pego
meu cadastro e
encaminho pra fazer
seleção.”

V22 (PTC) Pedidos de ordem


médica, cirurgias,
atendimento médico.

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Dentre as demandas paroquiais está presente a demanda por infraestrutura em
diversos bairros, em que são solicitadas para os vereadores iluminação pública,
asfaltamento, construção de encostas, escadarias, etc. Os vereadores agem
encaminhando requerimentos que serão atendidos ou não dependendo do parecer do
prefeito. Citaram demandas paroquiais dez vereadores (V1, V4, V5, V6, V7, V8, V9,
V12, V18, V19, V20). Desses dez vereadores seis são do espectro político ideológico da
esquerda, e é interessante ressaltar que, apesar de atuarem mandando requerimentos, a
maior parte deles enfatizam que esses são pedidos difíceis de serem aceitos por esses
atores fazerem parte da oposição ao prefeito, como explana a vereadora V7:

Há uma partidarização excessiva ao atendimento as demandas do cidadão. Se


vai através do vereador que dá suporte ao prefeito é atendido, se vai através de
um outro vereador que tem uma postura crítica, não é atendido.

Quanto ao atendimento de segmentos específicos, oito (V2, V3, V4, V5, V10,
V12, V16, V19), dos vinte e um vereadores, sendo quatro pertencentes a esquerda, o
que evidencia uma maior proximidade com segmentos organizados. Os quatro
vereadores restantes tem um vínculo maior com a igreja, pertencentes a segmentos
religiosos e suas organizações.

Em relação as demandas particularistas, observamos que dos vinte e um


vereadores, doze (V9, V10, V11, V12, V13, V14, V15, V16, V17, V19, V21, V22)
atendem demandas de caráter particularista, como atendimento médico, jurídico,
garantindo empregos. Um aspecto que merece ressalva é que os vereadores pertencentes
ao PT e PC do B político ideológico afirmam não atender demandas particularistas. Isso
é bastante presente na fala dos mesmos, que enfatizam combater esse tipo de
comportamento, atuando na tentativa de conscientização e participação da população
para que suas demandas sejam atendidas. Observamos esse aspecto nas seguintes falas:

[...] obviamente que a gente procura privilegiar aquelas ações coletivas já que
o papel do vereador é fiscalizar os atos do executivo, participar da elaboração
do orçamento público, leis que possam estar beneficiando a cidade. [...]Todo
tipo de demanda que aparece no mandato a gente tenta encaminhar, algumas
a gente consegue ter sucesso outras não conseguem ter sucesso, mas, assim, o
centro da nossa intervenção é mostrar para o cidadão, para a cidadã, que a
atuação parlamentar não substitui a necessidade da organização, da
mobilização em grupo para ter acesso às reivindicações. (V2)

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O que vai determinar um pouco isso ai é a pressão popular da comunidade. É
por isso que nós pautamos esse debate, a gente trabalha muito essa questão da
participação e do empoderamento, e a cidade, no caso, nós como somos PT,
PCdoB, aqui nós somos oposição ao governo. Então, ainda é mais difícil
ainda. [...]Aparece muita demanda individual. Tem essa cultura também, que
muitos dos políticos tem isso de atender o favorzinho, o bilhetinho, o exame
médico, do emprego, do carnaval, a vaga pra você trabalhar, então essa é uma
cultura que já vem anos e anos aqui, [...] o que nós lutamos, o que nós, ao
longo desse percurso lutamos, tanto ao nível, nas três esferas do governo é o
que, que tenha, a regulação de fato funcione pra que qualquer cidadão que
tenha direito à saúde vá lá e tenha seu acesso e não precise de um médico que
é vereador... (V4)

O grau de despolitização que a nossa sociedade tem é elevadíssimo,


precisamos trabalhar para expor essa transformação, porque o Brasil, a Bahia,
Salvador, não vai conseguir sobre hipótese alguma fazer uma transformação
grande sem fazer um processo de educação também muito amplo, porque
nosso povo ainda é muito pautado em resolver o problema individual, e não
pensar no coletivo, e essa coisa faz com que a gente tenha que dizer a alguns
“ não”, mas a gente tem que fazer o possível pra poder politizar [...] Nós
precisamos dar uma formação a nossa população pra entender que o
parlamento, o legislativo, é o caminho para poder buscar o que é melhor pra
todos, não para poder buscar e não para poder resolver problemas
individuais. (V5)

Eu discuto com eles e encaminho as demandas e sempre digo a eles, isso


depende de vocês, isso depende d pressão que vocês vierem fazer. E eu tenho
incentivado muito a organizado de muitas comunidades, eu não tenho a
caneta em minha disposição nem o diário oficial pra dizer faça e aconteça, e
isso é uma competência do poder executivo, o que eu posso fazer é
intermediar a demanda de vocês, e levo e apresento demandas como forma de
requerimento, de ofícios. Se não for atendido você tem o conhecimento, você
sabe muito bem que foi só de fazer a pressão pro poder público para que ele
venha a considerar e a atender a demanda que está posta, está colocada. [...] E
com relação às demandas individuais eu não atendo. Eu atendo as demandas
que vem através de entidades ou das associações de moradores, “ah eu quero
fazer”, primeiro que eu incentivo muito a criação de entidades, ajudo na
criação de entidades, como forma, coloco minha acessória jurídica a
disposição das entidades, das comunidades, pra que elas possam se organizar,
possam criar sua associação de moradores, possam criar seu núcleo de
mulheres... (V6)

Quanto às demandas universalistas, ela foi citada apenas por um vereador (V1),
apesar de essa bandeira ter aparecido na entrevista de nove vereadores. Apesar de fora
das categorizações, ressaltamos a demanda por legislação em dois vereadores (V4 e
V8). Também achamos importante ressaltar que não é apenas a prática particularista
que se caracteriza como clientelismo, de acordo com Diniz (1982). Segundo a autora,
existe também o clientelismo de categorias, o qual mobiliza questões substantivas

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ligados a interesses específicos como corporativos, religiosos, profissionais. Mesmo
referindo-se a coletividades, os objetivos clientelistas de categorias giram em torno de
questões tópicas, limitadas, específicas. Assim, a atuação da esquerda, de acordo com
essa visão, também estaria pautada pelo clientelismo, na medida em que atende
demandas paroquiais, e ao mobilizar segmentos específicos de forma clientelista.
Algumas demandas, contudo, apesar de articuladas com segmentos específicos,
expressam também o universalismo, na medida em que expressa o direito do cidadão
em exigir providencias públicas. Também vale ressaltar que apesar de atenderem
demandas paroquiais, nem todos os vereadores guiam seu mandato de forma paroquial,
ou seja, colocando-se como representante de um localidade específica.

CONCLUSÃO

Observamos com os dados apresentados que a esquerda dos parlamentares da


Câmara de Salvador possui uma visão mais completa de democracia ao incorporar
questões substantivas, procedimentais e participativas. Contudo, existe um predomínio
dos vereadores entrevistados, mesmo nesse segmento político-ideológico, por uma
concepção procedimental de democracia. Acreditamos que isso se deve ao fato da
democracia brasileira não ter conseguido dar respostas quanto a questões de natureza
social e econômica, que convive com altos índices de desigualdade.

Quanto a atuação e valores que guiam os mandatos, observamos uma prática


disseminada de clientelismo, que contudo tem características diferentes quanto observa-
se o espectro ideológico. A esquerda relaciona-se mais com segmentos organizados da
sociedade civil, enquanto os demais vereadores tem uma atuação mais voltada para
cidadãos difusos. Vale ressaltar que práticas clientelistas não anulam práticas
universalista, e vice-versa. Dessa forma, apesar de tentarem combater práticas
clientelistas particularistas, os vereadores de esquerda acabam por praticar clientelismo
paroquial e de categorias.

Observamos um conjunto de valores e práticas que relacionam-se com o


clientelismo e o atendimento das bases, ou seja, uma atuação que não reverbera no

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espaço público os anseios do representado, o que aprofunda a crise da representação
política formal. Para compreender um pouco essa situação de clientelismo generalizado,
retomamos a análise de Maria do Carmo de Souza Campello (1975). Para entender essa
questão, a autora busca no estudo de Theodore Lowi as distinções sobre as arenas
decisórias. Desta maneira ela conclui que, dado a centralização decisória do executivo,
que concentram as decisões do tipo redistributiva, ao legislativo não sobra outro espaço
senão atuar na área clientelística (a política distributiva e regulatória). É através deste
tipo de política que reside sua força e fraqueza. O clientelismo se constitui em um
campo onde o legislativo procura gerar poder e se consolidar como instituição, porém,
ela não gera legitimidade por se tratar de uma política muito individualizada. A autora
mostra através dos aspectos acima citados que, o legislativo não possui de fato uma
função governativa consolidada, o qual não atua em questões cruciais para a política
nacional, resultando na sua não institucionalização, atuando de forma ineficaz no
sistema político.

Vale ressaltar também que os membros do poder legislativo é trocam apoio


político em relação ao executivo para obter os recursos requeridos pela base e
necessários manutenção do poder. Nesse sentido, se torna um poder domesticado pelo
executivo, o que gera mais um impedimento para que se ecoe através dos mandatos as
demandas dos representados.

Além disso o clientelismo não é só disseminado na cultura política brasileira,


mas também foi incorporado institucionalmente, através de uma longa trajetória de
centralização decisória no Brasil. Como afirma Sergio Buarque , a sociedade brasileira é
fortemente marcada pela tradição familiar paternalista, e cultura e instituições não estão
separadas, o que mostra o contexto de escolha por determinadas instituições. Como
afirma Baquero (2001), vivemos em um ciclo vicioso da política e não virtuoso, em que
a própria população demanda práticas clientelistas, já que as demandas atendidas
implicam também em uma atitude ativa do representado em requerer ações do
representante. Vale ponderar que esse prática se justifica em um cenário de
desigualdades estruturais crônicas, principalmente em uma cidade como Salvador que
registra uma taxa bastante elevada de desemprego, baixa escolaridade, entre outros
indicadores. Observamos também poucas demandas legislativas, o que revela um

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impasse, já que o tipo de atuação verificado esvazia o espaço público e não desemboca
em mudanças estruturais, o que gera mais déficits de representação, descontentamento e
insatisfação. O Brasil tem o maior número na América Latina de ambivalentes
(indivíduos que mesclam posições autoritárias e democráticas) como aponta Moisés
(2006), além de estar entre os piores índices de satisfação com a democracia (média de
22% de 1996-20002) como mostra Zovatto (2002). Observamos, contudo, diferenças na
forma de lidar com o político (Mouffe, 2005), visto que a cultura política de membros
pertencentes ao PT e PC do B guardam diferenças, principalmente na perspectiva de
valores da democracia, que abarca um sentido mais universalista, como também uma
cultura política mais participativa, ao dirigirem sua atuação com vistas a fortalecer a
participação e a autonomia locais. Porém, longe de fazer previsões, acreditamos que a
democracia brasileira não está à beira de um colapso, mas também não tem quadro
minimamente animador.

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ISSN: 2317-6334 para a publicação online - Anais III Fórum Brasileiro de Pós-Graduação em Ciência
Política – UFPR - Curitiba 31 de julho de 2013 a 02 de agosto de 2013.
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