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RESUMO
O artigo em questão, tem como objetivo tratar da trajetória e inserção da mulher na história
política brasileira, que se inicia, mesmo que de forma tímida, no período da Primeira República
e vai até a contemporaneidade. Para isso, o artigo discorre sobre o papel da mulher na
sociedade, o processo de emancipação feminina, suas conquistas, desafios e trajetória no
mundo ocidental e no Brasil. Como metodologia de pesquisa, utilizou-se o método
bibliográfico, qualitativo e exploratório como instrumento de investigação. Pleiteando a
necessidade de espaço público mais justo e solidário, com respeito e equidade, sem
preconceitos e o cerceamento para todos os cidadãos, mas, de forma especial, para as
mulheres. Cada vez mais se tem a clareza que as mulheres podem fornecer uma importante
contribuição à política. Atualmente, representam metade do eleitorado no Brasil. Nos últimos
anos, o Brasil tem vivenciado uma progressão no debate público em torno das questões
femininas. Temas como assédio, aborto, maternidade e carreira, vem sendo discutidos
amplamente na sociedade e ganhando espaço no cenário político. A luta pelo direito das
mulheres vem progredindo não só no Brasil, mas em todo o mundo. No transcorrer do artigo,
pode-se perceber como resultados da pesquisa, que alguns avanços já foram conquistados
nas últimas décadas, como o direito ao voto e o direito de serem eleitas. Porém, no que tange
a representatividade das mulheres na política, esse debate ainda se encontra muito distante
do desejado. Conclui-se que, muitas mulheres ainda têm dificuldades de ocupar cargos de
poder, serem eleitas ou terem voz ativa nas tomadas de decisões políticas. Isso acontece
devido à exclusão histórica das mulheres na política e que reverbera, até hoje, no nosso
cenário de baixa representatividade feminina no governo.
Ainda assim, elas permanecem minoria absoluta no Parlamento, no Executivo e no Judiciário,
apesar da existência de cotas previstas em lei.
1
1 INTRODUÇÃO
O desenvolvimento desse artigo está vinculado às pesquisas e debates
realizados no grupo de estudos de Teologia e Educação, vinculado ao Programa de
Pós-Graduação em Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. São
estudos ainda em desenvolvimento e o artigo em questão trata dos primeiros passos
das discussões relacionadas às temáticas de gênero e emancipação feminina e da
sua inserção no espaço público, em especial nos espaços da representação política.
Como metodologia de pesquisa, efetuou-se um levantamento de referenciais
teóricos, através da pesquisa bibliográfica, qualitativa e documental, a fim de embasar
a temática analisada no que se refere à trajetória feminina na política brasileira.
Para a contextualização histórica feminina é imprescindível trazer à memória
as situações lamentáveis em que as mulheres viveram durante séculos e séculos para
terem seus direitos reconhecidos como cidadãs e pertencentes à sociedade. Que dirá
o papel fundamental que as sufragistas realizaram para favorecer os direitos das
mulheres!2 É importante ressaltar que as mulheres sempre estiveram presentes na
história da humanidade, seja no centro, como rainhas, princesas e imperatrizes ou à
margem, como camponesas, bruxas e feiticeiras (HAHNER, 1981).
No Brasil, a luta pelo voto feminino foi o principal estandarte adotado pela
Federação Brasileira pelo Sufrágio Feminino – FBPF –, entidade que surgiu em agosto
de 1922 e que concentrou as lutas femininas pelo voto feminino em todo o país.
Silva (2015) relata que é importante ressaltar que a FBPF não foi o único
movimento feminista do período, tampouco a primeira expressão de mulheres que se
reuniram por uma causa em comum. Porém, foi o movimento que ganhou maior
expressão e reconhecimento no país, talvez por ser composto por mulheres da elite
ou talvez por não ser radical. Nas palavras da principal liderança, Bertha Lutz3:
O movimento feminino é geralmente uma reforma pacífica, mas nem por isso
deixa de ser uma revolução de costumes, praxes e leis. A nenhum movimento
2 O movimento pelo sufrágio feminino foi um movimento social, político e econômico de reforma no
século XIX, com o objetivo de estender o sufrágio (o direito de votar) às mulheres. Participaram do
sufrágio feminino mulheres e homens, denominados sufragistas (Silva, 2015, p. 12).
3
Bertha Maria Julia Lutz (São Paulo, 2 de agosto de 1894 – Rio de Janeiro, 16 de setembro de 1976)
foi uma bióloga brasileira especializada em anfíbios, pesquisadora do Museu Nacional. Foi uma das
figuras mais significativas do feminismo e da educação no Brasil do século XX. Disponível em
<http://www.scielo.br/pdf/cpa/n24/n24a16.pdf>. Acesso em: 20. jun. 2021.
2
melhor se aplica o conceito de Revolução permanente, criado por um
observador contemporâneo (LUTZ,1936, p. 1)4.
4
Primeiro discurso de Bertha Lutz na Câmara dos Deputados no dia da sua posse, 28 de Julho
de 1936. Disponível em: http://www12.senado.leg.br/cidadania/edicoes/546/discurso-de-berthalutz-ha-
80-anos-permanece-atual. Acesso em: 12 de jul.2021.
5. Em 1849, a Faculdade de Medicina da Bahia passou a aceitar mulheres e, em 1887, formou a
primeira médica, a gaúcha Rita Lobato Freitas, que teve coragem de enfrentar a resistência e o
machismo. Disponível em <http://www.cienciaecultura.ufba.br/agenciadenoticias/noticias/primeira-
medica-saiu-da-instituicao-em-1887/>. Acesso em: 23. jun. 2021.
3
indivíduos do sexo masculino. As mulheres, novamente, ficaram relegadas a questões
próprias da “natureza” e do “lar”; logo, incapazes de fazer política ou participar desse
ambiente. Entendia-se que as mulheres não tinham as mesmas capacidades físicas
e intelectuais que os homens. A influência do homem é para fora, enquanto da mulher
é para dentro (SCOTT, 2005).
Até mesmo no período da Revolução Francesa, que foi um período de intensa
agitação política e social na França, que teve um impacto duradouro na história do
país e, mais amplamente, em todo o Continente europeu, com a construção da
Declaração Universal do Homem e do Cidadão, a igualdade de gênero é assimétrica,
ou seja, ainda assim, as mulheres não eram colocadas como pessoas de referência
ou valor de forma igualitária aos homens.
Percebe-se, deste modo, que a mulher era percebida única e exclusivamente para
o espaço doméstico. Não se discutia a possibilidade dela ingressar de forma atuante
no cenário político. Esse pensamento permeava o Brasil, bem como os demais países
do Ocidente. É a mesma mentalidade, segundo a qual seria impossível que o gênero
feminino pudesse oferecer algo a mais que seu papel de mãe e esposa.
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principalmente o cafeeiro, realizou uma série de ações com o objetivo de estabilizar o
cenário político, marcado por diferenças e conflitos políticos nos primeiros anos
republicanos (VARES, 2012).
Diante desse cenário, entende-se que o impasse em torno das oligarquias de
São Paulo e Minas Gerais nas eleições de 1930 tenha decretado o fim da dominação
imposta por esses grupos.
No período da Primeira República, o espaço por excelência da mulher era o
espaço privado, representado pelo lar. Já os homens assumiam as funções produtivas
e ocupavam o espaço público. “Devido à sua função reprodutiva, a educação das
mulheres era, na maioria das vezes, limitada a melhor prepará-las para cuidar das
atividades da casa (MENEZES et al., 2009, p.45).
De acordo com Matos, na sociedade portuguesa, marcada fortemente pelo
modelo patriarcal, o lema que prevaleceu em relação à educação feminina foi: “O
melhor livro é a almofada e o bastidor” (MATOS, 1985, p. 117). Importante ressaltar
que a forma de vida que as mulheres brasileiras brancas viviam no Brasil era muito
semelhante ao que as mulheres brancas viviam em Portugal. Na verdade, era mais
um reflexo colonialista e herdado pelo país que o colonizava.
Dessa forma, entende-se que, propositalmente, as mulheres recebiam uma
educação de pouca instrução ou, no máximo, voltada para representar bem e com
elegância seus lares, marido e filhos, em eventos privativos, valorizando os brasões
das famílias. É a partir da Primeira Lei de Instrução Pública do Brasil, de 1827 “que a
escola começa a abrir-se para a mulher brasileira, criando escolas primárias para o
sexo feminino em todo o Império”. (LOURO, 2001, p. 447).
Nesse sentido, reforçam que, mesmo com esse limite na legislação, é inegável
que, a partir desse momento, foram sendo criadas as condições para que a mulher
avançasse nos estudos, podendo ir além do ensino primário, posto que se instituía a
necessidade de formar mestras (MENEZES et al., 2009, p. 45).
Dessa maneira, pouco a pouco, as mulheres começaram a ganhar espaço no
âmbito educacional, principalmente, com a criação das Escolas Normais. As Escolas
Normais foram instituições de formação de professores. Surgiram no Brasil, previstas
pela Lei Provincial de 1835, sendo a primeira delas instalada no mesmo ano, em
Niterói. A justificativa para a criação das Escolas Normais era a de que os antigos
mestres-escolas, professores da época, não estavam preparados para a prática
docente. Desta forma, os estabelecimentos serviriam como referência de
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normalização das práticas educativas, formação e instrução profissional de novos
mestres além de propor, através de concursos públicos, a melhoria do preparo de
pessoas consideradas aptas ao magistério. Nas Escolas Normais, as mulheres tinham
formação para ser professoras do ensino primário, hoje chamado de ensino
fundamental.
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Nesse contexto histórico, o que favoreceu uma maior participação das
mulheres no contexto político brasileiro foi, sem dúvida, a elaboração da primeira
constituição republicana brasileira, em 1891. Por muito tempo, houve preconceitos e
resistências de todo o tipo para que as mulheres ocupassem cargos públicos e
pudessem contribuir na política brasileira. Essa mentalidade, de fato, não existia
somente no Brasil, mas na Europa e Estados Unidos, pois se considerava que a
mulher não teria condições psíquicas e emocionais para representar seus respectivos
países.
No final do século XIX e início do XX, inúmeros intelectuais, além de militantes
dos movimentos feministas, em especial, o movimento sufragista, citado acima,
tinham como objetivo despertar a sociedade para um novo olhar, destacando que
todos são cidadãos com iguais direitos e que não deve haver diferenças entre gênero
ou raça.
Surge assim, na América Latina, uma maior força de expressão das mulheres
nos mais diversos núcleos políticos comunitários e sociais etc. No Brasil, foi através
dos Movimentos Sociais e das Políticas Públicas que as mulheres conseguiram alçar
voz às suas opiniões e contribuir de forma real nas transformações sociais e fazer
com que a sociedade, até então essencialmente masculinizada, pudesse confiar em
suas contribuições e começasse a compreender seu papel político-social.
Aparecem aí os movimentos das mulheres negras, movimentos e ações em
combate ao feminicídio, à violência doméstica e tantas outras ações presentes no
Brasil, que têm solidificado as ações das mulheres nos espaços políticos e de
discussões sociais. Noremberg e Antonello (2016) afirmam que as primeiras mulheres
a participar ativamente no legislativo e no executivo foram Alzira Soriano, Carlota
Pereira de Queirós, Antonieta de Barros, Eunice Michiles, Esther de Figueiredo
Ferraz, Roseana Sarney, Maria Pio de Abreu e Dilma Rousseff.
Segundo o relatório da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, Mulheres
na Política (2016), nas eleições de 2014, apenas 10% dos candidatos eleitos foi de
mulheres. Embora esse número seja melhor do que o das eleições anteriores, ainda
é muito baixo. Além disso, cinco estados (Alagoas, Espírito Santo, Mato Grosso,
Paraíba e Sergipe) não elegeram sequer uma mulher para um dos cargos de deputado
federal, e mesmo aqueles que apresentaram os melhores índices (AP e TO) somente
atingiram 38% da cota destinada às mulheres. Um apontamento positivo é que
segundo o Tribunal Superior Eleitoral (2018), em 2018, o número de mulheres eleitas
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cresceu 52,6% em relação a 2014, demonstrando uma maior participação das
mulheres na política e um maior entendimento da população em votar no gênero
feminino.
Apesar dos avanços realizados, ainda há muito para prosseguir em relação à
atuação política da mulher no âmbito político brasileiro. Esse espaço ainda é
fortemente representado por homens. De fato, o que contribuirá para a mudança
dessa situação será através de uma conscientização da população, compreendendo
a importância da presença da feminina na política brasileira, e isso se dará,
essencialmente, através do voto eleitoral.
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa científica tem grande valor para a sociedade. Por meio dela,
descobrimos novas perspectivas. Ao se fazer uma pesquisa científica, é preciso ter
em mente que ela contribuirá na oferta de dados para o intercâmbio de diferentes
saberes. No caso do desenvolvimento desse artigo, este é o primeiro passo de um
possível estudo que ainda poderá ser aprofundado futuramente com novas pesquisas
e estudos.
O estudo desenvolvido nesse artigo leva-se a crer que se os temas
relacionados a inserção e a motivação da entrada das mulheres na política brasileira
sejam levados aos espaços empresariais e acadêmicos em forma de cursos,
palestras, mesas redondas, treinamentos e ações de sensibilização, existe uma forte
possibilidade que esse entendimento possa ser aderido pelas organizações e pessoas
de uma forma geral.
Por fim, vale lembrar que atualmente, percebe-se no cenário político brasileiro,
que a participação mais ativa das mulheres, pode ser observada em época de
campanhas eleitorais, quando os partidos políticos saem à “caça” de mulheres para
preencherem as vagas que são destinadas a elas por conta da Lei 9.504/97, que
obriga os partidos políticos a preencherem 30% das vagas com mulheres. Nos cargos
políticos, apesar de termos superado o fato de nunca ter havido uma presidente
mulher no Brasil – e, também em outros países da América Latina, tais como Argentina
e Chile –, ainda é desigual a comparação entre mulheres e homens nos cargos
executivos, legislativos e judiciários. Foi na Argentina que a primeira mulher (Isabel
Martínez de Perón) ocupou pela primeira vez no mundo o cargo de presidente,
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embora, anteriormente, outras mulheres tenham ocupado cargos de chefes de Estado
em outros países (PENA, 2017).
O Brasil encontra-se em progressão na inserção de mulheres em cargos de
relevância no âmbito político, e ainda há muito que se avançar. Entretanto, essa
evolução se dá por constantes ações de sensibilização, por políticas públicas e pelo
entendimento de que, para que uma sociedade seja justa, solidária e equânime, é
necessário que todos os cidadãos sejam tratados de forma igualitária, sem
discriminação, com mais justiça e menos desigualdades entre raças, etnias, gênero e
religião.
REFERÊNCIAS
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