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MAAR, Wolfgang Leo. O que é Política. Brasiliense: São Paulo, 2006.

(coleção primeiros
passos; 54).

Luís Carlos Alves de Sousa Júnior1

O livro ‘O que é Política’, de Wolfgang Leo Maar, trás uma abordagem leve e bastante
esclarecedora a respeito dos diferentes níveis da Política, a diferencia nos seus aspectos
sociais, partidários e levando em conta fatores históricos e culturais, com o propósito de expor
suas ideias e constatações no sentido de levar leitor a construir um saber crítico a respeito do
bom funcionamento da política e suas consequências positivas dentro da sociedade, assim
como papel dos agentes políticos para um bom desempenho destes nas ações favorecimento
coletivo para o bem comum das pessoas.

A obra segue apresentando uma diferenciação inicial pertinente sobre os diferentes tipos de
política e esclarece suas funções dentro do que conhecemos como debate público dentro da
coletividade. Para ele, a política não é só aquela discutida em anos eleitorais ou em debates na
televisão ou redes sociais, mas pode estar presente em qualquer ato coletivo, em qualquer
reivindicação legítima que um cidadão venha a necessitar.

Faz uma retomada da trajetória da política em outros períodos históricos como aquela
praticada na Grécia e Roma, primórdios daquilo que entendemos hoje por democracia e
direitos elementares da sociedade moderna. Faz também referência aos preceitos teóricos bem
sucedidos da obra de Maquiavel e suas ideias a respeito de como deve funcionar a estrutura
do Estado e também a prática de seus agentes políticos. Para ele a política de Estado tem um
caráter permanente e que não pode ser deformado por meras ações de governantes
provisórios. Define então a diferença entre política de Estado e ações pontuais de governos.

Aprofundando-se nas reflexões acerca da atividade política, na função do Estado e seus


reflexos no cotidiano, cita os meios legítimos e democráticos para se fazer a luta política,
como as teorias de Marx e as lutas de classes que se fazem fundamentais para redução do
quadro de desigualdade nas sociedades modernas e pós-modernas.

Mais adiante menciona a formação e construção de instituições ligadas a sociedade civil no


Brasil que muito contribuíram para a luta pelas conquistas de direitos de minorias, que hoje

1
Acadêmico de Licenciatura em História da Universidade Estadual do Piauí, campus Heróis do Jenipapo em
Campo Maior/PI.
entendemos como fundamentais para o equilíbrio de nossa democracia e justiça social na
sociedade brasileira.

Outro ponto fundamental destacado pelo autor é a política enquanto representação eleitoral,
na qual reflete sobre a qualidade do voto e da representação eleitoral dos interesses da
coletividade diante de parlamentos e casas legislativas. Que estes representantes possam estar
de fato em harmonia com os interesses não só de seus eleitores, mas da sociedade e na defesa
de seus interesses coletivos e também com interesse público acima das conveniências e
necessidades pessoais. Uma má representação implica num descrédito imediato da classe
política diante dos clamores das classes que menos são atendidas pelo Estado, o que contribui
substancialmente para o enfraquecimento da política.

Há de se destacar também os aspectos culturais que envolvem a política. Para o autor a cultura
também é um ato político. Ato esse de manifestação livre de pensamento e que contribui para
a formulação de um debate e reflexão coletivo por meio dessas vozes expressas pela música,
teatro, arte popular, literatura e cinema. Tendo em vista que todas essas formas de cultura
estão inseridos num contexto educacional de formação de uma intelectualidade dentro de
qualquer sociedade, pois educação e cultura caminham juntos para levar democracia e
consciência política em todos os lugares, seja eles quais forem.

Sem dúvidas que o debate instigado pelo autor de que o poder não está só nas mãos do
Estado, mas de cada um que compõe esse sistema complexo que é uma democracia, no qual
através do voto como instrumento de manifestação legítimo, podemos não só prestar repúdio,
indignação e contrariedade aos atos dos governantes, mas também podemos nos associar e
juntar-se aos que comungam de um mesmo objetivo/causa, para somar força e promover
também uma luta política legítima e civilizatória.

Nesse pensamento o autor cita também a obra de Gilberto Freire (Casa Grande e Senzala) e
nos incita a fazer mais uma reflexão a respeito desse aspecto de civilidade/cordialidade que se
apresentou no galgar das lutas democráticas. Para ele, não podemos cultivar essa mentalidade
colonialista nas lutas por direitos e posicionamentos dentro da sociedade atual, assim como
não reduzir o papel de cidadão a seguir meras doutrinações ideológicas de esquerda ou de
direita dentro do debate público.

Mais do que a política pensada sob um caráter civilizatório ou partidário, há de se construir


uma política que transforme e que emancipe o cidadão no sentido de que este se liberte de
qualquer instrumento que domine, doutrine ou aprisione o pensamento, fazendo-o refém de
interesses que não sejam os democráticos e libertadores de sua realidade. Nesse sentido,
consideramos a obra válida, principalmente para os dias atuais em que as democracias são
sistematicamente atacadas por interesses ideológicos de extremistas que flertam com regimes
autoritários. Portanto, levar uma formação transparente, equilibrada e construtiva faz bem a
qualquer público.

Recomenda-se esta obra a todos aqueles que queiram contribuir para o enriquecimento do
debate sobre nossa democracia, sobre o aperfeiçoamento das instituições e seu papel
importante na construção de políticas junto ao Estado que favoreçam a todos e que possam
mudar e realidade das minorias que são vítimas de tantas injustiças ao longo da história do
Brasil.

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