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Goiânia
2022
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS
FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
Atualidade e trabalho
A leitura marxiana do trabalho se fundamenta nas relações e forças produtivas vigentes do
período da efervescência industrial, que implica o sujeito trabalhador “comum”, assalariado, na relação
produtiva “tipicamente” como operário, sendo assim este a base do possível sujeito revolucionário por
Marx e os socialistas da época. Acontece que na medida do avanço tecno-cientifico, passando o século
XX e chegando ao atual século XXI, descentraliza-se a magnitude do trabalho físico pelo trabalho
intelectual-cognitivo, sendo essa a principal força produtiva contemporânea, onde também as
mercadorias informacionais se engradecem e se torna principal demanda econômica.
Nesta passagem, muitos marxistas ou críticos, cientistas sociais ou da economia-política no
geral, se debruçam sobre o valor-trabalho legado pelos escritos de Marx. Não atoa a defrontação com
confusões sobre o tema tão complexo e inerente a vida social. A temática em especifico trata do trabalho
material e imaterial, sendo estas as palavras chaves para iniciar a reflexão e pequena revisão de
literatura, buscando compreender em que chão se encontra o atual debate sobre o trabalho. Para tal, lido
três artigos revisados por pares que são resultado da busca nos Periódicos da CAPES, abarcando três
autores docentes universitários brasileiros.
A busca não foi atrás das conceituações marxistas, pelo contrário, percebe-se que o debate do
trabalho está amplamente relacionado as teorias político-econômicas de Marx, justamente pela alta
qualidade, profundidade e ainda atualidade do pensamento marxiano. Sendo assim, este trabalho está
fundamentado e percorrerá os conceitos de: valor-trabalho, trabalho material e imaterial, alienação,
consciência e sujeito revolucionário, relação e força produtiva, além de outros conceitos marxistas se
não marxianos.
só o trabalho material produza valor, o dito trabalho imaterial também o produz e se torna o principal
produtor. Superando o modo de produção taylorista-fordista, em que o trabalhador se resume a
simplíssima atividade repetitiva manual no trabalho, agora se incorpora o saber cognitivo nas atividades
produtivas, as complexificando.
O modo capitalista teria sido superado senão a expertise capitalista de assegurar e utilizar do
tempo livre do trabalhador, valorizando e então extraindo mais-valia, ou sobre-trabalho, do trabalho
imaterial que se refere e interfere sobre as informações. A informação torna-se mercadoria e produto
central da sociedade capitalista, sendo alvo das empresas e objeto em disputa no mercado. A continuação
da exploração do homem pelo homem no modo capitalista se estrutura então no que seria o trabalhador
mais sujeito a uma ascensão revolucionário. O tempo livre se torna tempo de mais exploração.
Trabalhador e educação
Assim como no tempo de Marx, dada a importância da educação e conscientização do
trabalhador possibilitando sua transformação em sujeito revolucionário, continua atual e primordial as
questões educacionais. Ademais, a superação do modo taylorista-fordista exige, na medida em que a
magnitude central do capital se encontra no trabalho imaterial, logo no trabalhador imaterial, a educação
da massa. Eis aqui novamente o motivo do imaginário deste capitalismo atual ser razão para almejar a
construção acelerada de sujeitos revolucionários.
Acontece que o ensino se limita por maioria ao nível técnico, inconsciente. Tanto o trabalhador
da indústria como o do escritório necessitam de formação mínima e, como elucidam Eduardo Chagas e
Fábio José de Queiroz (2016), deformação cognitiva em prol do e somente do capital. É também essa
dependência do capital da formação mínima que o empurra a intervenção estatal, propiciando através
de um sistema de ensino alienadora a massa de sujeitos perfeito a realização capitalista. Tudo envolto
na ideologia dominante da “livre iniciativa” (Henrique Amorim, 2009).
É, pois então, que o melhor possível sujeito revolucionário se torna o velho trabalhador alienado
da época de Marx, agora com o mínimo de formação intelectual. Retorna a necessidade de pensar as
teorias a base do valor-trabalho, tendo a certeza da eficiência e continuação do modo político-econômico
capitalista. Mas sendo claro a exploração exercida sobre o trabalho imaterial.
Materialidade ou imaterialidade?
Fica confuso, ressoando até ares de possível minimização ou redução, a relação de valorização
do trabalho imaterial. O que é trabalho imaterial? Medimos valor somente pela “fisicidade” da atividade
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produtiva? Amorim elucida uma obviedade de tamanha importância que soterra qualquer tentativa,
como dito atrás, de minimização da exploração do trabalho imaterial: todo trabalho tem dispêndio de
força física e cognitiva, só se modifica as cargas dispendidas de cada âmbito. Compreende-se que
realmente há diferença da produção industrial material e da produção intelectual imaterial, porém o que
ressalta e nos retorna as bases do pensamento crítico anticapitalista é o entendimento que nesta última o
trabalhador está também inserido na relação de exploração pelo capital
A materialidade, objetivamente, se apoiando em Marx, não é o caráter físico das coisas, da
possível palpação das coisas, mas o conjunto da subjetividade “natural” e humana. “A materialidade é
dada, então, pelo conjunto de relações sociais estabelecidas e não pela ‘fisicidade’ dos elementos ativos
em um processo de trabalho” (Henrique Amorim, 2010, p. 200).
Ao fim, o centro do debate não é sobre a diferença de trabalho manual e intelectual, sendo que
todo trabalho por mais “operário” que seja depende do cognitivo, e todo trabalho de “escritório” depende
da força física. A questão repousa na extração do mais-trabalho no conjunto de relações sociais e
econômicas capitalistas. É incerto quem seja realmente o sujeito revolucionário que deporá o sistema de
exploração do homem pelo homem, mas, podemos ter a certeza, que circunda em qualquer um tipo de
individuo, até mesmo do não assalariado, porém com uma certeza maior que o ato revolucionário será
encerrar a estrutura de impedimento entre produtor e produto, material ou imaterial.
Considerações finais
O tratamento aqui dos três artigos utilizados não passa duma inicial, como já dito, revisão da
literatura científica acerca da sociologia do trabalho, em especifico no que tange a divisão social ou
técnica do trabalho. Também se apreende a causa essencialmente anticapitalista, socialista, que permeia
essa área do estudo econômico. Com os três artigos, além de conhecimentos prévios sobre teoria
marxista, se expande o horizonte crítico em bases concretas da ciência.
Fica entendido que o senso comum da divisão de trabalho imaterial e material é errôneo, na
medida em que se pense na dicotomia trabalho manual e trabalho intelectual, sendo então mais complexo
que o aparente. Fica também perceptível como a exploração capitalista permeia por todo e qualquer
lugar visto, não perdendo tempo e nem sempre fechando brechas que ensoam a revolução.
Independente da onde parta o trabalhador, em que âmbito circule sua produção de mercadoria,
sua contribuição com a valorização do mundo humano, ele está subjugado, em níveis maiores ou
menores, pelo sistema produtivo capitalista, que imbrica não só a economia, mas também toda a cultura.
Pois então, não será o sujeito revolucionário necessariamente o trabalhador, mas aqueles que direcionam
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suas forças justamente para aqueles que criam valor ao mundo, e mesmo assim são impedidos de usufrui-
los. A exploração capitalista só se encerra então quando não apenas alguns valorizarem o mundo, mas
todos terem que valorizar o mundo para então tê-lo como usufruto.
Referências bibliográficas