1) O Cacique Babau, líder Tupinambá, ensinou sobre a cultura e sabedoria de seu povo, contrastando-a com a visão ocidental dominante no Brasil.
2) Ele explicou como a estrutura do Estado brasileiro e a noção de identidade nacional excluem os povos originários e ameaçam seus territórios e modos de vida.
3) O Cacique também descreveu como os Tupinambás resolviam conflitos de forma pacífica por meio de festivais e compartilhamento
Descrição original:
Relato pessoal como parte da disciplina "Saberes Tradicionais", ministrada na UFMG.
1) O Cacique Babau, líder Tupinambá, ensinou sobre a cultura e sabedoria de seu povo, contrastando-a com a visão ocidental dominante no Brasil.
2) Ele explicou como a estrutura do Estado brasileiro e a noção de identidade nacional excluem os povos originários e ameaçam seus territórios e modos de vida.
3) O Cacique também descreveu como os Tupinambás resolviam conflitos de forma pacífica por meio de festivais e compartilhamento
1) O Cacique Babau, líder Tupinambá, ensinou sobre a cultura e sabedoria de seu povo, contrastando-a com a visão ocidental dominante no Brasil.
2) Ele explicou como a estrutura do Estado brasileiro e a noção de identidade nacional excluem os povos originários e ameaçam seus territórios e modos de vida.
3) O Cacique também descreveu como os Tupinambás resolviam conflitos de forma pacífica por meio de festivais e compartilhamento
Saberes Tradicionais – Direito à Existência – Territórios e Conflitos Renan Monteiro Barcellos – 2016040429
Diário da disciplina – Aula 01 – 19/05/2021
Essas palavras sobre as aulas e decorrer da disciplina formam a
proposta avaliativa de tal. São muitas as sabedorias, os ensinamentos e trocas. Já peço perdão por eventualmente devido à memória por deixar algo de “fora”. Neste primeiro encontro, a ideia era uma apresentação de alunos e alunas, professoras e professores, assim como discentes que estavam na condição de estagiários. Como mediadores e interlocutores, estavam presentes Luciana Oliveira, César Guimarães e André Dias enquanto docentes institucionais. Mas é na figura grandiosa de Cacique Babau que encontro o local de verdadeiro Mestre, mais que docente. É Mestre mesmo, porque a sabedoria e força (aqui no sentido de vitalidade) é tamanha, que inunda toda a aula com colocações que vão muito além de “conteúdo” de aula apenas. É sabedoria e trajetória de vida combinadas que oferecem, mesmo que por palavras, as diferenças entre nosso mundo ocidentalizado e a vivência de sua cultura e seu povo, tão massacrado e constantemente ferido na luta pelo apagamento destes que jamais se darão. O encontro ou choque entre esses modos tão distintos de estar no mundo, pelas ideias de Babau, nos ensina demais. Cacique Babau é ativista, líder comunitário, Sábio, e uma grande voz de seu povo. Vive atualmente na Aldeia Tupinambá da Serra do Padeiro, na região sul do estado da Bahia, e nos ensina que seu povo e cultura foram os primeiros a ter contato com os invasores brancos vindos da Europa, nesse desembolar histórico que hoje conhecemos como Brasil. Mesmo sendo o primeiro encontro, com as devidas apresentações de início de disciplina, Babau demonstra muito conhecimento sobre o funcionamento da estrutura do Estado brasileiro e dos problemas e conflitos advindos da forma como o Poder instituído no nosso país, totalmente influenciadas pela forma ocidental de ver, sentir e estar no mundo. Esta visão de mundo ocidentalizada, que representa o nosso “comum”, apresenta mecanismos sociais e de organização que se colocam com universal. Esse universalismo, que procura sempre articular, no caso do nosso país, a identidade brasileira como oficial e a única passível de ser reconhecida por essa estrutura, ao invés de, por um caminho óbvio, ser uma forma de acolher e garantir direitos à pluralidade de povos e culturas do nosso país, acaba por excluir e dificultar em muito a vida de uma grande parte da população brasileira, como os Povos Originários, pois força verticalmente essa identidade brasileira universal e tenta moldar corpos, modos de ser e estar, territórios, direitos fundamentais e garantia de manutenção de suas formas de sociabilidade. Cacique Babau dá diversos exemplos desse conflito em específico e como isso molda as lutas seculares que os povos originários empreendem na busca de manter suas bases culturais e de existência. O atual conflito pela demarcação de terras e o Marco Temporal, projeto de lei que dificulta em muito o estabelecimento de novas aldeias, ou a fixação e demarcação de territórios muitas vezes milenarmente ocupados, é um dos exemplos. O modo de viver, o entendimento de identidade humana, alargada, que engloba animais, plantas, elementos, como a água e o ar, Espíritos Encantados, a forma como constroem seu sustento com o ambiente é visto pela cultura dominante, que por mais que se diga brasileira, é arraigadamente branca e ocidental, e pela estrutura estatal como não produtiva, como não contribuinte para o desenvolvimento econômico do país. Por outro lado, mas na mesma sina, as populações urbanas, sobretudo brancas, com total desconhecimento da vivência dessas culturas, tentam se apropriar do que julgam serem símbolos desta Originalidade, como o uso vergonhoso de cocares, peças artísticas, indumentárias e instrumentos sem o menor respeito. Representam homens e mulheres originários como selvagens, infantes, sem ciência, como desprovidos de direitos, mas tiram a roupa no carnaval, penduram pena no braço e se fantasiam de identidades que se constroem diariamente sob muita luta. Isso é extremamente racista e não para só na questão identitária, pois a lógica que expulsa esses povos de seus territórios e de suas formas de vida é a mesma. Ao serem questionados, tanto Estado quanto branquitude racista, a resposta é curta e rápida: “somos todos brasileiros”! Portanto, já na primeira aula, já nos é exposto que as raízes dos conflitos pela terra e existência se trata, em profundidade, de conflitos entre realidades. Entre formas extremamente baseadas num conceito individualista, como a branca/ocidental, que reduz toda realidade à vivência do animal humano, apartado de laços com outras formas de vida, de interação com o ambiente, acaba por não considerar e desrespeitar a complexidade da realidade que os cerca. Diametralmente opostas estão as vivências dos povos originários, suas tecnologias e formas de estar no mundo, que sentem e interagem em harmonia e conformidade com a dependência que possuímos da vida e planeta como um todo. Essas são as bases civilizacionais que se opõe e geram as convulsões sociais atuais. Outro exemplo que mexeu muito comigo foi o exemplo que Cacique Babau deu sobre as sociabilidades Tupinambás e as estratégias de resolução de conflitos já praticados há muito por aqui, antes da existência de Brasil ou qualquer forma de Direito enquanto ciência instituída. Ele nos relata como o povo Tupinambá, não nômade, agricultor, manipulador da arte da cerâmica, organizava festivais, grandes encontros, onde muitos povos e culturas diferentes se reunião para a celebração. Nestes encontros, segundo Babau, muitos acordos eram firmados, não só entre Tupinambás e outros, mas entre povos muitas vezes historicamente hostis entre si. Outro fator importantíssimo ao meu ver é o fato de ele relatar que, por exemplo, povos originários historicamente nômades “deixavam filhos e filhas” nas aldeias tupinambás para que aprendessem as artes e ciências acima citadas, retornassem às suas comunidades de origem e construíam compartilhadamente o aprendido. Isso é uma tecnologia social de tamanha fineza, aplicabilidade e de capacidade pacificadora e resolutiva que me faz questionar seriamente, mais uma vez, a instituição do Direito ocidental e suas técnicas de resolução, representatividade e aplicabilidade. Demonstra como o aspecto cultural acolhedor e aglutinador dos Tupinambás é de uma sabedoria imensa, entretanto foi distorcida pelos próprios brancos ao retratar tal Povo como inocente, como vencido e vendido aos brancos, sendo que nada disso é realidade. Mas demonstra uma vez mais como nossa cultura ocidentalizada e suas instituições são incapazes de entender a unidade pela diferença, o reconhecimento pela pluralidade, e termina por deslegitimar e silenciar sabedorias que nos ensinariam em muito. Esses foram os principais pontos que sequestraram minha atenção!
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