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Fichamento Expresso – Texto 1

URBINATI, Nadia. Da democracia dos partidos ao plesbicito da audience. São Paulo, 2013. Ed. Lua Nova. p. 85-105.

Parte 1 – Par. 1 ao 3: Define a tese e a modificação sofrida pelos partidos políticos

Estabelece sua tese: a democracia dos partidos se tornou uma democracia plesbicitaria (da audience), fazendo com
que os partidos políticos, longe de perder seu poder, estabelecessem uma nova relação com a sociedade. Em uma
primeira parte, cabe dizer, a autora brevemente explica o que significa seu termo democracia da audience: o do
corpo de cidadãos privados, domésticos, cuja única função é observar a produção encenada pela mídia e aprova-la.

Primeiro, para comprová-lo, explora a transformação da atuação e do significado dos partidos políticos. Os partidos
políticos agora não precisam construir uma maioria de consenso, de fé, mas apenas numérica. Não precisam mais se
esforçar para se inserir na sociedade como forma de ganhar seu reconhecimento, incluí-los em seus projetos, inseri-
los em sua postura crítica – pelo contrário, é uma política deslegitimada.

Da mesma forma, perdeu seu sentido de conexão entre sociedade e política, intermediando-os. Pelo contrário,
agora, visam apenas a continuidade do poder, significam uma carreira, sendo por vezes indiferentes à opinião dos
cidadãos. É a “reprodução de uma classe política”.

Explica que os partidos “líquidos ou leves” não se usam de ideais bem estruturadas, mas de sondagens – eles
absorvem o que a população quer ouvir e reproduzem. Tudo para mantere-se no poder. A política populista, nesse
contecto, é ainda mais conveniente, pois permite melhor controle social – é a queda do partido organização, que
educa politicamente, para tornar-se o “seguidor e instigador” dos humores sociais.

Parte 2 – Par 4 ao 12: Define a democracia do público: o cidadão que se tornou um expectador ao invés de um
político.

Utiliza a teoria de Manin para definir a mudança vivida pela democracia: uma democracia de massa guiada por
líderes, líderes estes que se definem como “partidos de especialistas da comunicação e de candidatos à carreira
política”. É o “poder ocular”, citando Green – explica que a democracia dos partidos era baseada na voz e na vontade
convencida e agora baseiam-se apenas no “veredicto da audience”, que os observa; é ir da centralidade da vontade
à opinião; da participação ao mero julgamento. É o conflito voz x candura.

A autora argumenta que a democracia da audience culmina para a política da passividade espectatorial. É uma forma
de criar uma democracia não baseada na vontade popular, mas na habilidade de manter as instituições sob os olhos
do público – é uma legitimidade não do povo-eleitor, mas do povo juiz (poder negativo).

A autora explica mais sobre as formas de poder negativo, exercidas sobre pelo cidadão atual – passando pela
monarquia até a era da Internet – definindo-a como a capacidade de impor vetos as decisões políticas. Haveria três
tipos: a de impedimento, de vigilância e de julgamento, este ultimo fortificado pela era da globalização. Critica,
então, essa perspectiva de controle, pois deposita demasiado poder nas mãos de juízes (mídia, judiciário, etc.) e
impõe uma imparcialidade estranha à política para o eleitor. Em terceiro lugar, a autora aponta que cria-se uma
atmosfera de teatralidade, instrumentalizando-a para definir a opinião pública sob o véu da transparência.

Critica a perspectiva de Manin que vê algo positivo nesse ascenso: todos teriam acesso às mesmas informações,
incrementando o jogo democrático. Essa perspectiva só teria validade se realmente houvesse independência nos
meios de comunicação – públicos, não privados – o que não ocorre. E, ainda, aponta que na realidade, a posse e
controle desses meios por interessados faz surgir ideologias não tão democráticas quanto deveriam. E essa ideia
agrava-se quando pensamos que acabamos por criar novamente uma conjunção de poder: a figura do líder e a
manipulação midiática.

Critica, novamente, a perspectiva de Manin em ver a midiatização da política como ampliação dos processos
democráticos. Na verdade, de acordo com a autora, a democracia plesbicitaria significa a queda da soberania
popular para a perspectiva de povo como massa de manobra. Um expectador que não reivindica, apenas aprova ou
desaprova.

Parte 3 – Argumenta que, na verdade, houve uma perda do poder popular (Par. 12 ao 20).
E, nessa toada, a figura do líder também é essencial, e tem um preço: estar sempre sobre os holofotes, perder seu
direito à privacidade – um ônus que deve ser contabilizado.

Aponta que, apesar da ideia ilusória de que a democracia da visão estabeleça o controle sobre o líder e sobre os
meios de decisão não democráticos, a prática se provou ao contrário. Isso porque, por exemplo, a opinião midiática
é manipulável e dá a política um ar de espetáculo midiático – há um “mercado por escândalos”, por entretenimento,
que manteria nossos políticos vigiados. Conclui então que, o que era para instituir o fator estético como régua de
julgamento desconsidera a subjetividade irremediável do processo. Somos pessoas, e pessoas baseadas no gosto –
para reafirmá-lo, cita Kant. É uma perspectiva diferente da ideologia, uma idealização racional de um futuro o qual
encontramos vontade de perseguir.

Nesse sentido, a autora explica que que a audience não controla o líder, não o pressiona em sua naturalidade, mas
dá ao líder instrumentos para que se torne uma figura que as pessoas queiram ver. Cria uma política de margeting,
de gosto. E, dessa forma, conclui que, na verdade, o que era para ser mostrado – a política, seus desdobramentos,
suas ações – acaba negligenciado porque não é, de fato, o que público quer ver – o que lhes traz sensações. Cita,
então, a experiência italiana como afirmação a todo o texto.

A autora então continua mostrando a negatividade da condição política vivida através de Alessandro Pizzorno. É uma
democracia baseada no gosto, na estética, nas qualidades morais e não nas virtudes políticas – é a perspectiva de
Pizzorno. E, de acordo com ele, o resultado é o aumento da corrupção.

Parte 4 – Par. 21 a 22: Argumenta a perda do juízo reflexivo para o eleitorado-audience

Compara a perspectiva dos habermasianos: uma legitimação por meio da deliberação racional e pública e dos
schumpeteterianos pela transformação da opinião da maioria em comparáveis numéricos coma perspectiva da
audience: a racionalidade perdeu lugar à lógica da audience. Nesse sentido, traz também Manin, que delineia a
perda de controle que surgiu junto com essa perspectiva: ao votar em um personagem, em fruto de espectáculos
interessantes, o público deixa de prender o eleito às suas propostas e promessas, ao desejo do futuro. Seria um
governo do presente, desinteressado com a expectativa do futuro, diante de um povo que não possui esse poder
nem mesmo durante as próprias campanhas eleitorais. Haveria, então, um “autogoverno popular”, descrito
pessimistamente por Manin, isento de verdadeira discussão, ideologização e voz.

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