UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE – UERN
FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS – FAFIC
LICENCIATURA EM HISTÓRIA
COMPONENTE CURRICULAR: CIÊNCIA POLÍTICA
DISCENTES: GEOVANNA ALICE COELHO
RAFAEL PEREIRA MAIA
Avaliação II
Sendo a democracia moderna um sistema político no qual a
representação é definida pela ampla participação popular na tomada de decisões e, no qual, estabelecem-se direitos e garantias individuais e coletivas, a partir de um conjuntos de normas instituídas na Constituição, busca-se compreender os elementos que caracterizam a crise da democracia brasileira. Dessa forma, é importante determinar que esta crise é demarcada por uma série de processos pertinentes a história republicana do Brasil e que, ao longo do tempo, influenciaram a estruturação das dimensões política, econômica e social em um paradigma interligado pela noção de democracia no país.
Em um panorama temporal, é possível compreender a sensibilidade
associada à democracia no Brasil, uma vez que o período republicano é marcado por sucessivos golpes e manifestações políticas antidemocráticas. Dentre eles, são destacáveis os golpes instituídos em 1889, 1937 e 1964, os quais definiram diferentes configurações nos âmbitos político, social e econômico no Brasil. Tais fatores corroboraram no fomento de uma série de lacunas e falhas estruturais relativas as concepções de democracia referentes ao ser e sentir-se brasileiro, o que demonstra uma tênue distinção prática entre o que é proposto no texto constitucional e sua aplicação na sociedade.
Com o fim do período ditatorial instaurado em 1964, um novo horizonte
político entra em cena através do lançamento das bases do processo de redemocratização brasileira, ainda que de forma parcial. Nisso, um dos pilares fundamentais para análise dessa transição é a promulgação da Constituição de 1988, conhecida como a “constituição cidadã”, haja visto o apelo aos valores relativos a cidadania e ao acesso da população aos direitos e garantias fundamentais de uma sociedade. Segundo Weffort e o próprio ex-deputado Ulysses Guimarães, presidente da citada constituinte, pode-se determinar que o documento em questão tinha como objetivo a transformação dos brasileiros em cidadãos, pressupondo a cidadania como o exercício pleno dos direitos e deveres previstos na constituição. Entretanto, o que se percebe após a promulgação da Carta Magna é a continuação de proposições que não necessariamente contemplam os princípios democráticos, uma vez que se priorizam interesses liberais em detrimento da própria sociedade.
Consequentemente, não pretende-se esgotar aqui todos os
componentes políticos, econômicos e sociais que influenciam a crise democrática brasileira. Todavia, a partir de três vieses pode-se compreender, minimamente, quais as lacunas que as permanências históricas referentes a democracia instituíram na realidade nacional. A primeira delas diz respeito a má distribuição de renda, a qual reflete na concentração de riquezas por uma pequena parcela da população, geralmente, de nichos sociais determinados. A existência da primeira ocasiona o segundo viés pretendido a esta análise, as múltiplas desigualdades socioeconômicas, de gênero e étnico-raciais, as quais subjugam e segregam determinados atores sociais do exercício democrático. A última delas refere-se a dimensão política a qual, em função de uma polarização ideológica e de um descontrole burocrático no exercício do poder público, reflete uma determinação das crises pelas quais a democracia no Brasil passou e passa.
A exemplo dessas dimensões, pode-se citar o Golpe de 2016, da então
presidenta Dilma Rousseff, como um desses episódio que reforçam a sensibilidade e instabilidade do exercício democrático no Brasil. As consequências disso estão voltadas a uma descrença no poder público e, principalmente, na efetividade da democracia, além de proporcionar um espaço para a ascensão de práticas antidemocráticas, autoritárias e conservadoras dos políticos em exercício de mandato, a depender de sua ideologia. Dessa forma, é perceptível que as lacunas envoltas a democracia refletem às dificuldades que a sociedade enfrenta em relação às desigualdades e a falha no acesso aos direitos e garantias constitucionais.