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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DA AMAZÔNIA

PLANO NACIONAL DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES PARFOR/PA


CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS - PORTUGUESA

DISCIPLINA: ESTUDO DAS RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NA SOCIEDADE BRASILEIRAS


DOCENTE: MARCELO SPITZNER
DISCENTE: LÉIA LIMA DO NASCIMENTO

RESUMO DO TEXTO O MOVIMENTO NEGRO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO

IGARAPÉ-MIRI
2023
Não há como pensar historicamente o antirracismo no Brasil sem considerar o papel
fundamental que esses movimentos sociais têm tido ao longo das décadas. Mais conhecidos
pela denominação de “Movimento Negro”, esse movimento social têm uma trajetória bastante
interessante e específica, no sentido de que suas reivindicações, proposições e estratégias de
ação política na luta antirracista têm se constituído em inflexões importantes na história do
Brasil e na maneira como se tem pensado a identidade nacional e as delicadas questões de
cunho étnico-racial na constituição histórica e sociocultural brasileira.
Entende-se por Movimento Negro contemporâneo o conjunto e a pluralidade dos
movimentos sociais antirracismo que têm surgido e se organizado no Brasil desde o final dos
anos 1970. Destacamos alguns pontos importantes como: Processo histórico, acontecimentos
que influenciaram o ressurgimento do Movimento Negro, Movimentos Culturais,
Organização política, Centenário de Abolição, Dados relativos à desigualdade racial no Brasil
para a formulação de políticas públicas e Ações afirmativas
As décadas de 1960 e 1970 foram momentos de grandes transformações culturais,
políticas e comportamentais em várias partes do mundo. Foram os anos dos movimentos
estudantis e feministas na Europa, da luta dos negros norte-americanos pelos direitos civis, das
guerras de independência de países africanos, da guerra do Vietnã, dos movimentos
guerrilheiros na América Latina.
No Brasil viviam-se os dias tensos e repressivos da ditadura militar, que fechou o
Congresso Nacional, cassou os direitos políticos de parlamentares, baniu partidos políticos,
proibiu organizações operárias, camponesas e estudantis, prendeu, torturou e eliminou
militantes de esquerda. A repressão chegaria aos negros e seus aliados. A existência de racismo
foi duramente rechaçada pela propaganda do governo, numa tentativa de mostrar que no Brasil
reinava a perfeita harmonia racial.
Nessa mesma ocasião, as comunidades negras pobres de várias cidades do país vinham
experimentando transformações importantes. Naqueles anos tensos e tumultuados, a juventude
da periferia dos grandes centros passou a exibir novas formas de comportamento, de falar, de
vestir e de protestar. Essas transformações refletiam o contato da juventude negra com as
questões que mais a interessavam no mundo contemporâneo. Com isso surgiram muitos
movimentos culturais como: Bailes de discoteca- nesse baile chegavam a influência da música
negra americana, a soul music especialmente na voz estrindente de James Brown. Baile Funk
lançado por James Brown que através de seu som embalou o movimento de valorização de
cultura negra. No final da década de 70, os bailes de subúrbios carioca deram origem a um
movimento de afirmação de negritude que ficou conhecido como: Black Rio - A influência
norte americana estava no próprio nome do movimento Nessa época a juventude passou a
expressar seu protesto num visual que incluía calça boca de sino, sapato colorido com salto
altíssimo e cabelos ouriçados , eram um estilo Black Power, uma referência ao movimento
político e cultural que surgiu nos Estados Unidos na década de sessenta e que defendia uma
nova maneira de afirmar e reverenciar a beleza negra. Reggae Jamaicano que na década de
70 contagiava a juventude negra das cidades brasileiras, com ajuda de músicos como Gilberto
Gil, Bob Marley e outros que reuniam centenas de jovens negros e mestiços nos fins de
semana, Na Bahia grupos negros não apenas curtiam reggae como adotaram o cabelo estilo
rasta O Reggae trazia uma mensagem de protesto anticolonialista e anti-racista, de esperança e
de fortalecimento ideológico e espiritual frente as angustias e aflições cotidianas, sobre tudo as
que decorriam da discriminação racial.
Nos anos setenta chegavam também aos bairros populares informações sobre a
movimentação política dos negros em outras partes do mundo. Os afro-brasileiros
acompanharam os movimentos dos direitos civis e o Black Power nos Estados Unidos. Ainda
que de forma fragmentada, as ideias de Ângela Davis, Malcolm X e Martin Luther King em
defesa de direitos e oportunidades iguais para os negros norte-americanos repercutiram entre
militantes e intelectuais negros em todo Brasil.
Foi também na década de 1970 que os militantes negros passaram a conceber uma
melhor articulação de suas ações numa entidade nacional. Com tal fim, surgiu a 7 de julho de
1978 o Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial. A formação do
Movimento Negro Unificado Contra a Discriminação Racial, que depois passou a se intitular
apenas Movimento Negro Unificado (MNU), contestava a ideia de que se vivia uma democracia
racial brasileira, ideia que os militares adotaram na década de 1970.
O surgimento do MNU redimensionou a militância política naqueles anos de ditadura
militar. Coube ao MNU contribuir para uma maior organização da militância e convencer os
grupos de esquerda da importância e especificidade da questão racial na sociedade brasileira.
Nas décadas de 1970 e 1980, diversas outras organizações negras foram criadas
Um destaque deve ser dado ao movimento de mulheres negras, que surgiu da percepção
de que existem especificidades na forma como mulheres e homens sofrem a discriminação
racial. Lélia Gonzalez, uma das mais importantes ativistas negras nas décadas de 1970 e 80, foi
uma das primeiras a chamar a atenção para a importância da organização das mulheres negras.
Em 1988, foi criado em São Paulo o GELEDÉS, uma organização política que tem como
propósito o combate ao racismo e a valorização das mulheres negras com o objetivo de melhor
coordenar discussões que levem à formulação e implementação de políticas públicas
especificamente voltadas para o setor feminino da população negra
Quanto ao Centenário de Abolição podemos dizer que durante todo o período
republicano as comemorações da Abolição ficaram a cargo das irmandades, associações e
organizações negras. Aos governos republicanos não interessava promover as comemorações
da Abolição, e havia motivações políticas para tentarem relegar ao esquecimento aquela data.
Uma delas era censurar algo identificado pela população como a grande realização da
monarquia. A outra intenção era silenciar o passado de escravidão, e assim evitar a adoção de
medidas que pudessem melhorar a sorte dos ex-escravos e da população negra como um todo.
Na década de 1890 os negros foram proibidos de festejar o 13 de maio em várias cidades.
Mesmo assim o dia 13 de maio sempre teve um significado especial para os negros brasileiros.
Sessenta anos depois, a coisa mudou de figura. O centenário da Abolição em 1988 foi
um momento em que a questão racial ficou mais evidente. Graças à mobilização negra o
centenário foi marcado pela intensificação do debate sobre identidade racial e pelo protesto
contra a marginalização dos negros na sociedade brasileira.
Depois do centenário da Abolição, diversos grupos do movimento negro passaram a
incorporar o 13 de maio ao calendário das discussões sobre racismo no Brasil. Já o 20 de
novembro, data da morte de Zumbi de Palmares, foi instituído como Dia Nacional da
Consciência Negra. O uso enfático do termo negro, em detrimento das palavras mestiço ou
mulato, nos muitos eventos relativos àquele centenário foi um indicativo do redimensionamento
da questão racial no Brasil.
Desde 1988 a Constituição Federal prevê que a prática de racismo é crime inafiançável,
imprescritível e sujeito à pena de reclusão. Isso quer dizer que o agressor não pode ser solto
com o pagamento de fiança e pode ser preso mesmo quando já se tiver passado muito tempo do
crime. Com isso, foi revogada a Lei 1.390/51, conhecida como Lei Afonso Arinos, que punia
mais brandamente atitudes racistas.
Em 1989 foi promulgada a Lei 7.716/89, conhecida como Lei Caó por ter sido proposta
pelo deputado negro Carlos Alberto de Oliveira, conhecido como Caó. Esta é a única lei que
define práticas de crime de racismo no Brasil, das quais os negros são as maiores vítimas. A
Lei Caó torna evidente o quanto é importante a presença de negros em cargos públicos.
Apesar de vitórias, a desigualdade continua. A partir dos dados dos censos foi possível
observar duas tendências: uma é que a população preta vem declinando e a população parda
vem crescendo; e outra que, quando somadas, elas quase empatam com a população branca.
Se em 1940 os negros (considerando aqui pardos e pretos) representavam 36 por cento da
população nacional, em 2000 já chegavam a 45 por cento. Esse aumento sugere que as taxas de
nascimento nas famílias negras são maiores do que nas famílias brancas. Esse aumento também
sugere que pessoas que antes se definiam como brancas passaram a se definir como pardas. Isso
já seria resultado de mais gente assumir sua descendência africana.
Podemos observar no texto a importância dos dados relativos à desigualdade racial no Brasil
para a formulação de políticas públicas com Indicadores Sociais (educação, saúde, moradia e
lazer. Esses indicadores deixam evidente que no Brasil o racismo não se resume a episódios
individuais de discriminação. O racismo está amplamente disseminado, tem raízes históricas
profundas e por isso representa um significativo obstáculo para que os negros possam progredir
na vida, além de aumentar o risco de morte prematura .
Para mudar situações claras de desigualdade social e econômica são necessárias medidas
voltadas para promover o grupo que se encontra em posição de desvantagem. Essas medidas
são conhecidas como ações afirmativas quer dizer, a adoção de políticas públicas e privadas
(de empresas, por exemplo) para corrigir as desigualdades. Ações afirmativas não são invenção
brasileira, já foram adotadas em vários países de diferentes continentes, como Colômbia, China
e África do Sul. Os Estados Unidos adotaram políticas afirmativas oficiais na década de 1960,
mas já nos anos oitenta algumas dessas políticas passaram a ser consideradas inconstitucionais
pela Suprema Corte, como as cotas de entrada em universidades. Mas tanto universidades como
empresas e órgãos públicos continuaram adotando outras medidas, como por exemplo, bolsas
de estudo dirigidas para negros.
Independente de política de governo, uma das medidas que está sendo adotada por um
número crescente de universidades públicas brasileiras são as chamadas cotas sociais e raciais.
Apesar de cada universidade adotar políticas específicas, a ideia geral é reservar um
determinado número de vagas para pessoas pobres e negras, em geral vindas de escolas
públicas.
Aqueles que defendem as cotas acham que, apesar de não resolver o racismo e as
desigualdades imediatamente, este sistema pelo menos seria um primeiro passo nessa direção.
Os que são contradizem que as cotas só aumentarão o racismo, porque incentivarão as disputas
entre negros e brancos. Acreditamos, porém, que essas disputas já existem e em geral têm sido
vencidas por aqueles que têm a pele mais clara. Trata-se de reverter — e não inverter — este
quadro. Não se trata de uma coisa contra o branco, até porque o branco pobre é também
contemplado em muitas propostas de cotas. A ideia é, simplesmente, de oferecer oportunidade
para todos. Essa é a obrigação dos governos, e deve ser o objetivo das sociedades.
Portanto, o estudo da história do Movimento Negro no Brasil nos forneceu subsídios
importantes para pensar as discussões contemporâneas sobre identidade, etnicidade, racismo e
a maneira como o debate desses conceitos se relacionam com a constituição das estratégias
indentitárias e de construção da ação política do Movimento Negro brasileiro. Através do texto
entendemos como o Movimento Negro construiu suas estratégias de ação política desde a sua
origem até a atualidade.

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