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TEXTO DE UMA APRESENTAÇÃO DA AUTORA NADIA URBINATI NO BRASIL

Autora de teoria política

Uma breve visão do meu novo livro intitulado:


Democracia desfigurada: opinião, verdade, e o povo (Harvard University Press)
Capítulos a ler: democracia de audiência.
De acordo com a autora, a democracia constitucional enfrentou transformações na Europa e
nos Estados Unidos. (Pág 1)
Segundo a autora, a democracia vai se configurar conforme o governe vigente, ou seja,
trata-se das transformações que podem ocorrer em uma sociedade democrática. (Pág 1)
A partir de um viés crítica, a autora analisa as transformações emblemáticas do governo
parlamentarista, na qual define uma diarquia da decisão e da opinião. Nesse sentido, os
mecanismos institucionais que criam, mantêm a esfera pluralista e aberta do ambiente de
formação da opinião. (Pág 1)

Ao abordar o plebiscito de audiência e a transformação da sociedade em uma democracia


pautada na política de passividade, a autora utiliza a analogia da aparência corpórea para
explorar certas deformidades democráticas. Ao adotar a ideia de que a aparência não se
configura como a substância do corpo político, mas sim aquilo que o corpo irá demonstrar
externamente, Urbinati revela que é possível identificar a identidade de uma democracia a
partir do entendimento da analogia supramencionada:

Uma forma tirânica de governo se caracteriza por alguns traços ou tem uma
aparência que permite ao observador logo constatar sua identidade: eleições sem
datas regulares, nenhuma divisão de poder, nenhuma declaração de direitos.
(URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de
Ciências Sociais, v. 28, p. 06, 2013.)

Segundo a autora, o caráter procedimental e deliberativo anexo a uma forma


parlamentarista da democracia representativa proporciona a possibilidade de existência de
mutações democráticas, uma vez que a soberania nesses sistemas é composta de
procedimentos e opinião. Nesse sentido, a autora estrutura três deformidades da
democracia:

As três deformidades por mim estudadas – o mito epistêmico da verdade ou a


avaliação de procedimentos democráticos sob a perspectiva de seus bons
resultados; o populista ou o mito da unificação do povo sob a opinião da maioria
conduzida por um líder; e o mito plebiscitário ou participação como a coroação de
um líder. (URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira
de Ciências Sociais, v. 28, p. 06, 2013.)
Ao fundamentar o que classifica como uma ordem diárquica, a autora define que a decisão e
a opinião se influenciam, mas ainda que estejam em conflito ou processo de cooperação,
não se fundem. Nesse sentido, enquanto na soberania pré-democrática somente a decisão
daqueles que possuíam os mecanismos de controle decisórios bastava para a definição do
poder soberano, numa democracia o processo da tomada de decisão tem uma direta e
imprescindível relação com a opinião do povo.1

Nesse mesmo sentido, o exercício de procedimentos democráticos irá se exemplificar em


duas ações:

Assim, a tarefa de procedimentos democráticos se desdobra em duas: permitir aos


cidadãos jogar o jogo político e participar, direta e indiretamente, da tomada de
decisões, e exigir e confiar que o jogo é honesto, pois se desenrola de acordo com
regras e em condições iguais para todos, a todos tratando de forma igualitária.
(URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de
Ciências Sociais, v. 28, p. 06, 2013.)

De acordo com a autora, a democracia implementada pelo processo de eleições


representativas necessita que a opinião dos cidadãos em sua atuação na sociedade não seja
negligenciada, uma vez que a tal atividade configura-se como uma forma de participação
popular ativa, ainda que não seja capaz de por si só converter-se em leis:
A democracia, sobretudo quando implementada por eleições e representação, não
pode ignorar o que pensam e dizem os cidadãos quando atuam na sociedade e não
como eleitores, quando não se manifestam por intermédio da decisão (ou seus
votos), mas por meio de sua opinião. (URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da
democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 06, 2013.)

Para Urbinati, ainda que careça de poder de comando, os meios de informação e


comunicação tecnológicos utilizados pela atuação popular na política contemporânea não é
menos importante que os mecanismos institucionais na manutenção das decisões
democráticas:

Os cidadãos assim usam todos os meios de informação e comunicação disponíveis,


de maneira a manifestar sua presença – algo que não é menos valioso que os
procedimentos e as instituições, apesar de carecer de poder de comando.
(URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de
Ciências Sociais, v. 28, p. 06, 2013.)

1
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 06,
2013.
De acordo com a autora, o fórum de opinião pública em uma democracia representativa é
responsável pela difusão de informações e checagem dos mecanismos institucionais, ou seja,
responsável pela crítica pública. Nesse sentido, Urbinati oferece interpretações referentes as
formas de desfiguração das versões epistêmica, populista e plebiscitária:

Sugiro então uma interpretação das versões epistêmica, populista e plebiscitária:


elas são possivelmente radicalizações que nascem de dentro da democracia
representativa bem como de suas margens internas e extremas. (URBINATI, Nadia.
Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p.
07, 2013.)

Em que pese essas transformações por si só não sejam capazes de modificar um regime, ao
modificarem a configuração externa da democracia, criam-se precedentes capazes de
propiciar uma abertura de modificação regimental.2

De acordo com a autora, recentemente, estudiosos da política têm destacado a emergência


de dois fenômenos alarmantes de forma simultânea: em primeiro lugar, a tendência de
privatização e centralização do poder no âmbito da influência na formação da opinião
política; em segundo lugar, o aumento de consensos polarizados e demagógicos que
fragmentam o cenário político em grupos hostis e facciosos. Ademais, Urbinati justifica que
Essas não são características passageiras, mas indicadores de um problema essencial nas
democracias modernas, relacionado às mudanças na esfera pública da formação da opinião,
influenciadas por fenômenos concomitantes, como a diminuição do papel dos partidos
políticos na conexão entre representação e participação, e o aumento da desigualdade
econômica, que tem um impacto direto na distribuição das oportunidades de ter uma "voz"
ou influência na política.3 Trata-se, portanto, de fenômeno essencial aos pressupostos
democráticos.

2
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 07,
2013.
3
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 07,
2013.
O QUE DIZIAM OS FILÓSOFOS SOBRE O FÊNOMENO DOS FÓRUNS PÚBLICOS

No século XIX, John Stuart Mill defendia a ideia de que os meios de comunicação tinham o
potencial de restabelecer a proximidade existente nos diálogos nacionais das antigas
repúblicas, onde os cidadãos se reuniam em uma assembleia e interagiam diretamente na
ágora ou no fórum.4

"A questão, nas democracias constitucionais atuais, não parece ser mais a de
simplesmente proteger os direitos básicos de votar e de competir em eleições. A
questão parece pertencer mais ao domínio da formação da opinião, pois a questão
não é a de 'como proteger a liberdade de expressão do poder do Estado', mas a de
'como o fórum público de ideias pode ter êxito em permanecer um bem público'."
(Habermas, 1991, pp. 211-222)

Conforme mencionado por Baker (2007, p. 18), em relação à arena política em que uma
disposição de ânimo de inclinação aclamativa prevalece e as corporações privadas dominam
o espaço público, a dispersão de proprietários de mídias de massa, como defendido por
alguns acadêmicos, poderia evitar o efeito Berlusconi ou a distorção plebiscitária que
motivou a escrita deste livro.

Segundo Sunstein (2006, pp. 5-19), ao discorrer sobre a Internet, é observado que ela
oferece uma ampla disseminação de informações, porém, ao mesmo tempo, promove a
agregação de milhões de pessoas em torno de pontos de vista endossados por meio da
imitação e da identificação com blogueiros, o que acaba por reproduzir e intensificar antigas
lealdades prejudiciais e sectárias.

Tanto a dispersão de informações na Internet quanto a concentração de mídias têm


impactos igualmente negativos, já que ambos promovem o surgimento de um sectarismo
militante e a formação de nichos autorreferentes e uniformes de pessoas com opiniões
inflexíveis.5

4
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 07,
2013.
5
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 08,
2013.
De acordo com a autora, os fenômenos de redução do envolvimento dos eleitores nas
eleições, função desempenhada pelos partidos políticos e a divisão da sociedade em grupos
de opiniões pessoais estão interligados:

O declínio (nas sociedades ocidentais) da participação eleitoral e do papel dos


partidos políticos e a fragmentação do público em nichos de opiniões privadas são
fenômenos interligados que merecem ser tratados como indicações de
metamorfoses da democracia representativa. Neste cenário atual, que concerne a
todas as democracias consolidadas, situo a analise teórica das três formas de
desfiguração da política democrática: a epistêmica, a populista e a plebiscitária;
assim como a reação contra ou o uso instrumental do fato de que a democracia é
uma forma de governo de, e baseada em, recursos de opinião. (URBINATI, Nadia.
Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p.
08, 2013.)

Sartori destaca a importância do poder eleitoral como uma garantia fundamental da


democracia. No entanto, ele argumenta que a garantia substancial da democracia não reside
apenas no ato de votar, mas também nas condições em que os cidadãos obtêm informações
e são influenciados pelos formadores de opinião.
Para Sartori, as eleições são um meio para alcançar um fim, que é um governo baseado na
opinião pública. Ele enfatiza que os governantes devem estar atentos às demandas e
preferências dos cidadãos, reagindo às suas opiniões e sendo responsáveis perante elas.
Assim, Sartori destaca a necessidade de um ambiente de informação adequado e de uma
participação ativa dos cidadãos na formação da opinião pública. Ele ressalta que as eleições
não são apenas um evento isolado, mas um processo contínuo em que a vontade dos
eleitores deve ser levada em consideração ao tomar decisões governamentais. (Sartori,
1987, pp. 86-87)

A igualdade de oportunidade dos cidadãos para participar da formação e expressão de


opiniões políticas, exercendo sua influência política sobre as instituições representativas,
juntamente com a qualidade do espaço público de discussão de ideias, são elementos
interligados e fundamentais para constituição da liberdade política. Esses fatores são
essenciais, assim como o direito de voto, e não requerem comprovação empírica. Além
disso, um espaço de debate aberto é imprescindível, mesmo que não aprendamos a votar
unicamente através do ato de votar ou que um debate público amplo e robusto não garanta
que tomemos decisões corretas e racionais. Portanto, tem-se o entendimento de que a
informação não se transforma automaticamente em conhecimento.6

6
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 09,
2013.
De acordo com a autora Nádia Urbinati, O que realmente caracteriza a democracia moderna,
mais do que o simples ato de votar, é a influência indireta das opiniões e a presença do
pluralismo, com suas diversas e muitas vezes conflitantes expressões.7
Nesse sentido, a democracia representativa se baseia no poder do voto, que substitui a
violência e conta cabeças em vez de quebrá-las. O peso dos votos é mais importante do que
simplesmente contar números. As opiniões políticas, expressas pelos candidatos e
incorporadas nas propostas políticas, criam uma narrativa e uma temporalidade. Elas
conectam os eleitores ao longo do tempo e representam a sociedade como um todo, suas
aspirações e problemas.8
As opiniões políticas não têm o mesmo peso, mesmo se obtiverem o mesmo número de
votos. A dialética partidária e o ato de votar têm significado porque o objetivo não é igualar
o valor das opiniões, mas sim dar peso às ideias. As opiniões buscam visibilidade além do dia
da eleição e têm o poder de influenciar a tomada de decisões políticas.9
A democracia representativa é única porque não se limita apenas ao momento das eleições.
Ela se baseia no movimento contínuo das opiniões entre as instituições do Estado e a
sociedade. Isso dá sentido à democracia como uma forma de governo compartilhado, onde
as opiniões desempenham um papel fundamental.10

Os fenômenos populistas e plebiscitários surgem na democracia diárquica como uma forma


de superar a separação entre decisão e opinião. Eles buscam a unanimidade, algo que tem
sido idealizado nas comunidades democráticas desde a antiguidade.11
Nesse sentido, a autora Nádia Urbanati argumenta:

Nesse sentido, argumento que essas desfigurações são possibilidades internas das
facetas da democracia e não acidentes externos a ela. (URBINATI, Nadia. Crise e
metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 08,
2013.)

7
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 09,
2013.
8
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 09,
2013.
9
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 09,
2013.
10
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 09,
2013.
11
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 09,
2013.
Considerando a relação entre opinião pública e decisões políticas, é muito importante se
preocupar com a possibilidade de que os ricos ou grupos sociais mais poderosos tenham
uma influência desproporcional sobre os eleitores e o governo. Essa preocupação é
extremamente importante.12
De acordo com Dawood, pesquisas empíricas provam que esta preocupação é bem
caracterizada quando demonstram como a desigualdade econômica e a desigualdade
política se reforçam mutuamente, resultando no fato de que a riqueza tende mais a reforçar
do que a distribuir o poder com o passar do tempo. (Dawood, 2007, p. 147).

Os teóricos da democracia acreditam que a evidência mostra que na democracia


representativa os cidadãos enfrentam uma nova forma de corrupção, chamada de dupla
corrupção. Essa corrupção consiste em excluir pessoas com igual cidadania de ter uma
presença significativa nos espaços de opinião. Os excluídos não têm a oportunidade de
comprovar sua exclusão, mesmo que tenham o direito de votar, o que seria uma prova
factual de igualdade de cidadania.13

John Rawls afirmou de forma bastante clara que, em um regime democrático, é fundamental
a garantia da liberdade de expressão, a possibilidade de reunião, a liberdade de pensamento
e a liberdade de consciência. Essas condições não são apenas exigidas pelo princípio da
liberdade, mas são essenciais para permitir que qualquer assunto político seja examinado de
forma aberta e crítica.14

12
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 09,
2013.
13
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 09,
2013.
14
Rawls, J. (1971). A Theory of Justice. p. 225.
Embora não seja possível comprovar de forma convincente uma relação causal entre o
conteúdo midiático, a opinião pública e a qualidade dos resultados ou decisões políticas
(ausência de dados que comprovem que Berlusconi ganhou três eleições devido ao seu
império midiático-televisivo), é fundamental que todos tenham igual oportunidade de
participar da formação das opiniões políticas.15

NÁDIA URBINATI BASEIA-SE, PREPONDERANTEMENTE, DO PENSAMENTO ACADÊMICO DA


TEORIA POLÍTICA NOS ESTADOS UNIDOS
Segundo a autora, o fenômeno não se limita apenas aos Estados Unidos, porém, podemos
observar uma mudança evidente que é teoricamente valorizada e justificada. 16

A democracia plebiscitária é uma possibilidade inerente à democracia representativa. Isso


pode ser observado ao considerarmos as múltiplas funções da esfera da opinião pública:
cognitiva, política e estética. Essa esfera é um fenômeno complexo que pode fortalecer a
democracia e também impulsionar mudanças em suas características observáveis. 17

No momento em que os líderes se dirigem diretamente ao povo, acabam por radicalizar as


questões, fazendo com que a negociação entre as partes se torne mais difícil; isso torna o
terreno da política naturalmente fértil à liderança ativista.18

De acordo com a autora Nádia Urbinati:

Os meios de comunicação de massa, bem como o sistema eletrônico de


comunicação direta constituem um suporte sem precedentes para a democracia de
audiência.

Isso quer dizer que o mundo criado pelos meios de comunicação de massa
é o próprio mundo, uma realidade única e total. (URBINATI, Nadia. Crise e
metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p.
08, 2013.)

15
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 10,
2013.
16
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 10,
2013.
17
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 10,
2013.
18
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 10,
2013.
A falta de contato direto com a audiência é o que garante um elevado nível de liberdade
para os meios de comunicação. Além disso, os receptores desempenham um papel passivo,
enquanto os meios de comunicação mantêm uma verdadeira independência. 19

A IDEIA PRINCIPAL DOS TEÓRICOS DO PLEBISCITO DE AUDIÊNCIA:

Embora líderes ao longo da história e em diferentes locais tenham sido atraídos a manipular
o consentimento das pessoas, é através do uso das palavras que eles encontram maior
probabilidade de obter sucesso em suas intenções.20

Os teóricos do plebiscito de audiência argumentam que a capacidade visual das pessoas


confere ao público um poder sobre os líderes, algo que a voz e a opinião por si só são
incapazes de fazer. Segundo essa ideia, as imagens são mais impactantes para a
popularidade do que as palavras, uma vez que os atores têm dificuldade em se esconder, ao
contrário do que podem fazer com suas palavras manipuladas. Embora os líderes tenham
sido tentados a manipular o consentimento das pessoas ao longo da história, são as palavras
que têm maior probabilidade de alcançar sucesso em suas intenções. As imagens estão mais
acessíveis aos espectadores do que as palavras, e os líderes estão sujeitos à influência da
moda, assim como qualquer outra pessoa. É essa condição que torna o poder das imagens
mais igualitário e sua capacidade de exercer pressão mais efetiva.21

Ao colocar o público como elemento central, reconhece-se e aceita-se a existência do


desequilíbrio de poder entre aqueles que são governados e aqueles que governam, sujeitos
às regras do mercado. Em suma, a democracia visual troca a autonomia dos cidadãos pela
visibilidade dos líderes, em que a publicidade desses líderes se torna uma troca pela
liberdade individual dos cidadãos.22
Ser um líder político em um governo orientado pela audiência é uma responsabilidade
desafiadora. Essa forma de governo coloca a audiência como o único meio de controle sobre
o líder. Para manter-se no poder e utilizar as ferramentas do Estado, o líder precisa abrir

19
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 10,
2013.
20
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 11,
2013.

21
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 11,
2013.
22
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 11,
2013.
mão de parte de sua liberdade individual. Desse modo, o líder está constantemente sob
escrutínio do povo, sendo observado permanentemente, ou seja, essa condição cria um
fardo adicional para as figuras públicas em uma democracia plebiscitária focada na
visibilidade e opinião popular.23

Os autores Posner, Vermeule e Green chegam à conclusão de que o público tem o potencial
de substituir os procedimentos e instituições de controle, inclusive na divisão de poderes,
limitando assim o poder do Estado, ou seja, a democracia de audiência pode romper a
relação tradicional entre instituições e opinião, sem alterar a natureza do governo
democrático. Essa dinâmica sugere que a participação e influência do público podem
desempenhar um papel significativo na forma como o poder é exercido, ampliando as
possibilidades de controle democrático.24
No entanto, a autora Nádia Urbinati discorda dos autores supramencionados, citando o caso
italiano de Silvio Berlusconi para corroborar seu entendimento contrário. De acordo com a
autora, Expor a vida pessoal do primeiro-ministro ao escrutínio público não tem o efeito de
controlar ou limitar seu poder; além disso, isso nunca o impediu de viver sua vida como
preferia. Embora o fato de que Berlusconi possuísse ou controlasse seis emissoras de
televisão nacionais tenha sido um fator agravante, não foi o único motivo que levou o
público italiano a ser uma democracia passiva, incapaz de controlá-lo com facilidade. 25

Nesse sentido, o paradoxo de enfatizar a estética da opinião pública em detrimento da


compreensão e participação política. Isso leva à falta de atenção ao fato de que as imagens
são uma fonte de julgamento que valoriza mais os gostos individuais e reações emocionais
do que as questões políticas ou morais em si.
Segundo Immanuel Kant, o gosto é o que exalta, mas não contém as potencialidades
retóricas da visão, tornando-a isolada em vez de promover a comunicação. O gosto é um
assunto subjetivo e individual, sendo impossível disputá-lo. O máximo que pode-se fazer é
buscar um "acordo mútuo" em relação ao gosto e trabalhar para torná-lo possível.
Importante mencionar as prioridades da televisão, que se baseiam no "furo" jornalístico, em
uma boa imagem e nos índices de audiência, visando alcançar o maior público possível. 26
Dessa forma, a predominância do poder visual pode levar o público exatamente na direção
oposta àquela pretendida pelos defensores da democracia plebiscitária. Na realidade, se
estivermos corretos em relação ao conceito de gosto, fica evidente que o público não

23
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 11,
2013.
24
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 11,
2013.
25
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 11,
2013.
26
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 11,
2013.
controla o líder, mas, sim, sugere ao líder o que ele deve fazer ou evitar, alinhando-se com
as preferências e gostos das pessoas (que nem sempre são os mesmos dos interesses dos
cidadãos). 27
Nesse sentido, a experiência italiana durante os anos de Berlusconi confirma essa avaliação,
pois ele governou como um líder plebiscitário em uma democracia de audiência, na qual os
assuntos da conversa política eram ditados pela lógica do marketing comercial e da
publicidade. Os assuntos políticos foram excluídos do discurso público simplesmente porque
não eram atrativos nem para os proprietários e responsáveis pelas emissoras de televisão,
nem para os espectadores.28

O vídeo-espectador total, ou seja, aqueles que colocam um "fardo extra" sobre as figuras
públicas, apresenta um paradoxo interessante. Apesar disso, as decisões políticas
permanecem obscurecidas e invisíveis, pois geralmente não são atrativas o suficiente para
satisfazer o gosto estético e os desejos espetaculares da multidão televisiva.
Como resultado, os cidadãos italianos pagaram o preço de ter pouca consciência das ações
dos políticos eleitos. Isso ocorreu devido ao poderoso impacto da audiência visual, que foi
alimentada com uma forma de informação projetada para impressionar a mente das
pessoas. Essa estratégia foi realizada por meio de imagens carregadas de assuntos
relacionados ao gosto pessoal ou às emoções instintivas. Ao transformar a vida do líder em
um espetáculo público, sob o pretexto de publicidade, foi possível criar uma nova forma de
opacidade.29
O exemplo italiano ilustra como a transição de uma base política para a divulgação dos
programas partidários resultou em um enfraquecimento do controle popular e, na realidade,
privou o povo da capacidade de análise crítica.30

Segundo a interpretação da autora Nádia Urbinati, Alessandro Pizzorno analisou esse


paradoxo decorrente da transformação como um indício do declínio da linguagem e do

27
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 11,
2013.
28
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 11,
2013.
29
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 12,
2013.
30
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 12,
2013.
discernimento político, bem como da subsequente substituição por uma linguagem e
discernimento subjetivos baseados na moralidade e no gosto individual.31

A predominância dos símbolos em relação aos programas, da personalidade do líder em


relação ao conjunto de apoiadores do partido, reflete a ênfase nas qualidades morais em
detrimento das qualidades políticas na formulação do julgamento político por parte dos
cidadãos. Dessa forma, observa-se o declínio das virtudes políticas, como prudência,
competência, entre outras.32

COMO RESULTADO DA TRANSFORMAÇÃO/DECLÍNIO DO DISCERNIMENTO PÚBLICO E


CRIAÇÃO DA DEMOCRACIA DE AUDIÊNCIA:
- Em suma, o plebiscito de audiência facilita a corrupção
Um efeito evidente dessa mudança pode ser observado no aumento da dissimulação de
questões políticas diante do público, uma vez que aquilo que deveria ser o foco da
visibilidade pública não desperta tanto interesse nos telespectadores e especialistas da
mídia quanto a figura do líder.33
COMO AS OPNIÕES SE TORNAM PÚBLICAS E COMO O CIDADÃO PARTICIPA EFETIVAMENTE
DA DEMOCRACIA?
Para que as opiniões se tornem públicas, não basta apenas que sejam divulgadas; é
necessário que elas façam parte da "coisa pública", do interesse coletivo. A avaliação dessa
pertinência é algo que os cidadãos desenvolvem de forma livre, quando participam
ativamente na elaboração de decisões e na formação de suas opiniões como cidadãos, e não
meramente como espectadores privado. Eles agem dessa maneira ao realizar atividades
além de apenas observar, como se engajar em movimentos, associações e eleições,
tornando seus representantes cientes de seus problemas e interesses, questionando-os e
decidindo se os apoiam ou rejeitam por meio do voto.34

Os cidadãos contribuem para construir o que é público quando induzem o Estado a fazer o
que deve, segundo Kant: submeter as suas ações ao julgamento dos cidadãos, a fim de

31
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 12,
2013.
32
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 12,
2013.
33
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 12,
2013.
34
URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 13,
2013.
serem avaliadas de acordo com os princípios do uso público de sua razão, isto é, pela
igualdade de consideração e liberdade.35

Contudo, é importante identificar o momento exato em que ocorre a publicidade das ações
públicas. Esse processo tem início quando as ações estão sendo planejadas pelos políticos ou
quando são discutidas e debatidas nas instituições públicas, tais como assembleias ou fóruns
públicos.36

CRISE DA DEMOCRACIA PARTIDÁRIA E ASCENÇÃO DA DEMOCRACIA POPULAR PAUTADA NA


MÍDIA/PODER VISUAL

- link com Noam Chomsky

O livro de Bernard Manin aborda o declínio da democracia partidária e o surgimento de uma


democracia pública, na qual a confiança no líder e a aceitação do poder discricionário do
executivo se alinham com uma mudança na forma como as eleições políticas são
organizadas. Agora, em vez de serem lideradas por políticos e militantes, essas eleições são
dominadas por especialistas em comunicação. Isso traz consigo uma "democracia popular"
centrada no "expertise" midiático e na celebração do poder visual.37
Nesse sentido, as eleições na democracia partidária eram essencialmente centradas na
expressão oral e na vontade política, com a participação sendo o destaque central da
soberania popular. No entanto, na democracia pública, a presença pública se tornou o
elemento definidor da arte política. Nesse contexto, a concepção de Manin sobre a
democracia de audiência representa um avanço perspicaz e influente ao considerar a
participação como um ato de assistir.
Manin sustentou em seu diagnóstico que a transição da democracia partidária para a
democracia de audiência ocorre quando o público espectador se torna o juiz soberano.
Nesse sentido, ele ressaltou a importância do consentimento e do debate como
fundamentais para a legitimidade, rejeitando a noção de que apenas o ato de julgar é
suficiente para garantir a autogovernança. Dessa forma, Manin analisou a mudança da
democracia partidária para a democracia de audiência como uma redução do poder
soberano do povo, resultando em um enfraquecimento da capacidade dos cidadãos de
tomar decisões.38

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URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 13,
2013.
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URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 13,
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URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 14,
2013.
Na democracia partidária, a expectativa futura dos votantes não é substituída pela imagem
do candidato, como ocorre na democracia plebiscitária, na qual as eleições são baseadas
principalmente na imagem do candidato, tornando a referência aos programas e
plataformas quase irrelevantes. Isso acarreta na falta de sentido da prestação de contas,
uma vez que os eleitores não têm controle sobre os assuntos e políticas, nem mesmo
durante a campanha eleitoral. Manin claramente considerou a transição de um ambiente de
debate e participação para um de mera observação e passividade como uma consequência
negativa, ao invés de uma melhoria.39
Nas palavras de Manin:

A bem dizer, ele concluiu, em seu livro, com estas palavras desconfortáveis: “o
governo representativo parece ter cessado o seu progresso rumo a uma
autogovernança popular”. (URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia.
Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 14-15, 2013.)

Nesse sentido, a transição visual do público não significa necessariamente uma participação
social efetiva e capaz de obter o controle. Ao excluir as pessoas de sua "capacidade de serem
criadoras de normas e leis" (direta ou indiretamente), a esfera pública passa a desempenhar
um papel puramente estético, cujo impacto está mais relacionado à diversão do que ao
controle.40
A diarquia entre decisão e opinião é o fator que confere às pessoas na democracia o papel
de controladores, pois envolve uma comunicação estruturada entre representantes e
representados (regulada por procedimentos e normas constitucionais, além de ser mediada
por associações intermediárias, como partidos políticos e organizações civis).41
O poder executivo, ou seja, o presidente, pode realizar entrevistas coletivas periódicas, ou os
candidatos podem participar de debates abertos e sinceros na televisão. No entanto, essas
ações, que transformam a arena política em uma experiência de confronto, ainda são
inadequadas para sujeitá-los ao poder de controle das pessoas.42
Os perigos para a democracia surgem de dentro do complexo mundo da formação de
opinião, nessa vasta gama de meios de comunicação, que envolvem o poder indireto das
ideias criadas e reproduzidas pela liberdade de expressão e associação. Esses perigos se
manifestam, tanto na forma de identificação plebiscitária com um líder público, cuja
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URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 14,
2013.
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URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 14,
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URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 15,
2013.
popularidade o torna carismático, quanto na forma de reivindicações populistas que buscam
representar todo um povo ou atribuir um verdadeiro significado aos valores e à história de
uma nação. Essas funções aparentemente autoafirmativas da mobilização das pessoas são,
na verdade, um fenômeno preocupante de passividade e submissão política, capazes de
alterar a natureza da democracia.43

RESUMO:
A autora argumenta que a democracia constitucional enfrentou transformações na Europa e
nos Estados Unidos. Ela discute as mudanças na configuração da democracia de acordo com
o governo vigente e analisa as transformações do governo parlamentarista. A autora
identifica três deformidades da democracia: o mito epistêmico da verdade, o populismo e o
mito plebiscitário. Ela destaca a importância da participação ativa dos cidadãos na formação
da opinião política e a influência dos meios de informação e comunicação tecnológicos. A
autora enfatiza a necessidade de um fórum de opinião pública na democracia representativa
e aborda as mudanças na esfera pública da formação da opinião. Ela destaca que as
transformações externas da democracia podem criar precedentes para uma abertura de
modificação regimental. A autora também discute a relação entre a fragmentação da
sociedade em grupos de opiniões pessoais, a diminuição do papel dos partidos políticos e a
desigualdade econômica. Por fim, ela destaca a importância do espaço público de discussão
de ideias e do pluralismo na democracia moderna.
Urbinati (2013) elucida que a conclusão do autor é o declínio da democracia de partido
político e a ascensão da democracia do público. Ao abordar a teoria formulada por Manin
(1995), Urbinati (2013) esclarece que sua conclusão aponta para o declínio da democracia
baseada em partidos políticos e o surgimento de uma democracia voltada ao público. Nesse
novo contexto, a confiança depositada no líder e a aceitação gradual de um poder
discricionário por parte do Executivo se unem como estratégias para reorganizar o sistema
eleitoral democrático. Conforme discutido por Mendes (2022), essa reorganização direciona-
se agora a partidos especializados em comunicação e a candidatos que buscam uma carreira
política, delineando assim as transformações presentes na dinâmica democrática
contemporânea.

Os teóricos do plebiscito de audiência argumentam que o poder visual das imagens confere
ao público um controle sobre os líderes políticos, tornando-se mais impactante e eficaz do
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URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 15,
2013.
que as palavras manipuladas. A democracia de audiência coloca o público como elemento
central, substituindo os procedimentos e instituições de controle tradicionais. No entanto,
há controvérsias sobre se essa forma de governo realmente proporciona controle popular,
como exemplificado pelo caso de Silvio Berlusconi na Itália. A ênfase na estética da opinião
pública em detrimento da participação política pode levar à falta de atenção às questões
políticas e morais. A predominância do poder visual pode resultar em uma dissimulação das
questões políticas diante do público e na privação dos cidadãos da capacidade de análise
crítica. A transição da democracia partidária para a democracia de audiência traz consigo
uma ênfase na imagem do líder em detrimento dos programas e plataformas políticas,
enfraquecendo a capacidade dos cidadãos de tomar decisões e controlar o governo. A
participação efetiva na democracia requer atividades além da simples observação, como o
engajamento em movimentos, associações e eleições. A transição visual do público não
garante o controle efetivo e pode transformar a esfera pública em uma experiência estética
sem poder de controle.

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