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São Luís
2006
12
São Luís
2006
13
CERTIFICADO
Barroso, Maria das Graças DE
SaraivaAPROVAÇÃO
xi, 80 f.:il; 15
CDU 94(812.1).063
14
Banca examinadora:
________________________
Presidente da banca
________________________
2º examinador
________________________
3ª examinador
15
Dedicatória
In memória
A minha mãe
AGRADECIMENTOS
Thompson
18
RESUMO
Palavras – Chaves: Escravidão, crise, Lei do Ventre Livre, Abolição, memória oral.
19
ABSTRACT
In this work studies it Slavery and the Crisis of the Escravismo in the process of
formation of the city of Peaks, current Hills - Maranhão. It is analyzed disaggregation
of the system in the context of the validity of the Law of the Free, relation enslaved
gentlemen, Deep womb of Emancipation and Ways of the Abolition with emphasis in
the verbal memory.
Words - Keys: Slavery, crisis, Law of the Free Womb, Abolition, verbal memory.
20
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 11
2. PICOS NO CONTEXTO MARANHENSE ............................................................ 12
2.1 O Porto de Picos e o desenvolvimento do Alto Itapecuru .................................. 23
3. A ESCRAVIDÃO AFRICANA NO BRASIL MARANHÃO E PICOS. ................. 25
3.1 O comércio ......................................................................................................... 36
3.2 As relações sociais nos primórdios da conquista .............................................. 38
4. A ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO E MEMÓRIAS DE REMANENCENTES DE
ESCRAVOS EM COLINAS ..................................................................................... 41
4.1 Memórias de remanescentes de escravos em Colinas ..................................... 56
5. CONCLUSÃO ..................................................................................................... 67
REFERENCIAS .................................................................................................. 69
ANEXOS
1. Relação de senhores de escravos.
2. Relação de compra e venda de escravos.
3. Mapa da população escrava de Picos, 1883.
4. Carta de Liberdade.
5. Relação de senhores que registraram escravos a serem libertos pelo fundo de
emancipação.
6. Fotos de remanescentes de escravos.
21
1. INTRODUÇÃO
As novas pesquisas da historiografia brasileira vêm demonstrando que
a escravidão apresentou viv6encias e experiências diversas e o escravo não foi um
sujeito passivo, mas sim um agente de sua história. É dentro dessa perspectiva que
se busca estudar a escravidão no contexto da formação da antiga vila de Picos no
Maranhão.
O interesse pelo tema deu-se em função da necessidade de um estudo
que contemple a história da escravidão negra no processo de formação do município
e a utilização da mão-de-obra escrava na agroexportação, ao lado da pecuária
extensiva, no contexto da desagregação do sistema escravista.
A pesquisa teve inicio com a leitura de trabalhos da historiografia
negra, brasileira e maranhense, bem como fontes primárias em cartórios e
paróquias. Consultou-se livros de notas e inventários nos cartórios de passagem
franca e colinas, registros de batismos e registro de escravos. A documentação
trouxe a tona varias informações que diz respeito à idade, propriedade, condição
jurídicas sendo estas fontes para analisar as relações escravistas. A memória oral
oriunda dos remanescentes de escravos foi uma preciosa fonte que esclareceram
várias perguntas sobre os documentos.
O recorte temporal do trabalho corresponde às décadas de 70 e 80 do
século XIX, época que nasce Picos na crise de desagregação do escravismo. O
presente trabalho foi construído com base na teoria da historia social que tem como
objetivo compreender o social na sua pratica, o método utilizado foi o histórico critico
com base na teoria de E. P. Thompson segundo o qual os sujeitos sociais constroem
suas experiências cotidianas.
O trabalho foi dividido em três capítulos. No primeiro capítulo, Picos no
contexto maranhense esboça-se o processo e formação de Picos inserido na
colonização brasileira e nela a do Maranhão. No segundo capítulo, A Escravidão
Africana no Brasil, Maranhão, Picos, destaca-se o cenário econômico e social do
Maranhão focalizando a vida dos escravos, o trabalho na agricultura e pecuária, bem
como as relações sociais. No terceiro capitulo a abolição e memória dos
remanescentes de escravos em Colinas destaca-se o processo de abolição
desenvolvido a partir da criação da lei 2040, atuação do fundo de emancipação,
registro das memórias daquilo que ficou cristalizado pelos remanescentes.
22
___________________
1
Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. XV vol. IBGE, Rio de Janeiro, 1959, p. 159.
2
CABRAL, Maria do Socorro Coelho. Caminhos do gado: Conquista e ocupação do Sul do Maranhão.
São Luis, SIOGE, 1992, P. 101.
3
Id. Ibid.P. 144.
23
4
Enciclopédia dos Municípios Brasileiros. Op.Cit, p. 158.
Em represália a essas atrocidades, os nativos Timbiras lutaram como
puderam no sentido de preservar o seu espaço. Chegaram a assolar e despovoar
por algum tempo as fazendas de gado que ficavam nas proximidades do Alpercatas.
Dentre estas fazendas pode-se citar: Maté, Maravilha, Gameleira, Salinas e Fazenda
Grande. 5
Em relação ao povoamento do território que hoje é situado a cidade de
Colinas, sabe-se que o Governo Provincial de D. Francisco de Melo Manuel da
Câmara (1806-1809), pretendendo promover a navegação do Rio Itapecuru,
incumbiu Francisco de Paula Ribeiro da Construção de um povoado na confluência
do Rio Alpercatas com o Itapecuru. Estava-se no ano de 1807, época que a família
real portuguesa transferia-se para o Brasil e em sua homenagem, o povoado foi
chamado de Arraial do Príncipe Regente. 6
O local do referido povoado era habitado pelos nativos “os Timbiras
Canelas Finas”, que no processo traumático de violência praticada pelo branco,
7
impediram o desenvolvimento do Arraial do Príncipe Regente. Em 1808, nas
proximidades do local citado, em um riacho, a 6 km da atual cidade de Colinas, um
menino de 10 anos, trabalhando como servente dos duzentos homens comandados
por Manuel.
Lopes foi assassinado pelos Timbiras, em represália aos ataques
constantes. Após o “crime” retiraram as orelhas e levaram como troféu pela vitória.
O assassinato dessa criança mostra o grau da violência imposta pelo
colonizador branco, que utilizava menores indefesos na busca dos seus objetivos.
Para os nativos, o assassinato de um menino usado nessa “guerra” não
compensaria as inúmeras perdas que tinham de mulheres e filhos feito prisioneiros.
Era sim uma vingança em uma luta que sem dúvida sairiam vencidos, pela
inferioridade que tinham suas armas em relação ao agressor.
_______________________
5
RIBEIRO, Francisco de Paula, memória do sertão maranhense. Editora Siciliano, p. 176
6
MEIRELES, Mário. História do Maranhão, Fundação Cultural do Maranhão, São Luís, 1980, p. 207-
208.
7
RIBEIRO, op. cit. p. 172
24
_______________________
8
RIBEIRO, op. cit. , p. 172
9
SANTOS, Neto, Antonio Fonseca dos, Memória das Passagens... Editora EDUFPI, Teresina 2006,
p. 66.
25
_______________________
10
Enciclopédia dos Municípios brasileiro XV, IBGE, Rio de Janeiro 1959, p. 159.
26
_______________________
11
IBGE, op. cit. 1959, p.158
27
_______________________
12
– IN Reis JR, Minha terra minha gente, p. 153, 154.
13-
MARQUES, César Augusto. Dicionário histórico e geográfico da história do MA. Ri J., fon fon
Seleta, 197012.
14
Id. Ibid
29
Para se ter uma idéia, em 1894 Dona Rufina Dias Carneiro, na partilha
que fez após a morte do seu marido, o Coronel Antonio Regino de Carvalho, ficou
registrado no seu inventário 2.500 bois distribuídos em 12 fazendas nos termos de
Passagem Franca e Picos, além dos bens móveis a família possuía títulos e ações
da Companhia Industrial Caxiense.15
Todo esse poder econômico vai proporcionar a família o poder político
na região. O Drº Dias Carneiro foi o articulador responsável pela mudança da
Fábrica de Tecidos de São Luís para Caxias, por onde o poder econômico da família
se alastrava. 16
Pelos registros do Livro de Notas do 1º Tabelionato de Picos pode-se
perceber a liderança política de Francisco Dias Carneiro na região, onde sempre o
apresentavam como procurador na resolução de negócios em Caxias, São Luís e
até na capital do Império.
________________________
15
Livro de Notas do Cartório do Segundo Ofício de Picos
16
CALDEIRA, José de Ribamar. ORIGEM DA INDÚSTRIA NO SISTEMA AGRO-EXPORTADOR
MARANHENSE. 1875-1895. p.189.
30
_______________________
17
JACOBINA, Apud,SANTOS, Neto, Antonio Fonseca dos, p 115
18
Livro de Notas. Cartório do 1º Oficio, p. 116-118
31
_______________________
19
Ibid, pág. 116
20
PORTO, Walter Costa. O Voto no Brasil – Da Colônia a Quinta República. História Eleitoral do
Brasil, 3º Vol. Brasília – DF, 1989, pág. 25
21
Ibid. 1992, pág. 53
32
_______________________
22
Livro de Notas, 1876-1880
23
Ibid, p. 81
24
Ibid, p. 129-130
33
_______________________
25
MARQUES, César Augusto. Dicionário Histórico e Geográfico da Província do Maranhão. Rio de
Janeiro, Editora Fon fon seleta. 1970. p.158.
34
________________________
26
REIS, Júnior José Sérgio dos. Nos desvãos do Itapecurú. SN. 1980, p.106
27
IBGE, 1959, p.159.
35
________________________
28
PINSKY, Jaime, A Escravidão no Brasil, 7ª Edição, São Paulo. Editora Contexto, 1988.
29
MATTOSO, Kátia M. Queirós. Ser Escravo no Brasil. São Paulo. Brasiliense, 1990.
30
MARQUES, César Augusto. Dicionário Histórico e Geográfico da Província do Maranhão. RJ, Fon
fon e Seleta, 1970.
36
_____________________________
31
MEIRELES, Mário M. História do Maranhão, São Luís, FAC-Similar, 1992, pg. 85.. GAIOSO,
APUD FARIA, Regina Helena Martins de. Trabalho Escravo e Trabalho Livre na Crise da
Agroindústria do Maranhão, São Luís, 1998, pg. 40.
32
MATTOSO, Kátia M. Queirós. Ser Escravo no Brasil. São Paulo. Brasiliense, 1990.
33
FARIA, Regina, op. cit. Pg. 40
34
Idi Ibid
35
JUNIOR, Caio Prado. História Econômica do Brasil. São Paulo, Editora Brasiliense, 1994, pg. 82.
37
________________________
36
Id. Ibid.
37
FARIA, Regina, Op. Cit. Pg. 40.
38
RIBEIRO, Jacila Ayub. Jorge. A Desagregação do Sistema Escravista.
39
REIS, Fábio. APUD. RIBEIRO, Op. Cit. Pg. 82
40
RIBEIRO, Jacila Ayub. Jorge., op. cit. Pg. 83
41
Id. Ibid. pg. 84
38
___________________
49
RIBEIRO, Francisco de Paula, op. cit. Pg. 150.
50
Livro de Notas, Cartório do 2° Ofício, Colinas – MA
51
APUD, César Marques, pg. 510-511
41
____________________
52
CABRAL, Mara do Socorro Coelho. Op.Cit. pág. 143.
53
CABRAL, Maria do Socorro Coelho, op cit, p 143.
54
RIBEIRO, Francisco de Paula, op. cit. Pg. 175.
55
RIBEIRO, Jalila Ayub Jorge. op. cit. Pg. 48
42
________________________
56
Relatório da Camara Municipal de Passagem Franca, APUD, César Marques, pg. 512.
57
Id Ibid
58
Id Ibid
43
____________________
59
Oficio do Presidente da Câmara de Passagem Franca ao Presidente da Província do Maranhão –
Arquivo Público do estado.
60
Id. Ibid.
44
____________________
61
VIVEIROS, Jerônimo de. História do Comércio do Maranhão (1612-1895). Associação Comercial
do Maranhão, 1977, pg. 88.
62
Id. Ibid.
63
Ibid. Ibid. pg. 89
64
REIS, Júnior, REIS, José Sérgio dos. Minha Terra, Minha Gente – Picos, Atual Colinas Esboço
Histórico:SN (19613) pg. 32.
45
3.1 O comércio
____________________
69
RIBEIRO, Francisco de Paula. Op. Cit. Pg. 175;
70
Id. Ibid.
71
Id. Ibid.
47
____________________
72
César Marques,opc. pg. 510-511
73
Id Ibid
48
________________________
74
CESAR, Marques op. Cit
75
CABRAL, Maria do Socorro. op. cit. Pg. 180.
76
Id. Ibid.
49
________________________
77
Livro de Batismo Nº 7, Freguesia de São Sebastião, pg. 150-153
51
________________________
78
PRADO, Júnior Caio. História Econômica do Brasil. 41ª Ed. São Paulo. Brasiliense, 1994.
79
Id. Ibid.
80
COSTA, Emília Viotti da. A Abolição. Coord. Jaime Pinsk. São Paulo. Global. Ed. 1982. pg 45.
81
QUEIROZ, Suely R. Reis de. A Abolição da Escravidão. São Paulo. Brasiliense, 1999, pg. 46.
82
FARIA, Regina Helena Martins de. Trabalho Escravo e Trabalho Livre na Agro-Exportação do
Maranhão. Pg. 113.
52
________________________
83
COSTA, Emília Viotti da. Op. Cit. Pg. 44
84
Livro de Notas N° 8 (1869-1878), fls 13-14
85
Id. Ibid. pg. 14
53
Embora não tenha sido acatada pela ala radical que propôs alguns
meses depois a abolição, o manifesto gerou uma grande mobilização pública. Em
março de 1871 um projeto pautado numa visão gradualista foi apresentado à
Câmara por Visconde do Rio Branco e após meses de intensa agitação foi aprovado
aos 28 de setembro.91
A lei Rio Branco sob N° 2040, chamada posteriormente de Lei do
Ventre Livre, colocava em pauta o debate em torno da emancipação gradual dos
escravos. No seu Artigo primeiro dizia: “Os filhos de mulher escrava que nasceram
no Império desde a data desta Lei, serão considerados livres”. Estes, no entanto,
ficariam em poder dos senhores, os quais ficavam na obrigação de mantê-los até os
oito anos de idade. Chegando a essa idade o senhor poderia optar em entregar a
criança ao Estado, recebendo uma indenização no valor de 600$000 ou mantê-la até
a idade de vinte e um anos. O ingênuo, como se chamava o liberto, ficava na
obrigação de trabalhar sem remuneração em troca pelo sustento até 21 anos de
idade. 92
Entre os dispositivos e parágrafos que faziam parte da Lei do Ventre
Livre estava o da criação de um Fundo de Emancipação como também era
concedido ao escravo o direito de formar um pecúlio, que no caso de ser suficiente
para indenizar seu valor teria direito a comprar a sua liberdade. Os recursos para a
manutenção do Fundo seriam arrecadados através de uma taxa sobre os escravos,
impostos gerais sobre transmissão de propriedade escrava, multas em função da Lei
ou quotas que deveriam ser criadas no orçamento geral, provincial e municipal,
legados e doações.93
Na antiga Vila de Picos, a Lei 2040 começou a ser percebida a partir da
mobilização dos senhores de escravos que foram convocados pela Junta de
Classificação a fazerem o registro dos escravos a serem libertos pelo Fundo de
Emancipação.
Em abril de 1873 o Inspetor da Tesouraria da Fazenda do Maranhão
fazia a abertura e o encerramento de um livro,
________________________
91.
COSTA, Emília Viott. Op. Cit. P. 43.
92.
Id. Ibid.
93.
Livro do Estado Servil. ART $8$2: Ir. VEIGA, Luís Francisco da. 1873.
56
o qual “deveria servir para o lançamento do quadro das classificações dos escravos
existentes no município da Vila de Picos”, que têm de ser libertados conforme a
quota disponível do Fundo de Emancipação nos termos de Req... que baixou com o
N° 5135 de 13 de novembro de 1872”. 94
Segundo os critérios estabelecidos, os escravos deveriam ser
registrados no prazo de um ano e em caso de omissão dos senhores, os escravos
não registrados seriam libertos ou do contrário o senhor pagaria uma multa de
100$000 a 200$000 por escravos. 95
Os trabalhos da Junta de Classificação sediada na Casa da Câmara
Municipal de Picos tiveram início em 1873 com o comparecimento de 35 senhores,
os quais registraram 136 escravos, com idades variadas entre 1 a 88 anos. Após 2
anos, os referidos senhores registraram os escravos em Ordem de Famílias e
Ordem de Indivíduos. Em 1ª Classe foram agrupados os escravos casados, de
diferentes senhores e filhos menores de até 6 anos de idade. A 2ª Classe foi
composta por escravos solteiros entre 12 a 43 anos de idade. Na 4ª Classe foram
agrupados os escravos casados com filhos livres. Na referida relação como vê-se
não apareceu a 3ª Classe. 96
Segundo Ofício Circular do Ministério da Agricultura e Obras Públicas,
as prioridades deveriam ser dessa forma abaixo descrita:
________________________
94.
Livro de Registro de Escravos. Cartório do 2° Ofício, Colinas – MA.
95.
COSTA, Emília, Op. Cit. Pg. 47
96.
Livro de Registro de Escravos. Cartório do 2° Ofício, Colinas – MA.
97.
APUD, FARIA, Regina. Op. Cit. Pg. 116
57
_______________________
________________________
99
Ribeiro, Jalila Ayoub Jorge op cita pg 148.
100
Livro de notas numero 8(1869-78) fls 73 e 73 v Apud Santos Neto
101.
Livro de registros de escravos de Picos. Cartório do segundo ofício. Colinas-MA
60
_______________________
102.
Arquivo Público do Estado do Maranhão.
103.
Livro de Notas Nº. 2. Segundo Tabelionato de Passagem Franca.
104.
Id Ibid
61
_______________________
105.
Livro de Notas do 1º Tabelionato de Picos. Cartório do 1º Ofício, Colinas – MA, pg. 67-69
106.
Id Ibid
107.
Ribeiro, jallila op. cit, pg. 121-122.
63
________________________
108.
Arquivo Público do Estado
109.
Ribeiro, Jalila op. cit pg. 150.
64
______________________________
110
Costa Emilia viott Da .op.cit pg. 68-69
65
___________________
111
Montenegro, Antonio Torres. Reinventando a liberdade. 16 Edição, editora atual, p. 13. e
enciclopédia dos municípios brasileiros. XV vol. IBGE. Rio de janeiro, 1959, p.159.
112
CONRAD, APUD Ribeiro Jalila. pg. 154.
66
No dia 13 de maio
a liberdade chegou,
chorava dona Antônia,
soluçava seu Godô
a dona Ana deu vaia
e o doutor Lobão se obrou”.
João Santana
________________________
“Nasci na Taboca do Belém e até hoje moro lá, meu pai foi criado na
casa do Senhorzinho, ele não foi do cativeiro, mas sabia tudo e contava para
nós. O pai dele foi mesmo cativo. Ele dizia que o avô dele era João e Salomé, só
assim naquele tempo negro só tinha o primeiro nome. O dono dele era chamado
Dias Pimentel”.
Francisca Ferreira Dias
“Minha mãe era Izabel que veio do Piauí, já de conta própria, era
muié livre já de conta própria quando veio morar em Passagem Franca. Ela dizia
que nasceu na era dos três oito (1888)no ano que o cativeiro acabou. A minha
mãe tinha até um livro da Princesa Isabel, que dói, em falar, pois ela quem
inventou os negros, num foi?!... O meu pai era Raimundo aí desses negros da
69
“Tanto a minha avó Grégoria como meu avô Timóteo eram escravos
de Iria Pimentel que vieram aí da banda do Sítio do Meio lá pra Taboca do Belém
onde se vive até hoje”.
Antônia Ferreira Dias.
Cândido Torres foi suplente de juiz em Picos (1873) ao mesmo tempo em que era
Major e Ajudante de Ordens da Guarda Nacional.
Os depoimentos de Antonia e Francisco com dois anos diferentes de
idade, vêm complementar um ao outro. Dona Antonia tem lembranças da vó
Grégoria e do avô Timóteo. Já Dona Francisca acrescenta o nome dos bisavós,
sendo que a primeira enfatiza o nome da Senhora Iria e a segunda faz menção do
Senhor e Senhora de escravos dos seus avós.
Dados dos referidos senhores constam em procurações, batismos e
como também nas listas de classificações de escravos a serem emancipados.
O Tenente José Dias de Oliveira Pimentel era proprietário de fazendas
no município de Picos e em São José dos Matões, e em 1879 foi juiz interino da
Comarca do Alto Itapecuru.
Nas indagações que se fez aos entrevistados sobre as lembranças da
vida dos cativos registrou-se o seguinte:
A escravidão em Picos não foi diferente dos outros lugares do Brasil.
Era o mesmo sofrimento. Os meus avós tiveram uma vida de sofrimento. A minha
vó se acanhava de falar. Meu bisavô, este era dono de escravos, tanto batia como
mandava bater em negros. Minha vó falava que lá na Almeida tinha um lugar de
açoite. O escravo mesmo levava uma carta feita pelo seu dono, saia aí do Centro da
Lagoa Grande com essa carta que dizia quantas chibatadas era pra ser dada pelo
carrasco. Era um sofrimento danado. Meu avô materno foi escravo, mas não chegou
a apanhar. Era o escravo Sulino, ele era um carpina fina.
A minha mãe, essa já nasceu no fim do cativeiro, já nasceu livre!...Mas
agora tinha outros, como o povo da minha sogra Isabel, o pai dela era o Matias
escravo do José Moreira, Pai do Major Sebastião. Esse Senhor mandava nas
cacimbas e no Canto Bom. Lá é que dizem que tinha sofrimento. O lugar de açoitar
os negros era lá, que depois é que passaram a chamar Serra Negra. Lá o golpe
passou, e os negros continuaram apanhando.
Antônio Farias
O negro em Picos também lutou em busca dos seus direitos, como foi
o caso do escravo Serafim de Eufrásio Alves da Mota, que em 16 de março de 1877
compareceu a audiência municipal de órfãos fazendo de4núincis dos maus tratos e
abandono que vinha recebendo em função de está doente. Outro exemplo de luta
que merece destaque foi do escravo Eugênio que lutou na justiça contra Carlota
Ferreira de Sousa que moveu queixa crime contra Anacleto Joaquim Ferreira que
deu carta de liberdade ao referido escravo.
O depoimento de Francisca faz lembrar da venda de uma escrava de 5
anos, feita por Germano de Morais Cutrim ao Coronel João Francisco de Carvalho.
A escritura da referida compra e venda dizia que o comprador comprometia-se a
pagar “300$000(trezentos reis) pela escravinha, Raimunda, no estado “em que se
acha” e com todos os achaques, manhas, sérios defeitos presentes e futuros que
tem”. A principio pensou-se na hipótese de ser a escrava filha do senhor, que a
comprava. O depoimento de Francisca porém vem agregar outra hipótese: o então
comprador poderia ser “um senhor cruel” capaz de tirar os defeitos da escravinha
através da violência.
Na narrativa de Caetana a mesma associa a violência da escravidão
com a Serra Negra no tempo do Sales Moreira. Sales Moreira era o chamado
Capitão da Serra negra, influente “político da região nas décadas de 1940 e 1950”.
Antonio Farias também se reporta ao local quando fala:...″Na Serra
Negra o golpe passou e os negros continuaram apanhando”.
Um outro tema abordado pelos entrevistados foi em relação a cultura
negra na região,onde foi enfatizado o seguinte:
“Minha mãe falava que sua avó Clara fazia uma festa todos os anos
reunindo todos os lavradores com os produtos da roça parta festejar. Essa festa é lá
do Velho Testamento, a festa de Izídio. Eu até lembro de um pedacinho da reza que
dizia assim: Meu Senhor Izídio filho da Espanha, nosso advogado... aí eu não
lembro mais. Depois dessa festa aí tinha o tambor de crioula, mas era proibido
tomar qualquer coisa para embriagar”.
Antonio Farias
“O tambor que eles brincavam na África aqui só podia
fazer se fosse bem longe para os Senhores não serem
incomodados. Até aqui em Colinas quando nós chegamos aqui, a
Mariinha do Doca inventou o tambor pra nós baiar. O Sargento
74
Matos veio aqui e proibiu a brincadeira. Ela teve que fazer uma
casa bem distante pra poder baiar o tambor de mina. A festa de
Santa Bárbara, essa tem todo o ano, eu tô assim doente mas os
outros organizam tudo, uma vez até me levaram.”...O meu pai esse
gostava era da festa de São Sebastião da Passagem Franca. Ele
foi por muitos anos o capitão do Mastro dessa festa. Depois que
nós se mudamos ele ia pra lá, juntava com outros amigos pra
derrubar aquele pau grande e na madrugada pra amanhecer o 10
de janeiro iam buscar esse pau as vezes distante duas ou mais
léguas. De lá vinham cantando, bebendo e entravam pelas ruas da
cidade de casa em casa louvando o santo e aquele pessoal nas
suas casas até chegar na porta da igreja.Lá enficavam aquele
mastro que ficava até o dia 21 quando novamente todo mundo
reunia pra derrubada do mastro.Essa festa até hoje se faz na
Passagem Franca”.
Maria da Paixão
“Eu sempre ouvi os mais velhos falar, que aqui tinha uma
grande festa, que era festa de Bárbara. Quem trouxe pra cá foi
uma escrva da moda Rosália, essa veio mesmo da África. Era a
mãe de Prudêncio e de Ezaquiel. Aqui quem fazia festa de Bárbara
eram eles; mas era dentro das matas... Tinha também outras festas
para se divertir. Tinha as tocada de pifees e tambo. Tinha também
o tambor; ah!os negros gostava de festa e ainda gosta!”.
Francisca Ferreira Dias
Em relação aos negros depois da abolição veja o que diz
nossos depoentes:
“No Cruzeiro pra banda da Lagoa Grande muitos negros
herdaram terra dada pelo Coronel José de Farias Pereira. Lá na
Lagoa Grande ficou o Firmino Ramos, a Virgínia era dessa gente...
A Virgínia era dessa gente...A Virgínia ela era a mãe da Martinha,
que foi professora lá na Lagoa Grande, ensinou muita gente. Ela
também era da gente do meu bisavô... Só que elas ficaram com
outro nome, acho que é do Norberto”.
Antonio Farias.
75
_______________________
114
Oliveira Antônio Augusto Pires de: o capitão da Serra Negra: relato de Gonçalves Moreira Lima,
São Paulo: Martins, 1982
77
5. CONCLUSÃO
partir da sonhada liberdade o negro passa a lutar pela terra por um espaço de
trabalho. Atualmente a maioria dos remanescentes que reside em colinas vivem na
periferia da cidade, em áreas de atrito de terra e assentamentos do Instituto Nacional
de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).
79
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS