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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE HUMANIDADES
UNIDADE ACADÊMICA DE CIÊNCIAS SOCIAIS

WILDSON RONIELLE MEDEIROS DE ARAÚJO

QUE RELAÇÃO PODEMOS FAZER ENTRE O MODELO DE NAÇÃO


BRASILEIRA EO PENSAMENTO POLÍTICO BRASILEIRO?

CAMPINA GRANDE – PB
2023
Passados Presentes: Que relação podemos fazer entre o modelo de nação
brasileira e o pensamento político brasileiro?

Aluno: Wildson Ronielle Medeiros de Araújo1


Professora: Dra. Sheylla de Kassia Silva Galvão

RESUMO

O Brasil passou por diferentes fases e influências culturais ao longo de sua história,
incluindo o período colonial, a escravidão, a independência, a era republicana, a
industrialização e a globalização. Esses eventos moldaram a sociedade brasileira e
influenciaram a forma como o pensamento político brasileiro se desenvolveu para interpretar o
Brasil. Ao explorar essa transição, a fim de oferecer uma visão sobre a relação entre o modelo
de nação brasileira e o pensamento político. Este artigo busca explorar a relação entre o modelo
nacional brasileiro e o pensamento político brasileiro a partir das contribuições de importantes
autores que procuraram, por meio de suas obras, examina a questão da identidade nacional: a
formação social e cultural do Brasil, as influências históricas, as relações de poder e as
possibilidades e desafios para a construção de uma democracia estável.

Palavras-chave: Pensamento político brasileiro; nação brasileira; Identidade nacional;


Democracia.

Past Present: What relationship can we make between the Brazilian nation model and
Brazilian political thought?

ABSTRACT

Brazil has gone through different phases and cultural influences throughout its history,
including the colonial period, slavery, independence, the republican era, industrialization, and
globalization. These events have shaped Brazilian society and influenced the way Brazilian
political thought has developed to interpret Brazil. In exploring this transition, in order to offer

1
Aluno do bacharelado em Ciências Sociais, Unidade Acadêmica de Ciências Sociais, UFCG, Campina
Grande – PB, e-mail: wildson.ronielle28@gmail.com
insight into the relationship between the Brazilian nation model and political thought. This
article seeks to explore the relationship between the Brazilian nation model and Brazilian
political thought from the contributions of important authors who sought, through their works,
to examine the question of national identity: the social and cultural formation of Brazil,
historical influences, power relations, and the possibilities and challenges for the construction
of a stable democracy.

Keywords: Brazilian Political Thought; Brazilian Nation; National Identity; Democracy.

INTRODUÇÃO

A construção do pensamento político brasileiro está intimamente ligada à formação da


identidade nacional e à busca por uma definição do que é ser brasileiro. Nos últimos anos, um
grupo diversificado de pesquisadores, munidos do acervo analítico desenvolvido ao longo de
décadas de pesquisa social institucionalizada, tem se dedicado a revisitar não apenas o
ensaísmo2 dos anos 30, mas também a investigar a história intelectual do Brasil. Esses
estudiosos têm produzido uma quantidade significativa de análises, pesquisas empíricas e
historiográficas, bem como interpretações teóricas, que têm contribuído para renovar nosso

2
Durante o período de 1920 a 1940, o ensaísmo brasileiro assumiu um papel de destaque na literatura e
no pensamento sociopolítico do país. Escritores e intelectuais dedicaram-se à produção de ensaios literários e
críticos que visavam refletir sobre a cultura e a identidade brasileira. Entre os pensadores mais influentes desse
período, destaca-se Gilberto Freyre (1900-1987), cuja obra "Casa Grande & Senzala" (1933) enfatizou a
importância da miscigenação e do hibridismo cultural na formação da identidade nacional brasileira. Freyre
também ressaltou a influência da família como a primeira unidade de poder político, destacando suas
características oligárquicas desde sua formação. Outro pensador proeminente dessa época foi Sérgio Buarque de
Holanda (1902-1982), autor de "Raízes do Brasil" (1936). Nessa obra, Buarque de Holanda analisou as bases
históricas que moldaram as raízes brasileiras, como o tradicional personalismo e a falta de coesão social. Ele
argumentou que a ausência de um projeto coeso e a preocupação da elite em manter o poder são obstáculos para o
desenvolvimento do país. Na perspectiva marxista, Caio Prado Junior (1907-1990) em sua obra "Formação do
Brasil Contemporâneo" (1942) criticou o sistema capitalista, a colonização europeia no Brasil e a elite dominante.
Prado Junior argumentou que a independência do país foi um marco importante para a criação da nacionalidade,
mas não trouxe mudanças significativas na estrutura econômica e social. A elite dominante brasileira, composta
por grandes proprietários de terras, manteve o controle do poder político e econômico, preservando seus privilégios
mesmo após a transferência do poder para os grandes centros urbanos. Entre as décadas de 1950 e 1990, ocorreu
uma efervescência intelectual no Brasil, com o surgimento de pensadores que buscavam compreender e refletir
sobre os desafios e problemas da sociedade brasileira. Florestan Fernandes (1920-1995), em sua obra "A
Revolução Burguesa no Brasil" (1974), criticou as elites políticas autoritárias e seu uso do poder para manter
privilégios e influência. Ele defendeu a participação popular como forma de superar as desigualdades sociais.
Raymundo Faoro (1925-2003), em "Os Donos do Poder" (1958), realizou uma análise crítica da estrutura e
dinâmica do poder no Brasil. Faoro descreveu a elite política brasileira como patrimonialista, onde o poder é visto
como uma propriedade privada e hereditária, em vez de um bem público. Segundo ele, as tradições políticas e
culturais brasileiras resultam em uma estrutura fechada e centralizada, onde a elite se perpetua no poder por meio
de alianças, corrupção e clientelismo.
entendimento dos padrões e dilemas fundamentais da sociedade e da política brasileira
(BRANDÃO, 2007).

Nesse sentido, ao longo do tempo, diferentes visões sobre o papel do Estado, a


participação popular e a distribuição de poder foram discutidas e debatidas no contexto
brasileiro. O modelo de nação adotado no Brasil também está relacionado à forma como o país
se percebe em relação aos demais países e regiões do mundo. Questões como a autonomia, o
desenvolvimento econômico, a integração regional e o protagonismo internacional são
elementos fundamentais nas discussões sobre o modelo de nação. Além disso, a diversidade
étnica, cultural e social do Brasil influenciou o pensamento político, gerando debates sobre a
inclusão e a representatividade das diferentes identidades no processo político e na construção
da nação. Sendo assim, um aspecto central do pensamento político brasileiro é a reflexão sobre
o modelo de nação desejado.

Ou seja, pode-se aludir a ideia de uma identidade que está relacionada ao vínculo do
cidadão com uma referência social, como raça, idade e sexo, símbolos, costumes que permite
sua localização dentro do sistema e sua identificação pelos outros. Dessa forma, a identidade
social é simultaneamente uma maneira de identificar e diferenciar, incluir e excluir, unindo
aqueles que compartilham algo em comum e distinguindo-os dos demais. No entanto, surge um
questionamento diante da ideia de nação ou unidade em um país que marginaliza uma parcela
significativa da população em termos políticos e econômicos. Como conceber a democracia
quando a esfera política parece negligenciar seus principais atores? Como propor algo "novo",
como uma moral cristã e uma ordem militar, quando a história brasileira tem sido marcada pela
violência e pela religião? O próprio povo brasileiro é um testemunho vivo do fracasso dessas
abordagens.

Assim, influenciado por diversas correntes teóricas e ideológicas, tanto internas quanto
externas. Teorias como o positivismo, o marxismo, o estruturalismo, o liberalismo e o
conservadorismo tiveram impacto no desenvolvimento do pensamento brasileiro. No entanto,
é importante ressaltar que essas influências foram reinterpretadas e adaptadas ao contexto e às
questões específicas do Brasil. Assim, a ideia de um pensamento político brasileiro surge da
necessidade de produzir uma interpretação da identidade nacional a partir da compreensão e
análise das características e peculiaridades do contexto brasileiro.

Com base em uma abordagem metodológica bibliográfica, fundamentada na análise de


fontes teóricas do pensamento político brasileiro, esta pesquisa busca compreender o modelo
de nação brasileira e sua relação com a formação de uma identidade nacional frágil. O objetivo
é demonstrar que essa temática, voltada para a identidade do Brasil, revela elementos do
passado que persistem no presente devido às particularidades históricas, culturais e sociais do
país. A oligarquia, o familismo, o clientelismo e o patrimonialismo desempenham papéis
significativos na continuidade dessas características até a contemporaneidade, o que dificulta a
compreensão da existência de uma identidade nacional consistente.

DEBATE TEORICO

A relação entre o pensamento político brasileiro e o modelo de nação é caracterizada


por sua complexidade e abrangência, abarcando múltiplas facetas. Nesse contexto, em um país
com uma história tão diversificada e complexa como o Brasil, a busca por explicações para os
eventos que ocorrem parece uma tarefa desafiadora. No entanto, nos últimos anos, houve um
intenso processo de reflexão sobre a própria identidade brasileira. Diversas vozes, provenientes
de diferentes correntes intelectuais e políticas, emergiram para oferecer interpretações dos
acontecimentos, analisando suas conexões com o cenário internacional e discutindo suas
implicações para o futuro do país.

Nesse contexto, a história do pensamento político no Brasil revela uma interação


constante com correntes teóricas originárias de outros países. Desde os primórdios da
formação do Estado brasileiro, ideias políticas e concepções de nação foram importadas e
adaptadas à realidade local. Teorias políticas europeias, como o liberalismo, o socialismo e
o marxismo, exerceram influência significativa no pensamento político brasileiro,
moldando as visões sobre o modelo de nação.

A influência dessas teorias estrangeiras no pensamento político brasileiro pode ser


observada em diversos aspectos. Elas contribuíram para a formulação de conceitos e
categorias políticas, bem como para a compreensão das relações de poder, da participação
política e da organização social. Além disso, as teorias importadas influenciaram as
reflexões sobre a democracia, os direitos humanos, a justiça social e outras questões
fundamentais para a construção de um modelo de nação.

A área de estudo “pensamento social” no Brasil ou de “pensamento político brasileiro”,


assim como em outras partes do mundo, explica Brandão (2007):
caracteriza-se pela interdisciplinaridade, englobando contribuições
intelectuais provenientes das diversas ciências humanas. Nesse sentido, disciplinas
como a antropologia política, a sociologia da arte, a história da literatura, a história da
ciência, a história das mentalidades, a sociologia dos intelectuais, a filosofia, a teoria
política e social, e a história das ideias e das visões-de-mundo convergem e se
entrecruzam. Essa sobreposição de disciplinas, ainda que às vezes conflituosa devido
à indistinção de fronteiras, é inevitável em um país de capitalismo tardio como o
Brasil. Isso ocorre porque o estudo da literatura, da arte, da cultura e das ciências
praticadas aqui adquire uma dimensão política significativa, em virtude da relação
intrínseca entre a formação da cultura e a formação da nação.

O estudo do pensamento político-social no Brasil abrange uma vasta gama de tópicos e


questões. É possível analisar e refletir sobre a política, a sociedade, a cultura, as identidades, as
relações de poder, as ideologias e os discursos presentes no contexto nacional. Mediante
abordagens interdisciplinares, busca-se compreender a complexidade e a diversidade do
pensamento político brasileiro, considerando suas influências internas e externas, as suas
manifestações na literatura, nas artes, na filosofia, nas ciências sociais e em outros campos do
conhecimento. Assim, a área de estudo do pensamento político no Brasil contribui para a
compreensão do desenvolvimento intelectual e das transformações sociais ao longo da história
do país. Através do diálogo entre diferentes disciplinas, buscou-se desvelar os múltiplos
aspectos que compõem a formação da cultura e da nação brasileira, promovendo uma reflexão
crítica e aprofundada sobre as dinâmicas políticas e sociais que moldam a realidade nacional.

Fazendo uso de diferentes perspectivas a interpretação da sociedade brasileira é uma


prática frequente entre diversos autores, com o intuito de aprofundar o entendimento sobre
a questão da identidade nacional e sua relação com a constituição do poder na sociedade. No
entanto, conforme argumentado por Faoro (1987), a existência de um pensamento político
está intrinsecamente ligada a um quadro cultural autônomo, que surge a partir de uma
realidade social específica capaz de gerá-lo ou de se entrelaçar com ele. Assim, essa relação
complexa entre pensamento político e contexto histórico de uma nação desempenha um
papel fundamental na forma como as ideias políticas são concebidas, articuladas e aplicadas
na sociedade. Os desafios enfrentados pela sociedade brasileira ao longo da história, como
desigualdade social, diversidade étnica, questões de gênero, desenvolvimento econômico,
cultura e política, contribuem para a formação desse pensamento político, embora não seja
autônomo explica Raymundo Faoro:
O pensamento político brasileiro, na sua erigem, é o pensamento político português.
A colônia — a conquista, como se dizia nos documentos oficiais - prolonga a
metrópole, interiorizada, geograficamente a partir de 1808, culturalmente em cada ato
político, desde a integração da primeira à última (FAORO, 1987, p. 18).

Em sua obra intitulada "Existe um pensamento político brasileiro?", Raimundo Faoro


questiona a existência do Pensamento Político Brasileiro, argumentando que a sociedade
brasileira estaria presa em uma espécie de antigo regime disfarçado, caracterizado por uma
cultura política ibérica com traços pré-modernos. Segundo Faoro, o liberalismo brasileiro não
seria "autêntico", mas sim conservador e utilizado pela classe dominante como um instrumento
de ornamentação e manutenção do status quo FAORO, 1987. p. 47). Faoro desafia a ideia de
um pensamento político brasileiro singular, sustentando que as influências e características
culturais do país moldam a política brasileira de maneira distinta das perspectivas liberais
ocidentais. Ele destaca a presença de elementos conservadores arraigados na estrutura política
e social do Brasil, resultantes de uma cultura política específica que remonta ao período
colonial3.

Essa perspectiva crítica de Faoro suscita debates e reflexões sobre a natureza e o caráter
do pensamento político no Brasil, bem como sobre as influências externas e internas que
moldam suas particularidades. Além disso, suas observações levantam questões sobre a relação
entre a classe dominante e as ideologias políticas adotadas no país, questionando se essas
ideologias são genuinamente voltadas para a transformação social ou apenas servem aos
interesses das elites no poder. Dessa forma, a análise de Faoro oferece uma visão provocativa
e contestadora sobre o Pensamento Político Brasileiro, chamando a atenção para a necessidade
de examinar criticamente as ideias políticas e suas raízes históricas e culturais no contexto
brasileiro.

Além disso, o pensamento político brasileiro tem sido objeto de análise desde o período
colonial, destacando-se diferentes perspectivas sobre sua natureza e influências. Ressalta-se
que, apesar das considerações levantadas por Raymundo Faoro, Christian Lynch adota uma
abordagem distinta ao empregar a expressão "pensamento político". Nesse contexto, essa

3
Ver FAORO, Raymundo. Existe um pensamento político brasileiro?. Estudos avançados, v. 1, p. 9-58,
1987.
expressão é utilizada no sentido amplamente aceito na literatura internacional, referindo-se a
um conjunto de autores ou obras que são característicos de uma determinada nacionalidade
(LYNCH, 2013).

A filosofia política se distinguia do “pensamento político em geral” na


medida em que este último estava voltado para a prática e, por conseguinte, não tinha
o mesmo rigor, a mesma coerência, a mesma universalidade. O pensamento político
se manifestava por meio de leis, códigos, poemas e histórias das ideias, panfletos e
discursos públicos. Seria assim possível fazer, alternativamente, ou “história da
filosofia”, ou “história das ideias”, dependendo da qualidade do material estudado:
filosofia política, no primeiro caso, pensamento político, no segundo [...] Para além
dessa primeira explicação, pode-se avançar uma segunda para justificar a diferença
entre filosofia e teoria (e, por conseguinte, história da filosofia ou da teoria), de um
lado, e “pensamento” (ou história das ideias ou do pensamento), de outro. A palavra
filosofia ou teoria seria empregada para designar o conjunto de textos de natureza
política de validade universal, ao passo que pensamento político ou história das ideias
nomearia aqueles de validade apenas nacional [...] Poderíamos, assim, falar num
pensamento político britânico, que, para além de autores “universais” como Locke,
Hobbes, Burke, Bentham, Mill e Spencer, contaria com autores de menor estatura,
mas relevantes no contexto nacional daquele país, como Macauley, Brougham, T.H.
Green, Hobson e Hobhouse. Poder-se-ia pensar, por idêntico, num pensamento
político francês, que, para além de autores “clássicos” como Bodin, Bossuet,
Montesquieu, Rousseau, Constant e Tocqueville, contasse também com outros,
“menores”, como Sieyes, Guizot, Laboulaye, Taine ou Barrès. Seguindo esse
raciocínio, para além dos autores de vocação “universal”, integrariam o cânone do
“pensamento político nacional” autores “menores”, que, no entanto, teriam
repercutido na vida intelectual do país. De fato, na Espanha e na Argentina fala-se em
“pensamento político espanhol” e “pensamento político argentino”. Conciliar-se-iam
assim a dimensão universalista da teoria política ou da filosofia, de um lado, com o
seu reflexo nacional particular, de outro, designado este como pensamento ou história
das ideias políticas. Em síntese: o “pensamento político” seria a “teoria política” em
contexto nacional (LYNCH, 2013, p. 733-734)

Nesse sentido, O pensamento político engloba ideias, teorias, concepções e perspectivas


sobre o exercício do poder, a organização política, a participação cidadã, as relações de
governança, entre outros temas relevantes para a esfera política. Sob esse prisma, no caso do
pensamento político brasileiro, ele se refere ao conjunto de autores e obras que tratam das
questões políticas específicas do Brasil, levando em consideração o contexto histórico, social e
cultural do país. Esses autores buscam compreender e analisar a realidade política brasileira,
suas particularidades, desafios e possibilidades.

Entende-se neste caso que, sem pensamento político, a comunidade política


não poderia ser organizada e tampouco existir. Por isso, toda comunidade organizada
possui necessariamente alguma modalidade de pensamento político. O Brasil não
pode ser uma exceção: existe um PPB tanto quanto um pensamento político argentino,
paraguaio, estadunidense, francês, inglês, russo ou chinês. Cada um deles remete ao
conjunto de ideologias e discursos que confirmam suas respectivas culturas políticas,
apresentando entre si tanto semelhanças quanto especificidades (LYNCH, 2016,
p.81).

Essa perspectiva de Lynch nos convida a considerar o pensamento político brasileiro


como uma construção complexa e diversificada, influenciada por diversos autores e obras ao
longo do tempo. Ao adotar uma abordagem mais inclusiva, Lynch destaca a importância de
considerar uma variedade de vozes e contribuições no estudo do pensamento político brasileiro,
reconhecendo a existência de diferentes correntes e abordagens dentro desse campo. Dessa
forma, o debate em torno do pensamento político brasileiro se enriquece ao contemplar as
visões tanto de Faoro quanto de Lynch. Enquanto Faoro aponta para uma suposta falta de
autenticidade e manipulação do pensamento liberal no Brasil4, Lynch amplia a discussão,
considerando o pensamento político como uma expressão multifacetada que reflete a
diversidade de influências e perspectivas presentes na sociedade brasileira. Assim, a análise de
Lynch nos convida a uma reflexão mais abrangente sobre o pensamento político brasileiro,
reconhecendo sua complexidade e abertura a diferentes correntes de pensamento e
interpretações, ao mesmo tempo em que considera a relevância das contribuições de autores e
obras nacionais para a formação desse campo de estudo.

Sendo assim, ao explorar o pensamento político brasileiro, é possível identificar


diferentes correntes, enfoques e abordagens. Alguns autores se dedicam a examinar as
estruturas e instituições políticas, enquanto outros se voltam para as relações sociais, as
desigualdades, as ideologias e as formas de participação política. Dessa forma, ao considerar a
relação entre o modelo de nação brasileira e o pensamento político brasileiro, é necessário
analisar como as concepções sobre a nação, a identidade nacional, as características sociais e
culturais do Brasil influenciam e são refletidas no pensamento político dos autores. Essa relação

4
Faoro não nega a existência de pensadores políticos brasileiros ou a produção intelectual no país. Ele
reconhece a presença de uma rica tradição intelectual no Brasil, porém argumenta que essa tradição foi influenciada
por correntes de pensamento estrangeiras. Nesse sentido, ele ressalta a importância de compreender o pensamento
político brasileiro dentro de um contexto global, considerando as trocas e interações com teorias e ideias
provenientes de outras nações. Essa dinâmica contribuiu para a formação de uma identidade intelectual,
caracterizada por uma combinação de elementos endógenos e exógenos.
é dinâmica e complexa, uma vez que o pensamento político também contribui para a construção
e redefinição de pensar o modelo de nação ao longo do tempo5.

DISCURSÃO

Torna-se evidente que a análise das particularidades do pensamento político brasileiro


requer a consideração das influências externas, provenientes da metrópole portuguesa e de
correntes teóricas e ideológicas internacionais, bem como das especificidades e particularidades
do contexto interno do país desde a colonização. A concepção eurocêntrica trazida pela
metrópole portuguesa buscava transplantar para o Novo Mundo os modelos de governança,
estruturas políticas e ideias dominantes na Europa. Esse influxo de ideias europeias exerceu
uma influência significativa no pensamento político brasileiro, moldando, em certa medida, as
estruturas e concepções políticas adotadas ao longo do tempo.

Conforme mencionado anteriormente, a compreensão do modelo de nação brasileira,


caracterizado por uma notável desigualdade social e uma baixa identificação com a própria
nação, transcende sua aparência superficial e remete a significados mais profundos relacionados
ao conceito de "viralatice" no contexto brasileiro6. Esse termo é utilizado para descrever uma
sensação de inferioridade, submissão ou falta de autoestima por parte dos brasileiros em relação
a outras nações ou culturas consideradas “superiores”. Nesse sentido, a viralatice pode ser
compreendida como uma expressão da construção histórica, social e cultural que levou à
fragilização e desvalorização da identidade nacional.

Vários fatores contribuíram para a formação dessa viralatice incutida no modelo


nacional brasileiro. A colonização, a escravidão, as desigualdades estruturais, a dependência
econômica e a influência de ideias eurocêntricas desempenharam papéis significativos na
maneira como os brasileiros se percebem e são percebidos em relação a outros países. Esses

5
Essa diversidade favoreceu a acumulação de capital teórico e, de maneira alguma, impediu a
consolidação de um campo intelectual distinto, que se baseava no reconhecimento de uma rica tradição de
pensamento social e político no Brasil. Essa reflexão sobre os "clássicos" do pensamento brasileiro inclui figuras
como o visconde de Uruguai, Tavares Bastos, Sílvio Romero, Joaquim Nabuco, Ruy Barbosa, Euclides da Cunha,
Alberto Torres, Oliveira Vianna, Azevedo Amaral, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Nestor Duarte,
Caio Prado Jr., Raymundo Faoro, Victor Nunes Leal, Guerreiro Ramos, Florestan Fernandes, Celso Furtado, entre
outros. Esses intelectuais contribuíram para a consolidação de um corpus teórico singular, enriquecendo o
panorama intelectual brasileiro com suas ideias e perspectivas distintas. Ver Brandão, 2007.
6
Ver SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Leya, 2017.
fatores moldaram as percepções e as representações culturais, afetando, não raras vezes, a
identificação dos brasileiros com a sua própria nação.

A colonização, por exemplo, estabeleceu relações de poder assimétricas, nas quais os


colonizadores europeus foram valorizados em detrimento das culturas e conhecimentos dos
povos indígenas. Além disso, a escravidão impôs uma hierarquia racial que perpetuou
estereótipos negativos e a ideia de inferioridade das populações negras. As desigualdades
estruturais, por sua vez, contribuíram para a marginalização de certos grupos sociais, ampliando
a sensação de exclusão e subalternidade. A dependência econômica, sobretudo em relação aos
países desenvolvidos, reforçou a percepção de inferioridade econômica e tecnológica do Brasil.
Por fim, a influência de ideias eurocêntricas gerou uma valorização das culturas estrangeiras
em detrimento da própria cultura brasileira.

Ressalta-se que as revoluções ocorridas na Inglaterra em 1642 e 1688, nos Estados


Unidos em 1776 e na França em 1789 tiveram um impacto significativo na moldagem da
existência ocidental, particularmente ao reivindicarem a democracia e transformá-la em um
projeto civilizatório. Esses eventos históricos deixaram um legado duradouro e ainda
influenciam as sociedades contemporâneas. As revoluções representaram momentos-chave na
história, nos quais foram estabelecidas bases políticas e ideológicas que reverberam até os dias
de hoje. Elas trouxeram à tona princípios fundamentais como a igualdade, liberdade e
participação popular, que moldaram os sistemas democráticos ocidentais. Os ingleses, norte-
americanos e franceses desempenharam papéis cruciais nesses processos revolucionários, tanto
em termos de ação política quanto de produção de ideias e pensamentos que fundamentaram as
mudanças sociais e políticas ocorridas. Suas reflexões e realizações têm sido mais do que uma
simples forma de organizar o exercício do poder, trata-se de um conjunto de ideias que
requalificam as exigências que a sociedade faz à política (SINGER, 2021, p. 135).

Nesse sentido, é necessário analisar criticamente as estruturas sociais e históricas que


perpetuam a desigualdade e a baixa afeição do brasileiro ao seu país. Isso envolve à diferença
entre a realidade concreta do país, com suas características sociais, econômicas e políticas, e a
legalidade formal estabelecida pelas instituições e normas jurídicas. Essa distinção enfatiza que
nem sempre o que está estabelecido legalmente reflete a realidade vivenciada pelas pessoas e
as condições concretas do país.

Oliveira Viana (1974) argumenta que o Brasil possui duas realidades distintas que
coexistem e influenciam o desenvolvimento do país. O "Brasil real" refere-se à realidade
concreta vivenciada pelas populações, marcada por características sociais, econômicas e
culturais específicas. É o Brasil das relações cotidianas, das práticas sociais, dos costumes, das
desigualdades e das dinâmicas locais. Nessa concepção, Viana destaca a importância de
compreender a diversidade e as particularidades regionais do país, reconhecendo que essas
realidades locais têm um impacto significativo no funcionamento da sociedade como um todo.
Por outro lado, o "Brasil legal" refere-se à ordem jurídica formal, às leis, aos princípios
constitucionais e às instituições governamentais. É o Brasil das normas estabelecidas, da
estrutura oficial de poder, da administração pública e do sistema legal. Viana destaca que o
Brasil legal muitas vezes não reflete adequadamente a realidade concreta vivida pelas
populações, e que há uma distância entre o que está previsto na legislação e como as coisas de
fato ocorrem na prática.

Na atualidade do Brasil, podemos identificar exemplos dessa distinção entre o "Brasil


real" e o "Brasil legal". Um exemplo é a questão da desigualdade social e econômica. Embora
existam leis e políticas públicas que visam combater a desigualdade. A realidade concreta revela
altos níveis de disparidades socioeconômicas, com uma grande parcela da população vivendo
em condições precárias e enfrentando dificuldades no acesso a serviços básicos, enquanto uma
minoria desfruta de privilégios e concentra grandes quantidades de riqueza. A violência urbana
é um fenômeno presente no Brasil, apesar da existência de leis e instituições de segurança
pública. Essa realidade é caracterizada por altos índices de criminalidade e violência, os quais
impactam diretamente a vida cotidiana de muitos brasileiros, gerando um sentimento
generalizado de insegurança na sociedade. Além disso, é importante destacar a existência de
uma disparidade no sistema de encarceramento em massa no país, onde a população carcerária
é predominantemente composta por indivíduos negros. Segundo dados até dezembro de 2019,
dos 748.009 indivíduos em privação de liberdade, 88% tiveram sua raça e cor registradas, e
desses, 67% foram identificados como pertencentes aos grupos racialmente classificados como
pretos e pardos. Esses números evidenciam uma clara desigualdade na representação dos
diferentes grupos raciais no sistema prisional brasileiro7.

Outro exemplo é a questão da desigualdade social e econômica. O salário mínimo oficial


estabelecido no Brasil é de R$ 1.302,00. No entanto, de acordo com o Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), o Salário Mínimo
Necessário, calculado mensalmente, deveria ter sido de R$ 6.676,11 em abril de 2023. Essa

7
FERREIRA, Poliana da Silva et al. População Negra e prisão no Brasil: Impactos Da Covid. Afro
Cebrap: Informativo Desigualdades Raciais e Covid-19, São Paulo, v. 4, p. 1-35, 2020.
estimativa é baseada na quantia requerida para sustentar uma família de quatro pessoas. O valor
necessário representa 5 vezes o salário mínimo oficial de R$ 1.302,00. No mês anterior, em
março, o valor necessário era de R$ 6.571,52, corresponde a cinco (5) vezes do piso mínimo.
Em abril de 2022, o salário mínimo necessário foi calculado em R$ 6.754,33, equivalente a
quase 6 (seis) vezes o valor vigente na época, que era R$ 1.212,00. Essas informações
evidenciam a diferença entre o salário mínimo oficial e o valor necessário para garantir
condições mínimas de subsistência às famílias no Brasil.

Esses exemplos apresentam como a distinção entre "Brasil real" e "Brasil legal" ainda é
pertinente na atualidade brasileira. Ela demonstra que a realidade concreta do país muitas vezes
não corresponde ao que é estabelecido legalmente, revelando desafios e contradições que
precisam ser enfrentados para uma efetiva transformação social. Similarmente, ao se lançar a
pensar o Brasil, José de Souza Martins, destaca a persistência de certos padrões sociais ao longo
do tempo que, Segundo o autor, em contraposição à ideia de um progresso acelerado e
revolucionário a história brasileira é lenta. Ou seja, a transformação social ocorre de forma
gradual, muitas vezes imperceptível, e que está enraizado em estruturas e práticas arraigadas na
sociedade.

O peculiar da sociedade brasileira, como de outras sociedades, está em sua


história. Menos, obviamente, por suas ocorrências características e factuais. E mais
pelas determinações que dela fazem mediação viva do presente [...] A história
contemporânea do Brasil tem sido a história da espera do progresso. Como o progresso
não veio, senão de um modo insuficientemente lento, essa história se transformou na
história da espera da revolução (MARTINS, 1994, p.11)

A realidade contemporânea do Brasil, de fato, mostra que mudanças estruturais e sociais


profundas exigem tempo, esforços contínuos e ações coletivas para serem efetivamente
alcançadas. Contudo, apesar de avanços em políticas de inclusão social, de distribuição de
renda, a universalização ao acesso a serviços básicos e oportunidades, com a finalidade, de
permitir que as classes sociais baixas alcançassem o ensino superior. Analogamente, a
persistência de certos padrões sociais ao longo do tempo, em contraposição à ideia de progresso,
de estruturas políticas e práticas clientelistas, patrimonialistas e oligárquicas, que têm uma
história enraizada no país. Essas práticas políticas marcadas por trocas de favores, nepotismo e
concentração de poder em grupos específicos, ainda se manifestam em diferentes esferas do
governo e nas relações entre políticos e sociedade cerceando os direitos e desses grupos
marginalizados e fragilizados politicamente, socialmente e economicamente.

Além disso, de acordo com José de Souza Martins, a história lenta utilizada como
instrumento de poder, pode-se também ser observada nas transformações culturais e nas
mentalidades da sociedade brasileira. Apesar de avanços em questões como direitos humanos,
diversidade e igualdade de gênero, certas visões conservadoras e preconceituosas persistem em
setores da sociedade, refletindo uma transformação gradual e desigual nas mentalidades. Por
exemplo, durante o período compreendido entre 2013 e 2018, ocorreu uma notável constatação
no Brasil, surpreendendo muitos: a existência de uma direita/extrema-direita militante e
combativa no país. Essa vertente da sociedade brasileira se mobilizou nas ruas, abandonando a
reticência anteriormente presente, e, no decorrer do processo do impeachment de Dilma
Rousseff, passou a exercer uma hegemonia na imprensa, nas redes sociais e na definição da
agenda política e moral do país.

Em 2018, o Brasil foi surpreendido com a ascensão de um governante, Jair Bolsonaro,


o qual despertou espanto, dado seu histórico pouco expressivo como parlamentar, sendo
considerado como uma figura inexpressiva. Desde sua posse em 2019, seu estilo de liderança e
suas políticas têm levantado preocupações quanto ao respeito aos princípios democráticos e aos
direitos humanos. Algumas ações do governo, como declarações polêmicas, ataques a
instituições democráticas, tentativas de enfraquecer a imprensa independente e a supressão de
vozes dissidentes têm alimentado a percepção de um viés autoritário-fascista. Além disso,
medidas como a flexibilização de políticas ambientais8 e o apoio a políticas de segurança mais
repressivas também contribuem para essa imagem.

8
Entre agosto de 2021 e julho de 2022, o desmatamento na Amazônia atingiu uma área de 11.568 km²,
equivalente ao território da Jamaica, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE) nesta quarta-feira (30). Embora essa taxa represente uma redução de 11% em relação ao ano
anterior, interrompendo uma sequência de aumentos consecutivos desde 2018, ainda é considerada elevada. Desde
2013, a região amazônica tem enfrentado um aumento no desmatamento, após um período de queda nos anos 2000.
Com a posse do presidente Jair Bolsonaro em 2019, esses números se agravaram ainda mais. O atual governo, que
encerra seu mandato em 2022, estabeleceu recordes de destruição florestal, resultando em um aumento de 59,9%
no desmatamento em comparação aos quatro anos anteriores, durante os governos de Dilma Rousseff e Michel
Temer. A área perdida desde 2019 é maior do que o território do estado do Rio de Janeiro. Ver VICK, Mariana. A
curva do desmate no caos ambiental de Bolsonaro. Nexo jornal, São Paulo, 30 de nov. de 2022. Disponível em:
< https://www.nexojornal.com.br/expresso/2022/11/30/A-curva-do-desmate-no-caos-ambiental-de-Bolsonaro >.
Acesso em: 14 de jun. de 2023.
Assim sendo, ao considerarmos a concepção dos princípios de liberdade, igualdade,
participação popular, prosperidade financeira, entre outros. Percebe-se que o modelo adotado
no Brasil é resultado da importação de pressupostos de outras nações, visto que a forma desigual
na qual a nação brasileira se constituiu resulta em uma acumulação de recursos concentrada
apenas em uma elite. Em outras palavras, enquanto uma minoria desfruta de grandes privilégios
e riquezas, a maioria da população possui recursos limitados. Esse cenário de desigualdade
social e econômica reflete as estruturas de poder e as relações de classe presentes na sociedade
brasileira. A concentração de riqueza nas mãos de poucos está intrinsecamente ligada a
processos históricos, como a colonização e a escravidão, que contribuíram para a formação de
uma estrutura socioeconômica desigual. Essa desigualdade se perpetua ao longo do tempo,
perpetuando ciclos de pobreza e exclusão para a maioria da população. No entanto, seria
equivocado afirmar que tais fenômenos ocorrem exclusivamente no Brasil, uma vez que
também são observados em outros países. Assim, Apesar das abordagens e perspectivas
distintas desses pensadores, todos eles buscaram compreender a formação da sociedade
brasileira, suas particularidades históricas, culturais e sociais, bem como analisar o modelo
econômico baseado no sistema capitalista. Todos destacaram a importância de compreender a
identidade nacional brasileira e enfrentar desafios como a desigualdade social e a concentração
de poder.

Até os dias atuais, as reflexões e análises realizadas pelos pensadores do pensamento


político continuam relevantes para a compreensão da sociedade brasileira. No período entre
2020 e 2022, durante a pandemia de Covid-19, observou-se um expressivo aumento no número
de pessoas em situação de fome no Brasil, passando de 19,1 milhões para 33,1 milhões.
Paralelamente, verificou-se um crescimento de 73% nesse grupo de indivíduos vulneráveis. Por
outro lado, no mesmo intervalo de tempo, houve um aumento de pessoas e famílias detentoras
de mais de um bilhão de dólares, passando de 42 para 62, representando um incremento de 48%
nesse grupo de ultra-ricos. Esses dados revelam uma realidade preocupante e desafiadora, na
qual a desigualdade socioeconômica se acentua em meio a um contexto de crise sanitária e
econômica. O aumento significativo no número de pessoas que sofrem com a fome reflete as
dificuldades enfrentadas pela população mais vulnerável, que tem sua segurança alimentar
comprometida em meio à escassez de recursos básicos. Paralelamente, a ampliação do grupo
de ultra-ricos destaca a concentração de riqueza em uma parcela privilegiada da sociedade9.

9
SAKAMOTO, Leonardo. No Brasil de Bolsonaro, famintos crescem 73% enquanto bilionários, 48%.
Uol, São Paulo, 09 de jun. de 2022. Disponível em: < Veja mais em https://noticias.uol.com.br/colunas/leonardo-
CONCLUSÃO

A construção da sociedade brasileira é caracterizada por uma complexa e problemática


influência da burguesia. A classe burguesa, composta por proprietários de meios de produção e
detentora de recursos econômicos, exerceu e ainda exerce um papel significativo na definição
dos rumos políticos, econômicos e sociais do país.

Ao longo da história do Brasil, a influência da burguesia se manifestou de diferentes


maneiras, desde a formação de oligarquias agrárias até a consolidação de uma elite empresarial
urbana, desempenhando um papel central na estruturação da economia, no estabelecimento de
relações de trabalho e no desenvolvimento de instituições políticas e sociais. No entanto, essa
influência burguesa também revela complexidades e problemáticas. A concentração de poder
econômico nas mãos de uma minoria privilegiada resultou em desigualdades sociais e
econômicas significativas. A exploração de recursos naturais, a concentração fundiária e a
exclusão de determinados grupos sociais são aspectos problemáticos que permeiam a trajetória
da burguesia brasileira, bem com a prática política como um negócio de família (MONTEIRO,
2016) é uma realidade que pode ser observada em diversos contextos sociopolíticos, incluindo
o Brasil. Trata-se de uma dinâmica na qual o poder político é concentrado em determinadas
famílias que exercem influência e ocupam cargos políticos de maneira sucessiva ao longo do
tempo.

Para interpretar e compreender essa realidade complexa, o pensamento político


brasileiro desempenha um papel crucial. No entanto, é importante destacar que o processo de
construção democrática do Brasil enfrenta desafios significativos, uma vez que a história revela
momentos de reiteradas contestações e incompatibilidades com os parâmetros democráticos. A
herança autoritária e anti-republicana implica a necessidade de reconhecer as raízes históricas
que moldaram a sociedade brasileira. Essas questões são fundamentais para a compreensão da
concepção de nação no contexto brasileiro e exigem uma análise aprofundada das contradições
presentes nessa realidade de reiteradas contestações de incompatibilidade com os parâmetros
democráticos, de modo que a história da construção democrática do país envolve um momento
novo, porém com uma civilização velha. Isso significa que, apesar das mudanças e avanços em

sakamoto/2022/06/09/brasil-que-passa-fome-cresceu-73-e-o-que-tem-mais-de-us-1-bi-subiu-
48.htm?cmpid=copiaecola >. Acesso em: 15 de jun. de 2023
direção à democracia, ainda existem resquícios de uma mentalidade e estrutura social antiga
que persistem e impactam o desenvolvimento democrático do Brasil.

REFERÊNCIAS

BRANDÃO, Gildo Marçal. Linhagens do pensamento político brasileiro. São Paulo:


Aderaldo & Rothschild Editores, 2007.
FAORO, Raymundo. Existe um pensamento político brasileiro?. Estudos avançados,
v. 1, p. 9-58, 1987.
LYNCH, Christian Edward Cyril. Por que pensamento e não teoria?: a imaginação
político-social brasileira e o fantasma da condição periférica (1880-1970). Dados, v. 56, p. 727-
767, 2013.
LYNCH, Christian Edward Cyril. Cartografia do pensamento político brasileiro:
conceito, história, abordagens. Revista Brasileira de Ciência Política, p. 75-119, 2016.
SOUZA, Jessé. A elite do atraso: da escravidão à Lava Jato. Leya, 2017.
SINGER, André; ARAUJO, Cicero; BELINELLI, Leonardo. Estado e democracia:
uma introdução ao estudo da política. Editora Schwarcz-Companhia das Letras, 2021.
VIANA, Oliveira. Instituições políticas brasileiras (Metodologia do Direito Público).
Rio de Janeiro/São Paulo. Record, 1974. Vol.2
FERREIRA, Poliana da Silva et al. População Negra e prisão no Brasil: Impactos Da
Covid. Afro Cebrap: Informativo Desigualdades Raciais e Covid-19, São Paulo, v. 4, p. 1-
35, 2020.
MONTEIRO, José Marciano et al. A política como negócio de família: os herdeiros e a
força dos capitais no jogo político das elites da Paraíba (1985-2015). 2016.

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