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Uma forma tirânica de governo se caracteriza por alguns traços ou tem uma
aparência que permite ao observador logo constatar sua identidade: eleições sem
datas regulares, nenhuma divisão de poder, nenhuma declaração de direitos.
(URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de
Ciências Sociais, v. 28, p. 06, 2013.)
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URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 06,
2013.
De acordo com a autora, o fórum de opinião pública em uma democracia representativa é
responsável pela difusão de informações e checagem dos mecanismos institucionais, ou seja,
responsável pela crítica pública. Nesse sentido, Urbinati oferece interpretações referentes as
formas de desfiguração das versões epistêmica, populista e plebiscitária:
Em que pese essas transformações por si só não sejam capazes de modificar um regime, ao
modificarem a configuração externa da democracia, criam-se precedentes capazes de
propiciar uma abertura de modificação regimental.2
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URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 07,
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O QUE DIZIAM OS FILÓSOFOS SOBRE O FÊNOMENO DOS FÓRUNS PÚBLICOS
No século XIX, John Stuart Mill defendia a ideia de que os meios de comunicação tinham o
potencial de restabelecer a proximidade existente nos diálogos nacionais das antigas
repúblicas, onde os cidadãos se reuniam em uma assembleia e interagiam diretamente na
ágora ou no fórum.4
"A questão, nas democracias constitucionais atuais, não parece ser mais a de
simplesmente proteger os direitos básicos de votar e de competir em eleições. A
questão parece pertencer mais ao domínio da formação da opinião, pois a questão
não é a de 'como proteger a liberdade de expressão do poder do Estado', mas a de
'como o fórum público de ideias pode ter êxito em permanecer um bem público'."
(Habermas, 1991, pp. 211-222)
Conforme mencionado por Baker (2007, p. 18), em relação à arena política em que uma
disposição de ânimo de inclinação aclamativa prevalece e as corporações privadas dominam
o espaço público, a dispersão de proprietários de mídias de massa, como defendido por
alguns acadêmicos, poderia evitar o efeito Berlusconi ou a distorção plebiscitária que
motivou a escrita deste livro.
Segundo Sunstein (2006, pp. 5-19), ao discorrer sobre a Internet, é observado que ela
oferece uma ampla disseminação de informações, porém, ao mesmo tempo, promove a
agregação de milhões de pessoas em torno de pontos de vista endossados por meio da
imitação e da identificação com blogueiros, o que acaba por reproduzir e intensificar antigas
lealdades prejudiciais e sectárias.
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De acordo com a autora, os fenômenos de redução do envolvimento dos eleitores nas
eleições, função desempenhada pelos partidos políticos e a divisão da sociedade em grupos
de opiniões pessoais estão interligados:
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De acordo com a autora Nádia Urbinati, O que realmente caracteriza a democracia moderna,
mais do que o simples ato de votar, é a influência indireta das opiniões e a presença do
pluralismo, com suas diversas e muitas vezes conflitantes expressões.7
Nesse sentido, a democracia representativa se baseia no poder do voto, que substitui a
violência e conta cabeças em vez de quebrá-las. O peso dos votos é mais importante do que
simplesmente contar números. As opiniões políticas, expressas pelos candidatos e
incorporadas nas propostas políticas, criam uma narrativa e uma temporalidade. Elas
conectam os eleitores ao longo do tempo e representam a sociedade como um todo, suas
aspirações e problemas.8
As opiniões políticas não têm o mesmo peso, mesmo se obtiverem o mesmo número de
votos. A dialética partidária e o ato de votar têm significado porque o objetivo não é igualar
o valor das opiniões, mas sim dar peso às ideias. As opiniões buscam visibilidade além do dia
da eleição e têm o poder de influenciar a tomada de decisões políticas.9
A democracia representativa é única porque não se limita apenas ao momento das eleições.
Ela se baseia no movimento contínuo das opiniões entre as instituições do Estado e a
sociedade. Isso dá sentido à democracia como uma forma de governo compartilhado, onde
as opiniões desempenham um papel fundamental.10
Nesse sentido, argumento que essas desfigurações são possibilidades internas das
facetas da democracia e não acidentes externos a ela. (URBINATI, Nadia. Crise e
metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 08,
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Considerando a relação entre opinião pública e decisões políticas, é muito importante se
preocupar com a possibilidade de que os ricos ou grupos sociais mais poderosos tenham
uma influência desproporcional sobre os eleitores e o governo. Essa preocupação é
extremamente importante.12
De acordo com Dawood, pesquisas empíricas provam que esta preocupação é bem
caracterizada quando demonstram como a desigualdade econômica e a desigualdade
política se reforçam mutuamente, resultando no fato de que a riqueza tende mais a reforçar
do que a distribuir o poder com o passar do tempo. (Dawood, 2007, p. 147).
John Rawls afirmou de forma bastante clara que, em um regime democrático, é fundamental
a garantia da liberdade de expressão, a possibilidade de reunião, a liberdade de pensamento
e a liberdade de consciência. Essas condições não são apenas exigidas pelo princípio da
liberdade, mas são essenciais para permitir que qualquer assunto político seja examinado de
forma aberta e crítica.14
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Rawls, J. (1971). A Theory of Justice. p. 225.
Embora não seja possível comprovar de forma convincente uma relação causal entre o
conteúdo midiático, a opinião pública e a qualidade dos resultados ou decisões políticas
(ausência de dados que comprovem que Berlusconi ganhou três eleições devido ao seu
império midiático-televisivo), é fundamental que todos tenham igual oportunidade de
participar da formação das opiniões políticas.15
Isso quer dizer que o mundo criado pelos meios de comunicação de massa
é o próprio mundo, uma realidade única e total. (URBINATI, Nadia. Crise e
metamorfoses da democracia. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p.
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A falta de contato direto com a audiência é o que garante um elevado nível de liberdade
para os meios de comunicação. Além disso, os receptores desempenham um papel passivo,
enquanto os meios de comunicação mantêm uma verdadeira independência. 19
Embora líderes ao longo da história e em diferentes locais tenham sido atraídos a manipular
o consentimento das pessoas, é através do uso das palavras que eles encontram maior
probabilidade de obter sucesso em suas intenções.20
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mão de parte de sua liberdade individual. Desse modo, o líder está constantemente sob
escrutínio do povo, sendo observado permanentemente, ou seja, essa condição cria um
fardo adicional para as figuras públicas em uma democracia plebiscitária focada na
visibilidade e opinião popular.23
Os autores Posner, Vermeule e Green chegam à conclusão de que o público tem o potencial
de substituir os procedimentos e instituições de controle, inclusive na divisão de poderes,
limitando assim o poder do Estado, ou seja, a democracia de audiência pode romper a
relação tradicional entre instituições e opinião, sem alterar a natureza do governo
democrático. Essa dinâmica sugere que a participação e influência do público podem
desempenhar um papel significativo na forma como o poder é exercido, ampliando as
possibilidades de controle democrático.24
No entanto, a autora Nádia Urbinati discorda dos autores supramencionados, citando o caso
italiano de Silvio Berlusconi para corroborar seu entendimento contrário. De acordo com a
autora, Expor a vida pessoal do primeiro-ministro ao escrutínio público não tem o efeito de
controlar ou limitar seu poder; além disso, isso nunca o impediu de viver sua vida como
preferia. Embora o fato de que Berlusconi possuísse ou controlasse seis emissoras de
televisão nacionais tenha sido um fator agravante, não foi o único motivo que levou o
público italiano a ser uma democracia passiva, incapaz de controlá-lo com facilidade. 25
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controla o líder, mas, sim, sugere ao líder o que ele deve fazer ou evitar, alinhando-se com
as preferências e gostos das pessoas (que nem sempre são os mesmos dos interesses dos
cidadãos). 27
Nesse sentido, a experiência italiana durante os anos de Berlusconi confirma essa avaliação,
pois ele governou como um líder plebiscitário em uma democracia de audiência, na qual os
assuntos da conversa política eram ditados pela lógica do marketing comercial e da
publicidade. Os assuntos políticos foram excluídos do discurso público simplesmente porque
não eram atrativos nem para os proprietários e responsáveis pelas emissoras de televisão,
nem para os espectadores.28
O vídeo-espectador total, ou seja, aqueles que colocam um "fardo extra" sobre as figuras
públicas, apresenta um paradoxo interessante. Apesar disso, as decisões políticas
permanecem obscurecidas e invisíveis, pois geralmente não são atrativas o suficiente para
satisfazer o gosto estético e os desejos espetaculares da multidão televisiva.
Como resultado, os cidadãos italianos pagaram o preço de ter pouca consciência das ações
dos políticos eleitos. Isso ocorreu devido ao poderoso impacto da audiência visual, que foi
alimentada com uma forma de informação projetada para impressionar a mente das
pessoas. Essa estratégia foi realizada por meio de imagens carregadas de assuntos
relacionados ao gosto pessoal ou às emoções instintivas. Ao transformar a vida do líder em
um espetáculo público, sob o pretexto de publicidade, foi possível criar uma nova forma de
opacidade.29
O exemplo italiano ilustra como a transição de uma base política para a divulgação dos
programas partidários resultou em um enfraquecimento do controle popular e, na realidade,
privou o povo da capacidade de análise crítica.30
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discernimento político, bem como da subsequente substituição por uma linguagem e
discernimento subjetivos baseados na moralidade e no gosto individual.31
Os cidadãos contribuem para construir o que é público quando induzem o Estado a fazer o
que deve, segundo Kant: submeter as suas ações ao julgamento dos cidadãos, a fim de
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serem avaliadas de acordo com os princípios do uso público de sua razão, isto é, pela
igualdade de consideração e liberdade.35
Contudo, é importante identificar o momento exato em que ocorre a publicidade das ações
públicas. Esse processo tem início quando as ações estão sendo planejadas pelos políticos ou
quando são discutidas e debatidas nas instituições públicas, tais como assembleias ou fóruns
públicos.36
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Na democracia partidária, a expectativa futura dos votantes não é substituída pela imagem
do candidato, como ocorre na democracia plebiscitária, na qual as eleições são baseadas
principalmente na imagem do candidato, tornando a referência aos programas e
plataformas quase irrelevantes. Isso acarreta na falta de sentido da prestação de contas,
uma vez que os eleitores não têm controle sobre os assuntos e políticas, nem mesmo
durante a campanha eleitoral. Manin claramente considerou a transição de um ambiente de
debate e participação para um de mera observação e passividade como uma consequência
negativa, ao invés de uma melhoria.39
Nas palavras de Manin:
A bem dizer, ele concluiu, em seu livro, com estas palavras desconfortáveis: “o
governo representativo parece ter cessado o seu progresso rumo a uma
autogovernança popular”. (URBINATI, Nadia. Crise e metamorfoses da democracia.
Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 28, p. 14-15, 2013.)
Nesse sentido, a transição visual do público não significa necessariamente uma participação
social efetiva e capaz de obter o controle. Ao excluir as pessoas de sua "capacidade de serem
criadoras de normas e leis" (direta ou indiretamente), a esfera pública passa a desempenhar
um papel puramente estético, cujo impacto está mais relacionado à diversão do que ao
controle.40
A diarquia entre decisão e opinião é o fator que confere às pessoas na democracia o papel
de controladores, pois envolve uma comunicação estruturada entre representantes e
representados (regulada por procedimentos e normas constitucionais, além de ser mediada
por associações intermediárias, como partidos políticos e organizações civis).41
O poder executivo, ou seja, o presidente, pode realizar entrevistas coletivas periódicas, ou os
candidatos podem participar de debates abertos e sinceros na televisão. No entanto, essas
ações, que transformam a arena política em uma experiência de confronto, ainda são
inadequadas para sujeitá-los ao poder de controle das pessoas.42
Os perigos para a democracia surgem de dentro do complexo mundo da formação de
opinião, nessa vasta gama de meios de comunicação, que envolvem o poder indireto das
ideias criadas e reproduzidas pela liberdade de expressão e associação. Esses perigos se
manifestam, tanto na forma de identificação plebiscitária com um líder público, cuja
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popularidade o torna carismático, quanto na forma de reivindicações populistas que buscam
representar todo um povo ou atribuir um verdadeiro significado aos valores e à história de
uma nação. Essas funções aparentemente autoafirmativas da mobilização das pessoas são,
na verdade, um fenômeno preocupante de passividade e submissão política, capazes de
alterar a natureza da democracia.43
RESUMO:
A autora argumenta que a democracia constitucional enfrentou transformações na Europa e
nos Estados Unidos. Ela discute as mudanças na configuração da democracia de acordo com
o governo vigente e analisa as transformações do governo parlamentarista. A autora
identifica três deformidades da democracia: o mito epistêmico da verdade, o populismo e o
mito plebiscitário. Ela destaca a importância da participação ativa dos cidadãos na formação
da opinião política e a influência dos meios de informação e comunicação tecnológicos. A
autora enfatiza a necessidade de um fórum de opinião pública na democracia representativa
e aborda as mudanças na esfera pública da formação da opinião. Ela destaca que as
transformações externas da democracia podem criar precedentes para uma abertura de
modificação regimental. A autora também discute a relação entre a fragmentação da
sociedade em grupos de opiniões pessoais, a diminuição do papel dos partidos políticos e a
desigualdade econômica. Por fim, ela destaca a importância do espaço público de discussão
de ideias e do pluralismo na democracia moderna.
Urbinati (2013) elucida que a conclusão do autor é o declínio da democracia de partido
político e a ascensão da democracia do público. Ao abordar a teoria formulada por Manin
(1995), Urbinati (2013) esclarece que sua conclusão aponta para o declínio da democracia
baseada em partidos políticos e o surgimento de uma democracia voltada ao público. Nesse
novo contexto, a confiança depositada no líder e a aceitação gradual de um poder
discricionário por parte do Executivo se unem como estratégias para reorganizar o sistema
eleitoral democrático. Conforme discutido por Mendes (2022), essa reorganização direciona-
se agora a partidos especializados em comunicação e a candidatos que buscam uma carreira
política, delineando assim as transformações presentes na dinâmica democrática
contemporânea.
Os teóricos do plebiscito de audiência argumentam que o poder visual das imagens confere
ao público um controle sobre os líderes políticos, tornando-se mais impactante e eficaz do
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que as palavras manipuladas. A democracia de audiência coloca o público como elemento
central, substituindo os procedimentos e instituições de controle tradicionais. No entanto,
há controvérsias sobre se essa forma de governo realmente proporciona controle popular,
como exemplificado pelo caso de Silvio Berlusconi na Itália. A ênfase na estética da opinião
pública em detrimento da participação política pode levar à falta de atenção às questões
políticas e morais. A predominância do poder visual pode resultar em uma dissimulação das
questões políticas diante do público e na privação dos cidadãos da capacidade de análise
crítica. A transição da democracia partidária para a democracia de audiência traz consigo
uma ênfase na imagem do líder em detrimento dos programas e plataformas políticas,
enfraquecendo a capacidade dos cidadãos de tomar decisões e controlar o governo. A
participação efetiva na democracia requer atividades além da simples observação, como o
engajamento em movimentos, associações e eleições. A transição visual do público não
garante o controle efetivo e pode transformar a esfera pública em uma experiência estética
sem poder de controle.