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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CURSO DE LINCENCIATURA EM HISTÓRIA

ANA PAULA SANTOS MOREIRA MUNIZ

A INSERÇÃO DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO AO LONGO DOS


ANOS

Disciplina Historiografia dos Annales

VITÓRIA, 2023
RESUMO

O objetivo deste trabalho é sistematizar informações que permitem refletir


sobre a situação da mulher na sociedade brasileira. A mulher que através dos
tempos, buscou ocupar seu lugar no espaço, mesmo com a desigualdade entre
homem e mulher, a subordinação sofrida ao longo da história e a figura
feminina unicamente no papel de submissão, que possuía papel exclusivo de
ser esposa servil, mãe cuidadora e dona de casa exemplar. A mulher
contemporânea com sua inserção no mercado de trabalho, sua liberdade
sexual, sua conquista financeira e direitos políticos, não trouxe apenas
benefícios, mas também obstáculos que são enfrentados por todas as
mulheres que aos poucos buscaram sua independência sem perder sua
feminilidade.

Palavras chaves: Trabalho. Mulher. Mercado de trabalho


1. Introdução

A luta pelos direitos das mulheres começou nos primórdios dos tempos, tempos
em que a mulher tinha quase um status de subserviência, o homem tinha o
direito e a mulher o dever. “Em muitas sociedades, a invisibilidade e o silencio
das mulheres fazem parte da ordem das coisas. É a garantia de uma cidade
tranquila. Sua aparição em grupo causa medo” (PERROT, 2007, P. 17).
Nas sociedades antigas, Grécia e Roma, as principais qualidades admiradas
nas mulheres era o silencio, a submissão e a obediência, com sua educação
voltada apenas ao matrimonio, como ela poderia ser uma boa esposa e mãe.
Mesmo em Esparta, onde os homens quando em guerra, as mulheres
usufruíam de maior liberdade para se organizarem, dedicarem a música e
prática de exercícios, elas ainda eram vistas como menores de idade,
necessitando de um tutor, que era o pai e depois de casada, o marido.

Na Idade Média, a condição da mulher não foi considerada diferente da


situação anterior, pois a posição da mulher não era apenas moralmente, mas
juridicamente dependente do homem mais próximo, ou seja, sempre sujeita a
tutela constante. Era justificada pela sua habilidade em gerar filhos,
preferencialmente homens, e caso fosse estéril, era motivo para divórcio.

Ao longo da História do Brasil, a mulher esteve presente com sua força de


trabalho, sendo incumbidas a tarefas difíceis. No Brasil Colônia, como mão de
obra escrava, é possível que a mulher tenha dividido o mesmo espaço na
colheita da cana de açúcar e ao mesmo tempo na casa grande, com os
serviços domésticos, sendo agredidas físicas e psicológicas. Estando em meio
a prostituição como forma de exploração humana, a própria família guiava
essas mulheres por esse caminho, algumas trabalhavam durante a semana
nas fazendas, e se vendiam a fim de aumentar a renda familiar. “A prostituição
é um sistema antigo e quase universal, mas organizado de maneira diferente e
diversamente considerado, com status diferentes e diferentes hierarquias
internas” (PERROT, 2007, P. 77).
2. O Trabalho das mulheres

O início das mulheres no mercado de trabalho como costureiras em indústrias


têxteis e de vestuários começou com mulheres escravas, que trabalhavam em
condições insalubres, exploração com a carga horaria de trabalho e diferença
salarial em relação ao homem. “O desenvolvimento da história das mulheres
acompanha em surdina o "movimento" das mulheres em direção à
emancipação e à liberação” (PERROT, 2007, P. 15).

No século XIX, com um intenso crescimento de maquinaria e desenvolvimento


tecnológico, parte da mão de obra feminina fossem transferida para as fabricas,
onde trabalhavam até 18 horas por dia e a diferença salarial entre homens e
mulheres ainda era constante. A constituição de 1932, estabeleceu salários
iguais sem distinção de sexo, porém, mesmo com a lei, as mulheres
continuaram a ser exploradas, sob a justificativa de que o homem era o
mantenedor do lar, não havendo necessidade da igualdade em salário.

O direito ao trabalho, ao salário, aos ofícios e às profissões comporta


dimensões que são, ao mesmo tempo, econômicas, jurídicas e
simbólicas, com diferenças sociais evidentes. As classes populares
necessitam do salário das mulheres, mesmo quando o consideram
somente um "trocado". (PERROT, 2007, P. 159).

Até 1930, a carga horaria de trabalho não tinha limites e com o Presidente
Getúlio Vargas e as criações de leis trabalhistas, todos foram beneficiados,
principalmente as mulheres que eram exploradas profissionalmente. Antes
disso não havia dignidade, pois trabalhavam em ambientes sujos e insalubres.

Em 1932 foi criada a primeira lei que beneficiasse precisamente a mulher


trabalhadora, que foi em relação ao horário de trabalho que não passaria de 8
horas diárias e 44 horas semanais. Essa lei atingiu a todos trabalhadores
homens e mulheres, porém para as mulheres possibilitou melhores condições
no mercado de trabalho. Outro exemplo a ser observado foi o direito ao voto e
escolher seus representantes. O voto feminino foi um marco importante na
história do Brasil, pois permitiu que elas exercessem seu poder de escolha.
Vale ressaltar a importância do sindicalismo na luta da conquista pelo voto, que
alcançou outros países antes de chegar ao Brasil.

O sindicalismo criaria condições favoráveis às mulheres. O direito de


se sindicalizar precedeu, em muitos países, o direito de voto: foi
assim na França, em 1884, pela lei Waldeck-Rousseau que declara
que as mulheres casadas, exercendo uma profissão ou um ofício,
podem, sem autorização do marido, aderir aos sindicatos
profissionais e participar de sua administração e direção. (PERROT,
2007, P. 148).

Na década de 50 era comum encontrar mulheres trabalhando no comercio,


serviços públicos e em escritórios, e aos poucos foram inseridas na atuação
como professoras e enfermeiras.

A década de 70 é considerada uma época em que a participação feminina no


mercado de trabalho cresceu bastante. Nessa mesma década, a expansão
econômica, a urbanização e a industrialização favoreceram a entrada de
trabalhadores, inclusive mulheres. Nos anos 80, uma forte crise econômica
causa a alta das taxas de inflação provocando desemprego e modificando o
quadro de crescimento da década anterior. A situação da crise faz com que
muitas mulheres procurem trabalho em setores em setores terciários, com
atividades administrativas, comerciais, bancárias, prestação de serviços etc.,
ou seja, em áreas onde a mulher obteve mais sucesso, impedindo assim, que
elas fossem expulsas do mercado de trabalho devido à crise.

Um detalhe relevando para essa época foi o direito de planejar a família por
meios contraceptivos e a lei do divórcio lhe possibilitou viver os
relacionamentos por amor e não mais por convenções sociais, com seu
dinheiro acabou a dependência econômica do homem e a mulher ganhou a
liberdade. Estas foram as principais conquistam sociais que se refletiam do
trabalho da mulher, agora que eram mais preparadas, realizavam trabalhos
mais qualificados, e por isso, podiam exercer com maior autonomia suas
conquistas sociais.

Os anos 70 foi uma década de extrema mudança para a mulher, diferente do


Código Civil de 1918, onde a mulher era considerada incapaz, essa década fez
com que a mulher conquistasse sua capacidade civil, possibilitando seu
estabelecimento comercial com todos os direitos, conquistando a liberdade e
respeito profissional.

3. A Mulher da atualidade

Muitos obstáculos foram enfrentados pela mulher que buscava realização


profissional e liberdade financeira, um dos obstáculos percorrido foi o
preconceito, já que a mulher estava rompendo com os padrões pré-
estabelecidos da sociedade, onde muitos eram contra que a mulher
trabalhasse fora de casa e defendia que não conseguiriam conciliar o trabalho
com suas atividades domesticas, e que causariam problemas no lar,
descumprimento conjugal e a ausência materna afetaria no desenvolvimento
de seus filhos. Outro ponto importante a ser observado e que deu maior
liberdade e autonomia a mulher foi a aprovação da Lei do divórcio n 6515 –
26/12/1977, que foi aprovado durante o governo do General Ernesto Geisel,
fazendo com que a mulher fosse dona de seu próprio destino.

É perceptível que a necessidade da mulher em entrar no mercado de trabalho


foi percebido primeiro nas famílias mais pobres, pois o salário do marido as
vezes não era suficiente para suprir a necessidade da família e começou a
vender sua mão de obra.

A norma oficial ditava que a mulher devia ser resguardada em casa,


se ocupando dos afazeres domésticos, enquanto os homens
asseguravam o sustento da família trabalhando no espaço da rua.
Longe de retratar a realidade tratava-se de um estereótipo calcado
nos valores da elite colonial e muitas vezes espelhados nos relatos de
viajantes europeus que servia como instrumento ideológico para
marcar a distinção entre as burguesas e pobres. (PRIORE, 2001, P.
517).

Com um tempo, a sociedade começava a se modernizar em todos os sentidos,


começam a mudar as relações de trabalho e passam a tratar os operários
como cidadãos e o trabalho feminino reconhecido. É certo que a mulher
deveria ter seus direitos não apenas reconhecidos, mas sim ampliados
conscientemente, pois as ideias das mulheres ganharam novos rumos através
de várias profissões que elas assumiram.
A parti do momento que a mulher ingressa no mercado de trabalho, sua
situação não melhorou, mas sim agravou, pois além do preconceito e da
discriminação, a rotina ficou mais puxada, já que sempre houve a cobrança
sobre a mulher perfeita, que o marido chega e está tudo pronto, casa
arrumada, comida pronta, hoje ela tem profissão, carreira a seguir, vida
acadêmica e ainda assim, é mãe, mulher, esposa e dona de casa.
Atualmente, os direitos das mulheres estão relacionados à igualdade de gênero
e garantia de oportunidades e tratamento justo em diversas áreas da
sociedade. Alguns exemplos desses direitos incluem:

1. Direito a igualdade de salário: As mulheres têm o direito de receber o


mesmo salário que os homens exercendo a mesma função e com a
mesma qualificação.
2. Direito a educação: As mulheres têm o direito de receber uma educação
de qualidade, sem discriminação de gênero.
3. Direito a saúde: As mulheres têm o direito a ter acesso a serviços de
saúde adequados, incluindo serviços de saúde sexual e reprodutiva.
4. Direito a liberdade de expressão: As mulheres têm o direito de expressar
suas opiniões e serem ouvidas em todos os aspectos da vida pública e
privada.
5. Direito a participação política: As mulheres têm o direito de participar
ativamente da vida política, incluindo eleições e tomada de decisões
públicas.
6. Direito a proteção contra a violência: As mulheres têm o direito de viver
livres de qualquer forma de violência doméstica, abuso sexual e assedio.
7. Direito a liberdade de movimento: As mulheres têm o direito de se
deslocar livremente e sem restrições tanto dentro de seu próprio país
quanto no exterior.

Para escrever a história, são necessárias fontes, documentos,


vestígios. E isso é uma dificuldade quando se trata da história das
mulheres. Sua presença é frequentemente apagada, seus vestígios,
desfeitos, seus arquivos, destruídos. (PERROT, 2007, P. 21).

É certo que as conquistas sociais foram alcançadas através de duras


batalhas, já que sua qualificada mão de obra sempre foi posta em dúvida.
Vemos que o quadro ideal ainda está longe de acontecer, mas passos
decisivos já foram dados, cargos ocupados por elas são cada dia mais
elevados, demonstrando mais preparo, autonomia e respeito. Mesmo com
os avanços, ainda existem preconceitos e discriminação que são
insignificantes diante das conquistas.

4. Conclusão

Na presente pesquisa, buscou-se revisar a evolução da mulher no mercado


de trabalho ao longo das diferentes épocas e como influenciou diversas
atividades até então ocupadas pela figura masculina. Bem como a
necessidade de sempre revisar em como a sociedade está recebendo a
evolução feminina atual, procurando saber como estão sendo discutido,
interpretado e reavaliado essa quebra de estereótipos e o empoderamento
da mulher. É fundamental que a sociedade como um todo esteja engajada
nesse processo de transformação, valorizando as habilidades e
competências das mulheres e desconstruindo tudo o que foi criado ao longo
dos anos como aquela dominada pelo homem, somente assim pode-se
alcançar um mercado de trabalho justo e igualitário. Ainda há muito a ser
feito para superar o silêncio imposto ás mulheres e garantir que suas vozes
sejam ouvidas e valorizadas em todos os aspectos da vida. Isso requer uma
mudança de mentalidade, a implementação de políticas que promovam a
igualdade de gênero, bem como o apoio e solidariedade de todas a
sociedade.
BIBLIOGRAFIA

RAGO, M. in PRIORE, M. D. História das Mulheres no Brasil. 9 ed. São


Paulo: Editora Contexto, 2008.

PERROT, M. Minha história das mulheres. São Paulo: Contexto, 2007.

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