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Capítulo 4 – Movimentos sociais: negros, indígenas e mulheres

Os negros no pós-Abolição

Os escravizados participaram das lutas pela Abolição de diversas formas,


como revoltas, quilombos, resistência cultural, entre outras. A luta pela abolição
assumiu grandes proporções em todo país. A Lei Áurea, que declarou extinta a escravidão, foi
comemorada com muita festa.

O mundo do trabalho
Passadas as comemorações, os libertos procuraram se firmar socialmente como pessoas
livres. Nas áreas rurais, negociaram com os senhores sua permanência nas fazendas em troca
de salário, do direito de ter a própria roça e de um tratamento digno.
Muitas vezes, ao ver que o tratamento a eles continuava o mesmo, os libertos ocupavam
terras abandonadas, onde cultivavam mandioca e criavam animais. Ou então se mudavam para
as cidades em busca de uma vida melhor. Nas cidades, alguns conseguiam se empregar nas
fábricas que surgiam; outros continuavam desempregados, pois a maioria dos empregos era
dado aos imigrantes europeus. Outros ainda viviam de fazer “bico” em troca de pouco dinheiro.
Os libertos também tinham de enfrentar o racismo e a violência policial, que os impediam
de circular livremente pelas ruas ou de praticar suas religiões. Nesse contexto, surgiu a imprensa
negra.

A imprensa negra
Antes e depois da abolição, a comunidade negra nunca deixou de lutar por direitos,
criando jornais próprios: a chamada imprensa negra.
Os primeiros jornais editados por negros são do final do século XIX. O Treze de Maio, A
Pátria, O Exemplo, que circulou em porto alegre, são exemplos. Depois vieram O Baluarte, A
Pérola, O Menelick, O Alfinete, O Kosmos e O Clarim da Alvorada.
Nas primeiras décadas do século XX, o tema predominante desses jornais era a denúncia
do racismo, da falta de oportunidades e da violência. Esses jornais publicavam também matérias
sugerindo comportamentos à população negra, estimulando sua autoestima e valorizando suas
formas de associação e participação política. Homenageavam personalidades negras, elevando-
as ao estatuto de heróis, e também divulgavam bailes e salões onde se permitia a entrada de
negros.
Os negros se encontravam em salões alugados para bailes, onde exibiam suas danças,
elegância de gestos e modos que convinham aos “homens e mulheres de cor”, na linguagem da
época.

Frente Negra Brasileira


Em 1931, foi fundada a Frente Negra Brasileira, um movimento de luta contra o racismo.
Seus fundadores, Francisco Lucrécio, Raul Joviano e José Correia Leite, eram todos negros. A
sede da entidade ficava em São Paulo e seus integrantes eram respeitados paulistanos, pois só
admitia em suas fileiras pessoas que dessem provas de honestidade na vida pessoal.
A Frente Negra promovia cursos de alfabetização de adultos. Houve inclusive a proposta
de criar uma escola, o Liceu Palmares, para ministrar cursos aos associados, equivalente aos
que hoje são oferecidos no ensino Fundamental e Médio.
Uma das maiores vitórias dessa entidade na luta contra o racismo foi ter conseguido
colocar 400 afrodescendentes na Força Pública de São Paulo, que nunca tinha aceitado negros
em seus pelotões.
Em pouco tempo, a Frente Negra reunia cerca de 600 mil filiados, espalhados por vários
estados brasileiros. Seus dirigentes resolveram transformá-la em partido político, mas nunca
chegaram a disputar eleições. É que, em 10 de novembro de 1937, Getúlio Vargas instalou no
país uma ditadura e fechou todos os partidos políticos.
Os negros também lutaram por sua inserção no mundo da cultura. Em 1944, foi fundado,
no Rio de Janeiro, o Teatro Experimental Negro (TEN).

Os indígenas na República
Com a proclamação da República, ocorreu uma mudança importante na abordagem da
questão indígena: Ele não era visto como “bom selvagem”. A República não olhou para o
indígena, e sim para as figuras como a de Tiradentes e a dos Bandeirantes. Tiradentes por se
opor à Monarquia e como a República precisava de um herói, ele foi o escolhido. Já os
Bandeirantes, que caçavam índios, foram transformados em heróis, figuras decisivas para a
expansão e a formação territorial do Brasil.
Os hábitos e costumes indígenas incorporados pelos “bandeirantes” foram esquecidos. A
língua Tupi, usada como língua-geral no território colonial durante os primeiros séculos, também
foi esquecida. Já a ideia de “guerra justa” para justificar a escravidão indígena foi revalorizada.
No campo econômico, o avanço das fazendas de café rumo ao interior vinha se fazendo
por meio da tomada das terras e das vidas dos indígenas. Na época, alguns homens públicos
chegaram a defender o extermínio dos indígenas para que a “civilização” pudesse triunfar. No
início do século XX a questão indígena passa a ser um problema nacional e precisava ser
resolvida. Surgiram diferentes propostas para resolvê-la e uma delas foi a criação do Serviço de
Proteção aos Índios (SPI), cuja função era prestar assistência aos indígenas.

Estado brasileiro, povos indígenas e o Marechal Rondon


Por sua habilidade no trato com os povos indígenas do Mato Grosso, o Marechal Cândido
Rondon foi convidado para dirigir o SPI. A principal meta era a integração total do indígena à
nação brasileira. Rondon propunha os seguintes passos: atração, pacificação e civilização.
Essa visão esteve presente também no Código Civil de 1916, que definia o indígena como
ser incapaz. Mas o marco legal da questão indígena foi a Lei n° 5.484, de 1928, que o colocava
sob a tutela do Estado. Os indígenas foram classificados por essa lei em: nômades, aldeados,
incorporados aos centros agrícolas e reunidos em povoações indígenas. Eles eram vistos como
incapazes de responder por seus atos. E, por isso, se cometessem alguma infração, só poderiam
ser presos com a permissão do SPI.

Os indígenas na Era Vargas


Nos anos 1930 e 1940, uma onda de nacionalismo atravessou o continente americano e
levou a uma revalorização da figura do indígena em vários países, entre os quais o México e o
Brasil.
Esse novo olhar para os povos indígenas se fez presente na Constituição de 1934, a
primeira Constituição a citar o indígenas e a tratar de seu direito à terra. As duas constituições
seguintes, de 1937 e 1946, mantiveram essa mesma posição quanto à posse da terra pelos
indígenas.
É preciso reconhecer, no entanto, que a política indigenista do SPI teve um resultado
desastroso, pois resultou em perdas de muitas vidas e teras indígenas. Por volta de 1955, a
população indígenas era de apenas 100 a 150 mil pessoas, e muitos povos que começaram a
ser contatados pelo SPI em 1910 tinham sido reduzidos a uns poucos indivíduos ou
simplesmente extintos.

Movimento de mulheres
A partir do advento da República, também as aspirações das mulheres foram mudando
significativamente. Elas passaram a reivindicar o acesso pleno à educação, indispensável à
autossuficiência econômica, e o direito de votar e de serem eleitas, indispensável à cidadania
plenas.
A Constituição de 1891, negou o direito da mulher ao voto. A advogada Myrthes Campos
e a professora Leolinda Daltro tentaram se alistar para votar, mas tiveram seus pedidos negados.
Leolinda reagiu fundando em 1910 o Partido Republicano Feminino. Em 1917, ela organizou
uma passeata com 84 mulheres no centro do Rio. No mesmo ano, o deputado Mauricio de
Lacerda apresentou um projeto de lei favorável ao voto feminino, mas o projeto não chegou a
ser discutido: as autoridades se opunham às lutas das mulheres por direito. A imprensa
engrossava o coro antifeminista, ridicularizando as demandas das mulheres com piadas,
ilustrações e charges de mau gosto.
É nesse contesto que a feminista Bertha Lutz chega da Europa, em 1918, disposta a lutar
pela emancipação da mulher no Brasil.

Anos 1960: pílula, minissaia e calça saint-tropez


Enquanto os negros lutavam por direitos que a sociedade lhes negava, as mulheres
também mostravam sua força. Desde o final da Primeira Guerra Mundial, o movimento feminista
vinha mobilizando milhões de mulheres no mundo. Em 1960, a liberação ao público da pílula
anticoncepcional marcou o início de uma verdadeira revolução sexual. A pílula, vendida em
qualquer farmácia, permitia à mulher decidir se queria ou não engravidar e possibilitava a ela
uma vida sexual mais intensa. As mulheres passaram a debater e denunciar a crença vigente na
época de que a mulher era incapaz para a vida intelectual e inferior ao homem.
A moda dos anos 1960 também ajudou na construção dessa nova mulher menos tímida e
mais confiante. O uso de calça estilo saint-tropez, com o umbigo de fora, e a minissaia são
invenções daquele tempo.
Elas engajaram-se também na luta política. Em várias partes do mundo surgiram
organizações femininas que promoviam debates, cursos, publicações e levavam milhares de
manifestantes às ruas para exigir salários e direitos iguais aos dos homens, a aprovação do
divórcio e o direito a certo número de vagas no funcionalismo público e nas universidades.

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