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1 JORDÃO, Mauro. Desumanização da mulher. Jornal folha da Região. Araçatuba, jun. 2007. Disponível
em <http://www.folhada-regiao.com.br/Materia.php?id=69740>
2 SUSSEKIND, Arnaldo et al. Instituições de direito do trabalho. Vol. II. 22. ed. São Paulo: Ler, 2005,
p.972.
Como o papel da mulher dentro da sociedade era prioritariamente domestico, a
privação de estudos gerava o analfabetismo, que por sua vez gerava a não
participação feminina nos espaços públicos. De acordo com Léa Elisa
Silingowschi Calil esse quadro se tornava um “circulo vicioso: como elas não
tinham instrução, não estavam aptas a participar da vida publica e, como não
participavam da vida publica, não tinham por que receber qualquer instrução”. 3
1.2. A mulher na contemporaneidade
Somente no século XVIII, com as Revoluções Liberais e a Declaração de
Direitos do Homem, a previsão expressa de que não haveria distinção
proveniente de idade, sexo, condições e origem social foi prestigiada,
garantindo a igualdade formal. 4
3 CALIL, Léa Elisa Silingowschi. História do direito do trabalho da mulher: aspectos histórico-sociológicos
do início da República ao final deste século. São Paulo, Ltr, 2000, p.18
4 Novais, Denise Pasello Valente. Discriminação da mulher e o direito do trabalho. Da proteção a
promoção da igualdade, p.25.
O longo caminho histórico percorrido pela luta pelos direitos latu sensu das
mulheres no Brasil certamente encontra seu nascedouro na época do Brasil
Colônia quando a mulher era equiparada a um objeto, pois o direito à mulher
era um direito de posse. O que as distinguia era o fato de ser escrava de
descendência indígena ou negra ou se servida para o matrimonio. Todas, no
final, objetificadas.
A constituição da família e a administração do universo familiar era a principal
função laboral da mulher que pertencia a uma classe mais alta da sociedade.
Enquanto isso, as mais de origem mais humilde trabalhavam em busca de sua
subsistência. Segundo Calil, “apenas às mulheres de famílias remediadas era
possível exercer o papel de guardiã do lar e da família; às de famílias pobres e
às escravas restava somente trabalhar por seu sustento e enfrentar o
preconceito que tal gesto causava em uma sociedade que via o espaço público
como domínio privativo dos homens”.5
Não obstante o trabalho forçado ou doméstico, já havia registros à época do
Brasil Colonial de vendedoras negras emancipadas intituladas “negras de
tabuleiro” e outras cativas, mas que já desempenhavam seu labor sem
quaisquer garantias.6
Havia costureiras, artesãs, cozinheiras, agricultoras, empreendedoras, do lar,
prostitutas, mas nunca ocupantes de cargos de destaque social destinados a
homens brancos de renomadas famílias.
Nunca é demais lembrar que as mulheres eram completamente desamparadas
pelo Estado, mormente as mulheres escravas, forras ou não, cujo sofrimento é
impossível mensurar. Desse modo, nesse momento, é impossível falar de
algum tipo de respaldo legal ou proteção de qualquer direito da mulher no
tocante trabalhista.
Com o advento da Revolução Industrial e, consequente expansão das
atividades realizadas no âmbito industrial, o trabalho feminino começou a se
expandir. Entretanto, este trabalho estava longe de ser reconhecido, era
desvalorizado e as mulheres ganhavam salários mais baixos do que aquele
pago aos homens. Essa mao de obra, por ser mais barata, atraia muito os
empregadores.7
A realidade da trabalhadoras mulheres neste período é relatada pela literatura e
doutrina jurídica com jornadas de trabalho de quatorze a dezesseis horas, onde
as mesmas recebiam salários menores exercendo a mesma função que os
homens e sem qualquer proteção especial. Nos dizeres de Alan Martins: “Com
5 CALIL, Léa Elisa Silingowschi. História do direito do trabalho da mulher: aspectos histórico-sociológicos
do início da República ao final deste século. São Paulo, Ltr, 2000, p.22
6Vendeiras e negras de tabuleiro: suas relações e tensões sociais no Brasil
do século XVIII file:///C:/Users/Usu%C3%A1rio/Downloads/RESUMO_42382555858_ptg.pdf
7 CORTEZ WISSENBACH, Maria Cristina. Da escravidão à liberdade: dimensões de uma privacidade
possível. In História da Vida Privada no Brasil, vol. 3, p.91
a Revolução Industrial, uma fase de exploração desumana do trabalho iniciou-
se. Mulheres e crianças, não obstante as condições pessoais mais frágeis,
constituíam mao de obra barata e, por isso, foram os mais explorados pelos
empregadores sedentos de lucro e vazios de compaixão.” 8
Nesta conjuntura, viu-se desenvolver o principio protetor do Direito do Trabalho
pois aqueles com maior sensibilidade iniciaram um movimento de ideais que
consolidariam um novo direito que pudesse assegurar alguma superioridade
jurídica para aqueles sem poder econômico, garantindo-lhes um nível de vida
no mínimo humano.9
No século XIX,
8 MARTINS, Alan. O principio da proteção e o trabalho da mulher e do menor. Síntese trabalhista. Porto
Alegre, ano VIII, n.97, jul. 1997, p.118-138.
9 MAGANO, Octavio Bueno. Curso de direito do trabalho, p. 27 apus MARTINS, Alan. O principio da
proteção e o trabalho da mulher e do menor. Síntese trabalhista. Porto Alegre, ano VIII, n.97, jul. 1997,
p. 120.