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A mulher no mercado de trabalho: uma linha do tempo que você precisa conhecer

No dia 8 de Março comemoramos o dia internacional da mulher, uma data que vem carregada de reflexões e
emoções. A busca ativa por equidade de gênero no mercado de trabalho é parte da cultura da SafeSpace e por
isso não poderíamos deixar de nos manifestar nesta data. Para propor uma reflexão sobre a luta pela igualdade
de gênero, nós escolhemos contar a história das conquistas das mulheres por direitos de trabalho em um formato
de linha do tempo.

É um conteúdo mais longo, mas que nos ajuda a valorizar o que já conquistamos e ao mesmo tempo enxergar de
forma realista o que ainda temos pela frente. Acompanhe este pedaço de história conosco e engaja-se ainda mais
em uma luta por direitos sociais igualitários.

401 - 1301 | Na Era Medieval ser livre significava ser homem

Vamos começar a linha do tempo explicando que a mulher trabalha desde os primórdios da raça humana, porém
o seu trabalho sempre foi dentro de casa. Trabalhar, para uma mulher na era medieval, significava preparar
refeições, dar atenção às pessoas enfermas, limpar espaços compartilhados, entre outras tarefas da casa.

Não existe relato histórico de que as mulheres escolheram isso para si. Essa sempre foi uma imposição vinda das
figuras masculinas que usavam de sua força física para manter tudo funcionando conforme queriam. Então o
primeiro trabalho da mulher na sociedade foi o do cuidado (trabalho esse que permanece até os dias atuais).

Vale citar ainda que durante parte da Era Medieval as figuras femininas que não se rendiam às tradições impostas
pelos homens foram perseguidas e consideradas feiticeiras ou bruxas. Existiu até um manual para caça a essas
mulheres, que acabou levando milhares delas para a fogueira.

Rainha de Sabá: um símbolo de beleza, amor, paz e alguém que se esforçou na busca de conhecimento. Já para
os etíopes, ela é uma verdadeiro ícone.

O panorama da época no Brasil: No Brasil, no período chamado de Pré-Cabralino (antes da chegada de Pedro
Álvares Cabral), a mulher indígena era tratada de forma diferente dentro da comunidade, apesar de também
realizar o trabalho do cuidado nas aldeias. Os costumes variam de acordo com as etnias, mas os povos indígenas
que viviam no Brasil não precisavam de um sistema econômico, portanto os trabalhos necessários eram divididos
de acordo com a idade, a habilidade e o sexo biológico da pessoa.

Revolucionárias: Rainha de Sabá

1301 a 1601 | A depreciação do período Renascentista: Os anônimos são mulheres

Após o final do período medieval formou-se um tipo de núcleo econômico familiar na qual as mulheres dividiam
seu tempo entre trabalhar fora e dentro de casa, contanto que mantivessem seus afazeres domésticos em dia.
Acontece que aquelas que se sujeitavam a trabalhar fora, não podiam ter seus nomes publicados e a maior parte
do trabalho exercido por mulheres nessa época passou a ser nomeado como “autor fantasma” ou “autoria
anônima.”

Por conta dessa desvalorização, muitas não podiam comprovar suas habilidades e tinham remuneração inferior
A mão de obra feminina era explorada para gerar maior retorno financeiro. Portanto, nesse contexto, a mulher foi
incluída no mercado de trabalho mas em condições míseras.

Lente interseccional: Quando falamos sobre a entrada da mulher no mercado, de quais mulheres estamos
falando? Será que todas as mulheres tiveram as mesmas oportunidades? Os livros de história em sua maioria se
referem àquelas consideradas vindas de boas famílias e que eram consideradas boas para casar. Mas a mulher
pobre sofria de forma mais severa o contraste dos privilégios masculinos pois como não casavam precisam
recorrer a prostituição ou ao crime para ter algum tipo de sustento.

O panorama da época no Brasil: No Brasil a realidade que vivíamos nessa época era a de invasão e
colonização. As mulheres indígenas passaram a exercer o trabalho de escravas. A distinção de funções seguia a
cultura europeia de manter a mulher no trabalho do cuidado porém não se atendo apenas a isso. Elas passaram a
fazer também boa parte do trabalho manual empregado também aos homens.

Revolucionárias: Joana D’arc

1601 a 1700 | O campo intelectual do Século: As parteiras eram homens

No campo do intelecto, os avanços das ciências cresciam mas a participação feminina era negada. A maior parte
das mulheres não tinha o direito de aprender a ler, escrever, estudar e se profissionalizar. Até o século XIX (1800
- 1900) não existiam registros de mulheres frequentando universidades.

O resultado dessa diferença é que até trabalhos que antes eram liderados por mulheres, como realizar o parto de
bebês que vinham ao mundo, foram tomados por homens, já que eles passaram a se tornar estudiosos. O trabalho
da parteira foi substituído pela obstetrícia - setor exclusivo à figura masculina na época.

O panorama da época no Brasil: A mão de obra escrava passou a incluir a mulher negra trazida da África como
parte da força para fazer o trabalho de cuidado e também o trabalho manual junto às mulheres indígenas. O
trabalho era exaustivo, podendo chegar a 20 horas por dia. As mulheres de famílias Europeias tinham o papel de
engravidar e gerar crianças descendentes de povos europeus para povoar o país.

Olympe de Gouges, a pioneira do feminismo que foi parar na guilhotina

1701 a 1800 | A revolução francesa e a revolução feminina

Insatisfeitas com as desigualdades de gênero, algumas mulheres passaram a se rebelar e expor a situação precária
que a figura feminina vivia. Figura importante para a época foi a de Olympe de GOUGES, mulher que
contestava as crenças sociais e propôs a criação de uma “Declaração dos direitos femininos” como complemento
à já existente “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão''. O resultado? Olympe foi sentenciada à morte
na guilhotina em 1739 sob a acusação de ter deixado de lado os “benefícios do seu gênero” e tentar ser um
homem de Estado.

Revolucionárias: Olympe de GOUGES

1801 a 1900 | Revolução Industrial: O capitalismo deveria ajudar. Mas quem?

Após o período da revolução, o capitalismo trouxe novas consequências para a esfera feminina. As fábricas
surgiram junto ao desenvolvimento da tecnologia e as mulheres passaram a trabalhar dentro do setor fabril em
atividades compatíveis com as que exerciam dentro de casa. Ou seja, elas “podiam” trabalhar porém com o
trabalho do cuidado, servindo comida e limpando os espaços

As condições de trabalho eram degradantes e a remuneração sempre inferior à dos homens. Uma das
justificativas masculinas para tal diferença é de que não havia a necessidade de mulheres ganharem mais pois
elas tinham quem as sustentasse. No caso, os próprios homens.

Neste momento as ideologias socialistas se consolidaram, de modo que o movimento feminino pela luta de
direitos se fortificou como um aliado do movimento operário. Nesse contexto aconteceu a primeira convenção
dos direitos da mulher em Seneca Falls, Nova York em 1848. Também em Nova York, em 1857, aconteceu o
movimento grevista feminino que, reprimido pela polícia, resultou num incêndio que ocasionou a morte de 129
operárias no mês de Março.
Lente interseccional: Quando olhamos para o panorama da mulher negra no Brasil no século XIX as condições
eram ainda mais desiguais. O papel da mulher negra e indígena foi afetado de forma mais profunda pois eram
obrigadas a gerar filhos de quem não queriam para aumentar a mão de obra escrava. Eram privadas de conviver
com quem amavam, alugadas para amamentar filhos que não eram seus e obrigadas a carregar o trabalho de
cuidar da casa junto às mulheres brancas?. As meninas mais novas eram obrigadas a trabalhar oferecendo seus
corpos aos senhores de engenho.

É importante entender diante deste cenário que mulheres brancas buscavam seu direito de independência e
igualdade social e financeira enquanto mulheres negras e indígenas eram mão de obra de trabalho pesado sem
remuneração. Esse aspecto não pode ser ignorado uma vez que a libertação dos corpos femininos pela luta de
gêneros na época não visava a libertação de corpos negros, portanto parte da população feminina era ainda mais
inferiorizada.

Esta situação só começou a mudar em 1871, com a Lei do Ventre Livre que tirava das mulheres negras a
necessidade de engravidar para fazer nascer mais mão de obra escrava e oferecendo o mínimo de segurança a
família destas mulheres.

O panorama no Brasil: As mulheres negras e indígenas precisavam trabalhar ainda que de forma clandestina
para garantir o sustento de suas famílias. As principais funções exercidas eram por meio de prestação de serviços
e comércio de alimentos.

O engajamento feminino pelo direito de votar ocupou espaços importantes, como a imprensa. No final do século
XIX, um jornal escrito por mulheres (brancas) foi criado no Rio de Janeiro com o nome de A Família. O foco das
publicações desse jornal eram artigos que fizessem a defesa do sufrágio feminino.

Revolucionárias: Maria Quitéria (1823) - Primeira mulher no Exército Brasileiro; Maria Firmina dos Reis
(1859) - Primeira autora Negra no Brasil; Elizabeth Blackwell (1821) - Primeira mulher a se tornar médica;
Arabella Mansfield (1869) - primeira mulher a se tornar advogada.

Arabella Mansfield foi primeira mulher a se tornar advogada

Maria Firmina dos Reis foi a primeira autora Negra no Brasil

Elizabeth Blackwell foi a primeira mulher a se tornar médica

Maria Quitéria, a primeira mulher a entrar no Exército Brasileiro

1901 a 1920 | A chegada do século XX: O sexo feminino não é biologicamente inferior

A luta das mulheres pela diminuição da assimetria na relação com os homens ganhou impulso na virada dos
séculos 19 e 20 e se estendeu ao longo de todo o século passado. O ápice aconteceu na década de 1960, marcado
por uma ampla revolução no âmbito dos costumes. Datam dessa época movimentos femininos como o NOW -
National Organization of Women, comandado pela norte-americana Betty Friedan, e obras como "O Segundo
Sexo", da filósofa francesa Simone de Beauvoir, que demonstra que a hierarquia entre os sexos não é uma
fatalidade biológica, mas uma construção social.
Revolucionárias: Marie Curie (1903) - Primeira a ganhar um prêmio Nobel; Movimento grevista pelo direito das
mulheres e massacre onde 120 morreram queimadas numa fábrica; Simone de Beauvoir

“É pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem, somente o trabalho poderá
garantir-lhe uma independência concreta.”

— Simone de Beauvoir

1921 a 1930 | As leis são para todas as pessoas?

As leis trabalhistas começam a surgir e com a redução da jornada de trabalho para 44 horas semanais a mulher
pode encontrar algum tipo de descanso e reparo uma vez que, além do trabalho em condições insalubres e
desrespeitosas também precisavam exercer o trabalho do cuidado em suas casas.

O panorama da época no Brasil: Em 1923 as mulheres conquistam o direito de votar por força do movimento
sufragista, motivadas pela força de revolução feminina que preenche a história global naquela década. Desde essa
época só era considerada pessoa cidadã aquela que votava, portanto este foi um grande passo em direção a busca
por direitos trabalhistas.

No Rio Grande do Norte a primeira mulher tomou posse de um cargo político eletivo. Isso se deu em 1928,
quando Alzira Soriano venceu a eleição para a prefeitura de Lages com 60% dos votos e foi empossada como
prefeita em 1º de janeiro de 1929.

1931 - 1970 | O entretenimento do ego

Com a chegada das leis trabalhistas e com inúmeras revoluções tecnológicas e a chegada do entretenimento,
alguns grupos de mulheres, em países específicos, encontraram espaço nas telas de cinema, na música e nos
programas de televisão. Mas a maior parte dos papéis ofertados eram como serventes aos homens, fosse
representando uma escrava sexual ou uma mulher “bela, recatada e do lar”.

Mas a realidade mais comum da época era a de famílias pobres, em que o trabalho dos homens não era suficiente
para sustentar a casa e muitos deles estavam lutando na guerra. Por essa realidade, a mulher partiu para o
mercado de trabalho como empregada, lavadeira, cozinheira, cuidadora de idosos, telefonistas e secretárias ou
dentro dos comércios. Mas não pense que a realidade foi florida para elas.

Os assédios e preconceitos se tornaram constantes e o corpo feminino era infinitamente sexualizado. O salário
para as mulheres chegava a ser 70% menor do que o dos homens na época.
Lente interseccional: As mulheres negras e indígenas não eram bem vistas no mercado de trabalho. Muitas
vezes até pelas mulheres brancas. Em fábricas ou empresas onde o número de mulheres em postos de trabalho
eram grandes, era habitual ver espaços divididos entre mulheres brancas e não-brancas. Porém a possibilidade de
conseguir trabalho nestes lugares, não sendo branca, era ainda menor. Dentro desse contexto as trabalhadoras
menos favorecidas eram tidas como profundas ignorantes, irresponsáveis e incompetente, tidas como seres
irracionais e as mulheres de classes sócias médias e altas, eram vistas como menos racionas que os homens.

Revolucionárias: Sirimavo Bandaranaike (1960 - Sri Lanka) - Primeira mulher a se tornar chefe de Estado; Fe
Del Mundo (1936) - Primeira mulher a entrar em Harvard

1970 a 2000 | O feminismo veio para ficar

Ainda nos anos setenta, com a expansão da economia, a urbanização crescente e a industrialização em ritmo
acelerado favoreceram a entrada de muitos trabalhadores, inclusive mulheres. A partir daqui o movimento
feminista passou a tomar proporções mundiais fazendo com que os papéis sociais da figura feminina fossem
contestados e forçados a ressignificação.

O ano de 1975 foi decretado pela ONU como “Ano Internacional da Mulher” e pouco a pouco a ideia de que a
mulher represetava o sexo frágil passou a desagradar. No mercado de trabalho, primeiro as mulheres tiveram que
atuar nos batalhões da base ou linhas de produção e depois foram subindo lentamente na linha hierárquica.

Katharine Graham foi primeira mulher a se tornar CEO

Revolucionárias: Aretha Franklin (1987) - Primeira mulher a entrar para a Calçada da Fama; Katharine Graham
(1972) - primeira mulher a se tornar CEO.

2000 a 2019 | Avante, mulheres!

Com a globalização e o crescimento econômico no mundo todo, o mercado de trabalho expandiu de forma que,
sem a participação de todas as pessoas, a engrenagem não funcionaria. Muitas mulheres passaram a sustentar
suas famílias, trabalhar em diferentes áreas do mercado e possuir os próprios planos de carreira.

Porém, as dificuldades encontradas ainda apareciam de forma expressiva. Em 2018, o rendimento médio das
mulheres foi 20,5% menor do que o dos homens nos mesmos cargos. E embora tenham passado a trabalhar de
forma remunerada, isso não as isentou do trabalho doméstico. Afinal, geralmente são elas as responsáveis por
limpar a casa, lavar as roupas, cuidar dos filhos etc. De acordo com pesquisa do IBGE, as mulheres gastam o
dobro do tempo dos homens em atividades domésticas. Enquanto eles gastam em média 10,9 horas por semana,
as mulheres gastam 21,3 horas.
Revolucionárias: Stacey Cunningham (2018) - Primeira mulher a presidir a bolsa de Valores de NY

2020 e 2021 | Novo normal? As mulheres esperam que não

A pandemia causada pelo novo coronavírus alterou as relações de trabalho e o mundo precisou se ajustar. Muitas
empresas precisaram diminuir seu quadro de pessoas colaboradoras, outras tiveram que fechar as portas.
Infelizmente essa é uma realidade em que todos nós acabamos convivendo. Acontece que para a figura feminina
o impacto foi ainda maior. O desemprego afetou mais o gênero feminino durante a pandemia: já são mais
mulheres fora do mercado de trabalho do que dentro, o maior recuo nos últimos 30 anos. A saúde mental delas
também foi mais afetada: 50% das mulheres brasileiras declararam depressão ou ansiedade em 2020.

É muito importante ressaltar ainda que as mulheres são 70% da força de trabalho da saúde e do setor social (o
mais afetado pela pandemia). Ou seja, o sexo feminino é maioria na linha de frente contra a Covid-19.

O que fica de reflexão para todo mundo sobre a mulher e o trabalho: dupla ou tripla jornada - são mães, chefes de
família, ganham menos, ainda tem a obrigação social de cuidar da casa, tornaram-se as principais responsáveis
por cuidar de outras pessoas enfermas, o número de assédios e abusos nos espaços de trabalho aumentou no
mundo online e ficou ainda mais mascarado e a violência doméstica contra elas ganhou força.

Lente interseccional: A lacuna da diferença social ficou mais evidente durante a pandemia, principalmente no
Brasil. A primeira pessoa vítima de Covid-19 que faleceu era uma mulher, negra, empregada que foi
contaminada pelos moradores da casa em que trabalhava. Mais de um ano de pandemia passou e a realidade não
mudou. Enquanto muitas pessoas já sofriam com o temor da pandemia e o isolamento social, mulheres negras e
pobres não foram dispensadas de seus trabalhos como diaristas, empregadas e babás. Precisam lidar com o trajeto
dentro do transporte público, a diminuição do salário (que já é baixo no Brasil), o aumento do serviço - afinal as
famílias estão ficando em casa.

No dia internacional da mulher, a SafeSpace quer parabenizar a todas pelo caminho percorrido.

Fizemos essa análise necessária e que, de tempos em tempos precisa ser revisada. Acreditamos que o lugar da
mulher no mercado de trabalho e no mundo já avançou e ainda tem muito para avançar.

Em 2020 tivemos:

 Kamala Harris: A primeira mulher a se tornar vice-presidente nos Estados Unidos


 Coronel Neidy Nunes Barbosa Centurião: a primeira mulher a fazer parte do alto escalão da Polícia Militar
Brasileira
 Jaqueline Gomes de Jesus: chefe de equipe que sequenciou o genoma do Novo Coronavírus em 48 horas
após o primeiro caso no Brasil
 Luiza Trajano: A primeira mulher a integrar a lista das pessoas mais ricas do Brasil
 Sanna Marin: Primeira chefe de Estado da Finlândia e a pessoa mais jovem a chefiar um país
 Países que tiveram a performance mais segura e menos atingida durante a pandemia foram chefiados por
mulheres

Muitas conquistas foram alcançadas, mas isso não significa que é hora de afrouxar a busca por direitos iguais
para todos os gêneros. É hora de todas as pessoas se manterem o engajamento e fortalecimento desta luta e além
dos parabéns, oferecer suporte e respeito.

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