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RESUMO
O presente artigo analisa aspectos acerca da submissão da mulher ao longa da história, a sororidade
feminina e a inserção da mulher no mercado de trabalho no contexto de exclusão social. O objetivo geral
é refletir sobre as desigualdades de gênero no Brasil, a partir das dificuldades de acesso das mulheres a
educação formal e a falta de oportunidade das mesmas no mercado de trabalho. Tem como objetivos
específicos: a) analisar os desafios enfrentados pela mulhere, especialmente as mulheres negras, em uma
sociedade que tem como base das relações sociais o patriarcado, o machismo e o racismo estrutural; b)
identificar as redes sociais que fortalecem os movimentos feministas, a partir da sororidade, e c) refletir
sobre as contribuições do movimento feminista no âmbito do Estado. A metodologia utilizada foi
a pesquisa bibliográfica e de campo, através de um questionário, com perguntas abertas e fechadas,
roteiro de entrevistas semiestruturadas, observação e diário de campo. As entrevistas foram realizadas
com um grupo de treze mulheres que estavam acampadas na lateral do prédio da Governadoria, no
Centro Administrativo do Estado do RN, localizado a Av. Senador Salgado Filho, 1 - Lagoa Nova,
Natal/RN, no dia 5 de junho de 2019, lutando pelos direitos de seus companheiros, que se encontravam
encarcerados nos perídios do RN. O estudo demonstrou que a mulher, negra e mãe solo, apesar de
ocupar um espaço significativo no Brasil, muitas delas acabam se afastando do mercado de trabalho
formal, como também de sua formação acadêmica no âmbito das relações sociais.
INTRODUÇÃO
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Graduada do Curso de Serviço Social do Centro Universitário FACEX – UNIFACEX, Natal – RN. E-mail:
carlasantiago0@yahoo.com.br
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Graduada do Curso de Serviço Social do Centro Universitário FACEX – UNIFACEX, Natal – RN. E-mail:
lidycabugi@hotmail.com
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Mestra em Filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE. Graduação em Serviço Social e
Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN. Professora do Curso de Serviço Social do
Centro Universitário FACEX – UNIFACEX, Natal - RN. E-mail: terezafilosofa6@gmail.com
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A abolição apresentou significados diversos para a mulher negra e para a mulher branca
em virtude do fato de as mudanças operadas no sistema de estratificação em castas não
serem acompanhadas, no mesmo grau, por mudanças na estratificação à base do sexo.
Com efeito, a mulher negra ganha, com a deterioração da sociedade de castas, pelo
menos a liberdade formal que lhe era negada anteriormente (SAFFIOTI, 2013, p. 252).
“os salários previstos em lei somente fossem percebidos por aqueles professores
habilitados nas matérias de ensino indicadas na Lei Geral, por concurso. Os governos
provinciais tinham a autorização de contratar candidatos não aprovados caso não
houvesse nenhum aprovado, à condição de pagá-los com salários menores. Ora, não
havendo escolas de formação para as meninas e não sendo ministradas todas as matérias
nas escolas de primeiras letras femininas, podemos entrever que as moças eram
possivelmente as candidatas contratadas ganhando menos (STAMATTO, 2002, pg. 5).
METODOLOGIA
forma que as mesmas percebessem o vínculo amoroso, de cuidado e a própria conotação política
da experiência concreta, de luta, materializada em ações específicas na defesa dos direitos
humanos.
Durante o processo dialógico, novos questionamentos surgiram acerca do significado e
da importância da sororidade. Um dos depoimentos nos deixou emocionadas: “não tem como
esquecer, é a mistura de soro com solidariedade”, e puderam entender que aquele ato é um
exemplo de sororidade feminina, é um ato político.
DESENVOLVIMENTO
Camara (2019) afirma que recentemente o movimento feminista vem adquirindo uma
nova definição, onde diferentes grupos formam uma grande rede, concebendo o feminismo
como uma corrente política cujo objetivo é construir uma sociedade mais justa e igualitária para
as mulheres.
Para Kemper et al. ( 2005) apud Basso (2006, p. 161), a rede social é uma representação
das relações e interações entre indivíduos de um grupo e possui um papel importante como
meio de propagação de informação, idéias e influências.
Numa sociedade patriarcal é vital o ativismo na luta pelos direitos humanos, pela
liberdade, pela igualdade e pela sororidade4, tendo como um dos princípios fundamentais a
solidariedade, fundamental nas lutas contra todos os tipos de preconceito e de exclusão. Para
tanto, a teoria feminista permite que a sororidade seja para as mulheres uma corrente de ações
protetoras, o que leva a solidarização de umas com as outras na perspectiva da construção de
uma rede feminista sólida.
Falar de sororidade é falar das redes que se caracterizam através do apoio formado pela
solidariedade feminina, na perspectiva de não fazer pré julgamentos, de não discriminar, de
consumir o trabalho realizado por outras mulheres, de oferecer apoio diante das dificuldades
por elas vivenciadas demostrando confiança, não negligenciar a vida de outra mulher
desmitificando o ditado que “em briga de marido e mulher não se mete a culher”.
Essas redes podem ser formadas por diferentes tipos de relações, são mulheres que
constroem uma ligação através de uma pauta que as unem em torno de uma mesma situação
vivida ou sofrida, cujas vulnerabilidades sociais são decorrência da ausência de seus direitos.
Outro tipo de rede, importantíssimo no apoio para a defesa da vida da mulher, é a rede
socioassistencial formada para garantir o direito da mulher de todas as classes, mas que as
mulheres das classes trabalhadoras necessitam muito mais de toda a extensão dessa rede, uma
vez que elas já tiveram seus direitos básicos violados. Essa rede é formada pelas Delegacias
Especializadas em Atendimento à Mulher - DEAM, as Casas de Passagem, os Centros de
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A palavra sororidade, surge em 1960 com o termo sisterhood, criado pela escritora norte-americana Kate Millet.
Tem o significado semântico de “irmandade de mulheres” (sister significa irmã), em tradução para outras línguas,
no castelhano e em português sororidade. Segundo Marcela Lagarde, a sororidade parte de um esforço em
desestruturar a cultura e a ideologia da feminilidade que encarna cada uma. Inicia-se como um processo de
amizade/inimizade das mulheres e avança na amizade das amigas, em busca de novos tempos, de novas
identidades. As francesas chamam essa nova relação entre as mulheres, sororité, do latín sor, irmã; as italianas
dizem sororitá; as feministas de língua inglesa falam sisterhood; e na América Hispânica podemos chamá-la de
sororidade. Significa a amizade entre mulheres diferentes e pares, cúmplices que se propõem a trabalhar, criar,
convencer, que se encontram e reconhecem no feminismo, para viver a vida com um sentido profundamente
libertário (MANUAL, 2004, p. 375).
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Enquanto a taxa de homicídios de mulheres não negras teve crescimento de 1,6% entre
2007 e 2017, a taxa de homicídios de mulheres negras cresceu 29,9%. Em números
absolutos a diferença é ainda mais brutal, já que entre não negras o crescimento é de
1,7% e entre mulheres negras de 60,5%. Considerando apenas o último ano
disponível, a taxa de homicídios de mulheres não negras foi de 3,2 a cada 100 mil
mulheres não negras, ao passo que entre as mulheres negras a taxa foi de 5,6 para cada
100 mil mulheres neste grupo (Atlas da Violência, 2019, p. 39).
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Expressão que vêm ganhando popularidade nas plataformas online e nas redes sociais, designada pelo movimento
“mãe solo”, composto por mulheres para se referir aquelas mães que são as únicas ou principais responsáveis pela
criança, encarando o desafio de sozinha criar um filho.
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Segundo dados do Censo SUAS 2017, há uma ampla e diversificada rede de serviços,
além da presença e participação ativa de mais de 19.000 entidades da sociedade civil vinculadas
à política de Assistência Social. No que se refere aos equipamentos da Assistência Social, esses
são organizados a partir da Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, formando uma
grande rede socioassistencial.
Nesse sentido, é necessário que se faça presente uma rede de fortalecimento do
movimento feminista, para que as mulheres possam apreender o significado de composição
social do feminismo6, em torno da luta por direitos iguais, para que se possa requerer do Estado
políticas públicas mais eficases de apoio a rede feminina, com o objetivo de proteger os direitos
adquiridos e efetivar os que ainda precisam avançar, garantindo não somente o salário, mais
também o direito a formação, a bens e serviços como terra, água, sementes, energia e todos os
serviços públicos que garantam autonomia feminina.
Novas mudanças nas instituições sociais vêm ocorrendo em decorrência da dinâmica da
sociedade, onde é possível destacar as novas configurações de famílias que não necessariamente
precisam de laços consanguíneos, essas mudanças também estão relacionadas com o momento
histórico e contexto social a qual estão inseridos.
Desta forma a mulher mãe “solteira” termo a qual não se vem sendo utilizado entre as
mulheres, porém ainda presente no vocabulário da sociedade, logo se vem adotando a expressão
mãe solo, também configurada como um modelo de família, onde ela sozinha é a responsável
financeiramente pelas despesas do lar e de todo o cuidado e responsabilidade com o/os filho/s.
Historicamente a maternidade é romantizada pela sociedade, porém vêm se buscando
descontruir atrelar-se a ideia de ser mãe ao de estado civil da mulher, ou seja, rompendo o que
tradicionalmente a sociedade impões a mulher, que a família padrão necessita da presença de
um homem, e que é importante reconhecer que existe mulheres que querem ser mãe solo, sem
a figura do cônjuge, e optam por procedimentos convencionais, como por exemplo, o de
inseminação artificial. Destacamos aqui a mulher negra mãe solo, que ocupa uma posição social
e um espaço significativo no Brasil, porém diante do racismo e do machismo opta por ser
somente mãe. Muitas delas acabam se afastando do mercado de trabalho formal, de sua
formação acadêmica e suas relações sociais. Como afirma Barbosa:
6
Convém ressaltar, que o feminismo luta precisamente contra essa forma androcêntrica de ver o mundo, que
considera o homem modelo de ser humano e que, por conseguinte, a suprema melhoria para a mulher é eleva-la à
categoria de homem (que do ponto de vista patriarcal é sinônimo de elevá-la à categoria de ser humano)
(MANUAL, 2004, p. 114).
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Parece que nos é permitido ser tudo ou, ao menos, vislumbrado sê-lo, desde que não
assumamos o papel de mãe. A maternidade vem e nos impõe, automaticamente, um
sistema de exclusão, entramos no modo “OU”: OU o mundo OU a maternidade. Como
se combinações não fossem possíveis e a responsabilidade pelos filhos fosse
exclusivamente da mulher (BARBOSA, 2019, p. 5).
A maternidade real é um assunto que as mulheres mães vem discutindo nos dias atuais,
desmistificando o sentido romantizado e idealizado pela sociedade, mostrando a outras
mulheres seus desafios diários a qual são enfrentados, que esse papel muitas vezes
extremamente difícil e pesado para algumas mulheres deve ser encarado na singularidade de
cada mulher, em seu tempo e espaço.
Segundo dados do IPEA:
A planilha acima mostra que no Brasil entre 2013 e 2015 as mulheres que se tornaram
chefes de famílias assim citado pelo IPEA, e com filhos menores de 15 anos cresce de forma
significativa, e diante da atual conjuntura de um governo de Estado mínimo que criminaliza a
situação social de cada um, existe uma grande possibilidade de aumentar, uma vez que famílias
pobres, em sua maioria negras que vivem à margem da linha da pobreza sofreram as mudanças
sociais de forma mais severas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Hoje ainda é possível demonstrar as dificuldades enfrentadas pelas mulheres na luta por
direitos e contra a discriminação frente a algumas empresas no mercado de trabalho com
missão, visão e filosofias tradicionais, pautadas nos ideais e valores do patriarcalismo. Um
exemplo clássico é a questão dos salários pagos para homens de forma diferenciada em relação
as mulheres que ocupam a mesma função no mercado de trabalho. Em pleno século XXI, as
mulheres ainda enfrentam esse tipo de situação por uma questão de gênero: conquista cargos
iguais, mas salários diferenciados, onde as empresas negam a capacidade intelectual e executiva
das mesmas.
A conquista alcançada pelas mulheres, através de tanta luta, tem grande significado, pois
muda toda o cenário social onde as mesmas estão inseridas. No entanto, apesar das conquistas,
quando se trata de mulheres negras, pobres e mãe solo, a discriminação se torna mais visível e
os desafios a serem enfrentados no dia a dia são mais frequentes. Além dessas mulheres
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REFERÊNCIAS
BAIRROS, Luiza. A Participação das Mulheres Negras nos Espaços de Poder. Disponível:
https://www.mdh.gov.br/biblioteca/igualdade-racial/a-participacao-das-mulheres-negras-nos-
espacos-de-poder Acesso em 4 de jun. de 2019.
CAMARA, Julia. Sororidade e consciência feminina: que irmandade de mulheres para que
proposta política? Disponível: https://redeanticapitalista.net/sororidade-consciencia-feminina-
irmandade-mulheres-proposta-politica/?print=pdf Acesso em 5 jun. de 2019.
SAFFIOTI, Heleieth Iara Bongiovani. A mulher na sociedade de classes. 3 ed. São Paulo:
Expressão Popular, 2013.
SILVA, Caroline Guimarães, CASSIANO, Kátia Kelvis, CORDEIRO, Douglas Farias. Mãe
solo, feminismo e Instagram: análise descritiva utilizando mineração de dados. Intercom,
Goiânia, 2019.