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CAPÍTULO 7 ISO 14000 E SISTEMA DE GESTÃO AMBIENTAL - SGA

TERMOS-CHAVE
ISO – International Organization for Standardization é uma organização internacional
especializada não-governamental, fundada em 1946, com o objetivo de reunir órgãos de
normalização de diversos países e criar um consenso internacional normativo de fabricação,
comércio e comunicações.
ISO 9000 – É a série de normas que descrevem os elementos básicos e a orientação para a
implementação de um sistema de qualidade.
ISO 14000 – É a série de normas que tem como objetivo a criação de um sistema de gestão
ambiental que auxilie as organizações a cumprirem seus compromissos assumidos com o
ambiente natural, estabelecendo, também, as diretrizes para as auditorias ambientais,
avaliação de desempenho ambiental, rotulagem ambiental e análise do ciclo de vida dos
produtos.

7.1 Introdução

Este capítulo tem como objetivo esclarecer ao leitor os padrões adotados pelas normas
ISO 14000 e suas interfaces com o desenvolvimento sustentável e a competitividade nos
mercados nacional e internacional. Explora, também, como as normas são criadas, a estrutura
da ISO, os objetivos e abrangência da ISO 14000, como é o processo de certificação, a
correlação existente com outros padrões ISO e a visão de melhoria contínua, principalmente
vinculada a processos.

7.2 Histórico

A International Organization for Standardization - ISO é uma organização


internacional especializada não-governamental, fundada em 1946, com o objetivo de reunir
órgãos de normalização de diversos países e criar um consenso internacional normativo de
fabricação, comércio e comunicações. Com sede em Genebra, na Suíça, a ISO possui mais de
130 países membros (dados extraídos do site www.iso.ch, acesso em 11 de janeiro de 2002)
que participam, com direito a voto, das decisões ou, apenas, como observadores das
discussões. Alguns países são representados por entidades governamentais ou vinculadas ao
governo, como por exemplo: o American National Standards Institute – ANSI que é a
entidade membro dos Estados Unidos e a Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT
que é do Brasil.
A ISO está estruturada em aproximadamente 180 Comitês Técnicos (TCs), cada um dos
quais especializado em minutar normas em uma área particular. A ISO desenvolve normas em
todos os setores industriais, exceto nos relacionados à engenharia elétrica e eletrônica, às
quais são desenvolvidas pela International Electrotechnical Commission - IEC, sediada em
Genebra, que possui mais de 40 países-membros. As nações-membros formam grupos
técnicos de assessoramento, Technical Advisory Groups – TACs, que contribuem com
informações aos comitês técnicos como parte do processo de desenvolvimento das normas.
Depois que uma versão preliminar de uma norma é votada por todos os países-
membros, ela é publicada em forma de norma internacional, podendo ser adotada na íntegra
ou com modificações. Alguns países desenvolvem um processo paralelo de análise da versão
internacional quanto à viabilidade de sua aceitação, enquanto estão sendo desenvolvidas pela
ISO, acelerando o processo de sua adoção, adotando-as como compulsórias.
A ISO define uma norma como um acordo documentado contendo especificações
técnicas ou outros critérios precisos a serem utilizados uniformemente como uma regra,
1
diretriz ou definição de características, a fim de assegurar que os materiais, produtos,
processos e serviços sejam adequados a sua finalidade. As normas são formuladas com o
objetivo principal de facilitar o comércio internacional, aumentando a confiabilidade e a
eficácia das mercadorias e serviços (www.iso.ch).
Na maior parte de sua existência, a ISO focalizou-se em normas técnicas de produtos,
voltando-se para a área de normas gerenciais somente a partir de 1979, com a criação do
Comitê Técnico 176 para desenvolver normas globais para gestão da qualidade e sistemas de
garantia da qualidade. O trabalho do TC 176 culminou em 1987 com a publicação das
normas de qualidade ISO 9000, que são normas genéricas de gestão e garantia da qualidade,
atendendo às especificações para a qualidade de produtos e serviços, aplicando-se
especificamente aos seus processos e sistemas. As normas ISO 9000 descrevem os elementos
básicos e a orientação para a implementação de um sistema de qualidade.
Porém, não havia uma abordagem sistêmica do problema ambiental que relacionasse
causas e efeitos de forma abrangente, a não ser iniciativas de alguns países, de forma isolada,
em fabricar produtos que reduzissem os danos causados ao ambiente natural, criando
símbolos ou rótulos ecológicos, os chamados “selos verdes”.
Os esforços de normatização realizados pelos diversos países eram muito restritos a
ensaios e amostragens que atendessem os padrões legais, como por exemplo a homologação
pela British Standards Institution - BSI, em março de 1992, da norma BS 7750, já desativada,
a qual criou procedimentos para se estabelecer um sistema de gestão ambiental nas
organizações no Reino Unido. A norma BS 7750 estabelece um paralelo ambiental com a
norma britânica de gestão da qualidade BS 5750, introduzida em 1979, que serviu de base
para a elaboração das normas internacionais da série ISO 9000 de gestão da qualidade e
garantia da qualidade.
Em 1991, a ISO formou o Strategic Action Group on the Environment - SAGE para
formular recomendações com respeito a normas ambientais internacionais, a fim de buscar
essa abordagem comum à gestão ambiental. Porém, identificou que o conhecimento exigido
para a gestão ambiental era distinto do necessário à gestão da qualidade e, em 1992, o SAGE
recomendou a formação de um comitê específico dedicado ao desenvolvimento de uma norma
internacional para sistemas de gestão ambiental, criando-se, então o TC-207, em 1993,
incumbido de elaborar normas internacionais de gestão e certificação ambiental,
possibilitando a certificação das organizações e dos produtos que as cumpriam. Essa nova
série recebeu a designação de ISO 14000, sendo lançada internacionalmente em 1996.

7.3 TC 207

O trabalho do TC 207 é dividido em seis subcomitês e um grupo de trabalho especial,


sendo o Canadá o local do secretariado. Cada subcomitê é responsável por um tipo de
atividade, conforme pode ser observado no Quadro a seguir:

Quadro 1: Subcomitês e grupo de trabalho do TC 207 da ISO


SUBCOMITÊS PAÍS RESPONSABILIDADE
SC1 Reino Unido Gerenciamento dos trabalhos vinculados a sistemas de
gestão ambiental
SC2 Holanda Cuida dos procedimentos de auditorias ambientais
SC3 Austrália Cuida da rotulagem ambiental
SC4 Estados Unidos Normatiza a avaliação de desempenho ambiental
SC5 França Analisa a avaliação do ciclo de vida dos produtos

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SC6 Noruega Cuida dos termos e definições
Grupo de Trabalho Alemanha Cuida dos aspectos ambientais em normas de produtos
1
Fonte: Compilação de dados extraídos de Feldman, Tibor (1996). ISO 14000 – um guia para
as novas normas de gestão ambiental, p. 59 e 60.

O Brasil integra a ISO como fundador com direito a voto. É representado pela
Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, pelo Comitê Brasileiro de Gestão
Ambiental – CB 38, que tem como atividades a normalização no campo de ferramentas e
sistemas de gestão ambiental (excluindo-se métodos de ensaios relativos a poluentes,
qualidade da água, qualidade do solo e acústica; fixação de valores limites em matéria de
poluentes ou de efluentes; fixação de níveis de desempenho ambiental e normalização de
produtos - dados extraídos do site www.abnt.org.br, acesso em 11 de janeiro de 2002). Este
comitê sucedeu o Grupo de Apoio à Normalização Ambiental – GANA, que representava o
Brasil no processo de elaboração das normas ISO 14000 nas reuniões do TC 207.

7.4 O Processo de Normas ISO

As normas ISO, para assumirem o caráter de norma internacional, passam por uma
etapa de discussões para depois serem votadas pelos países-membros. Antes disso, a futura
norma encontra-se na forma de Final Draft International Standard - FDIS, uma minuta
sujeita a pequenos ajustes.
A ISO segue alguns princípios-chaves no seu processo de desenvolvimento de normas,
que incluem:
 Consenso: estipula padrões abertos e transparentes entre todos os interessados
(fabricantes, redes de vendedores e usuários, consumidores, governos, etc);
 Escopo: abrange normas que satisfazem os setores e os clientes no mundo inteiro,
com reputação, integridade e neutralidade;
 Gestão descentralizada: envolvimento voluntário de todo o mercado;
 Infraestrutura nacional e apoio regional: está amparada por organizações
nacionais e regionais mais representativas de cada país, que asseguram a
cooperação com relação ao desenvolvimento do pensamento nacional, regional e as
ações internacionais.

O desenvolvimento de uma norma ocorre em um processo de cinco etapas:


 Estágio de proposta: confirma a necessidade da nova norma. A proposta para um
novo item de trabalho New Work Item - NWI é submetida ao voto dos membros do
comitê (TC) ou do subcomitê (SC) técnico, a qual deverá ser aceita pela maioria dos
membros participantes e pelo menos cinco membros deverão declarar seu
comprometimento em participar ativamente do projeto.
 Estágio preparatório: os grupos de trabalho compostos por especialistas
desenvolvem minutas de trabalho Working Drafts - WD da norma proposta e
encaminham ao subcomitê, passando para o estágio de minuta de comitê Committee
Draft - CD.
 Estágio de comitê: é registrada pelo secretariado central da ISO e é distribuída para
votos e comentários dos membros participantes dos comitês e subcomitês técnicos.

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Depois de sucessivos consensos, avança para o estágio de Minuta de Norma
Internacional (Draft International Standard - DIS).
 Estágio de aprovação: a DIS circula por todas as entidades-membros da ISO para
voto e comentários por um período de seis meses. É então aprovada como norma
internacional (International Standard - IS), se uma maioria de dois terços dos
membros participantes dos comitês/subcomitês técnicos forem a favor e, no
máximo, um quarto do número total de votos forem negativos. Caso o voto seja
negativo, a minuta DIS volta ao comitê técnico para revisão.
 Estágio de publicação: Se uma norma for aprovada, um texto final será preparado,
incorporando os comentários submetidos durante a votação da DI. O texto final é
enviado ao Secretariado Central da ISO, o qual publica a norma internacional.

7.5 Objetivos das Normas ISO 14000

A série de normas ISO 14000 tem como objetivo a criação de um sistema de gestão
ambiental que auxilie as organizações a cumprirem seus compromissos assumidos com o
ambiente natural. Além disso, em função do processo de certificação ser reconhecido
internacionalmente, tanto das organizações como de seus produtos e serviços, possibilitam às
organizações distinguirem-se daquelas que somente atendem à legislação ambiental.
As normas da série ISO 14000 também estabelecem as diretrizes para as auditorias
ambientais, avaliação de desempenho ambiental, rotulagem ambiental e análise do ciclo de
vida dos produtos, já citados anteriormente, possibilitando a transparência da organização e de
seus produtos em relação aos aspectos ambientais, viabilizando harmonizar os procedimentos
e diretrizes aceitos internacionalmente com a política ambiental adotada pela mesma.
As normas da série ISO 14000 mantêm a mesma numeração no Brasil, precedida do
designativo NBR da ABNT, sendo elas:

Quadro 2. A família dos padrões da ISO 14000 e trabalhos em andamento


Nº DA NORMA
e DATA DA
GRUPO DE NORMAS PUBLICAÇÃO TÍTULO DA NORMA
SISTEMAS DE GESTÃO ISO 14001/1996 SGA – Especificações e Diretrizes para Uso
AMBIENTAL
ISO 14004/1996 SGA – Diretrizes gerais sobre Princípios, Sistemas e
Técnicas de Apoio
ISO/TR Informação para Auxiliar Organizações Florestais no
14061/1998 Uso das Normas ISO 14001 e ISO 14004 de Sistemas
de Gestão Ambiental

AUDITORIA AMBIENTAL ISO 14010 /1996 Diretrizes para Auditoria Ambiental – Princípios
Gerais
ISO 14011/1996 Diretrizes para Auditoria Ambiental – Procedimentos
de Auditoria – Auditoria de SGA
ISO 14012/1996 Diretrizes para Auditoria Ambiental – Critérios de
Qualificação para Auditores Ambientais
ISO/WD 14015 Avaliação Ambiental de Locais e Organizações
(a ser
determinada)

ROTULAGEM ISO 14020/1998 Rótulos e Declarações Ambientais – Princípios Gerais


AMBIENTAL
ISO/DIS Rótulos e Declarações Ambientais – Auto-declarações

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14021/1999 Ambientais
ISO/FDIS Rótulos e Declarações Ambientais – Rotulagem
14024/1998 Ambiental Tipo I – Princípios e Procedimentos
ISO/WD/TR Rótulos e Declarações Ambientais – Declarações
14025 (a ser Ambientais Tipo III – Diretrizes e Procedimentos
determinada)

AVALIAÇÃO DE ISO/DIS Gestão Ambiental – Avaliação de Desempenho


DESEMPENHO 14031/1999 Ambiental – Diretrizes
AMBIENTAL
ISO/TR Gestão Ambiental – Avaliação de Desempenho
14032/1999 Ambiental – Exemplos Ilustrando o Uso da Norma
ISO 14031

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... continuação do Quadro 11
GRUPO DE NORMAS Nº DA NORMA TÍTULO DA NORMA
e DATA DA
PUBLICAÇÃO
ANÁLISE DO CICLO DE ISO 14040/1997 Análise do Ciclo de Vida – Princípios e Práticas
VIDA Gerais
ISO 14041/1998 Análise do Ciclo de Vida – Definição do Objeto e
Análise do Inventário
ISO/CD Análise do Ciclo de Vida – Avaliação dos Impactos
14042/1999
ISO/DIS Análise do Ciclo de Vida – Interpretação dos
14043/1999 Resultados
ISO/TR Análise do Ciclo de Vida – Formato da Documentação
14048/1999
ISO/TR Análise do Ciclo de Vida – Exemplos de Aplicação da
14049/1999 Norma ISO 14041

TERMOS E DEFINIÇÕES ISO 14050/1998 Gestão Ambiental – Vocabulário

ASPECTOS AMBIENTAIS ISO Guia Guia para a Inclusão de Aspectos Ambientais em


EM NORMAS DE 64/1997 Normas de Produtos
PRODUTOS

Fonte: http://www.iso.ch//iso/em/iso9000-14000, acesso em 11 jan. 2002. ISO 14000 – meet the whole
family.

7.6 Abrangência das Normas ISO 14000

7.6.1 Normas sobre Sistema de Gestão Ambiental - SGA

A norma ISO 14001 auxilia uma organização no que é necessário para desenvolver um
novo ou melhorar um sistema de gestão ambiental que pode ser objeto de certificação por
terceiras-partes, ainda que possa ser também utilizada internamente para os fins de auto-
declaração e como cláusula nos contratos da empresa. Já a norma ISO 14004 é destinada ao
uso interno da organização, servindo como um guia para o estabelecimento e a
implementação de seu SGA e não enseja a certificação.
A ISO 14001 é a única que certifica ambientalmente uma organização, embora não exija
que a mesma já tenha atingido o melhor desempenho ambiental possível, nem esteja
utilizando as melhores tecnologias disponíveis. O conceito de melhoria contínua 1 tem o
objetivo de estimular o aperfeiçoamento do SGA, depois de assegurar que o mesmo esteja
plenamente implantado.

7.6.2 Normas sobre Auditorias Ambientais

Esta norma provê os princípios comuns gerais e os procedimentos para a condução de


qualquer auditoria ambiental, incluindo os critérios para qualificação dos auditores ambientais
que participarão dessas auditorias. As normas relativas às auditorias ambientais asseguram a
base de credibilidade a todo o processo de certificação ambiental, visando especialmente às

1
Melhoria contínua é o processo de aperfeiçoar o sistema de gestão ambiental para alcançar melhorias no
desempenho ambiental total, em alinhamento com as políticas da organização (Tibor e Feldman, 1996).

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auditorias de terceiras-partes. Existe um processo de certificação para essas organizações, que
inclui um Organismo de Acreditação, reconhecido internacionalmente, o qual irá credenciar
Entidades de Registro e Certificação, que irão proceder às auditorias nas instalações da
organização.

7.6.3 Normas sobre Avaliação do Desempenho Ambiental

Essa norma provê um guia para a seleção e uso de indicadores para avaliar o
desempenho ambiental das organizações. Define como fazer a medição, a análise e a
definição do desempenho ambiental de uma organização, permitindo confrontá-lo com os
critérios previamente estabelecidos em seu SGA. A norma não estabelece índices ou
parâmetros a serem cumpridos, uma vez que estes já devem ter sido estabelecidos pela própria
organização, porém cita exemplos para ilustrar o uso da norma.
Existem diversos indicadores de desempenho ambiental (Environmental Performance
Indicator - EPIs) e estes devem ser escolhidos pela organização de acordo com as
características de cada área ou atividade e conforme a legislação pertinente ao local. É
importante observar que os indicadores sejam válidos, relevantes e de fácil comprovação.

7.6.4 Normas sobre Rotulagem Ambiental

Variam em suas formas de abordagem e objetivos, apesar de já estarem sendo praticadas


em todo o mundo, antes mesmo da existência da ISO 14000, conforme já abordado
anteriormente. Porém, a fim de harmonizar tais programas nacionais, a ISO 14000 incluiu
normas de rotulagem ambiental com validade internacional, como orientação para as
organizações nas terminologias, símbolos, testes e verificações metodológicas a serem
utilizadas para a identificação das características ambientais de seus produtos, por
autodeclarações ou por terceiras-partes.
Os rótulos ambientais devem ressaltar as características ambientais dos produtos,
utilizando-se sempre de expressões corretas e comprováveis para o usuário. As características
ambientais do produto podem estar demonstradas por símbolos, declarações ou gráficos
marcados sobre o produto ou sua embalagem, assim como nos documentos que identificam o
mesmo, tais como anúncios, manuais de uso, etc.
Os “selos verdes”, designados do Tipo I, conferem ao produto rotulado uma
diferenciação em relação a seus competidores e são expedidos por terceiras-partes. É
importante não confundi-los com as autodeclarações ambientais, do Tipo II, pelas quais o
produto é identificado como: “reciclado”, “reciclável”, etc. O Tipo III é expedido por
terceiras-partes, utilizando-se de dados quantificáveis do produto e índices nos rótulos.

7.6.5 Normas sobre Análise do Ciclo de Vida

Também conhecidas como “do berço ao túmulo”, estabelecem as interações entre as


atividades produtivas e o ambiente natural, analisando o impacto causado pelos produtos, seus
respectivos processos produtivos e serviços com eles relacionados, desde a extração dos
recursos naturais até a disposição final. As normas sobre ACV provêem os princípios gerais, a
estrutura e a metodologia requerida para se analisar o ciclo de vida de um produto,
determinando metas e o escopo de estudo, os impactos causados ao ambiente natural,
identificando as melhorias que deveriam ser introduzidas para reduzi-los. Serve como guia
para interpretar os resultados e provê exemplos para ilustrar como aplicar o processo de ACV.
Para isso, essa análise deve considerar:

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 o consumo de matérias-primas e seus processos de extração e produção;
 os processos de produção dos materiais intermediários utilizados na fabricação do
produto;
 o processamento de todos os materiais até se chegar ao produto final;
 a utilização do produto durante toda a sua vida útil;
 a reciclagem, tratamento e disposição dos materiais resultantes do produto
descartado, ao final de sua vida útil.
Todo o fluxo de entrada e saída de materiais (balanço material e energético) deve ser
analisado e medido, verificando seus efeitos sobre o ar, a água e o solo. Os materiais usados e
a formação de substâncias intermediárias, até a decomposição final do produto, também
devem ser avaliados, além da comparação do seu impacto ambiental com o de outros
produtos, incluindo-se a destinação final dos resíduos e dos materiais recuperáveis ou
recicláveis em cada alternativa considerada.

7.6.6 Normas sobre Aspectos Ambientais nos Produtos

Esse guia destina-se especialmente para aqueles que elaboram normas técnicas para
produtos, na observância dos aspectos relacionados ao ambiente natural que devem ser
levados em conta quando se especifica e se projeta um produto e para familiarizá-los com a
maneira como as questões ambientais influenciam a redação das normas técnicas para
produtos.
As normas ISO 14000 não exigem, como pré-requisito, a certificação pelas normas ISO
9000 e nem há recíproca. São sistemas independentes, embora a adesão a ambas gere
economias de escala no que tange à documentação e à prática das auditorias periódicas, que
tanto um sistema como o outro exige.
Porém, as normas ISO 14000 exigem a já existência ou a criação de um sistema de
gestão ambiental na empresa.

7.7 Sistema de Gestão Ambiental

Um Sistema de Gestão Ambiental – SGA (Environmental Management System – EMS)


é definido como o conjunto de procedimentos que irão ajudar a organizaçãoa entender,
controlar e diminuir os impactos ambientais de suas atividades, produtos e/ou serviços. Está
baseado no cumprimento da legislação ambiental vigente e na melhoria contínua do
desempenho ambiental da empresa, isto é, não basta estar dentro da lei, mas deve haver,
também, uma clara decisão de melhorar cada vez mais o seu desempenho com relação ao
ambiente natural (SENAI, 2000, pg. 8).
Segundo Tibor e Feldman (1996, pg. 20), “...seus elementos incluem a criação de uma
política ambiental, o estabelecimento de objetivos e alvos, a implementação de um programa
para alcançar esses objetivos, a monitoração e e medição de sua eficácia, a correção de
problemas e a análise e revisão do sistema para aperfeiçoá-lo e melhorar o desempenho
ambiental geral.”
Um SGA eficaz pode possibilitar às organizações uma melhor condição de
gerenciamento de seus aspectos e impactos ambientais, além de interagir na mudança de
atitudes e de cultura da empresa. Pode, também, alavancar os resultados financeiros da
mesma, uma vez que atua na melhoria contínua de processos e serviços.

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7.8 Certificação ISO 14000

Para alcançar a certificação ambiental, uma organização deve cumprir três exigências
básicas expressas na norma ISO 14001:
 ter implantado um sistema de gestão ambiental;
 cumprir a legislação ambiental aplicável ao local da instalação;
 assumir um compromisso com a melhoria contínua de seu desempenho ambiental.
Existe, ainda, para a obtenção de certificação ambiental, o regulamento europeu
Ecomanagement and Audit Scheme – EMAS, adotado em 1995 no âmbito da União Européia,
o qual é considerado mais detalhado e mais prescritivo do que a ISO 14000. Estes requisitos
extras estão descritos em um documento produzido pelo European Standards Body CEN (a
agência européia de normas).
Para se obter a certificação, deve-se observar a seguinte seqüência:
 Primeira fase: explicitar os compromissos e princípios gerenciais baseados na
política ambiental da organização. A partir do estabelecimento desta política serão
definidos os objetivos e metas da organização e os procedimentos a serem seguidos
por todos os seus colaboradores, deverão ser criados procedimentos de controle da
documentação e deverá ter início o treinamento do pessoal, no que se poderia
chamar de fase preparatória.
 Segunda fase: de diagnóstico ou pré-auditoria – que permitirá identificar os pontos
vulneráveis existentes nos procedimentos ambientais da organização, possibilitando
sua correção.
 Terceira fase: é a efetiva certificação que deverá ser contratada com uma entidade
credenciada para emitir o correspondente certificado de conformidade com a norma
ISO 14001. Nessa fase, a organização se submeterá a uma auditoria ambiental que
deverá comprovar sua conformidade com os padrões de qualidade exigidos pela
legislação ambiental, tanto nacional como local, e pelos manuais de qualidade
instituídos e utilizados pela própria organização. Também é feita uma auditoria de
conformidade legal, comprovando a observância da legislação ambiental aplicável
ao local da instalação.

7.9 Conclusão

As normas ISO 14000 referem-se a um processo pelo qual as organizações deverão


estabelecer políticas e objetivos que cumpram as leis e as regulamentações ambientais e que
evitem a poluição.
Nesse sentido, por ser um sistema de normalização abrangente, protege àquelas
organizações que respeitam as leis e os princípios da conservação ambiental, além de
universalizar conceitos e procedimentos, sem perder de vista características e valores
regionais. Porém, pode também ser utilizado somente como um mecanismo de vantagem
competitiva comercial, uma vez que as normas não ditam como a organização deve alcançar
suas metas, não descrevem o tipo de desempenho exigido e nem determinam quais os
resultados a serem atingidos nos processos, focando-se somente nos processos necessários
para alcançar os resultados.
As organizações que implementam a ISO 14000 terão maior condição para atender à
legislação de seu país e possibilitarão uma visão mais apurada sobre as áreas que geram maior
impacto ambiental, levando a benefícios como:
 Redução de custos no gerenciamento de resíduos;
 Economia no consumo de energia, matéria-prima, insumos e custos de distribuição;

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 Melhoria na imagem corporativa em relação aos órgãos reguladores, aos clientes e a
sociedade em geral;
 Melhoria contínua de seu desempenho ambiental.

Também existem demonstrações de como a ISO 14000, ao integrar a qualidade, a


proteção ambiental, a saúde ocupacional e a segurança, pode contribuir para a melhoria no
desempenho financeiro e ambiental da organização, não devendo perder de vista que a
obtenção do certificado não representa o fim do processo, mas, ao contrário, é o início de um
compromisso que se estenderá por muitos anos.

7.10 Referências Bibliográficas

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas: banco de dados. Disponível em:


http://www.abnt.org.br . Acesso em 11 jan. 2002.
ABREU, Dora. Sem ela, nada feito: educação ambiental e a ISO-14001. Salvador, BA : Casa
da Qualidade, 2000. 100p.
http://www.abnt.org.br/novid_novid.htm (site da ABNT sobre empresas certificadas no mês).
http://www.iso.ch/iso/em/iso9000-14000/pdf/survey10thcycle.pdf (site da ISO sobre empresas
certificadas no mundo).
http://www.tc207.org/home/index.html (site da ISO relativo ao Comitê Técnico 207, para
informações mais detalhadas sobre a ISO 14000).
ISO: banco de dados. Disponível em: <http://www.iso.ch> . Acesso em 11 jan. 2002.
MARCUS, Philip A. Moving ahead with ISO 14000: improving environmental management
and advancing sustainable development. New York : John Wiley & Sons, Inc., 1997.
SENAI. A indústria ecoefiente: reduzindo, reutilizando, reciclando. São Paulo, 2000.
TIBOR, Tom; FELDMAN Ira. ISO14000: um guia para as normas de gestão ambiental. São
Paulo: Futura, 1996. 302 p.
VALLE, Cyro E. Como se preparar para as normas ISO 14000: qualidade ambiental: o
desafio de ser competitivo protegendo o meio ambiente. São Paulo: Pioneira, 2000. 140 p.

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