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O Pós-Abolição

- Perspectivas dos Libertos e Projetos de Brasil-

Súditos, Bestializados ou Cidadãos Negros?

Projeto de pesquisa apresentado


à Comissão Julgadora da Casa de
Rui Barbosa, como requisito para
a participação da seleção para o
cargo de Doutor Júnior em
Estágio Pós-Doutoral.

Supervisora: Ivana Stolze Lima

Laiana Lannes de Oliveira

Rio de Janeiro, maio de 2011.

0
O pós-abolição – perspectivas dos libertos e projetos de Brasil.

Súditos, bestializados ou cidadãos negros?

Tema

A trajetória do denominado “movimento negro” brasileiro pode ser classificada


como historicamente recente e está inserida nos últimos 80 anos da história do Brasil.
Após a abolição da escravatura surgiram inúmeras associações organizadas por pretos
e pardos, mas a grande maioria possuía um caráter majoritariamente cultural e
beneficente. Foi somente na década de 1930, com a Frente Negra Brasileira, que o
“movimento negro” surgiu como porta-voz e ator organizado na luta em prol dos
interesses dos “negros” 1.

O “movimento negro” brasileiro, seguindo os paradigmas conceituais das


ciências humanas, está aqui caracterizado como um movimento social. Este, em suas
diversas manifestações, partiria de um conjunto de metas e valores a serem atingidos.
Segundo Maria da Glória Gohn, a ação de uma liderança na formulação de demandas e
no incentivo para a reunião de uma base de apoio; a transformação dessas demandas
em reivindicações; a organização e a elaboração de estratégias; o encaminhamento e a
execução dos projetos; o diálogo e a negociação com interlocutores e opositores

1
Por representar uma categoria instrumental de análise, referente a um grupo socialmente construído,
reunindo uma grande diversidade cultural, assim como múltiplas tonalidades de cor e diferenciadas
características fenotípicas, a utilização dos termos negro(s) e negra(s) irá sempre se referir aos que,
desse modo, se auto definem, e/ou aos que assim são identificados pelos integrantes do “movimento
negro brasileiro”. Conceitualizar o grupo de forma absoluta, identificando de forma precisa as suas
características torna-se, portanto, uma tarefa efetivamente arriscada, principalmente no caso específico
da realidade brasileira, com tamanho grau de miscigenação, tanto étnica como cultural. A fronteira
entre “brancos” e “negros” no Brasil é bastante fluida, dependendo muitas vezes da região, da cultura
política e das características socioeconômicas. Geralmente, os identificados como negros são aqueles
que possuem uma afrodescendência explícita em sua aparência física, ao contrário, por exemplo, do
padrão norte-americano, mais firmemente focado na ascendência. Nos dois casos, portanto, muitos
mestiços são classificados como negros. (Ver, por exemplo, a classificação adotada pelo atual governo
(SEPIR), que reconhece como negros a soma de pretos e pardos computada pelo IBGE, e utiliza como
justificativa para tal metodologia, a semelhança identificada entre pretos e pardos a partir da
comparação dos índices socioeconômicos de ambos os grupos). Na PNAD realizada pelo IBGE, em 1976,
a categoria “cor” era registrada a partir da auto declaração do pesquisado, sem opções pré-
determinadas. Apareceram 136 definições diferentes, a maioria relacionada à cor, com derivações do
moreno.

1
seriam algumas das etapas essenciais na institucionalização de um determinado
movimento social 2.

A pesquisa realizada por mim durante o Doutorado teve como tema a análise
das estratégias, discursos e práticas de duas entidades do denominado “movimento
negro brasileiro” no período entre 1930 e 1950 – a Frente Negra Brasileira e o Teatro
Experimental do Negro. Paralelamente, buscou-se também articular essas ideias e
ações com os debates que versavam sobre as relações raciais e os projetos de Brasil
realizados por políticos e intelectuais.
Nas estratégias, discursos e práticas adotadas pelas lideranças da Frente Negra
Brasileira e do Teatro Experimental do Negro – expressas nos jornais e na produção
dos intelectuais – foi possível identificar não apenas as culturas históricas e políticas
dominantes naquele período, mas também as disputas ocorridas entre os diversos
projetos em um momento muito específico, caracterizado por um grande investimento
realizado pelo próprio Estado em consolidar uma determinada cultura política e
histórica nacionalista. 3 A pesquisa buscou analisar como essas lideranças negras
participavam desse processo. Como incorporavam, ou não, ou como dialogavam com a
cultura histórica nacional em seu projeto de valorização racial. No entanto, no
decorrer na pesquisa e, sobretudo ao seu final, novas questões surgiram.
Partindo do princípio no qual os valores e visões apresentados pelas lideranças
da Frente Negra foram construídos, sobretudo, durante a Primeira República, no
período imediatamente pós-abolicionista, a questão que se coloca é quais foram os
elementos responsáveis pela formação e consolidação dessas culturas históricas e
políticas? Para melhor compreender as escolhas feitas por essas lideranças, tornou-se
imprescindível lançar um olhar mais atento para as décadas anteriores. Quanto mais
se olhava para trás, características como o monarquismo, o anti-republicanismo, o
conservadorismo e o catolicismo de Arlindo Veiga dos Santos (presidente da Frente

2
Ver Gohn, Maria da Glória. Teoria dos movimentos sociais: paradigmas clássicos e contemporâneos.
São Paulo: Loyola, 2002.
3
Ver Gomes, Ângela de Casto. História e Historiadores. Rio de Janeiro: FGV, 1997.

2
Negra e fundador do movimento Pátria-Nova 4) - que inicialmente causavam certa
estranheza - cada vez mais se tornavam menos excepcionais.
O surgimento de uma frente política voltada para defender os interesses dos
“negros” ocorre paralelamente ao incentivo, desenvolvimento e fortalecimento de
laços de identificação e solidariedade, ou seja, à afirmação e consolidação de uma
identidade negra. A consciência e identificação de uma "causa" específica dos
“negros”, essencial à organização do “movimento negro”, depende e subordina-se à
própria formação e consolidação de um grupo que se identifique e se reconheça como
“negro”. Da mesma forma, seguindo uma via de mão-dupla, o processo de afirmação
desse grupo avança quanto maior for a identificação e o reconhecimento dessa
suposta "causa negra". Com a abolição da escravidão e a proclamação da República,
essa dinâmica de conscientização e reconhecimento - tanto do grupo “negro”, como
de uma "causa negra” – torna-se mais viável.
Portanto, a reflexão sobre a organização do “movimento negro” na República
brasileira nos leva, inevitavelmente, para as últimas décadas do século XIX e primeiras
décadas do século XX. Não há como compreendermos as diretrizes das primeiras
instituições e grupos organizados sem lançarmos um olhar mais atento à forma como
se estruturou o processo abolicionista e a proclamação da república no país.
Poderíamos, é claro, buscar até mesmo no período colonial indícios, pistas e sinais
desse movimento. Certamente encontraríamos. Mas, infelizmente (ou felizmente),
precisamos limitar o nosso campo de estudo para torná-lo possível. As mudanças mais
significativas ocorreram a partir da década de 1870, momento no qual se intensifica o
debate, o direcionamento e a execução de ações que conduziram a nação para um
novo momento de sua história.
A Abolição e a proclamação da República são eventos que, no caso brasileiro,
estão completamente interligados. Ocorridas quase simultaneamente, promoveram
uma mudança significativa para toda a sociedade, afetando de forma mais intensa
determinados segmentos. Em um curto prazo de um ano e meio, entre maio de 1888
e novembro de 1889, categorias que antes segmentavam a “população de cor”,

4
O patrianovismo era um movimento católico, nacionalista, antiesquerdista, antiliberal, autoritário e
visceralmente anti-republicano, na medida em que defendia o retorno da Monarquia no Brasil.

3
formada por indivíduos de cor preta ou parda, deixaram de existir. Ser escravo, liberto
ou livre fazia muita diferença nas relações econômicas, sociais e, é claro, na própria
cidadania política. Especialmente nas áreas urbanas, mesmo ainda no período
escravista, o “negro brasileiro” não podia ser facilmente definido como um grupo. A
complexidade das relações sociais durante a escravidão, sobretudo nas áreas urbanas
após a década de 1870, dificultava muito a definição de categorias sociais com
fronteiras claramente demarcadas. Todavia, ao menos no âmbito formal, a partir de
1888 e 1889 essas divisões deixaram de existir. Mas teriam desaparecido também no
cotidiano dessa população? Monarquia, República, escravidão e Abolição eram
caracterizadas e valorizadas da mesma forma entre a “população de cor”,
independente de terem sido livres, libertos ou escravos? Os libertos, durante a
permanência da escravidão, podem ser equiparados aos libertos da lei Áurea? Uma
possível identidade escrava e/ou liberta teria se convertido automaticamente em uma
identidade negra?

Não apenas a Abolição e a proclamação da República em si, mas, sobretudo, as


especificidades do processo brasileiro e as relações diretas entre os dois eventos e
seus protagonistas é o que nos interessa. A questão é entender até que ponto as
formas de condução dos movimentos abolicionista e republicano afetaram essa
população de cor, interferindo nos valores e práticas assumidas por eles nos anos
subsequentes. Que visões os intelectuais e os libertos construíram sobre o tempo de
transformações que marcou o fim da escravidão no Brasil? A ideia central é tentar
identificar quais foram as memórias que se destacaram e prevaleceram no período
pós-abolição, que por sua vez sedimentaram culturas históricas capazes de direcionar
as primeiras organizações “negras” para um determinado caminho em detrimento de
outros.

Enfim, identificar características da cultura histórica dos pretos e pardos no


período pós-abolição e imediatamente após a proclamação da República e entender
até que ponto essas características remontam às peculiaridades do movimento
abolicionista e republicano brasileiro. Em que bases os libertos construíram suas
expectativas de liberdade, cidadania e inserção na ordem social, envolvendo

4
questões como as de trabalho, raça, família, gênero, moradia e lazer como parte de
um tempo novo? De que maneira essas expectativas, construídas nos anos iniciais da
república brasileira, influenciaram os discursos e as práticas das lideranças do
“movimento negro” na primeira metade do século XX?

A abolição no Brasil não foi fruto de uma revolução ou guerra, ao contrário,


revelou um longo processo de negociação entre o governo imperial, os senhores de
escravos e os próprios escravos, sem mencionar a interferência inglesa. Na história do
Brasil, questão racial e questão nacional sempre estiveram interligadas e as primeiras
medidas concretas para o fim do trabalho escravo coincidem com a própria
independência do país5.

O primeiro documento nacional a se comprometer com o fim paulatino da


escravidão foi o tratado anglo-brasileiro, assinado em novembro de 1826 e ratificado
em março de 1827. No seu artigo primeiro ficava determinado que:

“Ao fim de três anos (março de 1830), a contar da troca de


ratificações do presente tratado, será considerado ilegal, para os súditos do
imperador do Brasil, dedicar-se ao tráfico de escravos africanos sob
qualquer pretexto ou maneira, e o exercício desse tráfico por qualquer
pessoa, súdito de Sua Majestade Imperial, após esse prazo, seja julgado e
tratado como pirataria”. 6

Considerando o tratado assinado com a Inglaterra, desde 1830 todos os africanos


que chegassem ao Brasil não poderiam ser escravizados. Se levarmos em consideração
as leis brasileiras, desde 1831, com a aprovação do projeto do Marquês de Barbacena,
todos os africanos que chegassem ao Brasil deveriam ser declarados livres. No
entanto, como sabemos, apesar de toda a pressão e repressão inglesa, a lei de 1831 foi
uma letra-morta e o comércio de escravos continuou sendo realizado no país sem

5
Sobre o processo abolicionista ver: Bethell, Leslie. A abolição do tráfico de escravos no Brasil: a Grã-
Bretanha, o Brasil e a questão do tráfico de escravos, 1807-1869. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura;
São Paulo: Ed. da USP, 1976 e Moraes, Evaristo de. A campanha abolicionista (1879-1888). Brasília: Ed.
UNB, 1986. 2º edição. (1º edição:1924), entre outros.
6
Apud Bethell, Leslie. Op.Cit.

5
grandes problemas. Portanto, a questão que se coloca é qual deve ser a gênese do
problema: o tráfico ou a própria escravidão? As leis anti-tráfico e as pressões inglesas
podem ter surtido algum efeito, mas, concretamente, pouco modificaram a realidade
escravista. Em 1850, Euzébio de Queiroz, preocupado, sobretudo, com a perda
completa da soberania brasileira no assunto em questão e com o desequilíbrio
populacional (decorrente da maior presença de afrodescendentes em comparação
com os brancos), apresenta um projeto de lei de extinção do tráfico. O governo
brasileiro passa realmente a se esforçar para coibir o tráfico de escravos.

Mas, quando de fato o processo abolicionista ganha impulso e força suficiente


para enfraquecer a estrutura escravista e concretizar o fim do trabalho escravo no
Brasil? A década de 1870 e a lei do ventre-livre podem ter sido esse divisor de águas.

Certamente, podemos reconhecer que a lei de 1871 trouxe, além das mudanças
reais, mudanças simbólicas importantes. Mais do que eliminar o último modo legal de
realimentação da escravidão, simbolicamente, a lei enfraqueceu uma das bases de
sustentação do escravismo brasileiro, a política de domínio direta entre senhor e
escravo. Sidney Challoub revela o quanto da vontade dos escravos passou a se fazer
presente nas transações comerciais a partir desse período 7. Grande parte dessa força
residia em mudanças trazidas com a lei. Até 1871, a revogação da alforria era legal e
poderia ser feita unilateralmente e considerando apenas o desejo do senhor, o que em
muitos casos mantinha certa subserviência, fidelidade e até mesmo prestação de
serviços. Do mesmo modo, foi com a lei que o pecúlio do escravo tornou-se legal e os
senhores passaram a ser obrigados a libertar seus escravos mediante indenização. Os
valores dessas indenizações, inclusive, passaram a ser determinados a partir de um
arbitramento que incluía representantes de ambas as partes, e um terceiro, caso não
houvesse consenso.

O que a pesquisa de Challoub nos revela é que longe de serem meros espelhos
de representações senhorias, parte significativa dos escravos e dos libertos das

7
Challoub, Sidney. Visões da Liberdade – Uma história das últimas décadas da escravidão na corte. São
Paulo: Companhia das Letras, 1990.

6
principais áreas urbanas estava mesmo preocupada e envolvida em uma negociação
constante, buscando estratégias de liberdade e, de certo modo, de cidadania na
sociedade em que viviam 8. A descrição dos processos analisados pelo autor afasta
esses pretos e pardos da imagem apresentada por Perdigão Malheiros, em 1860 e, em
parte, corroborada por outros autores cem anos depois9. Incapazes de ações
autônomas, de produzirem valores e normas próprias, vendo-se qual o vê seus
opressores, sem consciência de si, embrutecidos em seus espíritos... Essas são algumas
paráfrases retiradas de abolicionistas como Malheiros e o próprio Rui Barbosa e
recuperadas na década de 1960 por autores como Fernando Henrique e Jacob
Gorender 10.

No entanto, devemos reconhecer também que essas ações, colocadas em prática


por escravos e libertos, estavam sempre amparadas em maior ou menor grau por
livres, brancos ou não. Essas alianças, portanto, foram fundamentais para o sucesso de
muitas empreitadas e revelam outro ponto crucial nesse processo. A falência gradual
do domínio do senhor ocorria simultaneamente à falência também gradual da própria
estrutura escravista. Procuradores, juízes, libertos, comerciantes, advogados e livres,
todos estavam envolvidos e deles dependiam as vitórias e sentenças favoráveis aos
escravos. Eram eles os responsáveis legais pelas ações judiciais, por empréstimos, por
conceder empregos, por advogar e por interpretar a lei favoravelmente aos escravos,
mesmo quando essa não fosse a atitude juridicamente mais correta. Os abolicionistas,
como José do Patrocínio, Rui Barbosa, João Clapp, Israel Antônio Soares e o português
José de Seixas Magalhães, entre tantos outros, foram cruciais não apenas para a
abolição, mas para a própria participação e formação de lideranças entre os pretos e
pardos. Eduardo Silva nos faz refletir sobre as relações “secretas”, ou não assumidas
oficialmente, entre o movimento político abolicionista e o movimento social negro. O

8
Além da obra de Challoub, ver também Grinberg, Keila. Liberata, a lei da ambiguidade. As ações de
liberdade da Corte de Apelação do Rio de Janeiro no século XIX. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1994.
9
Malheiro. Perdigão. A escravidão no Brasil: ensaio histórico, jurídico, social. Petrópolis: Vozes, 1976.
10
Cardoso, Fernando Henrique. Capitalismo e escravidão no Brasil meridional: o negro na sociedade
escravocrata do Rio Grande do Sul. 2º edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977; Gorender, Jacob. O
escravismo colonial. São Paulo: Ática, 1978.

7
que seriam dos quilombos abolicionistas, como por exemplo, os quilombos de
Jabaquara e do Leblon, sem o apoio de comerciantes, políticos e intelectuais
abolicionistas11?

Enfim, o processo abolicionista no Brasil foi longo e, por isso mesmo, complexo.
Nas décadas iniciais a dinâmica esteve concentrada nos debates governamentais, nos
tratados e leis que pouco modificaram o cotidiano da população escrava. A mudança
mais significativa, com a intensificação do movimento abolicionista e a ampliação da
participação de livres, libertos e escravos nesse processo, ocorre a partir da década de
1870, sobretudo na década de 1880. Essa cumplicidade social em torno do tema da
abolição, envolvendo diferentes segmentos da sociedade, torna o processo
irreversível. A solidariedade entre os fazendeiros, inclusive, foi abalada com a
contratação de ex-escravos libertados pelos abolicionistas. A própria posição da Coroa,
direta ou indiretamente, encorajava as ações abolicionistas com a concessão de títulos
nobiliárquicos, arrecadação de fundos e manifestações pessoais de apoio, como as
diversas ações públicas da Princesa Isabel 12.

Os cafeicultores do sudeste, ao contrário, em sua maioria eram contrários à


abolição e cada vez mais aderiam ao movimento republicano 13. Estes fazendeiros eram
os mesmos que atemorizavam os escravos que estavam aguardando, em Casas de
Comissão ou Detenção, decisões que selariam o seu destino 14. Os escravos preferiam
qualquer alternativa a terem que ir para essas fazendas. Esse pode ser um caminho
que nos faça compreender a organização da Guarda-Negra da Redentora, a associação
com atuação mais marcante nesse período imediatamente pós-abolição 15. Por outro

11
Silva, Eduardo. As Camélias do Leblon e a abolição da escravatura. Uma investigação de história
cultural. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
12
Idem. Ver também O lado rebelde da princesa Isabel. Revista Nossa História. Ano 3, número 31, maio
de 2006. (O texto analisa uma carta, de agosto de 1889, na qual a princesa defende a indenização dos
ex-escravos).
13
Ver Silva, Eduardo. Barões e Escravidão: três gerações de fazendeiros e a crise da estrutura escravista.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
14
Ver Challoub, Sidney. Op. Cit.

8
lado, grande parte dos abolicionistas que auxiliavam direta e indiretamente esses
escravos e libertos eram republicanos.

Seria possível traçar uma linha conectando D. Obá (que já se dizia porta-voz dos
povos d´África), a Guarda-Negra e o monarquismo de Arlindo Veiga dos Santos, líder
da Frente Negra Brasileira 16? O conservadorismo, o anti-liberalismo e o anti-
republicanismo desses líderes e/ou dessas organizações podem ser compreendidos
considerando a especificidade do processo abolicionista e republicano brasileiro? Do
mesmo modo, a militância abolicionista de muitos republicanos pode ter influenciado
outros grupos, como aqueles que formaram o jornal Clarín d´Alvorada, em 1924 e a
Legião Negra, em 1932 17? Não se trata de analisar como de fato ocorreram esses
processos, mas como eles foram vistos por esses ex-escravos, por descendentes de
escravos e por intelectuais diretamente envolvidos nessa dinâmica. Sejamos mais
precisos: quem eram os integrantes da Guarda-Negra? Súditos, bestializados ou
cidadãos negros? Foram manipulados ou não? De que maneira a ação de monarquistas
e republicanos foi responsável pela formação do grupo? Por que, em 1930, grande
parte da liderança das organizações formada por pretos e pardos ainda estava
descrente com a República? Como foi essa experiência republicana inicial para eles?

A partir do segundo semestre de 1888 cresce consideravelmente a propaganda


republicana. A maioria absoluta dos centros republicanos foi fundada após 1888 e

15
Sobre a Guarda Negra ver: Gomes, Flávio dos Santos. No meio das águas turvas (racismo e cidadania
no alvorecer da República: a Guarda-Negra na Corte – 1888-1889) In: Estudos Afro-Asiáticos, Rio de
Janeiro (21):75-96, dezembro, 1991; Orico, Osvaldo. O tigre da Abolição. Rio de Janeiro: Companhia
Editona Nacional, 1931; Soares, Carlos Eugênio Líbano. A negrada instituição: os capoeiras na Corte
Imperial, 1850-1890. Rio de Janeiro: Acces,1999.
16
Sobre D. Obá ver SIlva, Eduardo. Dom Obá II d´África, o príncipe do povo. São Paulo: Companhia das
Letras, 1997. Sobre a Frente Negra Brasileira ver: Lannes, Laiana. Entre a miscigenação e a
multirracialização: brasileiros negros ou negros brasileiros? Os desafios do movimento negro brasileiro
no período de valorização nacionalista (FNB e TEN- 1930-1950) Tese de Doutorado. Niterói, UFF, 2008;
Domingues, Petrônio José. A Insurgência do Ébano: A História da Frente Negra Brasileira. Tese de
Doutorado. São Paulo: FFLCH, USP, 2005 e OLIVEIRA, André Cortes. Quem é a Gente Negra Nacional?
Frente Negra Brasileira e a Voz da Raça (1933-1937) Dissertação de Mestrado. São Paulo: UNICAMP,
2006.
17
A Legião Negra foi formada por dissidentes da FNB durante a Revolução Constitucionalista. Enquanto
a FNB apoiava Vargas, a Legião Negra lutou ao lado dos paulistas.

9
parte significativa dos fazendeiros do interior passam a apoiar abertamente a
República, sobretudo, após a abolição da escravidão. A Guarda-Negra surge nesse
período. As poucas e esparsas informações disponíveis indicam o mês de julho de
1888, em comemoração à lei do ventre-livre. A associação teria surgido por incentivo
de José do Patrocínio e o presidente honorário seria o Conselheiro João Alfredo
Correia de Oliveira, acusado pelos republicanos de financiar a organização para seus
propósitos políticos de manutenção da monarquia 18.

A organização inicial da Guarda teria acontecido na casa do abolicionista Emílio


Rouède, reunindo entre seus fundadores libertos como Hygino, Manoel Antônio,
Jason, Aprígio, Gaspar, Theócrito, entre outros, conforme edição de julho de 1888 do
periódico Cidade do Rio 19. Sampaio Viana e Clarindo de Almeida seriam as principais
lideranças20. Primeiramente, o grupo ocupou o número 77 da rua da Carioca, onde
funcionava as Sociedade Recreativa Habitantes da Lua. Posteriormente, teria se
transferido para a rua Senhor dos Passos, número 165, onde também funcionava a
Sociedade Beneficente Isabel, a Redentora e, finalmente, para a rua Larga, atual Mal.
Floriano Peixoto 21.

Na edição de julho de 1888, o jornal Cidade do Rio publica o que pode ser
considerado o documento de criação da Guarda Negra da Redentora. A associação
teria a finalidade de opor resistência material a qualquer movimento revolucionário
que hostilizasse a instituição que acabara de libertar o país. Dela, apenas poderiam
fazer parte os libertos que ser comprometessem a obedecer aos mandatos de uma
diretoria eleita. Além disso, apenas poderiam se associar aqueles que considerassem o
13 de maio um acontecimento digno de admiração geral, e não motivo de guerra. O
documento publicado também solicitava o apoio da Confederação Abolicionista, da

18
O ministério João Alfredo foi o penúltimo antes da República, foi substituído, em julho de 1889, pelo
gabinete ministerial chefiado pelo Visconde de Ouro Preto.
19
O Cidade do Rio era dirigido por José do Patrocínio.
20
Cidade do Rio, 03/01/1889. In: Gomes, Flávio dos Santos. Op. Cit.
21
Idem.

10
imprensa e de todos os libertos do interior, para que só trabalhassem nas fazendas dos
senhores que não jurassem guerrear o Terceiro Reinado.

Dois casos demonstram claramente a proporção que atingiu a organização e


atuação da Guarda. Embora em um curto período, os desdobramentos de suas ações
revelam a complexidade das questões que estavam em jogo. Em 30 de dezembro de
1888, por exemplo, aconteceu um comício republicano liderado por Silvia Jardim, na
Sociedade Francesa de Ginástica, na atual Praça Tiradentes. O evento foi interrompido
e terminou em grande confusão, com agressões e enfrentamentos físicos, vários
feridos e intervenção da polícia 22. Na versão dos republicanos, a confusão foi
organizada por uma milícia de capoeiras arregimentadas pelo Império e com a
conivência da polícia. Os republicanos tentavam responsabilizar a Guarda Negra pelos
distúrbios.

Mas, na versão de Patrocínio, a Guarda não deveria ser confundida com o grupo
responsável pela confusão. Ao contrário, a associação seria formada por um grupo
representativo e organizado da massa de libertos e que teria direito a participação
política. Clarindo de Almeida, identificado como líder da organização, publica artigo no
jornal Cidade do Rio desresponsabilizando a Guarda que, segundo ele, não atacaria os
republicanos, na medida em que eles foram importantes aliados na luta abolicionista.
O argumento apresentado por Clarindo de Almeida nos revela que a associação direta
entre escravismo e republicanismo não era realizada nem mesmo pelos monarquistas
integrantes da Guarda Negra, que reconheciam a importância de muitos republicanos
na luta abolicionista. Mas, por outro lado, décadas depois, por ocasião da Revolução
de 1930, a liderança da Frente Negra ainda associavam os líderes políticos da Primeira
República com os grandes cafeicultores escravocratas que deveriam ser retirados do
poder.

O outro evento aconteceu em quinze de junho de 1889, na cidade de Salvador.


Neste dia aportou um navio na cidade trazendo o Conde’ Eu e Silva Jardim. Mais uma
vez, a confusão se inicia com a tentativa de realização de um comício republicano. Se o

22
Ver Gomes, Flávio dos Santos. Op.Cit.

11
Conde estava articulando o terceiro reinado, Silva Jardim estava articulando a
proclamação da República. Um grupo de oitenta estudantes de medicina foi
recepcionar Silva Jardim e tiveram a iniciativa de substituir a bandeira do Império pela
bandeira republicana. Inicia-se então a confusão, com vaias, destruição da bandeira e
“vivas” ao Império 23. A banda de música, contratada para animar a chegada dos
republicanos, deu o primeiro sinal de ataque: - “Venham matar Silva Jardim”. Para os
republicanos, mais uma vez, tratava-se de uma ação da Guarda-Negra, arquitetada
pela Coroa e o partido Conservador. Uma ação de pretos, monarquistas e pobres
contra republicanos civilizados de boa família. O mais exaltado de todos era um
conhecido capoeira baiano, o Macaco Beleza, mulato liberto acusado pelos estudantes
de medicina de liderar uma “malta de homens de cor, sujos, descalços e ferozes
defensores da monarquia” 24.

Segundo Wlamyra Albuquerque, houve empenho dos republicanos em racializar


o evento, desqualificando a Monarquia e seus defensores. Seriam “bárbaros corações
25
iludidos, ingênuos manipulados, libertos inconscientes com uma idolatria áulica” .
Para a autora, o conflito polarizou os grupos: de um lado os republicanos, civilizados,
brancos e acadêmicos; de outro os monarquistas, bárbaros, pretos e incultos
manipulados.

O que devemos refletir é por que a popularidade da família real crescia na


mesma medida em que o Império agonizava. Seria o risco de perder os direitos já
conquistados? O medo da revogação da Abolição com a chegada ao poder dos
cafeicultores? Para além da ação da Guarda-Negra, o cronista João do Rio já afirmava
ser monarquista a maioria absoluta dos homens de cor do Rio de Janeiro, que
demonstravam suas preferências através das tatuagens da Coroa do Império 26.

23
Ver Albuquerque, Wlamyra R. de. O Jogo da dissimulação. Abolição em cidadania negra no Brasil. São
Paulo: Companhia das Letras, 2009.
24
Ídem.
25
Ibidem.
26
Ver Rio, João do. A Alma encantadora das ruas. Belo Horizonte: Crisálida, 2007

12
No Rio, em Salvador e em outros lugares onde ocorreram manifestações
monarquistas, organizadas por pretos e pardos, as análises dos republicanos eram
sempre as mesmas. Em alguns casos, não apenas a escravidão era responsabilizada
pelo suposto servilismo dos ex-escravos, mas a própria herança genética, a raça
africana, tenderia à idolatria áulica. O próprio João do Rio teria feito uso dessa
interpretação 27. Segundo o cronista:

“Por que malandros da Saúde, menores vagabundos, raparigas de


vinte anos que não podem se recordar do passado regime, são
monarquistas? Por que gatunos amestrados preferiam sua majestade ao
dr. Rodrigues Alves? É um mistério que só poderá ter explicação no próprio
sangue da raça, sangue cheio de revoltas e ao mesmo tempo servil; sangue
ávido por gritar não pode! Mas desejoso de ter a certeza de um senhor
perpétuo. 28”

Mas seriam mesmo ignorantes, servis, manipuláveis ou a República e os


republicanos pouco ofereceram aos recém-libertos 29? Ou seria o conservadorismo um
reflexo da religiosidade, do catolicismo, que apesar dos sincretismos, estava presente
em D. Obá, nessa mesma população monarquista citada por João do Rio e em Arlindo
Veiga dos Santos? Para o cronista, um país dirigido pelos presidiários do Rio de Janeiro
teria um rei perpétuo governando os vassalos por vontade de Deus. Do mesmo modo,
os vassalos teriam a liberdade de cometer todos os desatinos, confiantes na proteção
divina 30. D. Obá, apesar de exaltar a Constituição, também reconhecia no poder do rei
uma origem divina. Quais foram as memórias e valores mais significativos na
construção das culturas históricas e políticas dos pretos e pardos no pós-abolição?

27
Ídem.
28
Ibidem. Págs. 190 e 191.
29
Sobre as queixas dos grupos populares ver: Silva, Eduardo. As queixas do povo. Rio de Janeiro: Paz e
Terra,1988.
30
Ver, Rio, João do. Op. Cit. Pag. 193.

13
Em que medida, depois da Lei Áurea, os projetos de Brasil moldados por
intelectuais e dirigentes políticos se relacionaram com as ações e lutas dos antigos
escravos? Em que medida as teorias racistas31, a “objetivação do mestiço” 32 e as
primeiras propostas modernistas foram incorporadas pela população de cor? Como
eles articularam as suas memórias com os novos projetos que estavam em voga
naquele momento?

A segunda metade do século XIX, particularmente a partir da década de 1870,


como já mencionamos, representou um momento crucial no que diz respeito ao
problema das relações raciais no Brasil. Durante esse período, além da
desestruturação do regime escravocrata brasileiro, instaurado no Brasil desde o início
do século XVI, acentuam-se as discussões sobre a adoção de um novo regime político.
Paralelamente, temos o fortalecimento de centros de estudos nacionais que buscam,
diante de todas essas transformações, pensar e analisar projetos para uma nova nação
que estava por começar. A guerra do Paraguai, o fim da escravidão e o republicanismo
fizeram da segunda metade do século XIX um momento de inovação. A elite intelectual
tentava criar um esboço de uma nova nação que, ao mesmo tempo em que buscava se
libertar de certas amarras do Império, não possuía ainda um novo projeto político
claro.

O Brasil precisava modernizar-se, romper com as amarras do passado colonial


considerado, cada vez mais, arcaico e retrógrado. Pensar sobre os problemas e
soluções para o Brasil passava, inexoravelmente, por refletir sobre a questão racial,
sobretudo nesse contexto do desenvolvimento de teorias eugenistas e evolucionistas.
Em um momento de transformação das estruturas políticas e de consolidação de uma
"nova" nação - abolicionista e republicana - o debate sobre a formação do povo
brasileiro tornava-se imperativo. Mas quem seria o povo brasileiro? Havia um povo

31
Sobre as teorias racistas ver: Schwarcz, Lilia M. O espetáculo das raças. São Paulo: Companhia das
letras, 1995 e Skidmore, Thomas E. Preto no Branco: raça e nacionalidade no pensamento brasileiro. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
32
Ver Stolze, Ivana. O Brasil mestiço: discurso e pratica sobre relações raciais na passagem do século XIX
para o seculo XX .Dissertação (Mestrado) – PUC- Rio, 1994

14
brasileiro? Como o brasileiro “negro” passou a fazer parte dessa história no pós-
abolição?

Para muitos intelectuais e políticos do período, como Oliveira Viana e Alberto


Torres, por exemplo, não havia povo brasileiro. Para Torres, “esse estado não é uma
nacionalidade, este país não é uma sociedade; essa gente não é um povo. Nossos
homens não são cidadãos” 33. Em artigo que analisa a participação popular na Primeira
República, José Murilo de Carvalho conclui que, para a elite política e intelectual da
época, o povo ativo, que em certa medida participava do jogo político, ou era
considerado fanático, ou obscurantista ou desordeiro 34. Essas interpretações
coincidem com outras já apresentadas ao longo do texto. Todavia, segundo José
Murilo de Carvalho, todas as mudanças (e permanências) que viriam a acontecer a
partir de 1930 germinaram nesse terreno da Primeira República. Portanto, se
pretendemos entender o Brasil do século XX, não devemos começar as investigações
na Revolução de 1930. Os anos iniciais da República no Brasil têm muito a oferecer,
além das análises sobre coronelismo e estrutura oligárquica. Ainda temos muito
trabalho a fazer.

Nesse cenário tão importante para a construção do Brasil moderno, a pesquisa


em questão propõe analisar como as práticas, discursos e debates em torno da
abolição e da república foram incorporados pelos ex-escravos e seus descendentes. A
partir da reflexão dessa cultura histórica construída no pós-abolição, iremos buscar
conexões entre essas visões e os projetos e ações das primeiras associações
organizadas por uma população recém-inserida na cidadania. Mas como essa
cidadania era articulada e colocada em prática?

33
Torres, Alberto. A organização Nacional. P. 297
34
Carvalho, José Murilo. Os três povos da República. In: Carvalho, Maria Alice Resende de (org).
República no Catete. Rio de Janeiro: Museu da República, 2002.

15
Objetivos Gerais

O projeto de pesquisa pretende investigar as visões que intelectuais e,


sobretudo, pretos e pardos construíram sobre o tempo de transformações que marcou
o fim da escravidão no Brasil. Para isso, a pesquisa propõe identificar em que bases
essas visões foram construídas, refletindo sobre as expectativas de liberdade,
cidadania e inserção social construídas pelos ex-escravos e seus descendentes. Por fim,
pretende-se relacionar essas bases utilizadas e essas visões construídas com os
projetos de Brasil moldados por intelectuais e dirigentes políticos, assim como com as
ações e lutas colocadas em prática por pretos e pardos no pós-abolição.

Objetivos Específicos

Analisar os discursos de Rui Barbosa e José do Patrocínio no que se refere à


abolição e cidadania de pretos e pardos.

Investigar nos jornais Gazeta da Tarde, A Cidade do Rio, Diário de Notícias e


Novidades, assim como nas revistas Psit!!!, Besouro, O Malho e Revista Ilustrada - que
circularam nas últimas décadas do século XIX e primeiras décadas do século XX -
editoriais, artigos, charges e notícias que tratem da temática abolicionista e
republicana e da participação política dos ex-escravos e seus descendentes.

Analisar crônicas e artigos publicados por João do Rio e Lima Barreto nos
primeiros anos do século XX. Refletir sobre as visões apresentadas por eles em
assuntos como: república, monarquia, cidadania, práticas culturais e situação sócio-
econômica envolvendo ex-escravos, pretos e pardos.

Identificar os principais líderes e as associações formadas por pretos e pardos no


pós-abolição e analisar de que forma os seus discursos e ações referentes a questões
como liberdade, cidadania, trabalho, raça, família, gênero, moradia e lazer dialogavam
com os projetos de Brasil debatidos entre intelectuais e dirigentes políticos.

16
Hipóteses

Os movimentos abolicionista e republicano aconteceram no Brasil quase


simultaneamente, conectando de forma inexorável a questão nacional com a questão
racial. Esse debate nacional, as suas nuances e especificidades, assim como a
concretização de alguns desses projetos influenciaram direta e indiretamente todos os
setores da sociedade, incluindo a população de cor.

O apoio, sobretudo na fase final, da Monarquia à Abolição foi significativo na


memória dos pretos e pardos. Paralelamente, a intensificação da ação e de críticas dos
republicanos contra a monarquia, imediatamente após a assinatura da lei Áurea, se
converteu, para parte dos libertos, em um movimento de reação à abolição.
Principalmente porque muitos desses fiéis defensores da República eram os maiores
escravocratas do período. Haveria, portanto, medo, por parte dos libertos, de reversão
dos direitos conquistados. Por outro lado, parte significativa dos abolicionistas,
diretamente envolvidos na luta dos escravos, era republicana, o que também teria os
seus reflexos em décadas posteriores.

A falta de amparo do novo governo, as medidas voltadas ao saneamento e


organização das cidades que afetavam as populações pobres, reforçava a aprovação à
Monarquia, ou, ao menos, as críticas à República.

As teorias racistas e o modernismo, como não poderia deixar de ser, foram


incorporados, de modos distintos, nas ideias e valores da população de cor,
influenciando as diretrizes das primeiras organizações.

O antirepublicanismo, o antiliberalismo, o catolicismo e o conservadorismo


podem ser identificados como características das associações e lideranças pretas e
pardas nesse período e refletem as culturas históricas construídas no limiar do século
XX. Todavia, a população de cor era plural. Havia súditos, bestializados e cidadãos-
negros e ainda não havia (embora já estivesse em processo de formação), nas
primeiras décadas do pós-abolição, algo que possa ser identificado como uma
identidade negra.

17
Quadro Teórico-Metodológico

Que visões os intelectuais e os libertos construíram sobre o tempo de


transformações que marcou o fim da escravidão no Brasil?

Em que bases os libertos construíram suas expectativas de liberdade, cidadania


e inserção na ordem social, envolvendo questões como as de trabalho, raça, família,
gênero, moradia e lazer como parte de um tempo novo?

Em que medida, depois da Lei Áurea, os projetos de Brasil moldados por


intelectuais e dirigentes políticos se relacionaram com as ações e lutas dos antigos
escravos?

Essas visões construídas sobre esse tempo de transformações, essas bases


utilizadas pelos libertos para construírem suas expectativas, assim como essa relação
entre os projetos moldados por intelectuais e as ações dos antigos escravos e seus
descendentes revelam uma determinada cultura histórica e demonstram os usos do
passado empreendidos por esses atores sociais.
A cultura histórica, nesse sentido, não deve ser compreendida como um
conceito fechado, representando muito mais um conjunto de fenômenos histórico-
culturais que refletem o modo como um determinado grupo lida com o seu passado e
promove usos dele. A memória, portanto, embora distinta da história - na media em
que a primeira representa as recordações e as reconstruções, enquanto a segunda é
uma ação intelectual esforçada, muitas vezes, em desmistificar a própria memória -
torna-se, ela mesma, um importante objeto e tema de estudo da história. Embora
distintas, memória e história são indissociáveis e possuem uma relação de
retroalimentação. Em certa medida, a memória alimenta a história, assim como a
história alimenta a memória.
Os historiadores, portanto, passam a ser intérpretes das “culturas históricas”
existentes em determinadas sociedades. Essa pesquisa visa identificar de que forma
os ex-escravos, seus descendentes e os intelectuais articulados ao projeto abolicionista
incorporaram o passado recente na construção do presente. O que valorizaram? O
que submetiam ao esquecimento? O que condenavam? Enfim, quais eram os usos do

18
passado colocados em prática e como esses usos do passado contribuíram, ou não,
para a construção de uma identidade para o grupo, influenciando as suas estratégias
de ação.
Segundo Jacques Le Goff, a cultura histórica seria a “relação que uma
35
sociedade, na sua psicologia coletiva, mantém com o passado”. No entanto, o autor
reconhece que essa “mentalidade coletiva” é plural, ou seja, existe uma diversidade de
culturas históricas paralelas e concorrentes. Essa conclusão, todavia, não implica o não
reconhecimento e identificação de uma atitude dominante nesses grupos. Atitude esta
que, para conquistar e manter uma relativa hegemonia permanece em constante
disputa com outras. Enfim, a cultura histórica de um determinado grupo, o modo
como este entende e expressa aquilo que imagina ser e imagina representar é
resultado de um processo contínuo de embates entre diversos projetos e
possibilidades.
As culturas políticas, responsáveis em grande parte pela legitimação de regimes e
pela criação de identidades, buscam sempre a seleção e valorização de elementos
específicos do passado. Essa memória seletiva, essa leitura peculiar do passado,
aproxima uma dada cultura política a uma determinada cultura histórica. O modo
como uma sociedade e/ou alguns grupos específicos lidam com o passado, ou a
maneira pela qual fazem uso desse passado e escrevem sobre ele, valorizando alguns
pontos e submetendo ao esquecimento outros, nos ajudam a entender a produção e
disseminação de uma determinada cultura histórica. Portanto, a questão não é apenas
se essas escolhas representam fielmente o que ocorreu no passado, mas é também
tentar conferir sentido ao presente através da análise da utilização que foi feita de
elementos do passado.
De acordo Com Ângela de Castro Gomes, a cultura política nos permite entender
o comportamento político de atores sociais, individuais e coletivos. 36 Os sistemas de
práticas, valores e representações, que constituem as culturas políticas, utilizam-se de
culturas históricas, de leituras do passado determinadas e selecionadas não

35
Le Goff, Jacques. História e Memória. São Paulo: UNICAMP, 1990. p. 47-48.
36
Ver: Gomes, Ângela de Casto. Cultura Política e Cultura Histórica no Estado Novo. In: Abreu, Marta e
Gontijo, Rebeca (orgs). Cultura política e Leituras do Passado. Rio de Janeiro, 2007.

19
aleatoriamente. Mas, a emergência de uma cultura política e histórica hegemônica,
como já nos indicou Le Goff, não significa a ausência de outras tantas coexistindo
simultaneamente.
A memória é um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto
individual como coletiva, na medida em que ela é também um fator extremamente
importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um
grupo em sua própria reconstrução. Ninguém pode construir uma auto-imagem isenta
de negociações e transformações em relação ao outro. A construção de identidade é
um fenômeno que se produz em referência aos outros, aos critérios de aceitabilidade,
de admissibilidade e de credibilidade, que se realiza por meio de negociação direta ou
indireta com os outros 37. Memória e identidade, portanto, não devem ser entendidas
como inatas ou essências. Ao contrário, são valores permanentemente disputados.
Nas estratégias, discursos e práticas adotadas pelos ex-escravos e seus
descendentes, podemos identificar não apenas as culturas históricas e políticas
dominantes naquele período, mas também as disputas ocorridas entre os diversos
projetos em um momento muito peculiar da história nacional, sobretudo para esse
segmento da sociedade.
Revisitar o passado não pode estar desvinculado das exigências do presente e,
nesse sentido, sua compreensão é parte da inteligibilidade de uma cultura histórica
que aciona experiências, imagens e atores do passado para uma contemporaneidade
que busca nesse tempo que ficou para trás referências para imaginar o mundo em que
vive.
Questão nacional e questão racial no Brasil sempre estiveram interligadas, mas,
especialmente nesse momento, os debates e projetos eram muito mais férteis.
Estávamos em um período de reinvenção da nação, pela primeira vez sem a
escravidão, estrutura presente desde os anos inicias e determinante na formação do
Brasil. Paralelamente, iniciávamos uma forma de governo que tem como princípio
básico a igualdade e a participação da sociedade. As mudanças eram desafiadoras:

37
Ver Poutignat, Philippe e Fenart, Jocelyne. Teorias da Etnicidade. São Paulo: UNESP, 1997.

20
transformar escravos em livres, súditos em cidadãos. As propostas eram muitas. Quais
se tornariam hegemônicas?

Fontes

Investigar as visões, as bases utilizadas para a construção dessas visões e as


expectativas e ações de um grupo amplo e plural, como o formado por pretos e pardos
no pós-abolição, não é tarefa simples e dificilmente será concluída de modo pleno e
definitivo. Pensar no grupo formado por ex-escravos e seus descendentes é lidar com
uma grande diversidade, o que acaba nos conduzindo para um conjunto mais amplo
de fontes. Afinal de contas, podemos considerar a Guarda Negra da Redentora como
representativa dos libertos? Ou a associação estava longe de refletir as visões e
expectativas da maioria dessa população?
A análise dos escritos de Rui Barbosa e José do Patrocínio justifica-se pela
grande relevância de ambos nos debates que versavam sobre o fim da escravidão e o
fim da monarquia no Brasil. Rui Barbosa envolveu-se diretamente nos movimentos
abolicionista e republicano e escreveu diversos artigos refletindo sobre a situação dos
ex-escravos no pós-abolição, inclusive sobre os conflitos envolvendo a Guarda Negra e
os republicanos. A posição da “raça emancipada”, assim como as ações da “raça
emancipadora” - segundo seus próprios termos - foram temas de grande preocupação
para o jurista nesse período de transição.
José do Patrocínio, além de diretamente envolvido nessas mesmas questões,
como Rui Barbosa, era filho de uma jovem africana que tinha sido escrava e, até os 14
anos, embora não sendo escravo, conviveu com a realidade da escravidão na fazenda
em que morava. Participou de reuniões de republicanos, mas, posteriormente, vai ser
identificado como um defensor do Terceiro Reinado. Estava diretamente envolvido
com as polêmicas da Guarda Negra e acaba exilado por publicar um manifesto dos
líderes da Revolta da Armada em seu jornal. Dirigiu os periódicos Gazeta da Tarde,
entre 1881 e 1887, e A Cidade do Rio, a partir de 1887. Esses jornais, ao lado do Diário
de Notícias e do Novidades, estes últimos com grande participação de Rui Barbosa,

21
concentravam os debates mais contundentes sobre o republicanismo e a monarquia,
tendo como pano de fundo o papel político dos ex-escravos nesse novo momento.
As revistas Psit!!! e O Besouro eram publicadas pelo abolicionista português
Rafael Bordalo Pinheiro entre 1877 e 1879. Os periódicos, com grande teor crítico,
obtiveram a colaboração de José do Patrocínio e rivalizava com a Revista Illustrada.
Republicana e abolicionista, com fortes sátiras sobre os fatos políticos, a Revista
Illustrada foi editada por Ângelo Agostini entre 1876 e 1889, permanecendo em
circulação até 1898, sob direção de Pereira Neto. A revista O Malho, editada por
Crispim do Amaral, foi publicada entre 1902 e 1930, segue com as críticas sociais e
também possui a participação de Agostini. A linguagem humorística dessas revistas,
sobretudo através das charges, estabelecia um contato maior com a população pobre,
não instruída formalmente, formada em grande parte pelos ex-escravos e seus
descendentes.
As crônicas de João do Rio e Lima Barreto tratam do cotidiano dessa população
na cidade do Rio de Janeiro. Lima Barreto, assim como José do Patrocínio, possui uma
ligação direta com a escravidão. Seu pai, tipógrafo, nasceu escravo e sua mãe,
professora, era filha de escrava. Nascido em 1881, conviveu na infância com a
escravidão, estudou com a ajuda de seu padrinho, o Visconde de Outro Preto, e
assumiu posições muito críticas em relação à República. Em sua temática social,
privilegiava os pobres e marginais, assumindo uma postura militante. Colaborou com o
jornal Gazeta da Tarde após a saída de José do Patrocínio.
João do Rio é contemporâneo de Lima Barreto. Nasce no mesmo ano de 1881 e
morre um ano antes, em 1921. Suas crônicas estão voltadas para o povo das ruas.
Escreveu matérias de cunho antropológico e sociológico, como por exemplo, sobre os
cultos de origem africana na Pequena África. Identificado por alguns como amulatado,
tinha uma rixa com Lima Barreto. Entre 1903 e 1913, escreve para O Gazeta de
Notícias, que também teve a colaboração de José do Patrocínio no final da década de
1870.
Enfim, a variada seleção das fontes tem o objetivo principal de tentar encontrar
indícios, pistas e sinais dessa memória e cultura histórica dos pretos e pardos no pós-
abolição. Através da utilização do paradigma indiciário, esse amplo e aparentemente

22
disperso trabalho investigativo, busca encontrar as bases, as visões e as expectativas
38
de um grupo social em formação . Como a suposta identidade negra, atualmente
valorizada e estimulada pelo projeto multiculturalista, começou a se formar no pós-
abolição? Ou esse processo ainda não estava em curso na Primeira República? Havia
algum tipo de identificação entre pretos e pardos no pós-abolição? E entre libertos?
A escolha das fontes tenta abarcar um período que vai de fins da década de
1870 até a década de 1920, reunindo olhares diversos sobre questões comuns. Olhares
que se contestavam, mas não necessariamente se opunham. Olhares que faziam parte
desse mesmo universo e estavam em permanente diálogo e, como todos os diálogos,
favorecem a interpretação e compreensão desse novo tempo.

Fontes Casa de Rui Barbosa:


- Obras Completas de Rui Barbosa
- Revistas: Psit!!!, O Besouro, O Malho e Revista Illustrada.

Fontes Biblioteca Nacional:


-Jornais: Gazeta da Tarde, Cidade do Rio, Diário de Notícias e Novidades.

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