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Luís Gustavo Machado Correa da Silva – 1º Período

KINZO, Maria D'Alva. Partidos, eleições e democracia no Brasil pós-1985. Revista


Brasileira de Ciências Sociais, v. 19, n. 54, 2004.

Introdução: Nesta primeira parte da obra a autora expõe como os partidos políticos
e as eleições se revelam como componentes necessários e básicos em um regime
democrático, de modo que eleições livres e justas aparecem como o ponto inicial
para revelar se um sistema político é uma democracia. Entretanto, somente a
existência continuada de uma conjuntura democrática é o que consolida e torna
válida as instituições igualitárias e antiautoritárias, uma vez que o regime militar
instaurado no país por 21 anos (1964-1985) não aboliu os partidos e nem as
eleições, o que mostra a dualidade e a atenção de suma importância que se deve
levar em conta ao tratar de tais assuntos. Logo, esse artigo possui como
fundamental princípio debater a relação entre partidos, eleições e democracia no
contexto brasiliense atual pós redemocratização em 1985, buscando compreender
se a hodierna circunstância brasiliense tem oferecido os recursos vitais para a
ocorrência do sistema partidário, dos partidos e, por conseguinte, da democracia no
corpo social.

Democracia, eleições e partidos políticos – Uma nota conceitual: Neste tópico


do texto são desmembradas as relações conceituais dos termos ditados na
introdução, começando com democracia, avançando para eleições e terminando
com os partidos políticos, revelando as noções preliminares de cada um e o seu
papel na sociedade brasiliense. Para a autora, democracia é um termo complexo,
possuindo múltiplas facetas e funções mas que, em sua obra, dará ênfase na
dimensão política, fazendo referência a poliarquia de Robert Dahl ao estabelecer
que o papel deste regime político baseia-se na participação e contestação pública,
de modo a garantir a escolha de líderes por meio da competição e da livre atuação
popular via métodos específicos de organização baseado em regras que garantam
um sistema justo. Porém, mesmo destacando o âmbito político de democracia, Kinzo
ressalva o papel social da mesma, ao passo que quesitos de cunho negativo da
sociedade afetam de forma danosa o exercício da democracia e dificultam a
consolidação por total da mesma no coletivo nacional, tendo, por exemplo, as
desigualdades socioeconômicas como principal empecilho, em mente de que há um
prejuízo entre as classes indigentes em função do acentuado desiquilíbrio na
distribuição de conhecimento, como também do eventual surgimento de
ressentimentos e frustrações que corroem a lealdade da população para com a
democracia. Ao descrever o encargo das eleições, por sua vez, são elencados 2
papéis que este processo de suma relevância possui, sendo, primeiro, um elemento
essencial no governo representativo (realizando a representatividade e
responsividade) e, segundo, um meio pelo qual ganha visibilidade a correlação de
forças dos vastos e antagônicos grupos políticos. Por fim, ao descrever os partidos
políticos, Kinzo realça as concepções sob o qual há um consenso nas interpretações
acerca deste termo, sendo, primeiramente, o contexto em que os partidos atuam e,
também, às atividades que acontecem sob tal contexto. Ademais, são intimadas
ações específicas aos partidos eleitorais em duas esferas do sistema político,
tangendo ao setor eleitoral competir pelo apoio dos eleitores para assumir cargos de
poder e, ao setor decisório, formular e planejar políticas públicas que irão refletir
para com a população brasileira.
Por fim, esta parte do texto aborda como a representação política democrática, para
se fortificar e estabelecer vínculos no Brasil, precisou se relacionar com as
atividades e os papéis que os partidos modernos foram exercendo com o decorrer
dos anos, como, por exemplo, estruturar a disputa eleitoral – isso é, definir e
diferenciar as opções disponíveis ao eleitor – e mobilizar o eleitorado – ou seja, criar
um incentivo externo para o eleitor exercer seu direito de voto quando necessário –
para, com isso, fortalecer a democracia no corpo social nacional e gerar um laço
variado nas eleições concomitantemente com os partidos políticos.

Eleições em um contexto democrático: Este ponto do escrito abordará, a partir da


ótica de várias nuances, como as eleições foram tomando contorno no panorama
político da atualidade e quais são os entraves ocorrentes que dificultam parte da
população brasiliense exercer esse direito primário e indispensável em um contexto
democrático. Para tanto, a autora tomará como métrica, isso é, como embasamento
para criar seu argumento, a poliarquia de Dahl, já considerando, no início do tópico,
que houve certo avanço no que tange as condições de participação e contestação
pública.
Ao analisar o primeiro ponto (inclusão), já é anunciado que houve um progresso nas
condições de participação política, sendo consequência direta da universalização do
direito ao voto – pela inserção dos analfabetos em 1985 – e da redução, para 16
anos, como idade mínima para votar – ditada pela Constituição de 1988 – sendo,
portanto, indicativos de um avanço democrático na sociedade nacional. Ao expor tais
informativos, é apresentado, na obra, o Gráfico 1 (p.25) que mostra a crescente do
eleitorado brasileiro, ou seja, daqueles legítimos para votarem, sendo, em 1960,
15.5 milhões (43% da população adulta) e, já em 2002, 115.0 milhões (94% da
população adulta). Além disso, outro fator elencado por Kinzo diz respeito a maioria
dos votantes estarem em um circuito predominantemente urbano, em outros termos,
não mais restritos em pequenas áreas rurais onde, pelo poder estar concentrado em
líderes locais que possuíam um poderio econômico, corrupções eleitorais acabavam
por ser facilmente recorrentes e, consequentemente, se tornando uma prática
generalizada.
Ao analisar as transformações sociais e financeiras no qual o Brasil passou nos
últimos 40 anos, é levantado um direcionamento para o modelo econômico adotado
pelos governos militares e suas implicações no coletivo brasílico, ao passo que as
medidas tomadas durante o regime autoritário foram responsáveis pelo agravamento
da pobreza e das desigualdades sociais, de um lado, e da rápida industrialização e
urbanização, do outro, inserindo um grande contingente de pessoas na arena
eleitoral e, também, aumentando a parcela de trabalhadores urbano-industriais
responsáveis, a curto prazo, pela emergência de movimentos sociais e partidos de
massa. Assim sendo, atos e grupos organizados em prol de algum objetivo em
comum se tornaram presentes no corpo social e símbolo da nova política
democrática, tendo, como principal exemplo e expoente nacional, o MST (Movimento
dos Sem Terra), cuja central revindicação baseia-se na desapropriação de latifúndios
improdutivos e na desconcentração agrária intensa, convertendo-se em uma grande
exemplificação da nova democracia pautada em movimentos sociais.
No que se refere à segunda dimensão (contestação pública), há avanços que
também tiveram uma significância, haja vista que, desde o restabelecimento do
governo civil, em 1985, uma maior aceitação e a consolidação das regras
democráticas evidenciam uma maior tolerância com a oposição, além da
incorporação de partidos políticos de esquerda na disputa eleitoral com partícipes
efetivos no processo decisório. O maior exemplo de tal afirmação se encontra no PT
– Partido dos Trabalhadores – no qual obteve ascensão no âmbito regional e
nacional e conquistou adeptos a altos níveis. A Tabela 1 (p.27), explicita as
prefeituras conquistadas pelo PT, por região, entre 1992-2000, expondo a crescente
que tal partido partido político conseguiu no período supracitado e deixando claro a
força que o mesmo atingiu na esfera local, uma vez que, em 1992, a porcentagem
de instituições municipais com alcance do PT era de 1.1% e, já em 2000, 3.4%.
Em conclusão desta temática, são discutidas as falhas que a responsividade
democrática possui para com a sociedade em geral, uma vez que, no texto, são
especificados certos empecilhos que dificultam a elevação do grau de inteligibilidade
no país e, consequentemente, impedem o processo de cidadania do indivíduo. Um
dos casos citados pela autora diz respeito ao discernimento na hora de votar, haja
vista o complexo sistema de escolha eleitoral que envolve cargos variados em
vastos níveis de poder (nacional, estadual e municipal) e o não conhecimento prévio
dos eleitores em relação a função de cada uma dessas colocações, de modo a gerar
um bloqueio no homem social ao exercer seu direito básico na tomada de decisões.
Além disso, a intensa fragmentação partidária possui papel central para a sua não
consolidação na sociedade brasileira, uma vez que, pelo excesso de candidatos e
pelas organizações distintas dos partidos, um distanciamento dos votantes para com
seus representantes ocorre, tornando menos nítidas as relações governamentais
necessárias em uma democracia e, concomitantemente, aumentando a disparidade
entre o sistema partidário eleitoral brasiliense e o votante.

Partidos, sistema partidário e democracia no Brasil: Esta parte da obra fará uma
avaliação da experiência político-partidária, a partir de 85, e buscará responder 3
indagações:
1- Como os partidos estão favorecendo a integração dos eleitores ao sistema
político? (participação do povo)
2- O sistema está dando opções claras e diferenciadas para o eleitor? (estruturar a
escolha eleitoral e criar uma identidade política)
3- A experiência político-partidária foi capaz de produzir um padrão que possa ser
consolidada no futuro? (passada a diante fixa e integralmente)
Para responder tais dúvidas, a autora separou esta parte do artigo em 2
subdivisões,.
Mobilização Partidária: Este tópico inicia-se atribuindo como principal caráter
laboral dos partidos políticos a busca por apoio nas urnas eleitorais, isso é, a
capacidade do convencimento dos partidos instigar os eleitores para votar em seus
representantes, de modo que o comparecimento eleitoral funcione como um índice
para saber se a persuasão usada pelas organizações partidárias foi acatada com
sucesso pelos votantes. Entretanto, no Brasil, há casos em que o índice de
comparecimento nas urnas é alto porém a maioria dos votos são nulos e/ou brancos,
de modo que, para de fato avaliar a capacidade dos partidos em mobilizar eleitores,
é necessário restringir o número dos votantes para os que realmente escolheram
alguém. A Tabela 3 (p.30) exemplifica o crescimento e a redução, em certos anos e
para certos cargos, de votos válidos nas eleições nacionais, expressando que, em
1990 e 1994, por exemplo, os votos para eleger presidente foram superiores do que
para governadores e deputados e, entre 1998 e 2002, ocorreu um aumento em
todos os cargos, inferindo-se, portanto, que o processo de democratização não
acarretou no processo gradual da mobilização eleitoral.
É válido ressaltar que a mobilização eleitoral teve seu início antes mesmo de 85,
sendo uma característica principal do processo transicional para o regime
democrático, uma vez que a oposição obteve o êxito de estimular o eleitorado contra
o regime militar e, com isso, fez com que a primeira eleição presidencial pós
redemocratização, em 1989, fosse o ápice do processo de mobilização coletiva.
Todavia, pelo caráter rotineiro que o jogo eleitoral democrático foi adquirindo com os
anos, um declínio do engajamento político ocorreu e, com isso, um foco maior no
poder executivo foi findado no pensamento brasiliense, fazendo com que os
eleitores se acostumassem a focar seu direcionamento eleitoral apenas para
presidentes, governadores e prefeitos e esquecendo dos representantes
parlamentares legislativos.

Fragmentação, inteligibilidade e volatilidade do sistema partidário: Ao analisar


o sistema partidário no Brasil, é de extrema necessidade focalizar certa atenção no
que diz respeito à capacidade do sistema de oferecer opções vastas, claras e bem
definidas aos eleitores, isso é, estruturar a escolha eleitoral e criar identidades
partidárias como modo de garantir a inteligibilidade neste âmbito no país. Logo, esta
última parte da obra de Kinzo tratará sobre isso, visando compreender os
empecilhos por trás do sistema eleitoral que dificultam a ocorrência plena do mesmo
em um estado democrático.
Insta salientar, em primeira análise, que o sistema partidário nacional configura-se
fragmentado por total, fator confirmado e exposto na Tabela 4 (p.32) em que mostra
o número de partidos efetivos por região na Câmara dos Deputados, de modo que,
em 2002, a instituição de partidos continuou tão fragmentada como no início de
1990, além de, tal fator, não ser um atributo restrito apenas no sistema nacional,
como também esteve/está presente nos Estados do país. Outrossim,
complementares fatores confirmam como o sistema partidário brasileiro possui certa
desintegração e uma fraca base política, haja vista a facilidade com que os
candidatos eleitos migram para outro partido sem nenhum constrangimento
(demonstrando a fragilidade dos partidos em manter seu próprio comitê) como,
também, o fato dos partidos apresentarem alianças partidárias e raramente se
engajarem em disputas eleitorais como atores individuais.
Pode-se frisar, ainda, a recorrência constante dos partidos políticos às coligações
como estratégia e, involuntariamente, como necessária em virtude da fragmentação
do sistema partidário, de modo a haver uma dualidade ao associar esses dois
grupos unidos com propósitos em comum. Se, de um lado, ao se coligar com um
grande partido, os menores garantem sua participação na coligação para as eleições
proporcionais, de outro, ao firmar uma aliança com os pequenos, partidos maiores
acrescem seus recursos eleitorais e fazem com que suas chances de vencer as
eleições seja maior. Porém, estas práticas prejudicam completamente o eleitor que
se encontra em uma disputa cujo atores partidários não são claramente distintos,
não conseguindo distinguir uns dos outros. Em suma, a alta fragmentação faz com
que os votantes tenham dificuldade em fixar os partidos e, assim sendo, criar
identidades partidárias.
Ao finalizar, é descrito como a volatilidade eleitoral apresenta-se como a principal
consequência visível deste processo, à proporção que, quanto menor a
inconstância, maior as chances de as siglas partidárias desempenharem, na arena
eleitoral, sua função de decidir as prioridades eleitorais sem priorizar o apelo de
algum candidato em particular. A Tabela 5 (p.34) indica, a partir de cálculos feitos
baseado nos resultados eleitorais por município, a volatilidade eleitoral partidária de
1990 a 2002, de modo a deixar explícito como a taxa eleitoral volátil alcançou seu
auge em 1990, decresceu entre 1994 e 1998 (de 46,2 para 40,4) mas se manteve
fixo entre 1998 e 2002, se estabilizando em um nível elevado. É necessário ter em
mente de que esse índice varia entre um Estado e outro independentemente do
tamanho de seu eleitorado, de modo que, no Brasil, ainda não foi estabelecido um
padrão definitivo de apoio partidário, tornando distante a consolidação de um
sistema partidário igualitário e posto sob uma equidade eleitoral e política.

Considerações finais: Ao fazer um apanhado geral do que foi debatido no artigo, a


autora Maria D´Alva Kinzo aponta aspectos positivos e negativos da experiência
democrática no Brasil pós redemocratização, de maneira a afirmar que as eleições e
a democracia estão asseguradas no país, fato confirmado com fervor com a eleição
de Lula em 2002 (um líder político ligado à esquerda e originado das camadas
populares) mas que, infelizmente, os avanços para a consolidação do sistema
partidário foram moderados e modestos, uma vez que o cenário partidário possui
como pano de fundo uma intensa fragmentação e fragilidade partidária atrelada a
baixa inteligibilidade da disputa eleitoral. A obra trata, com uma linguagem clara e
neutra, sobre o âmbito político no país e traz um enfoque em temas que, por mais
que sejam debatidos, são sempre apoiados em um único prisma com uma única
visão, ao passo que Kinzo, por sua vez, expõe outras óticas e, por isso, cria um
escrito completo e íntegro naquilo que se propõe a discutir.

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