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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

BRUNO CÉZAR OLIVEIRA CAMARGO

A IDEALIZAÇÃO DO TRABALHO EM TEMPOS MODERNOS:


O CASO DA UBERIZAÇÃO

Uberlândia
2023
BRUNO CÉZAR OLIVEIRA CAMARGO

A IDEALIZAÇÃO DO TRABALHO EM TEMPOS MODERNOS:


O CASO DA UBERIZAÇÃO

Monografia apresentada ao Instituto de Ciências Sociais


da Universidade Federal de Uberlândia, como requisito
parcial para a conclusão de curso de Ciências Sociais.

Orientador: Prof. Dr. Aldo Duran Gil.

Uberlândia
2023
RESUMO

O tema Uberização do trabalho tornou-se um tema recorrente no último período


devido à sua significativa expansão. Inicialmente, o grupo de mídia e as grandes
empresas responsáveis pela Uberização promoveram o discurso e a racionalidade
da “independência” e do “empreendedorismo” e se distanciaram do pensamento da
subordinação e do trabalho. Esse trabalho tem como objetivo analisar a idealização
do trabalho em tempos modernos, concentrando no fenômeno da Uberização. O
método adotado para o desenvolvimento deste estudo foi uma pesquisa
bibliográfica. O procedimento para a coleta de dados foi a busca em banco de dados
digitais, os quais disponibilizam estudo empíricos e de revisão de literatura sobre o
tema abordado no presente estudo. Esse estudo assim se justifica devido a
importância do estudo da temática, pensando tanto em um contexto social, que trará
melhoria de vida para população quanto para um âmbito acadêmico, visto não ter
muito material teórico sobre a temática. O atual trabalho Uberizado mostra o quanto
essa tendência expirou e seu cronograma é autodeterminado, mas ainda é
altamente controlado. Embora no início parecesse que isso dava mais liberdade aos
trabalhadores, a situação real é bem diferente. O modelo de atuação em hegemonia
é o modelo do indivíduo como empresário com sua própria força de trabalho e sua
própria seguridade social.

Palavras-chave: Uberização. Autônomo. Uber. Motorista.


ABSTRACT

The Uberization of work theme became a recurrent theme in the last period due to its
significant expansion. Initially, the media group and the large companies responsible
for Uberização promoted the discourse and rationality of “independence” and
“entrepreneurship” and distanced themselves from the thought of subordination and
work. This work aims to analyze the idealization of work in modern times, focusing on
the phenomenon of Uberization. The method adopted for the development of this
study was a bibliographical research. The procedure for data collection was to search
a digital database, which provide empirical studies and literature review on the topic
addressed in this study. This study is thus justified due to the importance of studying
the subject, thinking both in a social context, which will improve life for the population
and for an academic environment, as it does not have much theoretical material on
the subject. The current Uberizado work shows how far this trend has expired and its
schedule is self-determined, but it is still highly controlled. While at first this seemed
to give workers more freedom, the real situation is quite different. The acting model in
hegemony is the model of the individual as an entrepreneur with his own work force
and his own social security.

Keywords: Uberization. Autonomous. Uber. Driver.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO............................................................................................................ 4

CAPÍTULO UM................................................................................................... 6

A NOVA FORMA DE EXPLORAÇÃO DO TRABALHO NA CHAMADA


“ECONOMIA DO COMPARTILHAMENTO”.......................................................6

CAPÍTULO DOIS.......................................................................................................11

APLICATIVO UBER COMO EXPOENTE DO SETOR DE TRANSPORTES............11

2.1 A EMPRESA UBER.................................................................................... 12

2.2 Uberização.................................................................................................. 15

2.3 – Uberização e a Terceirização...................................................................17

2.4 Uberização e precarização do trabalho.......................................................26

CAPÍTULO TRÊS.........................................................................................34

UBERIZAÇÃO COMO REPOSTA À CRISE................................................34

CONCLUSÃO............................................................................................................42

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................45
4

INTRODUÇÃO

O tema uberização do trabalho tornou-se um assunto recorrente no último


período devido à sua significativa expansão. Inicialmente, o grupo de mídia e as
grandes empresas responsáveis pela uberização promoveram o discurso e a
racionalidade da “independência” e do “empreendedorismo” e se distanciaram do
pensamento da subordinação e do trabalho.
Após a consolidação desse tipo de trabalho, tem havido inquietação e
repetidas discussões nos meios sociais sobre as condições de trabalho ocasionadas
pela uberização do trabalho, especialmente relatos sobre o esgotamento da jornada
de trabalho e do salário mínimo.
Diante disso, acredita-se que é necessário formular debates por meio de
pesquisas científicas e teorias acadêmicas para cumprir a responsabilidade da
universidade para com a sociedade na produção de conhecimento para os
trabalhadores.
Utilizo a relação de trabalho estabelecida entre a empresa de entrega de
alimentos e as principais empresas de aplicação do setor. O objeto de estudo desta
monografia é sobre a problemática da relação de subordinação entre a empresa e o
empregado, afastando-se da ideia neoliberal de defender a “autonomia” e o
“empreendedorismo”, focando os traços essenciais da uberização e a exploração do
trabalho.
Esse trabalho se justifica devido a importância do estudo da temática,
pensando tanto em um contexto social, que pensa em uma possível melhoria de
vida para população e para um âmbito acadêmico, visto não ter muito material
teórico sobre a temática.
Portanto, este trabalho tem como objetivo geral analisar a idealização do
trabalho no período contemporâneo em suas variáveis, no contexto da “ECONOMIA
DO COMPARTILHAMENTO”, e como objetivo específico concentrar no fenômeno
da Uberização, com o início de sua plataforma em 2008 e sua emergência no Brasil,
especificadamente a partir de 2014, frisando a hipótese de que embora parecesse
que a atual forma de trabalho desse maior liberdade aos trabalhadores, em um
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modelo do indivíduo como empresário de sua própria força de trabalho, a situação


real é de uma nova forma de subordinação, exploração e precarização do trabalho
ainda mais agressiva.
São utilizados como referencial teórico autores de corrente marxista, assim
como autores do Direito brasileiro e cientistas sociais de demais correntes. A
intenção é, com isso, trazer ampla discussão acerca do assunto.
O método adotado para o desenvolvimento deste estudo foi uma pesquisa
bibliográfica. Os procedimentos adotados foram a seleção e leitura de artigos,
monografias, teses, dissertações e livros que discutem a relação entre ensino e
literatura do tema. Nesta seleção foram incluídos estudo que se apresentam de
forma integral em domínio público. Assim, o estudo visa reunir o material
pesquisado, mesmo com arcabouços teóricos diferentes.
6

CAPÍTULO UM

A NOVA FORMA DE EXPLORAÇÃO DO TRABALHO NA CHAMADA


“ECONOMIA DO COMPARTILHAMENTO”

A história de observar um determinado momento da sociedade e contá-lo fora


desse contexto parece mais confortável para o narrador, mesmo que o fato que
desencadeia o desejo de uma pessoa de descrever tenha tido consequências
negativas. Isso porque já existe um começo, um meio e um fim: o resultado foi
tentado e já é possível que haja uma posição antes do resultado (FRANCO;
FERRAZ, 2019).
Por outro lado, quando se está inserido no contexto com que se quer lidar,
falar de sociedade seria, na verdade, colocar-se na posição de locutor de um show
ao vivo. A diferença é que no final ninguém ganha ou perde o resultado do “jogo de
futebol”: o que pode ser fornecido é um final alternativo (FONTES, 2017).
Na verdade, o que será apresentado na primeira leitura seria uma tentativa de
descrever a “economia do compartilhamento” e o que é preciso é entender como se
apresenta a dinâmica dessa situação para entendermos ainda mais o assunto
inserindo isto. Na perspectiva das novas formas de exploração do trabalho rebelde,
determinar seu impacto direto e examinar os possíveis mecanismos de proteção de
seus protagonistas (ABILIO, 2019).
Tudo o que é afetado pelas forças da globalização será alterado ou receberá
novos significados por ela. No que diz respeito a Gorender (1997, p. 326) “[...] o
processo de globalização e a revolução tecnológica levaram a profundas mudanças
nas condições de funcionamento das organizações empresariais”, as pessoas não
devem esquecer que foram afetadas desde que se começou a falar sobre fenômeno,
o maior é a oferta de bens e serviços.
Determinou-se atualmente que as contínuas mudanças no comportamento
social e no estilo de vida das pessoas afetam diretamente o sistema capitalista
mundial, obrigando as organizações que pretendem permanecer no mercado a
serem continuamente recicladas e modernizadas para atender às demandas,
aspirações e ambições inspiradas no consumo (SLEE, 2019).
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Se, por um lado, o desenvolvimento da tecnologia tem promovido a


globalização, encurtado a distância entre os mercados e proporcionado
oportunidades para os usuários se conectarem e interagirem, então a atual
conjuntura econômica torna a combinação de atividades comerciais e mercados
digitais mais atraente. O mecanismo proporcionado pela tecnologia e a riqueza da
segunda refletem um mercado repleto de ideias inovadoras para atrair clientes.
Portanto, os planos de negócios estão abandonando os modelos de negócios
tradicionais, assumindo uma configuração mais simplificada e colaborativa. Segundo
Meller-Hanich (2016, p. 21), sua prática foca em modelos de negócios que
proporcionem relações “igualitárias” entre os modelos de negócios. Os tópicos
envolvidos, subordinação e exclusividade não encontram lugar.
Tanto que, nos últimos anos, a “economia compartilhada” ou “consumo
cooperativo” tem sido usada para descrever a estrutura econômica do mercado.
Mais objetivamente, traz a situação de que “[...] um sistema econômico social
construído em torno da partilha de recursos humanos e materiais, incluindo a
criação, produção, distribuição e comércio de bens e serviços por pessoas e
organizações e compartilhamento [...]”.
Para Silveira (2016, p. 299), o modelo de negócios que é produto dessa
tendência confirma o conceito de consumo voltado para a redução de custos - nesse
sentido, do ponto de vista do consumidor, a economia compartilhada tornou-se
bastante atrativa. Nesse sentido, a bandeira no sentido de consumismo econômico é
efetiva, pois, à primeira vista, parece ter produzido mudanças relacionadas na forma
de prestação dos serviços.
Nesse sentido, a economia compartilhada parece ser um pretexto para reduzir
a desigualdade herdada pela sociedade de consumo tradicional e individual. No
entanto, essa visão “revolucionária” parece estar mais refletida no consumismo e
nos textos econômicos, pois o foco está na pessoa enquanto consumidor.
Portanto, a crítica de Kramer (2017, p. 49) segundo a qual se “[...] prometia
um futuro glorioso onde todos se tornariam microempresários e era compreensível
que houvesse ‘liberdade’ para trabalhar como quiser.” Parece que os papéis de
consumidores e fornecedores ao mesmo tempo podem ter uma “identidade secreta”,
assim como nos filmes de super-heróis.
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O objetivo deste capítulo é mostrar que já existem várias partes que contêm
essa ideia, reconhecendo que as relações de consumo não se limitam mais à
compra e venda ou assinatura de contratos e prestação de serviços, mas incluem
também a troca de bens e serviços.
Para tanto, três modelos de negócios potenciais serão mostrados e eles não
parecem sair do mercado tão cedo. São considerados “novos modelos de negócio”
decorrentes desta tendência e explicam a dinâmica de funcionamento da economia
partilhada.
Uma das tendências ou modelo de negócios surgiu na indústria de
hospedagem, quando aplicativos como Airbnb se tornaram amplamente conhecidos
e ganharam adeptos. A proposta deste tipo de plataforma atua apenas como um
“intermediário”, podendo a pessoa cadastrada se tornar hospedeira e hóspede de
acordo com suas necessidades ou interesses, portanto, nas palavras de Meller-
Hanich (2016, p. 21), esta ideia inclui basicamente “[...] oferecer hospedagem a um
preço acessível para providenciar um sofá na sua sala, grátis ou mediante
pagamento”.
No entanto, pode-se dizer que essa plataforma compete com hotéis e até
mesmo grandes redes hoteleiras. Por outro lado, ao analisar a natureza da relação
jurídica estabelecida entre os sujeitos utilizando o aplicativo Airbnb, à primeira vista,
a atividade não parece inferir quaisquer outras áreas, mas sim quando o contrato
não é cumprido, obviamente será sujeito à obrigação da lei de defesa do
consumidor.
A priori, a comodidade só deve atender às condições estabelecidas:
proporcionar comodidade porque gera expectativas razoáveis.
Portanto, outra forma de ganhar força nos últimos anos, como segundo
modelo de negócio, é o próprio setor de consumo, incluindo produtos reutilizáveis
novos e usados ou antigos, bem como a promoção de serviços, empresas que
atuam na área de vendas de produtos. Os indivíduos podem encontrar um lugar, nas
plataformas digitais, que nem sabe que ele existe para encontrar seus produtos,
pagar pelos produtos e encaminhá-los pelo correio, as plataformas OLX, Enjoyi e
Mercado Livre são exemplos de como a dinâmica funciona quando o ponto de
integração é um indivíduo.
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Esses modelos de negócios abriram um truque para a sociedade no contexto


de maior exploração econômica. Eles parecem mudar o comércio tradicional de
produtos porque permitem que os próprios consumidores se tornem vendedores,
proporcionando troca de produtos e fornecimento serviços em um modo de
operação comercial recentemente estabelecido (ANTUNES, 2020).
Nessa perspectiva, Verbicaro e Pedrosa (2017, p. 469) afirmam que as
pessoas como “[...] usuários que desejam compartilhar bens e serviços ociosos ou
subutilizados-consumidores e usuários-fornecedores [...]”, em uma ideia que chama
a atenção não apenas pela publicidade gratuita de produtos ou pela facilidade de
manuseio dessas plataformas intermediárias, mas pelo fato de ser tão atraente,
principalmente por ser enfatizado que o estilo de vida imposta pela implacável
sociedade de consumo agora parece mais óbvio.
Isso porque o compartilhamento permite que indivíduos que antes não tinham
poder de compra comprem produtos que eram considerados “tendências” e agora
podem comprar coisas de outra pessoa sem ter que arcar com o custo da primeira
compra, pois estes já foram suportados pelo comprador original (ABÍLIO, 2020).
Ou seja, como ou para além do departamento de custódia, a promoção do
serviço e a compra/venda/troca de produtos novos/usados/antigos existem na
relação trabalho-gestão porque não podem estar isentos das responsabilidades do
regulamento do artigo 31, do Código de Defesa do Consumidor; essas plataformas
parecem ser apenas um “show” de serviços e produtos, mas isso não as obriga a
atuarem como empregadores (MORAES; DE OLIVEIRA; ACCORSI, 2019).
Seguindo essa linha de raciocínio e já entrando em outra tendência, ou
terceiro modelo de negócio do mercado, Verbicaro e Pedrosa (2017, p. 470) afirmam
que na iniciativa da economia compartilhada implantada no mercado, o setor de
transportes é o maior beneficiário dessa onda de inovação. Empresas como Uber,
99POP, são exemplares nesta área.
A ideia envolve basicamente a contratação de um motorista previamente
cadastrado no app, que pega o usuário que solicita a viagem no ponto de partida e o
leva até o destino, cobrando uma taxa pelo trajeto percorrido. O serviço é
semelhante ao de um taxista profissional, mas o preço é mais acessível.
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Partindo da ideia de que a economia compartilhada visa o melhor


aproveitamento dos recursos, de forma sustentável, a contratação individual de
transportes baseada no interesse de pessoas relevantes parece estar em linha com
a proposta. É também porque, além de dar uma contribuição benéfica para a
mobilidade, os carros particulares compartilhados também se mostraram
extremamente benéficos para os consumidores, pois tornam ter seu próprio veículo
menos vantajoso e confortável em comparação com o uso desses serviços
(VERBICARO; PEDROSA, 2017, p. 470).
Por outro lado, ao contrário do modelo anterior, ao se tentar analisar a
natureza jurídica da relação que se estabelece entre as entidades, dois
pressupostos devem ser considerados: 1) relação usuário-contratante x empresa-
aplicativo e 2) relação empresa-aplicativo x motorista parceiro.
Portanto, como objetivo específico desta pesquisa analisaremos o imperativo
de uma das empresas pioneiras nos setores de transporte e urbano no setor móvel
campo. A era da economia compartilhada: Uber.
11

CAPÍTULO DOIS

APLICATIVO UBER COMO EXPOENTE DO SETOR DE TRANSPORTES

Para Verbicaro e Pedrosa (2017, p. 70), “[...] o Uber é sem dúvida o caso
mais famoso dessa nova onda econômica”. Como pode ser visto na história contada
no site da empresa, essa ideia surgiu em dezembro de 2008. O aplicativo para
smartphone foi lançado em São Francisco, nos Estados Unidos, pelos empresários
Travis Kalanick e Garrett Camp em março de 2009. Na época era chamado de
“UberCab” É um táxi de luxo. No entanto, em 2010, a última parte de “Cab” (táxi) foi
retirada do nome e simplesmente chamada de “Uber”. Desde então, o aplicativo
ocupou uma proporção internacional e agora está disponível em 65 países/regiões,
com 75 milhões de usuários e 3 milhões de parceiros motoristas.
No Brasil, o aplicativo chegou em meados de 2014 e a cidade do Rio de
Janeiro passou a ser a sede do experimento. Segundo informações da plataforma
digital da empresa, atualmente está sendo utilizado em 100 cidades do país,
distribuídas nas regiões sudeste, sul, norte, nordeste e centro-oeste. Ao que tudo
indica, parece estar longe das ruas da cidade.
Por outro lado, de acordo com Duque (2016, p. 504-505), apesar do sucesso
da aplicação, a empresa enfrenta desafios para sua atuação em vários países,
inclusive nos tribunais. O foco de tais desafios sempre esteve mais voltado para
questões como a falta de regulamentação específica, tributação, questões
econômicas e de consumo.
Assim que chegou, gerou polêmica por se suspeitar que as atividades da
empresa estariam voltadas para o transporte coletivo pessoal, que, legalmente,
sempre foi realizado por taxistas. Portanto, sua legalidade no país também tem sido
questionada. Tendo em vista que a concorrência é considerada desleal e até mesmo
chamada de “táxis secretos” (VIEGAS; LETRA, 2016 p. 146), essa situação tem até
mesmo desencadeado manifestações de rua e a cidade onde o aplicativo começou
a funcionar.
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Ao propor uma análise da legalidade da atividade empresarial, Viegas e Letra


(2016, p. 149) primeiro distinguiram dois modais, revelando que o serviço de
transporte de táxi é, na verdade, uma atividade complexa, pressupondo “[...] por
meio de ações administrativas relacionadas à a licença, transferência ou concessão
relativa ao contrato entre a transportadora e o passageiro [...] “se definida como
serviço de utilidade pública, prestado privativamente pelo taxista (VIEGAS; LETRA,
2016, p. 164).
Por outro lado, as atividades da Uber como intermediária para entidades
interessadas na prestação e assinatura de contratos de serviços de transporte, se
expandem para contratos de transporte de pessoal autorizados pelo direito civil-
bilateral, mutuamente acordados e, deste ponto de vista, não constituem atividades
ilegais, ressaltando, ainda que não seja o caso, garantindo o exercício da livre
iniciativa e estando vinculado ao valor do trabalho humano, portanto qualquer
proibição em contrário violaria as normas constitucionais (VIEGAS; LETRA, 2016, p.
153-154).
Vale ressaltar antes que, por ser pioneiro e por ter causado tanta polêmica, a
reputação do aplicativo Uber é diferente de outros aplicativos com o mesmo plano
de negócios que se espalharam ao longo do tempo.
Tanto é que, ao mesmo tempo que promove tantas discussões, polariza o
mercado com o seu nome, no entanto, reduz o ciclo burocrático do serviço de oferta
e demanda ao concretizar o caminho prometido na economia compartilhada. Por
meio de uma proposta subversiva, a palavra utilizada para definir a relação de
conjugação neste caso foi finalmente produzido: “Uberização”.

2.1 A EMPRESA UBER

A Uber é uma empresa multinacional que presta serviços de transporte


eletrônico. Os fundadores Garett Camp e Travis Kalanick tiveram essa ideia quando
participaram da conferência LeWeb em Paris em 2009. Após a conferência, foi difícil
para eles voltar ao hotel de táxi, transporte público ou mesmo um motorista
particular. Portanto, eles acham que é possível demorar um pouco ou viajar tocando
13

no celular e alugando o serviço de um motorista particular. (FILGUEIRAS;


ANTUNES, 2020).
A Tecnologia Uber só foi formalmente estabelecida em 2010 e tem se
expandido rapidamente em todo o mundo. Em setembro de 2016, tinha um valor
estimado de US$ 62,5 bilhões (aproximadamente 200 bilhões de reais) em 450
cidades em mais de 70 países. Em 2015, grandes grupos industriais como a General
Motors haviam feito um (01) bilhão de viagens em todo o mundo e saltaram para 2
bilhões em junho de 2016, ou seja, apenas seis meses depois, esse número dobrou
(VENCO, 2019).
A Uber se apresenta como uma empresa de tecnologia com mais de 8.000
(oito mil) funcionários e cerca de 1,5 milhão de motoristas ativos em todo o mundo,
dos quais 50.000 (cinquenta mil) são do Brasil. Há uma média de 5 milhões de
viagens por dia em todo o mundo. Em setembro de 2016, tinha aproximadamente 50
milhões de usuários ativos em todo o mundo e atingiu a marca de 8,7 milhões de
usuários no Brasil em janeiro de 2017 (ALVES, 2018).
Para se tornar um motorista parceiro da Uber, a parte envolvida deve ser um
motorista profissional, ter carteira de motorista autorizada a exercer atividades
remuneradas (EAR) e apresentar antecedentes criminais negativos. Os motoristas
candidatos se cadastram no site do UBER e começam a auxiliar os usuários que
solicitam viagens por meio do aplicativo, cobrando uma taxa. A matrícula do veículo
é feita após a apresentação do certificado de matrícula e licença do veículo (CRLV),
do certificado DPVAT do ano e da apólice de seguro incluindo o seguro de acidentes
pessoais do passageiro e o valor de cada passageiro é de 50.000 reais
(POCHMANN, 2016).
O Uber chegou ao Brasil com a Copa do Mundo no ano de 2014, inicialmente
disputada no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Belo Horizonte. Segundo
reportagem do jornal O Estado de São Paulo (Estadão) 35, embora a empresa não
tenha divulgado o número de downloads do aplicativo, no dia 8 de abril de 2015,
taxistas de cinco cidades do Brasil manifestaram-se paralelamente em grande
escala, exigindo a suspensão do pedido. Para atender à “concorrência desleal”, o
número de usuários cadastrados na plataforma Uber aumentou 5 vezes em relação
ao número usual (FERRER; DE OLIVEIRA, 2018).
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Não há dúvida de que os usuários são altamente compatíveis com os serviços


do Uber. No local onde a empresa instalou o seu, o preço por quilômetro do produto
mais acessível da Uber é cerca de metade do valor cobrado na tabela do serviço de
táxi. A Uber monitora a qualidade da entrega do serviço por meio da avaliação do
usuário. Se a avaliação média do motorista for muito baixa, inferior à de outros
motoristas locais, ele pode ser suspenso ou cancelado (UCHÔA-DE-OLIVEIRA,
2020).
Na prática, os motoristas não têm autonomia na forma como prestam os
serviços, pois o Uber desempenha um papel fundamental na fixação de preços e
reajustes de preços para beneficiar cada vez mais a sua estratégia de negócios. O
mesmo se aplica à definição de tarifas pagas pelos motoristas à empresa, que é
estabelecida unilateralmente para atender aos interesses da empresa por meio de
um mecanismo baseado na oferta e na demanda, ao invés de insistir em chamá-la
de “sócios”, sócios determinam em conjunto a direção do negócio: analisar o que é
melhor para ambas as partes, neste caso, os interesses da Uber conflitam
diretamente com os interesses dos seus colaboradores. A experiência dos
motoristas com o uso do aplicativo Uber no Brasil é relativamente nova, mas a
experiência internacional tem fornecido pistas sobre como são os motoristas
impotentes que optam por trabalhar com essa tecnologia quando se trata de direitos
sociais.
A Uber surge no mercado como uma empresa moderna, supostamente sem
burocracia, que visa compartilhar veículos, não possui vínculo entre partes
relacionadas e promete atender às necessidades dos consumidores ao mesmo
tempo, ao invés de outros meios de transporte e serviços disponíveis (DA
FONSECA, 2017).
A promessa de um aplicativo que ofereça a seus parceiros a possibilidade de
se tornarem patrões, donos de empresas, pode, na verdade, se apresentar como
uma forma de disfarçar a dura realidade em que os sócios começam a reduzir as
considerações financeiras e carecem por completo da proteção dos trabalhadores
regulares. Por outro lado, devido ao não pagamento de impostos exigidos pelos
concorrentes regulares, decorre principalmente da exploração do trabalho de outras
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pessoas. As empresas intermediárias têm obtido lucros excessivos, o que reforçou o


conceito de benefícios tecnológicos (COSTA et al., 2020).
Este tipo de disfarce compartilhado usado para encobrir a verdadeira face das
empresas tradicionais pode afetar diretamente as relações trabalho-gestão e cada
vez mais prejudicar o trabalho e a seguridade social enfraquecidos no mundo,
indicando que as deformidades do mercado são infinitas.

2.2 UBERIZAÇÃO

Navegar nas águas temáticas desse tema merece cautela: diante do


desenvolvimento positivo dos sistemas e da tecnologia digital, formando uma
relação simbiótica com o capitalismo, a sociedade está imersa no nascimento de
uma realidade que muitos acreditam ser irreversível (SANTINI, 2019).
Jean Lojkine entende que já na década de 90 há uma mudança categórica na
produção capitalista perpassada por uma “revolução informacional” em que os
indivíduos da produção e também consumidores estejam submetidos a uma nova
forma de “civilização”, e em relação ao capital, tal revolução vem atrelada a um
modelo de sociedade, tornando os processos tecnológicos como paradigmas da
própria sobrevivência. Nesse sentido, os eletrônicos, microeletrônicos e a internet
estão quase onipresentes na vida das pessoas, por meio de uma plataforma digital
que se afirma intermediária de relacionamentos e interesses baseados em
necessidades e ganhos de capital. (LOJKINE 1995)
Saes, em sua palestra em 2006, da ênfase à tese de Lojkine ao entender que
tal revolução informacional está abrindo caminhos para uma transformação social
em que o trabalhador deve estar apto ao diálogo com a “máquina inteligente”, ou os
eletrônicos e microeletrônicos, como o celular, tornando-se assim o apêndice de
máquina. E nesse sentido o capitalismo gere a manutenção das relações através
dos eletrônicos, como citado no parágrafo a cima, sob o trabalho produtivo. Lojkine
ainda deixa claro que tal máquina informacional não substituirá o homem, muito pelo
contrário, exige-se a presença humana como elemento material das relações de
trabalho.
Nesse sentido, Saes sustenta:
16

Então, agora me reportando à tese do Lojkine, é a fase da informatização da


produção, vale dizer, é a revolução informacional que vai abrir caminho pra
uma transformação social, porque a partir do momento em que, digamos, a
produção for informatizada – quer dizer, surgiu a máquina de comando
numérico informatizada – se começa a reabilitar o papel econômico do
trabalhador. Então, aquela desqualificação, aquela degradação do
trabalhador prevista pelo Marx, essa fase está superada e nós entramos
numa fase de reabilitação do papel econômico do trabalhador, porque o
novo operador de máquina, ele tem de estar a altura do diálogo com a
Smart Machine – a máquina inteligente – a máquina emite informações que
ele precisa tramitar, então ele não pode ser mais o apêndice da máquina
como dizia o Marx, ele não pode mais ser um operário apendiculado. E
então, qual é a contradição que está instaurada no capitalismo avançado,
nós estamos no começo dessa fase, a contradição em que um trabalhador
que volta a desempenhar um papel econômico importante como
desempenharia no artesanato e no início da manufatura e o papel
institucionalmente limitado que lhe é confiado pela classe capitalista. O que
a classe capitalista tem que reconhecer no canteiro de obras a
responsabilidade desse trabalhador, porque? Porque ele tem que tramitar
imediatamente as informações emitidas pela máquina informatizada, mas
ela não quer, a classe capitalista não quer reconhecer institucionalmente a
responsabilidade do trabalhador. Então, ele é degradado institucionalmente,
mas reabilitado praticamente no canteiro de obras e essa contradição tende
a gerar uma revolta da classe trabalhadora contra a classe capitalista. E é
uma revolta cuja raiz se encontra onde? Na situação do trabalhador dentro
do sistema produtivo mesmo, não é um outro tipo de revolta, quer dizer, ele
vai contestar o fato de que a classe capitalista não consegue reequacionar
institucionalmente a sua posição no processo de produção quando a
máquina já está exigindo dele uma nova posição no processo de produção
(SAES, 2006, p. 16).

Mais especificamente, Saes (2006, p. 16) sustenta a seguinte concepção:

[...] tende a surgir um misto de proletário-classe média no sistema de


produção informatizado, que na ótica do Lojkine dos anos 90, nunca
saberemos como é que são as pessoas dez anos depois, não sei, esse livro
foi publicado em 95, então, já fazem mais de 10 anos, é que as ideias
circulam muito lentamente nos outros países, mas então, na cabeça do
Lojkine de 95 esse setor seria a vanguarda da transformação social e é
claro que no momento em que ele escreve qual o pais mais avançado neste
ponto de vista? É o Japão. Tanto que grande parte da literatura dele é
literatura japonesa, sobretudo o Aoki, ele usa as análises do Aoki e do M.
Berger e tal né. Então, seria esse proletariado revigorado pelo novo papel
que o sistema de produção informatizado lhe revela. Então, vejam, a história
do desenvolvimento tecnológico do capitalismo seria assim, primeiro
momento, manufatura, o trabalhador é dono do seu ofício, o trabalhador
ainda detém alguma qualificação; aí chegamos na fase taylorista-fordista. A
desqualificação atinge o máximo, isto é, o trabalhador atinge o fundo do
poço e com a informatização começa, outra vez, uma subida da montanha.
Então, esse aí é um potencial possível de uma transformação, o que
significa que a transformação, ela é, evidentemente, mais possível no
coração do sistema capitalista e não na periferia, um pouco isso (SAES,
2006, p. 16).
17

Não é à toa que os estudiosos do direito do trabalho difundiram como um


movimento real derivado da economia colaborativa, o que levou ao termo
“Uberização” das relações trabalho. Isso porque esse tipo de prestação de serviço
atrai cada vez mais adeptos e é adotado por empresas de diversos ramos, não
apenas por empresas que prestam serviços de transporte privado.
Vale lembrar que o próprio Uber lançou o serviço de entrega de comida Uber
Eats em junho de 2016. Nesta versão da plataforma, o nome “parceiro” ganha uma
nova vertente: convidar lanchonetes e restaurantes a participarem de uma “parceria”
entre o app e a empresa.
Nesse sentido, a proposta do local é interessante: “Você tem restaurante?
Trabalhe com a Uber Eats para explorar uma nova forma de levar seus pratos a
mais pessoas, atrair mais clientes e aumentar a receita.” Quem tem interesse em
ganhar dinheiro com entrega: “Que tal entrega? Ganhe dinheiro com Uber.
Dependendo da cidade, pode-se entregar de moto, carro ou bicicleta.” (PINHEIRO;
SOUZA; GUIMARÃES, 2018).
O objetivo é apenas mostrar como a própria dinâmica da prestação de
serviços deu origem ao conhecido termo “uberização”, que pode assumir diferentes
formas e produzir diferentes consequências de acordo com as diferentes situações.
Nas palavras de Rodrigues (2018, p. 313) - esta pesquisa pertence em certa
medida a esse entendimento - na perspectiva de consumidores e empreendedores,
eles aproveitam as oportunidades proporcionadas pela economia colaborativa para
adotar o modo de aplicação do Uber, a Uberização na verdade parece ser uma
possibilidade positiva.
Se for considerado que apenas as pessoas afetadas pelo desemprego técnico
podem persistir nesta forma de prestação de serviço. No entanto, ainda existem
algumas pessoas que procuram aumentar o seu rendimento mínimo vital apenas por
razões económicas ou quaisquer outras. Afinal, essa é uma grande promessa do
novo modelo de negócios: aumentar a receita.
Portanto, para o conceito de Uberização é necessário um alto levantamento
bibliográfico, foram encontrados alguns artigos científicos, publicações, papers e
notícias sobre o assunto e muitas tentativas de dar-lhe sentido.
18

2.3 – UBERIZAÇÃO E A TERCEIRIZAÇÃO

Tenta-se persuadir que mesmo que a relação de trabalho da Uber “[...] seja
na verdade um fenômeno de transferência de risco e custo, ela sempre existiu na
terceirização [...]” e essa transferência desses riscos e custos, uma parte será
direcionada aos próprios trabalhadores (RODRIGUES, 2018, p. 328).
Por outro lado, Abílio considera esse fenômeno como uma nova forma de
terceirização ou subcontratação
Ocorre que a terceirização é um sistema antigo no direito do trabalho, que
pressupõe a relação tripartite estabelecida entre trabalhadores, empresas
terceirizadas e prestadores de serviços. Nesse sentido, vale a pena transcrever os
ensinamentos de Delgado (2018, p. 534):

Devido a este fenômeno, o trabalhador insere-se no processo produtivo do


destinatário do serviço sem estender-se à sua relação jurídica de trabalho-
gestão, que permanece fixa com a entidade interveniente. A terceirização
cria uma relação de três lados ao contratar mão de obra no mercado
capitalista: trabalhadores, prestadores de serviços e empresas que recebem
serviços realizam atividades materiais e intelectuais; empresas de
terceirização que contratam os trabalhadores assinam contratos de trabalho
estatutários relevantes com eles; e aceitação de serviço para trabalho, mas
não assume a posição clássica do empregador para com o trabalhador
relevante (DELGADO, 2018, p. 534).

Diante do conceito proposto de terceirização, parece que a analogia entre as


instituições não é suficiente, pois os pressupostos sobre a ocorrência do fenômeno
não são uniformes. Talvez a noção de que a relação de trabalho do Uber seja uma
“nova” forma de terceirização seja mais aceitável, mas não é convincente.
Para que essa afirmação ganhe força, não basta apenas assumir ou afirmar
que ela é terceirizada. Nessa perspectiva, a consideração de Virgínia Fontes (2017,
p. 55) servirá como uma contribuição para a conclusão deste tópico:

Claro, parte desses novos processos e tecnologias são movidos por


preocupações intensamente contraditórias sobre a intensificação do
capitalismo e apontam para novas e poderosas possibilidades, mas eles
precisam ser explorados de forma crítica. Não da forma como muitas
pessoas ficam fascinadas, como se essas experiências fossem
imediatamente o que eles chamam (“colaboração”, “livre”, “pública”). Ao
contrário, é necessário determinar a verdadeira relação que acolhe seu
nascimento, a forma específica de sua adaptação à forma de concentração
19

do capital, sua generalização e, por fim, introduzem novas possibilidades e


tensões na relação entre capital e trabalho. Essas medidas não encerram o
trabalho, mas aceleram a transformação da relação de trabalho (com
direitos) em trabalho isolado diretamente subordinado ao capital, sem
mediação contratual, sem direitos. Antes e depois disso, o interesse central
do capital ainda é a extração e captura da mais-valia (FONTES, 2017, p.
55).

Nesse sentido, é necessário aprofundar o tema para mostrar como as


dinâmicas apresentadas pela relação de uberização estão inseridas no modelo
trilateral, ou como ocorre a mutação da terceirização até que a uberização seja
alcançada.
A onda Uberiana se constituirá em um novo tipo de obra e apresentará
características próprias, pressupostos internos (objetivos e subjetivos), natureza
jurídica e trabalho especial, verdadeiro movimento, método ou organização da lei.
Até agora, todos esses estudos dão a sensação de que estamos avançando muito
em direção a essa lente (PIRES, 2021).
É importante salientar a centralidade do Estado quando se pensa na criação
da estrutura da organização “UBERIANA”, já que, no sentido marxiano do Estado,
quando uma fração dos homens detém dos meios de produção e dirige aos que não
os detém a sua utilização, existe o Estado. Ou seja, quando existe a relação de
grupos que desempenham atividades para conservar o padrão de relações entre os
detentores dos meios de produção e dos utilizadores dos meios de produção existirá
o Estado.(SAES, 1987)
Compreendendo o Estado na perspectiva marxiana, Saes traz o conceito de
Estado Burguês caracterizando-o como um modo particular da dominação de classe
e sua correspondência com as relações de produção capitalista. Nesse conceito
Saes afirma a impossibilidade da transformação do Estado em um reflexo da
transformação das relações de produção, argumentando que a natureza de tal
correspondência se dá ao contrário, no sentido de que o Estado Burguês torna
possível a reprodução das relações de produção capitalista através de uma estrutura
jurídico-política específica. Ou seja, “A correspondência entre o Estado burguês e as
relações de produção capitalistas não consiste numa relação causal simples e
unívoca entre ambos.” (p. 22). Portanto, Saes aborda a dupla centralidade, a do
Estado e a do trabalho, ou da reprodução das relações de produção capitalista.
20

Destarte somente o Estado torna possível a relação de trabalho existente no


modo de produção capitalista e nesse sentido o autor caracteriza as condições
ideológicas necessárias que o Estado Burguês cria a partir de duas funções; a
individualização dos agentes da produção que se dá através da troca desigual entre
a força de trabalho e o salário realizado através da vontade e “por iguais”, um
contrato de compra e venda da força de trabalho; e a neutralização do trabalhador à
ação coletiva, ou seja, induzir ao trabalhador o isolamento em relação aos outros
neutralizando-os de se unirem em coletivos contrários aos proprietários do meio de
produção.
O Estado Burguês, para manter sua segunda função, das condições
ideológicas, cria uma coletividade que nega os interesses de classe e se define
como interesse comum de todos os agentes de produção por serem habitantes de
um mesmo território, através do Povo Nação, fazendo com que todos os agentes,
sejam trabalhadores ou proprietários, sejam “iguais”. Portanto o Estado Burguês
através de tais condições consegue neutralizar a formação de trabalhadores em
coletividades revolucionárias, atomizando-os e conservando-os em um estado de
massa.
O atual modelo de neoliberalismo baseia-se na política de desregulamentação
das relações de trabalho e à política de abertura econômica ao capital internacional.
Saes percebe através do modelo comportamental político da frente política
conservadora, como a grande burguesia industrial que faz campanha desde 1988 a
favor da desregulamentação dos direitos sociais e trabalhistas conquistados a partir
de 1930, sendo a favor também de programas de privatizações. Temos como
exemplo também a reforma trabalhista implementada pelo governo Temer em 2017
com intenções desregulamentadoras dos direitos trabalhistas, que diferente do que
“esperado” não reduziu as margens do desemprego. Ricardo Antunes em “Trabalho
e precarização numa ordem neoliberal” resume a situação atual:

A desmontagem dos direitos sociais dos trabalhadores, o combate cerrado


aos sindicalismo classista, a propagação de um subjetivismo e de um
individualismo exacerbados da qual a cultura “pós-moderna”, bem como
uma clara animosidade contra qualquer proposta socialista contrária aos
valores e interesses do capital, são traços marcantes deste período recente
(Harvey, 1992; McIlroy, 1997; Beynon, 1995).
21

Vale ressaltar que o aprofundamento da terceirização não ocorreu apenas no


Brasil, mas também um fenômeno global. Os ideais neoliberais são fortalecidos, a
hegemonia expande o capital financeiro, acumula com flexibilidade e cancela
sindicatos que não se conformam ao modelo capitalista (SABINO; ABÍLIO, 2019).
Uberização “[...] refere-se a uma nova etapa de exploração do trabalho [...]”
(ABÍLIO, 2017); essa exploração é realizada através da criação de um modelo de
negócios que usa a tecnologia para assumir uma nova forma de relação de trabalho:
neste caso, a própria empresa de aplicativos atua apenas como um intermediário na
relação entre o consumo de produtos e a prestação de serviços - exatamente como
o que o Uber fez quando lançou seu aplicativo de transporte privado.
Em outras palavras, vale a pena tentar verificar a natureza jurídica
estabelecida entre aqueles que usam as receitas e como objetos para se atrair para
a obtenção de serviços e o intermediário assumido. Para tanto, será utilizada a
relação estabelecida entre a empresa aplicadora e o motorista parceiro (VENCO,
2021).
Em Guerra e Duarte, percebe-se que o uso de máquinas para reorganizar e
privar os direitos dos trabalhadores ao trabalho é um cenário ideal para o capitalismo
e apontou alguns exemplos de flexibilidade, instabilidade e terceirização do trabalho
em outros países: Elas dizem que no Reino Unido existe um tipo de contrato de
trabalho denominado “trabalho parcial”, “Contrato por tempo”, não há horário fixo. O
trabalhador ganha dinheiro apenas quando trabalha e só trabalha quando é
chamado, mas precisa ficar na empresa (GUERRA; DUARTE, 2020).
O serviço do Uber se torna exemplo de trabalho instável, pois embora os táxis
paguem taxas e impostos e realizem atividades de acordo com os regulamentos, os
motoristas do Uber não precisam pagar nada para prestar esse serviço e não há
previdência social. Há uma espécie de “Uberização” do trabalho, pois a instabilidade
do trabalho é a tragédia de nosso tempo, é a volta da “escravidão” (assalariada) e as
exceções estão se tornando a regra (CARVALHO; FREITAS; AKERMAN, 2021).
Portanto, esse fenômeno descreve um novo modo de organização do trabalho
que surgiu devido ao progresso tecnológico. Em particular, a economia
compartilhada que surgiu com o uso de tecnologias e possibilitou o aumento
significativo dos conflitos nas relações de trabalho.
22

Abílio (2017) descreve de forma brilhante a Uberização:

(...) refere-se à nova etapa da exploração do trabalho, que traz mudanças


qualitativas na condição dos trabalhadores, na configuração da empresa, na
forma de controle, gestão e expropriação do trabalho. Trata-se de uma nova
etapa do outsourcing, mas ao mesmo tempo que se complementa, pode
competir com o anterior modelo de rede de subcontratação composta pelas
mais diversas empresas. A Uberização consolida a passagem da condição
de trabalhador para o emprego permanente como nanoempreendedor,
mantém a sua condição de subordinado, privando-a das garantias mínimas,
mas ocupa o estabelecimento público e perda de formas de trabalho
padronizadas.

O uso dos termos “Uberização do Trabalho” e “Economia Uber” está


intimamente relacionado ao motivo pelo qual esta pesquisa optou por analisar os
negócios da Uber no mercado de compartilhamento de transporte de passageiros,
pois, de fato, várias outras iniciativas podem ser utilizadas para resolver este tema,
mas isto é precisamente porque esta empresa é a que mais se destaca no mercado
partilhado entre tantas outras empresas, seja pela atuação em vários países ou pela
quantidade de recursos ou porque já despoletou a sociedade antes de entrar no
mercado.
Essas iniciativas começaram com o transporte pessoal e foram fortalecidas no
chamado modelo de contrato zero hora, por meio da grande desregulamentação da
prestação de serviços de táxi por meio de plataformas tecnológicas, caso em que os
motoristas podem aguardar as demandas de seus funcionários. Isso viola
completamente a legislação trabalhista nacional e combina o abuso de novas
tecnologias com uma grande quantidade de mão-de-obra excedente (FRANCO;
FERRAZ, 2019).
Segundo Pochmann (2016), associações, sindicatos e partidos de defesa dos
trabalhadores ainda estão se desintegrando, o que é resultado geral de uma nova
fase de aumento da exploração do trabalho. Os empregadores estão cada vez
menos lidando com os direitos sociais e trabalhistas, o que incentiva a competição
individual mais intensa entre os trabalhadores e beneficia os empregadores.
Se o termo “economia compartilhada” vai muito além das fronteiras e difunde
os ideais da comunidade, então a Uberização também é considerada uma forma de
gestão e organização do trabalho que transcende o toyotismo com base na
23

economia de mercado. Em entrevista à Revista Poli: Saúde, Educação, Trabalho,


Marcio Pochmann declarou que “Uberização é o nosso nome para o surgimento de
um novo modelo de organização do trabalho” (ABILIO, 2019).
No entanto, ele o comparou com o modelo regulatório fordista e
posteriormente o toyotismo, de forma que a Uberização será representativa de um
modelo organizacional, o que parece ser uma alternativa ao esgotamento deste. Em
seguida, Pochmann observou que uma nova etapa era “a autonomia dos contratos
de trabalho”. Trabalhadores e empregadores negociam sua remuneração, horas de
trabalho e arcam com as despesas de trabalho separadamente.” (SLEE, 2019).
Segundo Abílio (2017), podemos entender a uberização como uma nova
forma de exploração do trabalho, pois quem se torna sócio, ou trabalhador, pode
exercer suas funções sem garantias básicas e, ao mesmo tempo, precisa manter
uma posição subordinada. Agora, os riscos e custos são assumidos por estes
“operadores individuais”, que vão definir o seu percurso de acordo com as suas
necessidades e possibilidades e vão procurar cada vez mais estratégias para fazer
face à concorrência cada vez mais acirrada, como agradar o consumo do serviço do
condutor como tanto quanto possível vencedores obtêm as melhores críticas e se
destacam nas solicitações de viagens.
Se insistirmos na Uberização como forma de organização do trabalho, vale
ressaltar que o Uber não faz a mediação entre prestadores de serviços e
consumidores por meio de aplicativos digitais. Embora seja um dos maiores
representantes desta nova forma de negócio, não trouxe nenhuma inovação. Mas
por se tornar um grande símbolo da “economia compartilhada” e da visão dos
trabalhadores como parceiros e empresários, adotaremos esse termo (ALVES,
2018).
A Uberização está mais próxima do aprofundamento da flexibilidade,
chegando ao extremo onde o trabalhador não é mais visto como tal. Ao aumentar a
transformação impulsionada pela tecnologia, conectando prestadores de serviços e
consumidores, conduzindo o discurso do empreendedorismo, gerando lucros para
grandes empresas. Como resultado, as enormes mudanças econômicas lideradas
por software e conectividade ganharam poder, dinheiro e influência (DA SILVA,
2019).
24

A ideia de Pochman de que trabalhadores e empregadores negociam sua


remuneração e jornada de trabalho sozinhos não tem sentido se usada para
descrever as características da Uberização. Atualmente, grande parte de nossos
trabalhadores vive na mais completa dependência fria de algoritmos e sistemas de
reputação. O diálogo com os empregadores não existe, em primeiro lugar pela
ambiguidade da sua personificação através das plataformas digitais e, em segundo
lugar, porque já não são considerados trabalhadores, mas sim parceiros (FERRER;
DE OLIVEIRA, 2018).
A globalização e a consequente desregulamentação do mercado e o uso da
telemática (informática mais telecomunicações), que antes eram restritos às
empresas, chegaram agora ao momento em que os indivíduos podem acessá-los.
Nesse processo de personalização, podemos ver que a alavancagem da
flexibilidade se espalha no nível individual, graças à tecnologia digital que colabora
na autogestão da força de trabalho (MARTINS; DE MIRANDA, 2017).
A tecnologia surge como um trunfo para a construção desse modelo de
negócios, externalizando custos ao eliminar regulamentações que antes regulavam
a relação entre os interesses das empresas e das comunidades, mas agora
permeiam os interesses das empresas e dos prestadores de serviços. A posse e
concentração de capital estão cada vez mais dependentes de equipamentos com
graduais avanços tecnológicos (VENCO, 2018).
O discurso neoliberal que defende o empreendedorismo por meio de esforços
individuais tem levado cada vez mais trabalhadores todo o espectro da Uberização
do trabalho: parcerias em vez de contratos de trabalho, longas jornadas de trabalho,
falta de segurança no trabalho e alto controle. Neste caso, o contrato de trabalho
deu lugar à contratação de mão-de-obra para um determinado serviço, neste caso a
empresa tem estado operacional e rentável sem “empregados”. Essa mudança para
microempresários destaca a necessidade de flexibilidade, já que sua gestão foi
transferida para os trabalhadores. Ex-colaboradores, atuais empresários, a
produtividade e os respectivos rendimentos passam a ser da inteira
responsabilidade de cada parceiro (UCHÔA-DE-OLIVEIRA, 2020).
Portanto para entender esse processo de individualização, ou como utilizado
por Poulantzas “atomização da classe explorada”, é necessário compreender que é
25

um processo particular do Estado Burguês, que de forma intencional entorpece o


conflito de classes através de sua burocratização e de seus aparatos políticos,
fazendo com que o indivíduo, trabalhador assalariado, se enxergue fora do grupo, ou
classe, a qual pertence, tornando-se personalidades individuais. Sendo assim, a
relação entre os indivíduos e a sociedade passou por uma mudança de categoria,
não apenas a consciência, mas mudanças no posicionamento pessoal. (SAES,
1987)

Impulsionadas pelo processo de individualização, as diferenças de classe e


os laços familiares não foram realmente eliminados, mas entraram em
segundo plano e deram lugar ao novo “centro” do projeto biográfico. Ao
mesmo tempo, novas dependências surgiram. Referem-se às contradições
inerentes ao processo de individualização. Na modernidade avançada, a
individualização se completa sob as restrições do processo de socialização
que torna gradualmente impossível a libertação individual: os indivíduos se
livram da estrutura de suporte e dos vínculos tradicionais, mas em troca
aceitam a pressão do mercado de trabalho, baseado no consumo, e os
padrões e controles contidos em ambos. Em vez de laços e formas sociais
tradicionais (classe social, família nuclear), entram em jogo instâncias e
sistemas secundários. Eles deixam uma marca na trajetória do indivíduo e
assumem a forma de consciência na direção oposta à vontade do indivíduo,
joguete da moda, meio ambiente, meio ambiente e mercado (BAKER 2011,
p.194).

Portanto, a individualização pode ser entendida como a forma de socialização


mais dependente do mercado em todas as áreas da vida (DA FONSECA, 2017).
A liberação do modo de vida tradicional abre espaço para uma composição
unificada e padronizada das formas existentes. Neste caso, as massas
individualizadas usam a tecnologia para promover o isolamento, que em certa
medida é imperceptível, graças a um grande número de informações e contato. É
realizado em uma rede de comunicação padronizada globalmente. Baker enfatizou a
vida dual do espaço social, destacando o poder da televisão no processo de
personalização. No entanto, essa visão ficou um tanto desatualizada, porque
atualmente, quando nos deparamos com o impacto da microeletrônica, esse
processo foi levado ao extremo, onde o uso generalizado de smartphones reflete
uma forma de personalização mais especial (COSTA et al., 2020).
A responsabilidade de garantir a própria sobrevivência leva à subjetividade e
individualização dos riscos e contradições gerados pela sociedade. Nesse sentido,
diante das mudanças trazidas pela crise trabalhista e social, é impossível evitar
26

sentimentos de fracasso e culpa. No caso do subemprego, sem trabalho ou sem


renda, de forma a garantir o gasto mínimo básico, acaba sendo devolvido à
irresponsabilidade individual, por ser produto da forma social do capital (SANTINI,
2019).
Os riscos aumentam tanto em quantidade como em qualidade, porque a
biografia que todos querem construir carrega consigo o peso das consequências
sociais. Portanto, as contradições sistêmicas do capital, neste caso, referem-se
principalmente àquelas contradições das crises trabalhista e social, que acabam se
transformando em uma espécie de superação que precisa ser feita separadamente.
Portanto, é necessário analisar a contradição entre o valor e o trabalho que ajudam
a promover a Uberização.

2.4 UBERIZAÇÃO E PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO

O processo de precarização do trabalho tornou-se acentuado desde a década


de 70. Com a revolução da microeletrônica, além de interromper gradativamente a
produção de valor, também abriu as portas para novas formas de exploração do
trabalho ao fornecer serviços que utilizam plataformas digitais como intermediárias.
Além de eliminar empregos, a mudança tecnológica também transfere parte da força
de trabalho para ocupações não produtivas na indústria terciária. Agora, os
provedores de serviços existentes tornaram-se mais instáveis porque são
controlados por empresas valiosas com o poder da tecnologia digital. (PINHEIRO;
SOUZA; GUIMARÃES, 2018).
A situação atual, já no processo de uberização do trabalho, sendo também
um processo de precarização, é um pouco mais grave. Vivemos a intensificação da
terceira revolução tecnológica e a informação se espalhou ainda mais para áreas
que antes não podiam trazer lucro ao capital. A microeletrônica atingiu o nível de
desenvolvimento em que testemunhamos a criação da inteligência artificial, então
essas novas máquinas levaram ao surgimento da chamada Revolução 4.0 (SOUZA;
ABAGARO, 2021).
O compromisso com a produção de valor, seja expulsando a mão-de-obra do
processo produtivo ou transferindo-a para setores não produtivos, vai produzir um
27

excedente de mão-de-obra e essa mão-de-obra deve ser muito flexível para se


adaptar ao contexto cada vez mais informal. O desemprego e a queda dos salários
não são mais apenas uma forma de desvalorização. Continuar a criar valor é uma
manifestação marcante da crise social e do trabalho e é também o limite do próprio
capitalismo.
O Uber parece ser uma opção (como forma de complementar a renda) diante
do desemprego e da insuficiência de renda de um determinado trabalho, razão pela
qual às vezes é utilizado como exemplo de possibilidade de reestruturação
econômica para a criação de novos empregos. Embora o Uber tenha criado milhões
de empregos em todo o mundo (cujas condições estamos discutindo), seu impacto
econômico em vários setores é muito grande, destruindo a profissão já existente.
Nesse sentido, assim como a lógica global do capital está travada em ganhos de
negócios pessoais por meio de cortes de custos e dispensas, a plataforma de
corrida fornecida pelo Uber, embora pareça ser uma criação isolada de empregos,
destrói vários outros empregos (PIRES, 2021).
Portanto, o modelo de trabalho adotado pela Uber não é apenas um símbolo
da crise social do trabalho, mas também um agravante. John Baumgardner, CEO da
Ace Parking, que afirmou que a demanda por estacionamento em hotéis em San
Diego (EUA) caiu de 5 a 10%, enquanto a demanda por estacionamento com
manobrista caiu menos de 25%. No caso das casas noturnas, a queda foi ainda
maior, com queda de 50% na demanda por manobrista. Esse fenômeno não
terminou nos Estados Unidos. Em São Paulo, a expansão dos serviços tem feito
com que os estacionamentos fiquem cada vez mais vazios, gerando mais
desemprego (VENCO, 2021).
Por outro lado, os motoristas de táxi estão diretamente sujeitos à concorrência
do Uber. Alguns deles, principalmente os que trabalham para chefes de táxi sem
carteira, tornaram-se motoristas do Uber. Outro processo está ocorrendo em
algumas cidades do Brasil. A plataforma tem impacto no transporte público: por
exemplo, na região metropolitana de São Paulo, a empresa de ônibus está
processando a Uber por irregularidades no transporte público e perda de
passageiros devido ao uso de serviços compartilhados.
28

No paradoxo de que o Uber representa uma alternativa ao desemprego e


agrava o desemprego, vemos que a primeira situação geralmente é mais fácil de
lembrar e associar à empresa. A razão disso é que a elevada taxa de desemprego
foi atenuada estatisticamente, porque a forma mais instável de trabalho tornou-se
uma solução óbvia. É neste sentido que o desemprego deixa de estar incluído nos
números, mas de facto revela a estrutura social do subemprego, cujos riscos,
insegurança e incerteza devem ser suportados separadamente (SABINO; ABÍLIO,
2019).
Os trabalhadores que se adaptam às duras condições representam os ideais
da uberização. A força de trabalho, que muitas vezes é expulsa do mercado, não
tem escolha a não ser sucumbir a condições extremamente favoráveis para as
empresas que cortam custos ao não contratar trabalhadores. Dada a crise da
sociedade do trabalho é muito simples recrutar um exército de “sócios” que contam
com o próprio trabalho para arcar com os custos pessoais (GUERRA; DUARTE,
2020).
O site da empresa está repleto de motivos para tentar provar a importância do
Uber para o espaço urbano. Por exemplo, a possibilidade de ganhar renda
planejando seu próprio tempo, sendo seu próprio patrão, ou usufruindo de transporte
seguro, cômodo, confiável e compartilhado, por outro lado, pode ser uma forma de
reduzir o consumismo e o impacto ambiental. Para motoristas, consumidores e
principalmente cidades, parece uma fonte de benefícios (CARVALHO; FREITAS;
AKERMAN, 2021).
Em relação aos benefícios dos motoristas, as palavras da empresa são
baseadas em muito trabalho. Tudo depende de quanto tempo cada pessoa investe
em viagens. Se alguém ganha muito pouco, pode ser porque não tem tempo
suficiente durante o dia. Como seu chefe, escolha seu horário de trabalho e quanto
receberá todas as semanas após a transferência - a possibilidade de transferir essa
série de obrigações para “sócios” é do Uber e de outras empresas da “economia do
compartilhamento” diz-se que é uma grande riqueza.
Quem não goza de nenhum direito trabalhista parece não acreditar na
parceria anunciada. A situação fica mais complicada quando percebemos que, como
trabalhadores, eles se encontram em uma situação de instabilidade. O ponto de
29

vista não é assumido pela empresa, ela usa a erosão do poder para aumentar suas
margens de lucro (SOUZA; MEINBERG, 2020).
Quando questionados se estão satisfeitos com seu trabalho, como motoristas
do Uber, algumas pessoas pensam que são “autoempresários” que podem fazer
pleno uso da liberdade e flexibilidade de sua própria gestão. Para quem encontra
uma solução para a falta de emprego no Uber, a resposta é “Sim, me salva do
desemprego.” Por outro lado, muitas pessoas reclamam que a alíquota de 25%
cobrada pela empresa é muito alta da lógica do subemprego, a corrosão dos direitos
trabalhistas:

Não, é por falta de reconhecimento. Se o serviço não for perfeito ou o carro


ficar sujo em um dia de chuva, ele ficará fora do ar e a conta poderá ser
suspensa. Além disso, não há garantia de feriados, 13º, INSS, etc. O Uber
atualmente é como um “bico”, não uma profissão (FRANCO; FERRAZ,
2019).

Em relação à receita, a empresa afirma em seu site: “Depende muito de


você”. Os motoristas parceiros que ficam online cerca de 45 horas por semana nos
dizem que gastam 25% de sua renda com aluguel e 25% com combustível. A
imprecisão da receita líquida é simplesmente despejada sobre os indivíduos.
Trabalhar 45 horas por semana não representa renda fixa porque depende muito da
demanda. Para tanto, a empresa formulou um “preço dinâmico” (FONTES, 2017).
Quando a demanda aumenta, a “precificação dinâmica” é ativada, que é um
mecanismo para reajustar o valor da viagem e incentivar mais motoristas a se
conectarem ao aplicativo. Nesse processo, quando a demanda em um determinado
local aumenta, os preços aumentam para atrair mais carros, reequilibrar a relação
oferta-demanda e fornecer formalmente serviços eficientes a todos os usuários.
Porém, se a ideia da empresa é permitir que os motoristas que já estão na
cidade ativem seus aplicativos, muitas pessoas de outras cidades acabarão indo
para locais com maior demanda. Portanto, aqueles que desejam obter benefícios
adicionais por meio de “preços dinâmicos” se frustram com muitos concorrentes. Em
resposta a essa competição acirrada, no Brasil, entre outubro de 2016 e 2017, o
número de motoristas saltou de 50.000 para 500.000 em um ano, a maioria deles
localizados nas principais áreas metropolitanas (ABILIO, 2019).
30

Na medida que a competição entre os motoristas se intensifica, a ativação


dos mecanismos dinâmicos torna-se cada vez menor. Muitas pessoas começam a
dirigir por muito tempo sem passageiros e com desperdício de combustível. Outros
param onde se sentem seguros e aguardam novos pedidos onde são mais
necessários. Esse tempo de inatividade claramente não é recompensado.

Sempre que dirijo sem passageiros, geralmente estaciono o carro em um


beco sem saída. Descanso até que uma nova corrida apareça. Às vezes
tenho que esperar meia hora. Mas isso é melhor do que queimar
combustível para nada. Conheço outros motoristas que fazem a mesma
coisa (SLEE, 2019).

O que faz com que a plataforma priorize determinados direcionadores na


solicitação é o sistema de avaliação mútua. Aqueles com os melhores resultados
serão capazes de contatar os passageiros mais rapidamente. De acordo com o
sistema de avaliação mútua, os motoristas com pontuação inferior a 4,6 estarão
impedidos de entrar na plataforma. Se o usuário não tiver uma pontuação para
passar, ele também pode ser desconectado. A avaliação mútua é a razão dos
elevados valores da empresa de respeito, igualdade, integridade e transparência,
que irão garantir a qualidade da plataforma (ANTUNES, 2020).
A empresa destacou em seu site que “o Uber não emprega nenhum
motorista” e destacou em negrito. Seu objetivo é fornecer uma plataforma de
tecnologia para que os motoristas cooperativos aumentem sua renda e permitam
aos usuários desfrutar de uma viagem confortável e segura. Ao mesmo tempo,
procura expandir os seus benefícios financeiros através da prestação dos mais
diversos serviços de viagens, reinventando-se, repetindo a falta de responsabilidade
social, pois no seu conceito não tem colaboradores senão parceiros.
À medida que aumenta a oferta de motoristas e não com o aumento da
demanda por viagens, o resultado é um aumento da jornada de trabalho. Segundo
reportagem da Folha de São Paulo, um motorista entrevistado trabalhava 23 horas
consecutivas, “dormindo no carro” e ganhava 12 reais por semana. Eles até
fornecem cartões de contato e viagens combinadas pelo WhatsApp como uma
estratégia para evitar a competição. (ABÍLIO, 2020)
31

Eles (do Uber) não dão ouvidos ao motorista. Eles nunca procuram
soluções que nos ajudem, apenas consideram os seus lucros, que são
enormes e esperam obter cada vez mais lucros conosco e com os
passageiros. Nossos motoristas estão sofrendo com o preço do
combustível, das peças do carro, de qualquer tipo de manutenção, da
alimentação, tudo é caro. Eles não gostam, nosso motorista quase paga
pelos passageiros. Agora o Uber cobra mais taxas dos passageiros e depois
nos transfere muito menos dinheiro, o que é muito barato e fica com o
dinheiro restante, ou seja, eles estão roubando os passageiros, nós somos
os pilotos que correm e nós fazemos isso por eles Depois de receber o
dinheiro, o Uber é, em última análise, a pessoa lucrativa. O Uber irá à
falência se mantiver a maior parte das despesas pagas pelos passageiros
(MORAES; DE OLIVEIRA; ACCORSI, 2019).

As reclamações dos motoristas são consistentes com o estudo do MIT de


1.100 motoristas do Uber, que mostrou que 30% dos motoristas estão perdendo
dinheiro quando as despesas com o carro são levadas em consideração. Quase três
quartos dos motoristas ganham menos do que o salário mínimo nos Estados Unidos
e o salário médio por hora antes dos impostos é de US$ 3,37. A empresa cobra em
média 25% do valor do jogo, mais combustível, seguro do veículo, depreciação e
custos de manutenção, que fazem com que muitas pessoas saiam da plataforma.
Este gráfico pode explicar a alta taxa de rotatividade de motoristas. De acordo com o
site The Information, em abril de 2017, o Uber só conseguiu fornecer seguro para
4% dos motoristas nos Estados Unidos de um ano para o outro (POCHMANN,
2016).
Grande número de motoristas saiu da plataforma em São Paulo. Esse fato se
deve principalmente às longas jornadas de trabalho e à falta de retorno financeiro.
Eles reclamaram do longo tempo e do estresse psicológico ao receberem e-mails e
mensagens do Uber ao fecharem o aplicativo. A rede de controle se torna mais
complicada devido ao risco de cancelamentos de drivers e análises negativas
levando a aplicativos bloqueados. A empresa afirma que os prestadores de serviço
que contratam e não o contrário, são totalmente independentes e flexíveis na
programação dos seus horários.
No entanto, se sua renda não é suficiente para cobrir suas despesas, como
se pode desfrutar da flexibilidade do trabalho? Não há outra maneira a não ser
estender o horário de trabalho até que se danifique seu corpo (como descanso e
sono).
32

De acordo com a pesquisa realizada por Moraes, Oliveira e Accorsi com 100
motoristas de Uber em São Paulo, 77% das pessoas trabalham de 6 a 8 horas por
dia como motoristas, dirigindo de 5 a 7 dias por semana 73% e tendo o aplicativo
como única fonte de remuneração são 57%, esses motoristas, segundo os autores,
buscam ainda trabalho formal, reclamam da carga horaria de trabalho e da baixa
remuneração (FILGUEIRAS; ANTUNES, 2020).
A democratização da novidade tecnológica é um mecanismo para modelar e
contar com o trabalho diário 24 horas por dia, 7 dias por semana, ou seja, tentar
estender o trabalho a todo o limite de tempo da vida. É assim que a uberização,
como forma de gestão da atual “empresa de aplicativos”, se apresenta como uma
estratégia altamente lucrativa, pois, ao prestar serviços, seus “parceiros” estão
dispostos a percorrer longas distâncias, geralmente cumulativas, para forçar para
suportar o trabalho diário 24 horas por dia, 7 dias por semana e obter alguns
benefícios neste mercado de trabalho cada vez mais competitivo (VENCO, 2019).
A dependência de padrões diários cada vez mais difundidos e intensos acaba
revelando o aprisionamento dos mecanismos de controle, proporcionando contínuo
avanço tecnológico. Pelo contrário, a crise da sociedade do trabalho não é para que
os indivíduos se libertem da limitação do tempo, como demonstram os defensores
da flexibilidade, mas sim para a prisão total: deve ser cada vez mais diante do
trabalho.
O Uber não é uma empresa de transporte, mas sim uma empresa de
tecnologia que conecta motoristas a passageiros, o que isenta a Uber de
responsabilidade e a transfere para os motoristas. A classificação como autônomo
foge à obrigação da empresa de assumir os direitos trabalhistas e cumprir as
normas trabalhistas. No subempreiteiro, só nele, muitos riscos virão. As empresas
mais bem-sucedidas na “economia compartilhada” classificam seus prestadores de
serviços como autônomos, que podem economizar salários de manutenção, uma
série de direitos trabalhistas, custos de manutenção, tempo de inatividade e custos
de transferência de tempo, acidentes de trabalho e qualquer obrigação de garantia
social (MARTINS; DE MIRANDA, 2017).
Pode ser explicado na “Biografia de Desempenho Incerto” de Kurz (2015)
porque a adesão à plataforma cresceu rapidamente. Com o declínio contínuo dos
33

salários reais, mesmo nos centros capitalistas, a renda oficial dos salários não é
mais suficiente para cobrir esse padrão de seguro habitacional, automóvel e médico.
A solução que muitas pessoas encontram é procurar emprego adicional, ou seja,
aqueles com jornada média de trabalho mais curta provavelmente combinarão o
Uber com outras profissões. Portanto, fica claro que a flexibilidade de trabalho
preconizada pelo discurso neoliberal significa fluidez na jornada, estendendo-a na
medida em que os limites humanos podem suportar
Obviamente, isso só acontece quando eles descobrem tais atividades, pois
além do aumento exponencial da taxa de desemprego, a linha entre emprego e
desemprego também se tornou mais tênue do que nunca. Para uma classe social
cada vez mais restrita, os direitos trabalhistas tornaram-se um luxo - e estão prontos
para adotar novas formas de flexibilidade, subemprego e instabilidade (VENCO,
2018).
O desenvolvimento da uberização, além de demonstrar as vantagens
econômicas dos investidores em startups multibilionárias, também comprova o
aumento do desemprego e a instabilidade do emprego. A cada dia, aumenta o
número de pessoas em situação de vulnerabilidade por trabalharem de forma
autônoma ou informal, seu salário é incerto, ou porque seu salário é constantemente
atrasado, mesmo em cargos antes considerados estáveis e obrigados a buscar
relações de trabalho complementares, como por exemplo, associação com
plataformas como Uber.
Quando as pessoas não puderem mais trabalhar de acordo com sua
formação, veremos conceitos como profissões ou habilidade se tornarem sem
sentido. A crise da sociedade do trabalho, ao impedir os indivíduos de fazerem o que
querem e apenas fazerem o que lhes é permitido fazer, leva à erosão do caráter
pessoal, porque vivemos o curto prazo necessário para a flexibilidade que prevalece
na complexidade das relações interpessoais.
Nesse sentido, a dimensão do tempo no novo capitalismo pode atacar mais o
caráter pessoal, porque o curto prazo impulsionado pelas reformas econômicas
modernas coloca a vida emocional em risco. Medo, ansiedade, preocupação e
ansiedade, são sentimentos em nossas vidas diárias, podem causar uma dor
tremenda e só podemos enfrentá-los no final.
34

Embora a própria vida profissional sempre tenha sido cheia de incertezas,


atualmente ela se apresenta de uma nova forma. Porque até a garantia da profissão
para o qual se está qualificado não existe mais. A necessidade de reinventar e se
adaptar às mais diversas competências tornou-se uma obrigação para
desregulamentar o mercado de trabalho.
A perda do vínculo empregatício acaba por desobrigar a empresa de
quaisquer custos e não precisa se preocupar com os riscos enfrentados pelos
trabalhadores considerados empresários. Apesar desse ambiente instável, trabalhar
para uma empresa como a Uber é uma opção viável e rápida para um grande
número de pessoas subutilizadas que desejam ou podem trabalhar mais horas no
dia.
Só no Brasil, segundo dados recentes do IBGE, há 26,4 milhões de
trabalhadores subutilizados, categoria que envolve pessoas “economicamente
ativas” fora do mercado de trabalho. Obviamente, há uma disputa entre esses
trabalhadores subutilizados e o exército ocioso, que é outra categoria estatística do
IBGE (SANTINI, 2019).

CAPÍTULO TRÊS

UBERIZAÇÃO COMO REPOSTA À CRISE

Para dar continuidade à nossa reflexão, é importante ressaltar que esta crise
não se limita à superacumulação. As limitações internas do capitalismo são óbvias e
não pode continuar a criar valor. Substituir trabalho produtivo por trabalho
improdutivo é um ataque ao seu pilar mais básico. Portanto, além de exigir capital
para superar os obstáculos internos à acumulação, a revolução tecnológica também
cria obstáculos intransponíveis (PINHEIRO; SOUZA; GUIMARÃES, 2018).
Devido ao crescente excedente de trabalho (capital variável), a nova alocação
exige que os indivíduos se submetam a condições cada vez mais instáveis como
mecanismo de ajuste à acumulação excessiva. Uma vez que um grande número de
trabalhadores é abandonado, prestar serviços ao Uber é a forma mais direta de
resolver o problema do desemprego. Obviamente, este é um processo contraditório,
35

porque a redução nas despesas de capital variáveis tem um impacto no nível geral
de consumo, aumentando assim o problema de superacumulação. No entanto, esse
é o instinto das relações de capital e não se pode esperar racionalidade (PIRES,
2021).
Se valor é uma relação social, é interessante entender como sua crise gera
novas configurações espaciais e temporais, principalmente nas relações de trabalho.
No final do século 19, a inovação do processo de produção na segunda revolução
tecnológica eliminou um grande número de trabalhadores da linha de produção,
promovendo o uso de motores elétricos e de combustão interna. O ajuste espacial
da acumulação excessiva de trabalho é a imigração da Europa para outros
continentes.
No passado, esse excedente poderia ser compensado pela mobilidade
geográfica e por processos de produção inovadores para estabelecer novos
departamentos de produção que podem absorver alguns dos trabalhadores
expulsos. Porém, atualmente, se está testemunhando as limitações inerentes ao
capitalismo global com sua produtividade altamente desenvolvida, portanto, desde a
revolução da microeletrônica, essa compensação não é mais efetiva.
Diante de uma economia global que não pode gerar mais valor, uma mistura
de “humanos não lucrativos”, excluídos e subutilizados, vem formando grupos cada
vez mais densos. O fluxo de capital monetário para a bolha financeira mostra que,
em um mundo de valorização virtual, o mais importante é a possibilidade de obter
alguma receita com a circulação de títulos financeiros (VENCO, 2021).
No contexto da contínua racionalização da força de trabalho, o desemprego
em larga escala está relacionado ao sistema de emprego por meio de uma nova
forma de subemprego improdutivo, informal e altamente flexível e acarreta uma série
de novos riscos para os indivíduos. Esta é uma característica do ajuste do espaço
de trabalho nesta época: ajuste feito separadamente. Quando se trata de
Uberização do trabalho, esse recurso fica mais oculto (SABINO; ABÍLIO, 2019).
Para quem ainda não foi expulso do mercado de trabalho, os empregos
excedentes passaram por uma série de transformações. As dimensões básicas que
sofreram as mudanças mais potenciais na padronização do trabalho são as horas de
trabalho e o local de trabalho.
36

A racionalização impulsionada por meios eletrônicos fornece uma forma


descentralizada de organização para aqueles que ingressam no mercado de
trabalho. A dispersão do espaço de trabalho apresenta um padrão, que se torna
cada vez mais uma configuração invisível no processo da escassa sociedade de
trabalho e produção.
Beck (2011) mencionou o processo de dicotomia do mercado de trabalho com
base nas normas padronizadas e não padronizadas de mobilização do trabalho em
termos de tempo, espaço e seguridade social. A fluidez espacial passou por uma
dualidade, na qual, devido aos meios eletrônicos, pode ser fortalecida ou
transformada em imobilidade. O crescimento do número de pessoas que trabalham
em home office mostra como é lucrativo usar instalações e determinados
equipamentos para cortar custos em uma empresa, é um exemplo de imobilidade.
O trabalho de um motorista que usa uma plataforma digital como meio é um
produto da modernidade, ávido pelo maior desenvolvimento da produtividade.
Embora a revolução microeletrônica tenha promovido a racionalização do trabalho
nos setores produtivos e não produtivos e gerado excesso de capital variável,
também integrou parte do excesso de capital em um sistema complexo de emprego
flexível, diverso e instável. O subemprego se deve à quebra da fronteira entre
emprego e desemprego, integrando o trabalho excedente a uma espécie de risco,
incerteza e insegurança que são transferidos diretamente para as relações pessoais
(GUERRA; DUARTE, 2020).
A descentralização do espaço exigida pelo Uber é muito óbvia por se tratar de
um serviço de transporte urbano. Porém, a descentralização também ocorre em
termos de mecanismos de controle e disciplina, sendo que a tecnologia da
informação permite tal feito a qualquer hora e em qualquer lugar, mesmo que não
seja durante o horário de trabalho.
O impulso da modernização criou um trabalhador que deve estar disposto a
se mover continuamente e tentar sobreviver ao movimento. Desenraizado e sempre
disposto a recusar o espaço fixo para se adaptar a uma configuração de trabalho
flexível. A dispersão no espaço é um pré-requisito para o exército desempregado,
que depende do deslocamento diário e precisa encontrar janelas no mercado.
37

Não se trata apenas de erradicar e evitar quaisquer problemas de fixação do


espaço físico, porque até o custo do capital fixo foi externalizado em termos de
motoristas possuírem seus próprios equipamentos. A exigência de possuir carro
(próprio ou alugado) para trabalhar revela o grau de externalização de custos. O
capital fixo anteriormente disponibilizado pelo empregador passa a ser da
responsabilidade do trabalhador, sendo que na rede de transferência de custos é o
próprio trabalhador que arca com as consequências (CARVALHO; FREITAS;
AKERMAN, 2021).
Bauman (2001, p. 128) destacou que “a modernidade talvez seja mais
importante do que qualquer outra coisa. É a história do tempo: a modernidade é o
tempo em que o tempo tem história”. Na sociedade pré-moderna, a compreensão do
tempo e do espaço é completamente inseparável. Graças à construção de veículos
que podem se mover em velocidades mais rápidas e, portanto, cada vez menos
tempo gasto viajando cada vez mais distâncias, a modernidade criou uma separação
real entre essas categorias. Isso torna possível superar o espaço controlando o
tempo.
O tempo se torna uma ferramenta destinada a superar a resistência do
espaço e então conquistá-lo. Conquista significa que máquinas mais rápidas podem
alcançar mais espaço. Desde então, a relação entre eles não pode ficar parada. O
desenvolvimento da produtividade não só atinge o alto nível de racionalização do
trabalho, mas também permite a aceleração do tempo para permitir o aniquilamento
do espaço. Neste estágio do capitalismo, o espaço não é mais restrito pela
resistência do tempo.
A eficiência técnica atingiu o nível de aprimoramento que Harvey (2013)
chama de movimento de compressão espaço-tempo, em que o limite de tempo para
a tomada de decisão foi encurtado e a queda nos custos de comunicação e
transporte via satélite permitiu que essas decisões fossem rápidas propagado em
um espaço cada vez mais abrangente. Esse movimento pode ser visualizado pela
uberização, pois o surgimento da tecnologia da plataforma digital é um mecanismo
que pode possibilitar uma aproximação mais rápida entre a oferta e a demanda em
um vasto espaço.
38

A teoria do ajuste tenta explicar a resposta do capitalismo às crises na


tentativa de superá-las. Portanto, o ajuste espacial pode ser entendido como o
deslocamento geográfico das contradições internas do capitalismo. A compressão
do espaço faz parte da teoria de adaptação. Para David Harvey, em “Postmodern
Conditions”, a acumulação flexível é um ajuste para superar a crise do fordismo, que
é uma nova forma de organizar o capitalismo.
As novas formas de organização e tecnologias adotadas na Uberização
permitem que os consumidores se conectem aos motoristas disponíveis por meio de
aplicativos de smartphones quase que imediatamente, o que mostra que o Uber
economiza tempo no sentido de encurtar relacionamentos. Não é mais necessário
esperar ônibus, táxis vazios para passar ou ligar para um centro de táxis: se pode
usar um software de solicitação de itinerário para se conectar ao motorista mais
próximo.
Do ponto de vista pessoal, aproximar o consumidor do transporte de seu
serviço pode otimizar o tempo de transporte do consumidor e o tempo de trabalho de
quem presta o serviço. O que o aplicativo faz é mudar a relação de espaço e tempo
e, teoricamente, eliminar o tempo morto. Se sob a pressão da acumulação de
capital, ondas de compressão espaço-temporal continuam uma após a outra,
acreditamos que o tráfego propagado pelas plataformas digitais equivale a outra
onda, um esforço tecnológico de reorganização das relações sociais, que promove
uma tentativa de eliminação do espaço no meio do caminho (FRANCO; FERRAZ,
2019).
Por exemplo, não é incomum que os motoristas abram aplicativos durante o
trajeto regular para aproveitar o tempo perdido no trajeto até o trabalho. O tempo de
deslocamento torna-se assim tempo de trabalho. A vida diária é afetada por esse
impulso de tempo acelerado. Por outro lado, a aniquilação do espaço pode ser
determinada a partir da descentralização do local de trabalho, pois a fixidez não é
mais tão rígida quanto a força de trabalho na fábrica no passado. Para os motoristas
digitais, não é apenas um local de trabalho descentralizado, o local de trabalho é o
próprio carro e sua “base” é a mobilidade.
O tempo de aceleração não se limita ao trabalho. Também inclui troca e
consumo. As melhorias nos sistemas de comunicação e fluxo de informações
39

buscam utilizar a circulação de mercadorias em uma velocidade mais alta. Além de


diminuir o tempo de espera para o consumo do serviço de transporte, também busca
agilizar a circulação da mão de obra. Um dos principais anúncios do Uber destaca a
possibilidade de agilidade nas consultas profissionais (FONTES, 2017).
É importante destacar que o impacto das mudanças organizacionais trazidas
pela nova tecnologia de controle digital tem levado à otimização da jornada de
trabalho. Para o nosso exemplo, nosso foco está na plataforma fornecida pelo Uber,
mas o mesmo processo pode ser descrito em um setor e escopo mais amplo, por
meio de vários outros tipos de empresas na “economia compartilhada”, desde a
prestação de serviços pessoais e profissionais até para médicos ou professores, a
possibilidade de abrir a nova categoria de “trabalho intermitente” é esclarecer
separadamente a parte do tempo disponível para os diferentes trabalhadores
(ABILIO, 2019).
A aceleração do tempo de operação de capital é universal. Quando se trata
de capital variável, a lógica permanece a mesma, então o fluxo de trabalho está
sujeito a fortes flutuações e efeitos transitórios. O impacto da Uberização no
mercado de trabalho e na qualificação dos trabalhadores tornou-se evidente, além
de apresentar altas taxas de rotatividade, os condutores relevantes também devem
ser flexíveis o suficiente para combinar a capacidade de obter outras fontes de
renda.
Os trabalhadores estão inclinados e dispostos a mudar e acelerar o tempo de
resposta. Portanto, a necessidade de flexibilidade de trabalho condiz perfeitamente
com as mudanças que envolvem a aceleração global do tempo. Em uma competição
acirrada, as pessoas que reagem mais rapidamente às mudanças do mercado têm
melhor desempenho. Portanto, este é um “ajuste individual” à crise do excedente de
trabalho (SLEE, 2019).
O tempo precisa ser acelerado para superar as barreiras espaciais colocadas
antes do capital, o que nos faz entender que trabalhar no Uber representa uma
forma possível de “aliviar” a superacumulação, ou seja, o excedente de mão de
obra. No entanto, deve-se enfatizar que, dada a natureza estrutural, contraditória e
autodestrutiva do capital, esta resposta do capital à crise não representa de forma
alguma a superação.
40

Conforme mencionado anteriormente, ao usar cada vez mais


“empreendedores”, o Uber acabou intensificando a competição entre os motoristas,
tornando mais difícil alcançar os clientes. Ao contrário da economia e da redução do
tempo de inatividade dos profissionais envolvidos, o que temos é um número
exponencialmente maior de carros disponíveis que podem operar sem conexão com
um cliente. Existe uma situação de excesso de oferta. Do ponto de vista do Uber,
podemos dizer “ajuste individual” e também podemos falar mais livremente sobre
“superlotação de motoristas”, o que é uma perda de tempo. Isso parece confirmar o
fracasso do ajuste da crise estrutural na era capitalista (ANTUNES, 2020).
A possibilidade de comunicação instantânea via satélite e o tempo de
comunicação não mudam com a distância. A “aniquilação” desse espaço ao longo
do tempo representa o ajuste espacial original das funções de serviço da plataforma
digital. No entanto, o colapso das barreiras espaciais não significa que o espaço
tenha perdido sua importância, pelo contrário.
Quanto mais barreiras espaciais forem removidas, mais importante será a
diferença geográfica. Como discutido no capitulo anterior, mais pilotos se mudaram
para cidades onde há maior demanda por suas corridas. Portanto, isso mostra que
há toda centralidade, influência e concentração nas metrópoles e cidades. Para o
Uber, a mobilidade geográfica é o serviço consumido à medida que o tempo se
acelera, mas isso não significa a aniquilação do espaço no sentido literal
(ABÍLIO, 2020).
Se a força de trabalho for suficientemente móvel, o capital pode adotar novos
processos de trabalho com mais facilidade e aproveitar uma localização geográfica
superior. Na verdade, quanto maior a liquidez, melhor. Uma vez que a mobilidade
geográfica do trabalho é uma condição necessária para a mobilidade do capital, a
liberalização do trabalho presumida é a liberdade do capital.
Harvey (2013) apontou que os contratos temporários são um sinal de vida
pós-moderna. No que diz respeito aos contratos de trabalho, quanto mais flexíveis
melhor, porque podem ser cancelados rapidamente. No entanto, a uberização
parece ter levado essa lógica ao extremo, quebrando inclusive a necessidade de
firmar contratos com seus “colegas”. Conforme explicado acima, não se pode negar
que essa flexibilização e desregulamentação do trabalho está levando a um
41

potencial redução dos direitos trabalhistas e agravando a instabilidade. Além disso, o


que temos é a aniquilação do próprio contrato - mais uma vez, o número de
“trabalhos intermitentes” está à vista.
A mobilidade espacial é uma das características da uberização do trabalho.
Os trabalhadores podem se deslocar em distâncias diferentes para fornecer serviços
mediados por aplicativos, ao mesmo tempo em que arcam com o custo dessa
movimentação. Se os consumidores precisavam obter os serviços que desejavam
antes, agora aqueles que fornecem os serviços podem chegar até os consumidores,
mas o enfrentamento dos problemas de tráfego urbano apenas se desloca de um
para o outro (MORAES; DE OLIVEIRA; ACCORSI, 2019).
Muitos trabalhadores reduzirão os benefícios, levando muitas pessoas a
aceitarem condições cada vez mais instáveis devido ao aumento da concorrência. A
julgar pelo número de pessoas cadastradas como empresas de direção, percebe-se
que o próprio trabalho do Uber já é uma manifestação da crise de superacumulação
de mão de obra.
A Uberização não representa um novo modelo regulatório no
desenvolvimento do capitalismo, mas tem sido vista como um meio de aprofundar o
modelo de exploração do trabalho por meio de novos e complexos mecanismos. Um
exército de trabalhadores digitais que estão completamente desprotegidos é forçado
a se mover entre diferentes plataformas (Cabify, 99 táxis) em busca de migalhas de
pão para ganhar a vida.
No entanto, o futuro da uberização não promete nada, mas como uma
alternativa ao desemprego. A produção de carros automatizados revela a dinâmica
do desenvolvimento da produtividade, onde o risco assumido é que o driver de uma
plataforma digital nem seja necessário no futuro. Esta economia do trabalho
realizada por meio do uso da inteligência artificial por meio da Revolução 4.0
estreitará o escopo da crise social do trabalho (VENCO, 2019).
A própria empresa desenvolve essa tecnologia de automação de carros da
Uber, no Centro de Tecnologia Avançada da Uber. Desde 2016, a empresa
começou a pilotar este serviço para veículos híbridos Ford Fusion em Pittsburgh,
Pensilvânia. No entanto, uma mulher de 49 anos foi esmagada até a morte no
Arizona em 2018. Depois que o teste continuou suspenso por quatro meses, o carro
42

autônomo voltou às ruas de Pittsburgh, apenas temporariamente seguindo regras de


segurança presumidas e sendo acompanhado por humanos (POCHMANN, 2016).
Portanto, se uma das funções da tecnologia digital na conexão de usuários é
minimizar o tempo morto no processo de trabalho ou consumo, então a nova etapa
da uberização parece ser a de eliminar o próprio indivíduo, pelo menos nos
serviços de trabalho prestados. O capital parece estar erodindo seus alicerces de
forma mais frenética.

CONCLUSÃO

A ordem econômica e política do mundo globalizado, especialmente no


mundo do trabalho, requer uma análise da utopia de uma forma que permita à ação
humana restaurar os horizontes possíveis, ou o melhor de todos os mundos
possíveis. A própria realidade é extremamente necessária, porque precisamos dela
para perceber o nosso status como uma ferramenta para criticar a realidade
43

histórica, para que possamos sonhar com um mundo melhor, projetá-lo e persegui-
lo.
Um mercado multibilionário de plataforma de aplicativos móveis está
surgindo. Ao conectar pessoas interessadas em consumir serviços de transporte de
passageiros com aquelas que desejam oferecer esse serviço a um preço mais
atraente, aplicativos como o Uber finalmente criaram um modelo de negócios muito
inovador que pode desafiar o que já existe no mercado, não se trata apenas da
abolição dos vínculos empregatícios nesta forma de trabalho, o Uber deu um novo
passo na real inclusão laboral. O mercado de trabalho está se desenvolvendo em
escala global. Atualmente, milhões de trabalhadores estão envolvidos em todo o
mundo. E isso mostra a possibilidade de comunicação entre as relações de trabalho
entre vários departamentos. Por isso, esse fenômeno é denominado Uber Economy
ou Uberização do Trabalho.
Atualmente, o uso de plataformas como o UBER e o Airbnb é uma forma de
expressão muito importante, vale a pena refletir sobre o uso da tecnologia, pois
podem contratar mão de obra barata para quase todas as atividades e, portanto,
podem promover a instabilidade do emprego. Para prestar serviços a preços
extremamente baixos, os trabalhadores são os únicos prejudicados, ou seja, os
consumidores pagam muito menos do que os mercados tradicionais, enquanto as
empresas intermediárias de tecnologia obtêm lucros e valor astronômicos.
Em relação à plataforma UBER, fica clara a percepção da distorção do
conceito de compartilhamento e a utilização desse método para encobrir a relação
de trabalho. A situação da economia compartilhada é preocupante porque as
empresas classificam deliberadamente seus trabalhadores como autônomos e seu
objetivo explícito é contornar a legislação trabalhista desenvolvendo um método
descentralizado de exploração do trabalho, acreditando que os profissionais
contratados não serão deles. O que é mais preocupante é que, quando o Estado
regulamenta tais atividades, elabora leis destinadas a declarar as condições de
trabalho que precedem qualquer realidade factual, ainda que existam aspectos que
caracterizem o trabalho subordinado nessas condições. Salientando que estado tem
função primeira de preservar as condições dos detentores do Capital,
compreendendo a relação através das condições propícias do Estado Burguês a
44

favor das relações de produção capitalistas, portanto, segundo Décio Saes (1998, p.
22) “só o Estado Burguês torna possível a reprodução das relações de produção
capitalistas”. Portanto, há de se entender que a relação do Estado é importante,
como a sua ação e a não ação, em relação à exploração do trabalho.
Portanto, ao analisar o Uber e outras iniciativas, pode-se perceber que o
sentido/essência da economia compartilhada foi desviado, apropriando-se
indevidamente de todas as cargas positivas deste comportamento e tendência
econômica e disfarçando a relação de trabalho para evitar encargos sociais e
aumentar os lucros.
O atual trabalho Uberizado mostra o quanto essa tendência expirou e seu
cronograma é autodeterminado, mas ainda é altamente controlado. Embora no início
parecesse que isso dava mais liberdade aos trabalhadores, a situação real é bem
diferente. O modelo de atuação em hegemonia é o modelo do indivíduo como
empresário com sua própria força de trabalho e sua própria seguridade social.
Para o condutor da empresa aplicadora, é necessário adaptar-se a um tipo de
trabalho com autonomia, parceria e discurso flexível, enquanto a utilização do
trabalho é levada a um patamar muito elevado. Horário de trabalho, deslocamento,
custos de combustível e manutenção do veículo e estratégias para evitar a
competição acirrada fazem parte do fardo mental que o motorista precisa suportar.
Mesmo nas horas de folga, está ficando cada vez mais nublado e está empenhado
em garantir que sua produtividade seja eficaz.
O conflito entre empregados e empregadores faz parte da realidade do
mercado de trabalho. No entanto, o Uber não parece ser o caso porque nunca foi
declarado empregador. Segundo a empresa, os motoristas não são funcionários,
mas “sócios”, empresários que optam por trabalhar para o app. Este modelo de
trabalho baseado em “microempresários” pode decidir com flexibilidade quando
trabalhar, estendendo-se à “economia da partilha”.
As características de compressão espaço-temporal da própria Uberização
ilustram a quais ajustes nos referimos quando analisamos deslocamentos espaço-
temporais contraditórios. Os ganhos de tempo obtidos com a aproximação entre
oferta e demanda por meio da tecnologia digital explicam esse movimento de
Uberização, com importantes consequências sociais. A necessidade de mobilidade
45

tornou-se tão urgente que os carros costumam ser tanto um local de trabalho quanto
um local de descanso.
A flexibilidade do trabalho não pode ser entendida sem as mudanças que
envolvem a aceleração do tempo global. Portanto, a Uberização da demanda por um
alto grau de flexibilidade espacial e temporal está relacionada às mudanças na
geografia capitalista. Sendo assim, se pode dizer que este é um resultado destrutivo
para a sociedade causado pelo poder de desenvolvimento do capitalismo.

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